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Especialização em Estudos sobre a Infância e a Adolescência

Módulo IV

Desenvolvimento Neuropsicomotor na
Adolescência

Aspectos neuropsicomotores da
adolescência

Prof. Wericson Miguel Martins


@psicanalise.pc
Organização
Sexta, 27
19hoo às 20h00 - Aula
20h00 às 20h20 - Debate e questões
20h20 às 20h30 - Intervalo
20h30 às 21h40 - Aula
21h40 às 22h00 - Debate e questões
Sábado, 28
08hoo às 09h30 - Aula
09h30 às 09h50 - Debate e questões
09h50 às 10h00 - Intervalo
10h00 às 11h40 - Aula
11h40 às 12h00 - Debate e questões
Planejamento

Aula I
Adolescência x Puberdade
Puberdade: mudanças físicas e sinais da puberdade
Sinais de maturidade sexual
Implicações e consequências

Aula II
Desenvolvimento cognitivo e emocional
Identidade e crise
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo clínico

Prof. Wericson Miguel Martins


@psicanalise.pc
Introduzindo...

No mundo ocidental, a adolescência foi reconhecida como um período único de


desenvolvimento no ciclo de vida no século XX.

Na maior parte do mundo, a adolescência leva mais tempo e é menos definida


do que no passado. Existem inúmeros motivos para essa mudança social. Cito
dois:
Puberdade mais cedo
Adultez emergente (sociedade pós-industrializadas, permeadas pela alta
tecnologia)

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Introduzindo...

Qualquer momento de transição e mudança no ciclo de vida oferece


oportunidades para avanços (cognitiva e social, autonomia, autoestima e
intimidade), mas riscos também. A adolescência não é diferente.

Adolescência pode ser definida como: uma transição no


desenvolvimento entre a infância e a vida adulta que impõe grandes
mudanças físicas, cognitivas e psicossociais.

Logo, a adolescência não é uma categoria física ou biológica claramente


definida – é uma construção social.

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Adolescência x Puberdade

É interessante notar que a questão da adolescência, tal como se situa para


a maioria dos autores, tem como referência inicial transformações
centralizadas em dois eixos básicos: o primeiro de ordem genital e o outro
de ordem da Gestalt do corpo.

E a adolescência é, antes de mais nada: 1) um longo trabalho de


elaboração de escolhas e 2) um longo trabalho de elaboração da falta no
Outro.

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Adolescência x Puberdade

A Puberdade pode ser definida como o processo pelo qual o indivíduo


atinge a maturidade sexual e a capacidade de se reproduzir.
Envolve alterações físicas notáveis que fazem parte de um longo e
complexo processo de maturação.

Adolescência e puberdade não são sinônimos.

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Desenvolvimento físico

O advento da puberdade não é causado por nenhum fator isolado. Em


vez disso, a puberdade resulta de uma cadeia de respostas hormonais.

Proceso: o hipotálamo libera níveis elevados de hormônio liberador de


gonadotrofina (GnRH – gonadotropin releasing hormone). O aumento do
GnRH leva, então, a uma elevação no hormônio luteinizante (LH –
luteinizing hormone) e no hormônio folículo-estimulante (FSH – follicle-
stimulating hormone).
Esses hormônios vão exercer suas ações de formas diferentes nos meninos
e nas meninas.

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A ativação do eixo HPG (hipotálamo-
pituitário-gonadal) requer um sinal do
sistema nervoso central (SNC) para o
hipotálamo, que estimula a produção
de LH e FSH pela pituitária.
Desenvolvimento físico

A puberdade pode ser dividida em dois estágios básicos: adrenarca e


gonadarca.

Adrenarca ocorre entre os 6 e 8 anos. Durante esse estágio, as


glândulas adrenais secretam níveis cada vez maiores de androgênios. Os
níveis aumentam de forma gradual, mas consistente.
Influenciando o crescimento de pelos púbicos, axilares e faciais. Além do
rápido crescimento do corpo, oleosidade da pele e desenvolvimento de
odores.

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Desenvolvimento Físico

Gonadarca, é marcado pelo amadurecimento dos órgãos sexuais, que


ativa um segundo surto de produção de DHEA (dehidroepiandrosterona).
Com isso, os ovários da menina aumentam sua produção de estrogênio,
que estimula o crescimento dos órgãos genitais femininos, os seios e o
desenvolvimento dos pelos púbicos e axilares.

Nos meninos, os testículos aumentam a produção de androgênios,


principalmente a testosterona, o que leva ao crescimento dos órgãos
genitais masculinos, da massa muscular e dos pelos do corpo.

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Amadurecimento Sexual

O processo puberal leva normalmente de 3 a 4 anos para ambos os


sexos. Com início, por volta dos 8 ou 9 anos.

Os caracteres sexuais primários são os órgãos necessários para a


reprodução.
Nas mulheres, os órgãos sexuais incluem os ovários, as tubas uterinas, o
útero, o clitóris e a vagina.
Nos homens, eles incluem os testículos, o pênis, o saco escrotal, as
vesículas seminais e a próstata. Durante a puberdade, esses órgãos
aumentam de tamanho e amadurecem.

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Amadurecimento Sexual

Os caracteres sexuais secundários são sinais fisiológicos do


amadurecimento sexual que não envolvem diretamente os órgãos sexuais.
Ex: as alterações na voz e na textura da pele, o desenvolvimento
muscular e o crescimento de pelos púbicos, faciais, axilares e corporais.

A seguir, alguns sinais da puberdade:

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Sinais da puberdade

tecido mamário e pelos púbicos nas meninas e aumento dos testículos


nos meninos;
Alguns meninos adolescentes, experimentam um aumento temporário
das mamas; esse desenvolvimento é normal e geralmente não dura
mais de 18 meses.
Os pelos púbicos, a princípio lisos e sedosos, acabam ficando grossos,
escuros e encaracolados.
A voz torna-se mais grave, em parte por causa do crescimento da
laringe, e em parte em resposta à produção de hormônios masculinos.
A pele torna-se mais grossa e oleosa, dando origem a espinhas e
cravos
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Amadurecimento Sexual

O estirão de crescimento adolescente – um aumento rápido em


altura, peso, musculatura e ossatura que ocorre durante a puberdade.
Ele dura normalmente em torno de dois anos; pouco depois de seu
término, o jovem atinge a maturidade sexual. Tanto o hormônio de
crescimento como os hormônios sexuais (androgênios e estrogênio)
contribuem para esse padrão de crescimento normal.

O estirão ocorre, normalmente, dois anos antes nas meninas que nos
meninos. Atingem sua altura total aos 15 (meninas) e aos 17 (meninos).

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Debate e quetões
Sinais de maturidade sexual

O principal sinal de maturidade sexual nos meninos é a produção de


esperma. A primeira ejaculação, ou espermarca, ocorre em média aos 13
anos. O menino pode acordar e encontrar uma mancha úmida ou ressecada
no lençol – resultado de uma polução noturna, uma ejaculação involuntária
de sêmen.

O principal sinal de maturidade sexual na menina é a menstruação, uma


eliminação mensal do revestimento uterino. A primeira menstruação,
denominada menarca. A menarca é um evento significativo, mas o
sistema reprodutor pode ainda não estar funcionalmente maduro, pois
ciclos menstruais podem ocorrer sem óvulos, especialmente em meninas
muito jovens.
.

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Algumas implicações

Fatores ambientais que influenciam o ritmo do desenvolvimento puberal.


Um dos fatores é o padrão de vida mais elevado.
A subnutrição, seja ela causada por escassez de alimentos ou por doença,
está associada com o atraso do início da puberdade e a redução do estirão
de crescimento da puberdade.
O momento de início da atividade hormonal que sinaliza o início da
puberdade parece depender, em parte, de ser alcançada uma quantidade
crítica de gordura corporal necessária para o sucesso da reprodução.

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Possíveis consequências

A maturação precoce aumenta a probabilidade de maturação esquelética


acelerada e dificuldades psicossociais e está associada com problemas
de saúde na vida adulta (cardiovasculares e obesidade).

As pesquisas sobre meninos com maturação precoce produzem


resultados mistos.

É difícil fazer generalizações sobre os efeitos psicológicos do início do


desenvolvimento puberal, pois estes dependem de como o adolescente
e as outras pessoas no seu mundo interpretam as mudanças associadas.

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O cérebro adolescente

O cérebro adolescente contribui para alguns desses comportamentos


adolescentes característicos (impulsividade, comportamento de risco,
urgência em novas experiências). Os adolescentes processam informação
de forma diferente dos adultos (e das crianças).

Vejamos o esquema a seguir:

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O cérebro adoelscente
e sua “imaturidade”

O aumento contínuo na substância branca, as fibras nervosas que interligam


porções distantes do cérebro, permite a transmissão mais rápida de informações
e a melhor comunicação entre os hemisférios.

A desativação de conexões dendríticas não utilizadas durante a infância resulta


em uma redução na densidade da substância cinzenta, ou células nervosas, o
que aumenta a eficiência do cérebro.

Ao final da adolescência os jovens têm menos conexões neuronais, porém mais


fortes, mais regulares e mais eficazes.
O cérebro adoelscente
e sua “imaturidade”

Os lobos frontais normalmente estão associados com resolução de problemas,


controle do impulso, estabelecimento de metas, planejamento e outros
comportamentos semelhantes, em geral associados com o monitoramento de
comportamentos sociais. Porem, nesta etapa, seu desenvolvimento é lento.

Como o desenvolvimento começa na porção posterior do cérebro e avança para a


frente, as áreas subcorticais, incluindo os sistemas límbico e de recompensa,
amadurecem mais cedo.

O subdesenvolvimento dos sistemas corticais frontais, em comparação, pode ajudar


a explicar por que os adolescentes tendem a buscar excitações e novidades e por
que muitos deles têm dificuldade para se concentrar em metas de longo prazo.
Apresentações corporais e relacionais

A aquisição da linguagem depende de um aparato neurobiológico e social, ou


seja, de um bom desenvolvimento de todas as estruturas cerebrais, de um parto
sem intercorrências e da interação social desde sua concepção.

A linguagem não consiste apenas na comunicação e transmissão de ideias pelas


palavras, pois envolve também gestos (comunicação não verbal), sentidos,
ações, movimentos que expressam emoções sociais e experiências da criança
com as coisas e as pessoas, que são cruciais no desenvolvimento cognitivo.

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Influências e/ou implicações
a depender do contexto e da mediação.

O exercício – ou a falta dele – afeta tanto a saúde física quanto a mental


Recomenda-se que os adolescentes de 13 a 18 anos durmam regularmente
de 8 a 10 horas, no mínimo, a cada período de 24 horas.
A privação do sono pode diminuir a motivação e causar irritabilidade, e a
concentração e o desempenho escolar podem ser afetados.
O momento da secreção do hormônio melatonina é um indicador de quando
o cérebro está pronto para dormir. Após a puberdade, essa secreção ocorre
durante a noite, o que faz com que os adolescentes tenham dificuldade para
dormir cedo.

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a depender do contexto e da mediação.

Adulto
F
I
Sinal Perceptivo
L
Constante
Simultâneo T
Excessivo R
A
R Processamento
Variantes/Invariantes
Representações /Ideias
Linguagem

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CONAÇÃO/VOLIÇÃO
Adulto
F
I IMPULSO
Sinal Sensorial L
afetação

Constante T AFETO/HUMOR
R temperamento
Simultâneo A Processamento
R
Excessivo Variantes/Invariantes
AÇÃO
Representações /Ideias

Pensamento / Linguagem MEMÓRIA


CONSCIÊNCIA fixar, codificar e evocar

FUNÇÃO
INTEGRADORA
ATENÇÃO / CONCENTRAÇÃO
SOCIALMENTE
CONSTRUÍDA depende do Outro

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A riqueza dos desvios da norma
André Bullinger

O psicólogo é frequentemente solicitado a avaliar o nível e as condutas do


adolescente.
Trata-se, o mais frequentemente, de situar um indivíduo em relação a uma norma.

Nesta concepção, o adolescente se resume a uma cifra ou uma constelação de valores


que são comparados aos valores (ditos) de referência.

Isto não nos permite conhecer o processo ou movimento de desenvolvimento.

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A riqueza dos desvios da norma
André Bullinger

Assim, o ‘desvio da norma’ não é uma ferramenta que permite construir um


projeto de cuidados, sendo visto como um déficit ou uma falha a ser preenchida,
corrigida, (re)adequada.

Avaliação psicométrica: situar o adolescente em um plano de desenvolvimento.


Avaliação psicodinâmica: entrever o sentido no qual se evolui e os apoios dos
quais se recorre.

Logo, temos dois componentes de avaliação: uma avaliação normatizada e uma


descrição das condutas visando uma perspectiva de cuidado.

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A riqueza dos desvios da norma
André Bullinger

Para Bullinger, o “ajuste ao tônus do outro, a postura do corpo imposta pelo


diálogo é provavelmente a origem do controle das relações espaciais relativas
ao organismo. É deste espaço de fusão oferecido pelo diálogo tônico que
emergem a individualização e as primeiras imagens corporais.”

Continua: “ levar em consideração estas particularidades, não se referir à norma,


faz com que compreendamos a riqueza e a sutileza destas condutas. Fazer a
economia desta descentração diminui e mutila as pessoas que as produzem.
Tentar conhecer os mecanismos permite posicionar os meios de
cuidado adaptados. ”

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Debate e quetões
Até amanhã!

Sábado - 08h às 12h


Aula II

Aspectos neuropsicomotores da adolescência


Desenvolvimento cognitivo e emocional
Identidade e crise
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo clínico
Desenvolvimento cognitivo e emocional

Para Freud, o ponto crucial da adolescência é o desprendimento da


autoridade dos pais.

A separação em questão não é do Outro agora incorporado, mas dos pais


imaginarizados e idealizados, e só poderá acontecer se a incorporação
dos pais — como diria Freud a propósito do período que chamou de
latência — tiver obtido êxito. Quanto mais sólida tal incorporação, maior
terá sido a herança dos pais que servirá como recurso para o sujeito
adolescente agir conforme suas próprias decisões.

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Desenvolvimento cognitivo e emocional

Consoante a esta posição, o esforço de um adolescente para


compreender o self faz parte de um processo saudável e vital,
fundamentado nas realizações das etapas anteriores, e lança os alicerces
para lidar com os desafios da idade adulta.

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Desenvolvimento cognitivo e emocional

A principal tarefa da adolescência, para Erikson (1968), é confrontar a


crise de identidade versus confusão de identidade.

A identidade, segundo Erikson, forma-se quando os jovens resolvem três


questões importantes: a escolha de uma ocupação, a adoção de valores
sob os quais viver e o desenvolvimento de uma identidade sexual
satisfatória.

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Desenvolvimento cognitivo e emocional

Construir uma identidade, para Erikson (1972), implica em definir quem a


pessoa é, quais são seus valores e quais as direções que deseja seguir
pela vida.

Entende que identidade é uma concepção de si mesmo, composta de


valores, crenças e metas com os quais o indivíduo está solidamente
comprometido.

Para Erikson, essa confusão de identidade ou de papel é o maior perigo


desse estágio. A incapacidade de formar um senso de identidade coeso
pode atrasar consideravelmente a maturidade psicológica.

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Desenvolvimento cognitivo e emocional

A formação da identidade recebe a influência de fatores intrapessoais (as


capacidades inatas do indivíduo e as características adquiridas da
personalidade), de fatores interpessoais (identificações com outras
pessoas) e de fatores culturais (valores sociais a que uma pessoa está
exposta, tanto globais quanto comunitários).

Para tal, apresenta-se duas variáveis: crise (exploração) e


comprometimento (compromisso).

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Desenvolvimento cognitivo e emocional

A crise, no contexto das teorias de Erikson, não se refere a um evento


estressante, como perder o emprego ou não conseguir pagar as contas. Na
verdade, o termo se refere ao processo de lidar com a questão de em que
acreditar e quem ser.

Diante de muitas modificações fisiológicas, próprias da puberdade, o


adolescente precisa, neste momento, rever suas posições infantis diante das
incertezas dos papéis da vida adulta que lhe são apresentados.

A identidade e sua crise teriam dimensões tanto sociais quanto psíquicas,


assim como uma dimensão psico-histórica.

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Desenvolvimento cognitivo e emocional

Especialização em Estudos sobre a Infância e a Adolescência


Desenvolvimento cognitivo e emocional

Um aspecto importante da individuação é a criação de fronteiras de


controle entre si e os pais, e esse processo pode acarretar conflito familiar.

Entende-se por individuação, a luta do adolescente por autonomia e


identidade pessoal.

Novamente, a cultura interfere fortemente neste aspecto.

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Desenvolvimento cognitivo e emocional

Modernidade líquida - Baumann

Nessa nova era, estamos total ou parcialmente “deslocados” ou não


estamos em lugar algum. (Sociedade do Cansaço - Chul-Han)

À medida que nos deparamos com as incertezas e as inseguranças da


“modernidade líquida”, nossas identidades sociais, culturais, profissionais,
religiosas e sexuais sofrem um processo de transformação contínua. Isso
nos leva a buscar relações transitórias e fugazes e faz com que soframos
as angústias inerentes a essa situação.

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Desenvolvimento cognitivo e emocional

O homem da época líquido-moderna é aquele que vive sem vínculos de


relacionamentos, de compromissos, ou seja, aquele que não está seguro quanto
ao tipo de relacionamento que deseja ter (Bauman, 2005).
A contemporaneidade é concebida como transitória permitindo que o sujeito
pósmoderno assuma uma multiplicidade de papéis. Portanto o adolescente
sobre o qual estamos trabalhando encontra-se neste espaço efêmero onde sua
identidade é construída e reconstruída socialmente, desconstruindo a ideia de
uma identidade permanente.

Especialização em Estudos sobre a Infância e a Adolescência


Desenvolvimento cognitivo e emocional

A adolescência possui uma natureza biopsicossocial, sofrendo a auto-


imagem/self desestruturações que conduzem o indivíduo a crises
existenciais.

A angústia é um fenômeno psíquico inerente ao ser humano. Sua


etiologia está na percepção do próprio indivíduo como responsável
sobre seu estar-no-mundo (Kierkegaard e Heidegger)
Desenvolvimento cognitivo e emocional

Com isso a angústia torna-se intensa na grande maioria dos adolescentes


pela emergência da incerteza, insegurança e necessidade de atitude
diante do porvir.

As crises de identidade, portanto, são incisivas nesse período, vide


que há mudanças abruptas em nível biológico, contextual e
psicológico/individual deste sujeito
Desenvolvimento cognitivo e emocional

Visão psicanalítica
A adolescência – às voltas da pressão pulsional, cultural contemporânea e
as demandas individuais e subjetivas – exige do adolescente recursos
psíquicos para percorrer o processo de adolescer e tornar-se adulto.

No setting analítico com os adolescentes é preciso estar claro para o


analista o que é demanda da própria adolescência e o que já se tornou
sintomático e/ou psicopatológico.
Desenvolvimento cognitivo e emocional

Visão psicanalítica
As contribuições de Freud centram-se, especialmente, nos desarranjos
psíquicos promovidos pela puberdade.

Para a psicanálise freudiana, a sexualidade não se inicia na puberdade,


mas se constitui enquanto processo evolutivo, vivenciado de diversas
formas, desde o nascimento.
Desenvolvimento cognitivo e emocional

Visão psicanalítica

Vale ressaltar duas diferenças práticas: o termo "puberdade" diz respeito a uma
"crise puramente individual" que não causa qualquer problema social (Mannoni,
1984).
A adolescência, no entanto, distingue-se da puberdade pelo fato de trazer
consigo a ameaça de um conflito de gerações.
Debate e quetões
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo
clínico

Eis as questões...

Algofobia - (livro: sociedade paliativa - a dor hoje)


Cultura da curtição
Economificação da cultura e culturificação da economia
A vida precisa ser instagramável
Medicalização e Patologização
transformação de comportamentos desviantes em doenças ou transtornos
mentais;
transformação de problemas não psicológicos em psicológicos
A questão não é o consumo em si, mas a função simbólica existente na
aquisição de determinado produto.
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo
clínico

Eis as questões...

Os atendimentos com adolescentes exigem do analista uma maior


flexibilidade, tolerância a atuações e ataques constantes, e absoluta
atenção aos aspectos de sigilo e neutralidade.

O analista deve reconhecer-se como um continente, com a capacidade


de absorver momentaneamente as angústias do paciente para então
compreendê-las, decifrá-las e “devolvê-las ao paciente desintoxicadas e
em forma de interpretação”.
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo
clínico

Eis as questões...

Em algum momento, o adolescente (segundo Jean Jacques Rassial)


tentará colocar o analista em alguma das posições (adulto, cúmplice,
mestre). O analista não deve ocupar nenhuma de tais posições, pois:
enquanto adulto, será visto como qualquer outro adulto incapaz de
compreender as 'dores adolescentes'.
enquanto cúmplice, partilhando fraquezas, produz-se um apoio
identificatório.
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo
clínico

Eis as questões...

Por fim, enquanto mestre, o analista seria o detentor do saber, o


possuidor de todas as respostas e que jamais se engana.

Cabe ao analista se diferenciar do mestre, não sendo aquele que possui


todas as repostas, mas aquele que abre questões e as deixa abertas.
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo
clínico

Eis as questões...

A análise com adolescentes ultrapassa as palavras, nesse cenário o


silêncio é frequente, o analista deve tolerá-lo e manejá-lo.

Através do silêncio o adolescente comunica, de forma singular, “algo que


não pôde se manifestar no plano verbal”, tamanha a sua intensidade.

O analista deve considerar o silêncio como um idioma a ser traduzido e


uma possibilidade de elaboração, essa perspectiva propicia o
acolhimento ao sofrimento psíquico do adolescente.
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo
clínico

Eis as questões...

As manifestações corporais devem ser consideradas. É fundamental


escutar o que elas têm a nos dizer pois representam um forte sentimento
de apropriação de um novo corpo, que deixou de ser infantil, porém
ainda não é adulto. O corpo (simbólico) é “cenário privilegiado de
expressão do psiquismo” (MACEDO, 2012, p.136)
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo
clínico

Eis as questões...

Há que se avaliar, por meio da escuta analítica, se se trata de um


padecimento psíquico, típico ou não, no qual o adolescente se
beneficiaria com o processo de análise.

Retorna: questões edipianas e, portanto, aceitar e lidar com a castração*


é uma das tarefas psíquicas da adolescência.

*Escola, Cultura, Família - em linhas gerais, a contemporaneidade e a promessa de um prazer sem


limites.
Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo
clínico

Para não encerrar, o esquema da angústia, proposto


por Lacan nos ajuda a pensar a clínica
DIFICULDADE

INIBIÇÃO IMPEDIMENTO EMBARAÇO


MOVIMENTO

EMOÇÃO SINTOMA PASSAGEM AO ATO

EFUSÃO ACTING OUT ANGÚSTIA


Reflexões sobre a adolescência atual e o manejo
clínico

Precisar o tipo de resposta e o registro em que ela se dá é fundamental para


orientação do trabalho clínico.

“agir é arrancar da angústia a própria certeza“


(Lacan, 1962-1963/2005, p. 88).
Referências

ALBERTI, S. O adolescente e o outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.


ALBERTI, S. Esse sujeito adolescente (2a ed.). Rio de Janeiro: Marca d'Água. 1999.
CALLIGARIS, C. A Adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.
FREUD, S. (1996). Inibição, sintoma e angústia. In S. Freud (Autor), Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 20 (pp. 107-209). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original
publicado em 1926)
LACAN, J. (2005). O seminário, livro 10: a angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Seminário de 1962-1963)
PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. (Colab.). Desenvolvimento Humano. 14ª Porto Alegre: AMGH Editora, 2020.

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