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——— KK caso te | Lebinay FRE OMO Rodd pL."A Amawee lobina 2 sua 0 muologye Geers: 200h, p-1S3-194 : -| O surgimento da criminologia na América Latina lireitos humanos ie interesse dos terrorismo. Isso aternacional Su- | *iagao Internaci- | No dmbito das ciéncias humanas sio analisados em deta- 18a - realize um hes problemas técnico-cientfficos que ndo nascem direta- 1m 200 assisten- mente da reatidade em que se trabalha, mas que sao impor- de estudos, che- tados como problemas tipicos de outras culturas (de niveis la CIA para essa de desenvolvimento distintos)... Este mecanismo de identifi- 10s — de 1968 a cago em nivel ideolbgico parece tipico das culturas subor- rismo-violéncia dinadas, que tém uma fungdo marginal e dependente no jogo 0 foi, todavia, politico-econdmico pelo qual esto determinadas ¢ do qual aplicar os direi- participam segundo seu diverso grau de desenvolvimento. De nonstra como a ‘fato, aos diferentes niveis socioeconémicos correspondem di- bui para forta- vversas formas de definigo cultural, isto é problemas nascidos em paises com um clevado desenvolvimento tecnolégico in- dustrial sao assumidos como temas attifciais em paises com onais estudarem, ro lado, defender menor desenvolvimento socioecondmico. entiram essa pre- | Franco Basaglia, La mayoria marginada liana dos direitos | A segurangades- | srque dela se en- ' somente ao grande desenvolvimento que adquiriu nesta época a ciéncia como tal, e especialmente as “ciéncias do homem”, como minante no capi- s nos congressos patel soeselfeiss vresso” e evitar aga no su “as Cae ‘Assim, tentou-se demonstrar 0 papel das sociedades criadas nessa época, como plataformas de difusao da nova ciéncia do con- tole social. Em seus congressos intemacionais sempre se discutem as formulagées que devem ser acatadas na elaborago de “normas ‘universais” em mat¢ria delituosa para consolidar a nova ordei so- cial. No comego, essa difusao se limitava exclusivamente aos pai- ses industriais, mas depois, ao se concretizar a expanso mundial cdo capitalismo, se estendeu 3s zonas periféricas e muito especial- ‘mente 4 América Latina. p. 523. 157 XEROX DO CAPSI/ Cane, farabeat pti __ ara compreender essa difusio, nao se pode esquecer as condi¢des de dependéncia e de subdescnvolvimento da regio, Evidentemente, esté fora do alcance deste trabalho caracteri- zasdo detalhada desse subdesenvolvimento, Nossa exposigzio de yue o problema do desenvolvimento estrutural da América Latina é muito complexo. Seria preciso examinar as uiscussoes dos cepalinos C. Furtado, T. Vasconi, A. Cueva, a: equipe sécio- hist6rica do Cendes da Universidade Central da Venezuela, Penuléncia, como, por exemplo, a deformagao, ainsuficiéneiac ainstabilidade!. Na anélise do surgimento da criminologia na América Lati- fn, deve-se levar cm conta ~_mesmo que de maneira geral -o pro- dEncia ndo é mais que a expressio politica na periferia do mocio Produstio capitalista quando este é levado a expansio internacio, nal’. Também ha que ter presente que “o desenvolvimento dens, Pitalismo ni ¢ outra coisa que o desenvolvimento de suas conte, digies espectfcas, ou sej, dum conjunto de desigualdades, coon) ha América Latina esse desenvolvimento desigual adquirce card, ter de uma verdadeird deformagao... isto é, que o subdesenvolvi, mento latino-americano se toma somente compreenstvel ao ser [onceltualizado como um processo de acumulagdo muito parton. lar de contradighes derivadas de clemcutus histéricos como 0 DPrussianismo agrério, a Ueformacio do aparelho produtivo capita. lista ete., © também de una heterogeneidade estrutural explicd- velem termos de modos diversos de producio”3. «Vela D.R. Maza Zavala, Las mecanismos de la dependencia, Caracas, Rocinante, 1973, pp. 32-34.’ jRemando Henrique Cardoso. Estado y sociedad en América Latina, México, Siglo XI, 1977, p. 99. 2 Asustin Cucra. El desarrollo del capitalismo en América Latina Mé. xico, Siglo XXI, 1977, p. 99, 158 Se levarmos er tina no contexto dae ‘mente sua importdne foram precisamente« industriais que se fiz cionais*. Por um lado, e: Ges & por toda part poderia fugir. “Quan ca Latina a seu siste gantesca provincia a nente de um estoqui suas pegas, que servi rica e evolufda, mas, este sistema deixou s na Europa. Foi-nos ¢ gem colorida”’. Por outro lado, « em difundir e impor “ responde em grande p 05 representantes dos lateral de imposiga0, c tagdo das classcs domi de de encontrar na Et seus problemas locais, Go e seu comportame biam que deviam resc vam da lei eda ordem mas buscavam nos pai “Lembre-se, por exempl Londres, em 1872, partic estava representado por E de Direito Penal (Bruxel que também comparece realizado nesse mesmo ai * Jorge Abelardo Ramos. Aires, A. Pena Lillo Edit xe pode esquecer as Ivimento da regio. rabalho a caracteri- ». Nossa exposigio ‘stamos conscientes rutural da América ninar as discusses 2va, a equipe sécio- tral da Venezuela, Santos, Ruy Mauro € todo modo, deve- Je expressam a de- ©, ainsuficiénciae iana América Lati- reira geral —o pro- partilhamos a posi- 9 de que “a depen- xiferia do modo de ‘pansio intemacio- wolvimento do ca- nto de suas contra- iigualdades, e como ual adquire 0 caré- 20 subdesenvolvi- npreensivel ao ser G0 muito particu- stéricos como o > produtivo capita- estar explics »endencia, Caracas, sn América Latina. ‘nérica Latina. Mé- Se levarmos em contaa situagao particular da América La- tina no contexto da expansio mundial do capitalismo e especial- ‘mente sua importncia econdmica, seré possivel compreender que foram precisamente os latino-americanos os primeiros pafses nic industriais que se fizeram presentes nestas assembléias interna- cronas*. Por um lado, existia o interesse e a necessidade dos paises industriais de difundir sua ideologia em todas as suas manifesta- ‘95es e por toda parte; disso a ideologia do controle social nao poderia fugir. “Quando a Europa capitalista ineorpora a Améri- ca Latina a seu sistema industrial metropolitano como uma gi- gantesca provincia agro-mineira, dota por sua vez nosso conti- nente de um estoque juridico e politico composto de todas as suas pecas, que servird para criar uma ficgo daquela sociedade rica e evolufda, mas que nao pode funcionar por si mesma, pois este sistema deixou seu mecanismo, sua corda, sua forga motriz na Europa, Foi-nos enviada somente a parte de fora, a embala- gem colorida”® responde em grande parte 4 recepcine acalhida que tivessem entre de de encontrar na Europa € nos Estados Unidos a “solugao” de seus problemas locais, especialmente por sua atitude de subordina- ¢4o e seu comportamento mimético. Essas classes dominantes sa- biam que deviam resolver sens problemas locais ¢ que necessita- vam da lei e da ordem para se incorporar ao sistema internacional, mas buscavam nos paises industriais a forma de obté-lo. 4 Lembre ce, por exemplo, que do I Congreso Penitenciétio, realizado em Londres, em 1872, participaram diplomatas do Brasil ¢ Chile, e 0 México ‘stava representado por E.C.Wines. O I Congresso da Unido Internacional de Direito Penal (Bruxelas, 1889) contou com a presenga da-Argentina, que também compareceu av IL Congreso de Antropologia Criminal, realizado nesse mesmo ano, em Paris Jorge Abelardo Ramos. Historia de la nacién latino-americana, Buenos Aires, A. Pena Lillo Editor, 1973, tomo 2, p. 74. 159 Devido fundamentalmente a seu carter dependente e & ne- cessidade de buscar soluydes, os paises latino-americanos so os primeiros da periferia capitalista dispostos a acolher as proposi- Ges destes congressos. Mas a presenga dos representantes da América Latina no foi uniforme. Fstava condicionada em parte pelo grau de insergo de cada pais dentro da divisao intemacional do trahalhoe, além disso, pela sua conformagau wun Estado nacio- nal ¢ o grau de desenvolvimento do Estado liberal-oligérquico’ Como bem se sabe, esse processo nao foi simultineo nos paises latino-americanos, o que explica que tenham sido Argentina, Bra- sil, Chile e México (mas muito especialmente a Argentina) os pri meiros a comparecerem as assembléias internacionais. Por sua vez, a situago da Espanha no capitalismo de entio.e sua relagdo com a América Latina contribufam para esse interesse em voltar 0 olhar para o resto da Europa’, Oliberalismo, 0 racionalismo eo positivismo foram rapidamen- te assimilados e em conseqtiéncia as virtudes da ciéncia foram ressal- tadas. Todavia, essa aceitago da ciéncia foi “em forma literdria. Nao ‘se formou uma consciéncia propensa a assimilar v inctodo cientifico ue exige imperativamente a verificaco experimental dos fatos... Sur- gia uma forma de pensar prépria da c ici Antonio Garcfa chega inclusive aassinalar que na Amética Latina se preten la crlar um Estado de direito antes de se criar um Estado, Veja Ia estructura del atraso en América Latina. Buenos Aires, Pleamat, 1969. p. 67. “A Espanha foi a tradigo e a Europa a mudanga... A Espanha foi o Passado © a Europa, 0 presente € 0 furturn. A imagem de uma Europa sem a Espanha arraigou-se fortemente nos grupos dominantes. Comela, © julgamento sobre o europeu adquirin um tom geralmente positivo, no entanto o julgamento sobre o espanhol adquiriu um tom negative”. José Luis Romero, Latinoamerica: situaciones e ideologias, Buenos Aires, Ediciones del Candil, 1967, p. 33. * Oscar Maggiolo. “Politica de desauiullo cientifico y tecnol6gico en Amé- rica Latina”, Seminario sobre Politica Cultural Auténoma. Montevidéu, Universidade da Repablica, 26-30 mar. 1968. 160 Destacamos ologias européias deformada e artifs porquanto “o libes as absolutas ¢ nic prética, entrou pai ndo fazer. assum ‘niio houvesse se 3 novo tipo de Estad: nacional foi além as “novas classes” moantes que a An tee que houvesse ; Aafirmagao que essa adogiio da deformadae artfic necessidades loca: fazer racional denti Nas tentativa mesmo. As palavre das para os latino-; que se levasse em delinguéncia, eran porque persistia a re olhar para 0 europe sociedades contrib * Antonto Garcia. op ” 0 filbsofo mexican recusa do latino-ameri seguinte: “Da mesmaf deseu futuro destino, 0 mostrar as rafzes que i una série de trabalhos Facundo, de Sarmient que deve ser negado, 8 thos similares de hist do”. El pensiamiento F dependente © A ne- 2-americanos so os acolher as proposi- 's representantes da dicionada em parte livisio internacional ‘como Estado nacio- liberal-oligéryuico®, nultaneo nos paises iido Argentina, Bra- a Argentina) os pri- acionais. pitalismo de entdoe 1 para esse interesse 10 foram rapidamen- >iGncia foram ressal- forma literria, Nao ‘0 método cientifico cntal dos fatos... Sur- na: 0 escolasticismo por Galileu, Darwin idade de verificagao > 6gico surgem des- erica Latina se preten- jo. Veja La estructura 1969, p. 67. A Espanha foi 0 yem de uma Europa >minantes. Com ela, Imente positivo, no tom negativo”. José gias, Buenos Aires, ecnolégico en Amé- noma. Montevidéu, jouvesse se atievido a definir o problema da criagdo de wn novo tipo de Estado como condigao insubstitufvel de ui novo status nacional e oi além disso 0 mecanismo ideol6gico por meio do qual 1s “novas classes” aueriram ao novo sistema colonial do capitalis- mo antes que a América Latina houvesse se integrado internamen- tee que houvesse ganho uma perspectiva prépria de mundo®. A afirmagio é indubitavelmente certa, mas temos de advertir que essa adogao das ideologias européias — mesmo aparentemente deformada e artificial em relagau av modelo europeu - respondia as necessidades locais e teve precisamente que ser deformada para se fazer racional dentro do contexto latino-ameri Porque persistia a recusa em aceitar nossa historia que se voltavao olhar para 0 europeu'®. Por sua vez, o caréter dependente dessas sociedades contribufa para a recusa de nossa propria histdria * Antonio Garefa. op. cit. p. 64, "0 filésofe weaivano Leopoldo Zea insiste, em toda a sua obra, nessa recusa do latino-americano em aceitar 0 seu passado. Neste sentido diz 0 seguinte: “Da mesma forma como o europeu foi buscar na hist6ria as rafzes deseu futuro destino, o hispano-americano entegou-se mesma tarefa para ‘mostrar as raizes que impediam a realizacio de seu prdprio destino... Em uma série de trabalhos que surgem ao longo do século XIX (por exemplo Facundo, de Sarmiento) os hispano-americanos vio mostrando o pasado que deve ser negado, & diferenca dos europeus, que mostravam em traba- {hos similares de histéria e sociologia o passado que deveria ser afirma- do”. El pensiumiento latinoamericano, Barcelona, Ariel, 1976, p. 69. 101 Este fato teria suas manifestagées em todos os campos, sem excluir 0 tema que nos concerne, com seus fracassos na pratica, por todos conliecidos!". Jorge Abelardo Ramos sintetiza em um pardgrafo a situagdo: nobre produto importado vinha com a garantia do selo eu- ropeu ¢ isso era suficiente Mas empregdvamos essa superes- trutura juridica e filosofica burguesa sem realizar na América Latina a revolugéo burguesa que a havia gerado na Europa. Era imposta uma criminologia na Europa como a solugio “ci- entffica” do problema do delito. A América’ Latina devia acolhé-la ‘A criminologia chega entaio a América Latina depois que suas classes dominantes e “ilustradas” haviam assumido os ditames da ideologia liberal e a filosofia positivista como a melhor via para alcancar““a ordem¢ o progresso”; mas sobretudo a “ordem”’, que con- 1 José Marit foi um dos poucosintelectuais da época que advertiram sober as comseyii@ucias da imitagdo européia para a América Latina : “A incapacida dc nfo csté no pafs nascente que pede formas que oe acomodem ¢ grandeza til, mas nos que querem reger povos originais de composigdo singular € vivleuta, cunt fet herdudus de quatro séculos de pritica livre nos Estados Paginas escogidas, tomo I, Havana , Fut. de Ciéncias Socias, 1971, p. " Jorge Abelardo Ramos. op.cit., Tomo 2, p. 72. Tomas Vasconi. Dependencia y superestructura y otros ensayos. Ca- racas, UCY, Ediciones de la Biblioteca, 1970, p. 36. 162 sideravam tion uia, caudithise culo XIX atin Ao do capitalis: Todos us losofia positivis uum passado qu deformoue surg pais o acolhess« histérial® Sua dente na Amér ocasides, difune A adocio para legitimar Assim afirma, p quia que os agita ‘mento para acabe agoitado. Os chil caz para converte positivismo foi o uma longa era de af a doutrina que que sofreram em Jjustificativa para foi em todos est hispénica tratou brasileiros, pelo naqueles aspecto: realidade mesma impor & realidade’ 'S Luis Jiménez de xxico, 0 nascimento sia mexicana aprop Jo com o liberalisn coin outro fom, tar Na Colombia tom positivista) eno Ch as partes, os positi Jos os campos, sem racassos na pratica, 10s sintetiza em um garantia do selo eu- vamos essa superes- realizar na América 2 gerado na Europa. as leis e da filosofia s relagées sociais, os lasses!?_ comoasolugio “ci- ina devia acolhé-la a: “A adogio de de- dominantes dos pa- s principais fung0es: trutura que legitime tro dominante inter- ipria posi¢Zo domi- io e meio de distin- ados!3, ina depois que suas mido os ditames da ) a melhor via para a““ordem’”, que con- ue advertiram sobre as atina :“A incapacida- icomodiem e grandeza omposicio singular tca livre nos Estados a... O Govemo hi de A forma de govemno mo niio & mais que © tmérica’, José Matti, Sociais, 1971. p. 159 y otros ensayos. Ca- sideravam to nevesséria, no somente pelos grandes perfodos de anar- Guia, caudilhismo e guerra civis que caracterizaram a histria do sé. culo XIX latino-americano, mas também para processo deimplanta. $0 do capitalisma como modo de produsav domiinantena area. Todos os paises adotariam os postulados fundamentais da f {osofia positivista como “remédio radical, com o qual se rompe com tum passado que 0s incomoda”!. Esse positivismo, por ccrto, se deformou e surgi dele uma verséolatino-americana, ainda que cada Pais 0 agolhesse por motivos diferentes, de acurdo com sua propria hist6ria!S. Sua vinculagiio com o positivismo ‘criminol6gico foi evi- dente na América Latina, ja que as mesmas pessoas, em muitas ocasiées, difundiriam os postulados de ambos. A adogio dos ditames positivistas contributa além disso para legitimar a posicio dominante dos grupus de poder e so. ce ‘firme, por cxciuply, Leopoldo Zea: “servindo-se do positvismo, os mexicanos acreditavam que iam acabar com a quase perpétua anar. uia que 08 agitava: Na Argentina, este foi considerado um bom instru. ‘mento para acabar com as mentes absolutistas etirdnicas que a haviam agoitado, Os chilenos consideraram o positivismo um instrumento efi. az para converter em realidade os ideais do liberalismo. No Unuguai, o Positivismo foi oferecido como a doutrina moral capaz de acabar comm uma longs era de quarteladas e coupes. Peru e Bolivia encontraram af a doutrina que os fortaleceria depois da grande catdstrofe nacional {due sofreram em sua guerra contra o Chile. Os cuhanos viram af wma Justiticativa para seu af@ de independéncia da Espanha, O positivi foi em todos estes casos o remédio radival, com o quale Aincrne Wispdnica tratou de romper com um passado que a incomodava, Ox brasileiros, pelo contuitiv. se servieam do povitivismo univamente haqueles aspectos em que a sua realidade assim o reclamava, Eta a fealidade mesma que reclamava esta doutrina © nv esta que se queria impor &realidade”.. (El pensamiento Latinoamericano, op.ct. p80) Luis Jiménez de Asta expie claramente este fato quando diz: “No Mé- ‘ico, onascimento do positivismo fi eminentemente politico. a burgue Sia mexicana aproprivu-se dele para criar o idedrio de sua classe e concilid. 40 com o liberalism... {0 positvismo] fez-se tcoria da classe burguesa e, om outro tom, wumbém defende a propriedade privada e o catolicismo. Na Colémbia tomna-se catélico (Escallén fala de uma Escola cattlice, Positivis) eno Chile se converte em ameno e discursivo. Em quase todas 48 pattes, 0s positivistas se tomam escoldsticos e citam Ferri ¢ Garofalo, 163 bretudo para fortalecer o Estado oligérquico, “alavanca funda- mental da primeira fase de acumulagao capitalista”'® na Améri- ca Latina, Apregoava-se que seria o instrumento mais eficaz para resolver os problemas locais, mas na pratica nao foi assim, sobretudo puryuc essia ieuepyo das principais correntes idool6- gicas européias “‘se produziu através de grupos urbanos ilus- trados cujo grau de coeréncia com o resto do conjunto social era escasso e se fez menor ainda por sua adesio a essas ideologi- as"!7, Examiné-se, por exemplo, em nosso caso, quais eram os te- presentantes latino-americanos nos congressos intemacionais e qual cra sua relago com seus respectivos paises. Freqtientemente, tra- tava-se de diplomatas que viviam na Europa, ou de membros dessa “minoria ilustrada” que conheciam melhor a Europa que seus pr6- prios paises. Eram os representantes das cidades latino-america- nas!® e nao de seus patses, e dentro dessas cidades, membros de ‘uma classe que nao estava preocupada em resolver problemas lo- ue estes as afetassem diretamente. As vezes nem ‘Nao pesquisam a realidade do delinqUente, nem estudam as caracteristicas do.criminoso nem as causas do delito, Somentecitam o que aqueles fizeram ‘hd 50 anos”. “La escuela positiva”, Criminalia, México, outubro de 1946. + Agustin Cueva, op.cit, p. 141. " José Luis Romero. op.it., p. 56. "Muito se escreveu sobre a dualidade estrutural dos pafses latino-ame~ ricanoa com duas hict6riac: uma uebana e otra rural, mas talver. quem tenha melhor desenvolvido o teitia do papel que as cidades desempenha 1am na hist6ria latino-americana, ¢ eopecificamente na importagho das ide- ‘ologias estranhas, tenha sido José Luis Romero, em seu livro Latinoamerica: las ctudadtes y lus tdeus, Méaivo, Siglo XXI, 1976. ‘ ' Esse desprezo em relagio a seus prOprios pafses foi assinalado por varios autores a0 se referirem a outros campos. Por exemplo, € interes- sante citar aqui as palavras de Hans Albert Steger, em sua obra Las universidades en el desarrollo social de la América Latina, México, Fondo de Cultura Econémica, 1974, no capttulo 9, “A universidade dos advogados no século XIX”: “Na Bolivia, o plano educacional seguia normas européias sem considerar a situago em que se encontrava 0 pats... As normas procedentes da Europa foram formuladas para a 164 Essa adog tem sua explic: americanos, qu nhola, adquiriny ‘cular, a qual se« déncia. Essa te: rimeiras décac de anarquia, gu organizagio e fi vinculos extern partir da indep« convulsivo que tino-americano: do“oligarquico Estado de “ord estar acompan! como “a salvad tarefas seria a ¢ qual seria inseri Os pafses internamente, m porar ao sistema uma politica det ca destas sociede civilizacdo progn tema escolar es em dois ‘reinas’ prefere ser entenc de Paris ¢ experi desagradével” (p. atodaa América ® Deve-se records toda a América La do banditismo se 1 pouco em outras p Gordas ¢ de La Ti partir de Cota, onc o, “alavanca funda- italista”!na Améri- umento mais eficaz ritica no foi assim, ais correntes ideol6- rupos urbanos ilus- oconjunto social era fio a essus ideologi- 150, quais eram os re- sinternacionais e qual Frequentemente, tra- ou de membros des Europa que seus pré- lades latino-america- zidades, membros de 2solver problemas lo- ‘mente. vezes nem scidades, porque isso nentar 0 fato de have- studam as caracteristicas imo que aqueles fizeram Ieéxico, outubro de 1946, 1 dos paises latino-ame- rural, mas talvez. quem 1s cidades desempenta tenaimportagao das ide- seu livro Latinoamerica: 16. afses foi assinalado por Por exemplo, é interes- teger, em sua obra Las nérica Latina, México, 99, "A universidade dos ano educacional seguia sam que se encontrava © ram formuladas para a Essa adogiio das principais correntes ideolégicas européias tem sua explicaco central na prépria histéria dos paises latino- americanos, que vinham, ao longo de séculos de dominagao espa- hola, alquirindo uma estrutura econdmica, politica e social parti Cular, a qual se considerou passfvel de desaparecer com a indepen- déncia. Essa tentantiva de ruptura com o passado levou a que as Drimeiras dévadas do século XIX se-caracterizassem por perfodos de anarquia, guerras civis, etc., € ao mesmo tempo pelo esforco de organizugio e formagiio de sous Estados, Nao se deve esquecer 05 Vineulos externos destes pafses ¢ particularmente suas conexGes, a Partir da independéncia, com 0 impétio britinico, Todo o clima convulsivo que caracterizou em maior ou menor grau os paises la- tino-americanos no século XIX resultaria na implantagao do Esta- do “oligérquico”, que seguiria os postuladas cla positivismo como Estado de “ordem ¢ progresso”. A emancipagao politica deveria estar acompanhada da “emancipagdo mental” que a filusufia Positivista apregoava, e que seria vista pelas minorias ilustradas como “a salvadora” da América Latina, Uma de suas primeiras tarefas seria a de forjar um marco juridico-politico adequado no ‘qual seria inserida a nova ciéncia de controle social”, Os paises latino-americanos necessitavam da lei e da ordem internamente, mas sobretudo — como dissemos antes —para se incor- Porar a0 sistema econémico intcmacional. Todavia, o resultado foi ‘um politica de tentativa e erro, porque a propria estrutura econdmi- a destas sociedades deformava inclusiveas boas intengdes. Por isto, civilizagdo progressista ¢ ilustrada das cidades, de maneira tal que o sisteina escolar ectabelacido por ectaa normes aguyvu a Uivisao do pais em dois ‘reinos"” (p. 275). E acrescenta a seguir: “a burguesia urbana refere ser entendida como uma capécic uc sucursal da cultura urbana de Paris © experimenta o ter que viver na América Latina como algo desagradsvel” (p, 276), Eevidente que esta situagdo poderia ser aplicada a toda a América Latina e ndo somente a Boltvia, vas: “Foi no México que o fendmeno do banditismo se prolongou mais e teve mais intensidade, Mas no durou pouco em outras partes. No Peru, préximo de Lima, os bandidos de Piedras Gordas ¢ de La Tallada de Lurin faziam estragos. Na Col6mbia, agiam a partir de Cota, onde se fez célebre Juan Rojas y Roctriguez. No Chile, o¢ 105 io é de se estranhar que. ist enc niio é de se estranhar que sempre persis déncia, podemas (veja tabela 1). E ria reforgada po: 1. As primeiras importagdes: a penitencidria e 0 Cédign Penal Esse olhar para os paises industriais como modelo esté presen- te desde a prépria independéncia, inclusive em relagao ao. campo da prevengdo e repressio do delito. Na América Latina, existiam problemas delitivos particulares e necessidade de se buscar solucdes de acordo cum a época”!. Ao mesmo tempo, desejavarse resolver 0 deploréivel estado em que se encontravam os presos na época colonial, ‘buscando-se meios distintos para tanto. Porisso, a preocupagio inicial cesteve dirigida para o campo penitencifirio e para fomentar na América Latina a criagdo de casas de correcdo ¢ prisGes similares as curopéins e americanas. Neste sentido, alguns de nossos magnatas se preocu- param em visitar essas prisGes na Europa € nos stados Unidos escreveram relatos detalhados sobre essas visitas”, ‘Sem pretender contar a hist6ria detalhada destes primeiros esforgos para controlar o problema do delito depois da indepen- Exen 1020 - Nova Grané tais da provincia 1834. Santiago -/ los detincuentes 1837 - Quito - Vice 1839 - Venezuela - sistema de correc 1841 - Venezuela- Fortaleza de San C; | MRL heels RES Es cS JadrBes ameagavam a mesma capital pouco depois da independéncia, a par Maracaibo tir de Portezuela de Colina, La Dormida e outros lugares destacados por Pérez Rosales; era o resultado da expressao social da plebe rural, Mas no de toda la. Quem encontrou esta sada foi sobretudo o povoa cavalo, dos pampas rioplatenses ou peruanos, das planicies venezuelanas , dos estados mexica~ ‘nos de Veracruz. Morelos ou Guerrero; do estado brasileiro do Rio Grande do ‘Sul, ou dos vales chilenos” (José Luis Romero, op. cit, p. 185). 21 utes da independéneia surgiu o trabalho Diseursa snhre las penas. publicado em 1782, por Don Manuel de Lardizdbal. O fato de seu autor Ter nascidu nv Méaive leva a qualified lo como o precursor Iatino-ameri- cano nesta matéria. Todavia, deve-se recordar que Lardizabal foi a Espa- nha aos 22 anos ¢ ali escreveu a sua obra, Nao se pode enti qualificar como obra que reflete preocupaco pelos problemas deste continente, especialmente porque nessa épuca v México ainda pertencia a0 império espanhol. 2 Pode-se mencionar, por exenplu, a obra Estado comparative dos edrce- res na Europa e América, de Pedro Crentzer, publicada em Londres em 1825. 1848 - Buenos Air reseaCasa-Carce 1853 - Panama - Li 1855 - Argentina - do tenritério federal 1962 - Peru - F ini ‘Aubu sci Ro 1884 -Colémbia-( para transformé-io dis tipos de justiga: a daqual se falava nas adamentalmente nas te, modelo esté presen- relagio.ao campo da ca Latina, existiam lesebuscarsolugées ‘sejava-se resolver 0 vosnaépocacolonial, preocupaciio inicial fomentarna América imilares as européias magnatas se preocu- 9s Estados Unidos as”, da destes primeiros depois da indepen- aindependéncia, a par- lugares destacados por plebe rural. Mas nao de. ‘Voacavalo, dos pampas '5 dos estados mexican ileiro do Rio Grande do lp 185), USO sobre las penas, al. 0 fato ae seu autor ‘recursor latino-ameri- Lardizabal fot a Espa- Pode.entio qualificar ats deste continente, apertencia ao império comparativo dos edrce- Ticada em Londres em déncia, podemos citar alguns pontos como exemplo do que foi dito (veja tabela 1). Esta preocupagao inicial quanto & penitenciria se- ria reforgada pocteriormente com oa caforgos classificatérios da TABELA1 Exemplos de questionamentos penitencidrios ‘na América Latina do século XIX 1828 - Nova Granada - Decrelo de Simon Bollvar clando presiios nas capl- tals da provincia, 41834 - Santiago - Andrés Bello publica Establecimientoe do confinacién para los detincuentes 1837 - Quito - Vicente Rocafuerte reedita seu ensalo 1839 - Venezuela - Lei de 13 de maio, que ordena reunirinformagoes sobre 0 sistema de corre¢ao chamado penitencirioe sua aplicagao na Venezuela ‘1841 - Venezuela - Decreto que determina a criagdo de um presidio fechado na Fortaleza de San Carlos, Zula, e de presidios abertos nas fortalezas de Cumand ‘eMaracaibo. 1848 - Buenos Aires -E criada por decreto uma Casa de Corregao de Mulne- res eaCasa-Carcere 41850 - Panama -Leiue Casas Ue Enaivurarnert@ 1855 - Argentina - E aprovado o regutamento para cérceres de cidades e vilas do terit6rio federal 1862 - Peru - E inaugurada a primeira penitenciaria, introduzindo o sistema ‘Aubur, por um Regulamento da Penitencidria, em 1863 1864 - Colémbia- O governo desapropria o antigo coégio de San Buenaventura Para transformé-4o em uma penitenciaria de condenados de ambos sexos 167 Quadro 1 (cont.) 1869 - Buenos Aires -Einiciada a construco da Penitencidria Nacional, de _acordo com 05} — baisioos do a '1882/83 - Venezuela - Decretos determinam a criago de ts penitenciarias no Ocidente, Centro e Oriente 1885 - México -E iniciada a construgo da penitenciéria, de acordo com as regras do sistema da Filadétfia populaco delituosa para sua eventual “incorpora¢o” ao sistema, o que explica em parte 0 clima favordvel para acolher a altemativa da ciéncia como nova via para controlar o problema do delito, tal como ocorreu na Europa ‘Alguns paises comegaram as reformas antes que outros, de acordo com as caracteristicas locais de cada formayiv social. En- “minorias ilustradas”, se a penitencidria era imposta como uma possivel solugao do problema do delito nos paises desenvalvidos, nao havia necessidade de se criar nada novo: tratava-se simples- Na América Latina, com maior raza, quando foi implantada nao serviu mais que como lugar de custédia - muitas vezes como sim- sentes e agucados nos cérceres latino-americanos até nossos dias. ‘Simultaneamente a essas manifestagdes de interesse pela pe- nitenciéria, encontra-se na América Latina como uma constante ‘em todos os pafses, mesmo em momentos diferentes, a adogdo de sistema de deportacdo ou de transportaco penal e preventiva (como 168 também é eo via, esse siste tando-se as ¢ pulso, mas 0 paises nao ti com ilhas. A simultanearr evasiio do pi era vitalicia, ropa. Na Ar determinado fato, a expul: aenviar esse antecedente Tao ge: —na Améric particulares Em est nna mesma é penais emt flexo da cult Yoidria Nacional, de 118s penitencidrias| ‘de acorde com as ago” ao sistema, other a altemativa ema do delito, tal tes que outros, de ago social. En- loas necessidades ‘© 05 Gxitos do sis- copié-lo, Para as posta como uma es desenvoividos, -atava-se simples- vida, no se levou Atinha fracassado dos Unidos. Entre forma, quando na lugar de custédia. oi implantada nao 3 vezes como sim- uma finalidade de ‘continuaram pre- 25 até nossos dias. antes, a adogiio do preventiva (como também é conhecido), utilizado na Europa ha muito tempo. Toda- Via, esse sistema sofreu uma deformagao na América Latina, adap tanlvm Re condizdee louis. Rfsivernentn,o delicate acre pulso, mas 0 lugar de destino no era uma colénia, pois nossos palocs ao a colle como a Europe SUR POR ma, ou 0 coracao da selva naqueles paises que no contavam com ilhas. As vezes, ha também a utilizaca a enviar esse individuo a ilha, em muitos casos somente por ter 0 antecedente de haver estado Id pela primeira ver. ‘Tao generalizado este tipo de castigo foi—c continua a ser ~na América Latina que se pode mencionar alguns exemplos particulares (veja tabela 2). TABELA2 Adeportagéo latino-americana Brasil isto de Coreeao ca tha Anctieta SP. (@iado em 1942 fechado em 1956) ‘Gusta Miva - Colonia agricola Penal da lina de San | ‘Cuba -Presfulu Modeto aa ina de Finds (techada em 1966) Micardgua Cunt island Peru ha Priséo El Frontsn - Colonia Penal Agricola de Sepa (criada em 1951) Em estreita relago com as questées penitenciérias, surge na mesma época a preacupago com a elaborago dos cédigos penajs em toda a América Latina. Mas esses c6digos seriam re- flexo da cultura jurfdica curopéia e nao da norte-americana, Em um 169 primeiro momento, nossos cédigos foram em sua grande maioria cOpias quase textuais dos e6digos espanhdis (veja tabela 3). Foi declarada a independéncia da Espanha, mas essa independéncia nao chegou até 0 campo juridico. As leis continuavam sendo funda- mentalmente espanholas. Uma das caracteristicas de nosso continente € que no nivel legislativo — salvo poucas excegdes — jamais se aceitaram os postulados positivistas. A legislacao seria de tendéncia classica ¢ inclusive os eédigos modemos sio de corte neocléssico. TABELA 3 Primeiros cédigos penals latino-americanos 11830 - Brasil - Cédigo napoltano 1819 e Cédigo Napoleonico 1810 4635 - Hall - Codigo Napolednico 1810 3 A g f g z fe g 3 g : i g 4871 - Paraguai - Segue o Projeto Teceléo 1872 = Cuba - O mesino codigo espanhol de 1870 1874 - Chite~ Cadigo espanol 1850 3 fi 3 H A 2 ie ie EA ape oes SB ol yeas a 3h A ay 8 * Embora nao tenha sido sancionado, estava de fato em vigéncia em quase toda a Argentina até que se promuilgout a Céstiga em 18A6 Nossas “minorias ilustradas” acolheriam leis espanholas para definir 0 que era delito e as penas a serem impostas, mas 0 lugar do cumprimento das coudenaydes deveria ser sitnilar 20 modelo anglo-saxo, quando nao se copiava o sistema anacroni- co europeu de expulsar os delingiientes do territério nacional. Neste campo, refletem-se também nossas contradigdes e defor- 170 macoes, assin sociedades de péia a “técri tando-as @& de latino-americ: 2A ant respost Ao surgi Jogia criminal 1885), como gia se difundi tia um papel gies de resist ta aos proble adequado das a inclusao do: foi desigual,¢ acolhida de m guinte caracte mento seria tenha sidoop “ciéncia”, qu na Faculdade das proposigé incorporando dia de diteitu Pifiero e criaram no ar com a finalid Congreso de para a criagc uma represent mia “a necessic da antropolog na... € além d base para prej considerada p .a grande maioria eja tabela 3). Foi adependéncia nfo am sendo funda- te € que no nivel se aceitaram os ndéncia classica eocléssico. 3 8 E 2 a 2 . iby die mages, assim como a heterogeneidade caracteristica de nossas sociedades dependentes: mistura-se a “ciéncia juridica” euro- Péia @ “técnica de tratamento” norte-americana, mas adap tando-as ¢ deformando-as para tomé-las racionais no contexto latino-americano, 2. A antropologia criminal: resposta “cientifica” aos problemas sociais tia um papel importante para justificar o controle das manifesta- oes de resisténcia da época, servindo por sua vez como respos- ta aos problemas locais que perturbavam 0 desenvalvimenta adequado das forgas produtivas em beneficio do capital. Como ainclusio dos paises latino-americanos no capitalismo mundial foi desigual, explica-se que essa antropologia criminal nao fosse acolhida de modo uniforme nesses pafses. Adquiriria por conse- guinte caracteristicas especfficas em cada pais e seu desenvolvi- mento seria desigual. Isto explica, por exemplo, que a Argentina tenha sido o primeiro pafs a acolher com maior interesse a nova “ciéncia”, quando Norberto Pifiero, em um discurso proferido na Puculdade de Buenos Aires, em 1887, se declarou partidério das proposigGes positivistas formuladas no I Congresso de Roma, incorporando o cusinaucuty da escola positivista em sua cate- drade direito penal, Pifiero e outros membros da “minoria ilustrada” argentina criaram no ano segninte a Sociedade de Antropologia Juridica, com a finalidade de estudar cientificamente a criminalidade. O Congreso de Antropologia Criminal de Roma foi determinante para a criagao da nova entidade, ainda mais que dele participou uma representagao argentina, O programa da Sociedade assinala- tia “a necessidade de completar a ciéncia européia com os dados da antropologia e da sociologia argentinas e da América indige- na... € além disso estudar a personalidade do delingtiente como base para preparar a reforma das leis penais”. Esta entidade seria considerada pelos préprios positivistas italianos como a primeira 71 ‘Também no Brasil seria criada no ano seguinte uma instituicao similar: e : as Fundavam-se as sociedades cientificas e comegava-se a pu- blicar toda uma série de livros, particularmente nos tiltimos quinze anos do século XIX, para difundir as doutrinas da emergente cri- minologia. Na Argentina, por exemplo, seriam publicados, em 1888, os Princtpivs fundamentales de la Escuela Positivista, de Fran- cisco Ramos Mejia, ¢ Los hombres de presa, de Luis Maria Drago, este tiltimo com prologo de Lombroso e traduzido para o italiano com 0 titulo I criminali nati. No ano seguinte, publicava-se em Lima El método positivo en derecho penal, de Javier Prado Ugarteche, e, em La Plata, La esewela antropolégica y sociolégi- ca criminal ante la sana filosofta, de Godofredo Lozano. No Bra- sil, Clovis Bevilacqua publicaria cm 1896 seu Criminologia e di- reito e, no ano seguinte, Aftanio Peixoto, seu Epilepsia e delito. Em 1899, Comelio Moyano Gacitua langaria seu Ciencia crismi- nal y derecho penal argentino, em Cordoba. E, em 1901, no México, Bautista Guerrero aparecia com La génesis del crimen ‘en México (estudio de psiquiatria social). Mas os ensinamentos do positivismo criminolégico tam- \bém eram difundidos nos cursos universitérios; por isso encon- tramos no México, em 1889, Miguel S. Macedo referindo-se & escola positivista italiana em sua cétedra de direito penal da Faculdade de Jurisprudéncia da México; Francisco Herboso. no Chile, em 1892, fazendo referéncia & nova escola em seus Estudios penitencids ivs; Octavio Beoehe, na Costa Rica, difundindo as mesmas idéias em 1890, e assim por diante. Além disso, em 1897, cria-se na Argentina 0 primeiro Curso Completo. de Antropologia e Sociologia Criminal, ministrado pelo médico ~ Francisco de Veyga’*, e em Cuba, em 1899, funda-se a cdtedra ® Luis Jiménez de Asta, Tratado, op cit. tomo I, p. 1048. ie * Luis Jiménez de Asta destaca em scu Tratado que a Itélia somente adotou esse curso nove anos depois da Argentina. 172 de antopol da Univers cubano Lui Come rentes ideo dominante: como pass impor aor¢ do passad evolucioni cipal suste minantes d tificar o si assim este precisame ‘emipos rac O fw Dlemas lo sociedade Ges de pr sem cons¢ tas depent cais obed: esses “res Enfa tec @ nio- meate tot America} desses pal cente dist 0 dos Est vam esse pulagao k Sur blema’" di tantes. Be mingo Se “estudara pessoa grau de responsa- gradual e progres- 1 Nova Escola”. te uma instituigao sténcia Criminal. somegava-se a pu- tos diltimos quinze sda emergente cri- tblicados, em 1888, ysitivista, de Fran- Luis Marfa Drago, ‘ido para italiano 2, publicava-se em ', de Javier Prado Logica y sociolégi- o Lozano. No Bra- Criminologia e di- Epilepsia ¢ delito. seu Ciencia crim 1. E,em 1901, no génesis del crimen riminol6gico tam- 19s; put isso encon- sedo referindo-se & le direito penal da ncisco Herboso, no za escola em seus 2, na Costa Rica, m por diante. Além iro Curso Completo istrado pelo médico , funda-se a catedra p. 1048. + que a Ttélia somente de antropologia c exerefcios antropométricos no curso de direito da Universidade de Havana, cargo ocupado pelo antropélogo cubano Luts Montane, discfpulo de Bivea. ‘Como jf haviamas destacado. essa rapida recepgao das cor- rentes ideolégicas européias tinha sua razio de ser. As classes dominancs latino-amcricanas sentiam a necessidade de romper ‘com o passado colonial espanhol e de encontrar alternativas para impor a ordem. Necessitavam de meios de controle distintos dos do passado, adequados A nova ideologia liberal. As id evolucionistas e raciais, tio em moda nessa €poca, eram a prin- cipal sustentacao da antropologia criminal. Para as classes do- minantes da América Latina, seria a melhor explicagao para jus- tificar © surgimento dos “resistentes” & “ordem”, cumprindo assim esta nova ciéncia uma importante fungao ideolégica, precisamente porque estes paises eram furmadlus por diferentes grupos raciais. fundamental nesse momento era enfatizar que 0s pro- blemas locais ndo eram produto das contradigdes desse tipo de sociedade, nem gerados pelo prdprio funcionamento das rela- ges de producao no capitalismo, Nem se podia aceitar que fos- sem consequéncia das caracteristicas das sociedades capitalis- tas dependentes. Para as classes dominantes, os problemas lo- cais obedeciam mais as caracteristicas individuais inerentes a esses “resistentes”. Enfatizando diferengas fisicas e mentais entre os delinqueu- vs e nfo-ertenceriamauma >patol6gica de nos- 2ssas “minorias ur- individuos que néo + parte patol6gica ja América Latina. ‘igues, referindo-se ‘rasil por uma fraca acargo de defendé- ‘eriores, agjam cates $ 0u sejam, a0 con- laexlsténcia entre a ‘00s de civilizagaio vertadamente dizia: entre falsa erudi- » al de América Lati- pests fa inclusive jé no século XX —que fossem julgados por leis especi Tevando-se em conta seu “estado/de petigo’?*. O mesmo ocorria ram objeto de atencZo especial de ‘obretuco dos médicos legistas — por praticarem suas religioes trazidas da Africa, consideradas sintomas de patol s Zida populagio negra, cama é a caso do Peru, encontram-se afir magées, feitas em meados do século XX, como a seguinte: “como dizodoutor Miré Quesada, o negro tem uma maior predispusigio a0 delito devido ao fator antropol6gico de sua individualidade inferior (sicy". Um exemplo é 0 boliviano J Medrano Ossio, penalista c erimindlogo, que sustentava em meados do século XX que “o indigena, natural ¢ normalmente, se encontrava em estado de perigo, por isto era innlispcu- sdvel submeté-Io a um regime de protegio idéntico ao que teconhiece 0 ireito para certas individualidades de menor valia ou em irregular estado de consciéncia. A condicao perigosa é nele natural” (destaques ‘noss0e), in “Reoponsabilidad penal de los indfgeuas", Criminalla, Me xico, ano VII, n° 5). ~ Na Cuba pré-tevoluctondrta, por exemplo, encontramos uma série de {trabalhos sobre este tema, A obra de Enrique C. Henriquez, que culmina vom scu Crimenes de la bruferta, publicado no exilio, na Argentina, em. 1970, chega a citar o seguinte: “Foram to fortes as crengas que n6s, 03 americanos de hoje, os civilizados (sic), temos que reconhecer as mar- cas que deixaram ¢ nos preocuparmos com a repercussio que tiveram e tém ainda no psicoldgico, no social, no criminolégico, as crengas da- queles escravos e seus descendentes” (Editorial Depalma, Buenos Aires, p.6).No Dr diva legista Leonfdio Ribeiro também se preocupou com as préticas religiosas dos negros, chegando a consideré-las como “um perigo para a suciedade e para a satide ptiblica”. Veja seu Crimino- ogia, Rio de Janeiro, Editorial Suramericana, 1957, tomo I, capitulo 1. ® Veja Ricardo Lilias e Aparicio, Criminologia. Lima, 1945, p. 239. 175 Desejava-se explicar os problemas sociais em fungdo de médico legistacolom caracteristicas individuais, daf a acolhida que tiveram ~ e que 1951, Cuestiones mé ainda tém —na América Latina o biologismo e o psicologismo, e paginas, nas quais vi a grande difusiio das teorias sobre a “degeneragio”. O delin- minologia, como inc quente nao seria mais que um “degenerado”, produto de suass=3 também uma série d limitagOes racials ou mentais, e muitas vezes de ambas simulta- minologia, escritos | neamente, devendo ser submetido a um estudo especial. Isto ex- de Afrinio Peixoto e plica em parte a relagdo tio estreita que existiu na América La- ‘No se pode inf tina entre a criminologia e a medicina legal, fato que persisteem da medicina legal er alguns paises até nossos dias. o corporaram o probler Embora a historia da medicina legal em nosso continente do devido ao predon merecesse um estudo especial, no contemplado no presente tra- “patologicamente an balho*!, nao deve ser ignorado seu estreito vinculo com a crimi- delinquente como set nologia. Em qualquer livra de medicina legal européia?? geral- fivo que levou os mé mente encontramos temas pr6prios dessa disciplina, como por ogia em seu campo ‘exemplo problema das intoxicagées © dos civencnanicntus, Latina, ¢ em alguns | dos traumatismos, dos abortos, do infanticidio, dos laudos, etc. criminologia ea med Nao ocorre o mesmo quando examinamos os livros de medicina Jadas ainda em nos legal latino-americanos. Freqiientemente encontramos a crimi- Guatemala, aboliu-se nologia incorporada como um capitulo especial da medicina le- da Faculdade de Dire gal, mesmo quando esta é definida como, par exemplo, “a apli- cina legal. Ninguém| cago dos conhecimentos médicos aos problemas judiciais"™? ou com a criminologia como “o conjunto de conhecimentos médicos aplicavcis a0 di- na América Latina f reito civil ou criminal e & formagao de algumas leis”4, outras, alienistas. A anos aos primeiros Um livro cléssico de medicina legal latino-americana, como s criminal revela tam © do argentino Nerio Rojas, publicado pela primeira vez em 1936, inclui uma parte (a VII do Tratado), com 64 paginas, dedicada diplomatas que vivi criminologia; cm 1913, Guimaraes Peixoto publicou eu Ri argention homing um livro intitulado Ensino de criminologia médico-legal; 0 tine Meena ee os primeiros a 0 3 O leitor interessado neste tema pode consultar Guillermo Uribe Cualla, “Me- ensinamentos do po: dicina legal y ciencias forenses en la América del Sur”, Criminalia, México, nhecidos como “est ano XXIX, n° 3, mar, 1963, que dé uma descric&o geral muito interessante. mente entram em ce Poderia ser mencionado, por exemplo, o classico Medicina legal, de outros. V. Balthazard, Barcelona, Salvat, 1947. Podem ser mer * Nerio Rojas. Medicina legal. Buenos Aires, Libreria El Atenco, 1959, p.27. nologia. Lembre-se, | > Francisco A Risquez. Manual de medicina legal, Santiago de Chile, Nina Rodrigues e de ZigZag, 1939, p. 19. preciso citar Leonid 4178 sociais em fungio de aque tiveram — e que m0 0 psicologismo, e egenerago”. O delin- ado”, produto de suas -zes de ambas simulta- studo especial. Isto ex- wxistiu na América La- al, fato que persiste em Jem nosso continente aplado no presente tra- o vinculo com a crimi- legal européia’? geral- 1 disciplina, como por dos envenenamentos, icfdio, dos laudos, etc. sos livros de medicina encontramos a crimi- ipecial da medicina le- por exemplo, “a apli- blemas judiciais”” ou ticos aplicveis ao di- gumas leis”, alinu-auericana, Como primeira vezem 1936, 54 paginas, dedicada a to publicou em Recife ogia médico-legal; 0 illermo Uribe Cualla, “ife- Su?, Criminalia, México, » goral muito interessante ssico Medicina legal, de sria El Ateneo, 1959, p.27. ‘egal, Santiago de Chile, médico legista colombiano Guillermo Uribe Cualla publicou, em 1951, Cuestiones médico-legales y criminoldgicas, livro de 600 paginas, nas quais varias partes se referem particularmente a cri- minologia, como indica o préprio titulo da obra. Encontramos também uma série de livros que se chamam simplesmente Cri- minologia, escritos por médicos legistas, como por exemplo os, de Afranio Peixoto e Leonidio Ribeiro. Nao se pode inferir, dessas referencias tio gerais ao problema da medicina legal em nosso continente, se 0s médicos legistas in- corporaram o problema do homem criminoso a seu campo de estu- do devido ao predominio da nogio do delingiiente como um ser “patologicamente anormal”. Ou se, pelo contrario, a concepgdo do delinquente como ser “patologicamente anormal” tenha sido 0 mo- tivo que levou os médicos legistas a incorporar o tema da crimino- Togia em seu campo de estudo, Mas uma coisa é certa: na América Latina, e em alguns paises mais que em outros, como no Brasil, a Guatemala, aboliu-se em 1977 a cétedra de criminologia do, da Faculdade de Direito e em seu lugar foi criada # cdtedra de medi- cina legal. Ninguém pode negar que os primeiros a se preocuparem ‘com a criminologia e a serem reconhecidos como “especialistas” na América Latina foram os médicos — algumas vezes legistas ¢ outras, alienistas. A pesquisa sobre os integrantes latino-ameri- canos aos primeiros congressos internacionais de antropologia criminal revela também o predominio de médicos, quando nao diplomatas que viviam na Europa. Lembre-se, por exemplu, du argentino Domingo Cabred, fundador da Sociedade de Psiquia- triae Medicina Legal de seu pais. E certo que foram os penalistas os primeiros a comegar a difundir na universidade os ensinamentos do positivismo criminol6gico, mas nao foram reco- nhecidos como “especialistas” crimindlogos; apenas posterior- ‘mente entram em cena, ¢ também em alguns pafses mais que em outtos Podem ser mencionados muitos médicos vinculados & crimi- nologia. Lembre-se, por exemplo, de Francisco de Veyga, Raimundo Nina Rodrigues e do préprio José Ingenieros. No século XX, seria preciso citar Leonidas Avendafio, Guillermo Fernandez Davila e 17 Carlos Bambarem, no Peru; Haminio Favero, Oscar Freire, Afra- nio Peixoto, Leonidio Ribeiro ou Hilério Veyga de Carvalho, no Brasil; Israel Castellanos ¢ Raimundo de Castro y Bachiller, em Cuba; Guillermo Uribe Cualla, na Colémbia; Joeé Torres Torija c Alfonso Quiroz Cuarén, no México; Agustin Cueva Tamariz, Julio Endara c [crnandu Ruseiu Cuevas, no Equador; Nerio Rojas € Osvaldo Loudet, na Argentina, etc. Loudet, por exemplo, chegou a presidir durante anos a Sociedade Argentina de Criminologia efoi o principal organizador do I Congres favero, cm Sao Paulo; tanbéin foi criado o Instituto de Medicina Legal, em Santiago, em 1929, ao qual se subordinariam as segdes de criminologia dos estabelecimentos penais desse pafs, etc. ‘Com esta preocupagio da medicina legal pela criminologia e especificamente pelo homem delingiiente, a delingiiéncia seria -sindnimo de patulogia e degeneracdo. Se a cléncia estava de- monstrando que os homens nao eram iguais, o critério para ex- plicar a delingtiéncia seria precisamente essa desigualdade; mas essa desigualdade no comego teria que ser fisica. progresso eo desenvolvimento seria alcangady “substi tuindo-se a mao-de-obra mediante imigragSes em massa ou, no vasu Ue mio ser posstvel atrai-la, esperar que um longo processo de clareamento pudesse apagar as deficiéncias raciais”®> Por isto, as imigragGes néo deviam ineluir negros nem asi- fticos: “a raga negra transmitiu caracteristicas de sensualidade, superstigao, ociosidade, etc. e a amarela degenerou a raga ao se ‘nisturar com elementos nativos, produzindo tipos anémicos, ra- quiticos, carcomidos pela sifilis, jogadores compulsivos, fuman- tes de dpio e pervertidos do sentido moral”36,“Somente as racas Sa ie ee a * Stanley J. ¢ Barbara H. Stein. op. cit, p. 181. % Ricardo Elfas y Aparicio. Criminologéa, op. cit. p. 237. 178 inferiores, de consti hereditarias e de vic deveriam ser proibid rar 0 viciv © para d A solucio seric péia, Em 1941, cont contra as ragas estra lecimento da etnia p neficiam v elemento gado paraser cruzad incrementar o negéci A pritica, tod: era a solugao para ¢ queles paises onde: Argentina, apresent dos anteriormente. que o problema nao geiras homogéneas dominantes. Sua uti a toda uma série de dos como delitos. V migragio indiscrim racteristicas pessoa bém podia ser deli ria de ser o element lividuo. F ess Tid, p. 291 (destag % Enrique M. Gamio enfermedades venere Em contraste, 0 filés crevia em 1928: "A s blema étnico se nutre alistas. O conceito da sua obra de expansic um ativo cruzamento ingenuidade anti-soc deum importador de. de la realidad perua 10, Oscar Freie, Afra- Yeyga de Carvalho, no Castro y Bachiller, cm ia; José Torres Torijae a Cueva Tamaniz, Julio. quador; Nerio Rojas porexemplo, chegoua de Criminologia e foi no-Americano de Cri. Aires. Além disso, sur- 4uas disciplinas, como 1, criada por Flaminio Instituto de Medicina sordinariam as sees 3 desse pais, ete gal pela criminologia ',a delinquéncia seria a cigncia estava de- is, 0 critério para ex- sa desigualdade; mas fisica. slasses dominantes a sciedade seria a raga liciosas porque leva- aalcangado “substi- 3es em massa ou, no cum longo processo ias raciais” wir negros nem asi- 2as de sensualidade, generou a raga ao se > tipos anémicos, ra- ‘ompulsivos, fuman- 6 Somente as ragas +P-237 infetiores, de constituigao débil, raquitica ¢ enferma, de taras hereditérias e de vicios desenvolvidos, so as imigragSes que deveriam ser proibidas no Peru, j4 que elas contribuem para alas- _trar 0 vicio e para desenvolver 0 delito”>". A solugio seria buscada fomentando-se a imigragao euro- . En 1941, contudo, sustentava-se 0 seguinte: “a xenofobia contra as ragas estrangeiras homogéneas (sic) impedem 0 forta- lecimento da etnia peruana. As ragas estrangeiras ss e fortes be- neficiam o elemento nacional; da mesma maneira que se importa ‘gado pura ser eruzado com o de nossa proptiedade econémica para incrementar 0 negécio">®. A pritica, todavia, demonstrou muito cedo que essa nao era a solugio para o problema do delito Jane aera Na- queles pafses onde se logrou essa migracio européia, cortio na Argentina, apresentaram-se novos problemas no contempla- migragio indiscriminada e muito especialmente atribufda as ca racterfsticas pessoais de certos imigrantes. A.raca hranca tam- bém podia ser delingiiente e perturbadora. O problema deixa- Seger erent lee ats on wor do individuo, E esse “estado de perieulosidads”, que jé havia 7 Tbid, p. 291 (destaque nosso). °8 Enrique M. Gamio, “Factores éinicos y geosociales de difusion de enfermedades venéreas”, I Jornada Peruana Antivenérea, Lima 1941 Em contraste, 0 filésofo José Carlos Maridtegui, também peruano, es- crevia em 1928: “A suposigdo de que o problema indigena é um pro- blema étnico se nutre do mais envelhecido repertério de idéias imperi- alistas. O conceito das racas inferiores serviu ao Ocidente branco para sua obra de expansiio c conquista. Esperar a emancipacao indigena de Eiri OC aoa ERigee con ngaaee Wake ingenuidade anti-sociol6gica concebivel apenas na mente rudimentar i ar iaeorca aseaties ear Sevamoreras ea eeeaS de la realidad peruana. Lima, Amauta, 1970, p. 40. 179 sido mencionado pela antropologia criminal anos atrés, se in- corporaria & criminologialatino-americana com grande orga para decidir se 0 individuo poderia ser ‘curado” ou nao, e, sobretudo, se das diretamente para o controle sobre os imigrantes ¢, assim, con- trastar-se ao clima de agitacdo que pudesse ser fomentado por es ses individuos "“degenerados" - embora brancos -,¢ além disso pe- rigosos, mesmo porque chamavam.-se asi mesmos de anarquistas e estavam fugindo da justiga européia. “O anarquismo no somente conseguiu se expandir ¢ se fortalecer (na Argentina) mas também se converteu em um rival inomodo e perigoso para o regime exis- tente. Sobre o alcance da rivalidade, serve de testemunho, entre outras coisas, a necessidade que o regime sentiu de promulgar leis especiais destinadas diretamente a se opor 2 influéncia anarquista qne se intensificava no pais: a 'Lei de Resid@ncia' de 1902 a'Lei de Defesa Social de 1910", Com relagdo a “Lei de Residéncia’, € interessante notar ‘que podia ser aplicada tanto aos estrangeiros que haviam come- tido delitos comuns como Aqueles cuja conduta comprometesse “a seguranca nacional”. José Leén Pagano, em sua obra Criminalidad argentina, afirma: “ninguém ignora que a sanga0 de tal lei obedeccu primordialmente aos graves conflitos opera- rios registrados naquele ano e inspirados sobretudo por estran- geiros de idéias exéticas”®, Esse temor em relagiio ans imigrantes se generalizon em todo 0 continente, até naqucles pafscs que nao contavam com movimentos proletérios significativos, como é 0 caso da ‘Venezuela. Em 1924, por exemplo, Eduardo J. Dagnino escrevia ao general Juan Vicente Gomez, da Conferéncia Internacional de Imigragao que entio se realizava em Roma: “a inteligéncia dos senhores compreendeu a tempo este delicado e importante problema fechando a porta a imigragao incondicional por onde » Taacov Oved. El anarguismo y el movimiento obrero en Argentina. México, Siglo XXI, 1978, pp. 12-13. * José Leén Pagano. Criminalidad argentina. Buenos Aires, Depalma, 1964, p. 112. 180 se haviam infiltrad rios violentos de r para os daqui, port gracio seria conau Assim como braram os priineir ‘América Latinaes ‘0s chamados delir quistas, qualifican objeto de estudod legista argentino F do Anarquismo y nal. A criminolog todos quantos ten dos resistentes. Is que 08 primeiros delitos no capital meiros presos fo quando nio fosse 6s grevistas ingle Nesse perio somente indios, n nérios. Todos, de mento” de nossas ‘cesso de acumuli como explicagio tes. A partir dess rezao fata de que ‘go que dela faz classe de uma soe Na Améric ria preciso com indio e sua civil existia o problen pacio; cxistia, € Boletin del Are. jan-jun, 1970, anc nal anos atrés, se in- 20m grande forga para ou no, e, sobretudo, se necessario estabelecer uvadas neds volta igrantes e, assim, con- ser fomentado por es- cos -, ealém disso pe- esmos de anarquistas e urquismo no somente ‘gentina) mas também. ‘so para o regime exis- de testemunho, entre ntiu de promulgar leis sinfluéncia anarquista incia' de 1902 ea'Lei . € interessante notar 9s que haviam come- duta comprometesse gano, em sua obra vignora que a sangaio ‘aves conflitos opera- obretudo por estran- 2s se generalizou em 2 nio contavam eam como € 0 caso da oJ. Dagnino escrevia xréncia Internacional oma: “a inteligéncia clicado ¢ importante condicional por onde 0 obrero en Argentina. juenos » Depalma, ida alguma,os virus revoluciond= O Congreso fracassou para os daqui. portanto foi vitorioso para nés. Impor-nos a emi- ‘gragio seria conquistar-nos a baixo prego!”™!. Assim com suvedcu na Europa na época em que se cele braram os primeiros congressos de antropologia criminal, na América Latina essa disciplina se preocupatria nao somente com 0s chamados delinquentes comuns, mas também com os anar- quistas, qualificando-os como sujeitos anti-sociais, perigosus © objeto de estudo da antropologia criminal. J4.em 1897, 0 médico legista argentino Francisco de Veyga publicaria um livro chama- do Anarquismo y unurquistas: estudio de antropologia crimi- nal. A criminologia na América Latina também se ocuparia de todos quantos tentassem contra a ordem estabelecida: em suma, dos resistentes. Isso no deve causar estranheza, se recordarmos que 0s primeiros fatos significativos a serem qualificados como se haviam infiltrado, sem di como explicagao devvido aos problemas provocados pelos imigran- tes. A puilit desse momento, pode-se vislumbrar com maior cla- reza0 fato de que a criminalidade, e muito particularmente a defini ‘flo que dela faz 0 Estado, tem vinculo estreitn cnm as relacies de classe de uma sociedade determina Boletin del Archivo Histérico de Miraflores, n° 64-65-66, Caracas, jan-jun. 1970, ano XI, p. 267. I Particularmente no Panama, Peru e Cuba, onde chegarai em gran- das trés Am des quantidades para substituir os escravos negros, a partir da Proibigto do tréfico destes. E existiam as migragdes de europeus brancos, em muitos 4 inst sas atividad Desde fins de acrlaga destes se nhecidos em algur comego, esses gab ‘ou melhor, nos pri wr falhas em sua nhecimento, dirigi cialthente porque era um “psi i cidade de Bueno Antropometria da dirigido por Juan V 3. Primeira aplicagao da antropologia criminal: de um novo métod 08 gabinetes de identificacdio me ae A primeira medida pritica que se tomou na América Latina HeMIDSEKSEC Para procurar resolver o problema do delito, utilizando os as eeoreaeans ensinamentas da antropologia criminal, foi a 1iaya0 dos gabine. peer eameeeat tesde identificacao, Estes surgiram como se poderd depreender Antropomeétticg 0 do exposto anteriormente ~ primeito nos paises com grandes eittchnlgeCens Iigragées e foram obra das mesmas “minorias ilustradas” que aaa vinhasn se ocupando de difundir o positivismo criminolégico, tio de Identificaga especialmente de médicos legistas. Um deles, o brasileira 3 Leonidio Ribeiro, diz a respeito o seguinte: = : Meeneanoa 2 1909, na IIha¢ Deve-se criar em todos os pafses da América uma organizagio ac Camiaeeete iddntica A que existe no FBI... Nossa legislagdo estabclece 2 Tdentificagao, Ta identificagao obrigat6ria de todos os cidadios brasileiros. Os aa ean demais paises americanos esto agora sentinda as necessidadee oe anne de fechar suas fronteiras a elementos que nos chegam da Euro. Cee Pa contaminadas de idéias perigosas e detetérias, segundo as ee Fecentes verificagdes do Comité de Defesa do Continente, E Apel imprescindivel utilizar us inudcmos recursos especificas que qstran genoa eo 10s oferecem a cigncia médico-legal se queremos impedir que dadio. Crave ee) individuos indesejdveis continuem atravessando as fronteiras @ Leonidio Ribeiro do pats com a intengao de perturbar nossa tranquilidade e oven ameagar a seguranca nacional... Chegou o momento de decre- j ro servigo de identi {ar a legislagdo adequada que permita a0 Estado 0 contiole ri. i datiloscopia argent 0r0s0 dos numerososstiditos de paises europeus que preten. Ps ‘dem entrar clandestinamente 1a intimidade da vida dos povos 1972, ano XII, p. 182

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