quer ouvir como foi comigo continue assistindo a esse vídeo. Desde já te convido, agora, a se inscrever no canal, clicar no sininho e curtir esse vídeo. Não deixe pra depois, pois eu sei que você pode se esquecer. Meu nome é Paulo Freitas e esse é o meu canal Papai Autista. Eu sou formado em Teologia, Filosofia, tenho uma especialização em Docência do Ensino Superior e estou cursando outra pós em Neuropsicopedagogia Inclusiva. Sou Professor e missionário. Sou casado com Janaína e nosso filho se chama Ulisses, ele também é autista, por isso o nome do meu canal. A minha história com o autismo começou a cerca de três anos quando minha esposa desconfiou que nosso filho não estava tendo um desenvolvimento semelhante às demais crianças. Apesar de eu passar o dia todo com nosso filho não achei nada fora do normal, até porque muita coisa do comportamento dele parecia comigo quando criança. Mas, mesmo assim quando o levei no psiquiatra perguntei para ele e apresentei os questionamentos da minha esposa, mas ele disse que estava tudo bem e que cada criança tinha seu tempo e logo ele se desenvolveria. A realidade é que meu filho começou a ter muitas crises e também a perder a fala comunicativa. Foi aí que minha esposa disse para eu pesquisar sobre autismo. Comecei a pesquisar sobre o Espectro Autista e quanto mais eu estudava mais eu percebia que todos os artigos, livros e vídeos falavam sobre quem eu era. Peguei filmes com personagens autistas e eles se pareciam demais comigo, inclusive filmes que eu nem sabia e já tinha me identificado com os personagens na adolescência. Depois de dois meses estudando, já que esse assunto se tornou um hiperfoco, tinha certeza que meu filho era autista e eu também. Mas antes de levar meu filho a um especialista, resolvi eu mesmo ir primeiro. Pedi orientação a alguns amigos psicólogos e eles me orientaram a procurar o CAPS, que é o Centro de Atenção Psicossocial, oferecido pelo SUS. Fui ao CAPS e conversei com a assistente social que me atendeu muito bem, contei a ela toda a minha história de vida, todas as informações que coletei em quase três meses de pesquisa e como eu me encaixava em tudo aquilo. Então ela me encaminhou para a psicóloga que me questionou se eu não estava querendo dar a mim mesmo um diagnóstico eu disse que “óbvio que não, afinal”, mas após relatar a ela a mesma história que contei à assistente social ela não ficou com mais dúvida. Então me encaminhou para o psiquiatra, que após analisarem meu caso e me ouvirem os dois juntos, novamente, não tinham dúvida, eu estava no espectro autista. Naquele dia saí do consultório mais atônito do que eu já estava nos últimos meses, pois agora estava realmente confirmado. Mas foi só depois de ter saído de lá que descobri a importância de ter também o laudo com meu diagnóstico. Voltei lá e o psiquiatra questionou os motivos de eu querer um laudo, já que eu vivi tanto tempo sem ele. Mas eu disse que precisava dele já que ele me ajudaria a conseguir muita coisa que me foi negada durante tanto tempo. Então ele fez o laudo e me entregou. Apesar de me sentir atônito, pois eu não queria ser autista, já que agora, como eu pensava ainda com todo a forma de vida neurotípica que cresci vendo como a certa, eu também me sentia leve e feliz. Afinal eu descobri a razão de toda a minha diferença social; do meu pensamento e maneira de enxergar a realidade de um modo diferente da maioria das pessoas que eu conheço; das minhas dificuldades de comunicação; dos movimentos que eu sempre fiz com a cabeça, mãos, pés e o corpo todo (as chamadas estereotipias) que eu prefiro chamar de stims; minhas diferenças em relação à minha própria família. Eu comecei a me perceber diferente por volta dos cinco anos de idade e desde então nunca me sentia bem em estar com muitas pessoas; sempre com dificuldades sensoriais; crises de irritação ao ponto de quebrar coisas; minha mãe diz que eu ficava horas sentado em algum lugar com um brinquedo na mão me balançando para trás e para frente cantaraolando “êêêê”. Aprendi a ler e escrever em poucas aulas que minha mãe me deu em casa. Quando fui para a escola aos sete anos eu era muito inteligente, só que não falava com ninguém no intervalo e só ficava encostado na parede, foi assim na escola primária até meus 16 anos no colégio, quando tive meus primeiros amigos que se fizeram meus amigos. Eu era muito estranho, pelo menos as pessoas me diziam isso na cara. Eu, pelo contrário, era acometido também pelo mutismo seletivo e a ansiedade não me deixava falar com as pessoas em público, também não conseguia falar sobre meus sentimentos com ninguém, o que eles chamam de alexitimia. A minha adolescência foi extremamente perturbadora, pois minha mente que já era um turbilhão de pensamentos parecia agora uma mistura de terremoto com furacão. Eu não entendia ironias, nem figuras de linguagem e não conseguia entender a linguagem entre os jovens, muito menos com as garotas. Eu não tinha medo de garotas, pelo contrário, quando eu tentava conversar com uma garota meu cérebro parecia parar e eu não tinha noção alguma do que dizer. Só para ter uma ideia a minha esposa sabe bem disso, a primeira garota que consegui dizer algo para ela é a mesma com quem me casei, fui à casa dela para dizer que gostava dela e levei duas horas em silêncio sem conseguir dizer coisa alguma. O que me ajudou muito foi a igreja. Lá me encontrei com jovens que também haviam passado por muitas dificuldades na vida, que não tiveram amigos também e na igreja eu encontrei um motivo, uma missão, pela qual realmente viver e foi a partir disso que comecei a estudar como me ajudar, como melhorar minha comunicação, já que eu queria muito pregar e ensinar a Bíblia. Tive alguns problemas, principalmente com o espiritualismo e infantilidade religiosa, mas conheci de fato a Cristo e isso fez toda a diferença, eu sempre vi em Jesus essa pessoa tão diferente como eu sempre fui. Só que eu nunca tinha descoberto o que realmente me fazia diferente. Foi aí que me casei, cursei duas faculdades, tive filho, me tornei professor e missionário. Também amo muito a área de informática, web design e design gráfico. Sou também pregador e nessa pandemia estou dando cursos pela internet e lidando com as redes sociais. Ter descoberto o autismo, principalmente no mesmo momento que descobri que meu filho também é autista, foi muito importante. Pois em nenhum momento eu pensei em não querer que meu filho fosse autista, apesar de ter querido que eu não fosse, já que isso mostra as dificuldades que eu enfrentaria para cuidar do meu filho, porém, a realidade é outra, saber que sou autista tem me ajudado a amar e ensinar meu filho a lidar com a pessoa que ele é como autista. Nunca foi segredo pra ele, por mais que ele ainda não entenda isso, mas crescerá sabendo quem ele é e quem ele pode ser. Me ver como pessoa autista não é mais uma limitação, pois eu não tenho mais um ideal de pessoa neurotípica, talvez o mundo ainda me limite, as pessoas ainda não me respeitem ou aceitem quem sou e como sou, não estou falando de fazer o errado ou o mal a alguém, mas eu mesmo me respeito e me aceito. Aceito meus limites, meu tempo, minhas lutas diárias e não sou obrigado a sustentar a expectativa de ninguém sobre mim. Há muitas coisas que quero alcançar ainda, mas hoje eu sei que vou fazer isso como pessoa autista e tenho consciência disso.