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Aulas com a Dra.

Samia Marsili

Fase de Latência: como falar sobre sexualidade nesta fase

Há poucos dias eu vi um story que uma seguidora me mandou pedindo para


que eu visse e tecesse algum comentário. Era um story de uma psicóloga
respondendo a uma caixinha de uma mãe em que a mãe falava que a filha tinha 10
anos, e queria saber como ela falava sobre camisinha com a filha dela.

E aí eu falei, “ah, vou escutar a resposta que essa psicóloga resolveu dar”. E
aí, para minha surpresa, ela deu uma resposta inacreditavelmente óbvia, mas não
óbvia, no sentido de que quando a gente escuta a verdade das coisas, algo que
parecia muito complexo, a gente vê que na verdade é muito simples e quase que
desmistifica alguma coisa do que a gente imaginava, né? Porque a gente está
vendo aquilo pelo prisma da verdade, como de fato elas são. E aí as coisas se
descomplicam. Não, não foi óbvio nesse sentido. Foi óbvio no sentido de descrever
a realidade de forma, assim, cartesiana num nível sinistro.

Ela descreveu a realidade de forma muito científica, claramente de alguém


que não tem um olhar transcendente para as coisas. Ou seja, tratando as crianças
como se fossem bobos, como se eles não pudessem entender algo muito profundo.

O que ela faz? Ela começa a explicar, olha só que incrível, que camisinha é
um pedaço de plástico em que o homem e a mulher podem usar na hora em que há
uma relação sexual para que eles não engravidem e não transmitam doença um ao
outro. “Nossa, caramba, acho que nunca ninguém pensou que camisinha era isso,
né?” Ou seja, minha querida, isso o Google responde. Obviamente que os nossos
filhos não querem saber isso quando eles estão perguntando para a gente o que é
uma camisinha. Falar sobre sexualidade é muito além de dar uma visão científica,
uma visão materialista das coisas.

“Ah, tá bom, Samia, então o que eu devo responder? Porque realmente


talvez eu respondesse a mesma coisa que a psicóloga, né?” Claro, a psicóloga eu
imaginaria que ela daria uma resposta um pouquinho mais elaborada do que ela
deu, né? Mas primeiro, antes de responder, eu vou chegar em como você poderia
responder a sua filha, mas eu quero dar muita explicação antes de chegar lá, tá
bem?

A primeira coisa, você precisa saber aonde surgiu essa dúvida e como essa
dúvida chegou até ela. Ou seja, quando ela pergunta, uma criança dessa idade
pergunta algo para você ou de qualquer idade, a gente precisa estar com o nosso
olhar clínico. A gente precisa ter um olhar anaminético, digamos assim, né?
Anamnese é essa história que os médicos, os psicólogos, colhem para a gente ter

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mais informações, ou seja, não basta dizer estou com dor de barriga, a gente quer
saber quando essa dor de barriga começou, quando ela terminou, quando ela
começou, quer saber a intensidade dessa dor, quer saber se essa dor com que ela
está relacionada, quer saber se ela tinha, se tem histórico familiar de dor abdominal,
se ela normalmente está relacionada com ela estar com fome, se ela melhora com
alguma coisa. Ou seja, a gente vai colhendo uma série de histórias que vão nos
ajudando a ter hipóteses diagnósticas, ou seja, a gente está tentando uma pista
para saber por onde a gente vai. É quase um olhar investigativo, mas isso não
significa, ter um olhar anaminético, um olhar investigativo, não significa que a gente
vai fazer uma série de perguntas para os nossos filhos de forma muito séria, quase
que assim, tentando encontrar uma culpa ou um problema e deixando a criança
contra a parede. Não, a gente precisa colocar-nos numa atitude de atenção, de um
desejo de compreensão, de intérprete da realidade que nós devemos ser para os
nossos filhos, ou seja, de alguém que tem experiência e sabe do que a criança está
falando, sabe quais são as suas possíveis dúvidas, sabe que ela está num ambiente
em que uma hora ou outra essas perguntas virão, sabe que ela está tentando
entender algo que talvez um amigo tenha falado para ela e que ela precisa não
estar um peixe fora d'água, ela precisa entender do que se trata. E que ela busque
em você a verdade, que ela não deseja que você esconda as coisas dela, mas que
responda também o que de fato, todas as implicações que aquela pergunta tem
para ela, não respondendo de forma complicada, mas respondendo de forma que a
gente de fato vá preencher uma lacuna que existe ali e que se abriu na inteligência
dela e que ela deseja entender o que isso significa e a gente sabe que isso tem uma
implicância, uma implicação, porque muitas e muitas crianças vão ficar falando
sobre aquilo e a gente precisa imbuir os nossos filhos de ferramentas para saber
lidar com essas informações, certo?

Além disso, a gente sabe que a forma como a gente deve abordar esse tema,
principalmente para quem já fez o curso de sexualidade, normalmente ela é
abordada de forma fria, de forma negativa, então de que jeito negativa? Olha,
quando a gente vai falar de sexo, a gente tem que falar contra, prevenindo gravidez,
prevenindo DST, prevenindo abuso, prevenindo uma série de coisas e não se fala
com as crianças ou os adolescentes sobre a forma positiva, o que é então? Eu
desejo ter, eu preciso ter medo disso, porque se isso é uma coisa tão boa, porque
eu tenho que ficar tão cheio de, “ah meu Deus, cuidado, meu Deus, cuidado, meu
Deus, cuidado”, então por um lado se estimula que se fale com as crianças sobre
isso, mas por outro a gente coloca na cabeça das crianças um monte de “se nãos”
em relação ao ato conjugal e o ato conjugal não é isso, o ato conjugal é justo o
oposto, o ato conjugal é entrega até o fim, é uma entrega tal que no final de 9
meses ela pode dar origem a uma nova vida, você pode dar o nome a ela.

Ou seja, a gente muitas vezes não só é falar de forma fria, negativa, mas
também de forma mentirosa, porque de forma mentirosa? Porque só se conta sobre

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um aspecto do que é o ato conjugal, do que é a relação sexual, não se conta tudo, e
o que se conta sobre a relação sexual é uma parte, como a gente dizia, uma parte
muito pequena, uma parte muito triste, que não abarca tudo o que é o ser humano,
a sexualidade ela é a expressão de uma afetividade que foi formada ao longo da
infância. Então como o adolescente se vê dentro da própria família? Ou seja, quem
ele é, a importância que ele tem no mundo, como ele deve se relacionar com as
pessoas, como ele deve respeitar as pessoas, como ele deve ser respeitado pelas
pessoas, como ele deve entregar a vida, isso tudo a gente aprende formando, a
gente ensina formando a afetividade dos nossos filhos, para que eles possam
exercer a sua sexualidade de forma saudável, certo?

Então é curioso, talvez isso fique muito caricato, ou seja, fique explícito essa
relação da afetividade dentro da infância, com a expressão dela, da sexualidade na
adolescência, em um caso clínico que eu estava vendo de uma menina de 16 anos,
que ela tinha, ao longo da descrição do caso clínico, ela tinha muita dificuldade e
problemas de percepção corporal, ela se percebia gorda demais, ela se percebia
feia, ela se percebia estranha, ela se sentia um peixe fora d'água, então ela tinha
claramente uma insegurança em relação a sua imagem, então ela tinha problemas
de relacionamento com a mãe, problemas de relacionamento com o pai, problemas
de relacionamento com o irmão, ela brigava muito com o irmão, ela apanhou do
irmão, a mãe se sentia mais bonita que ela. Ou seja, além disso, ela tinha
dificuldade de abraçar o pai, então ela se sentia incomodada ao abraçar o pai. E aí
vai descrevendo o caso clínico e no meio do caso clínico conta que ela,
adolescente, 16 anos, namorava um rapaz trans, e aqui eu não vou entrar no mérito
moral da coisa, mas só é uma forma da gente perceber a sexualidade estar dizendo
sobre como ela se sente, como ela se sente em relação às pessoas, ou seja, talvez
ela de fato tivesse uma atração sexual por um menino. Ou seja, um transexual
homem significa que ele é um menino, ou seja, ele tem órgãos genitais masculinos,
mas ele se veste como uma menina, então ela sentia a atração sexual por um
homem, por um órgão genital masculino, mas como ela tinha dificuldade de ser
abraçada por um homem, esse homem estar transvertido, não sei se essa é a
palavra, estar nas vestes de uma mulher, na verdade ela se sentia menos pior
assim, ou seja, essa relação com um rapaz trans falava muito mais sobre como ela
se percebe e como ela se relaciona com as pessoas, do que outra coisa, então a
maneira como ela se relaciona com essa família está se expressando agora na
adolescência, entende?

Então isso é só para mostrar para vocês como de fato há uma correlação, é
claro, pode ser que tenha, isso não explica todos os problemas sexuais que as
pessoas vão ter. Ou seja, as pessoas que têm alguma questão sexual não significa
que necessariamente elas tenham um problema de afetividade familiar, não estou
dizendo isso. Mas há uma correlação, ou seja, as crianças que foram bem educadas

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afetivamente têm mais chance de viver mais de forma mais saudável a sua
sexualidade.

Então essa menina, da pergunta para psicóloga, é uma menina de 10 anos,


então uma menina de 10 anos está no que a gente chama de fase de latência, que
é a fase antes da puberdade, que ocorre entre os 5 e 12 anos. Aqui estão 12 anos
meio que no sentido de que seria mais ou menos nessa idade que as crianças
entram na puberdade, claro que algumas crianças entram antes, outras crianças
entram depois, e a puberdade, por exemplo, na menina começando no início da
menarca, com a menarca, ou seja, no início da menstruação.

Então partindo do princípio que essa menina não menstruou ainda, e que ela
ainda está na fase de latência, o que a gente deveria falar? Então a fase de latência
é essa fase das crianças ali por volta da idade da razão até chegar o início da
puberdade, logo antes do início da puberdade, em que essas crianças não têm um
interesse sexual pelas pessoas, ela não olha as pessoas e os acontecimentos pelo
prisma da sexualidade, tá? Então a gente não deve perturbar essa fase de latência
com informações sexuais desnecessárias, isso não significa que a gente não deva
responder às perguntas dos nossos filhos, mas a gente deve se limitar ao que eles
nos perguntaram, sem o desejo de antecipar esse despertar sexual que ainda não
aconteceu, então a gente deve sim responder, mas nos limitando a responder o que
foi perguntado.

Claro, a gente vai falar um pouco mais na frente, a gente tem que estar
sempre atento para saber se essa fase de latência foi perturbada com alguma
informação sexual que é necessário a gente dar uma explicação a mais, que é
necessário a gente preparar o nosso filho para que ele possa enfrentar essa
situação, mas a princípio, se não aconteceu isso, a gente deve respeitar a fase de
latência. Claro que crianças que são expostas a pessoas sem roupa
constantemente, a movimentos eróticos em danças, por exemplo, a músicas com
conteúdo sexual, a conversas inapropriadas para a idade, a cenas de filmes,
novelas, séries, elas provavelmente vão ter uma antecipação das dúvidas e do
interesse sexual. Só que é uma pena, porque acaba tendo uma desconexão afetiva
e emocional, ou seja, ela tem um conhecimento, mas ela não está de alguma forma
naquela fase, aquilo não está encaixando nela dentro do desenvolvimento normal
dela. Então, ela se interessa, mas ela não tem maturidade emocional, intelectual e
volitiva − ou seja, de acordo com a vontade −, para entrar nesse campo. Então,
colocar os nossos filhos nesse campo, expondo-os a tudo isso, sem que eles
tenham uma formação emocional, intelectual e volitiva para isso é uma situação
muito complicada, que causa muitas confusões.

Então, nessa fase, essa fase de latência, ela precisa estar imersa no
ambiente afetivamente estável e atento à formação do seu caráter. Aqui eu vou
descrever algumas coisas na formação do caráter dessa fase de latência, da

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afetividade, em que a gente forma a isso, e que vão ter consequências lá no
relacionamento que ela vai ter com outras pessoas, com pessoas do sexo oposto,
ou até com pessoas do mesmo sexo, se assim for. Só que é necessário que essa
relação seja uma relação saudável, digamos assim. Ela precisa entender a
responsabilidade que ela tem com as pessoas, entende? Ela precisa entender que a
sexualidade não diz respeito apenas a ela, diz respeito a ela e a outra pessoa. Na
sexualidade, ela está se relacionando. Então, se ela está se relacionando, ela
precisa primeiro saber quem ela é. E por isso que a educação da afetividade é tão
importante. Voltem lá na aula da formação da afetividade, que lá eu explico muito
claramente, como se forma essa afetividade. Como é que a importância delas
estarem imersas no ambiente em que elas se percebam, que elas foram desejadas,
em que mãe e pai se relacionam bem, que se respeitam, em que o pai respeita a
mãe, em que o pai faz um reforço da autoridade materna. Em que a mãe respeita
também as decisões paternas, em que eles não entram em conflito na educação da
criança na frente dela, em que ela se sente segura nesse ambiente, não achando
que ela está atrapalhando esses pais. Ela entende afetivamente que ela merece a
atenção dos pais, que ela merece a preocupação dos pais, a oração dos pais, a
inteligência dos pais através de bons conselhos, que esses pais se interessam por
ela, que ela é uma pessoa desejada e que ela não está atrapalhando nada. Então,
que ela tem um contato de forma, de tato mesmo, de carinho, de cuidado, que ela
recebe beijos, que ela é a olhada, que as pessoas estão atentas a ela, que essas
pessoas não expõem ela a outras pessoas, expondo as suas birras, a sua falta de
caráter, que os pais dela não ficam falando mal dela para outras pessoas. Ou seja,
isso tudo forma bem a afetividade dessa criança. Ela vai se sentir segura, ela vai
sentir que ela tem um valor, que ela tem uma dignidade e que essa dignidade é
respeitada na família dela e que ela precisa respeitar essa dignidade das outras
pessoas.

Além disso, ela precisa reconhecer, por exemplo, os seus defeitos e saber
que muitas vezes ela vai cometer faltas e que ela precisa pedir desculpas e reparar.
Olha como isso é importante na vivência da sexualidade, em que às vezes a gente
percebe que avançou alguma coisa e que a gente vai retornar e pedir desculpas e
reparar. Ou que a gente vai desenvolver, por exemplo, na temperança, a capacidade
dela identificar um bem, que é um bem ilícito, como por exemplo, o ato sexual, mas
saber a justa medida de obtê-lo. Ou seja, ela não pode obter o ato sexual na hora
que ela quer, como que ela quer, com quem ela quiser, que tem um horário local
com quem ela deve fazer isso pelo bem dela e pelo bem da outra pessoa.
Desenvolver, por exemplo, na virtude da fortaleza, conseguir resistir às coisas que
ela identifica como não sendo adequadas, como por exemplo, a pornografia, como
por exemplo, a masturbação, como por exemplo, não desejar o namorado de uma
amiga dela, entende?

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Além disso, ela conseguir perceber na virtude da justiça em dar e receber,
que ela não pode fazer mal a outra pessoa só porque ela quer algo. Então ela não
pode simplesmente cuidar do seu prazer e ignorar a outra pessoa. Isso é muito
errado. Então isso a gente vai desenvolvendo lá na infância, nessa fase de latência.
Além disso, a gente tem que desenvolver nos nossos filhos a gratidão, ou seja, em
reconhecer que os outros fazem muitas coisas por ela e não é só ela que faz pelos
outros. Quantos e quantos problemas de relacionamento não acontecem porque as
pessoas acham que fazem tudo pelo outro e o outro não faz nada por ela. Ou seja,
só ela é generosa, só ela tem a razão e os outros não. Então isso faz parte da
vivência da sexualidade.

Ensinar também nessa fase de latência a forma de vestir, de um bom gosto


de vestir. Daí volta lá na aula do pudor, por exemplo, qual é a relação entre a
vestimenta e o pudor e a fissura que está entre corpo e alma. Lá eu explico isso
com muita clareza. Ou seja, se você não quer que a sua filha, por exemplo, use
roupas e que você julgue na adequada, você não deve ter essas roupas. Entende?
Às vezes eu não consigo entender. “Ah, por que a minha filha usa short curto?”.
Bem, quem foi que comprou pra ela esse short curto? Porque esse short curto está
dentro da gaveta dela? “Ah, foi a avó que comprou”. Jogue fora. Fala “desculpa
mãe, desculpa sogra, mas eu não quero que minha filha use esse tipo de roupa”.
Entende? “Ah, Samia, mas a minha filha não pode ser estranha”, não pode mesmo.
Eu já falei isso aqui em duas aulas. Vocês têm que vestir bem as suas filhas, mas
não de forma “carola”, digamos assim, nem de forma como se fosse uma burca.
Não é isso. Vai vestir a sua filha de acordo com a moda, de acordo com o bom
gosto, mas para isso ela não precisa expor o seu corpo. Então isso tudo a gente
ensina na fase de latência. A mesma coisa com o menino. Se vai ficar sem blusa ou
não, né, o cuidado que ele tem que ter, por exemplo, com a intimidade dos outros, a
menina também.

Como é que a gente ensina isso na fase de latência? Batendo a porta antes
da gente entrar; Não pode ficar no banheiro com a mamãe, não pode mexer nas
coisas das outras pessoas sem a nossa permissão, a gente não pode contar um
segredo que a pessoa nos contou, a gente não pode falar mal dos outros, porque as
pessoas têm a própria intimidade e a gente precisa preservar essa intimidade das
pessoas. Então isso tudo a gente ensina na fase de latência. O respeito em não
falar quando alguém está falando, isso a gente, nessa em não falar quando alguém
está falando, a gente está ensinando para os nossos filhos que a outra pessoa tem
dignidade, a outra pessoa tem desejos, a outra pessoa tem ideias, que eu preciso
respeitar que ideias são essas, saber ouvir. Olha, como isso não é importante na
violência da sexualidade, no relacionamento entre as pessoas? Se portar bem a
mesa, por exemplo, pensando em que as pessoas também vão ter que comer e eu
não posso comer tudo, para que sobre comida para as outras pessoas, isso faz
parte da percepção em relação ao outro.

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Então eu tenho que desenvolver nessa fase de latência essa percepção que
existe eu e existe o outro, que a minha dignidade precisa ser respeitada e a
dignidade da outra pessoa também precisa ser respeitada. Pedir as coisas
emprestadas sem tirar da mão, enfim, uma série de coisas que a gente precisa
ensinar na fase de latência. Nessa fase de latência é comum que tanto meninos e
meninas queiram perguntar essas coisas mais à mãe do que ao pai, porque em
geral as mães a gente está mais acessível e elas têm um vínculo maior até os 12
anos de fato, tanto meninos quanto meninas com a mãe, tá bom?

E daí eu queria mostrar para vocês um vídeo que eu vou pedir para o pessoal
da equipe passar para vocês que é um vídeo bem engraçadinho que ele vai contar,
vai aí mostrar um diálogo entre a mãe e uma criança. Passa aí pessoal, depois eu
comento o vídeo.

Então, esse vídeo é bem engraçado, porque, justamente, estão as duas ali
conversando, e a mãe ali cuidando da cozinha, e a menina pergunta para a mãe o
que é virgindade. E a mãe começa a ficar toda embananada. Claramente, é uma
criança pequena nessa fase de latência, e a mãe começa a ficar toda enrolada e
começa a tentar responder o que é. E aí, depois, ela resolve perguntar para a
menina, mas aonde você ouviu falar sobre isso? E ela falou, “não, mãe, eu li aqui no
azeite. Azeite extra virgem”. Ou seja, isso mostra um pouco que, nessa fase de
latência, a criança está pensando nessas coisas. Só que, muitas vezes, a gente,
naquela ânsia e no medo de uma hora o meu filho vai perguntar sobre isso, o que
eu vou responder? Vários ensaios que a gente faz na nossa cabeça, a gente acaba
enfiando os pés pelas mãos.

Enfim, é nessa fase de... E aí, a gente estava falando do quanto a mãe é
acessível. É nessa fase de latência que a criança percebe, muitas vezes, a
diferença entre os sexos, que existem menino e menina. E, muitas vezes, as
crianças ficam repetindo isso. “Ah, ele é menino, ela é menina”, né? Já desde muito
pequenininhos. E não tem problema nenhum os mais velhos verem os bebezinhos
trocando fralda. Aliás, é uma ótima forma deles verem a diferença entre, de fato, as
genitálias. E a gente pode explicar para uma menina que um bebê menino, por
exemplo, tem o pênis, e aí você pode chamar de pintinho, pode chamar de pinto,
como você quiser, né? Que ali tem o canal onde ele faz xixi, que é um canal maior
do que o dela. Então, isso, você não precisa responder nada relacionado à
sexualidade, né? E também o contrário para o menino, né? Você pode explicar, “ah
não, mas por que ela não tem o pintinho?” Porque a uretra dela é menor. Que é o
canal que faz xixi. Eles ficam satisfeitos com essa resposta. Você não precisa entrar
em explicações mais complexas, tá bom?

Então, nessa idade, a criança aprende por experiência, né? O que é um


menino e o que é uma menina. Ela percebe, né? A diferença de cabelo, de jeito, de

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uma presilha, né? Elas conseguem perceber claramente um menino e uma menina,
né?

E a gente não precisa evitar manifestações de carinho com os meninos, né?


“Ah, para que eles sejam homens”. Não! Manifestações de carinho, ternura e afeto
são sempre muito bem-vindas, né? De atenção, de cuidado, né? Não tem problema
nenhum. E as meninas também podem participar de atividades masculinas, né? De
desafio, de força e competição. Porque o que muda não é o que eles fazem
externamente. O que muda é a forma como a gente pensa, né? A forma como a
gente, digo, cada sexo, né? Como a gente pensa, como a gente executa, como a
gente soluciona os problemas, como que a gente vê o mundo. A nossa percepção
do mundo, a nossa atuação no mundo é diferente, né?

Então, isso, a forma como a gente vê o mundo, a forma como a gente atua
no mundo não deve ser ignorado. Então, por exemplo, para os meninos na fase de
latência, a gente deve ensinar que a masculinidade, a força, não é sinal de
superioridade. Então, que de fato eles costumam ser mais rápidos, eles costumam
ser mais fortes, mas que essa força e essa capacidade de trabalho físico, ela deve
ser um chamado a eles a uma responsabilidade de proteção e serviço, sempre no
relacionamento com as meninas. E no relacionamento com os meninos, não é para
que eles briguem, mas para que eles se respeitem, para que eles unam forças a
favor de um ideal, para que eles unam forças para lutar e honrar um ideal, né? E
para proteger as pessoas que estão sob seus cuidados. E as meninas precisam
aprender a utilizar, por exemplo, da sua eloquência para reconciliar as pessoas,
para defender valores que são propriamente humanos, isso é muito próprio do
feminino, para dar bons conselhos, a sua capacidade de intuição para perceber e
cuidar de quem sofre materialmente e espiritualmente, a sua capacidade também de
intuição para unir as pessoas, para perceber que algo não está legal, para unir em
vez de separar as pessoas, usar o seu afeto, a sua ternura, para criar ambientes
agradáveis, para criar ambientes acolhedores, alegres. A sua agudeza de engenho,
de inventar as coisas, para dar soluções que levem em conta os valores humanos,
porque isso é muito próprio do feminino, e quanto as mulheres podem levar isso
para a ciência, para a política, para a educação, para uma série de coisas, né?
Então, isso, a inclinação das mulheres para grandes feitos, a gente deve animar
isso, tá bom?

Então, nessa fase, a criança sem exposição à pornografia, a cenas ruins, a


músicas ruins, a conversas ruins, ela não vai ter dúvidas maliciosas, ela não vai
querer saber como é que é que o pênis faz para entrar na vagina, se tem ereção, se
tem ejaculação, uma criança que tem uma cabeça pura nesse sentido de coisas
ruins, né? De coisas que não são próprias da idade, da fase de latência, ela não vai
ter essas dúvidas, então não tenha medo de falar essas coisas com ela, porque se
ela não está te perguntando, não é porque ela está com vergonha, é porque ela não

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está se interessando por isso, você que está querendo contar, porque você muitas
vezes, nós adultos, fomos expostos já a esse tipo de coisa. A um palavreado
complicado, a cenas, a pornografia, a uma vivência própria da sexualidade
complicada, e a gente acaba trazendo isso e querendo, na tentativa de derrubar
tabus, de serem pais abertos, de serem pais próximos, de evitar gravidez de
adolescência, evitar DST, evitar abuso, a gente tende a falar demais, a gente acaba
antecipando coisas para chegar logo no ato sexual em si, para a gente falar tudo, e
quase que a gente tirar uma carga de cima da gente, “bem, meu filho já está bem
informado e agora nada de mal acontecerá com ele”, né? A gente sabe que no
fundo isso não é verdade, mas é quase o que a gente está tentando fazer, tá?

Então, como então que a gente deve falar nessa fase, nessa fase de
latência? A gente deve puxar sempre para a questão do mistério e da reverência
que a gente deve ter ao falar do ato sexual. Sim, a gente tem que falar isso de forma
misteriosa e com certa reverência, porque de fato isso é muito verdadeiro. O
mistério da união de duas pessoas dando origem a uma vida, isso é um mistério,
essa realidade é um mistério, e que é necessário que a gente entre nesse campo,
tirando as sandálias dos nossos pés, a gente não pode olhar para a sexualidade,
para o relacionamento entre o homem e uma mulher, e ver naquilo sujeira, e ver
naquilo pouca vergonha, e ver naquilo um certo nojo, asco, ou algo que a gente não
está querendo entrar, porque se a gente está sentindo vergonha, de fato a gente
não sabe o que é o ato sexual. É claro que a gente não vai expor o nosso ato sexual
que a gente tem com o nosso marido, porque aquilo é uma intimidade, e a gente
deve nos despir diante da pessoa que a gente ama, e os nossos filhos não tem que
ser protagonistas disso, porque aquilo é algo que deve acontecer entre duas
pessoas, entre só elas. Mas falar sobre isso não pode nos trazer vergonha, se está
nos trazendo vergonha é porque a gente não tem a mínima ideia do que é o ato
sexual.

Então a gente deve conversar com os nossos filhos sobre assuntos que
envolvam esse mistério de forma reverencial, ou seja, de forma cuidadosa, de forma
carinhosa, de forma a que eles consigam entender que o ato sexual, ele
obviamente, ele tem um caráter unitivo entre as duas pessoas, mas ele tem
também, e necessariamente, um caráter de fecundidade. Ele foi feito para isso, para
essas duas coisas, para a união dos dois, e para a fecundidade daquela relação.
Então é necessário que a gente fale sobre isso, tá? Então a gente pode falar como
eles nasceram, como eles foram desejados, né? Como que foi no dia que eles
nasceram, como é que foi a contração, como é que foi quando foi pra médica, como
é que foi que ficou na banheira, que não ficou na banheira, a gente pode mostrar um
vídeo, um vídeo do nascimento deles, a gente pode mostrar tudo isso, né? Para que
eles percebam que “caramba”, isso, esse momento ele está envolvido com algo
muito maravilhoso, que é a origem de uma nova vida, né? Como foi a gestação,
como foi o parto, e você pode falar, “ai, Samia, mas na hora que a gente for falar

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sobre o parto, eles vão perguntar como é que saiu da minha barriga”, né? E aí eu
sugiro que vocês façam algo que eu acho que é muito gráfico, gráfico para as
mulheres que vão ter o bebê, que vão entender algumas coisas que eu vou explicar,
e gráfico para as crianças, para que elas entendam essa relação que existe no útero
feminino, que ali é um bercinho para o bebê, e que de fato essa vida que é tão
esperada, que eles foram tão esperados, está envolta num momento em que a mãe
vai ali sofrer algumas dores, porque vale muito a pena trazer ela no mundo, tá bom?

Então eu vou explicar aqui para vocês, né? Eu vou utilizar aqui uma bolinha
aqui de aniversário e uma bola de ping-pong, talvez algumas de vocês já tenham
visto essa experiência, mas eu acho que vale a pena fazer para as crianças, que
elas se sentem, é divertido para elas, enfim, né? E aí eu acho que é muito gráfico, tá
bom? Então eu vou fazer aqui para vocês.

Então meninas, o seguinte, vamos precisar de uma bola de aniversário, essa


daqui é tamanho 9, aquela normal, e uma bola de ping-pong. Escolhi uma rosa,
porque vamos dar a luz a uma menina. E daí o seguinte, dá uma assoprada nela
umas duas, três vezes, para ela ficar um pouco mais elástica, e aí você vai colocar a
bolinha aqui dentro. Isso. E aí você precisa colocar ela aqui embaixo, porque senão
você não vai conseguir assoprar, tá bom? Aí assopra a bola. Tá bom. Daí você vai
abrir e a bolinha vai ficar justa aqui, aqui no óstio, né? Então assim, é como se isso
aqui fosse o útero materno, tá bom? Aqui o fundo de útero, aqui o colo do útero, né?
Aqui o colo do útero, desculpa, o colo do útero, e aqui a cabecinha do bebê. E aí, é
até interessante aqui, fora de mostrar para as crianças, que quando a gente está
com contração de treinamento, a nossa contração do útero é aqui, ó. E isso não
altera o colo do útero, tá bom? Por isso que a gente não entra em um trabalho de
parto e a nossa contração de treinamento não faz com que o bebê nasça. Mas a
contração rítmica, aqui no fundo do útero, ela vai alterando o colo do útero, está
vendo? Que vai afinando o colo do útero, que é isso quando a gente diz que está
afinando o colo do útero. E aí, depois, está vendo que a bolinha está vindo cada vez
mais para cá? Uma hora essa bolinha vai entrar aqui. Ah, agora sim. Olha o que
está acontecendo, ó. Está vendo que tá o colo do útero agora está dilatando, que é
isso que precisa acontecer para poder o bebê nascer.

Então, bem, é uma experiência que mostra justamente isso, que o bebê
nasce, né, e daí acontecendo o período expulsivo. E é interessante para a gente
mostrar para os nossos filhos como é que o bebê nasce, combinado? Nessa fase de
latência.

Então, além da gente falar como nascem os bebês, de fato, eles podem nos
perguntar como é que esse bebê foi parar na barriga da mamãe, né. Algumas
crianças aceitam uma resposta mais tranquila, outras a gente vai ter que entrar um
pouquinho numa parte um pouco mais densa, né. E aí eu sugiro que a gente fale a
verdade. Mas a verdade não é falar só sobre o ato sexual. Essa é apenas uma parte

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da verdade. A verdade é que o mistério do bebê parar na barriga da mãe é um
mistério, né. De fato, quantas e quantas pessoas desejam, casais que desejam ter
filhos e não conseguem. Porque, ou seja, tem o ato sexual, mas simplesmente a
mulher não engravida. Ou seja, pode ser que você tenha o ato e que não tenha a
origem de uma nova vida, né. E aí eu queria aqui trazer uma realidade para quem
tem fé, porque é uma realidade que nos ajuda muito a entender como nós somos,
de fato, criadores de uma nova vida, mas nós somos co-criadores dessa nova vida.
Ou seja, a gente é responsável apenas por uma parte da vida de um bebezinho.
Então nós, seres humanos, somos compostos de corpo e alma. Então nós, marido e
mulher, a gente é responsável para dar origem ao corpo, mas quem dá origem à
alma não somos nós, né. A origem de uma alma, ela vem de Deus, né. Para quem
tem fé sabe disso. Então, e é muito interessante isso.

Diferente do que muitas pessoas acham, né, que tem um pouco no


imaginário popular de que a alma estava lá junto de Deus e em algum momento, ela
olhou e Deus falou, “ah, em qual família você quer ir?” E aí o Deus fala, “acho que
você vai naquela família”. E aí essa alma desceria para o corpo da mãe e daria
origem a um bebê. Não é assim, pelo menos, que a Igreja Católica ensina, né. A
Igreja Católica ensina que a alma é criada, ou seja, há um ato criador de Deus cada
vez que surge uma nova vida. Ou seja, a alma é criada no momento da concepção.
Então, se não há concepção, não há surgimento de uma alma, certo? Então, na
hora ali da concepção, Deus está criando essa nova vida junto com o marido e com
a mulher, junto com o homem e a mulher, entende? Então, esse momento é um ato
de fato criador não só dos dois, mas de Deus também. Então, Deus está presente
no momento da concepção, né. Então, Deus é Ele quem coloca a alma. Então,
portanto, se Deus não quiser, o bebê não existe. Então, o respeito, o amor à vida e
à paternidade, eles são essenciais para que o seu filho se sinta amado de forma
especial. Então, no meio de tantas pessoas que Deus podia criar, Deus resolveu
criar você. Ele resolveu criar essa criança. Isso faz com que a gente tenha um
profundo respeito e cuidado com a sexualidade, porque a sexualidade, ela não diz
respeito só a nós, diz respeito a nós, juntos nessa criação com o próprio Deus. E
esse nosso ato conjugal, ele traz responsabilidades e consequências, que é
justamente a origem de uma nova vida, de uma vida que não pediu para vir ao
mundo e que precisa ser cuidada, e que precisa ser mantida na existência, e que
precisa ser educada, né.

Então, é importante a gente conseguir falar e passar essa ideia para os


nossos filhos, principalmente para uma menina de 10 anos, já é possível passar
isso, para que ela tenha essa reverência, esse cuidado, para que ela saiba que a
utilização, a vivência da sexualidade, ela não diz respeito apenas a ela, ela diz
respeito ao próximo e diz respeito a um possível terceiro que ela precisa respeitar.
Então, ela não pode se utilizar da sexualidade dela só pensando nela. Ela precisa
pensar em todas as consequências disso, né.

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Infelizmente, muitas crianças acabam sendo expostas a informações sexuais
precocemente, muitas vezes até na própria escola, a gente precisa estar atento a
isso para que a gente possa chegar antes, então é ideal que a gente chegue antes,
quando a gente percebe que algumas coisas ali já estão rolando na escola, muitas
vezes é necessário a gente se antecipar e falar de algumas coisas com os nossos
filhos, tentando ser clara, mas ao mesmo tempo sempre cuidando dessa ideia da
sexualidade, que ela de fato é um mistério e que a gente precisa ter muito cuidado
ao falar dela. Falar de sexualidade de forma leviana é uma coisa muito errada,
porque aí está envolvida o mistério da vida, o mistério da dignidade das pessoas e
se isso é violado, se a gente não consegue olhar para as pessoas, não só as
pessoas envolvidas, mas para essa terceira pessoa cuidando da sua dignidade, a
gente é capaz de fazer coisas muito ruins com a nossa sexualidade. Então a gente
tem que procurar saber da onde está vindo essa informação, da onde está vindo
essa curiosidade, investigar para que a gente muitas vezes possa intervir, muitas
vezes a gente possa proteger de más informações, se é o celular de um amigo, se é
um celular da avó, se é um celular de um tio, por exemplo, se é alguma cena
específica, se é uma série que ele está assistindo, se é um amigo específico para a
gente ver se a gente consegue preservar essa fase de latência. Então a gente
precisa saber quando que vai ser a aula de biologia reprodutiva na escola e chegar
antes, contar para o seu filho antes, porque na escola eles vão passar uma visão
totalmente veterinária da coisa, “olha, junta um espermatozóide com um óvulo, e aí
eu coloco o pênis na vagina e aí pode dar origem a uma nova vida, daí se você não
quiser você usa preservativo ou anti-concepcional” e ponto, acabou. Todo esse
cuidado com a sexualidade para trazer a responsabilidade da vivência da
sexualidade para essa criança, esse adolescente, que é quando a escola deveria
abordar isso, não acontece.

“Tá bom, Samia, mas como eu tenho que responder para minha filha de 10
anos que perguntou sobre a camisinha?” Vou explicar só mais uma vez, antes de te
dizer. Eu vou explicar sobre a camisinha especialmente, mas eu preciso que você
entenda, porque eu não vou estar na hora que você vai conversar com seus filhos,
então eu preciso que você entenda para que você esteja munida de uma série de
conhecimentos para que você consiga explicar da melhor forma possível.

Então isso, gerar uma vida é algo maravilhoso, então nós somos doadores de
vida, sempre, todos nós, homens, mulheres, nós somos doadores de vida, vida
material, vida espiritual, vida moral, a gente é chamado a isso, sem exceção. Só que
no matrimônio essa geração material, digamos assim, espiritual, ela acontece como
consequência do amor entre duas pessoas, e como a gente dizia, esse amor exige
liberdade e responsabilidade, porque ele traz consequências, não só para a minha
vida, mas para a vida da pessoa que eu estou me relacionando, e para a vida de
uma possível terceira pessoa se a gente engravidar.

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Então esse respeito precisa ser cultivado todos os dias, essa lembrança
diária de que a pessoa que eu me relaciono tem uma dignidade, que ela precisa ser
respeitada, que a intimidade dela precisa ser respeitada, e que eu preciso cuidar
para não violar isso, e que eu preciso, diante de uma consequência de uma
gestação, por exemplo, assumir essa consequência, tanto eu, mãe, quanto eu, pai,
os dois precisam assumir isso. E é isso, o amor não se improvisa, a
responsabilidade não se improvisa, é algo que a gente precisa se educar a todo
momento, e por isso que a relação conjugal, o ato conjugal, levando em
consideração, o ciclo feminino para a gente saber se a gente pode ou não gerar
uma vida, é uma ótima forma de a gente se exercitar nesse comprometimento, a
gente não pode se comprometer só quando o homem engravida a mulher, ou
quando a mulher engravida do homem, a gente tem que se comprometer desde o
início. Senão, esse comprometimento não surge do nada, a gente não pode estar
vivendo uma relação cada um pensando em si, cada um cuidando apenas do seu
prazer, e aí quando gera-se uma vida, o que acontece em 90% dos casos? O
homem não assume o seu papel, e a mulher fica sozinha nessa situação, por quê?
Porque os dois não estavam comprometidos desde o início, a mulher querendo falar
da sua liberdade sexual, de cuidar do seu prazer, também querendo ter os mesmos
direitos do homem, ela acaba criando, educando um homem totalmente
descomprometido, um homem que simplesmente não está aí, “ae? Você quer
assumir as suas responsabilidades sozinha, então que você assuma”, só que no fim
das contas é ela que fica grávida, e é ela que vai assumir, e daí o que tem
acontecido? Aumenta o número de abortos, porque é uma, bem, eu não tenho nada
a ver com isso, vamos lavar as minhas mãos, e as consequências que a gente mate
a consequência, então assim, isso tem umas consequências muito graves, então a
abstinência sexual, se eles não podem ter filhos, o casal não pode ter filho, é a
melhor forma de educar ambos, para o comprometimento, então os dois têm que
assumir, se os dois têm desejo sexual e querem estar juntos, a gente vai assumir
juntos, se alguma coisa acontecer, e também o contrário é verdadeiro, não, a gente
não pode, então a gente vai assumir juntos, que a gente não vai se unir nesse
momento, porque a gente não pode assumir essa criança agora, entende?

Então, “ah, Samia, mas isso é uma loucura”, isso não é uma loucura, isso é a
responsabilidade de fato, então é isso que eu falava no início, o ato sexual ele é
unitivo, união e fecundidade, os dois têm que estar juntos. Quando isso está
dissociado, causa-se uma dificuldade muito grande de comprometimento dos dois,
com a sua própria responsabilidade, com o outro e com essa terceira pessoa,
entende?

Então, olha, antes do advento da anticoncepção, se imaginava que com a


anticoncepção, né, a camisinha, os anticoncepcionais, existiriam casamentos mais
felizes, porque os dois iam poder cuidar apenas do seu prazer, e não estarem
preocupados com a gravidez, que existiriam menos divórcios, que existiriam menos

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abortos, porque no fim das contas iam ter menos gestações, que a dignidade da
mulher ia ser mais preservada, porque elas não iam estar presas nos seus sistemas
reprodutivos, e que teriam reduções nas DSTs. Só que, obviamente, diante de tudo
isso que eu falei pra vocês, aconteceu justo o oposto, a taxa de divórcios só
disparou, agora ela deu uma queda, por quê? Porque as pessoas não estão
casando mais, então elas realmente não estão se comprometendo. A taxa de
abortos aumentou, porque mesmo com os contraceptivos ou a camisinha, a mulher
pode engravidar, só que ela já está com uma mentalidade que ela não quer assumir
essa responsabilidade, nem ela, nem ele, então o que eles fazem? Matam esse
bebê, então a taxa de aborto aumentou. O aumento da promiscuidade, porque não
há mais comprometimento entre as pessoas, eu posso ter relação sem me
comprometer, o aumento da pornografia, e com isso aumentou também a taxa de
aborto, porque mais pessoas ficam, acabam estando grávidas, e a dignidade da
mulher não melhorou, porque a dignidade da mulher nessa coisa de revolução
sexual, ela está não só sendo vista, mas está se colocando como um verdadeiro
objeto, nesse NPC, por exemplo, essas adolescentes e que vendem, por exemplo,
uma fotografia do seu pé, e que vendem, por exemplo, uma fotografia de partes do
seu corpo, quantas e quantas, são pequenas prostituições, e os próprios homens,
vistos pelas mulheres como um objeto, totalmente descartável, que não é
necessário para que ela dê origem a uma nova vida, ela pode se utilizar de um
espermatozóide que não tem a ver com uma pessoa.

Ou seja, a consequência dos anticoncepcionais não é tipo, “ah, o que


acontece ali na pequena coisa?”, é numa mentalidade de toda uma geração. Então
por isso que eu tive que explicar tudo isso para vocês, para que vocês consigam
saber como explicaram os seus filhos, claro que você não vai explicar tudo isso para
ela, ela não precisa entender, ela só tem 10 anos, mas você precisa saber, então
para ela você pode explicar assim, “filha, você sabe o que é um mistério? A origem
da vida é um mistério, não é?” Então, você já educou ela na fase de latência, “então
muitas pessoas desejam engravidar e não conseguem, ou seja, é um mistério a
origem de uma nova vida”, mas a origem da vida, ela não é, então fica muito claro
que a origem da vida não é um processo apenas físico, é necessário a criação de
uma alma, mas pode acontecer que casais não queiram ter filhos, e por diversos
motivos, eles não queiram ter filhos, eles acabam lançando mão desse dispositivo
que evita que eles fisicamente se encontrem e gerem uma nova vida. E se
infelizmente eles não têm filhos, eles acabam fazendo isso. Só que não é a melhor
forma, a melhor forma deles não terem filhos, se eles não podem, é não estar
próximos fisicamente em um momento do corpo da mulher em que ela pode gerar
um filho, eles podem ter muitos carinhos de toque, mas a união física não, e você
vai parar aí e vai esperar para saber o que ela vai te perguntar, se ela está com
alguma dúvida a mais, e se de fato ela já souber coisas além porque você já deu a
deixa, se ela já souber que há a penetração do pênis na vagina, e aí você vai falar
isso para ela, vai perguntar, “mãe, isso é verdade?”, “É verdade, minha filha, isso

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acontece em momentos em que a mamãe e o papai estão num momento grande de
intimidade, de carinho entre nós, entende?” Mas esse carinho está totalmente
envolvido na percepção da criação, não só de uma alma por nós, ou por homem e
uma mulher, mas também Deus está envolvido ali, então utilizar algo que impeça
sem que os dois tenham responsabilidade nisso é muito ruim, é isso.

E aí você vai ver como que ela vai perguntar, o que ela vai responder, então
vai aos poucos, especialmente esse tema da camisinha é um tema complicado,
porque você vai ter que dizer onde essa camisinha vai, quer dizer, eu não disse que
essa camisinha vai, eu falei fisicamente, e se ela tiver visto ou se souber algo a
mais, ela vai te perguntar, e aí você precisa responder, e vai até onde ela sabe,
onde está, o que você quer saber, o que você já ouviu falar sobre isso, e aí você vai
conversando sempre trazendo esse lado espiritual pra coisa, pra sempre relembrar
a sua filha da responsabilidade que ela tem para com a sua sexualidade, tá bom?
Então aqui eu acho que ficou bastante claro, a gente pôde falar bastante coisa
sobre essa fase de latência, em outra oportunidade a gente vai falar um pouquinho
sobre como começar a conversar na fase de puberdade.

Samia Marsili

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