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C4_3oA_Biol_Teoria_Conv_Tony 28/04/11 14:25 Página 257

FRENTE 1 Ecologia

MÓDULO 25 Relações Harmônicas entre os Seres Vivos

1. RELAÇÕES HARMÔNICAS ❑ Colônias heteromorfas ra a nutrição (gastrozoides), a repro-


ENTRE OS SERES VIVOS São constituídas por indivíduos dução (gonozoides), a natação (nec-
morfologicamente diferentes, com fun- tozoides) e a defesa (dactilozoides).
Nas relações harmônicas não ções distintas, caracterizando a cha-
existe desvantagem para nenhuma B. SOCIEDADES
mada divisão de trabalho fisiológico. São associações de indivíduos da
das espécies consideradas e há be- Quando formadas por dois tipos de
nefício pelo menos para uma delas. mesma espécie, que não estão uni-
organismos, tais colônias são chama- dos, ou seja, ligados anatomicamente,
Tais relações podem ser divididas em das de dimórficas. Como exemplo,
homotípicas e heterotípicas. e formam uma organização social que
citamos a Obelia, uma colônia de se expressa através do cooperativismo.
celenterados em que aparecem dois Sociedades altamente desenvolvi-
tipos de indivíduos: gastrozoides, das são encontradas entre os chama-
para a nutrição, e gonozoides, para a
dos insetos sociais, representados por
reprodução.
cupins, vespas, formigas e abelhas.
Para um estudo mais aprofundado,
destacaremos aquelas evidenciadas
entre abelhas, formigas e cupins.
Abelhas
Na sociedade das abelhas dis-
tinguem-se três castas: a rainha, o
Pequena colônia
do espongiário Leucosolenia. zangão e as operárias.
A rainha é a única fêmea fértil da
• Relações homotípicas colônia; salienta-se que em cada colônia
Também chamadas intraespecí- existe apenas uma rainha. Os zangões
ficas, são aquelas que ocorrem entre são os machos férteis, enquanto as ope-
organismos da mesma espécie. Per- rárias ou obreiras são fêmeas estéreis.
tencem a este grupo as colônias e as Obelia, colônia dimórfica. As operárias são encarregadas de
sociedades. obter alimento (pólen e néctar) e pro-
• Relações heterotípicas As colônias polimórficas são es- duzir a cera e o mel. A cera é usada
Também chamadas de interespe- truturadas por vários tipos de indiví- para confeccionar as celas hexago-
cíficas, são aquelas que acontecem duos adaptados para funções distin- nais, onde são postos os ovos; o mel é
entre organismos de espécies dife- tas. Como exemplo clássico, citamos fabricado por transformação do néc-
rentes. as caravelas, complexas colônias tar e constituído por glicose e frutose.
de celenterados. Uma caravela apresen- A única atividade dos zangões é
A. COLÔNIAS ta um pneumatóforo, vesícula cheia de a fecundação da rainha; após o voo
São constituídas por organismos gás que funciona como flutuador. Dele nupcial, são expulsos e morrem de
da mesma espécie, que se mantêm partem indivíduos especializados pa- inanição.
anatomicamente unidos entre si. A for-
mação das colônias é determinada
por um processo reprodutivo assexua-
do, o brotamento.
As colônias podem ser homomor-
fas e heteromorfas.

❑ Colônias homomorfas
Tais colônias são constituídas por
indivíduos iguais, que realizam as
mesmas funções, ou seja, não existe
a chamada divisão de trabalho. Como
exemplos, citamos as colônias de es-
pongiários, de protozoários, de cracas
(crustáceos), entre outras. Caravela.
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pelo paguro eremita, o que facilita a


ela a captura do alimento. Em troca,
a anêmona protege o crustáceo
contra a ação de predadores, através
de seus tentáculos.

O pássaro-palito
e o crocodilo
O pássaro-palito penetra na boca
dos crocodilos que ficam nas margens
do Nilo, nutrindo-se dos restos alimen-
tares e de vermes existentes na boca
do réptil. A vantagem é mútua, porque,
em troca do alimento, o pássaro livra
o crocodilo dos parasitas.

Indivíduos do gênero Atta (saúva).

Pássaro-palito e crocodilo.

O anu e o gado
O anu é uma ave que se alimenta
dos carrapatos existentes na pele do
gado, capturando-os diretamente. Em
troca, livra o gado dos indesejáveis
parasitas.

❑ Mutualismo
Térmitas.
Trata-se de uma associação com
benefícios mútuos. É mais íntima do
2. PROTOCOOPERAÇÃO
que a cooperação, sendo necessária
à sobrevivência das espécies, que não
Também conhecida como coope-
podem viver isoladamente. Cada es-
ração, trata-se de uma associação
pécie só consegue viver na presença
entre duas espécies diferentes, na
da outra.
qual ambas se beneficiam. Contudo,
tal associação não é indispensável à
sobrevivência, podendo cada espé-
cie viver isoladamente.

Como exemplo, citaremos:


Paguro e anêmona.
O caranguejo bernardo-ere- A fim de proteger o abdômen, o
mita e a anêmona bernardo vive no interior de uma con-
Também conhecido como pagu- cha vazia de caranguejo. Sobre a
ro eremita, trata-se de um crustáceo concha aparecem anêmonas (pólipos
marinho que apresenta o abdômen de celenterados) providas de tentá-
mole e desprotegido de exoesque- culos que eliminam substâncias urti- Beija-flores e flores de angiospermas
leto. cantes. A anêmona é transportada mantêm uma relação do tipo mutualismo.
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Dentre os exemplos, destacare- A alga é um produtor e sintetiza 4. INQUILINISMO


mos: o alimento que é utilizado pelo fun-
go, organismo heterótrofo consumi- É a associação em que uma es-
Bacteriorriza dor. Em troca, o fungo envolve e pécie (inquilino) procura abrigo ou
Chamamos de bacteriorriza a as- protege a alga contra a desidratação. suporte no corpo de outra espécie
sociação entre as bactérias do gê- Separados, tais organismos não (hospedeiro), sem prejudicá-la.
nero Rhizobium e as raízes de legu- sobrevivem. Trata-se de uma associação se-
minosas. 3. COMENSALISMO melhante ao comensalismo, não en-
Como já vimos, no ciclo do nitro- volvendo alimento.
No comensalismo, uma espécie
gênio, a bactéria produz compostos
(comensal) beneficia-se, enquanto a
nitrogenados aproveitados pela plan- Citaremos dois exemplos:
outra (hospedeira) não leva vantagem
ta e recebe dela matéria orgânica
alguma.
produzida na fotossíntese. O peixe-agulha
Um caso típico é a rêmora ou
peixe-piolho, que vive como comen- e a holotúria
Microrriza sal do tubarão. No alto da cabeça, a O peixe-agulha apresenta um
Neste caso tem-se uma associa- rêmora apresenta uma ventosa por corpo fino e alongado e se protege
ção entre fungos e raízes de árvores meio da qual se fixa no tubarão. contra a ação de predadores, abri-
florestais. O efeito disso sobre o tubarão é gando-se no interior das holotúrias
O fungo, que é um decompositor, nulo, mas a rêmora se beneficia, por- (pepinos-do-mar), sem prejudicá-las.
fornece ao vegetal nitrogênio e outros que engole as sobras alimentares do
nutrientes minerais; em troca, recebe tubarão, além de se deslocar sem Epifitismo
matéria orgânica fotossintetizada. gasto de energia. Epífitas são plantas que crescem
sobre os troncos de plantas maiores,
sem parasitá-las.
Cupins e protozoários
São epífitas as orquídeas e as
Os cupins ou térmitas ingerem
bromélias, que, vivendo sobre árvo-
madeira, mas não conseguem digerir
res, obtêm maior suprimento de luz
a celulose, pois não possuem a celu-
solar.
lase, enzima que a digere. No tubo
digestório do cupim, existem pro-
tozoários flagelados capazes de rea-
lizar tal digestão.

Liquens
É comum encontrarmos os liquens
firmemente aderidos às rochas ou às
cascas de árvores, formando uma
crosta verde-acinzentada. O líquen é
uma associação entre alga e fungo. Rêmora e tubarão.
Bromélias epífitas na Mata Atlântica.

RELAÇÕES HARMÔNICAS HETEROTÍPICAS

ESPÉCIES REUNIDAS ESPÉCIES SEPARADAS


TIPOS
Espécie Espécie Espécie Espécie
A B A B

PROTOCOOPERAÇÃO + + 0 0

MUTUALISMO + + – –

COMENSALISMO + 0 – 0
(A comensal de B)

INQUILINISMO + 0 – 0
(A inquilino de B)
0: as espécies não são afetadas em seu desenvolvimento.
+: o desenvolvimento da espécie torna-se possível ou é melhorado.
–: o desenvolvimento da espécie é reduzido ou torna-se impossível.
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MÓDULO 26 Relações Desarmônicas entre os Seres Vivos

As relações desarmônicas se ca- competição interespecífica, predatis- Um interessantíssimo exemplo de


racterizam por beneficiarem um dos mo, amensalismo e parasitismo. mimetismo é dado pelo camaleão, um
associados e prejudicarem o outro. réptil provido de cromatóforos, célu-
Tais relações também podem ser ❑ Competição las pigmentadas que permitem uma
intraespecíficas e interespecíficas. interespecífica variação na coloração do corpo. As-
A competição entre espécies sim, tal animal é capaz de mudar sua
diferentes se estabelece quando tais cor em conformidade com o ambiente
1. RELAÇÕES
espécies possuem o mesmo habitat em que é colocado. Tal fenômeno é
INTRAESPECÍFICAS
e o mesmo nicho ecológico. É o caso designado homocromia.
OU HOMOTÍPICAS
de cobras, corujas e gaviões, que
vivem na mesma região e atacam ❑ Amensalismo
São as que ocorrem entre indi- pequenos roedores. Amensalismo é um tipo de asso-
víduos da mesma espécie, como é o ciação na qual uma espécie, chama-
caso da competição intraespecífica e ❑ Predatismo da amensal, é inibida no cresci-
do canibalismo. Predador é o indivíduo que ataca mento ou na reprodução por substân-
e devora outro, chamado presa, per- cias secretadas por outra espécie,
❑ Competição tencente a uma espécie diferente. Os denominada inibidora.
intraespecífica predadores são, geralmente, maiores A relação pode ser exemplificada
É a relação que se estabelece e menos numerosos que suas presas, pelos flagelados Gonyaulax, causa-
entre os indivíduos da mesma espé- sendo exemplificados pelos animais dores das marés vermelhas. Em tal
cie, quando concorrem pelos mes- carnívoros. caso, os flagelados eliminam toxinas
mos fatores ambientais, principal- Tanto os predadores quanto as que provocam a morte da fauna
mente espaço e alimento. presas apresentam adaptações para
marinha.
ataque e defesa. Daremos especial
Outro caso é representado pelos
❑ Canibalismo destaque para a adaptação desig-
fungos que produzem antibióticos,
Canibal é o indivíduo que mata e nada mimetismo.
impedindo o desenvolvimento de
come o outro da mesma espécie. Através do mimetismo os animais,
bactérias.
O canibalismo pode ocorrer entre pela cor ou forma, assemelham-se ao
ratos, quando existe falta de espaço. meio ambiente, com o qual se confun- ❑ Parasitismo
dem. Tanto as presas como os preda- Nesse caso, uma das espécies,
2. RELAÇÕES dores procuram esconder-se: os pri- chamada parasita, vive na superfí-
INTERESPECÍFICAS meiros a fim de não serem persegui- cie ou interior de outra, designada
OU HETEROTÍPICAS dos; os segundos para não serem hospedeiro. O parasita alimenta-se
descobertos. Assim, numerosos inse- a partir do hospedeiro, podendo até
Acontecem entre indivíduos de tos que habitam a vegetação possuem matá-lo. Os exemplos são numerosos
espécies diferentes e compreendem: cor verde. e estudados na Zoologia.

RELAÇÕES DESARMÔNICAS HETEROTÍPICAS

ESPÉCIES REUNIDAS ESPÉCIES SEPARADAS


TIPOS
Espécie Espécie Espécie Espécie
A B A B

COMPETIÇÃO – – 0 0

PREDATISMO
+ – – 0
(A predador de B)
PARASITISMO
+ – – 0
(A parasita de B)
AMENSALISMO
– 0 0 0
(A amensal de B)

0: as espécies não são afetadas em seu desenvolvimento.


+: o desenvolvimento da espécie torna-se possível ou é melhorado.
–: o desenvolvimento da espécie é reduzido ou torna-se impossível.

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MÓDULO 27 Populações

1. CONCEITO • Taxa de imigração a imigração (I) são fatores de acrés-


DE POPULAÇÃO Número de indivíduos que entram cimo, enquanto a mortalidade (M) e a
na população por unidade de tempo. emigração (E) são fatores de decrés-
A demoecologia, ou dinâmica cimo. Essas quatro variáveis têm de
das populações, descreve as va- • Taxa de emigração ser investigadas pelo ecologista que
riações quantitativas das diversas Número de indivíduos que saem queira adquirir uma noção precisa
espécies e procura as causas dessas da população por unidade de tempo. sobre as características da população
variações. Salienta-se que a natalidade (N) e que está estudando. Assim, temos:
População é um conjunto de se-
População em crescimento
res da mesma espécie que habitam a
N+I>M+E
mesma área num certo tempo.
População estável
❑ Densidade populacional N+I=M+E
Se dividirmos o número de indi-
víduos que constituem uma popu- População em declínio
lação pela área que ocupam, encon- N+I<M+E
traremos a densidade populacional.
Densidade populacional é o nú- ❑ Potencial biótipo e ❑ Curva normal do
mero de indivíduos por unidade de resistência ambiental crescimento populacional
espaço. Dá-se o nome de potencial biótipo O crescimento de uma população
Se a população for bidimensional, à capacidade potencial do cresci- que foi introduzida em um novo meio
o espaço será uma área e, se ela for mento de uma população em condi- ocorre em três fases:
tridimensional, o espaço será um ções ambientais favoráveis. 1) Fase de crescimento lento,
volume. A resistência ambiental exerce um correspondente à fase de adaptação
controle natural, pois se opõe ao po- no novo meio.
Exemplos tencial biótipo, limitando-o. Por resis- 2) Fase de crescimento rápido,
1) A densidade de uma população tência ambiental entende-se o conjun- com exploração máxima do ambiente.
humana é de 12 habitantes/ km2. to de fatores limitantes do crescimen- 3) Fase de crescimento retarda-
2) A densidade de uma popula- to, como alimento, clima, espaço, do, devido à resistência ambiental.
ção de eucaliptos é de competição, predação e parasitismo. Finalmente, a população atinge o
980 árvores/hectare. É devido à resistência ambiental equilíbrio dinâmico e passa a apre-
3) A densidade de uma popula- que as populações não crescem de sentar oscilações, isto é, pequenas
ção de peixes é de 13/m3. acordo com o seu potencial biótipo. variações em torno do equilíbrio
médio, ou flutuações, grandes varia-
❑ Determinantes do ções em torno desse equilíbrio.
tamanho populacional
O tamanho de uma população é
determinado por quatro fatores bá-
sicos:
• Taxa de natalidade
Número de nascimentos em uma
certa unidade de tempo.

• Taxa de mortalidade A- Potencial biótipo


Número de mortes em uma certa B- Crescimento real (curva sigmoide)
C- Resistência do meio A - Crescimento lento; B - Crescimento
unidade de tempo. K- Capacidade limite de suporte do meio rápido; C - Crescimento retardado; D - Equi-
líbrio dinâmico; Curva normal de cresci-
mento populacional.
NÚMERO DE INDIVÍDUOS
DENSIDADE = ————————————————————— ❑ As causas das flutuações
NÚMERO DE ÁREA • Competição
As espécies competem por es-
paço e alimento; tal competição pode
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ser intra ou interespecífica e eliminar um dos competidores. Os gráficos a seguir mostram as curvas de crescimento
de duas populações de micróbios P e P’, quando estão separadas (gráfico I) e quando estão no mesmo meio de
cultura (gráfico II).

Gráfico I Gráfico II

• Predatismo mia (se a doença se dissemina pela mente indireta e menos importante
Suponhamos uma cadeia alimen- Terra, tem-se uma pandemia). sobre os homeotermos, que dispõem
tar simples: Numa epidemia, o aumento da de mecanismos fisiológicos que se
população de parasitas leva ao au- tornam relativamente independentes
Vegetais → Herbívoros → Carnívoros mento do número de doenças graves;
(presa) (predador)
do meio exterior.
com isso, a população de hos-
pedeiros diminui pelo aumento da ta-
❑ Curvas de sobrevivência
Se a população do predador di- xa de mortalidade. Mas a população
Existem três tipos de curvas de
minuir, a da presa aumentará; depois parasita também sofre uma queda
sobrevivência:
o alimento vegetal tornar-se-á insufi- por não ter mais o que parasitar,
1. Muitos indivíduos têm a mes-
ciente e a população da presa dimi- voltando-se à situação de endemia.
ma duração de vida. É o caso da
nuirá graças ao aumento da maioria dos mamíferos.
mortalidade pela fome ou por • Alimentação
2. A mortalidade permanece cons-
epidemias. O aumento da quantidade de ali-
tante durante toda a vida. Acontece
Se a população do predador mento provoca a aceleração do cres-
com a hidra.
aumentar, aumentará o consumo de cimento, o aparecimento mais rápido
3. A mortalidade é elevada nos
da maturidade sexual, o aumento da
presa, e a população de predador jovens. Ocorre em peixes e nume-
fecundidade, a redução da variação
diminuirá graças à mortalidade pela rosos invertebrados.
do tamanho entre os indivíduos da
fome ou por epidemias.
mesma idade, o aumento do teor de
As relações de tamanho entre
gorduras no organismo e a redução
predador e presa podem ser esque-
do canibalismo em relação aos filhotes.
matizadas segundo o gráfico a seguir.
A redução na quantidade de ali-
mento acarreta o retardamento do
crescimento e da maturidade sexual,
a redução da fecundidade, o au-
mento do canibalismo e a diminuição
da quantidade de gorduras de reserva.

• Fatores climáticos
São fatores como temperatura,
• Parasitismo luminosidade, umidade etc. A sua
Na maioria das vezes, as doen- influência pode ser direta ou indireta.
ças provocadas por parasitas são Em relação aos animais, o que se
endêmicas: a proporção de afeta- pode dizer é que a ação dos fatores
dos não varia com o tempo. Quando climáticos é importante e direta sobre Os diversos tipos
aumenta, passa-se por uma epide- os pecilotermos, sendo frequente- de curvas de sobrevivência.

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MÓDULO 28 Sucessões

1. CONCEITO DE SUCESSÃO maior amplitude ecológica são subs- geral é o seu desaparecimento final,
tituídas pelas de menor amplitude. As pois ela vai sendo constantemente
Sucessão ecológica é o desen- populações mais simples precedem aterrada por sedimentos que as
volvimento de uma comunidade ou as mais complexas; aumenta a águas trazem das elevações vizinhas.
biocenose, compreendendo a sua diversidade de espécies; as formas Na lagoa, o plâncton é o primeiro
origem e o crescimento, até chegar a herbáceas são substituídas pelas sistema de produtores que se desen-
um estado de equilíbrio dinâmico com arbóreas. Denominam-se seres as volve. Quando os seus cadáveres
o ambiente. Tal dinamismo é uma comunidades temporárias que surgem começam a enriquecer o fundo das
característica essencial das bioce- no decorrer de uma sucessão. margens com material orgânico, a
noses. Assim, a sequência na sucessão vegetação aquática pode aí se esta-
será: belecer. As folhas e caules mortos
aumentam o húmus do fundo, e de
2. ESTÁGIOS DA SUCESSÃO
Ecese → seres → comunidade ano para ano a vegetação avança das
A sucessão não surge repentina- clímax margens para o centro. Na borda,
mente, de uma forma abrupta, mas onde estavam as plantas pioneiras,
sim por meio de um aumento crescen- aparecem arbustos lenhosos e, de-
te de espécies, até se atingir uma pois de um certo tempo, as árvores.
situação que não se modifica com o 3. TIPOS DE SUCESSÃO O terreno eleva-se graças à sedimen-
ambiente, denominada clímax. Uma tação de restos vegetais e, finalmen-
sucessão pode iniciar-se de diversas As sucessões podem ser primá- te, onde estavam, de início, as plantas
maneiras: numa rocha nua, numa la- rias, secundárias e destrutivas. aquáticas, fixam-se arbustos e ár-
goa, num terreno formado por sedi- vores, e o que era, a princípio, o char-
mentação etc. co marginal se transforma em terra
O primeiro passo é a migração de ❑ Sucessões primárias firme.
espécies para a região onde se irá As sucessões primárias corres- Por meio deste processo de su-
iniciar a sucessão. As espécies che- pondem às instalações dos seres cessão, todos os lagos e lagoas
gam a essa região por intermédio dos vivos em um ambiente que nunca foi tendem a desaparecer.
elementos de reprodução (esporos, habitado. É, por exemplo, a sucessão
sementes etc.). que acontece numa rocha nua.
As condições desfavoráveis, tais Os organismos pioneiros são ❑ Sucessões secundárias
como intensa iluminação e solo úmi- representados pelos liquens. Por meio As sucessões secundárias apare-
do, só permitem o desenvolvimento de ácidos orgânicos, produzidos pe- cem em um meio que já foi povoado,
de algumas espécies. los liquens, a superfície da rocha vai mas os seres vivos foram eliminados
Essas espécies que se desenvol- sendo decomposta. A morte desses por modificações climáticas (glacia-
vem inicialmente no ambiente inóspito organismos, associada à decom- ções, incêndios) e geológicas
são chamadas pioneiras. São posição da rocha, permite o apare- (erosão) ou pela intervenção do
espécies de grande amplitude, isto é, cimento de outros vegetais, como os homem. Uma sucessão secundária
são pouco exigentes, não tolerando musgos. Estes, por sua vez, per- leva, muitas vezes, à formação de um
apenas as grandes densidades. mitem, pela sua ação, o aparecimento disclímax, diferente do clímax que
São vegetações pioneiras: li- de espécies maiores, como as existia anteriormente.
quens, musgos, plantas de dunas etc. bromélias e as gramíneas. É o caso da sucessão numa flo-
Essa primeira etapa da sucessão resta destruída. Um trecho de floresta
chama-se eceses. Eceses é a capa- é destruído (homem ou fogo), e o
cidade de uma espécie pioneira em • Sucessão numa lagoa local é abandonado por certo tempo.
adaptar-se e reproduzir-se numa no- As águas paradas de lagoas e A recolonização é feita em etapas: em
va área. charcos são formações transitórias. primeiro lugar, o terreno é invadido
A vegetação pioneira permite a Elas se formam quando o sistema pelo capim e outras ervas; depois,
preparação de um novo ambiente normal de drenagem de terra fica in- aparecem arbustos e, no final,
que, por sua vez, possibilita o estabe- terrompido pela elevação brusca do árvores.
lecimento de outras espécies vege- terreno (tremores de terra) ou por
tais. Outras espécies migram, algumas variações que se processam muito
lentamente através de longos perío- ❑ Sucessões destrutivas
desaparecem, ocorrendo consequen-
temente alterações até se atingir o dos geológicos. Uma lagoa está Sucessões destrutivas são aque-
clímax. Na sucessão, as espécies de sempre em evolução. A tendência las que não terminam em um clímax

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final. Nesse caso, as modificações • aumenta a biomassa e a diver- • O ecótono


são devidas a fatores bióticos, e o sidade de espécies; Normalmente a passagem de
meio vai sendo destruído, pouco a • nos estados iniciais, a ativida- uma biocenose para outra nunca
ocorre de forma abrupta; geralmente
pouco, por diferentes seres. É o que de autotrófica supera a heterotrófica.
há uma zona de transição, designa-
ocorre com os cadáveres. Por essa razão, a produção bruta (P) da ecótona. Em tal região, o número
• Características é maior que a respiração (R), e a de espécies é grande, existindo,
de uma sucessão relação entre P e R é maior do que 1; além das espécies próprias, outras
Em todas as sucessões, pode-se • nos estágios climáticos, há provenientes das comunidades limí-
observar que: equilíbrio e a relação P/R = 1. trofes.

MÓDULO 29 Biociclos Aquáticos


1. OS BIOCICLOS Eufótica – recebe luz direta- espongiários, corais etc.
mente e geralmente chega a 100m de Os animais que se movem no fun-
A Terra é formada por grandes profundidade. do são frequentemente representados
ecossistemas, que são divididos em Disfótica – recebe luz difusa e por equinodermos (estrelas-do-mar) e
biosfera, biociclo, biocoro e bioma, pode chegar a 300m de profundidade. moluscos.
dependendo de suas dimensões. Afótica – é a região geralmente
Biosfera – é o ambiente biológi- com mais de 300m de profundidade, • Nécton
co onde vivem todos os seres vivos. que não recebe luz. São animais livres, natantes, re-
Biociclos – são ambientes me- A temperatura varia muito, confor- presentados por peixes, polvos, ma-
nores dentro da bioesfera. Existem me a profundidade dos oceanos. A míferos marinhos, tartarugas etc.
três tipos de biociclos: terrestre (epi- camada mais aquecida é a superfície
nociclo), água doce (limnociclo) e e também é a que fica mais sujeita a ❑ Subdivisões
marinho (talassociclo). variações decorrentes das estações do meio marinho
Biocoro – é uma parte do bio- do ano. O biociclo marinho pode ser divi-
ciclo com características próprias. A salinidade gira em torno de 35 dido em:
Assim, no biociclo terrestre existem partes por mil e ocorre uma varieda-
quatro biocoros: floresta, savana, de muito grande de sais dissolvidos, 1. águas costeiras;
campo e deserto. predominando o cloreto de sódio 2. mar aberto;
Bioma – dentro do biocoro, há (NaCl). 3. grandes profundidades.
regiões diferentes chamadas biomas. ❑ O meio biótico
Assim, no biocoro floresta, podemos A diversidade de organismos é ex- Em função da profundidade, ele
encontrar a floresta tropical, tempe- tremamente variada, distinguindo-se: pode ser dividido em quatro zonas:
rada etc. plâncton, bentos e nécton. litorânea, nerítica, batial e abissal.

2. BIOCICLO MARINHO • Plâncton • Zona litorânea


OU TALASSOCICLO São seres que vivem na super- É uma região que fica na depen-
fície, geralmente transportados passi- dência das marés, sendo, portanto,
❑ Característica vamente pelo movimento das águas. de difícil adaptação para os seres
É o maior de todos os biociclos, O plâncton costuma ser dividido em vivos. É a zona que fica ora coberta
ocupando 363 milhões de km2, o que fitoplâncton e zooplâncton. pelas águas, ora descoberta. Mesmo
representa 3/4 da biosfera. Fitoplâncton – são algas repre- assim, alguns organismos conse-
sentadas pelas diatomáceas e pelos guem viver nessa região: cracas, mo-
❑ Fatores abióticos dinoflagelados (pirrófitos). luscos, algas etc.
No mar, são fatores abióticos im- Zooplâncton – é constituído
portantes a pressão hidrostática, a por protozoários, muitas larvas de • Zona nerítica
iluminação, a salinidade e a tempera- crustáceos e outros animais. Essa região é também conhecida
tura. A pressão hidrostática aumenta por plataforma continental e abrange
1 atmosfera a cada 10m de profundi- • Bentos uma área com largura aproximada de
dade. A luz vai sendo absorvida à São seres que vivem no fundo do 50km da costa, podendo atingir até
medida que penetra na água; assim mar, fixos ou movendo-se no fundo. 200m de profundidade.
as radiações que mais penetram são Os indivíduos fixos são chamados Os produtores dessa região são
azul e violeta. sésseis, representados por muitos as algas e algumas raras espécies de
Costuma-se distinguir no mar três tipos de algas vermelhas, pardas e angiospermas. O fundo da zona
regiões: verdes e por muitos animais, como nerítica pode ser arenoso, lodoso ou

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rochoso. Nessa região, há corais, ge- estáveis. chos, córregos e rios. Nelas, há três
ralmente encontrados em águas cla- Existem dois tipos: regiões distintas: nascente, curso mé-
ras, limpas e com temperatura acima dio e curso baixo (foz).
1. águas lênticas ou dormentes;
de 20°C. Estão frequentemente as- O curso superior ou nascente é
sociados com algas vermelhas. 2. águas lóticas ou correntes. pobre em seres vivos, devido à vio-
lência das águas. Não há plâncton,
• Zona batial ❑ Águas lênticas podendo ser encontradas algas fixas
Vai de 200 a 2.000 metros. Apre- São as aparentes águas paradas, ao fundo, larvas de insetos etc.
senta águas paradas, mais frias, à que, na verdade, estão sendo sempre O curso médio dos rios é mais
medida que a profundidade aumenta. renovadas. Abrangem desde uma importante, pois é mais lento e apre-
É uma região afótica, com reduzida poça d'água formada pelas chuvas senta maior diversificação de vida. O
vida animal. até os grandes lagos, como o Lago fitoplâncton é representado por algas
Superior e o Mar Cáspio (maior lago verdes, diatomáceas, cianofíceas etc.
• Zona abissal salgado do mundo).
Abrange profundidades superio- Plantas flutuantes, como o aguapé, e
Vamos tomar como exemplo uma
res a 2.000 metros. outros vegetais são encontrados nas
lagoa. Os produtores das lagoas são
As grandes profundidades apre- margens. O zooplâncton é formado
principalmente representados por
sentam condições difíceis para a vida, por microcrustáceos, larvas de
algas microscópicas, que formam o
tais como grandes depressões, ausên- insetos e outros. Há grande quanti-
fitoplâncton (diatomáceas, cianofíceas,
cia de luz, frio e pouco alimento. dinoflagelados etc.). dade de peixes. O curso médio apre-
Mesmo assim, muitos organismos De menor importância são os senta intenso intercâmbio com
adaptam-se a essas condições es- vegetais superiores (geralmente an- animais terrestres.
peciais. giospermas), que vivem fixos no fun- O curso inferior ou foz (estuário)
Uma das características desses do ou são flutuantes. Os consumidores apresenta grande variação de sali-
seres é a bioluminescência, isto é, a são representados pelo zooplâncton nidade (água salobra) e constitui uma
capacidade de emissão de luz, utili- (protozoários, pequenos crustáceos e zona de transição com o mar.
zada para atração sexual, de presas outros animais). O homem influencia decisiva-
etc. Têm visão muito sensível, capaz Outros animais que não perten- mente nas águas continentais, promo-
de responder a pequenos estímulos cem ao plâncton, como larvas de vendo drenagens, construção de
luminosos, possuem formas bizarras, peixes, moluscos e peixes adultos, açudes, usinas hidrelétricas e principal-
bocas e dentes grandes para facilitar têm como predadores aves, como a mente poluindo as águas. Assim, o
a captura das presas. garça, e mamíferos, como ariranhas e lançamento de esgotos ricos em nutrien-
lontras, que dependem do ecossis- tes orgânicos provoca uma intensa ação
3. BIOCICLO DE ÁGUA tema aquático. dos decompositores, diminuindo o su-
DOCE OU LIMNOCICLO Quando os seres vivos morrem,
primento de O2 e, consequentemente,
acumulam-se no fundo da lagoa e são
As águas continentais possuem eliminando os seres aeróbicos.
transformados por ação dos decom-
pequeno volume, cerca de 190 mil km3; Muitas vezes, os organismos
positores (bactérias e fungos).
têm pequena profundidade, raramente aquáticos são eliminados por ação de
ultrapassando 400m; sofrem varia- agrotóxicos carregados pelas en-
ções de temperatura mais intensas do ❑ Águas lóticas xurradas durante o período chuvoso,
que o mar, sendo, portanto, menos Essas águas compreendem ria- para lagos, lagoas e rios.

Mar – talassociclo. Lagoa ou lago – limnociclo (águas lênticas). Rio – limnociclo (águas lóticas).

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MÓDULO 30 A Poluição Ambiental

1. CONCEITO DE POLUIÇÃO ❑ Compostos nitrogenados ❑ A chuva ácida


O dióxido de nitrogênio (NO2) é o A atividade industrial e o uso de
Existe, na natureza, um equilí- poluente produzido pelas descargas automóveis provocam, por meio da
brio biológico entre todos os seres dos motores de automóveis, especial- combustão de carvão mineral, petró-
vivos. Nesse sistema em equilíbrio, os mente os movidos a óleo diesel e leo e derivados, emissão de poluen-
organismos produzem substâncias gasolina. Os óxidos de nitrogênio cons- tes, especialmente os dióxidos de
que são úteis para outros organismos tituem a névoa seca (smog fotoquímico) enxofre e nitrogênio. Na atmosfera,
e assim sucessivamente. que se forma sobre as grandes cidades esses poluentes em contato com o
A poluição vai existir toda vez que por ação das radiações solares sobre vapor de água produzem os ácidos
os resíduos produzidos pelos orga- os gases expelidos pelos veículos auto- sulfúrico e nítrico, que se precipitam
nismos não puderem ser absorvidos motores. É tóxico para as vias res- na forma de neve ou chuva.
pelo ecossistema, o que acaba provo- piratórias, provocando uma grave Essa chuva ou neve, contendo áci-
cando alterações na sobrevivência das doença, o enfisema pulmonar. Reduz a dos, provoca erosão de prédios, monu-
espécies. fotossíntese nas plantas e danifica as mentos, além da destruição de florestas
A poluição pode ser entendida pinturas, alterando as tintas. e, consequentemente, da fauna.
ainda como qualquer alteração do
equilíbrio ecológico existente. ❑ Monóxido de carbono ❑ Efeito estufa
A poluição é essencialmente O monóxido de carbono é o po- O efeito estufa é um fenômeno
produzida pelo homem e está direta- luente que aparece em menor quan- natural, sem o qual a Terra seria ina-
mente relacionada com a concentra- tidade no ar das grandes cidades. bitável. Em condições normais, esse
ção das populações. Assim, quanto Tem origem, principalmente, na com- fenômeno mantém o planeta aque-
maior for o aglomerado humano, mais bustão do petróleo e do carvão. cido. Ele é provocado por gases, es-
intensa será a poluição. No sangue humano, existe a he- pecialmente o gás carbônico (CO2),
Os agentes poluentes são os moglobina, um pigmento que, nos cujo efeito é comparável ao do vidro
mais variáveis possíveis e são capa- pulmões, se combina com o oxigênio das estufas, que deixa entrar os raios
zes de alterar a água, o ar, o solo etc. e, assim, é transportado para as cé- de sol, mas impede que o excesso de
lulas. O monóxido de carbono (CO) calor seja irradiado de volta para o
pode reagir com a hemoglobina, espaço. No efeito estufa, o vidro é
2. A POLUIÇÃO DO AR
substituindo o oxigênio; tal fato pro- substituído pelos gases que absor-
voca a morte por asfixia: muitas pes- vem a radiação infravermelha. Sem a
A poluição do ar é causada princi-
soas já morreram asfixiadas em camada de gases, a radiação infra-
palmente por compostos sulfurosos,
garagens fechadas com automóveis vermelha seria irradiada para o espa-
nitrogenados e monóxido de carbono.
em funcionamento. Seriam medidas ço e a Terra teria uma temperatura de
eficientes, no combate ao problema, – 50°C, ou seja, seria um planeta
❑ Compostos sulfurosos
a regulação de motores e, principal- gelado. A energia solar atinge a Terra
Os compostos sulfurosos são re-
mente, a diminuição do número de e é distribuída na superfície. O calor
presentados principalmente pelo dió-
automóveis circulantes. sobe novamente, mas os gases ab-
xido de enxofre (SO2) e pelo gás
sulfídrico (H2S), encontrados em con-
centrações variáveis no ar das gran-
des cidades. O dióxido de enxofre é
formado principalmente pela combus-
tão dos derivados de petróleo e do
carvão mineral.
Esse composto provoca problemas
no sistema respiratório e é causa de
bronquites e distúrbios como o enfise-
ma pulmonar. No ar, o dióxido de en-
xofre pode ser transformado em
trióxido de enxofre, que, para as vias
respiratórias, é ainda mais irritante que
o primeiro. Os vegetais são mais
sensíveis aos óxidos de enxofre; suas
folhas amarelecem e, em concentra-
ções maiores, chegam mesmo a
morrer.

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sorvedores do infravermelho refletem ❑ A camada de ozônio tidade de radiação ultravioleta. Entre


parte dessa energia, fazendo-a voltar O sol produz a chamada radiação os efeitos dessa radiação, aparecem:
à superfície. ultravioleta, que é perigosa para os câncer de pele, catarata, redução de
Além do gás carbônico, respon- seres vivos. O ozônio (O3) é um gás resistência a infecções, redução das
sável por 50% do efeito estufa, outros que forma, na atmosfera, um filtro colheitas. Esse é um dos grandes pro-
gases desempenham o mesmo papel. natural que impede a passagem da blemas ecológicos da atualidade,
Entre eles, citam-se os clorofluor- radiação ultravioleta. alvo de intensa campanha em prol de
carbonetos (20%), o metano (18%), os Se a camada de ozônio fosse sua preservação, já que sua destrui-
óxidos de nitrogênio (10%) e outros. destruída, a vida na Terra estaria se- ção ameaça a natureza como um
A concentração desses gases na riamente ameaçada. Mas, apesar da todo.
atmosfera está aumentando, em gravidade da ameaça, a camada de
razão principalmente da queima de ozônio vem sendo constantemente
combustíveis e de madeira, retendo agredida. Por exemplo, aeronaves su-
mais raios infravermelhos e elevando persônicas, que voam na estratosfera,
a temperatura terrestre. Isso pode liberam gases que podem reagir com
acrescentar 2°C a 4°C na temperatura o ozônio, destruindo-o.
nos próximos setenta anos. Entre os principais destruidores
As consequências previstas são da camada de ozônio, estão os clo-
catastróficas. Existe o risco de as ca- rofluorcarbonetos (CFCs), usados em
lotas polares se derreterem e ocasio- ciclos de refrigeração e nas emba-
narem um aumento no nível dos lagens do tipo aerossol.
mares. Mudarão também a circulação O CFC passou a ser usado por
atmosférica e o regime das chuvas. ser de pequeno custo, não inflamá-
vel, de baixa toxicidade e bastante
estávell, quer dizer, não se decom-
❑ A inversão térmica põe com facilidade, permanecen-
A inversão térmica é um fenô- do como é por mais de 150 anos.
meno que acontece no frio e agrava a Os CFCs sobem lentamente e
poluição atmosférica. Em condições alcançam altitudes de até 50 mil me-
normais, o solo é aquecido pela tros. É nesse ponto que, submetidas
radiação solar e, por sua vez, aquece às radiações ultravioleta, as molécu-
as camadas de ar com as quais está las de CFC são quebradas, liberando 3. A POLUIÇÃO DAS ÁGUAS
em contato. O ar aquecido, pouco o átomo de cloro. Este reage com o A poluição das águas constitui
denso, sobe para a atmosfera e dis- ozônio (O3), transformando-o em oxi- um dos mais sérios problemas ecoló-
persa os poluentes. No inverno, pode gênio molecular (O2). Sabe-se que cada gicos da atualidade.
ocorrer um rápido resfriamento do so- átomo de cloro liberado na atmosfera As fontes de poluição da água de-
lo e, consequentemente, do ar. destrói cerca de 100 mil moléculas de correm, principalmente, da atividade
Em tais condições, o ar frio, que ozônio. humana; esgotos domésticos e dejetos
é mais denso, não sobe e retém os Em 1985, foi observado por cien- industriais são alguns exemplos.
poluentes. Nas grandes cidades, o fe- tistas britânicos trabalhando na Antár-
nômeno da inversão térmica pode tida um enorme buraco na camada de ❑ O lançamento de
levar as autoridades a decretar ozônio que envolve a Terra. esgoto nos rios e lagos
estado de emergência, com a proibi- À medida que a camada de ozô- O material orgânico existente no
ção do funcionamento de indústrias e nio vai sendo destruída, a superfície esgoto serve de alimento para as bac-
circulação de automóveis. da Terra passa a receber maior quan- térias decompositoras.

Emissão de gases poluidores que aquecem a atmosfera

Gás Óxido de
Setor carbônico CFCs Metano Outros TOTAL
nitrogênio

Energia 35% – 4% 4% 6% 49%

Desmatamento 10% – 4% – – 14%

Agricultura 3% – 8% 2% – 13%

Indústria 2% 20% – – 2% 24%

Participação no efeito estufa 50% 20% 16% 6% 8% 100%

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Saliente-se que a bactéria é um ❑ Poluição por a decomposição, fenômeno fundamen-


organismo unicelular que se divide a fosfatos e nitratos tal para qualquer ambiente. Os fosfatos
cada vinte minutos. Graças a tão ele- Os adubos e fertilizantes usados são encontrados na maior parte dos
vada capacidade reprodutiva, a po- na agricultura contêm grandes con- detergentes e, como já vimos, provo-
pulação de bactérias aeróbias, que centrações de nitrogênio e fósforo. cam a eutroficação.
utilizam oxigênio para a respiração, Esses poluentes orgânicos consti- A poluição por óleo é feita, prin-
multiplica-se rapidamente, e esse au- tuem nutrientes para as plantas aquá- cipalmente, pelos navios petroleiros
mento excessivo de bactérias pro- ticas, especialmente as algas, que por ocasião da lavagem de seus tan-
voca a diminuição da quantidade de transformam a água em algo seme- ques. O óleo forma, na superfície da
oxigênio dissolvido na água. lhante a um caldo verde (um fenô- água, uma película impermeabilizan-
A falta de oxigênio acarreta a meno também chamado de “floração te que impede a troca de oxigênio e
morte de outros organismos aquáti- das águas”). gás carbônico entre a água e a
cos. Sendo organismos maiores, os Em alguns casos, toda a superfí- atmosfera. Isso provoca a asfixia dos
peixes necessitam de mais oxigênio cie é recoberta por um “tapete”, for- animais e impede a realização da
para a respiração. Por isso, são eles mado pelo entrelaçamento de algas fotossíntese por parte dos vegetais do
os primeiros organismos a morrer por filamentosas. Com isso, ocorre a deso- plâncton.
asfixia. xigenação (falta de oxigênio) da água. Outra forma de poluição por meio de
Finalmente, a quantidade de oxi- Pode parecer incoerente, afinal as resíduos não degradáveis é o caso dos
gênio se reduz a tal ponto que só as algas são seres que produzem o metais pesados (chumbo, alumínio, zin-
bactérias anaeróbias podem viver oxigênio durante a fotossíntese. As- co e mercúrio), entre outros que se de-
naquele ambiente. Estas não neces- sim, a quantidade de oxigênio deve- positam nos seres vivos, intoxicando-os.
sitam de oxigênio para a respiração e, ria aumentar, e não diminuir. Milhares de peixes morrem nos rios,
além disso, eliminam substâncias De fato, as algas liberam o oxigê- em virtude da aplicação de substâncias,
como o gás sulfídrico, que tem cheiro nio, mas o tapete superficial que elas como, por exemplo, sulfato de cobre.
típico, como de ovos podres. Daí o formam faz com que boa parte desse Usada como fungicida, tal subs-
odor insuportável em tais ambientes gás seja liberada para a atmosfera, tância, aplicada às lavouras, atinge os
aquáticos. sem se dissolver na água. Além disso, rios, intoxicando os peixes.
Em São Paulo, tal fato é verifi- a camada superficial de algas dificulta Os outros metais, como o mercú-
cado, tristemente, nos seus três prin- a penetração de luz. Isso impossibilita rio, sofrem efeito cumulativo ao longo
cipais rios: Tietê, Tamanduateí e a fotossíntese nas zonas inferiores, das cadeias alimentares. Esse metal,
Pinheiros. A situação é tão alarmante reduzindo a produção de oxigênio e altamente tóxico, é usado na garimpa-
que tais rios são designados como causando a morte de vegetais. gem do ouro. O cascalho, retirado do
“esgotos a céu aberto”. A decomposição dos vegetais rio, é misturado ao mercúrio. O ouro
Antes de ser despejado nos rios mortos aumenta o consumo de oxi- em pó, existente no cascalho,
ou nos mares, o esgoto deve ser tra- gênio, agravando ainda mais a deso- aglutina-se ao mercúrio. A seguir, a
tado, passando por um processo xigenação das águas. mistura mercúrio-ouro é aquecida
que elimina as substâncias tóxicas e para a separação dos dois metais.
os agentes causadores de doenças. ❑ Poluição por resíduos Durante o processo, a maior parte do
não biodegradáveis mercúrio evapora; o resto acaba
Todos os compostos orgânicos sendo atirado nos rios e absorvido
❑ Eutroficação são biodegradáveis, ou seja, podem pela cadeia alimentar.
É o aumento de nutrientes em ser decompostos pelas bactérias.
meio aquático, acelerando a produti- Existem, entretanto, alguns com- ❑ Poluição por
vidade primária, ou seja, intensifican- postos orgânicos sintetizados pela in- organismos patogênicos
do o crescimento de algas. Esse dústria que não são biodegradáveis. A água pode ser infectada por
fenômeno pode ser provocado por Tais compostos também podem ser organismos patogênicos, existentes
lançamento de esgotos, resíduos in- chamados de recalcitrantes ou biolo- nos esgotos. Assim, ela pode conter:
dustriais, fertilizantes agrícolas e ero- gicamente resistentes. Não sendo de- bactérias – provocam infecções
são. É fácil concluir que, em certas gradados, tais compostos vão se intestinais epidérmicas e endêmicas
proporções, a eutroficação pode ser acumulando na água, atingindo (febre tifoide, cólera, shigelose, sal-
benéfica ao ecossistema. Contudo, concentrações tão altas que geram monelose, leptospirose etc.);
em excesso, acarreta um desequilí- sérios riscos aos seres vivos. Dessas
brio ecológico, pois provoca o desen- substâncias não degradáveis, mere- vírus – causam hepatites, infec-
volvimento incontrolado de uma cem destaque os detergentes, o pe- ções nos olhos etc.;
espécie em detrimento das outras. É tróleo e os defensivos agrícolas.
o fenômeno conhecido como “flora- protozoários – são responsáveis
Mesmo não sendo providos de
ção da água”, que transforma reser- pelas amebíases e giardíases etc.;
ação tóxica acentuada, os detergentes
vatórios de águas potáveis em lagoas causam prejuízos ao meio ambiente. vermes – produzem esquistos-
e lagos imprestáveis para o uso. Destruindo as bactérias, eles impedem somose e outras infestações.
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❑ A poluição do mar de petroleiros, derrames deliberados nomia local.


Os oceanos ocupam 2/3 da su- da borra de petróleo ou lavagem dos Hoje sabemos que bactérias po-
perfície da Terra, contendo cerca de tanques dos navios. dem promover a degradação do pe-
1420 x 1015m3 de água. É uma enor- Em termos puramente físicos, tróleo. Rochas e praias que foram
me quantidade de água, sendo capaz perto de 1/3 do óleo derramado é cobertas pelo óleo se recuperaram
de absorver todos os resíduos que lhe evaporado rapidamente. Sobra na rapidamente, e a flora e a fauna foram
são lançados. Mas a poluição pode superfície da água um líquido viscoso restabelecidas graças à ação dessas
ocorrer toda vez que as substâncias contendo fenóis e outras substâncias bactérias decompositoras.
tóxicas ficam acumuladas em áreas tóxicas. Esse líquido acaba Têm-se utilizado vários tipos de
limitadas e não se dissolvem com- sufocando o fitoplâncton e o zoo- detergentes para dispersar e emulsio-
pletamente na água, ou ainda ficam plâncton. nar o óleo. Esses detergentes são
acumuladas nos organismos vivos. É O efeito da poluição por petróleo eficazes nessa tarefa, mas se mos-
o caso de baixas concentrações de em pássaros é drástico. As penas tram muito mais tóxicos para os or-
dimetilmercúrio e inseticidas organo- ficam encharcadas de óleo, impedin- ganismos vivos do que o próprio
clorados, que têm efeitos nocivos do o voo. Quando o pássaro procura petróleo.
sobre o fitoplâncton (plâncton vege- limpar as suas penas, acaba ingerin-
tal). Isso pode reduzir a população de do grandes quantidades de petróleo, ❑ Esgotos e outros resíduos
peixes. Algumas algas têm a capa- que o levam à morte por envenena- tóxicos
cidade de concentrar elementos mento. O isolamento térmico produ- Por meio dos longos emissários
como o iodo. Outro fato preocupante zido pelas penas deixa de existir, e os de descarga, esgotos não tratados
é o acúmulo de resíduos radioativos. pássaros contraem pneumonia ou são lançados ao mar. Essa matéria
Além disso, há a poluição do mar morrem de frio. orgânica será degradada, e os nu-
pelo mercúrio resultante da atividade As rochas onde se fixam as algas trientes serão reciclados, não haven-
humana. Como já sabemos, é um e moluscos e se movimentam os crus- do, portanto, objeções a essa prática.
metal de efeito cumulativo e muito táceos, quando cobertas por pe- O grande problema é quando
tóxico. tróleo, impossibilitam a permanência esses emissários lançam os resíduos
e a vida desses seres vivos. próximo às praias, gerando riscos e
❑ Poluição por petróleo Quando o petróleo atinge as danos à saúde pública.
O derrame de petróleo no mar é praias, o turismo fica altamente pre- Na avaliação do grau de poluição
consequência do naufrágio ou avarias judicado, ocasionando danos à eco- das nossas praias, utiliza-se a deter-
minação do número de coliformes fe-
cais/volume de água do mar. Como se
sabe, a bactéria Escherichia coli está
presente nas fezes humanas em
grandes quantidades.

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FRENTE 2 Evolução e Engenharia Genética

MÓDULO 25 A Origem da Vida

1. INTRODUÇÃO biológica, contra a qual não há obje- ❑ Formação de aminoácidos


ções sérias, afirma que os primeiros Os geólogos e outros cientistas
Como teria aparecido a vida na seres vivos devem ter sido bastante constataram a evidência de que a
Terra? simples, levando muito tempo para se atmosfera da Terra primitiva era cons-
A resposta a esse problema tem tornarem complexos; portanto, os tituída de hidrogênio, metano, amônia
preocupado o homem durante sécu- biologistas não aceitam a hipótese e vapor d’água.
los, tendo as diversas religiões e a autotrófica, porque ela vai contra a A elevada temperatura da crosta
ciência procurado dar uma resposta teoria da evolução. terrestre determinava o vapor-d’água,
satisfatória. A seguir, examinaremos que, condensando-se nas camadas
apenas a aproximação científica em 4. A HIPÓTESE altas e frias, provocava violentas tem-
relação à questão. HETEROTRÓFICA pestades acompanhadas de descar-
gas elétricas. Harold Urey e Stanley
De acordo com a hipótese hetero-
2. A GERAÇÃO ESPONTÂNEA Miller construíram um dispositivo no
trófica, a vida teria surgido por meio
qual expuseram uma mistura de va-
das seguintes etapas:
A hipótese da geração espon- por-d’água, metano, amônia e hidro-
tânea ou abiogênese foi proposta há gênio às descargas elétricas,
mais de 2 mil anos por Aristóteles. obtendo, após uma semana, amino-
Dizia ele que a vida podia aparecer ácidos como a glicina e a alanina.
subitamente na matéria viva, desde
que nesta fosse insuflado o “princípio
ativo” ou “alma imortal”, que, adicio-
nado à matéria, poderia produzir vida.
A superação da teoria da geração
espontânea só foi conseguida por
volta de 1860, graças às experiências
do francês Louis Pasteur, que mostrou
conclusivamente que micro-organis-
mos, tais como bactérias, não surgem
por geração espontânea, mas se A experiência de Miller, realizada
originam apenas de bactérias ante- em 1953, indica que um processo
riormente existentes. semelhante poderia ter acontecido na
atmosfera primitiva.
3. A HIPÓTESE
AUTOTRÓFICA ❑ Formação de proteínas
lnicialmente, recapitularemos o pro-
Como todo ser vivo necessita de cesso de combinação de dois ami-
alimento para sobreviver, é lógico noácidos constituindo um dipeptídeo.
admitir que os primeiros seres vivos Supõe que a forma mais primitiva Como se observa, a formação de
tenham sido capazes de produzi-lo, de vida se desenvolveu de matéria um dipeptídeo é um exemplo de sín-
isto é, tenham sido autótrofos. Con- não viva, formando-se em um ambien- tese por desidratação. Sidney W. Fox
tra essa hipótese existe uma objeção te complexo um ser muito simples, aqueceu uma mistura seca de ami-
muito séria: os autótrofos sintetizam incapaz de fabricar seu alimento. Não noácidos e, após o resfriamento, veri-
alimentos orgânicos à custa de uma se trata de geração espontânea, uma ficou a união destes para compor
série externamente complexa de vez que esta afirma que seres com- moléculas maiores e mais complexas
reações químicas, exigindo que o plexos podem surgir repentinamente semelhantes a proteínas e designadas
organismo também seja complexo. de matéria bruta todos os dias, por proteinoides. Na Terra primitiva, os
Aceitando a hipótese autotrófica, so- enquanto a hipótese heterotrófica su- aminoácidos teriam chegado até as
mos obrigados a acreditar que repen- põe que um ser muito simples evolui rochas carregados pelas chuvas. A
tinamente surgiu um ser vivo já muito vagarosamente, da matéria ina- evaporação da água teria deixado os
complicado logo de início. Acontece, nimada, e que isso aconteceu há mi- aminoácidos secos sobre a superfície
porém, que a teoria da evolução lhões de anos, mas não ocorre mais. das rochas quentes. Em tais condi-

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ções, teria ocorrido a formação de processo abiogenético. tretanto, qualquer mecanismo de divi-
ligações peptídicas pela evaporação Nos seres vivos mais recentes, a são teria trazido um novo problema;
de água e a consequente formação energia para a sobrevivência das ao dividir-se, o coacervado teria cor-
de proteínas; posteriormente, tais pro- células é obtida, em geral, da glicose. rido o risco de se desorganizar e,
teínas seriam levadas aos oceanos Para conseguir obter essa energia, a portanto, perder as características de
pelas chuvas. célula precisa diminuir a energia de sistema complexo adquiridas em
ativação necessária para que a mo- muitos séculos de evolução.
lécula de glicose possa ser quebrada Nos organismos bem-sucedidos,
e a energia de suas ligações, libe- teriam surgido os ácidos nucleicos,
rada; isso ela faz utilizando enzimas e moléculas que controlam os proces-
ATP (adenosina trifosfato). Em certos sos básicos de reprodução e orga-
casos, como na ausência de oxigênio, nização. Em tais condições, o pri-
a célula consegue retirar energia da mitivo organismo que tivesse DNA
glicose pelo processo de fermen- teria encontrado o meio para se
tação. Será que tal processo poderia duplicar exatamente, transmitindo aos
Formação de um dipeptídeo. ter ocorrido com os coacervados? seus descendentes o mesmo padrão
O americano Melvin Calvin rea- de organização conseguido após
❑ Formação de coacervados lizou experiências do mesmo tipo de séculos de evolução.
Os aminoácidos e proteínas for- Miller, misturando gases suposta-
mados na era pré-biogênica da Terra mente da atmosfera primitiva e bom- ❑ Aparecimento
teriam chegado aos mares, produ- bardeando-os com raios ultravioleta. dos autótrofos
zindo o que Haldane descreveu como Como resultado, obteve misturas de O DNA, ao duplicar-se, geralmen-
“caldo quente e diluído”. Segundo compostos orgânicos, entre os quais te dá origem a cópias exatamente
Oparin, as proteínas teriam formado a glicose. iguais; porém, às vezes ocorrem mu-
aglomerados designados por coa- Como as enzimas são sempre tações, isto é, alterações na sequên-
cervados. proteínas, elas já poderiam ter exis- cia de bases existente na molécula e,
tido (experiência de Fox). Por outro com isto, a molécula que controla as
lado, todos os elementos necessários atividades vitais passa a não ser mais
para formar o ATP poderiam ter esta- a mesma. Portanto, as células-filhas
do presentes no mar primitivo, inclu- que receberam a mutação terão uma
sive fosfatos. Portanto, se tudo tivesse alteração no seu comportamento,
sido realmente como pensamos que serão diferentes.
tenha sido, os coacervados poderiam Se a mudança for vantajosa, con-
ter retirado glicose, enzimas e ATP do forme o meio ambiente, será mantida
meio ambiente e fermentado a gli- pela seleção natural. Passando à
cose, e, com isso, conseguido a ener- hipótese heterotrófica: em milhares de
gia necessária para a sobrevivência. anos pode ter havido um número
Logo, os primeiros seres vivos te- imenso de mutações, quando as in-
riam sido heterótrofos-anaeró- contáveis moléculas de DNA se du-
Formação de coacervados. bios. plicaram. É possível que tais muta-
Sabemos que os coacervados ções eventualmente tenham passado
são aglomerados de proteínas que se ❑ Capacidade de reprodução a exercer um controle benéfico sobre
mantêm unidas em pequenos grumos Graças à sua capacidade de reti- o organismo e, com isso, tenham-se
circundados por uma camada líquida, rar alimentos e energia, e organizar as acumulado de modo que os indiví-
chamada camada de hidratação ou moléculas em padrões definidos, os duos tenham obtido, aos poucos,
solvatação. heterótrofos-anaeróbios primitivos conjuntos de moléculas de DNA dife-
teriam crescido gradativamente, a tal rente, resultando em vários tipos de
❑ Obtenção de energia ponto que teriam surgido novos pro- comportamento.
Um sistema de coacervados, pa- blemas na luta pela sobrevivência: Assim, por ação mutagênica, te-
ra manter-se e desenvolver-se, teria com o aumento volumétrico do indiví-
riam surgido organismos autótrofos.
de dispor de uma fonte de energia duo, a difusão do alimento do meio
constante e controlável. Qual teria exterior até o âmago do coacervado
sido essa fonte de energia? A hipó- teria sido mais lenta, devido à maior ❑ Predomínio dos autótrofos
tese heterotrófica admite que essa distância a percorrer dentro do hete- Com o passar dos séculos, é
fonte de energia teria sido a energia rótrofo; desse modo, o coacervado possível que os heterótrofos tenham
das ligações químicas existentes nas teria começado a sofrer fome. sido obrigados a enfrentar um novo
imensas quantidades de substâncias Nessas condições, ou ele teria problema: a quantidade relativa de
compostas, produzidas durante mi- perecido ou teria de se ter dividido, alimento teria começado a diminuir; a
lhares de anos no mar primitivo, por como meio de reduzir o volume. En- “sopa” orgânica ter-se-ia diluído
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progressivamente por dois motivos: molécula (clorofila?) capaz de absor- da glicose libera muito mais energia
aumento de consumo de substâncias ver a energia luminosa, realizariam do que a retirada de energia na
orgânicas existentes no ar primitivo, uma primitiva fotossíntese. ausência de oxigênio (a fermentação
devido ao crescimento contínuo da No processo de fotossíntese, li- fornece um lucro energético de ape-
população, e diminuição da produção beram-se moléculas de oxigênio. nas 2 ATPs, enquanto, na reação, o
de tais substâncias pelo processo Portanto, podemos supor que uma lucro é de 38 ATPs). Teriam, então,
abiogenético. certa quantidade de gás tenha-se levado vantagem os organismos ca-
acumulado gradativamente durante pazes de executar respiração
❑ Aparecimento dos aeróbios milhares de anos como consequência aeróbia, porque, assim, teriam reti-
Os primeiros autótrofos, a partir do aparecimento dos autótrofos. rado mais energia do alimento dis-
de um suprimento de CO2, enzimas Todavia, a utilização de oxigênio ponível.
de ATP e aparecimento de uma para a obtenção de energia a partir

MÓDULO 26 Lamarckismo e Darwinismo

1. A TEORIA DA EVOLUÇÃO ❑ Homologia e analogia ❑ Embriologia


É a teoria biológica que procura Dizemos que dois ou mais ór- Animais de espécies diferentes,
explicar a enorme variabilidade dos gãos são homólogos quando têm a quando na fase embrionária, são
seres vivos e o grande número de mesma origem embrionária e estru- muito semelhantes. Quanto maior a
espécies e raças diferentes que exis- tura semelhante, podendo a função semelhança entre os adultos de
tem atualmente. A teoria da evolução ser a mesma ou não. espécies diferentes, mais prolongada
afirma que as espécies existentes se Exemplo: os membros anteriores é a fase embrionária comum. Assim é
originaram de espécies preexistentes do homem, de outros mamíferos, de que os embriões de um peixe, anfíbio,
(transformismo), de formas mais sim- aves, de anfíbios; a bexiga natatória réptil, ave, mamífero e do homem têm
ples para formas mais complexas e dos peixes e os pulmões dos verte- bolsas branquiais e cauda; a expli-
especializadas. Tendo antepassados brados superiores. cação é que nós descendemos de
comuns, as espécies atuais são mais animais em que tais órgãos eram
A razão de homologia seria que
ou menos relacionadas. funcionais.
os diferentes organismos teriam uma
O indivíduo, durante o seu de-
origem evolutiva comum: quanto mais senvolvimento embrionário, passa
2. EVIDÊNCIAS recente o antepassado, maior a se- pelas fases de desenvolvimento de
DA EVOLUÇÃO melhança estrutural. Sob a ação do várias espécies; é a “lei biogenética
ambiente, pode haver modificações, fundamental” ou “a ontogenia repete
mas a estrutura fundamental perma- a filogenia”, de F. Muller e Haeckel.
necerá.
Dizemos que dois ou mais órgãos ❑ Paleontologia
são análogos quando têm idêntica Os estudos dos fósseis mostram
função, mas diferente origem. É o ca- contínua modificação das espécies
so das asas das aves e dos insetos, através dos tempos, com a extinção
cuja função é a mesma, mas cuja es- de algumas e transformações em
trutura e origem são completamente outras. Graças ao método do carbo-
diferentes. A analogia decorre de no radioativo, pode-se determinar
adaptações convergentes às mesmas com precisão a idade dos estratos
condições ambientais. geológicos e seus fósseis, correlacio-
nando as modificações estruturais
❑ Órgãos vestigiais com o tempo.
São órgãos que involuíram por É bom lembrar que pode haver
meio do processo evolutivo. São os evolução em curtos períodos: é o
casos do apêndice vermiforme no caso da seleção natural adaptativa de
homem (enorme nos herbívoros por insetos resistentes a inseticidas e de
necessidade de simbiose mutualística bactérias resistentes a antibióticos,
com micróbios), do coccige humano mais evoluídos em relação às formas
(resto da cauda dos outros mamí- preexistentes.
feros), da prega semilunar do ângulo Os registros fósseis evidenciam
interno dos olhos (resto de membrana formas intermediárias entre organis-
nictitante de anfíbios, répteis e aves), mos. Sabe-se, por exemplo, que as
do canino (resto de canino dos car - aves e os répteis divergiram a partir
Homologia. nívoros) etc de um antepassado comum. O ele-

272 –
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mento mais convincente de informa- 3. TEORIAS EVOLUTIVAS O golpe definitivo no lamarckismo


ção nesse campo foi a descoberta do foi dado por Weismann, nas suas
Archaeopterix, forma fóssil interme- famosas experiências cortando cau-
diária entre esses dois grupos. O
Archaeopterix tinha dentes, uma lon- ❑ Lamarckismo das de camundongos por sucessivas
ga cauda e garra nas asas, carac- De acordo com Lamarck, os gerações e mostrando que não havia
terísticas de répteis, além de penas e animais, dependendo das variações atrofia desse apêndice. Ele foi autor
estrutura geral dos membros, carac- ambientais, deveriam desenvolver da teoria da “continuidade do plasma
terísticas de aves. adaptações para poder sobreviver; a germinativo”, pela qual o germe é
adaptação seria uma consequência imortal, não sendo as alterações pro-
❑ Bioquímica vocadas pelo meio ambiente no soma
de atividades musculares: pelo exer-
As evidências bioquímicas da
cício, certos músculos se desenvol- transmissíveis aos descendentes.
evolução baseiam-se na semelhança
existente entre: veriam, enquanto outros, na falta de
1a.) compostos bioquímicos fun- estímulo, se atrofiariam; os órgãos te-
❑ Darwinismo
damentais como o DNA e as proteí- riam modificações pelo “uso e desu-
No seu livro A Origem das Espé-
nas; em qualquer ser vivo, o DNA é so”, modificações essas que seriam
formado por quatro tipos de nucleo- cies, Darwin expôs a sua teoria da
hereditárias e, ocorrendo em suces-
tídeos e as proteínas por 20 tipos de evolução por seleção natural, toman-
sivas gerações, haveria uma adapta-
aminoácidos; do como pontos de partida duas
2a.) vias metabólicas comuns, co- ção cada vez mais perfeita e, por-
observações:
mo a síntese de proteínas e a res- tanto, haveria progressiva melhora do
piração celular; organismo.
1a.) Os organismos vivos produ-
3a.) universalidade do código ge- Em diferentes meios ambientes,
zem grande número de sementes ou
nético e do ATP como fonte de ener- as formas iriam tendo distintas adap-
gia. ovos, mas o número de indivíduos nas
tações, até originar espécies dife-
4a.) as reações sorológicas populações normais é mais ou menos
rentes.
As reações sorológicas, baseadas constante, o que só se pode explicar
O lamarckismo explicaria por que
nas reações específicas entre antíge- pela grande mortalidade natural.
nos e anticorpos, evidenciam as rela- a girafa tem o comprimento acentua-
ções filogenéticas pela interpretação do do pescoço (como seu alimento
2a.) Organismos de mesma espé-
dos processos de aglutinação. O fica na copa das árvores, teria au-
cie, ou então de uma população na-
plasma humano é injetado no coelho. mentado o comprimento do pescoço
Do sangue deste, é obtido, por centri- tural, são muito variáveis em forma e
e das pernas pelo esforço constante
fugação, o soro anti-humano que é comportamento, sendo a variabili-
de esticá-los, através de muitas gera-
adicionado ao sangue de várias espé- dade muito influenciada pela
cies. Os resultados obtidos aparecem ções), por que as cobras não têm
hereditariedade.
na figura 1. Observe que quanto maior membros (perderam pelo desuso
for o grau de aglutinação, maior é a porque os membros atrapalhariam a
Portanto, há grande variabilidade
afinidade com a espécie humana. locomoção em túneis estreitos) etc.
(Fig. 1) e grande mortalidade, uns orga-
O lamarckismo, ou “hipótese de
nismos terão maior probabilidade de
transmissão hereditária dos caracte-
deixar descendentes do que outros: a
res adquiridos por modificação do
tal tipo de reprodução seletiva Darwin
ambiente”, é considerado equivocado
chamou seleção natural.
pela biologia contemporânea.
Como Darwin demonstrou, a
Assim, os lamarckistas admitiram
seleção natural ou “luta pela vida com
que os bagres cegos das grutas de
sobrevivência do mais apto” é o fator
Ipiranga ficaram cegos devido ao
orientador da evolução, mas não a
desuso e à atrofia dos olhos na ausên-
causa das variações, que ele foi
cia da luz; porém, foi demonstrado
incapaz de descobrir.
que tais animais simplesmente des-
A dificuldade de Darwin só foi resol-
cendem de formas com visão atro-
vida com a descoberta das muta-
fiada (mutações), que surgiram espon-
ções, responsáveis pela origem das
Fig. 1 – As reações do soro anti-humano taneamente, quer na presença, quer
variações.
com o sangue de outras espécies. na ausência de luz.

– 273
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MÓDULO 27 Neodarwinismo

1. TEORIA SINTÉTICA predadores, por ficarem mais visíveis. Sazonal ou temporal


OU NEODARWINISMO Os predadores da mariposa, que A reprodução é impossibilitada
A moderna teoria sintética da atuam, portanto, como agentes sele- devido à ocorrência de maturidade
evolução envolve quatro fatores bási- tivos, são os pássaros. sexual em épocas diferentes.
cos: mutação, recombinação gené- Etológico
3. RESISTÊNCIA
tica, seleção natural e isolamento A fecundação não ocorre devido
DE BACTÉRIAS
reprodutivo. Os dois primeiros deter- a diferenças de comportamento, im-
A ANTIBIÓTICOS
minam a variabilidade genética, que possibilitando o acasalamento.
Pode-se dizer que não é a pre-
é orientada pelos dois últimos. Três Mecânico
sença de um certo antibiótico
processos acessórios também atuam Diferenças estruturais nos órgãos
que provoca o aparecimento
no processo; são eles: migração, reprodutores impedem a fecundação.
das mutações; na realidade,
hibridação e oscilação genética. • Mecanismos pós-zigóticos
estas surgem espontaneamen-
❑ As fontes da variabilidade te, e, quando conferem resis- Ocorre a fecundação, mas os zi-
Sob a designação de variabili- tência ao antibiótico, são úteis gotos produzem híbridos fracos ou
dade, enquadramos as diferenças à bactéria na presença do estéreis.
existentes entre os indivíduos da medicamento. Não se deve afir- lnviabilidade do híbrido
mesma espécie. Como já estudamos mar simplesmente que uma certa Devido a sua fraqueza orgânica.
em capítulos anteriores, as fontes de mutação é favorável ou desfavorável; Esterilidade do híbrido
variabilidade são as mutações e a essa afirmação só tem sentido se Determinada por anomalia de gô-
recombinação genética. É importan- frisar o ambiente, porque a mesma nadas ou impossibilidade de meiose.
te salientar que a mutação constitui a mutação pode ser favorável ou des- Deterioração da F2
matéria-prima da evolução e ocorre favorável, conforme o meio. Os híbridos (F1) são normais e
espontaneamente, ou seja, nunca 4. RESISTÊNCIA DE férteis, mas seus descendentes (F2)
aparece como resposta do organis- MOSCAS AO DDT são fracos ou estéreis.
mo a uma situação ambiental. Durante o primeiro ano em que o
DDT foi usado numa determinada ❑ Fatores evolutivos
❑ A seleção natural complementares
As variações são submetidas ao localidade, quase todas as moscas
foram mortas; algumas, porém, por • Migração
meio ambiente que, pela seleção A migração é responsável pelo
natural, conserva as favoráveis e eli- causa da variação herdada, não
foram afetadas. Puderam sobreviver fluxo gênico, que traz à população
mina as desfavoráveis. Assim, quan- novos genes, contribuindo para au-
do as condições ambientais se mo- e se reproduzir e, assim, logo ultra-
passaram em número os tipos de mentos da variabilidade genética.
dificam, algumas variações serão • Hibridação
vantajosas e permitirão, então, aos moscas menos resistentes naquela
área. O inseticida foi-se tornando me- Consiste no cruzamento entre
indivíduos que as apresentam, sobre- popuIações com patrimônios gené-
viver e produzir mais descendentes nos ativo. O DDT causou uma mu-
dança no ambiente e só as moscas ticos diferentes, produzindo indiví-
do que aqueles que não as têm. duos com alta variabilidade genética.
Entre os principais exemplos de que eram resistentes puderam so-
breviver e foram sendo selecionadas; • Oscilação genética
seleção natural, citaremos: melanis- Nas populações finitas, peque-
mo industrial, bactérias e antibióticos, não foi, portanto, o inseticida que
conferiu resistência às moscas. nas, o equilíbrio de Hardy-Weinberg
e moscas e DDT. é alterado pelo tamanho da popula-
❑ Isolamento reprodutivo
2. MELANISMO INDUSTRIAL Ocorre o isolamento reprodutivo, ção. Se ocorrer mutação rara, o nú-
Antes da industrialização na In- quando duas populações de indiví- mero de portadores da mutação será
glaterra, predominavam as mariposas duos não podem cruzar-se e, por- baixo e, pela sua morte, desaparecerá
claras; às vezes apareciam mutantes tanto, trocar genes. Os mecanismos da população. Poderá aparecer de
escuras, dominantes, que, apesar de de isolamento constituem barreiras ao novo quando e se ocorrer nova
serem mais robustas, eram elimina- intercâmbio de genes e podem ser: mutação. É a oscilação genética,
das pelos predadores por serem visí- • Mecanismos que depende do fato de o gene ser
veis. Depois da industrialização, no pré-zigóticos favorável ou não.
século XIX, as mutantes escuras pas- Impedem a fecundação e a for- É a oscilação genética que ex-
saram a ser mimetizadas pela fuligem mação do zigoto. plica como os genes detrimentais
e, como eram mais vigorosas, foram Habitat podem aumentar de frequência e,
aumentando em frequência e substi- As populações vivem na mesma como em índios, há frequências altas
tuindo as mariposas claras, que, ago- região, mas se localizam em habitats de tipos sanguíneos diferentes, de
ra, passaram a ser eliminadas pelos diferentes. acordo com a tribo.

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MÓDULO 28 O Processo de Especiação

1. ESPECIAÇÃO competição por espaço e alimento,


cada grupo de organismos tende a se
Consiste no processo de forma- expandir e ocupar diferentes
ção de espécies e obedece aos ambientes por meio de novas carac-
seguintes estágios: terísticas adquiridas. O conceito de
1.o estágio: uma população A vive irradiação adaptativa, ou seja, evolu-
em um ambiente homogêneo. ção em várias direções, partindo de
2.o estágio: uma diferenciação um ancestral comum, pode ser
ambiental provoca a migração da po- ilustrado pela estrutura dos membros
pulação para ambientes diferentes. dos mamíferos. Assim, partindo de
Assim, a população A divide-se em A1 um tipo primitivo, surgiram os voado-
e A2 que migram para ambientes dife- res, nadadores, trepadores etc.
rentes. Isoladas geograficamente e
submetidas a pressões seletivas dife- 3. CONVERGÊNCIA
rentes, tais populações passam a EVOLUTIVA OU EVO-
constituir raças geográficas ou subes- LUÇÃO CONVERGENTE
pécies.
3.o estágio: com o passar do tem- Consiste na semelhança entre
po, aumenta a diferenciação genética Estágios da especiação. organismos de origens diferentes
entre A1 e A2, provocando o isola- que, vivendo por muito tempo no
mento reprodutivo. 2. IRRADIAÇÃO mesmo ambiente, são submetidos às
4.o estágio: as raças A1 e A2 ADAPTATIVA OU mesmas pressões seletivas e acabam
coexistem novamente na mesma re- EVOLUÇÃO DIVERGENTE por se assemelhar. É o caso da
gião. Permanecendo distintas em ra- semelhança corpórea entre um ictios-
zão dos mecanismos de isolamento É o processo de evolução de uma sauro, réptil fóssil, um peixe, o tuba-
reprodutivo, que as separam, A1 e A2 espécie ancestral em uma variedade rão, e um mamífero, o golfinho; no
são reconhecidas como espécies de formas, que ocupam diferentes caso, trata-se de uma adaptação à
distintas. ambientes. Em virtude da constante vida aquática.

MÓDULO 29 Engenharia Genética I

1. OS OBJETIVOS DA Produzidas pelas bactérias, as


ENGENHARIA GENÉTICA enzimas de restrição são usadas para
destruir um DNA estranho que
Utilizando complexas e modernas penetra na célula trazido, por exem-
técnicas de laboratório, a Engenharia plo, por um bacteriófago. As enzimas
Genética é capaz de: de restrição cortam o DNA nos cha-
• isolar um gene e determinar a mados palíndromos. Chamamos
sequência de seus nucleotídeos; palíndromo a uma sequência de ba-
• juntar nucleotídeos e produzir ses que tem a mesma leitura nas duas
um gene; cadeias de DNA, mas em sentidos
• alterar a sequência nucleotí- opostos. Observe alguns palín-
dica de um gene, produzindo assim dromos:
um gene mutante; É importante salientar que cada
• introduzir no DNA de um vírus enzima de restrição reconhece uma
G A A T T C
ou de uma bactéria um gene extraído C T T A A G única e mesma sequência de bases
de outro organismo. (palíndromo) em qualquer tipo de
G T C G A C
DNA.
2. AS ENZIMAS
C A G C T G 3. O DNA RECOMBINANTE
DE RESTRIÇÃO
As enzimas de restrição, O DNA recombinante é uma mo-
também chamadas de endonucleases As enzimas de restrição cortam lécula obtida, em laboratório, pela
de restrição, atuam como “tesouras”, os palíndromos, produzindo pontas união de fragmentos de DNA deriva-
dado que são capazes de reconhecer desiguais, de acordo com o esquema dos de fontes biologicamente dife-
e cortar seqüências curtas de DNA. a seguir: rentes.
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Assim, fragmentos de DNA oriun- 7. PLANTAS TRANSGÊNICAS


dos de genes diferentes e obtidos
pela ação das enzimas de restrição A transferência de um gene de
são unidos pela ação da enzima, for- um organismo para outro é feita por
mando a molécula do DNA recom- um elemento conhecido por vetor. Na
binante. obtenção de plantas transgênicas, o
Acompanhe o esquema a seguir: vetor mais usado é a bactéria
Agrobacterium tumefaciens, causa-
dora dos tumores de galha que ocor-
rem nos vegetais.
Quando um vegetal é infectado
pelo Agrobacterium, o T-DNA, uma
parte do plasmídeo, chamado Ti, é
transferida para o DNA da planta.
Contendo genes para a produção dos
hormônios vegetais – auxina e citoci-
nina –, o T-DNA provoca um desequi-
líbrio no crescimento, originando o
tumor de galha.
A Engenharia Genética é capaz
de extrair genes do T-DNA e substi-
tuí-los por genes de outros organis-
4. A CLONAGEM MOLECULAR mos. O gene estranho que é
incorporado ao genoma da bactéria
Clones de bactérias.
O processo de clonagem mole- pode ser transcrito e traduzido,
cular consiste em construir um DNA determinando o seu caráter.
5. A ENGENHARIA
recombinante que se replica, quando
BACTERIANA
é introduzido numa célula bacteriana. ❑ O milho transgênico
Ao observarmos a estrutura de Um gene da bactéria Bacillus
Consiste na produção de bacté-
uma bactéria, notamos que, além do thruringiensis, enxertado no genoma
rias capazes de realizar determinadas
DNA existente no cromossomo único, do milho, tornou a planta resistente ao
atividades ou produzir moléculas, co-
aparece o plasmídeo, uma molécula ataque das lagartas que a parasitam.
mo hormônios, enzimas e antibióticos.
circular de DNA que se replica e pas- No caso, o gene bacteriano produz
Assim, foram obtidas bactérias
sa para as células-filhas, quando a uma proteína que mata as lagartas.
marinhas capazes de degradar pe-
bactéria se divide. O plasmídeo é ex-
tróleo derramado nos mares.
traído da bactéria e cortado por meio
Outras bactérias conseguem pro- ❑ A soja transgênica
de uma enzima de restrição. A seguir,
duzir álcool etílico, usado como com- A soja comum morre quando re-
com o auxílio do DNA-Iigase, o plas-
bustível. O gene humano responsável cebe uma aplicação de Roundup, um
mídeo fragmentado é ligado a um
pela produção de insulina foi introdu- dos herbicidas mais usados na agri-
fragmento de DNA de outro orga-
zido em bactérias, que passaram a cultura. A soja transgênica incorpo-
nismo, submetido à ação da mesma
secretar esse hormônio, empregado rou um gene bacteriano que a tornou
enzima de restrição. Forma-se desse
no tratamento dos diabéticos. resistente ao Roundup. Deste modo,
modo um plasmídeo, chamado vetor,
A mesma técnica produziu bac- quando o herbicida é aplicado, ape-
constituído por um DNA recom-
térias que sintetizam somatotrofina nas as ervas daninhas são des-
binante. Agora, o vetor é introduzido
(hormônio de crescimento), interferon truídas.
na célula bacteriana, na qual se
(usado contra infecções e tumores),
replica.
vacina contra hepatite B e ativador do
Quando o vetor é colocado num ❑ O arroz transgênico
plasminogênio (dissolvente de coá-
meio de cultura, ele não é absorvido A cultura do arroz comum, cha-
gulos sanguíneos).
por todas as bactérias. Para selecio- mado arroz branco, é infestada pelo
nar as bactérias que o incorporaram, arroz vermelho, impróprio para o con-
os engenheiros genéticos utilizam o 6. TRANSGÊNESE sumo. Para acabar com o arroz ver-
seguinte artifício: o plasmídeo-vetor melho, é necessário o uso do herbicida
sempre apresenta genes resistentes Chamamos transgênese ao pro- Liberty, que também mata o arroz bran-
a um determinado antibiótico, de mo- cesso que permite a transferência de co. Para solucionar o problema, os
do que, quando cultivados em meio um gene de um organismo para outro. cientistas retiraram do solo uma bacté-
contendo um antibiótico, apenas as Transgênico é o organismo que re- ria (Streptomyces higroscopicus) que,
células portadoras do vetor sobre- cebe o gene estranho e, consequen- inserta no DNA do arroz branco, provo-
vivem e se multiplicam. temente, tem o seu genótipo alterado. ca resistência ao Liberty.
276 –
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verdade, ainda são desconhecidos os


efeitos dos alimentos geneticamente
modificados sobre a saúde humana e
o impacto que poderiam causar ao
meio ambiente.

9. USOS POTENCIAIS DA
ENGENHARIA GENÉTICA

• Identificação e função de genes


em animais e vegetais.

• Desenvolvimento de doenças
humanas em animais, facilitando o seu
estudo e a busca de novas terapias.

• Produção de proteínas de inte-


resse médico por meio dos animais
transgênicos.

• Desenvolvimento de animais
transgênicos para doação de tecidos
A formação do tumor de galha.
ou órgãos para o transplante em hu-
manos.
Os ambientalistas, principalmen- tores, ambientalistas e cientistas. As-
te os europeus, condenam o uso de sim, produtores e cientistas defenso- • Desenvolvimento de vegetais
alimentos transgênicos, dado que há res da nova tecnologia dizem que a mais resistentes a pragas e de melhor
muitas dúvidas sobre efeitos dos soja transgênica, por exemplo, vai au-
qualidade.
transgênicos em longo prazo. mentar a produtividade e baratear os
custos do produto.
Ambientalistas e outros pesqui- • Desenvolvimento de raças de
8. CONFUSÃO TRANSGÊNICA
sadores que atacam a nova tecno- animais transgênicos de crescimento
O uso de produtos transgênicos logia afirmam que os produtos mais rápido e de melhor qualidade
está causando polêmica entre produ- transgênicos são perigosos. Na para o consumo.

MÓDULO 30 Engenharia Genética II

1. GENOMA 2. Identificar e mapear os genes 4. TRABALHO REALIZADO


da espécie humana. PELO PGH ATÉ O
Genoma é a totalidade do material MOMENTO
genético de um organismo. No caso 3. Armazenar essas informações
da espécie humana, é constituído em bancos de dados e torná-las Em fevereiro de 2001, o PGH, um
pelo DNA existente nos 46 cromos- acessíveis para novas pesquisas consórcio formado por 16 instituições
somos, contidos no núcleo da célula. biológicas. públicas de pesquisa, e a Celera
Genomics, uma empresa de biotec-
2. O PROJETO GENOMA nologia, conseguiram sequenciar 95%
3. MAPEAMENTO E do genoma humano, composto de 3
O Projeto Genoma (PGH) é um SEQUENCIAMENTO bilhões de pares de bases. Desse
empreendimento internacional, inicia- DO GENOMA total de bases, somente 10% formam
do em 1995, com os seguintes obje- os genes, ou seja, segmentos que co-
tivos: Mapear um cromossomo é loca- dificam proteínas. Os 90% restantes
lizar nele a posição dos genes e constituem o junk DNA (DNA-lixo), que
1. Determinar a sequência de ba- determinar a sequência das bases do não apresenta função conhecida,
ses químicas que compõem o DNA DNA que o constitui. sendo interpretado como um res-
humano. quício do processo evolutivo da espé-

– 277
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cie humana. O PGH concluiu que há RNA pré-mensageiro contendo éxons cas, chamadas de DNA repetitivo.
relativamente poucos genes – so- e íntrons. Ainda no interior do núcleo, O comprimento e o número dessas
mente 30 ou 40 mil. Estimativas ante- esse RNA sofre um processo de ma- repetições são idênticos para cada
riores indicavam de 60 a 100 mil genes. turação, no qual os íntrons são elimi- indivíduo.
nados, formando-se o RNA-m, que,
5. A ESTRUTURA DOS GENES no citoplasma, será usado na tradução.

Nas células procarióticas, cada 6. O TESTE DO DNA


gene contém uma sequência contínua
de nucleotídeos que codificam todos Trata-se do teste máximo de iden-
os aminoácidos de uma determinada tificação do DNA, usado, por exemplo,
proteína. Dessa sequência, sai o em criminologia para mostrar se o
RNA-m, que, no ribossoma, participa material genético existente em uma
da tradução, formando a proteína. gota de sangue, encontrada no local
Tal processo não ocorre com o do crime, coincide com o sangue de
gene dos eucarióticos, que apresenta um suspeito; também é utilizado em A → amostra de DNA obtida do sêmen co-
o DNA dividido em dois tipos de se- caso de paternidade duvidosa. lhido na vagina de uma mulher violentada.
quências: éxons e íntrons. Cha- A técnica de fingerprinting de B e C → amostras obtidas do sangue de
mamos éxons às sequências dois suspeitos. É evidente que B é o
DNA, descoberta pelo inglês Alec
criminoso.
codificantes que, posteriormente, Jeffreys em 1984, baseia-se no fato
serão traduzidas em proteínas. de que, ao lado das sequências de No DNA extraído do sangue,
Já os íntrons são as sequências nucleotídeos correspondentes aos sêmen ou qualquer outro tecido,
intervientes que não são tradu- genes conhecidos (muito semelhan- pode-se expressar, por meio de uma
zidas em proteínas. tes em todos os indivíduos normais), complicada técnica, o DNA repeti-
Na transcrição, o DNA produz um existem outras de sequências idênti- tivo, na forma de um código de bar-

O código genético da criança é uma combinação entre os códigos da mãe e do pai verdadeiro (o número 1).

O gene procariótico. DNA com 4 éxons e 3 íntrons.

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ras que é diferente para cada indi- Clonagem é o processo de for- 1. Óvulos não fecundados foram
víduo (exceto nos gêmeos univiteli- mação de clones. O fenômeno ocor- retirados de uma ovelha A.
nos). Em criminologia, faz-se uma re normalmente quando bactérias e 2. O núcleo do óvulo foi retirado e
comparação entre o fingerprinting de outros organismos unicelulares se guardado.
DNA obtido de células (sangue, sê- reproduzem por bipartição. 3. Células da glândula mamária
men, pelos etc.) advindas do crime O processo de clonagem também de uma ovelha B, de 6 anos, foram
com o das células do suspeito. A extraídas e mantidas em um estado
ocorre na propagação de plantas por
coincidência dos padrões identifica o de dormência. Isto foi possível com a
meio de mudas. Às vezes, esse é o
criminoso. Nos casos de análise de manutenção dessas células em meio
parentesco, leva-se em conta que me- único processo de multiplicação de de cultura com poucos nutrientes.
tade das bandas que constituem o uma espécie, como é o caso da 4. Os núcleos das células da
fingerprinting de um indivíduo é her- bananeira. Nos animais como o tatu, a glândula mamária foram extraídos e
dada da mãe, e a outra do pai. Ao se poliembrionia também produz clones. implantados no óvulo retirado da
comparar as bandas do filho com as Nesses animais, como sabemos, ovelha A.
de sua mãe, pode-se eliminar as que um zigoto pode se dividir, originando 5. A nova célula assim formada
são semelhantes, restando as que de 4 a 6 gêmeos univitelinos, todos iniciou o processo de divisão, origi-
foram herdadas do pai. Se todas as machos ou todas fêmeas. Na espécie nando um embrião, que foi implan-
bandas de origem paterna coinci- humana, nascem, diariamente, gê- tado no útero de uma ovelha C.
direm com o suposto pai, a identifi- meos univitelinos, na proporção de 4
cação da paternidade será positiva.
por 1 000 nascimentos. Também são
chamados de monozigóticos, por
serem originados de 1 zigoto, ou
7. CLONAGEM idênticos, pelo fato de possuírem o
mesmo genótipo.
A palavra clone (do grego klon,
que significa “broto”) é usada para ❑ A clonagem da ovelha Dolly
designar um conjunto de indivíduos A clonagem da ovelha Dolly, de
que se originam de outros por repro- maneira simplificada, seguiu estas
dução assexuada. etapas: A clonagem de uma bactéria.

1. Os cientistas pegaram um 2. O DNA retirado de uma 3. Implantado em outra ove- 4. Geneticamente, Dolly era idênti-
óvulo comum de ovelha e es- célula da região mamária de lha, o embrião se desenvolveu ca à ovelha que forneceu o DNA.
vaziaram seu núcleo, a parte uma ovelha adulta foi implan- normalmente. A fêmea pariu Ela tinha aparência normal e era
que contém todo o material tado no óvulo. O embrião foi Dolly em julho de 1997. capaz de se reproduzir da forma
genético do animal. gerado a partir desse encon- convencional.
Obs.: Em fevereiro de 2003, a ovelha
tro.
Dolly teve de ser sacrificada, em
razão de graves doenças.

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FRENTE 3 Biologia Animal

MÓDULO 25 Cordados

1. CARACTERES GERAIS dendo-se longitudinalmente logo aci- Apesar desses fatos, não existem da-
ma da notocorda. O sistema nervoso, dos mais concretos que confirmem
Os cordados constituem o último sob a forma de tubo dorsal, é uma essa hipótese.
grande filo do Reino Animal. São os importante característica para dife-
animais superiores, filo ao qual per- renciar os cordados dos demais 3. CLASSIFICAÇÃO
tence o homem. animais, que o possuem sob a
Possuem três características que forma ganglionar e ventral. Os cordados podem ser divididos
os distinguem dos demais animais: em dois grandes grupos: proto-
1) notocorda; cordados e vertebrados.
2) tubo neural dorsal;
❑ 1o. Grupo
3) fendas branquiais na faringe. Protocordados ou acrânia
Não apresentam crânio, encéfalo
São triblásticos, celomados, deu-
ou vértebras, e, considerando o de-
terostomados; possuem tubo diges-
senvolvimento da notocorda, divi-
tório completo e celoma bem desen-
diremos o grupo em três subfilos:
volvido.
❑ Notocorda – Subfilo 1
Estrutura e posição Hemichordata
Diagrama dos principais
É uma haste cilíndrica, elástica e Notocorda reduzida a um certo
caracteres dos Chordata.
consistente, formada por células segmento anterior.
vacuolizadas e envolvidas por duas
Subfilo 2
bainhas: uma interna, fibrosa, e outra ❑ Fendas branquiais
Urochordata
externa, elástica. Localizam-se nas paredes da
Notocorda presente apenas na
faringe, pelo menos na fase embrio- fase larvária.
nária. Nos cordados aquáticos, elas
persistem na fase adulta com a fun- Subfilo 3
ção respiratória. Nos cordados ter- Cephalochordata
restres, as fendas desaparecem e em Notocorda bem desenvolvida, es-
seu lugar sai da faringe um tubo, a tendendo-se desde a cabeça até a
traqueia, que leva ar aos pulmões. cauda.

2. ORIGEM DOS CORDADOS ❑ 2o. Grupo


Craniata ou Vertebrata
Com crânio, encéfalo e vértebras.
Existem várias hipóteses relacio-
nadas com a origem dos cordados,
Subfilo 4
porém todas elas são bastante con-
Notocorda e bainhas. Vertebrata
trovertidas.
Classe 1: Ciclostomados
A hipótese mais provável é a que
Evolução Classe 2: Condrictes
admite a evolução dos cordados a
Nos protocordados, a notocorda Classe 3: Osteíctes
partir dos equinodermas: esta hipó-
persiste na fase adulta, exceto nos Classe 4: Anfíbios
tese surgiu após um estudo compara-
tunicados. Nos vertebrados ela é Classe 5: Répteis
tivo entre invertebrados e protocor-
substituída pela coluna vertebral. Classe 6: Aves
dados, que mostrou que as formas
Classe 7: Mamíferos
larvais dos equinodermas (inverte-
❑ Sistema nervoso brados) e dos hemicordados (pro-
Tem a posição dorsal e é cons- tocordados) são extremamente pare- Observação
tituído inicialmente pelo tubo neu- cidas. Tanto os equinodermas como Osteíctes e condrictes for-
ral, de origem ectodérmica, esten- os cordados são deuterostomados. mam a superclasse dos pisces

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(peixes); anfíbios, répteis, aves e


mamíferos formam a superclasse
dos tetrápodes.

Subfilo
Hemichordata
Os hemicordados são animais
vermiformes, de corpo mole, alonga-
dos, tendo na extremidade anterior
uma tromba ou probóscide e um colar.
Possuem notocorda anterior e rudi-
Anfioxo – estrutura interna.
mentar (estomocorda); são marinhos
e vivem enterrados na areia do mar.
o esôfago constituem dois tubos pa-
Ex.: Balanoglossus sp.
ralelos, superpostos, sendo a faringe
Alguns zoólogos não consideram dorsal e com fendas branquiais em
que a estomocorda seja realmente forma de U. O ânus é terminal.
uma notocorda reduzida, vestigial, daí
o fato de classificarem os hemicorda- Sistema respiratório
As fendas branquiais, existentes
dos como pequeno filo independente.
na faringe, comunicam-se com as
bolsas branquiais, que se abrem ex-
Morfologia externa ternamente. Nas paredes das bolsas
O corpo vermiforme é dividido em são realizadas as trocas gasosas
três regiões: probóscide, colar e entre a água e o sangue.
tronco. O tronco é a parte mais longa
do corpo, mais ou menos cilíndrica e Sistema circulatório
Hábitat do Balanoglossus sp.
apresentando na parte inicial as fen- Apresentam basicamente um
das branquiais. vaso dorsal e um ventral. Não há um
Subfilo
coração típico.
Urochordata
Sistema excretor Os urocordados ou tunicados são
No interior da probóscide encon- animais marinhos que vivem em parte
tramos o glomérulo. O sangue sai fixos, enquanto outros flutuam e
do vaso contráctil e passa pelo glo- nadam livremente. Devem seu nome
mérulo, que recolhe os catabólitos, à presença de um manto ou túnica,
lançando-os posteriormente na cavi- formado essencialmente por uma
dade da tromba, que os elimina substância denominada tunicina,
através do poro dorsal. isômero da celulose.
As verdadeiras características de
Sistema nervoso
É representado por um anel pe- cordados são encontradas na fase
riesofágico, do qual sai um cordão larval. Exemplo: Ascídia.
nervoso dorsal e um cordão nervoso
Balanoglossus sp. ventral. Há células sensoriais espalha-
das pela epiderme.
Tegumento
A epiderme é um epitélio simples,
Reprodução
São animais de sexos separados
ciliado, com glândulas mucosas.
(dioicos), de fecundação externa com
Esqueleto desenvolvimento indireto, passando
É representado pela estomocor- pela fase larval, denominada tornária.
da, bastante reduzida e situada na
parte posterior da probóscide. Biologia
Os hemicordados têm capaci-
Sistema digestório dade de regeneração. São marinhos;
É completo. A boca permanece vivem solitários em águas litorâneas,
aberta, de maneira que por ela pene- no interior de galerias que escavam.
tra uma mistura de água e areia, que Para a nutrição, aproveitam substân-
contém restos orgânicos. A faringe e cias orgânicas existentes na areia. Ascídia.

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Tegumento Sistema nervoso Sistema tegumentário


O tegumento é formado por um Na fase larval, há um tubo neural, A pele é formada por uma sim-
epitélio simples, uma camada meso- e, na fase adulta, há um simples ples camada de células epidérmicas
dermal, na qual se dispõem feixes gânglio, colocado entre os dois sifões. e uma delicada derme.
longitudinais e circulares de muscu-
latura. O epitélio é secretor da túnica Reprodução Sistema muscular
ou manto. A musculatura é dividida em
São animais hermafroditas, com
somática e visceral. A primeira, loca-
fecundação externa e com metamor-
Esqueleto lizada logo abaixo da derme, em for-
fose. Além da reprodução sexuada,
É a notocorda caudal, sempre ma de V, apresenta miômeros. Entre
possuem também a reprodução asse-
presente nas larvas e desaparecendo os músculos viscerais, destacamos
xuada por brotamento.
no adulto. os transversais, que comprimem a ca-
vidade atrial, eliminando água para o
Sistema digestório Biologia exterior.
O tubo digestório é amplo, com As ascídias são todas sésseis,
fendas branquiais. Na faringe há uma fixadas em rochas ou em outros obje- Sistema esquelético
espécie de canaleta ou goteira cilia- tos submersos. As formas isoladas A principal estrutura esquelética
da, com glândulas mucosas, o endós- são as maiores, atingindo 10 a 20 é a notocorda, que se dispõe para-
tilo. Ele desempenha um importante centímetros; as colônias são sempre lelamente no interior do tubo neural,
papel na captação das partículas menores. desde a cabeça até a cauda.
alimentares trazidas pela água.
Subfilo Sistema digestório
Cephalochordata É completo, com boca filtradora e
Os cefalocordados ou leptocár- uma grande faringe com muitas fen-
dios (coração frágil) são animais das branquiais. O ânus é ventral e
pequenos, pisciformes, de vida livre, posterior.
marinhos, com notocordas bem de-
senvolvidas e persistentes durante Sistema respiratório
toda a vida do animal. As trocas gasosas se dão princi-
Ex.: Branchiostoma lanceolatus palmente através da pele, por difusão
(Anfioxo). direta, em todo o corpo do animal.

Sistema circulatório
Estrutura da Ascídia. Morfologia externa
Apresenta vasos que circundam
O anfioxo é um pequeno animal
Sistema respiratório a faringe, com pequenas dilatações,
de 5 a 8cm de comprimento, trans-
A água que chega à faringe com capacidade contráctil, que im-
parente e pisciforme. Na extremidade
passa pelas fendas branquiais, na pulsionam o sangue de baixo para
anterior há o rostro, abaixo do qual se
qual ocorre a hematose; daí a água cima. O sentido da corrente sanguí-
encontra a abertura bucal, rodeada
passa para uma grande câmara, que nea é posteroanterior, na região ven-
de cirros. Há três aberturas no
a envolve, o átrio, e vai para o exterior tral, e anteroposterior, na região dor-
animal: boca, atrióporo e ânus, deslo-
através de um sifão exalante, si- sal. A circulação é lenta e a pressão
cado para a esquerda.
tuado praticamente ao lado do sifão do sangue, muito baixa. O sangue é
Através da sua transparência, ob-
inalante, em que está a boca. incolor (sem pigmento respiratório).
servam-se os músculos, em forma de
V, nos flancos do corpo. Também as
Circulação gônadas são facilmente distinguíveis: Sistema excretor
É do tipo lacunar. Há um coração estão localizadas na região ventral do A excreção é feita por 100 pares de
tubiforme, algumas vezes dobrado corpo. protonefrídeos ou solenócitos,
em forma de V. Os tunicados são os situados na região dorsal da faringe.
únicos animais cujo coração alterna o Os catabólitos são eliminados no átrio,
sentido da corrente sanguínea. O através de poros, atingindo finalmente
sangue apresenta um pigmento res-
o meio externo, através do atrióporo.
piratório com átomos de vanádio na
molécula (vanadina). Sistema nervoso
Excreção É basicamente um longo tubo
Não há órgãos excretores. Há cé- nervoso, com uma pequena dilata-
lulas que retiram os catabólitos, con- ção anterior, a vesícula cerebral. O
servando-os como concreções sóli- pequeno desenvolvimento do encé-
Anfioxo – morfologia externa. falo está relacionado com a pobreza
das e, posteriormente, eliminando-os.
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de órgãos sensoriais, pois não há dérmicas (cicloide, ctenoide e ga- • Sistema nervoso
órgãos sensoriais especializados. noide). Dez pares de nervos cranianos
Mas os cirros e toda a região bucal
têm células sensoriais. Há também • Reprodução
uma fosseta olfativa. Dioicos; ovíparos ou vivíparos; fe-
cundação externa ou na bolsa copu-
Reprodução ladora (cavalo-marinho).
Os sexos são separados (dioi- Ex.: larva alevino.
cos). As paredes das gônadas, quan-
do ocorre a maturação dos óvulos, 5. CLASSE
racham, libertando os óvulos que AMPHIBIA (ANFÍBIOS)
caem no átrio, saindo pelo atrióporo.
São animais tetrápodas, anamnio-
O mesmo acontece com os esper-
tas e analantoidianos. Ex.: sapo.
matozoides. A fecundação é externa Aspecto geral externo de um peixe ósseo.
e o desenvolvimento é direto.

Biologia
Os anfioxos são animais mari-
nhos. Durante o dia, permanecem
enterrados na areia. À noite, nadam à
procura de alimentos, ingerindo algas
e animais planctônicos. Ao serem
Sistema digestório do sapo.
perseguidos, nadam rapidamente e
se enterram.
❑ Características gerais
Considerações gerais Escama placoide.
• Tegumento
O anfioxo tem especial interesse Pele úmida, intensamente vascu-
zoológico porque mostra as caracte- larizada, pouco queratinizada e com
rísticas fundamentais do Filo Cor- glândulas pluricelulares.
data de um modo bem simplificado. • Digestão
De um modo geral, o plano de orga- Tubo digestório completo.
nização do corpo é o mesmo de um Digestão extracelular.
animal vertebrado. O anfioxo não é • Respiração
um animal muito conhecido, mas Cutânea, branquial, bucofaríngea
apresenta um grande valor biológico e pulmonar.
no estudo da embriologia comparada • Circulação
dos vertebrados, e também como um Fechada, dupla e incompleta.
animal de transição entre os proto- • Excreção
cordados e os vertebrados mais Rins mesonéfricos.
simples, os ciclóstomos. • Sistema nervoso
Tipos de escamas dérmicas.
Dez pares de nervos cranianos.
4. VERTEBRADOS • Reprodução
SUPERCLASSE • Esqueleto Dioicos, fecundação externa: de-
PISCES (PEIXES) Cartilaginoso ou ósseo. senvolvimento indireto (larva girino).
Neotenia.
Animais gnatostomados (com • Digestão
mandíbula), anamniotas (sem âmnio) 6. CLASSE
Tubo digestório completo. Diges-
e analantoidianos (sem alantoide). REPTILIA (RÉPTEIS)
tão extracelular, intestino com tiflosolis
Apresentam saco vitelino. São cartila- (somente nos condrictes).
ginosos (ex.: tubarão) ou ósseos (ex.: São animais amniotas (possuem
roncador). • Respiração âmnio), triblásticos, celomados, deu-
Branquial, pulmonar (dipnoicos). terostômios, cordados, gnatostoma-
❑ Características gerais dos e pecilotérmicos.
• Tegumentos • Circulação ❑ Características gerais
Epiderme pluriestratificada com Fechada e simples. • Tegumento
glândulas mucíparas. Condrictes com Apresentam pele seca, sem glân-
escamas placoides (origem dermoe- • Excreção dulas, com espessa camada córnea,
pidérmica). Osteíctes com escamas Rins mesonefros. com escamas e placas ósseas.
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Poros femurais nos lagartos e 7. CLASSE DAS AVES • Sistema nervoso


glândulas de cheiro na cloaca das co- Telencéfalo e cerebelo bem de-
bras. São animais cordados, vertebra- senvolvidos. Doze pares de nervos
Apresentam muda. dos, amniotas, alantoidianos e ho- cranianos.
meotermos. • Reprodução
Apresentam corpo aerodinâmico Dioicos; fecundação interna; oví-
coberto de penas epidérmicas. paros; desenvolvimento direto. Ocor-
re pênis em algumas espécies
❑ Características gerais (ganso, pato, avestruz).
• Tegumento
Pele delgada, seca e sem glân- 8. CLASSE MAMMALIA
Pele de réptil.
dulas, exceto a uropigiana.
• Esqueleto • Esqueleto São animais cordados, vertebra-
Crânio com um côndilo occipital. Ossos pneumáticos. Um côndilo dos, triblásticos, celomados, deute-
Cobras apresentam coluna vertebral no occipital. rostomados e homeotérmicos.
com mais de 500 vértebras. Tartaru- • Digestão Corpo geralmente coberto por
gas com exoesqueleto (carapaça dor- Possuem bico córneo e boca. pelos. Geralmente possuem quatro
sal e plastrão ventral). Não têm dentes. membros. Apresentam pé com cinco
• Digestão Esôfago com um papo (armazena artelhos ou menos.
Boca com dentes; língua protrác- e amolece o alimento).
til; glândulas venenosas desembocan- Não apresentam glândulas saliva-
res. ❑ Características gerais
do em dentes inoculadores. • Tegumento
Esôfago, estômago (com moela Estômago dividido em proventrí-
culo (digestão química) e moela (di- Epiderme corneificada. Pele com
nos crocodilianos), intestino delgado muitas glândulas sebáceas, sudorípa-
e grosso, terminando em cloaca. gestão mecânica). Intestino termina
em cloaca. ras, odoríferas e mamárias.
Com glândulas salivares, fígado e Presença de pelos.
pâncreas. Têm fígado e podem ou não
apresentar vesícula biliar. • Esqueleto
• Respiração Crânio com dois côndilos occipi-
Pulmonar. Nos quelônios aquáti- Possem pâncreas.
tais. Apresenta sete vértebras cervi-
cos há uma respiração auxiliar através • Respiração
cais. Ouvido médio com três
de sacos cloacais. Pulmonar; sacos aéreos; ossos ossículos (martelo, bigorna e estribo).
• Circulação pneumáticos; presença de siringe • Digestão
Fechada, dupla e incompleta. (aves canoras). Boca com dentes (raramente au-
Hemácias elípticas e nucleadas. sentes).
Estômago longo atravessando o
diafragma.
Estômago simples (ou dividido
em câmaras ruminantes).
Intestino delgado e grosso, termi-
nando em ânus ou cloaca (marsupiais
e monotremados).
• Respiração
Rim metanéfrico. Pulmonar; laringe com pregas
vocais; presença de diafragma.
• Excreção • Circulação
Rins metanéfricos. Ausência de Fechada, dupla e completa. Dois
bexiga nos ofídios e crocodilianos. átrios e dois ventrículos. Hemácias
Sacos aéreos. anucleadas.
Excretam ácido úrico.
• Sistema nervoso • Circulação • Sistema nervoso
Doze pares de nervos cranianos. Fechada, dupla e completa (dois Desenvolvimento máximo do cór-
Telencéfalo bem desenvolvido. átrios e dois ventrículos). Crossa aór- tex cerebral. Doze pares de nervos
• Reprodução tica voltada para a direita. Hemácias cranianos.
Dioicos. Fecundação interna e ovais e nucleadas. • Sistema urogenital
desenvolvimento direto. • Excreção Rins metanéfricos; ureteres (de-
Ovíparos, vivíparos (sucuri) ou Rins metanéfricos. Dois ureteres sembocando na bexiga urinária).
ovovivíparos (coral). terminam na cloaca. Fecundação interna; desenvolvimen-
Pênis em tartaruga e crocodilo; Ausência de bexiga urinária. to direto; vivíparos (maioria) ou oví-
hemipênis em cobras e lagartos. Excretam ácido úrico. paros (monotremados).

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MÓDULO 26 AIDS, Viroses e Bacterioses

1. AIDS OU SIDA O HIV tem afinidade por um tipo Esse coquetel apresenta uma
de glóbulo branco do homem, que é droga de 1a. geração, o AZT, que é
A sigla SIDA significa “Síndrome considerado o “general-de-divisão” um inibidor da enzima transcriptase
da Imunodeficiência Adquirida”. Na do exército de defesa imunológica: o reversa. Possui também uma droga
língua inglesa é AIDS (Acquired linfócito CD4 (linfócito T4). O material de 2a. geração que pode ser, por
Immunodeficiency Syndrome). genético “pirata” do vírus é incorpo- exemplo, o 3 TC, outro inibidor da
O termo imunodeficiência de- rado ao glóbulo branco. transcriptase. O terceiro componente
ve-se ao fato de o portador do vírus Quando esse tipo de glóbulo do é uma droga de nova geração (ter-
tornar-se incapaz na defesa contra os sangue se divide para organizar a ceira) conhecida como inibidora da
agentes patogênicos (causadores de defesa contra agentes agressores, o protease (indinavir, ritonavir, saqui-
doenças). código “pirata” do vírus é decifrado e navir etc.).
O agente causador da AIDS é o milhares de novas partículas virais Os inibidores da protease dificul-
vírus denominado HIV (vírus da imu- são produzidas, espalham-se pelo
nodeficiência humana). sangue e vão-se concentrar nas se- tam o amadurecimento do vírus.
creções do corpo – das quais o esper- O emprego dessas drogas me-
ma e os líquidos vaginais são as mais lhora o quadro clínico dos pacientes
importantes – e no sistema nervoso tratados, ocasionando em muitos o
central, pois o HIV possui especial desaparecimento das moléstias opor-
afinidade pelas células nervosas. tunistas.
Não sabemos ainda o que ocor-
2. O COQUETEL ANTI-AIDS rerá a longo prazo, mas surgiu uma
“luz no fim do túnel” para a provável
O virologista chinês, naturalizado cura dessa terrível moléstia.
norte-americano, David Ho, anunciou
na XI Conferência Internacional da
AIDS resultados animadores na tera-
pia da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida.
Esse tratamento permite uma di-
Estrutura interna do HIV, minuição da carga viral do portador.
segundo Robert Gallo. Os doentes medicados obtiveram
uma diminuição em 98,9% da quan-
O vírus HIV, causador da AIDS, tidade de HIV no organismo.
tem como material genético o RNA.
As células verdadeiras apresen-
tam os dois ácidos nucleicos, DNA e
RNA. Geralmente, nestas células, o
DNA comanda a produção de RNA.
O HIV é denominado retrovírus
porque apresenta RNA que pode
comandar a síntese de DNA, quando
está parasitando uma célula. Ele O código “pirata” é então incor-
possui uma enzima especial, chama- Ao entrar no linfócito, o HIV livra-se porado ao DNA do linfócito, graças à
da transcriptase reversa. Esta da cápsula e, à custa de uma enzima, enzima integrase.
enzima é que permite a produção do a transcriptase reversa, transforma seu O linfócito, sob o comando pirata,
DNA a partir do RNA. material genético, o RNA, em DNA. transforma-se numa fábrica de vírus.

O HIV é denominado retro-


vírus porque possui um RNA
capaz de comandar a sínte-
se de DNA ao parasitar uma
célula verdadeira.
O vírus liga-se à proteína CD4 do linfócito e é puxado para dentro da célula.
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3. CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS À AIDS

286 –
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4. DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS

Vírus são estruturas acelulares, parasitas intracelulares obrigatórios. São agentes etiológicos relacionados às
seguintes doenças:

DOENÇA TRANSMISSÃO

Catapora (varicela) Contato da pele com as bolhas, e pelo ar, que contêm o vírus Varicela zoster.
Caxumba (parotidite infecciosa) Por gotículas de saliva expelidas pelo doente, que contêm o Paramyxovirus sp.

Vertical (placentária), amamentação materna, sexual, de pessoa para pessoa e por


Citomegalia
transfusão sanguínea.
Dengue Picada da fêmea de mosquitos: Aedes aegypti ou Aedes albopictus.

Picada da fêmea de mosquitos: Aedes aegypti ou Aedes albopictus (tigre asiático).


Dengue hemorrágica Ocorre quando um indivíduo que teve um tipo de vírus da dengue recebe outro vírus
diferente, também da dengue.

Febre aftosa Via respiratória, inalando o Aphthovirus sp.

Febre amarela silvestre Picada da fêmea do mosquito Haemagogus sp ou Sabethes sp contendo o


Flavivirus sp.

Febre amarela urbana Picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti ou Aedes albopictus contendo o
Flavivirus sp.
Febre hemorrágica do ebola Através de secreções corpóreas e sangue contaminado pelo Filovirus sp.
Gripe Contato com o ar contaminado pelo Myxovirus influenzae.
Hantavirose Via respiratória, água e alimentos contendo o Hantavirus sp.
Hepatite Contato pessoa a pessoa; oral-fecal, transfusão sanguínea.

Herpes Contato íntimo com indivíduo transmissor, a partir de superfície mucosa ou de lesão
infectante contendo, por exemplo, o Herpes simplex.
Mononucleose Contato íntimo de secreções orais (saliva) contendo o vírus Epstein-Barr, da família
Herpesviridae.

Papiloma (Condiloma) Vertical (placentária); ato sexual; o agente etiológico é o HPV.

Poliomielite (paralisia infantil) Contato direto com secreções faríngeas de doentes.

Raiva (hidrofobia) Através da saliva de animais doentes.

Resfriado Contato com o ar contaminado pelo vírus sincicial respiratório, ou pelo vírus parain-
fluenza ou pelo rinovírus.

Rubéola Através de gotículas de muco e saliva ou pelo contato direto com as secreções do
nariz.

Sarampo Através de gotículas de muco e saliva ou pelo contato direto com as secreções do
nariz.

Síndrome da Imunodeficiência Ato sexual, seringas contaminadas, transfusões sanguíneas, via vertical (placen-
Adquirida (AIDS = SIDA) tária).

Varíola Contato com as secreções das vias respiratórias, com as lesões da pele, das
mucosas e com os objetos de uso do doente.

– 287
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5. BACTERIOSES
As bactérias são procariontes. Pertencem ao reino Monera. São agentes etiológicos relacionados às seguintes
doenças:

DOENÇA TRANSMISSÃO AGENTE INFECCIOSO


Antrax Através da inalação de esporos ou ingestão de ali- Bacilo do antraz
(carbúnculo) mentos contaminados, ou ferimentos cutâneos. (Bacillus anthracis)

Botulismo Ingestão de alimentos contaminados (ex.: enlatados Bacilo botulínico


de palmito). (Clostridium botulinum)

Brucelose Contato com secreções animais contaminadas; com a (Brucella sp)


(febre ondulante ou
placenta; fetos abortados; ingestão de leite cru.
do mediterrâneo)

Cólera Ingestão de água ou de alimentos contaminados. Vibrião colérico (Vibrio cholerae)

Coqueluche Contato direto ou indireto com a saliva do doente. Bacilo da coqueluche


(tosse comprida) (Bordetella pertussis)

Difteria Contato com a secreção do nariz, ou da garganta, Bacilo de Krebs-Loeffler


(crupe) ou através do leite cru. (Corynebacterium diphteriae)

Fasciíte necrosante Penetração através de cortes na pele. Estreptococo de tipo A

Febre Contato direto pessoa a pessoa (com conjuntivite) ou Bacilo


purpúrica indireto por intermediação mecânica (insetos, toalhas, (Haemophilus influenzae)
brasileira mãos).

Febre tifoide (Tifo) Contato direto ou indireto com fezes ou urina do doente. Bacilo tífico (Salmonella typhi)

Gonorreia (blenorragia) Contato sexual. Gonococo (Neisseria gonorrhoeae)

Lepra Penetração no organismo pela pele ou mucosas (ex.: Bacilo de Hansen


(Hanseníase) nasais). (Mycobacterium leprae)

Penetração no organismo pelas mucosas ou pela pele (Leptospira sp)


Leptospirose
ferida ou via oral (alimentos contaminados).

Lyme (doença de Lyme) Adesão de carrapatos à pele e sucção de sangue. (Bonnelia bungdorferi)

Meningite Por via respiratória, quando o doente fala, tosse, espirra Meningococo
meningocócica ou beija. (Neisseria meningitidis)

Peste Picada de pulgas infectadas; pessoa a pessoa. (Yersinia pestis)

Pneumonia Por via respiratória; contato pessoa a pessoa; infecção Diversos exemplos
(Diplococcus pneumoniae, micoplas-
hospitalar. mas, clamídias, legionelas etc.)
Psitacose Por via respiratória; contato pessoa a pessoa. (Chlamydia psittaci)

Shigelose (disenteria) Ingestão de água ou de alimentos contaminados. (Shigella sp)

Sífilis Contato sexual; transfusão de sangue; via vertical Espiroqueta (Treponema pallidum)
(placentária).

Tétano Penetração dos esporos através de ferimentos perfu- Bacilo tetânico (Clostridium tetani)
rantes.
Por via respiratória (inalando o bacilo). Bacilo de Koch
Pneumonia (Mycobacterium tuberculosis)
Uretrite Ato sexual. (Chlamydia trachomatis)

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MÓDULO 27 Tipos de Ovos e Clivagem

1. TIPOS DE OVOS ❑ Ovos telolécitos grande quantidade, pode dificultar ou


ou megalécitos mesmo impedir a segmentacão total
A classificação é baseada na Apresentam uma grande quanti- do ovo.
quantidade e distribuição do vitelo ou dade de vitelo, que ocupa quase todo Distinguem-se dois tipos de seg-
deutoplasma, substância nutritiva que o ovo. O citoplasma e o núcleo ficam mentação: holoblástica e meroblás-
o embrião utiliza no desenvolvimento. reduzidos a uma pequena área, e a tica.
cicatrícula, ou disco germinativo, fica
❑ Ovos oligolécitos situada no polo animal. ❑ Segmentação
ou isolécitos Ocorrem em cefalópodos, pei- holoblástica ou total
São aqueles que possuem pe- xes, répteis e aves. Ocorre em ovos oligolécitos e he-
quena quantidade de vitelo unifor- terolécitos, nos quais a pequena
memente distribuída pelo citoplasma. quantidade de vitelo permite a seg-
São próprios das espécies nas quais mentação completa do ovo.
o embrião não obtém o alimento do Distinguem-se dois tipos: igual e
ovo, mas sim do corpo materno ou do desigual.
meio ambiente. Aparecem em es-
pongiários, celenterados, equinoder-
mas, protocordados e mamíferos. 3. TOTAL E IGUAL
Ovo telolécito completo. (OU SUBIGUAL)
❑ Ovos centrolécitos É própria dos oligolécitos, nos
O vitelo concentra-se no centro do quais a distribuição uniforme do vitelo
ovo e separa duas zonas de pro- permite a divisão em blastômeros de
toplasma: uma central, contendo o nú- mesmo tamanho. Serve como exem-
cleo, e outra periférica, circundando o plo a segmentação do ovo do anfioxo.
vitelo. O primeiro plano de divisão é lon-
São ovos típicos de artrópodos. gitudinal ou meridional e corta o ovo
Ovo oligolécito.
em dois blastômeros rigorosamente
iguais.
❑ Ovos heterolécitos
O segundo plano é ainda meri-
ou mediolécitos
dional e perpendicular ao primeiro,
Apresentam nítida polaridade,
produzindo quatro células iguais. O
distinguindo-se o polo animal, com
terceiro plano de divisão é transversal
pequena quantidade de vitelo, e o Ovo centrolécito.
e passa ligeiramente acima do
polo vegetativo, com abundante vite-
equador. O embrião aparece, agora,
lo, permitindo a nutrição do embrião 2. SEGMENTAÇÃO
com oito células, sendo as quatro do
durante algum tempo. OU CLIVAGEM polo animal ligeiramente menores.
Aparecem em platelmintos, mo-
As divisões seguintes são iguais e
luscos, anelídeos e anfíbios. Entende-se por segmentação ou realizadas em planos alternadamente
clivagem a divisão do ovo em certo longitudinais e transversais, determi-
número de células denominadas blas- nando a formação de uma primeira
tômeros. A segmentação termina com figura embrionária, a mórula, constituí-
a formação de uma figura embrionária da por um conjunto de células ar-
chamada blástula. O tipo de segmen- redondadas lembrando uma amora,
tação é determinado pela quantidade daí o nome de mórula dado ao estágio
de vitelo existente no ovo. Sendo em questão. O desenvolvimento pros-
Ovo heterolécito. substância inerte, o vitelo, quando em segue e, à medida que as divisões se
sucedem, as células se deslocam,
deixando, no centro do embrião, um
espaço com líquido.
Finalmente, todas as células apa-
recem dispostas na periferia, forman-
do uma camada denominada blas-
toderma, que reveste a blastocela, ca-
vidade central cheia de líquido. A es-
Segmentação holoblástica. se estágio dá-se o nome de blástula.

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da que elas ocorrem, vai aumentando


a blastocela; forma-se, desse modo,
uma blástula que, cortada longitudi-
nalmente, apresenta a blastocela des-
locada para o polo animal. Superior-
mente, o blastoderma é formado por
micrômeros e, inferiormente, por ma-
crômeros.

5. SEGMENTAÇÃO
MEROBLÁSTICA
OU PARCIAL
Segmentação do ovo de mamífero. Nos ovos com abundante vitelo,
como é o caso dos telolécitos com-
❑ Segmentação especial pletos e centrolécitos, apenas o proto-
do ovo dos mamíferos 4. SEGMENTAÇÃO plasma se divide, de maneira que a seg-
O ovo dos mamíferos é do tipo HOLOBLÁSTICA
mentação do ovo é apenas parcial.
oligolécito, aparecendo envolvido por OU TOTAL E DESIGUAL
espessa membrana denominada zo- Ocorre nos ovos heterolécitos e,
na pelúcida. A clivagem é holoblás- devido à desigual distribuição do vi- ❑ Meroblástica discoidal
tica, produzindo a mórula. telo, produz blastômeros de tamanhos É típica dos ovos telolécitos com
As divisões prosseguem e, no lu- diferentes. Serve como exemplo a diferenciação polar completa e atinge
gar da blástula, surge o blastocis- segmentação do ovo de sapo. apenas o disco germinativo. Pode ser
to, uma estrutura esférica envolvendo Os dois primeiros planos de divi- observada na evolução do ovo de aves.
um grupo de células e uma cavidade. são são meridionais e perpendicu- Os fusos mitóticos orientam-se
A parede do blastocisto é chamada lares entre si, destacando quatro tangencialmente à superfície do disco
trofoblasto e inicialmente consti- germinativo e produzem um mosaico
blastômeros de igual tamanho. O ter-
tuída por uma única camada celular, celular sobre o vitelo.
ceiro plano é transversal e deslocado
com a função de obter alimento para Na etapa final da segmentação,
para o polo animal, de maneira que
nutrição do embrião. As células si- os blastômeros dão origem a uma
determina a formação de quatro pe-
tuadas no interior do blastocisto lâmina discoidal e superficial, o blas-
quenos blastômeros ou micrômeros
constituem a massa celular inter- toderma, que depois se destaca do
no polo animal e quatro maiores ou
na, da qual se formará o embrião. vitelo, deixando um espaço que cor-
macrômeros no polo vegetativo.
responde à blastocela. Forma-se, des-
Desde o estágio
se modo, a blástula.
que apresenta oito
células, começa a ❑ Meroblástica superficial
aparecer entre os Ocorre nos ovos centrolécitos dos
blastômeros uma artrópodes.
pequena cavi- O núcleo, situado no centro do
dade, marcando o ovo, divide-se várias vezes. Os nú-
início da formação cleos resultantes migram para a peri-
da blastocela. As feria do ovo, onde surge uma camada
divisões seguintes protoplasmática plurinucleada. Entre
realizam-se em os núcleos, surgem membranas divisó-
planos perpendi- rias, originando um estrato celular que
culares e, à medi- representa o blastoderma.
Fases da segmentação
meroblástica discoidal.

Segmentação meroblástica superficial.


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MÓDULO 28 Embriologia do Anfioxo

1. O ANFIOXO 4. BLÁSTULA 6. FORMAÇÃO DO


TUBO NEURAL (NÊURULA)
O anfioxo é um pequeno animal Consiste numa fase embrionária
de 5 a 8cm de comprimento, trans- típica em certos animais e de difícil re- Inicialmente, as células ectoblás-
parente e pisciforme. Na extremidade ticas dorsais do embrião tornam-se
conhecimento em outros. Caracteri-
anterior, há o rostro, abaixo do qual mais alongadas e passam a constituir
se encontra a abertura bucal, rodea- za-se, de um modo geral, pela forma
globosa e por apresentar uma única a placa neural. A seguir, a placa neu-
da de cirros. Há três aberturas no
camada de células (blastoderma), de- ral invagina-se e forma o sulco ou
animal: boca, atrióporo e ânus, deslo-
cado para a esquerda. limitando uma cavidade completa- goteira neural. O sulco aprofunda-se,
Em razão da transparência, ob- mente fechada (blastocela). e seus bordos unem-se, transforman-
servam-se os músculos em forma de do-se no canal neural, sobre o qual se
V nos flancos do corpo. Também as refaz o ectoblasto. O tubo neural
gônadas se distinguem muito bem possui, no início, duas aberturas: o
pela transparência; estão localizadas neuróporo, anterior, em comunicação
na região ventral do corpo. com o meio externo, e o canal neuren-
térico, que se comunica com o
arquêntero. Posteriormente, ocorre o
fechamento das duas aberturas.
Orientando-se dorsal e longitudinal-
mente entre o ectoblasto e o endo-
blasto, o canal neural transforma-se
Anfioxo – morfologia externa. Corte da blástula de um anfioxo. no sistema nervoso central. A cons-
tituição do canal é a mesma para os
2. FASES DA SEGMENTAÇÃO diversos vertebrados.
5. GASTRULAÇÃO
Vamos tomar por base o desen- É o processo de formação da 7. FORMAÇÃO DO
volvimento do anfioxo, que apresenta gástrula, estágio embrionário que se MESOBLASTO
segmentação holoblástica igual. inicia a partir da blástula e se ca- E DA NOTOCORDA
Já aprendemos que, após a fe- racteriza pela existência de duas
cundação, a célula sofre sucessivas camadas celulares. No teto do arquêntero, o meso-
divisões, passando por diferentes es- No anfioxo, a gastrulação é feita derma forma três evaginações: uma
tágios de desenvolvimento. por embolia. É o tipo mais primitivo de central, que formará a notocorda, e
Já vimos a fase de mórula, que só gastrulação. O processo começa duas laterais, que originarão o celo-
ocorre na segmentação holoblástica com um achatamento do polo vege- ma. As duas vesículas laterais cons-
igual, e a fase de blástula. tativo que, a seguir, invagina e pe- tituem os somitos. Em cada um dos
netra na blastocela, aplicando-se somitos, a parede é chamada de me-
3. MÓRULA contra a face interna do polo animal. soblasto ou mesoderma, enquanto a
Neste tipo de gastrulação, a blasto- cavidade central representa o celoma.
cela vai diminuindo progressivamente, A evaginação longitudinal media-
chegando a ser apenas virtual quando na transforma-se na notocorda ou
as duas camadas celulares se encos- corda dorsal, um eixo de sustentação
tam. Do outro lado, forma-se pela que caracteriza todo embrião de
invaginação uma nova cavidade, o animal cordado. Cortado transversal-
arquêntero ou intestino primitivo, que mente, o embrião apresenta, nesta
Mórula. se comunica com o exterior através fase, as seguintes estruturas:
de uma abertura chamada blastó- 1 – Três folhetos germinativos: ec-
Constitui a forma embrionária en- poro. Cortada longitudinalmente, a toderma, endoderma e meso-
contrada após sucessivas divisões gástrula aparece constituída por derma.
celulares. Caracteriza-se, fundamen- dupla camada celular. A parede ex-
talmente, pela forma esférica e por terna é o ectoderma ou ectoblasto, e 2 – Tubo neural.
apresentar-se maciça, isto é, com- a interna, que reveste o arquêntero, é
posta inteiramente de células embrio- o mesentoderma, que irá formar o 3 – Notocorda.
nárias. Só aparece no tipo de endoblasto ou endoderma e o meso-
segmentação holoblástica igual. blasto ou mesoderma. 4 – Intestino primitivo.
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8. EVOLUÇÃO DOS FOLHETOS No epiblasto, destacam-se os pla- miótomo e dermátomo, que formam,
coides sensoriais, que migram em respectivamente, o esqueleto axial, os
De cada um dos três folhetos ger- profundidade e originam as vesículas músculos estriados e a derme.
minativos – ectoderma, endoderma e olfativas, as auditivas, os cristalinos, O mesômero, situado entre o epí-
mesoderma –, derivam todas as es- os lobos anterior e intermediário da mero e o hipômero, é responsável
truturas dos animais, por meio de um hipófise. pela gênese do sistema urogenital,
processo denominado organogênese. Do neuroblasto derivam o encé- constituído por rins e gônadas.
Explicaremos, a seguir, os folhetos e as falo e a medula, que constituem o O hipômero limita o celoma e
principais estruturas deles derivadas. sistema nervoso central (SNC). apresenta duas lâminas: a somato-
pleura, colada ao ectoblasto, e a es-
9. ECTOBLASTO 10. MESOBLASTO plancnopleura, em contato com o
endoblasto.
O ectoblasto divide-se em dois O mesoblasto divide-se em três
A somatopleura dá origem aos
elementos: o epiblasto e o neuroblasto. partes: epímero (dorsal), mesômero
músculos viscerais, ao pericárdio (te-
O epiblasto origina a epiderme e (central) e hipômero (ventral).
cido que envolve o coração) e aos
os anexos epidérmicos, como glându- O epímero também se divide e
ossos e músculos dos apêndices
las, pelos, penas, garras, escamas etc. origina três estruturas: esclerótomo,
locomotores, braços e pernas.
A esplancnopleura origina os
músculos lisos, o miocárdio (muscula-
tura do coração), o endocárdio
(tecido que recobre internamente o
coração) e o endotélio (camada
celular que reveste internamente os
vasos sanguíneos).

11. ENDOBLASTO
A formação do mesoderma.
O endoblasto dá origem a dife-
rentes partes do tubo digestório e de
suas glândulas anexas, tais como o
fígado e o pâncreas. Os pulmões e a
traqueia são igualmente de origem
endodérmica.
O endoblasto só constitui o epi-
télio pulmonar interno, sendo o estro-
ma dos pulmões e a parede da
traqueia provenientes do mesoblasto.
Desenvolvimento do mesoderma e da notocorda. Também no caso do tubo digestório,
o endoblasto só forma a parte
epitelial, sendo a musculatura ori-
ginada do mesoblasto.
Veja o diagrama abaixo mostran-
do os três folhetos embrionários de
um embrião típico de vertebrados e
algumas das estruturas que eles
originam.

A formação do tubo neural.

Corte transversal
de um embrião de cordado.
Gastrulação em anfioxo.
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MÓDULO 29 Os Anexos Embrionários

1. GENERALIDADES 3. ÂMNIO E CÓRIO cem as dobras para formar, respecti-


vamente, o âmnio e o saco vitelínico, a
À custa de porções dos folhetos O âmnio e o cório são anexos parte posterior do intestino começa a
germinativos não utilizados na forma- embrionários encontrados em répteis, formar uma evaginação ou divertículo.
ção do embrião, constituem-se os aves e mamíferos. Observaremos o Introduzindo-se no celoma
anexos embrionários, que posterior- desenvolvimento no embrião de aves. extraembrionário, ele cresce até
mente se atrofiam com o desenvol- Inicialmente, notamos o aparecimen- atingir o cório, contra o qual se aplica,
vimento embrionário ou então são to de duas dobras amnióticas: a cefá- havendo fusão das lâminas meso-
expulsos com o nascimento do lica e a caudal, formadas por blásticas. A alantoide diferencia-se
animal. ectoderma e somatopleura. rapidamente num importante órgão
A dobra cefálica começa adiante embrionário, com o aparecimento de
Os anexos embrionários servem
da cabeça e progride para trás, reco- vasos sanguíneos no mesoblasto
para nutrição, proteção, respiração,
brindo o embrião como um capuz. A visceral que o reveste. O oxigênio que
excreção e outras funções neces-
dobra caudal forma-se posterior- passa através da casca porosa do
sárias ao desenvolvimento embrioná- mente e cresce para a frente. ovo fixa-se nos glóbulos vermelhos
rio. Como anexos, encontramos saco As duas dobras vão ao encontro que circulam nos vasos da alantoide,
vitelínico, alantoide, âmnio, cório e uma da outra e fundem-se sobre o pelos quais é transportado ao em-
placenta. embrião. brião. De maneira inversa, é eliminado
O resultado é a formação de duas o gás carbônico. Outra importante
2. O SACO VITELÍNICO paredes: uma externa, chamada có- função da alantoide é a excreção. O
rio ou serosa de Von Baer, e outra rim embrionário abre-se na porção
É o único anexo embrionário que interna, o âmnio. Este constitui a ca- terminal do intestino através dos ca-
aparece nos peixes e anfíbios, nos vidade amniótica, que se enche de lí- nais uriníferos. A urina, em vez de ser
quais a fecundação é externa, de quido e envolve o embrião. No interior expulsa para o exterior, acumula-se na
maneira que o embrião se desenvolve do líquido, o embrião apresenta, em cavidade alantoidiana durante a vida
na água, encontrando proteção intervalos irregulares, movimentos embrionária.
contra choques e desidratação, ao espasmódicos. No mesoblasto do A alantoide ainda absorve parte
mesmo tempo em que realiza com o saco amniótico, aparecem fibras mus- dos sais de cálcio da casca do ovo.
meio trocas respiratórias e eliminação culares que, por suas contrações Essas substâncias serão utilizadas na
de catabólitos. Acompanharemos a peristálticas, mantêm o embrião em construção do esqueleto. Por outro
constante movimento. O líquido am- lado, a absorção de cálcio torna a cas-
evolução do saco vitelínico no
niótico impede a dessecação do em- ca mais frágil, facilitando a eclosão.
embrião de peixe. O ovo é telolécito
brião. Nos mamíferos, o âmnio
com diferenciação polar completa. A
protege o organismo embrionário 5. A ESTRUTURA
cicatrícula produz o embrião, que, contra os choques do organismo
durante o desenvolvimento, se eleva DA PLACENTA
materno e as contrações uterinas da
na superfície do vitelo, ao mesmo gravidez. Na espécie humana, con-
tempo em que dobras do ectoblasto, No embrião dos mamíferos, há os
tém meio litro de água no fim da gra-
mesoblasto e endoblasto crescem em seguintes anexos embrionários:
videz e é vulgarmente chamado de
torno do vitelo, terminando por en- âmnio, cório, alantoide, saco vitelínico
bolsa-d’água, rompendo-se no início
volvê-lo completamente. Forma-se, e placenta. O anexo mais importante
do parto.
é a placenta, constituída por duas
deste modo, a vesícula ou saco vite-
partes: materna e fetal.
línico, que se une ao embrião através
A parte materna é representada
de um curto pedúnculo.
pelo endométrio, a parede interna do
As substâncias nutritivas são útero que será expulsa, com o feto, no
gradualmente transportadas ao em- momento do parto. A parte fetal é
brião através de uma rede de vasos constituída pelo cório, que gera uma
sanguíneos que se formam na parede série de expansões, as vilosidades
do saco vitelínico. coriônicas, que se insinuam na
Nos anfíbios, não se forma um parede uterina. A placenta é um
saco vitelínico típico. A pequena Embrião de ave ou réptil órgão ricamente vascularizado, isto é,
quantidade de vitelo que os anfíbios com anexos embrionários. (A linha provido de muitos vasos sanguíneos –
apresentam é envolvida pela parede pontilhada representa o mesoderma.) alguns da mãe, no endométrio, e
ventral do embrião durante a gas- outros do feto, nas vilosidades coriô-
4. ALANTOIDE
trulação. Desse modo, o saco vitelíni- nicas. Entre a placenta e o embrião,
co se restringe apenas a uma Observaremos a evolução do anexo forma-se o cordão umbilical; pelo seu
dilatação da parte ventral do embrião. no embrião de ave. Enquanto apare- interior, circulam duas artérias e uma

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veia. As artérias conduzem o sangue do embrião, além de efetuar trocas mento, hormônios e anticorpos. Do
venoso do feto para a placenta, respiratórias e a excreção. Pela estru- feto para a mãe, passam, principal-
enquanto a veia transporta o sangue tura da placenta, observa-se que o mente, gás carbônico e excretas. A
arterial em sentido oposto. sangue da mãe não se mistura com o placenta tem ainda função endócrina,
do feto; apenas os vasos de ambos produzindo a progesterona e a
6. AS FUNÇÕES DA PLACENTA se situam muito próximos e trocam gonadotrofina coriônica, hormônios
substâncias entre si. Assim, a mãe relacionados com a gestação.
A placenta assegura a nutrição envia ao feto: oxigênio, água, ali-

MÓDULO 30 As Vitaminas

1. CONCEITO (ofuscamento), xeroftalmia (ulceração • Carência


da córnea) e baixa resistência às in- A carência acarreta degeneração
Vitaminas são compostos orgâni- fecções. muscular.
cos que atuam como coenzimas, ou
seja, ativando as enzimas responsá- • Fontes • Fontes
veis pelo metabolismo celular. As principais fontes de vitamina A Os alimentos mais ricos em vita-
Agem em pequenas quantidades, são alimentos de origem animal, mina E são os óleos vegetais, as hor-
sendo obtidas por meio dos ali- como leite, manteiga, queijos, gema taliças verdes, ovos, carnes e peixes.
mentos. de ovo, fígado e óleo de fígado de
peixes. Os melhores fornecedores de ❑ Vitamina K
2. AVITAMINOSES caroteno são os vegetais verdes e • Funções
amarelos, como cenoura, milho, É a vitamina anti-hemorrágica que
Chamamos de avitaminoses ou agrião, couve, alface e espinafre. atua na coagulação sanguínea,
doenças de carência as enfermida- favorecendo a síntese de protrom-
des causadas pela falta de certas vi- bina.
taminas. Assim, por exemplo, são ❑ Vitamina D
avitaminoses: nictalopia, raquitismo e • Carência
escorbuto. • Funções
A carência provoca o retardamen-
Trata-se do calciferol ou vitami-
to da coagulação do sangue e
3. CLASSIFICAÇÃO na antirraquítica, cuja função é a
consequente hemorragia.
perfeita calcificação dos ossos e den-
As vitaminas são classificadas em tes. É ingerida na forma de provi-
• Fontes
dois grupos: tamina D que se transforma em D, na
Couve, espinafre, cenoura, ervi-
a) lipossolúveis (A, D, E e K), que pele, pela ação dos raios UV.
lha, tomates, fígado, ovos e leite.
se dissolvem apenas em óleos e gor-
duras; • Carência
A avitaminose provoca o raquitis- 5. VITAMINAS
b) hidrossolúveis (C e complexo
mo na infância, a osteomalácia (amo- HIDROSSOLÚVEIS
B), que se dissolvem em água.
lecimento geral do esqueleto) no
adulto e a osteoporose (ossos que- São as vitaminas C e o complexo
4. VITAMINAS B, que agrupa uma série de vitami-
LIPOSSOLÚVEIS bradiços) no idoso.
nas, não porque sejam similares na
• Fontes composição química ou nos efeitos,
❑ Vitamina A mas porque tendem a ocorrer juntas.
• Funções As fontes alimentares são os
Classifica-se em: retinol, encon- óleos de fígado de peixes (bacalhau,
atum e cação), leite, fígado, manteiga ❑ Vitamina B1
trado nos alimentos de origem animal
e ovo. • Funções
(manteiga, ovos e óleo de fígado de
É a tiamina ou aneurina, que
peixe), e provitamina A ou β-ca- atua como enzima no metabolismo
roteno, produzida pelos vegetais. É ❑ Vitamina E dos açúcares, permitindo a liberação
uma vitamina indispensável para a de energia necessária às atividades
visão, especialmente noturna, bem • Funções vitais. É conhecida como “vitamina da
como para a regeneração dos epité- É também chamada de tocofe- disposição”, graças aos efeitos bené-
lios (pele e mucosas). rol ou vitamina antiestéril, porque ficos sobre a disposição mental.
provoca, na sua ausência, esterili-
• Carência dade em ratos. No homem, tem ação • Carência
A avitaminose provoca nictalopia antioxidante, evitando a oxidação de A avitaminose produz o beribéri,
(cegueira noturna), hemeralopia compostos celulares. uma polineurite generalizada.
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• Fontes ❑ Vitamina B5 • Carência


A fonte mais rica é o lêvedo de • Funções Na ausência dessa vitamina,
cerveja. Também aparece na carne, É o ácido pantotênico, um cons- ocorre a anemia perniciosa.
fígado, ovos, cereais (arroz e trigo) e tituinte da coenzima A atuante no me-
frutas (maçã, pera, ameixa, pêssego tabolismo dos carboidratos, gordura e • Fontes
e banana). proteínas e na transferência de energia. Fígado, carne bovina e suína, lei-
Contribui para a formação de células, te, queijo e ovo.

❑ Vitamina B2 mantendo o crescimento normal, e


para o desenvolvimento do SNC. ❑ Vitamina H
• Funções
É conhecida como riboflavina,
• Carência
uma constituinte das flavoproteínas • Funções
A deficiência causa hipoglicemia,
(FAD), coenzimas que atuam como Quimicamente é a biotina, sin-
dermatite, perturbações gástricas,
transportadoras de elétrons no pro- tetizada pelas bactérias e necessária
alopecia (queda de pelos e cabelos).
cesso respiratório. para a manutenção da pele e das
mucosas.
• Carência • Fontes
A carência acarreta a glossite (in- Lêvedo, cereais, legumes, mús-
• Carência
flamação da língua) e a queilose (fis- culos e ovo.
A carência provoca dermatite.
suras nos cantos dos lábios).
❑ Vitamina B6 • Fontes
• Fontes • Funções Lêvedo, legumes, leite, carne e
Lêvedo, leite, fígado, rim, queijo, Trata-se da piridoxina, que en- peixes do mar.
verduras e peixes. tra na constituição química das tran-
saminases, enzimas atuantes na
formação de aminoácidos. ❑ Vitamina C
❑ Vitamina B3 • Funções
• Funções • Carência É conhecida como ácido as-
É a niacina ou nicotinamida A falta produz a acrodínia, doen- córbico. Atua nos processos imuno-
ou ácido nicotínico, constituinte do ça que se caracteriza pelas inflama- lógicos, estimulando a produção de
NAD e do NADP, substâncias funda- ções das extremidades do corpo anticorpos, e na prevenção de res-
mentais na bioenergética celular. (mãos e pés), convulsões e hiperirrita- friados.
bilidade.
• Carência • Carência
A avitaminose produz a pelagra • Fontes A avitaminose determina o escor-
(pele áspera), enfermidade que se Lêvedo, trigo, fígado, rim, cora- buto, moléstia que se manifesta por
caracteriza por dermatite, diarreia e ção, leite, ovo, carne e legumes. fraqueza, dores musculares e sangra-
demência; por essa razão, também é mento das gengivas.
conhecida como doença dos três Ds. ❑ Vitamina B12
• Funções • Fontes
• Fontes É a cianocobalamina, uma vi- As melhores fontes são as frutas
As melhores fontes são lêvedo, tamina que contém cobalto e atua na (laranja, limão, caju, goiaba e abaca-
fígado, carne (boi, vitela e porco), formação de hemácias, prevenindo a xi) e verduras (agrião e repolho)
aves e peixes. anemia. cruas.

SAIBA QUE:

• Nossa vida depende das vitaminas que extraímos dos alimentos ou dos suplementos dietéticos que
ingerimos.
• As vitaminas não são comprimidos energizantes nem substituem os alimentos.
• As vitaminas regulam o metabolismo por meio dos sistemas enzimáticos.
• A falta de uma única vitamina pode colocar em risco todo o organismo.
• O fígado é o principal órgão de armazenamento das vitaminas lipossolúveis.
• As vitaminas não funcionam nem podem ser assimiladas sem a ajuda dos minerais.
• Os minerais mais importantes são cálcio, iodo, ferro, magnésio, fósforo, selênio e zinco.
• As vitaminas podem durar de dois a três anos num recipiente bem vedado.

– 295
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FRENTE 4 Biologia Vegetal

MÓDULO 25 Movimentos dos Vegetais

1. MOVIMENTOS do transporte lateral das auxinas absorção nessa faixa são os carote-
DOS VEGETAIS quando ocorrer estímulo unilateral nos nos e as riboflavinas.
órgãos vegetais. É possível que sejam esses os
Os movimentos dos vegetais po- pigmentos responsáveis pela absor-
dem ser classificados em dois tipos: 2. FOTOTROPISMO ção de luz no fototropismo.
– movimentos de curvatura (cres-
Movimento de curvatura orienta- 3. GEOTROPISMO
cimento);
do em relação à luz.
– movimentos de locomoção (des- Crescimento orientado em rela-
O caule e os coleóptilos apresen-
locamento). ção à força da gravidade.
tam fototropismo positivo (curva em
Os movimentos de crescimento • Caule e coleóptilos: apre-
direção à luz).
são, por sua vez, divididos em dois sentam geotropismo negativo (cresci-
A raiz apresenta fototropismo ne-
tipos: mento em sentido oposto à gravidade).
gativo (curva em direção oposta à
a) tropismos; • Raízes: apresentam geotro-
luz).
b) nastismos ou nastia. pismo positivo (crescem no mesmo
As folhas são plagiofototrópicas
sentido da gravidade).
❑ Tropismos ou diafototrópicas (formam um ângu-
• Folhas: apresentam plagio-
São fenômenos de crescimento lo reto em relação ao raio da Terra).
geotropismo ou diageotropismo.
ou de curvatura orientados em re- A experiência abaixo ilustra o fe-
A experiência abaixo ilustra o fe-
lação a um agente excitante; isto é, a nômeno.
nômeno.
curvatura depende da direção de
onde vem o agente excitante. Confor-
me a natureza desse agente, os
tropismos são classificados em
a) fototropismo (luz);
b) geotropismo (gravidade);
c) quimiotropismo (substâncias
químicas);
d) tigmotropismo (contato).
São de especial interesse o foto- Explicação
tropismo e geotropismo. Podem-se Explicação • Raiz: quando se coloca uma
explicar os fenômenos trópicos basean- A luz provoca uma redistribuição raiz na horizontal, ela cresce acen-
do-se fundamentalmente em dois das auxinas, que se concentram no tuadamente no lado superior, curva-se
fatores: lado escuro. e penetra no solo. Tal fato ainda se
• o excitante deve incidir unilate- Caule: o lado escuro apresenta baseia na ação do AIA, que se des-
ralmente; maior concentração de auxinas e o loca lateralmente, indo concentrar-se
• as auxinas devem sofrer uma crescimento fica acelerado. no lado inferior da raiz. A concentra-
redistribuição, isto é, distribuir-se de- Raiz: o lado escuro apresenta ção elevada de AIA nessa região ini-
sigualmente nos dois lados do órgão maior concentração de auxinas e o be o crescimento, enquanto o lado
crescimento fica inibido. oposto fica com o crescimento ace-
excitado unilateralmente.
lerado.
A distribuição desigual poderia É claro que a luz, para agir no
• Caule: o caule colocado hori-
ser explicada por fenômeno, tem de ser absorvida. Pa-
zontalmente sobre o solo cresce
a) transporte lateral das auxinas; ra tanto, devem existir pigmentos re- acentuadamente no lado inferior, cur-
b) produção desigual das auxi- lacionados com a absorção de luz. va-se e afasta-se do solo. Também
nas no ápice; Foi observado que as radiações efi- nesse caso, o AIA, por ação da força
c) destruição desigual das auxi- cientes nos fenômenos fototrópicos da gravidade, desloca-se do lado su-
nas. estão no início do espectro lu- perior para o inferior, aí se concen-
Atualmente, a tendência é a de se minoso visível (violeta, anil e azul). Os trando. Em consequência, essa re-
aceitar como verdadeira a hipótese pigmentos que apresentam intensa gião tem crescimento acelerado.

296 –
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4. TIGMOTROPISMO Exemplos de nastismos:

Movimento de curvatura em res- • Fotonastismo: há flores que


posta a um estímulo mecânico (con- se abrem quando iluminadas, fazen-
tato). do as pétalas um movimento de cur-
O fenômeno pode ser observado vatura para a base da corola.
no movimento de enrolamento de ga- A direção dos raios luminosos
vinhas em um suporte. não influencia a direção da reação.
As gavinhas são órgãos dorsiven- Esta é sempre orientada para a base
trais. Quando se estimula uma ga- da flor. Há outras flores que fazem o
vinha no lado inferior, ocorre uma movimento contrário, abrindo-se du-
reação que determina uma diminui- rante a noite. Essas flores, quando ilu-
ção no alongamento celular, enquan- minadas, fecham a corola.
to o lado oposto dorsal tem o alon-
gamento acelerado. Dessa maneira, • Tigmonastismo: observa-se,
ocorre o enrolamento. por exemplo, nos tentáculos das fo-
lhas de Drosera. Estes, irritados por
um inseto, sempre se dobram para o Folha de Dionaea
interior da folha. capturando uma libélula (inseto).

Em caso de elevação da folha,


ocorre o inverso. O fenômeno é co-
nhecido por seismonastia.

Drosera com tentáculos.


5. QUIMIOTROPISMO
• Quimionastismo: também
São fenômenos de crescimento observa-se na Drosera quando os
orientados em relação a uma substân- tentáculos se curvam, orientados por Folhas de Dionaea.
cia química, mas ainda não estão substâncias químicas emanadas do
muito esclarecidos. inseto. ❑ Tactismos
Podemos citar como exemplos: Movimentos de deslocamento de
a) crescimento do tubo polínico • Nictinastismo: movimento seres vivos. São orientados em re-
das angiospermas à procura do complexo que depende da excitação lação ao excitante e podem ser posi-
óvulo; exterior (alternância de luz e obscu- tivos ou negativos.
b) crescimento das hifas vegeta- ridade, calor e frio) e também de fato-
tivas dos fungos em direção ao ali- res internos; tal fato é verificado em Exemplos de tactismos:
mento. muitas leguminosas que, à noite, fe- • Quimiotactismo: movimen-
cham os seus folíolos. to de deslocamento em relação a
❑ Nastismos Nas mimosas (sensitivas) um substâncias químicas.
São movimentos de curvatura não abalo promove uma reação rápida de Exemplo: deslocamento de ante-
orientados em relação ao agente fechamento dos folíolos. Os folíolos rozoides à procura do órgão feminino
excitante, isto é, não dependem da aparecem com articulações (espes- (arquegônio).
direção de onde vem o excitante, mas samentos) ricas com um parênquima • Aerotactismo: quando o
sim da simetria interna do órgão que aquoso. Quando uma folha se abaixa, elemento químico é o oxigênio.
reage. as células das regiões superiores Exemplo: bactérias aerotácteis.
Os nastismos só ocorrem em ór- desse parênquima aumentam a sua Os tecidos vegetais são divididos
gãos dorsiventrais. turgescência. em dois grupos:

– 297
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MÓDULO 26 Tecidos Vegetais I

1. TECIDOS – acúleos
MERISTEMÁTICOS
OU TECIDOS
EMBRIONÁRIOS
OU MERISTEMAS

Tecidos constituídos por células


indiferenciadas e com grande capa-
cidade de divisão celular (mitose). As
células são pequenas, justapostas,
com parede celular delgada e núcleo
volumoso e central.
Os tecidos meristemáticos são
Corte da folha mostrando a epiderme.
divididos em dois tipos: primários e
secundários. Anexos epidérmicos: Acúleos em um ramo de roseira.
Os meristemas primários es- – cutícula
tão localizados no ápice da raiz e do É uma película depositada pelas – estômatos
caule e são responsáveis pelo cresci- células no lado mais externo, isto é,
mento longitudinal observado nesses na parede da célula exposta ao ar at-
órgãos. mosférico.
Os meristemas secundários É formada por cutina, substância
estão localizados no cilindro central impermeável à água, cuja função é
do caule e da raiz (câmbio) e na evitar uma perda excessiva de H2O
região da casca, do caule e da raiz por transpiração.
(felogênio). Esses meristemas são É frequente encontrar-se sobre a
responsáveis pelo crescimento em cutícula deposição de cera. A cera
espessura (diametral), observado no ajuda na função importante de evitar
caule e na raiz de árvores e arbustos. o acúmulo de água, especialmente
O câmbio forma, para o lado externo, sobre as folhas.
células do líber ou floema, e para o
lado interno, células do lenho ou xile- – pelos
ma. O felogênio forma, para o lado São saliências epidérmicas, po-
externo, células do súber ou cortiça, dendo ser unicelulares ou pluricelula- Vista frontal da epiderme
e para o lado interno, células de um res e também simples, ramificados ou de folha com estômatos.
parênquima chamado feloderma. capitados (Fig. 2).
– escamas
2. TECIDOS ADULTOS
(ESPECIALIZADOS)

Tecidos de proteção
(revestimento): epiderme e
súber

❑ Epiderme
Tecido formado por células vivas,
achatadas, justapostas e que reveste
externamente os órgãos da planta.
Geralmente é monoestratificada.
Exerce várias funções: proteção, A) Pelo bicelular do caule de gerânio, B)
absorção, trocas gasosas, secreção Pelo pluricelular da folha de violeta-afri-
e excreção. cana. Corte radial de uma escama.

298 –
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– papilas

Papilas na epiderme
das pétalas de amor perfeito.

❑ Súber ou cortiça
Súber ou cortiça é um tecido for-
mado por células mortas, caracteri-
zadas pela suberificação de suas
paredes celulares; geralmente apre-
senta formas prismáticas. Com
frequência, o lúmen celular está cheio
de ar. As células são justapostas, sem
Ápice do caule.
deixar espaços intercelulares. A sube-
rificação consiste na deposição de
suberina (gordura) sobre a membrana
As lenticelas são formadas na região
primária, geralmente formando várias da epiderme onde existiam estômatos.
camadas.
O súber é um tecido de proteção
que substitui a epiderme no caule e
na raiz. Protege contra ferimentos,
perda de água por transpiração e fun-
ciona também como um eficiente
isolante térmico para as plantas.
No súber, com frequência, encon-
tramos as lenticelas, que formam
saliências macroscópicas nesse teci-
do. O felogênio, na região da len-
ticela, apresenta maior atividade e
acaba por produzir um conjunto de
células, para o meio externo, que se
caracterizam pela presença de
espaços intercelulares, aliás, fato que
difere grandemente do tecido su-
beroso. Esses espaços intercelulares
se abrem para o meio externo e por
eles podem acontecer trocas ga-
sosas. Essas trocas ocorrem sem
controle vegetal, uma vez que esses
Corte longitudinal do ápice do caule.
poros não são reguláveis. Corte longitudinal do ápice da raiz.

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MÓDULO 27 Tecidos Vegetais II

1. PARÊNQUIMAS ❑ Parênquima aquífero tando as paredes celulares parcial-


Armazena água. Ocorre em plan- mente reforçadas, geralmente nos ân-
Tecidos formados por células vi- tas adaptadas a ambientes secos gulos das células. O espessamento é
vas, com parede celular primária, (xerófitas). dado por celulose e substâncias péc-
pouco diferenciadas; geralmente são ticas, nunca ocorrendo lignina. As
prismáticas. células são prismáticas e geralmente
Os parênquimas podem ser clas- dotadas de cloroplastos.
sificados em: Encontram-se colênquimas nos
caules jovens (verdes), no pecíolo e
❑ Parênquimas clorofilados nas nervuras mais desenvolvidas das
Possuem células ricas em cloro- folhas.
plastos; são divididos em paliçádico
e lacunoso. Ocorrem nas folhas.

Parênquima amilífero.

❑ Parênquima aerífero ou
aerênquima
Acumula ar. Ocorre em plantas
aquáticas.

❑ Parênquima de
Aspecto de um corte transversal de folha preenchimento
Colênquima em corte transversal.
mostrando o mesófilo com os parên- Preenche algumas regiões do
quimas paliçádico e lacunoso. caule e da raiz.
❑ Esclerênquima
Também realiza sustentação me-
cânica nos vegetais.
Pode aparecer formando um ver-
dadeiro tecido ou em células espar-
sas entre as células de outros tecidos.
As células do esclerênquima são
mortas, devido à intensa lignificação
que ocorre em suas membranas.

Parênquima de preenchimento.

Parênquimas clorofilianos. 2. TECIDOS DE


SUSTENTAÇÃO
❑ Parênquimas de reserva MECÂNICA
Células com função de armaze-
namento de vários tipos de substân- Nos vegetais, a sustentação é
cias. feita por dois tecidos: o colênquima e
o esclerênquima.
❑ Parênquima amilífero
Armazena amido. Frequente em ❑ Colênquima
sementes e órgãos subterrâneos. Suas células são vivas, apresen- Esclerênquima em corte transversal.

300 –
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3. TECIDOS DE elemento do vaso e traqueíde. las vivas, alongadas, anucleadas e


CONDUÇÃO Essas células são alongadas, com paredes transversais dotadas de
(VASCULARES) mortas e possuem paredes celulares muitos poros, formando as placas
❑ Lenho ou xilema lignificadas. crivadas.
Tecido especializado em trans- ❑ Líber ou floema Ao lado das células dos vasos
porte de seiva bruta (água e sais mi- Tecido especializado em trans- crivados ocorrem as células anexas
nerais). porte de seiva elaborada (água e ou companheiras, vivas, com núcleo
É constituído principalmente pelo açúcar). volumoso e que, provavelmente, con-
sistema traqueário, no qual pode- Constituído principalmente pelos trolam o metabolismo das células
mos observar dois tipos de células: vasos crivados (liberianos), por célu- componentes dos vasos crivados.

Os diferentes tipos de vasos do xilema em corte longitudinal. Floema em corte longitudinal.

O crescimento da planta pode ser primário ou secundário. O primário é determinado pelos meristemas
localizados nas pontas do caule e da raiz e o secundário pelos meristemas laterais: felogênio e câmbio.

– 301
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MÓDULO 28 Raiz das Angiospermas

1. RAIZ A casca, ou córtex, é composta Em raízes de dicotiledôneas, po-


do parênquima cortical e da endo- dem estar presentes o câmbio e felo-
É o órgão vegetal destinado à derme, que é uma camada especial gênio, que garantem o crescimento
fixação da planta ao substrato, à de células cujas paredes celulares em espessura.
absorção de água e nutrientes mi- aparecem impregnadas com lignina e
nerais do solo e ao acúmulo de subs- suberina.
tâncias de reserva. Em raízes de monocotiledôneas
(milho), as células apresentam refor-
❑ Coifa ços em U e células desprovidas de
É o tecido adulto de proteção dos reforços chamadas células de pas-
meristemas que compõem o ponto sagem. Em raízes de dicotiledôneas
vegetativo. (feijão), as células possuem estrias de
Caspary (reforço de suberina), for-
❑ Ponto vegetativo mando uma espécie de fita ao redor Segmento de raiz de monocotiledônea.
É o conjunto de meristemas da célula.
primários que multiplicam as células O cilindro central é composto de
intensamente por mitoses, garantindo células parenquimáticas que consti-
a produção de novas células e o cres- tuem o periciclo, responsável pela
cimento longitudinal da raiz. formação das raízes secundárias.
Todo o restante é constituído por pa-
❑ Região lisa rênquima de preenchimento, dentro
É a região em que as células pro- do qual encontramos os feixes lenho-
venientes do ponto vegetativo sofrem sos e liberianos. Esses feixes estão
distensão longitudinal. separados e alternados. O centro da
raiz chama-se medula, que pode pos-
Estrutura primária de uma raiz.
❑ Região pilosa (pilífera) suir parênquima, xilema ou ser vazia
É a região em que células da epi- (medula oca).
derme produzem os pelos absorven-
tes.

❑ Região de ramificação
É a região em que se formam as
raízes secundárias, a partir das célu-
las do periciclo. Essas raízes aumen-
tam a fixação do vegetal e a área da
exploração do solo.

❑ Colo
É a região de transição entre a
raiz e o caule.
Segmento de raiz de dicotiledônea.
A anatomia de uma raiz, na sua
estrutura primária, mostra fundamen-
2. TIPOS DE RAÍZES
talmente três regiões:
1 – Epiderme.
❑ Subterrâneas ou terrestres
2 – Casca ou córtex. • Raiz axial ou pivotante:
3 – Cilindro central ou vascular. apresenta um eixo principal que
A epiderme é formada, geral- penetra perpendicularmente no solo
mente, por uma única camada de cé- e emite raízes laterais secundárias em
lulas. A epiderme pluriestratificada direção oblíqua. É encontrada entre
constitui o velame das raízes de as dicotiledôneas (feijão) e gimnos-
orquídeas. permas (pinheiros).
Morfologia da raiz.

302 –
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• Raiz fasciculada: não tem • Raízes-cinturas: são encon-


um eixo principal; todas as raízes tradas em plantas epífitas (orquí-
crescem igualmente. Algumas ficam deas).
na superfície, aproveitando a água
das chuvas passageiras. Caracteriza
as monocotiledôneas (milho, capim).
• Raiz tuberosa: é a raiz mui-
to espessada, em razão do acúmulo
de substâncias de reserva. É axial,
quando a reserva é acumulada so-
mente no eixo principal, e fascicu-
lada, quando a reserva também fica
acumulada nas raízes secundárias Raízes tabulares.
(mandioca, dália etc.).
• Raízes respiratórias ou
pneumatóforos: aparecem em
plantas que vivem em lugares panta-
nosos, onde o oxigênio é consumido
Raiz-cintura de orquídea.
pela grande atividade microbiana, co-
mo ocorre no mangue. Na Avicennia
Crescem enroladas em um supor-
tomentosa (planta de mangue), essas
te, geralmente em caules de árvores.
raízes apresentam geotropismo nega-
Apresentam velame, que é uma
tivo, crescendo para fora do solo. Os
epiderme pluriestratificada, com célu-
pneumatóforos têm poros denomina-
las mortas, e que funciona como uma
dos pneumatódios, que permitem
verdadeira esponja, absorvendo a
a troca gasosa entre a planta e o meio
água que escorre pelos caules.
ambiente.

Raiz tuberosa.

❑ Raízes aéreas
• Raízes-suporte: são raízes
que partem do caule e atingem o solo.
A sua principal função é aumentar a
fixação do vegetal. Aparecem no
milho, plantas de mangue, figueiras
etc. Raiz-cintura de filodendro.

• Raízes estrangulantes:
são raízes resistentes, densamente Pneumatóforos em Avicennia.
ramificadas, que se enrolam no tron-
co de uma árvore que lhes serve de • Raízes grampiformes: são
suporte. Essas raízes crescem em raízes curtas que aderem profunda-
espessura e acabam determinando a mente ao substrato. Ex.: hera.
morte da planta hospedeira por • Raízes sugadoras ou
estrangulamento, pois impedem o haustórios: são raízes modificadas
crescimento e a circulação da seiva de plantas parasitas. Estas raízes pe-
elaborada. Ex.: mata-paus. netram no caule de outra planta e po-
• Raízes tabulares: são raí- dem estabelecer um contato com o
zes achatadas, geralmente encontra- xilema (lenho), de onde sugam a sei-
das em árvores de florestas densas. va bruta. Neste caso, a planta é cha-
Desenvolvem-se horizontalmente à mada semiparasita. Ex.: erva-de-pas-
superfície do solo e são bastante sarinho. Em outros casos, o haustório
achatadas. Além de realizar a fixação, atinge o floema e passa a retirar a
essas raízes são respiratórias. Ex.: seiva elaborada. A planta é chamada
Raiz-suporte ou
escora de plantas do mangue. figueiras. holoparasita. Ex.: cipó-chumbo.
– 303
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MÓDULO 29 Caule das Angiospermas

1. CAULE

É o órgão geralmente aéreo que


produz e sustenta folhas, flores e fru-
tos.
Na morfologia externa, podem-se
reconhecer:

❑ Gema apical (terminal)


É formada por um conjunto de
meristemas primários que multiplicam
as suas células e garantem o cresci-
mento em comprimento. É protegida
pelos primórdios foliares. Não possui
coifa.

❑ Gema lateral (dormente)


É constituída também por meris-
temas primários em repouso de divi-
são celular. É recoberta e protegida
por folhas modificadas chamadas Aspecto de caule de dicotiledônea com estrutura secundária.
catafilos ou escamas.
Encontram-se três regiões: epi- ma. Pode haver ainda células de
derme, casca e cilindro vascular (cen- esclerênquima.
❑ Nó tral). A função principal dessa região é
É a região do caule onde estão a reserva, mas serve também como
inseridas as folhas e as gemas late- ❑ Epiderme
uma região de transporte lateral de
rais. Provida de uma única camada de
nutrientes orgânicos, inorgânicos e
células, é originada do dermatogênio,
água e como uma região de suporte
❑ Entrenó apresentando cutícula, estômatos,
mecânico e de realização da fotossín-
É a região compreendida entre pelos etc.
tese.
dois nós. A epiderme funciona primaria-
mente como um tecido de proteção.
2. ESTRUTURA DO CAULE ❑ Casca ❑ Cilindro central
DAS DICOTILEDÔNEAS Ocupada por um tecido parenqui- Ocupado pelos feixes liberolenho-
mático, localiza-se logo abaixo da epi- sos, relacionados com a condução da
É aquela obtida da atividade dos derme e deriva do periblema. Na seiva elaborada e bruta, e também por
meristemas primários localizados na parte mais periférica, esse parênqui- um tecido parenquimático de en-
gema apical. ma está transformado em colênqui- chimento, localiza-se entre os feixes e,

Cortes transversais do caule de dicotiledônea.


304 –
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conhecimento da idade das plantas.


Os anéis anuais são reconheci-
dos pelo lenho: no período favorável,
o câmbio produz vasos lenhosos com
grande calibre, relacionados com a
condução de água – é o lenho pri-
maveril; no início do período desfa-
vorável, antes de o câmbio entrar em
repouso, são produzidos vasos
lenhosos com pequeno calibre e
grande espessamento das paredes.
Esses vasos parecem estar mais
associados com a sustentação do
que com a condução de água. Tal
lenho é chamado estival.
Com o passar dos anos e com a
produção de novos elementos pelo
câmbio, a planta vai crescendo em
espessura e os elementos do lenho
vão morrendo. A parte do lenho se-
cundário que fica perto do câmbio, a
parte nova, que possui elementos pa-
renquimatosos vivos, chama-se al-
burno. A parte central, morta,
constitui o cerne, que pode apresen-
Corte transversal do caule de milho. tar diferentes colorações e é
aproveitado industrialmente.
às vezes, ocupa a região central, ❑ Câmbio
formando a medula. Muitas vezes, Seja fascicular, seja interfasci-
❑ Felogênio
podemos observar centralmente uma cular, ambos produzem, para o lado
Ao mesmo tempo, na casca, dife-
cavidade chamada medula oca. mais externo, novos elementos do
rencia-se um novo meristema – fe-
Os feixes liberolenhosos nessa líber e raios medulares e, para o lado
logênio –, que produz súber para o
região derivam do pleroma. mais interno, novos elementos do
lado mais externo e células paren-
Basicamente, o tipo de feixe mais lenho e raios medulares.
quimáticas para o lado interno.
comum, encontrado nas dicotiledô- Os chamados raios medulares
neas, é o colateral, em que os ele- são constituídos por células parenqui-
mentos do líber ocupam posição mais máticas, com seu maior comprimento 4. ESTRUTURA DO CAULE
externa e os elementos do lenho, disposto na direção horizontal. Os DAS MONOCOTILEDÔNEAS
posição mais interna. raios medulares são utilizados no
Fato importante nas dicotiledô- transporte rápido de substâncias da Basicamente, o caule mostra em
neas é que o lenho e o líber estão casca para o cilindro central e corte transversal, externamente, um
separados por um tecido merismático vice-versa. tecido epidérmico protetor que envol-
chamado câmbio intrafascicular. Como vimos, da atividade do ve um tecido parenquimático único.
câmbio resultam o floema e o xilema. Mergulhados dentro desse parênqui-
3. ESTRUTURA SECUNDÁRIA Na estrutura secundária, observam-se ma, encontramos os feixes liberole-
uma faixa contínua de líber externa- nhosos, difusamente dispersos. Os
É observada quando a planta mente e uma faixa contínua do lenho feixes condutores são colaterais fe-
começa a produzir novos elementos internamente; nesse instante, não po- chados, isto é, o lenho está voltado
no sentido lateral, na região do caule demos mais reconhecer o câmbio fas- para dentro e o líber para o lado
onde já cessou o crescimento lon- cicular do interfascicular. Nas plantas externo, ficando todo o conjunto en-
gitudinal. Em consequência, a planta de climas em que existem nitidamente volvido por uma bainha de esclerên-
cresce em espessura. Duas estru- uma estação favorável e outra desfa- quima.
turas são responsáveis por esse vorável, podemos perceber a forma- As monocotiledôneas, geralmen-
crescimento: felogênio e câmbio ção dos chamados anéis anuais de te, não apresentam felogênio e tam-
(intrafascicular e interfascicular). crescimento. Tais anéis permitem o re- bém não têm câmbio. Dessa maneira,
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não há crescimento secundário em • Escandescente ou sar - Tubérculo


espessura. Existem, é claro, exce- mentoso: quando se fixa a suporte É o caule espesso que acumula
ções, como no caso de certas mo- por meio de gavinha (uva) ou raízes reservas nutritivas. Ex.: batata-in-
nocotiledôneas dos gêneros Dracena, grampiformes (hera). glesa.
Yucca, Alloe etc. Essas plantas Os tubérculos diferem das raízes
crescem em espessura e formam ❑ Caules aéreos de tuberosas porque apresentam gemas
felogênio e câmbio. estrutura modificada e escamas, formações nunca encon-
tradas nas raízes.
Suculento
5. TIPOS DE CAULE É um caule aéreo espessado em
virtude de acúmulo de água, comum ❑ Caules subterrâneos
❑ Caules aéreos em cactáceas. Ex.: barriguda. de estrutura modificada
de estrutura normal
Cladódio e filocládio Xilopódio
Tronco São caules aéreos achatados É o órgão subterrâneo espessado
É um caule desenvolvido, de es- com aspecto de folhas. Diferem das e resistente que acumula água.
trutura lenhosa, apresentando sempre folhas verdadeiras porque têm gemas No xilopódio, entram também par-
ramificações; caracteriza árvores e que podem produzir flores, o que não tes da raiz, ou seja, não há distinção
arbustos. acontece com as folhas. nítida entre raiz e caule. Caracteriza
O termo cladódio designa ra- as malváceas e é encontrado em
mos longos, achatados e verdes, com
Haste plantas do cerrado.
crescimento indefinido (opúncia). O
É um caule pouco desenvolvido,
termo filocládio refere-se a ramos
de consistência herbácea; caracteriza
laterais, afilados, de crescimento defi-
ervas e subarbustos. Bulbo
nido. Ex.: aspargo.
É o órgão subterrâneo de estru-
Estipe tura complexa, no qual o caule, pro-
É caule cilíndrico, não ramificado, Espinho
priamente dito, é representado por
típico das palmeiras. É o ramo caulinar atrofiado, curto
e pontiagudo. Ex.: laranjeira e limoei- uma porção basal chamada prato.
ro. Na parte inferior, o prato emite raízes
Colmo adventícias. Na parte superior, existe
É um caule nitidamente dividido uma gema protegida por folhas
em nó e entrenó; é típico das gramí- Gavinhas
São estruturas filamentosas que modificadas chamadas catafilos.
neas. O colmo pode ser maciço
(cana) ou oco, fistuloso (bambu). se enrolam em suportes e sustentam
caules escandescentes. Ex.: mara- O bulbo pode ser:
cujá.
Estolão ou estolho
É um caule aéreo rastejante, arti-
Pseudobulbo • Tunicado: o prato é revestido
culado em nó e entrenó; dos nós
É o bulbo aéreo que aparece, por totalmente por escamas desenvolvi-
partem raízes e ramos aéreos. Ex.:
exemplo, nas orquídeas. das, formando túnicas superpostas
morangueiro, grama.
(cebola).
Alado
Volúvel Resulta da expansão lateral do
É um caule que, por meio de um caule, em forma de lâmina. Ex.: car-
movimento chamado circunutação, • Escamoso: o prato é revesti-
queja.
cresce, enrolando-se num suporte. do totalmente por escamas imbrica-
❑ Caules subterrâneos das, pouco desenvolvidas (lírio).
Pode ser: de estrutura normal
• Dextrorso: quando a ponta
se volta para a direita (feijão). Rizoma • Sólido: o prato é bastante de-
É o caule rastejante subterrâneo senvolvido, acumulando reservas (tu-
• Sinistrorso: quando a ponta que produz ramos aéreos e raízes ad- lipa, gengibre), com escamas
se volta para a esquerda (lúpulo). ventícias. Ex.: bananeira, samambaia. reduzidas.
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MÓDULO 30 Folha das Angiospermas

1. FOLHA a) epiderme superior (ventral); • Parênquima lacunoso


pouco desenvolvido ou ausente.
b) epiderme inferior (dorsal);
A folha é um órgão laminar, com
grande superfície, rica em cloroplas- c) mesófilo, no qual podemos re-
tos, altamente adaptada para a reali- conhecer os parênquimas clorofilia- • Estômatos pequenos com
zação de fotossíntese. Além dessa nos paliçádico e lacunoso; movimentos rápidos de abertura e
função, é um importante órgão de fechamento e geralmente localizados
transpiração e respiração (trocas d) nervuras que representam os em covinhas (criptas estomatíferas),
gasosas). tecidos condutores de seiva (floema na epiderme inferior da folha. É muito
e xilema). comum a abertura estomática durante
o período noturno, quando a planta
2. MORFOLOGIA absorve e fixa o gás carbônico do ar
e perde pouca água por transpiração.
4. A FOLHA E O Durante o dia, os estômatos fecham-se
Na folha, podemos observar: MEIO AMBIENTE e a fotossíntese realiza-se com a
utilização do CO2 fixado à noite.
– limbo (lâmina foliar);
❑ Folhas xeromórficas
– nervura (feixes liberolenhosos);
• Esclerênquima desenvol-
São folhas com adaptações mor-
– pecíolo (eixo de sustentação); vido provavelmente para reduzir os
fológicas para proteção contra a per-
efeitos da seca.
da de água. Caracterizam as plantas
– bainha (expansão basal que
xerófilas (xero = seca).
articula a folha com o caule);
Algumas adaptações notáveis
nestas plantas são:
– estípula (expansão filiforme da • Trico, que são pelos epidér-
base do pecíolo). micos, abundantes em muitas
xerófitas, possivelmente agindo
• Redução da superfície
Quanto ao padrão de nervuras, contra o aquecimento excessivo da
foliar e às vezes transformação total
geralmente podemos reconhecer dois superfície foliar.
da folha em espinho.
tipos:

a) folhas com nervuras paralelas


• Cutículas espessas. ❑ Folhas higromórficas
(monocotiledôneas);

b) folhas com nervuras ramifica- São folhas com grande superfície,


• Hipoderma (parênquima
das ou reticuladas (dicotiledôneas). cutículas delgadas, estômatos gran-
aquífero) situado logo abaixo da
epiderme. des e lentos no mecanismo de
abertura e fechamento, geralmente
3. ANATOMIA localizados na epiderme inferior. O
• Parênquima paliçádico parênquima lacunoso é muito desen-
Uma folha apresenta normal- muito desenvolvido reduzindo o volvido, e o parênquima paliçádico
mente: volume dos espaços intercelulares. geralmente está ausente.

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