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Introdução
Caro aluno* 1 ,
Seja bem-vindo!
Aqui, vamos fornecer elementos para que você possa nos acompanhar na tarefa
de conceituação da Psicologia e do conhecimento, em especial o conhecimento
artístico, e de pensar as possíveis relações entre eles.
1
Ao longo do módulo, o gênero masculino será usado, por praticidade e pela forca desse gênero na língua
portuguesa. No entanto, desde já esclarecemos que em cada uso deve estar subentendido que nos refiro a
ambos – o masculino e o feminino. Assim, ao falar em aluno, refiro-me, conjuntamente, a todos: alunas e
alunos. Se falo em professor, estou pensando em professora, e assim por diante.
apenas teórico, nem apenas prático, mas consistirá numa prática-teórica, na medida
em que vamos desenvolver uma relação mútua, de pesquisa e estudo, um exercício de
construção de conhecimento, em que vamos dialogar com vários autores, ao mesmo
tempo em que vamos conversar entre nós, combinado?
Achamos que você vai gostar de participar dessa aventura. Sempre que tiver
oportunidade, você deve ir à biblioteca de seu pólo para complementar sua
aprendizagem, consultando os livros e sítios da internet que indicamos. Tenha sempre
um dicionário à mão, além de seu bloco de notas para registrar suas observações,
pensamentos e reflexões sobre esse tema. Mas, o mais importante, é que você se
sinta um dos autores desse material, resgate suas próprias leituras e estudos, e dê um
sentido pessoal à construção deste conhecimento.
O que é a Psicologia?
Antes de iniciarmos esta construção, pense sobre a pergunta abaixo, sem fazer
consultas a livros ou outros materiais.
O que é a Psicologia?
A Psicologia na História
Mas, é só no último quarto daquele século que a psicologia começa a fazer uso
da observação sistemática e da experimentação. De forma quase concomitante,
William James e Wilhelm Wundt, ambos com formação em filosofia, e que também
tinham estudos em medicina e fisiologia, fundam os primeiros laboratórios de
psicologia. Em 1875, James começa a dar aulas de psicologia e funda o laboratório de
Psicologia Experimental na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América.
Em 1879, Wundt funda um laboratório similar, ainda hoje referido em muitos textos
como sendo o primeiro do gênero, na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Nessa
mesma época, Wundt também publica o primeiro periódico de psicologia experimental
que se conhece. Os trabalhos de Wundt e de James marcaram o início da psicologia
considerada científica e de sua existência como campo de estudo independente da
filosofia.
2
Denis Diderot ( 1713-1784) filósofo e escritor francês. A obra da sua vida foi a edição da Encyclopédie (1750-1772), que leva a cabo
com empenho e entusiasmo apesar de alguma oposição da Igreja Católica e dos poderes estabelecidos. É um dos primeiros autores que
fazem da literatura um ofício, mas sem esquecer nunca que é um filósofo. Preocupava-se sempre com a natureza do homem, a sua
condição, os seus problemas morais e o sentido do destino.
pensadores que viriam a ser identificados como os principais fundadores de escolas
distintas de pensamento na psicologia. Enquanto W. James viria a ter seu nome ligado
ao Pragmatismo americano, W. Wundt viria a ser considerado o pai do Estruturalismo,
escola de pensamento que se propunha/propõe fazer a descrição das estruturas que
compõem a mente.(ou que propunha que a mente era constituída por estruturas e que
a psicologia deveria se ocupar de descrever essas estruturas)
É certo que muitos outros projetos de psicologia não foram abordados neste
pequeno, mas fundamental, livro. Teremos oportunidade neste curso de apresentar e
discutir muitos outros temas da psicologia que interessam à formação do professor.
Neste ponto do nosso texto, é importante, entretanto, marcar alguns embates e
dicotomias que têm acompanhado a psicologia desde os seus inícios até os nossos
dias.
3
Ver a esse respeito o “Comportamento Verbal” de Skinner. E as argumentações de Chomsky contrárias a visão de Skinner
Nas duas primeiras edições desse livro-texto em língua inglesa, a psicologia é
definida como a ‘ciência que estuda o comportamento e a experiência de vida dos
organismos’. Em seguida ‘comportamento’ é definido como se referindo às ‘atividades
de um organismo que podem ser observadas por outra pessoa ou por um instrumento
do experimentador. ‘Experiência’, por sua vez, é entendida como aqueles eventos que
apenas a pessoa que os experiencia pode estar completamente consciente. Assim,
nessa perspectiva, tudo que diz respeito ao campo das percepções, memórias, sonhos,
prazer e dor do indivíduo, interessa à psicologia, embora só possa ser acessado por
inferência.
Entretanto, cabe perguntar: como é possível estudar a mente, uma vez que nós
não podemos ver alguém pensando ou sonhando? Em resposta a esta questão,
podemos dizer que quando Wundt, em seu Laboratório de Psicofisiologia, criou o
método que denominou de introspecção, o fez com a finalidade de explorar a mente ou
consciência do indivíduo. Também W. James estava interessado em explorar a
consciência por meio da introspecção. Este, entretanto, não é um problema de fácil
abordagem, pois, enquanto por meio do método introspectivo de Wundt, o objetivo do
experimentador era explorar a experiência imediata do sujeito, pedindo-lhe para
descrever as sensações percebidas, conseqüentes a uma estimulação sensorial (por
exemplo, uma leve pressão na pele), para James o que interessava era a experiência
profunda. Interessava a ele buscar entender o que fazem os homens e por que o
fazem. Já se vê então que, mesmo quando se concorda que é o funcionamento da
mente e da consciência que interessa à psicologia, o que se entende por isto e o que
deve ser focalizado neste estudo, pode ser muito divergente.
Podemos dizer que, desde Wundt e James, nós temos aprendido bastante
acerca da relação entre cérebro, mente e comportamento e de como estes se
constituem social e culturalmente. Hoje, há um certo consenso de que a psicologia é a
ciência que estuda os processos mentais, sentimentos, pensamentos, razão, nos níveis
consciente e inconsciente, e o comportamento humano e animal. A psicologia é uma
ciência geralmente classificada no contexto das áreas sociais, ou humanas. Entretanto,
ela também tem sido compreendida a partir da sua interface com a biologia e a saúde.
básicas tais como a família e a escola; e do macrossistema, que diz respeito aos
conhecimento.
se desenvolve dentro de um sistema de relações que são afetadas por múltiplos níveis
acima):
seu meio.
Mesossistema, abarcando conexões entre microssistema como o lar, a escola, a
experiências dos indivíduos. Estas podem ser relações formais como o local de
extensa.
Pesquisas mostram que famílias isoladas por ausência ou escassez de vínculos sociais
conflitos.
consiste nas leis, costumes, valores e recursos de uma cultura particular. A ação do
refere-se aos ambientes nos quais a pessoa sequer está presente, mas é afetada por
Tornar-se humano
O bebê humano não nasce pronto. Desde o nascimento e, por um bom tempo,
ele necessita de outras pessoas mais velhas e mais desenvolvidas - mãe e/ou pai,
parentes e cuidadores - que se responsabilizem por ele, que cuidem dele, e,
gradativamente, ele vai ganhando independência. Essas primeiras relações de cuidado
são, ao mesmo tempo, relações voltadas para a garantia da sobrevivência e a
introdução do novo ser humano na sociedade e na cultura em que vive.
Na verdade, antes mesmo de nascermos, já somos seres de um tempo
histórico, de uma cultura específica e ocupamos um lugar na sociedade. Em texto
publicado em 2001 4 , propusemos uma reflexão sobre o processo de construção da
identidade do bebê:
Nasce uma criança. Um novo ser humano começa a habitar nosso planeta, a
fazer parte de um meio social, de uma família. Uma vida se inicia.
De certa forma, essa vida já estava sendo desenhada, antes mesmo do
nascimento. Existia, já, enquanto possibilidade. E já havia, para ela, uma promessa: o
que uma tal sociedade, num certo tempo histórico, num certo lugar do mundo reserva
para seus futuros membros. Uma promessa possível, que tem a ver com a organização
social, econômica e política do lugar, com suas crenças e valores, com seu nível de
desenvolvimento tecnológico, sua forma de produção e sistematização de
conhecimento, com a maneira como essa sociedade concebe “criança” e “educação”,
que tipo de instituições estão envolvidas na educação de crianças, que tipo de
relacionamento os adultos costumam ter com a criança?
4
Pulino, L.H.C.Z., Acolher a criança, educar a criança – uma reflexão. EM Em Aberto, vol. 18, número 73.
Brasília: INEP/MEC, julho de 2001. pp. 29-40.
Essa promessa, ou história possível. é a primeira identidade da criança, ainda
difusa, até porque não designada especificamente para uma determinada criança, mas
importante o suficiente para dar os contornos esperáveis de sua imagem. De que tipo
de relacionamento entre os pais se origina; se foi gerada, gestada e nascida de modo
considerado satisfatório; se é só uma ou se são gêmeas, se é menina, ou menino; a
que etnia e classe social pertencem os pais, qual sua condição econômica e cultural.
Enfim, essas e outras questões são colocadas ou não e são mais ou menos valorizadas
na constituição da promessa social da criança, dependendo de fatores como a época e
o lugar onde nasce a criança.
É o primeiro cenário - este de que falamos. Um cenário que não é sempre igual
e homogêneo, que pode ser desdobrado, composto e recomposto, para dar conta da
multiplicidade de promessas possíveis de se realizarem em histórias específicas que
vão se sobrepondo a ele. (pp.29-30)
Além de já ‘existirmos’ antes do nascimento, no sentido colocado, enquanto
seres humanos, em termos históricos, culturais e sociais, nossa identidade vai se
processando no interior da família. No texto citado acima, apresento (p. 31) esta nova
dimensão da formação da identidade: Moreno 5 (1975) considera que, assim como em
nível fisiológico o bebê se constitui alimentado pela placenta, no nível psíquico ele se
desenvolve alimentado por uma “placenta social, o lócus em que ela mergulha suas
raízes”, que ele denomina matriz de identidade. Nesse sentido, os pais, desde a
concepção ou adoção da criança, começam a concebê-la simbolicamente, imaginando e
conversando sobre seus desejos, dúvidas, preocupações, definindo suas preferências
sobre a aparência, as características da criança, escolhendo seu nome, e chegando
até a conversar com ela. Além disso, o ambiente físico da casa vai sendo transformado
para receber o novo membro da família. Isso se dá de acordo com as condições
econômicas, sociais e as características de personalidade dos pais, de modo que não
podemos falar em um padrão de construção da criança que está sendo gestada, mas
da existência de uma mudança efetiva, que pode incluir aceitação, indiferença ou
rejeição, tanto no nível consciente como no inconsciente.
Você concorda comigo, então, que o indivíduo não pode ser pensado fora de
sua historicidade – a da espécie e a de cada indivíduo – da cultura e da sociedade?
Quando nasce,a criança não encontra um espaço vazio a ser preenchido por ela, mas
começa a viver num universo povoado de imagens inspiradas na possibilidade de sua
5
Moreno, J.L. Psicodrama, Ed. Cultrix, S.P,1975 (p.114).
existência. Com o nascimento, inicia-se um processo de diálogo entre as imagens
criadas pelos pais e a do bebê que surge efetivamente.
A criança pode ser vista, assim, como ao mesmo tempo um ser
conhecido, esperado, e um ser radicalmente novo. Isso porque a criança nunca é
idêntica àquela esperada. Como diz Jorge Larrosa, 6
(...)quando uma criança nasce, um outro aparece entre nós. E é um outro porque é
sempre algo diferente da materialização, da satisfação de uma necessidade, do
cumprimento de um desejo, do complemento de uma carência ou do reaparecimento de
uma perda... Desse ponto de vista, uma criança é algo absolutamente novo, que dissolve a
solidez do nosso mundo e que suspende a certeza que nós temos de nós próprios. Não é o
começo de um processo mais ou menos antecipável, mas uma origem absoluta, um
verdadeiro início.(p.187)
6 Larrosa, J., Pedagogia Profana, Belo Horizonte: Autêntica, 2000.(3a. ed.) Aqui, Larrosa se refere à obra A condição humana, de Hannah Arendt (p.
187).
O desenvolvimento psíquico, ou da percepção, das habilidades motoras, da
memória, do pensamento, da linguagem, da afetividade, da sociabilidade, também se
caracteriza como um processo que ocorre ao longo da vida do indivíduo. Assim se
forma a identidade pessoal de cada indivíduo, que, como vimos, não nasce humano,
mas se torna humano.
É o processo de produção da existência humana porque, por sua relação com a natureza e
os seus semelhantes, o ser humano vai se modificando, alterando aquilo que é necessário
à sua sobrevivência. ... não só cria artefatos, instrumentos, como também desenvolve
idéias (conhecimentos, valores, crenças) e mecanismos para a sua elaboração
(desenvolvimento do raciocínio, planejamento). ... Cada nova interação reflete uma
natureza modificada, pois nela se incorporam criações antes inexistentes, e reflete,
também, um homem já modificado, pois suas necessidades, condições e caminhos para
satisfazê-las são outros que foram sendo construídos pelo próprio homem. É nesse
processo que o homem adquire consciência de que está transformando a natureza para
adaptá-la a suas necessidades, característica que vai diferenciá-lo: a ação humana, ao
contrário da dos animais, é intencional e planejada; em outras palavras, o homem sabe
que sabe.( , p.11)
7
Andery M. A., et al, Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. R.J.:Espaço e Tempo Ed.;
S.P:Educ. 436 páginas.
guerras, competição, terrorismo, motivados por questões econômicas, políticas,
ideológicas, afetivas, éticas, estéticas ou religiosas.
Os diferentes momentos históricos são marcados não só por formas diversas de
o ser humano resolver o problema da subsistência e, em decorrência disso, por
distintas maneiras de organizar a sociedade, mas por diferentes maneiras de olhar o
mundo, de representá-lo, de nomeá-lo, de compreendê-lo, de fazer escolhas, de lidar
com o poder, de julgar as ações suas e de seus semelhantes. E essas diversas formas
de o ser humano significar o mundo, por sua ação concreta e pela linguagem, pela
arte, ciência e formas de organização, constituem seus saberes prático-teóricos, a
ciência, a técnica, a filosofia, as formas ética, política e estética de ver a vida e de
viver. O mundo humano é, assim, o tornar-se, o mundo em processo de construção.
Sobre isso, Paulo Freire 8 (1999) diz:
Gosto de ser homem, de ser gente, porque sei que minha passagem pelo mundo não é
predeterminada, preestabelecida. Que meu “destino” não é um dado, mas algo que precisa
ser feito e de cuja responsabilidade não posso me eximir. Gosto de ser gente porque a
história em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é um tempo de
possibilidades e não de determinismo. Daí que insista tanto na problematização do futuro e
recuse sua inexorabilidade. (pp. 58- 59)
Por que a compreensão do processo histórico vivido pelos seres humanos seria
importante para você, futuro professor de artes?
Porque isso o ajuda a olhar cada um e todos os seus futuros alunos e alunas
como seres humanos, herdeiros de uma cultura e de uma história que vêm sendo
construídas há séculos, e da qual fazem parte. Ajuda-o a olhar a História da Arte, de
todas as formas de arte, como um processo de que vêm participando seus
antepassados e de que você, com seus alunos, vão fazer parte, na medida em que vão
conhecer suas obras, seus significados, e começarem a entrar nessa maravilhosa
aventura da criação artística, experimentando, juntos, novas formas de representar e
significar o mundo, de construir conhecimento.
Como vimos anteriormente, nesta disciplina vamos refletir sobre a contribuição
da Psicologia para a sua formação como professor/a de artes.
Comecemos pensando juntos a respeito desta contribuição.
Como você acha que a Psicologia ajuda na sua formação como
professor de artes, ou arte-educador?
O que acontece na escola, e na sala de aula, em especial?
8
Freire, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. R.J.: Paz e Terra Ed. 11ª.
Edição. (Coleção Leitura), 1999.
A escola é o lugar do encontro entre pessoas que entram em contato com a
produção cultural construída ao longo da história. Professor e estudantes, guiados por
interesses, pessoais, culturais e políticos, e por diretrizes governamentais, exploram os
conteúdos construídos, contextualizam-nos, decifram seu significado, dão-lhe sentido –
grupal, geracional, e pessoal - e o reconstroem.
Podemos dizer, então, que professor e alunos participam da construção do
conhecimento científico, artístico, e cultural em geral, na medida em que seu ensino
não se desvincula de sua produção. Professor e alunos entram em contato com as
produções artísticas das gerações anteriores, interpretam-nas, enriquecendo seu
imaginário, e criando suas próprias. Além disso, esses alunos vão ser profissionais,
professores, ou técnicos, e vão lidar com esse conhecimento que incorporaram nas
salas de aula, em seus laboratórios, ateliês, indústrias, comércio, ou mesmo em
institutos de pesquisa e de produção artística. Eles fazem parte da grande cadeia
histórica de produção/divulgação/ensino/aplicação do conhecimento e da arte.
Vimos mais acima que a identidade da criança, que começa a se formar antes
mesmo de seu nascimento, continua se constituindo ao longo da vida, tanto no interior
da família, como de outras instituições sociais, especialmente na escola. E a escola é
uma instituição que a pessoa pode freqüentar durante muitos anos de sua vida e que,
por isso, tem um papel muito importante na formação da sua identidade.
Diante disso, não resta dúvida de que ao se pensar sobre o ensino-
aprendizagem de artes, deve-se considerar a relação entre pessoas – professores e
alunos – envolvidas no processo de conhecer/produzir/criar arte.
Quem são essas pessoas, esses alunos? Em que momento da vida se
encontram? Como olham o mundo, como o concebem, como o representam, ou
recriam. A Psicologia do Desenvolvimento muito tem a nos dizer sobre essas questões,
uma vez que ela é um campo de investigação que estuda o indivíduo em seu processo
de tornar-se humano, de desenvolver habilidades e relações ao longo de sua vida.
A Psicologia do Desenvolvimento ajuda-o a compreender muito do que é
importante você saber sobre seu aluno, a maneira como ele aprende, dependendo da
idade que tem, das suas condições de vida e do contexto em que vive. Também, pode
orientá-lo sobre como promover a aprendizagem desse aluno, pelo conhecimento a
respeito do momento de desenvolvimento psicológico dele, de sua idade, de seus
interesses.
Aqui, vamos nos dedicar a tratar do desenvolvimento psicológico e de sua
relação com o processo de aprendizagem dos alunos. Dessa forma, vamos considerar
que há diferenças entre os processos de ensino-aprendizagem de artes envolvendo
crianças pequenas, nas escolas de Educação infantil, ou crianças de primeira a quarta
série, ou pré-adolescentes de 11, 12 anos, ou adolescentes, adultos ou pessoas na
terceira idade ou velhice. Isso porque cada contexto tem suas especificidades.
Certamente, você imagina que o momento de desenvolvimento dos alunos, sua
faixa etária, determina, em alguma medida, as características e possibilidades do
ensino de artes, a atuação do professor, sua relação com os alunos, a maneira de
apresentar os conteúdos, as estratégias a serem utilizadas em sala, o sistema de
avaliação. Pois bem: esta é uma das contribuições mais significativas da Psicologia
para a educação em geral, e a educação artística, em especial.
O desenvolvimento psicológico, que dura toda a vida, é um processo que
abrange a formação do psiquismo, em todos os seus aspectos: a inteligência, a
afetividade, a motricidade, a sociabilidade, a linguagem, enfim, todas as funções
mentais, as básicas, de percepção, memória, e as chamadas funções psíquicas
superiores, que são aquelas ligadas ao controle consciente. Consideramos que o
psiquismo se constitui durante a vida do indivíduo, em sua relação com o mundo físico
e as pessoas, numa determinada cultura e num determinado momento histórico,
mediado pelos sistemas simbólicos da cultura, a linguagem gestual, oral, escrita,
visual, artística.
Ora, se o psiquismo se constrói pela mediação simbólico-cultural, podemos
dizer que o desenvolvimento psicológico, e a identidade de uma pessoa são culturais e
sociais, já que a transmissão cultural se dá na relação entre as pessoas que vivem em
sociedade.
Durante a infância e ao longo de sua vida, os indivíduos participam de
processos de socialização para além da família, como as relações entre seus pares na
vida social, ou na escola. Esta é a instituição responsável por sua socialização formal,
incluindo a educação voltada para a aprendizagem de saberes construídos ao longo da
história da humanidade, especialmente o conhecimento científico e a produção
artística, além da educação moral, que os introduz aos valores e crenças típicos de sua
cultura.
Assim, a formação do indivíduo, de sua identidade, é um processo social,
cultural e histórico, que se dá por meio das relações formais e informais na sociedade,
e que se caracteriza por ser um processo de mão dupla: na medida em que o
indivíduo, agindo no mundo e relacionando-se com os outros, constitui-se, ele participa
da construção da sociedade e da cultura.
O desenvolvimento psicológico – das funções psíquicas e da identidade do
indivíduo - baseia-se no funcionamento do sistema nervoso, ou da atividade cerebral,
em especial, mas não se restringe a ela, pois é um processo histórico-cultural-social,
como vimos. O psiquismo se constitui, pois, na síntese de múltiplas determinações.
Vamos estudar alguns teóricos da Psicologia que trataram da questão do
desenvolvimento psicológico, na perspectiva genética, isto é, considerando que
ocorrem mudanças ao longo da vida da pessoa e que essas mudanças têm um caráter
histórico.
Referências Bibliográficas
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FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
FIGUEIREDO, L. C. & SANTI, P. L. R., Psicologia: uma nova introdução. São Paulo:
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LAPOINTE, F. H., Origin and evolution of the term “Psychology”. American
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PULINO, L.H.C.Z., “Acolher a criança, educar a criança – uma reflexão”. EM Em
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http://www.des.emory.edu/mfp/jphotos.html - Biography, chronology, and
photographs of William James, 17 de maio de 2007.