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— ACLINICA A PSICOMOTORA O corpo na linguagem s B Z—) 13.3 QPEe Dados Internacionais de Catalogacio na Publicagio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Levin, Esteban ° A clinica psicomotora : 0 corpo na linguagem / Esteban Levin, 8. ed, ; radugo de Julieta Jerusalinsky, — Petrdpolis, RJ: Vozes, 2009, Titulo original; La clinica psicomotriz : el cuerpo en el lenguaje. ISBN 978-85-326-1544-2 1, Aprendizagem motora 2, Educagio pelo movimento 3. Movimento (Psicologia) 1, Titulo. 3 95.4131 cpp-152. Indices para catilogo sistematico: 1, Psicomotricidade : Psicologia 152.3 Digitalizado com CamScanner 120 | aes eee Soo Capitulo I HISTORIA DA PSICOMOTRICIDADE No devir hist6rico, diferentes acontecimentos v4o modifi- cando e fazendo mais complexa uma pratica que tem como ¢1xo - central o movimento € 0 corpo de um sujeito desejante-—— Na Argentina, a influéncia da psicomotricidade européia (es- pecialmente a francesa) foi delineando uma pratica na qual a utilizagao dos gestos, do movimento e do corpo, nao s6 no ambito clinico, mas também no campo educativo, foi conquistando nume- rosos adeptos. E necess4rio, entao, realizar uma sucinta andlise histérica para marcar os diferentes pontos de sustentagao tedrica que fundamen- tam e influenciam o “campo, psicomotor” e que abrem novas interrogacées acerca de nossa tarefa. Historicamente o termo “psicomotricidade” aparece a partir do discurso médico, mais precisamente neurolégico, quando foi necessdrio, no final do século XIX, nomear as zonas do cértex cerebral situadas mais além das regides “motoras”. .___ No entanto, a histéria da psicomotricidade, na realidade, sua ré-hist6ria”, comoga desde que o homem é humano, quer dizer, desde ue o homem fala, jé que a partir desse instante falar de seu corpo, Nao é 0 homem que constitui o simbélico, € 0 simb6lico que constitui o homem. Quando o homem entra no mundo, entra no simbélico que jé esti ali. E no pode ser homem se nao entra no simbélico.! oe 1. Roland Barthes, El grano de la vor, México, Siglo tiuno, 1983, p. 99 100. 21 Digitalizado com CamScanner dati ¢ corpo discursivo e simbélico (eixo O percarsohiserico os ado pelas diferentes concepeies ee shaman vai construindo acerca do corpo ao longo da histéria, Beverfamos levar em conta que a palavra ore provém, por um lado, do sinscrito garbbas, que significa embrido e, Por outro, do grego karpés, que quer dizer fruto, semente, envoltura e, por Ultimo, do latim corpus, que significa tecido de membros, envoltura da alma, embriao do espirito. Apesar da psicomotricidade se desenvolver como uma pratica independente no século XX, seu nascimento ocorre no momento em que o corpo deixa de ser pura carne para transformar-se num corpo falado. A histéria da psicomotricidade é solidaria & histéria do corpo. Ao longo desta historia foram sendo registradas perguntas tais como: de que modo decodificar?, como explicar as emocées, as sensagdes do corpo?, qual a relagéo entre corpo e alma?, por que diferencié-los?... Diferentes respostas surgem historicamente.-Desde-uma ver- tente artistica, como os espetdculos gregos da época classica (0 ditirambo, o drama satirico, a tragédia e a comédia) “onde se manifesta a liberdade de transformar o seu corpo em érgio do espirito”’, até as respostas filoséficas onde Platao considera o Corpo como o lugar transitério da existéncia no mundo de uma alma imortal. No ‘Século XVII René Descartes estabelece “princfpios funda- mentais” a partir dos quais se acentua a dicotomia: o corpo, “que € apenas uma coisa externa que nao pensa”, e a alma, substancia Pensante por exceléncia que-“nao participa de nada daquilo que Pertence ao corpo”, O dualismo cartes) icali: it 7 esiano radicaliza-s. -se da seguinte maneira: ¢ ¢ formula-se 8 f evidente que cu, minha alma, pela qual sow o que sou, é completa ¢ verdadeiramente diferente do men corpo, € pode Ser ou existir sem ele,4 {Lo obvio y lo obtuso, Madrid, Paidés, 1986, p. 71s: Meditaciones metafisicas, México, Porria, 1979, p. 84: Digitalizado com CamScanner No entanto, na mesma meditacao metafisica® nao hd “dtivida” de que esta “verdade” duvida de si mesma: ‘A natureza ensinou-me também por essas sensagdes de dor, de fome, de sede, etc., que no habito meu corpo, mas que estou unido a ele tao estreitamente e de tal modo confundido e mistu- ado com 0 meu corpo, que compomos um todo. Se assim nao fosse, quando meu corpo estéferido eu néo sentiria dor, dado que sou uma coisa que pensa,e perceberia a dor como piloto percebe pela sua vista o dano de seu barco; quando meu corpo necessitasse comer ou beber, limitar-me-ia a entendédo simplesmente, até mesmo sem ser advertido pelas confusas sensagées da fore e da sede, porque estas sensagGes néo sio, com efeito, mais do que certas maneias confusas de pensar, que dependem e provém da unio e da mistura do espfrito e do corpo: Portanto o dualismo corpo-alma marca, por um lado, a sepa- ragao, mas, ao mesmo tempo ¢ contraditoriamente, sua unido. Separacdes e unides que formam uma continuidade e articulagéo ao longo da histéria, tentando encontrar explicagées do corpo e da “alma” do snjeito. a ni om o desenvolvimento ¢ as descobertas da neurofisiologia, comeca a constatar-se que hé diferentes disfungdes graves semi que océrebro eta lesionado ou sem quealesaoenela ‘localizadaclaramente. Sao descobertos “distirbios da atividade gestual”, “da ativida- Timniaicalé sem que anatomicamente estejampcircunscritosp uma 4rea ou parte do sistema nervoso. Portanto, o anétomo-clfnico” que determinava para cada sintoma sua corres- pondente leséo focal jf nao podia explicar alguns fendmenos patol6gicos, Justamente, € a necessidade médica de encontrar uma drea que explique certos fendmenos clinicos que nomeia pela primeira vez a As primeiras pesquisas que dio origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neuroldgico. etre Ti, Pie si 5. Idem, p. 80s, 6, Idem, p, 85, 7, Jean Le Camus, O corpo em discussdo, Porto Alegre, Artes Médicas, 1986, p. 19. 23 Digitalizado com CamScanner WZ 5, Dupré afirma que: érie de trabalhos, descrevi, sob o nome de debilidade Numa Sum estado patoldgico congenito da motilidade, fre. Kientemente hereditArio e familiar, caracterizado pela exage- a ‘os tendinosos, perturbacio do reflexo dg io dos reflex: planta do pé,sincinesia, to sibilidade de realizar voluntariamente a resolugio muscular, — Propus, para designar este (ltimo problema, o termo de para- tonia. Quase todos os sujeitos paraténicos s4o pouco aptos para a execugdo de movimentos delicados, complicados ou répidos, Na vida quotidiana mostram-se indbeis, torpes, desajeitados, como costuma-se dizer. E Dupré, entao, em 1909, a partir de seus estudos clinicos, quem define a sindrome da debilidade motora,.composta de sincinesias, paratonias € inabilidades, sem que estas sejam atribufveis a um dano qu lesdo extrapiramidal. : A figura de Dupré é de fundamental importancia para o ambito psicomotor, jé que é ele quem afirma a independéncia da debilida- de motora (antecedente do sintoma psicomotor) de um possivel correlato neurolégico. £ este neurologista francés quem-rempe £om os pressupostos da correspondéncia biunfvoca entre-atocali- _2acao_neuroldgica e as perturbagdes-motoras da infancia. Como assinala Bergés: “E deste modo que a psicomotricidade separou-se Progressivamente da neuropsicopatologia do movimento”. Ainda que Dupré’ estabeleca certa correspondéncia entre a debilidade motora ¢ a debilidade mental: . , > E natural observar a insuficiéncia do desenvolvimento 4° cérebro motor ¢ suas dependéncias nos individuos que ae sentam, ao mesino tempo, insuificiéncia no desenvolvimen apreaelacica apie een —_____ ite 8. E. Dupré © R Mercklen, “La debilité motice dans ses rapports avec 8 mentale”, XIX Congrés des Alienistes et Neurologistes francais, Nante 9 Jean Bergis, Seminario ditado em Buenos Aires, outubro de 1988: 24 Digitalizado com CamScanner do cérebro psiquico. Por isso, é constatada freqtientemente a associagao da debilidade motora com adebilidade mental,!° também pontua a diferenga e a nao correspondéncia entre a debilida- de mental e a debilidade motora. Remeto, para isso, 20 seminério ditado por Berges em Buenos Aires, durante outubro de 1988: © que ele (Dupré) pds em discussao e criticou com este titulo, € que era possivel ser torpe sem ser idiota. E, inicialmente, 6 daf que 0 Psico de Psicomotricidade ganha sua origem. A origem esté na diferenga estabelecida por Dupré entre a cog- nigio e a psicomotricidade. —————_ Henry Wallon, em 1925, ocupa-se do movimento humano dan-_ do-lhe uma categoria fundante como instrumento na construcao do Psiquismo. Como aponta Jean Le Camus, Wallon estuda a. ahacio entre motricidade ¢ cardter, diferentemente de Dupré, que correla- ciona a motricidade com a inteligéncia. Esta diferenca permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, aemogao, a0 meio ambiente aos habitos da crianga. Assim sendo, para este autor, o conhecime! to, a consciéncia € 0 desenvolvimento geral da personalidade nao podem ser isolados das emogées. Estas primeiras relagdes de similitudes e diferencas entre a debilidade motora ¢ a debilidade mental, somadas 4 contribuicao de Wallon relativa 4 ago reciproca entre movimento, emogao, individuo e meio ambiente, fazem o,delineamento de um primeiro momento do campo psicomotor: € 0 momento do “paralelismo” €, portanto, da relagao (tentativa de separacdo do dualism ore. siano) entre 0 corpo, expressado basicamente no movimento, ¢ a mente, expressada no desenvolvimento intelectual e emocional do individuo. A pratica psicomotora comega com Edouay ilmain em 1935, que sstabelece, continuando as perspectivas tedricas que abriu H, Wallon, umexame psicomotor:. ~~ ~~ ~~~ Ra, O exame psicomotor ndo tem um simples estatuto de instrumento de medida, mas também de meio de diagndstico, de indicagio teraptutica e de progndstco. Nest registro Guilmain figura como um inovador. 10. £, Dupré e B Mercklen, ob, cit, citado por Jean Le Camus, ob, cit, p. 21. 11, Jean Le Camus, 0b. cit., p. 26, 25 Digitalizado com CamScanner Guilnfain determina um novo método de trabalho: a reedu.- cago psicomotora, que estabelece por meio de diferentes téc. nicas (provenientes da neuropsiquiatria infantil) um modelo dj exercitag6es: exercicios para reeducar a atividade tonica (exer. cicios de mimica, de atitudes e je equilfbrios), @ atividade de re agio € 0 controle motor (exercicios Fitmicos, de coordenagao e habilidade motora, e exercicios que tendem a diminuir sine a8); A aA Ad Esta primeira aproximagao “pratica” entre a conduta psico- motora e o cardter da crianga foi utilizada, posteriormente, como modelo para diferentes reeducagées pedagégicas e psicomotoras (como, por exemplo, na Argentina, a linha te6rica que sustenta M. Costallat), Parece situar-se af um ponto de origem clinico-pedagégica da prtica psicomotora, sustentado basicamente na neurologia infan- til e nas idéias wallonianas, que Guilmain tenta levar a pratica por meio de exercicios para criangas instaveis, torpes ou débeis mo- toras; quer dizer, criangas que apresentavam um déficit em seu funcionamento motor e que, portanto, nao governavam eficaz- mente seu corpo, o que ocasionava uma série de problemas.em seu meio social. Neste primeiro momento da pratica psicomotora, estabele- cida uma correlacdo entre a debilidade mental_e a debilidade motora, entre 0 cardter e a atividadé cinética, na qual a disfungao “MOTTE ocupa o Ingar preponderante, junto com o défci instru mental. Em 1947-48, Julian de Ajuriaguerra eR. Diatkine redefine © conceito de dehilidade motora considerando-a como uma SY drome com suas préprias particularidades. Ajuriaguerra, junto a G, Soubiran, acentuam estas concepsdes numa carta dirigida A Escola Francesa de Terapia Psicomotors ano 1960. til, £ Ajuriaguerra quem, em seu Manual de psiquiatria inf delimita com clareza os transtornos psicomotores, “que 7 situa entre o neuroldgico ¢ o psiquidtrico”. E é nesta oucllagio . 05 transtornos propriamente psicomotores ¢, dentro deles: a ; ra, no sentide [...] entrardo certas formas de debilidade- moter es psi? i instabilidades ¢ mais definido da palavra, as instabil 26 Digitalizado com CamScanner motoras, certas torpezas de origem emocional, ou as causadas Por transtornos de lateralizacéo, dispraxias evolutivas,certas disfragias, tiques, gaguciras, etc. O objetivo de uma terapéutica psicomotora seré, nao s6 modi- ficar 0 tOnus de base (sincinesias ou qualquer tipo de atos) influir na habilidade, na posicao e na rapidez, mas também, na organizacio do sistema corporal, modificando 0 corpo em seu conjunto, no modo de perceber ¢ apreender as aferéncias emocionais. Com estas novas cont a psicomotricidade diferencia se de outras disciplinas adquirindo sua propria especificida autonomia. O exame ou avaliagdo psicomotora, com suas respectivas provas (controle motor e t6nico; estruturag4o do espago, do ritmo, das coordenagées, da habilidade motora) é aperfeigoado, e € estabelecido um método e um diagnéstico destinados a delimitar o transtorno psicomotor com suas caracterfsticas e a orientar as modalidades de intervencao do terapeuta. Assim, fica estabelecido um exame psicomotor padrao e um programa de sesses de acordo com as categorias dos distirbios motores que 0 sujeito apresenta: Neste sentido, ao falar de terapéuticas psicomotoras, fazemos referéncia nio s6 as terapéuticas puramente motoras, mas também a mudanga psicomotora funcional evolutiva. Jana década de 70, diferentes autores (J. Bergés, R. Diatkine, B. Jolivet, C. Launay, S. Lebovici) definem a psicomotricidade como “uma motricidade em relacao”. Comega a ser delimitada uma diferenga entre uma postura reeducativa ¢ uma terapéutica que, ao despreocupar-se da técnica 12. Julién de Ajuriaguerra, Manual de psiqulatria infantil, Buenos Aires, Masson, 1984, p. 238. 13, Idem, p. 239. 14, Idem, p. 239. 15. Jean Le Camus, ob, cit., p. 468. 27 Digitalizado com CamScanner instrumentalista € a0 ocupar-se do corpo em sua “globalidade” (conceito que abordaremos mais adiante), vai dando, progressiva- mente, maior importincia & relagao a afetividade e ao emocional, E por esta via que varios autores da psicandlise, como S. Freud, M. Klein, D. Winnicott, W. Reich, B Schilder, J. Lacan, M. Man- noni, F Dolto, Samf Alf, entre outros, comegam a ser tomados citados de um modo fragmentado pelos psicomotricistas, a partir desta preocupagio que se Ihes apresenta e em apoio as suas hipéteses sobre a vida emotiva. A. Lapierre e B. Aucoutourier delimitam suas posturas e, na mesma época (1977), Sami Alf propSe um esboco de uma teoria psicanalitica da psicomotricidade. Entio, com a contribuigao da psicanilise, s4o introduzidos, nos diltimos quinze anos, varios conceitos (inconsciente, transfe- réncia, imagem corporal, etc.) que marcam uma virada nas pers- pectivas clinico-tedricas do campo psicomotor. A clinica psicomotora na Argentina tem uma histéria sucinta que & preciso percorrer brevemente para que, incluidos nela, possamos redimensionar nossa prépria pratica clinica. As origens da psicomotricidade na Argentina estio estreitamente relacionadas com a criagio dos primeiros institutos de reeducagao para deficientes mentais de diversos graus. Um destes primeiros institutos foi fundado, em 1946/47, pela doutora Tobar Garcia, e chamou-se Instituto Argentino de Reedu- cacién. Era integrado por médicos, psic6logos ¢ professores de diferentes dreas. Em 1949 sao criadas mais duas escolas especiais que durante duas décadas sio as tnicas escolas estatais em funcionamento. No regulamento destas escolas fica situada a criagio de uma drea de psicomotricidade, Esta é a primeira vez. que na Argentina € reg" lamentado ¢ inscrito o trabalho psicomotor dentro deste ambite particular do ensino especial. Porém, é s6 na década de 1970 que a psicomotricidade efinica vai registrar seus infcios fora do campo especificamente educativ' : tendo cont ponto de partida a influéncia da psicomottic' a francesa, . i « - tnd, " te Nesta primeira época, na Franga, a pritica clinica era basican™ reeducativa, a partir dos trabalhos de J. de Ajuriaguerta dos a” 28 ll Digitalizado com CamScanner em diante € do reconhecimento feito, principalmente, a autores como H. Wallon e J. Piaget. Nesses momentos as respostas técnicas fundamentavam-se em exercicios programados previamente e em avaliagdes muito bem estruturadas e definidas. A atividade lidica geralmente se subdivi- dia numa parte de jogo livre e em outra de jogo orientado e dirigido, onde transcorria o essencial da sesso terapéutica. Sao fundamentalmente estas propostas de trabalho as que marcam a verdadeira origem da terapia psicomotora na Argentina. Uma origem que poderiamos situar entre o primeiro e o segundo corte epistemolégico, dos quais falaremos mais adiante, segundo © percurso histérico da clinica psicomotora que estamos propondo. Na Argentina, durante os anos 70, é criado na cidade de C6rdoba o professorado doutor Domingo Cabred, que desde essa época € 0 tinico que possui uma carreira de psicomotricidade autorizada oficialmente, outorgando o titulo de Professor em educag4o psicomotora. Em 1974, Delia de Votadoro imprime o que viria a ser 0 tinico mimero dos Cuadernos de terapia psicomotora (ntimero especial da Sociedade Internacional de Terapia Psicomotora para paises de Imgua espanhola). Aproximadamente em 1975, Lydia F. de Coriat propée, por escrito, as autoridades educativas a necessidade da existéncia da carreira de psicomotricidade na Universidade de Buenos Aires. Neste escrito justifica essa necessidade nos seguintes termos: que seria itil para 0 estudo e tratamento de criangas e jovens com problemas corporais vinculados a alteragoes da afetivida- de, do esquema corporal e de sua lateralidade e maturagao; que o determinismo psicogénico dos processos nosolégicos que so inclufdos dentro dos quadros psicomotores, apontam a necessidade de uma preparagao mais especificamente orienta- da ao estudo e & terapéutica dos mesmos; [J] : que seria importante congregar numa carreira com titulo habi- litante todos os conhecimentos ¢ técnicas necessdrios ¢ que até entao encontram-se dispersos entre diversas carreiras taiscomo fonoaudiclogia fisioterapia, educagio fisica, pedagogia espe- cial, etc,; 29 Digitalizado com CamScanner Vv que em patses onde foi particularmente pesquisado o problema da psicomotri idade existem carreiras universitérias dedicadas a Peennto (Eranga, Sufca ¢ Bélgica, nas quais é uma pés-gra- duagio para psiclogos). A escassa bibliografia traduzida do Ambito psicomotor na década de 70 (fundamentalmente H. Wallon e J. de Ajuriaguerra), acrescentam-se, com o passat do tempo, diferentes autores france- ses como J. Le Bouch, B. ‘Aucoutourier, L. Pick, P Vayer, J. Berges, Samf Alf, H. Bucher, S. Lebovici, J.C. Coste, A. Lapierre, etc. Acles, por sua vez, somam-se autores da Argentina como D.M. Costallat (cujo primeiro livro é editado no ano 1969); A. Esparza e A, Petroli, que se ocupam especificamente da psicomotricidade ‘no jardim de infancia. No ano 1977 é criada a Asociacién Argentina de Psicomotri- cidad (Associagéo Argentina de Psicomotricidade) e a partir de 1980 a difusio e extensio da psicomotricidade na Argentina é acrescida e propagada, porém ainda sem um reconhecimento que legalize a sua pratica (talvez este livro possa contribuir para isso). O ange da psicanilise na Argentina, assim como a corrente clinica de psicomotricidade francesa, nos ‘iltimos anos, vém tendo a maior influéncia em nosso campo. Nesta conjuncao € determina- Gao poderemos encontrar 0 fundamento deste escrito. Os cortes epistemolégicos Historicamente, desde 0 ano 1900 até a presente data, © percurso e a evolugdo do campo psicomotor desenvolvem-se, 20 nosso modo de ver, de acordo com diferentes cortes qué vio modificando e esbogando um acionar clinico especifico. Primeiro corte epistemoldgico Encontramos, em primeiro lugar, as praticas reeducativas de- terminadas pelo conceito de paralelismo mental-motor. Primeir® corte epistemolgico que procura superar 0 dualismo cartesian© através desta relagio e correspondéncia. iquiatria é deter num corp? ador que $° _ Nesta primeira etapa, a influéncia da neuropsi minante numa clinica centrada no aspecto motor € instrumental, ferramenta de trabalho para 0 reeduc propée a concerté-lo, Digitalizado com CamScanner Segundo corte epistemolégico Neste segundo lugar, com as navas contribuigdes do ambito psicolégico, especialmente da psicologia genética, situamos uma passagem de motor ao corpo, aonde este é transformado num instrumento de construgao da inteligéncia humana. Segundo corte epistemol6gico no qual 0 acento passa do motor ao corpo como produtor em sua acao da vida intelectiva. O olhar j4 nao estaré m: ado no motor, mas num corpo em movimento. Desta forma, j4 ndo se trata de uma reeducagdo, mas de uma terapia psicomotora que se ocupa, observa e opera num corpo em movimento que se desloca, que constréi a realidade, que conhece amedida que comea a movimentar-se, que sente, que se emociona € cuja emogdo manifesta-se tonicamente. Assim, o ténus muscular, as posturas, 0 gesto, a emogdo (representante da ordem psfquica do corpo) seriam producées do corpo que poderiam ser abordadas num enfoque terapéutico psi- comotor. Esta abordagem e este enfoque “global” do corpo da pessoa estariam determinados por trés dimensdes nas quais o psicomotri- cista centrard o seu olhar; uma dimensio instrumental, uma dimen- sdo cognitiva e outra dimensao t6nica-emocional. Terceiro corte epistemoldgico Em terceiro lugar, com a contribuigéo da teoria psicanalitica, surge uma virada conceptual fundamental, que éa exposta nos Ja nio se trata mais de uma “globalidade”, de uma “totalida- de”, mas de um sujeito dividido, excindid, com um corpo real Desta forma, a inclusao do i inconsciente no ambito psicomotor traz “conseqiiéncias i sub-vertem o seu olhar, diferenciando-o claramente das relagoes terapeuticas empaticas ou est A sc. cmocional (posturas “vivenc! 31 Digitalizado com CamScanner ¥. mais”, “expressivas”, “vinculares”, etc.) que, ainda que emcen cOMSTHerar CONCCTIOS TT PRICATATS, tais como transferén- cia, regressao, sublimagao, etc., a partir do olhar que propomos esvaziam e desvirtuam o cardter que a psicandlise deu aos mesmos. perdendo-se, assim, a possibilidade de que se possam articular com a pratica psicomotora, E esta possibilidade de articulagao e dife- renga que tentaremos esbogar neste texto. Resumindo: ao longo da hist6ria do Ambito psicomotor podem ser especificadas diferentes transicdes : do motor ao corpo, ¢ deste ao sujeito com um corpo em movimento. J4 nao é possfvel confun- dir 0 corpo com 0 sujeito, ou o sujeito com o corpo. Eles nao sao sindnimos, nem tampouco equivalentes, e é justamente porque tampouco podem ser desamarrados um do outro que a psicomo- tricidade € nomeada e, portanto, existe. Dimensio } Efeito Ll da falta da linguagem Estes cortes e passagens nao s6 respondem a um devir histéri- co, mas fundamentalmente a diferentes interrogagdes que a pratica clinica foi gerando. Sao passagens Idgicas e nao cronol6gicas, respondem a uma légica determinada sustentada numa concep¢a0 particular acerca do sujeito e que trazem consigo diferentes respos tas tedricas, clinicas e éticas. ™—s ~depender a prética clfnica que se leve a termo.. Atualmente, encontramos = eedagiopsconotas. SS ™)\ or filtimo, constituindo o motivo deste PR eee aiviant . 4 jeito Analisaremos agora, a partir da concepgao de sTogicos 0 advém de cada priti¢a-clinica, os diferentes momentos campo psicomotor. Em fins do século XIX e infcio do XX, com 0 aug empirico-positivista, surge a partir do campo da new ue a uma demanda particular: que se saiba curar aquilo 4 32 4 Digitalizado com CamScanner psiquiatria nfo sabe como se produz ou ao que responde, nem tampouco como curar, Esta demanda particular secciona e parcela 0 sujeito no motor, na linguagem ¢ na aprendizagem, Surgem, assim, diferentes prati- casi a psicomotric dade {para O-motor), a fonoaudiologia (para a aan) ¢ a psicopedagogia (para a aprendizagem e o conheci- mento). ——————— E necessfrio que nos detenhamos para analisar sucintamente os antecedentes que deram origem a estas praticas clinicas, Todas elas tém uma raiz em comum, partiram das descobertas da neuro- logiay especialmente da fisiologia nervosa de meados do século ~~ XIX. Referimo-nos as descobertas que permitiram iniciar a renciacdo e localizagao das diferentes fungdes dos centros corticais. ‘A neurofisiologia, impulsionada pelos achados histol6gicos ¢ pelo uso de técnicas eletrofisiolégicas, consegue caracterizar bio- logicamente os atos reflexos. Sherrington (1857-1952) descreve os fendmenos de excitagio ¢ de inibigdo centrais ¢ os diferentes niveis do sistema nervoso que governam os reflexos. Sherrington distingue a sensibilidade exte- roceptiva, a interoceptiva ¢ ainda diferencia uma terceira, a sensi bilidade proprioceptiva. Relaciona a atividade tdnica com as atividades e movimentos viscerais ¢ deste conjunto Taz uma mesma fungio A qual denominoufuncao postural (que posteriormente sera fundamental para a pratica psicomotora). Os estudos de Sechenov (1829-1905) aprofundam ¢ ampliam a concepgio dos reflexos Especificam como 08 atos motores esto regulados pelos niveis superior es cerebrais ¢ variam de acordo com um estado de inibigao ou excitagao. Sua ‘obra Os reflexos do cérebro determinou uma grande influéncia sobre seu discipulo Pavlov (1849-1936) cuja concepgio tinha também um sentido localizacio- nista, O perfodo denominado ‘localizacionisa” revs origem em 186 Dom a primeira apresentagao de Broca, € método andtomo- clinico atribufa uma relagio direta e de causalidade entre a lesio 05 sintomas, 0 que decretou a doutrina dos centros cerebrais que intervinham diretamente nas fungoes, por exemplo na psicomotri- cidade, na linguagem € 20 conhecimento. a pata de um animal estaria na parte n ambos 05 lados da fissura de tora na frente ¢ a sensitiva atrds, a Para Broca, por exemplo, superior e externa do cérebro, Rolando, com a representagdo mot 33 Digitalizado com CamScanner tapa de localizagées cerebrais, comegam a ser constatados distarbios nas fungées, como a afasia, perturba- goes praxicas (apraxias, dispraxias), agnosias, alexias, dislexias, transtornos da ‘atividade gestual, etc. Ao mesmo tempo, comega a verificar-se que, para certas perturbagées € transtornos, a correspondéncia biunfvoca entre © centro cortical e a funcio falhava, ou seja, que certas disfungdes nao tinham uma localiza- cio fixa no cérebro. Deste modo, comega a ser detectado que havia disfungées que nao correspondiam ponto a ponto com uma lesio cerebral. A partir desta ¢ Para subsanar estas disfungdes surgem diferentes praticas. A ortofonia e a logopedia, antecessoras imediatas da fonoaudiologia, a pedagogia especial, antecessora da psicopedagogia (caberia aqui mencionar a W. Pringl em 1896, ocupou-se dos problemas na aprendizagem de criangas com inteligéncia normal, itribuindo-os a uma “condigio cerebral congénita”, fazendo-os depender de um “distirbio anatémico’ y,*e a histoterapia, ante- cessora da psicomotricidade, Devemos mencionar outros jicomotor, a. indstica terapéutica e a psicodinamia. Colocamos como antecessora do campo psicomotor a gindsti- ca terapéutica divulgada por Daniel Gottlieb Moriz Shreber (pai de Daniel P Shreber, conhecido por suas célebres Memorias de um doente dos nervos que S. Freud analisou detidamente ) devido nao sé a vasta repercussao de sua obra na Alemanha¢ em todaa Europa mas também a gr: imilitude com certas reeducag6es psicomo- toras, 50 e 1860) dez livros D.G.M, Shreber escreveu, apenas ented 186) . aTeDEE Fo ‘ : da numerosos artigos cuja tematica preponderant rem torno ), Em seus pedagogia e da beleza do corpo (harmonia corpo-alma) textos sao descritos, especialmente, sistemas de exercicios e técnicas de gintstica com o objetivo de obtere atingir a armonia do espist0¢ do corpo,'” 16, Juan Azcoaga, Las funciones cerebralessuperiores y sus en eladulto, Buenos Aires, Paidés, 1983, p. 46- res 17. Imago, n,9, “Un estudio: La extraordinaria Familia Schreber" Buen? “ Letra Viva, 1980, p, 112. 34 4 Digitalizado com CamScanner Entre os postulados da gindstica terapéutica encontram-se os métodos ¢ as técnicas necessirias ¢ obrigatérias para obter uma postura correta. Além disso, inventa aparelhos Para que as criangas Se posicionem adequadamente, de acordo as normas estabelecidas em seus livros. A boa postura fisica € por ele associada com a retidao moral, pe posmue Tact : ee, € considera necessario realizar adequadamente as exercitagoes corporais todos os dias: Nao 6 utiliza um aparelho chamado der Geradhalter, que mantém a crianga sentada bem reta, mas também vétios cuttes Pequenos aparelhos adaptados a todos os possiveis “defeinns corporais? Em seu livro: Calipedia o educacién de la beleza del cuerpo y del espiritu mediante el armonioso berfeccionamiento de toda naturaleza humana, escrito em 1858, D.G.M. Shreber diz que se 3 instauracdo dos hébitos sios que devem reger as condutas do ac urante © primeiro ano de vida encontraren Obstacd os, Seré necessdrio o emprego de castigos corporais: - SS 18. Idem, p. 114 € 115. 35 Digitalizado com CamScanner Tal procedimento serd necessdrio somente uma vez, no maximo duuas, e tornamo-nos donos da crianga para sempre. A partir de entao bastaré um olhar, uma palavra ou uma atitude ameaca- dora para dirigir a crianga, Também define o peri re os dois e os sete anos como a época dos castigos corporais com acao terapéutica- Este método de gindstica terapéutica tem como objetivo curar doentes, culti corpo humano e, deste modo, modificar © homem e a sociedade em seu conjunto gracas & educagio Fisica. O outro antecessor que situamos é a Psicodinamia de Philippe Tissié. E J, Le Camus quem propée a Psicodinamia do dr. Tissié no comego do século XX como o antecessor mais imediato da prética Psicomotora na Franga. P. Tissié opde-se A educagio fisica militarizada ¢ propde wnt educacao pelo movimento (questo que sera retomada por Le haha a Procurando dar um carater cientifico ao seu método de tral - fins Partir da integragao das diferentes descobertas ¢ conquistas ¢™ Pret re men 19. Idem, p, 100, 36 Digitalizado com CamScanner do século XIX. Segundo Le Camus: “Tissié pode ser.considerado, com razao, o precursor dos psicomotricistas atuais™ No percurso histérico que estamos propondo deveriamos esgatar © papel da neuropsiquiatria infantil, j& que sao as suas demandas que comecam a impor a necessidade e incluir técnica que resolvam os problemas préxico-motores (apraxias, sincinesias, Paratonias, inabilidades, etc.) que nao tinham solugio, e para os quais nao se encontrava uma correspondéncia precisa com uma localizagao cerebral. Assim, sio criadas diferentes listagens de operagdes técnicas com a finalidade de reparar e avaliar o défici em jogo numa-crianca, Um exemplo disto é 0 exame psicomotor que propée Pierre Vayer com base no protétipo de exame psico- motor que, em 1935, introduz Guilman, dando origem a reeduca- $80 psicomatora. Vayer propée diferentes testes de coordenacdo dinamica das mos, coordenacdo dinamica geral, controle postural, controle segmentdrio, organizac4o do espaco-temporal, observagées da lateralidade, rapidez e conduta respirat6ria, a partir dos quais é elaborado um perfil psicomotor, e sao determinados os exercicios a realizar pata subsanar 0 dete que o perfil registra, Por exemplo, no item coordenagio dindmica das mos Vayer toma como base o teste de Ozeretsky (1921) revisado por Guilman em_1248 em seu livro: Tests moteurs et tests psicho-moteurs, no qual uma crianga de sete anos deve fazer: uuma bolinha com um pedaco de papel de seda (5 cm x 5 cm) com uma mio 56, com a palma para baixo e sem ajuda da outra mao. Apés quinze segundos de repouso deve fazer © mesmo exercicio com a outra méo. Falhas: tempo limite excedido, bolinha pouco compacta, Duracio: 15 segundos com a mio direita e 20 segundos com a mao esquerda. Niimero de tenta- tivas: duas para cada um, Apés a execucao de todos os itens ¢ em concordancia ao perfil, € atribuida uma idade ¢ sio observados os diferentes “tipos de a ee, 20. Jean Le Camus, ob. cit, p. 25, 21. Pierre Vayer, El mito frente al mundo, Madvid, Editorial Cientfico-Médica, 197, p. 21. 37 Digitalizado com CamScanner inadaptagao infantil”. De acordo com as dificuldades avaliadas 55 estabelecidos os exercicios a realizar nao s6 nas sessées, mas também em casa. Por exemplo: Uma menina de 5 anos e trés meses com uma descoordenacs ¢ torpeza (crianca hiperprotegida). [...] Modalidades da reedu. cago: 2 periodicidade foi a seguinte: uma sessio semanal (seguida muito regularmente) feita em presenca da me aquem dévamos, ao finalizar a sesso, as nogGes das situagies de exercicios a realizar durante a semana. Duragao das situagées de exercicios com a crianga: uns 30 minutos. A sesso de trabalho estava composta de duas situag6es: 1) educagdo do esquema corporal; 2) acrianca frente 20 mundo dos objetos: organizagao percep- tiva e conhecimento.”* A psicomotricidade surge com respostas técnicas e uniformes pela demanda propiciada basicamente pela neuropsiquiatria do infcio do século. Daf que na primeira prdtica psicomotora que Guilman instrumentalizou era proposto como objetivo: Reeducar a atividade ténica (com exercicios de atiude, de equilibrio e de mimica); melhorar a atividade de relacéo (com exercicios de dissociacZo e coordenagao motora com apoio adico), desenvolver 0 controle motor (com exercicios 4g inibicao para os instaveis e de desinibigao para os emotivos)- | cox Surge, em 1935, com este verdadeiro plano de exert 108, a Teeducacio psicomotora. moora nichetinstrumentalza um método de reeducaga0 psico” 28 diferry 132! Prope modalidades de trabalho para desenvolver . * - 5s. ee io fazendo intervir as posigdes oe O sujeito deverd eqycst (eterminar um circuit fechadon? 80 exercicio, continuar a marcha, que constitui 0 fundo’ (esta marche 28,8 Wal serdo destacadas diferentes POS fe tamboril), " POd® ser ritmada com um metronome 22, ‘Werte Va logo — 77, ». 174, """ #!didlogo corporal, Madrid, Editorial Cientiico MédiCe® 2, Jean Le Camus, ob. i 38 br 4 Digitalizado com CamScanner Quando a marcha e 0 percurso so automatizados e 0 sujeito est receptivo, dar a adverténcia: “Atencao ao sinal (quando diga “jl” passards a seguinte posigio: de pé contra a parede Procurando tocé-la com todo © corpo, ficarés nesta posicio até anova ordem”, Deixar passar uns instantes antes de dar osinal, Repetir a adverténcia se for necessério, Deixar o sujeito de 10 a 15 segundos na posicao antes de fazé-lo continuar a marcha, Anunciar assim, respeitando as mesmas modalidades, posic6es vatiadas, por exemplo: “~ parado em pé na frente de um espelho, verificar se 0 corpo esta bem reto; ~ parado em pé esticando-se ao méximo; ~sentado, apoiando as costas na parede, pernas estendidas; ~ parado em pé totalmente imével; ~sentado no chio, pernas dobradas; ~sentado sobre o tapete, petnas cruzadas.” Quando uma posigéo é desconhecida pelo sujeito, faca-lhe uma demonstracao; faca com que aefetuce volte a dar a adverténcia uns instantes depois. D.M, de Costallat, fiel expoente desta linha de trabalho ree- duettivo, € quenintrodur a pritca sicomataa ee heres Costallat coloca que a cada idade mi ‘otora corresponde um plano (exercicios) de reeducaco; que sio 5 adequados a diferentes itens, Por exemplo: coordenagio estitica, coordenacdo dinémica, mar nual e viso-motora, dindmica geral, etc, Costallat diz: Para as desordens da coordenagio estitica ~ equi Fecorrer a exercicios de gindstica, Os métodos comuns de Bindstica dirigidos ao desenvolvimento muscular nfo bastam ata o débil mental; para que aleancem seus fins de educagio ecpmotora deverdo demandar um esforgo de atenio que Ponha o psiquismo em jogo, constituindo, asint,um verdader segnttodo de ortopedia mental. [| osexercicios de equilfoio qpbuirdo a progressio determinada por idades motoras io Teste SAREE Levisio Guilman, ¢ fario parte, Barcelona, Toray-Masson, 39 Digitalizado com CamScanner dos planos de reeducagio da atividade toni reeducagio da rT siore imobilidade, de inibio de silencio. “08% Desde esta concepgio reeducativa sio instrumentalizadas téc nicas que sio graduadas ¢ classificadas de acordo com aidade motora, Assim, dentro do item de coordenagio viso-motora subs dividem-se os exercicios de picotar, bordar, recortar com o dedo, recortar com tesoura, colorit ¢ contornat, modelar ¢ desenh; 5 nda umn deles com sua correspondente graduagio ¢ freqiléncia, Por exemplo, dentro dos exercfcios de bordado, para criangas de 4/5 anos de idade motora, como ainda nao tém destreza suficiente propdem-se ..) 08 exerefcios de enfiar agulha e pérolas que, por serem de ‘ —- \ coordenagio deljenda, precedem e preparam part execugio do bordado (...)"*. Em relagio ao bordado, seguindo suas escalas ¢ pardmetros para criangas de 6 anos de idade motora, Costallat indica, entre outros exercfcios, os seguintes: por uma tabuinhs sm e outro. Jha a cada 1) Passar fio plistico em ponto de alinhavo furada, Os furos devem ter Lem de distancia entre ¥ Jo: acrescentar uma pérola ou uma massin Val ponto. 2) Pasar fos plésticos em ponto de alinhavo em linha horion tal e logo vertical utilizando uma tabuinha de 12cm x 7 a dle madeira leve ou papeldo forte, furados. Usando 2 7, tabuinha exercitar os seguintes pontos: bastilha, costur brecostura, ponto atrés, ponto em cruz. meieo com 3) Utilizando duas tabuinhas furadas, uni-las, PINE do onto paralelo ¢, logo, em eruz, Usartréstabuinhss seguit ‘© mesmo processo. dos : fura 4) Usando desenhos grandes e de contornos SPF io m papelto forte ow madeira, costurd-los utilizando os pontos conhecidos. ae 25. Dalil , ApH Molina de Costallay, Peicomotricidad 1, Buenos 26, Idem, p. 79, 16, Aires, Losaday 198 40 tl Digitalizado com CamScanner Observacao: a esta altura das atividades as: ‘criangas terdo realizado os exercicios de alinhavo de agulha que correspondem ao progra- ma de educacio manual da mesma etapa e desenvolvimento motor (6 anos), de modo que j4 poderdo comecar a bordar com agulhas de buraco grande alinhavadas com linha lucero.”” A respeito do exame psicomotor, Costallat propée diferentes estratégias de acordo com os resultados obtidos nos exercicios: Entio, de acordo ao exame psicomotor de base, emitiremos a designacao correspondente A categoria atingida pela forma de comportamento posta em evidéncia: normalidade psicomoto- 1a, debilidade psicomotora leve, debilidade psicomotora nitida, debilidade psicomotora profunda, imbecilidade psicomotora, idiotia psicomotora,”® Esta reeducagao psicomotora responde a uma concep¢ao de sujeito que traz consigo o conceito de corpo como uma maquina de misculos que nao funcionam e que, portanto, devem ser reparados, e, a medida que isto é feito, melhoram Patalclamente” (doutrina do paralelismo mental-motor), a inteligéncia e o carater do infante, ainda que, deste modo, como jé sabemos o que fica af perdido como resto € 0 corpo de im sujeito desejante. Por outro lado, a terapia psicomotora, como dissemos ante- tiormente, dé importancia & Ao, a do ¢ a afetividade, considerando 0 corpo, a motricidade e a emocionalidade como uma globalidade € uma totalidade em si mesmas. OOo’ Deste modo, s4o constantemente ressaltadas a globalidade e a totalidade da pessoa. E desta postura que se origina o conceito de Sujeito que subjaz: ente bio-psico-social, concepgio totalizadora e integracionista cujas respostas frente as perguntas pelas causas sio tautoldgicas, j4 que respondem que as causas sio bio-psico-sociais, deixando vazia a demanda que o sujeito manifesta em sua pertur- bacio psicomotora, Aste respeito s diz; Passam o tempo a encher-nos o saco dizendo que o tomam €m sua totalidade. Por que seria ele total? Disto, nada sabemos. ue 27, Idem, p. 81 ¢ 82. 28, Dalia Molina de Costallat, La identidad psicomotris, Buenos Aires, Losada, 1984, p. 140, 41 | Ea —ss | Digitalizado com CamScanner J6 encontraram vocés seres totais? Talvez. seja um ideal, Ey ‘nunca vi nenhum. Eu nao sou total, nao. Nem vocés. Se se fosse total, estaria cada um no seu canto, total, nao estariamos aqui juntos, tentando organizar-nos, como se diz, E 0 sujeito, nao ‘em sua totalidade, porém em sua abertura.’ A terapia psicomotora centra 0 seu olhar, a partir da comuni- cagio ¢ da expressio do corpo, no intercambio € no vinculo corporal, na relagao corporal entre a pessoa do terapeuta ea pessoa do paciente em didlogo de empatia tonica. A passagem da terapia A clinica psicomotora implica ocupar-nos do sujeito e nao mais da pessoa, ocupar-nos da transferéncia ¢ nao da empatia, do vinculo ou da comunicagio corporal; ocupar-nos da vertente simbélica ¢ nao da expressiva, ou seja, implica que nos detenhamos na estru- tura dos transtornos psicomotores € nao apenas em seus signos. Portanto, a clinica psicomotora € aquela na qual o eixo €2 transferéncia ¢, nela, o corpo real, imaginario € simbélico é dado aver ao olhar do psicomotricista, O sujeito diz com seu corpo, com sua motricidade, com seus gestos, €, portanto, espera ser olhadoe escutado na transferéncia desde um lugar simbélico. Esta concep Ao de sujeito, como veremos adiante, implica um corte que o 4% a. uma divisio no real, no imaginério e no simbélico. A psicandlise como referéncia, como em outro moment & hist6ria, foram a neuropsiquiatria ou a psicologia genética, per™ tiu-nos redimensionar nossa clinica desde outra posigio até agors cludida; esta é a posigéo simbdlica que fundamenta 2 analftico ¢ que nos interpela constantemente. Especificamente, nossa clfnica ocupa-se dos problemas pice jas em adultos motores da crianga, apesar de existirem experiéncias adolescentes (ver capftulo IX). : gio’ Se interpelamos a crianga de acordo com 0s temPO® Ke que acabamos de situar, encontraremos diferentes Tes! 308 A i ico) ¢ Se interpelamos uma maquina (modelo cibernétieO ot uma crianga, a resposta seré a de uma maquina a motrizmente bem ou mal. itio® Call 29, Jacques Lacan, Elo en la teoria cde Feud yen la tenon PI M, Buenos Aires, Paidés, 1986, p. 365. 42 Digitalizado com CamScanner Se, por outro lado, interpelamos a “totalidade” nao encontra- remos nada “singular”, pois o desejo da crianga fica naufragado na generalidade. Se interpelamos um sujeito, nao é para obter em primeiro lugar algo dele, como por exemplo uma resposta global ou um resultado motor, mas pelo contr4rio, como tem demonstrado a clinica, a crianga é um sujeito ¢ portanto . E af que perpassa o interrogante clit fica colocado em “jogo” na transferéncia. Apés este percurso histérico podemos situar a psicomotricida- de como_uma praxis eminentemente clinica, cujos rdos teGricos constituem um conjunto de nogoes que servenT a0 psico— motricista fundamentar, guiar e guiar-se numa pratica. E-daf gue surge a Tandameniagio ceplcasio der pris Tanto, constantemente estas nogoes vao sendo postasa prova pelo proprio andamento clinico, eee A pratica, a praxis da psicomotricidade foi e ird indicando o caminho. As modificagées e os momentos de mudanga sio produto eefeito da dinamica clinica, que nos interpelae questiona constan- temente, pois ali h4 urh sujeito que na sua sintomatologia psico- motora fala ¢ é falado por outré. A psicomotricidade é uma praxis no duplo sentido que tinha esta palavra para os gregos, Por um lado como um afazer (com o fazer) ¢, por outro, como uma vertente ética. A clinica psicomotora implica estes dois sentidos, conformando o afazer ¢ os interrogan- tes nos quais estamos submersos. 43 — Digitalizado com CamScanner

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