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ZELINDA DOS SANTOS BARROS

MÓDULO 1

Processo de emergência histórica dos


quilombos

Cachoeira
2016
REITOR DA UFRB
Sílvio Luiz de Oliveira Soglia

VICE-REITORA DA UFRB
Georgina Gonçalves dos Santos

DIRETOR DO CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS


Wilson Rogério Penteado Júnior

COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS


Herbert Toledo Martins

COORDENADORA DO COLETIVO ANGELA DAVIS – GRUPO DE PESQUISA EM


GÊNERO, RAÇA E SUBALTERNIDADE
Ângela Lúcia Silva Figueiredo

COORDENADORA E DOCENTE DO CURSO QUILOMBOS NA HISTÓRIA E


CULTURA AFRO-BRASILEIRAS
Zelinda dos Santos Barros

TEXTO, REVISÃO TEXTUAL, CAPA, DIAGRAMAÇÃO E LAYOUT


Zelinda dos Santos Barros

B277p Barros, Zelinda das Santos.


Processo de emergência histórica dos quilombos / Zelinda dos Santos
Barros. Cachoeira: UFRB. Coletivo Angela Davis, 2016.
58 p. : il.

Parte integrante do Curso Quilombos na História e Cultura Afro-brasileiras,


Módulo 1.

1. Quilombos – História. 2. Negros – Brasil – História. I. Universidade Federal do


Recôncavo da Bahia. Coletivo Angela Davis – Grupo de Pesquisa em Gênero,
Raça e Subalternidade. II. Título.

CDD – 923.281

A autora é responsável pelas informações contidas neste volume, bem como pelas opiniões
nele expressas. O conteúdo desta obra foi licenciado por tempo indeterminado e
gratuitamente para utilização no âmbito Curso Quilombos na História e Cultura Afro-
brasileiras. É permitida a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer
meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa sem fins lucrativos, desde
que citada a fonte.
Sumário

Unidade 1 – Origens
1.1 A palavra quilombo 06
1.2 O quilombo como fenômeno histórico 07
1.3 As fugas 13
1.4 Indígenas e quilombolas 17
1.5 Mulheres quilombolas 18
1.6 O quilombo dos Palmares 21
Referências bibliográficas 25
Referências iconográficas 27

Unidade 2 – Abordagens sobre os quilombos


2.1 Abordagem culturalista 28
2.2 Abordagem materialista 32
2.3 Movimentos negros 37
2.4 Contribuições da Antropologia e da História contemporâneas
à ressemantização do conceito de quilombo 45
Antropologia 46
História 51
Referências bibliográficas 54
Referências iconográficas 56
Sobre a autora 58
Unidade 1 – Origens

A resistência à escravidão foi uma marca do período


de vigência desse sistema no nosso país. Seja de forma
individual - recusa ao trabalho (o chamado “corpo mole”),
roubo, sabotagem, assassinato dos senhores, fugas,
infanticídio, aborto e suicídio, ou de forma coletiva – revoltas BANTO
Nome da grande
e rebeliões, que resultavam ou não na formação de família de línguas
faladas em cerca
quilombos, a resistência acentuou o papel ativo dos de um terço do
continente
escravizados na luta contra a escravidão e destacou um africano,
compreendendo
aspecto perverso do sistema: a humanização do/a cerca de 500
idiomas,
escravizado/a apenas no momento em que cometia um pertencente ao
ramo Benué-
crime. A nenhum outro tipo de propriedade eram aplicadas Congo, da família
Níger-Congo.
punições e penas (FLORENTINO & AMANTINO, 2012). “Bantu” significa
“gente” ou “povo”
Nesta Unidade, discutiremos as origens de uma das em parte das
línguas desse
principais formas de resistência à escravidão e à grupo. O kimbundu
e o kikongo,
desumanização dos africanos e seus descendentes idiomas bantu
utilizados na
escravizados: o quilombo. Algumas questões nortearão região do Congo-
Angola,
nossos estudos: Qual a origem da palavra quilombo? Quais influenciaram
enormemente o
os motivos para a formação de quilombos? Onde podemos português falado
no Brasil.
localizar as primeiras organizações quilombolas? (FIGUEIREDO,
2010, p. 68)

1.1 A palavra quilombo


Quilombo é a tradução da palavra kilombo, de origem
banta, que significa arraial ou acampamento (MOURA, 2004,
p. 335). No Novo Dicionário Banto do Brasil, Nei Lopes (2003,
p. 186) nos apresenta as acepções da palavra:
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(1) Aldeamento de escravos fugidos. (2)


Folguedo popular alagoano, espécie de
dança dramática (BH) – Do quimbundo
kilombo, acampamento, arraial, povoação,
povoado; capital; união; exército. Segundo
Adriano Parreira (Economia e sociedade em
Angola na época da rainha Jinga, Lisboa, Ed.
Estampa, 1990, pág. 153), ‘o vocábulo
kilombo (nos séculos XV-XVII) tem uma dupla
conotação: uma, toponímica e outra,
ideológica. Eram assim também designados
os arraiais militares mais ou menos
permanentes, e também as feiras e
mercados de Kasanji, de Mpungo-
a_Ndongo, da Matamba e do Kongo’ – O
auto popular alagoano é uma reminiscência
do Quilombo de Palmares.

No Brasil, até a emergência do Quilombo dos Palmares,


eram chamados de mocambos. Também chamados de
palanques, cumbes, patucos ou cimarrons, nas colônias
espanholas da América do Sul; bush negroes, na Guiana
Francesa e Suriname; grand marronage, nas colônias
francesas; hide-outs ou mainels, nos EUA; no Caribe inglês e
no sul dos EUA, os quilombos eram referidos como maroons.
A quem fugia para o quilombo se chamava quilombola,
calhambola, canhembora, caiambola ou carambola,
mocambu, mucamo, mocambeiros (MOURA, 2004, p. 79;
274;282; REIS & GOMES, 1996).

1.2 O quilombo como fenômeno histórico


Assim como os significados da palavra, as formas
assumidas pelos quilombos variam dependendo do lugar e
do momento histórico em que ocorrem. Como nos informa
Fábio Baqueiro Figueiredo (2009), o quilombo surgiu na África

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como sociedade de iniciação masculina e se transformou,


no século XVII, em organização militar.

Sociedade de iniciação masculina de


origem umbundu, ligada à circuncisão.
Esteve na base da centralização política do
antigo Estado do Kulembe, e, mais tarde,
nado Libolo. A partir do Libolo, o kilombo foi
incorporado por migrantes de origem lunda,
os imbangala, que o transformaram em uma
organização social predatória. As linhagens
foram abolidas e a reprodução do grupo se
dava através do rapto de crianças,
principalmente do sexo masculino. No
começo do século XVII, alguns kilombos
imbangala entraram em contato com os
colonos portugueses em Luanda e se aliaram
a eles para derrotar o Ndongo. Em seguida,
se estabeleceram enquanto um Estado
intermediário no tráfico de escravos – o
Kasanje. Os kilombos que haviam se
deslocado mais para o sul resistiram
duramente à penetração portuguesa até a
segunda metade do século, quando
passaram a fornecer um grande número de
escravos aos comerciantes portugueses.
Alguns kilombos estão na origem de certos
Estados umbundu. (FIGUEIREDO, 2009, p. 129)

A luta da rainha Nzinga Mbandi contra o domínio


português em Angola no século XVII é emblemática do
quilombo como um tipo de organização político-militar. VOCÊ SABIA?

Segundo Martin Lienhard (1998, p. 109), na forma como NZINGA MBANDI -


Rainha africana dos
praticado pela rainha, “...quilombo equivale, pois, à forma reinos Ndongo e
Matamba que, de
que adota seu estado em tempo de guerra: é o senhorio 1624 a 1683 lutou
contra o domínio
mesmo que se desloca pelos matos.” português na região
do Congo-Angola.
Diferentemente dos quilombos brasileiros, que se
tornaram símbolos da resistência à escravidão, após

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deixarem de resistir aos portugueses, no século XVII, os


quilombos angolanos serviram como empórios de africanos
escravizados para o tráfico na medida em que os
aprisionavam e vendiam para os europeus (MOURA, 2004).
No Brasil, o primeiro quilombo de que se tem notícia
surgiu em 1573, na Bahia, e foi destruído em 1575 (MOURA,
2004). Flávio Gomes (1997) identifica diferentes formas de
quilombos: aqueles que constituíam comunidades
independentes e desenvolveram práticas econômicas
integradas à economia local, aqueles que se constituíam a
partir de protestos dos escravos em relação aos seus senhores
e aqueles formados por pequenos grupos que assaltavam,
invadiam e saqueavam fazendas e povoados próximos.

Assim como a palavra mocambo, no entendimento


estatal e do senso comum, quilombo fazia referência a
grupos de escravos que fugiam para viver em locais de difícil
acesso, longe dos senhores. Essa era a essência da definição
oficial, que inclusive fazia referência ao número mínimo de
fugitivos que formaria um quilombo, como vemos na resposta
do Rei de Portugal à consulta do Conselho Ultramarino, em
1740: “...toda habitação de negros fugidos, que passem de
cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham
ranchos levantados e nem se achem pilões nele” (ALMEIDA,
2002, p. 47).

Em 1757, houve uma mudança na definição de


quilombo, que passou a fazer referência a grupos com mais
de seis escravos arranchados e fortificados com a intenção
de se defender (VAINFAS, 2001). Apesar das variações,

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Alfredo Almeida (op. cit.) identifica alguns elementos


presentes na definição oficial de quilombo: fuga,
quantidade mínima de fugitivos reunidos, isolamento
geográfico, moradia habitual, consumo e (re)produção.
Em se tratando dos chamados “quilombos históricos”
(PRICE, 2000, p. 10), por ser um tema majoritariamente
abordado a partir da análise de documentos produzidos por
pessoas e instituições ligadas à administração colonial,
cuidados semelhantes aos tomados na análise de
documentos sobre indígenas são necessários: identificar os
autores, as motivações para a escrita, o contexto de
produção do documento, o seu conteúdo e as
representações sociais correntes sobre africanos,
escravizados e quilombolas (PARAÍSO, 1994, p.44).

Passado, resistência, isolamento. Essas palavras dão conta do significado


de quilombo?

Estudos recentes sobre a população negra no período


escravista nos mostram que é inadequado limitar o conceito
de quilombo à definição oficial porque ela não dá conta da
complexa realidade social da época. Contrariando a tese
do isolamento espacial, Marco Aurélio Luz (2000) assinala que
os primeiros quilombos se localizam próximo aos engenhos
devido ao desconhecimento do terreno pelos africanos, o
que facilitava a sua repressão e destruição. Almeida (op. cit)
cita o quilombo do Frechal, no Maranhão, formado na
mesma área onde se localizava a casa grande. Também
foram identificados quilombos em áreas urbanas.

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Muitos quilombos se formaram próximos a localidades


onde os quilombolas podiam realizar trocas comerciais, fosse
vendendo os produtos cultivados e os animais criados no
próprio território (ou obtidos nos roubos e furtos que
realizavam) ou comprando produtos a que não tinham
acesso nos locais onde se estabeleciam (GOMES, 1997;
REIS,1995-96; REIS & GOMES, 1996).
As redes de interação e sociabilidade com as
populações vizinhas contribuíam para a segurança dos
quilombolas, que muitas vezes eram avisados por lavradores,
escravizados e até mesmo por fazendeiros, quando
expedições eram enviadas para atacá-los.

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QUILOMBOS E MOCAMBOS NA BAHIA (1575-1821)

DATA LOCAL
1575 -
1580 -
1601 Itapicuru
1614 Sertão
1629 Rio Vermelho
1632 -
1636 Itapicuru
1640 Rio Real
1655 Jeremoabo
1661 Cachoeira
1663 Subúrbio da cidade de Salvador
1666 Inhambupe (Irará)
1666-7 Torre
1667 Jaguaripe
1667 Maragogipe e Paraguassu
1674-5 Sergipe del Rei e Nossa Senhora do Socorro
1681-91 Serra de Jacobina (Acaranquanha)
1987 Rio Real e Inhambupe
1692 Camamu
1699 Cairu
1705 Jacuipe
1706 Jaguaripe
1713 Maragogipe
1714 Cachoeira
1722 Cairu
1723 Nazara (Quiricós)
1726 Jacobina
1729 Sítio do Mato
1733 Canavieiras
1734 Santo Amaro e Nazaré
1735 Jacobina
1735 Camarogipe
1736 Rio das Contas
1744-64 Itapuã (Buraco do Tatu)
1745 Santo Amaro
1771 Jaguaripe
1789 Ilhéus (Santana)
1791 Jacuípe
1796-9 Serra do Orobó (Orobó, Andaraí e Tupim)
1801 Jacobina
1804 Oitizeiro
1807 Subúrbios da cidade de Salvador (Cabula)
1807-8 Cachoeira
1821-28 Ilhéus (Santana)
FONTE: PEDREIRA, Pedro Tomás. Os quilombos brasileiros...; REIS, João José. Slave in rebelion... e “Resistência escrava em Ilhéus...;
SCHWARTZ, Stuart B. “Mocambos, quilombos...” e Slaves, peasants and rebels... Também complementamos com pesquisas junto às
fontes manuscritas impressas em vários volumes dos DOCUMENTOS HISTÓRICOS, DA BNRJ
(Extraído de GOMES, 1997, p. 655.)

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1.3 As fugas

Se a fuga foi o movimento inicial para a formação de muitos quilombos no


período colonial, podemos dizer que toda fuga tinha esse objetivo? Todo
quilombo foi formado a partir da fuga de escravizados?

Ao tratar da formação dos quilombos no Brasil, Sharyse


Amaral (2010) nos diz que a fuga era inerente ao sistema
escravista, mas nem sempre o escravizado fugitivo se
desligava permanentemente do seu senhor ou a fuga
resultava na formação de quilombos. Mais frequentes,
especialmente em períodos de alta no preço dos escravos,
eram as fugas temporárias, resultantes “... do impacto do
desembarque do africano nas Américas, do humor do cativo
ou da natureza do trabalho a ele demandado, quando não
da vontade explícita de mudar de senhor” (FLORENTINO &
AMANTINO, 2012, p. 263).

As fugas eram diferentes segundo a sua motivação,


podendo ser fugas-rompimento, quando a relação senhor-
escravo era definitivamente rompida, ou fugas-
reivindicativas, quando visavam uma conquista que
significasse melhoria das condições de vida ou alargar a
autonomia do escravizado (Ibid). Com as fugas temporárias,
os escravizados não rompiam definitivamente com o regime,
buscavam se adaptar a ele.

No caso de fugas permanentes, além da formação de


quilombos, havia caso de fugitivos que se misturavam à
população de escravizados dos núcleos urbanos. Segundo
Edison Carneiro (1975, p. 3), do negro que fugia dizia-se: “’Foi

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pra capoeira; caiu na capoeira, meteu-se na capoeira’”,


numa associação da forma de luta típica africana ao mato,
espaço importante no processo de resistência contra a
escravidão.

Amaral (op. cit.) lista algumas motivações para a fuga


no período da escravidão:
Reivindicação de melhorias no tratamento dado
pelo senhor;
Tentativa de devolução ao antigo dono, no caso de
venda recente;
Busca por um comprador que o adquirisse do antigo
senhor;
Cumprimento de obrigações religiosas durante
determinado período de tempo;
Visita a parentes separados pela venda;
Trabalho para compra da alforria;
Busca por diversão.

Entre os fugitivos, destacavam-se os africanos recém


chegados, sendo “plausível que em grande medida se
escapasse como resposta à solidão e à subtração dos
códigos culturais que na África estruturavam a vida.”
(FLORENTINO & AMANTINO, 2012, p. 267).

Mesmo que muitos quilombos tenham sido formados a


partir de fugas coletivas, há casos daqueles que surgiram a
partir de fugitivos individuais que se uniram paulatinamente a
outros fugitivos, formando comunidades (REIS, 1995-96).
Compunham as populações dos quilombos não apenas
africanos e seus descendentes escravizados, mas indígenas,

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perseguidos pela polícia, fugitivos do serviço militar, brancos


pobres, prostitutas e outros marginalizados pelo sistema.
Manolo Florentino e Márcia Amantino (op. cit.)
afirmam que as fugas de escravizados, individuais ou
coletivas, temporárias ou definitivas, não foram tão
frequentes quanto se imagina.

A baixa frequência de fugas era uma das


mais contundentes expressões da
multissecular estabilidade do escravismo
americano, resultante tanto da força dos
mecanismos de controle social quanto, em
especial, dos processos que aceleravam a
aculturação e mitigavam parte da opressão.
No limite, era efeito da progressiva afirmação
de uma cultura escrava de feição
camponesa ou protocamponesa, expressa
na busca de conquistas como o trabalho por
tarefas e a obtenção de tempo livre para se
engajar em suas próprias atividades.
(FLORENTINO & AMANTINO, op. cit., p.
265).

A punição aplicada aos fugitivos capturados era


bastante severa: açoites, marcações a ferro em brasa,
enforcamento, corte de membros, degola e exposição de
cabeças em praças públicas. Com o aumento do preço dos
escravos, em meados do século XVIII, houve um aumento da
repressão aos quilombos. Em 7 de março de 1741, foi baixado
um decreto que determinava que os fugitivos encontrados
em quilombos fossem marcados com um “F” na testa; caso
fossem reincidentes, teriam uma orelha cortada (MOURA,
1981).

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Toda essa violência resultava em ações de resistência


escrava, cujo símbolo máximo era o quilombo. Os
quilombolas defendiam seus territórios de variadas formas,
com o uso de armas, armadilhas, construção de muralhas,
fortalezas e outros mecanismos. Na Bacia do Iguape, em
VOCÊ SABIA?
Cachoeira/BA, de 1810 a 1830 houve, pelo menos, 3(três)
Junto com a Zona
rebeliões escravas: 1814, 1827 e 1828. Em 1828, os escravos da Mata
pernambucana, o
atacaram o Engenho Novo, o Engenho Campina, o Engenho Recôncavo
destacava-se como
da Cruz e uma propriedade vizinha ao Calembá. uma das regiões de
agricultura de
Os ataques a fazendas - que frequentemente plantation mais
antigas e
resultavam em assassinatos de senhores de engenho e importantes do
Brasil. A Bacia do
libertação de escravos, despertava a ira dos senhores, que Iguape, em
Cachoeira, foi uma
enviavam exércitos com o intuito de destruir os quilombos. das maiores
produtoras de
Como forma de aumentar a repressão, foi instituído o cargo açúcar do Brasil.
Os primeiros
de capitão-mor da entrada dos mocambos, em 26 de engenhos de
açúcar de Santiago
novembro de 1714, e de capitão do mato, através do do Iguape, vila
fundada por
Regimento de 17 de dezembro de 1722. jesuítas na Bacia
do Iguape, foram
Ao abordar como o negro era representado pelo construídos no
século XVI, época
imaginário das elites paulistas do século XIX, Célia Azevedo de sua fundação.
Em 1835, havia 21
Marinho (1987) nos fornece elementos para perceber como engenhos no
Iguape, com uma
ações de resistência dos negros no período final do regime média de 123
escravos cada. À
escravista foram impactantes e suscitaram debates e época, os
engenhos da região
medidas por parte das elites econômicas do período. Se produziam,
aproximadamente,
foram representados e tratados como mercadorias, não a terça parte de
todo o açúcar
significa que assim se comportassem. exportado pelo
país.
O aumento do número de revoltas e assassinatos de (BARRICKMAN,
2003).
senhores e feitores nas últimas décadas do século XIX sinaliza
para uma mudança na forma como a resistência se

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concretizava, deixando de se concentrar nas fugas e nos


quilombos para ganhar o espaço de trabalho dos
escravizados e desafiar o controle e a disciplina impostos
pelo regime.

No século XIX, principalmente após a Revolta dos


Malês, foram promulgadas leis que se destinavam
especificamente aos africanos, sob o argumento de que eles
eram mais perigosos, principalmente quando libertos. A Lei nº
9, de 13 de maio de 1835, determinava medidas que tinham
como alvo principal a retirada da Bahia dos africanos libertos
e dos africanos livres trazidos pelo tráfico ilegal.

Com a abolição da escravidão, pelo menos para o


universo jurídico, os quilombos teriam se extinguido (ALMEIDA,
2002). Nesse período, a representação dominante
aproximava quilombo de banditismo e os quilombolas
passaram a ser considerados bandidos rurais, sendo
explicados pela medicina legal do período.

Em 1828, o escravizado Lucas da Feira fugiu de uma fazenda em Feira de Santana e


se uniu a outros fugitivos, atuando no sertão por 20 anos. Ele foi capturado e morto
em 25 de setembro de 1849, e seu crânio foi examinado em 1895 por Nina Rodrigues.
Rodrigues sentenciou que seu crânio não tinha características de um criminoso nato,
concluindo que ele seria um guerreiro e um rei afamado se estivesse na África
(ALMEIDA, 2002).

1.4 Indígenas e quilombolas


A presença indígena nos quilombos era marcante,
assim como também nas milícias e exércitos que tentaram
capturar escravizados e destruir quilombos. Quilombolas
baianos estiveram ao lado dos indígenas Mongoiós ou

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Nagoiós nas lutas contra as entradas e bandeiras na região


central da Bahia (MOURA, 1981).

No quilombo dos Palmares, foram encontrados


vestígios da presença indígena, o que indica uma interação
frequente e próxima entre os dois grupos (GOMES, 2011).
Milhares de indígenas também foram recrutados para as
incursões contra Palmares, como ocorreu na tropa formada
por Domingos Jorge Velho para atacar Palmares em 1691.
Famílias formadas por negros e indígenas também foram
identificadas no quilombo do Piolho, de Mato Grosso,
destruído em 1770.

Indígenas também fizeram parte de incursões contra


quilombos, como as que resultaram na destruição do
quilombo Buraco do Tatu, próximo à Itapuã, em 1763, do
quilombo dos Palmares, no final do século XVII, e do Oitizeiro,
no sul da Bahia, em 1806 (REIS, 1995-96). No contingente que
compunha as forças de Rodolfo Bareo, chefe holandês que
atacou Palmares em 1644, os indígenas eram maioria
(CARNEIRO, 1966 [1947]).

1.5 Mulheres quilombolas


A história da participação feminina nos quilombos tem
sido construída a partir das poucas fontes documentais que
nos permitem estimar como atuavam. Assim, temos também
resistido ao processo de apagamento da nossa memória,
que nos impede de conhecer histórias de mulheres como a
de Zeferina, de Aqualtune e Dandara, em Palmares; de
Tereza, do quilombo Quariterê, no Mato Grosso; de Maria

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Crioula, no Rio de Janeiro; de Felipa Maria Aranha, no Pará;


além de outras tantas mulheres negras anônimas.

Com a desproporção entre homens e mulheres negras,


em muitos quilombos a presença feminina indígena foi
significativa, seja por terem sido raptadas ou por terem
mantido contatos voluntários com os quilombolas. No
quilombo dos Palmares, grande parte das mulheres chegou
após os homens, levadas pelos palmarinos juntamente com
outros homens escravizados em fazendas das redondezas
(CARNEIRO, 1966 [1947]).

Faziam parte do contingente feminino que habitava o


quilombo dos Palmares mulheres que lá chegaram
voluntariamente, inclusive brancas: “A mulher de um
lavrador de partido foi viver entre os palmarinos para
escapar à férula do marido; uma prostituta trocou o cais do
Recife pela Serra da Barriga” (FREITAS, 1984, p. 28). Em virtude
da escassez de mulheres, foi instituída a poliandria, ou seja, a
união de uma mulher com vários homens.

Tanto o número de mulheres que fugiam assim como a


presença de mulheres nos quilombos era significativamente
menor em relação aos homens, mas isso não significa que
elas não tenham desempenhado papel importante nesse
contexto.

Ao estudar os quilombos de Minas Gerais, Silva (2005)


observou que as libertas que trabalham no pequeno
comércio como quitandeiras e vendedoras de rua atuaram
na rede de informantes associados aos quilombolas,
transmitindo informações sobre o que acontecia nas
cidades. Um exemplo dessas mulheres foi Adelina, charuteira
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que viveu em São Luís do Maranhão, no século XIX, e que,


devido à sua atividade, circulava em variados meios sociais,
obtendo e transmitindo informações ao Clube dos Mortos,
associação que facilitavam a fuga dos escravizados
(MOURA, 2004, p. 18).

Mesmo escravizadas, as mulheres contribuíram para os


quilombos. Foi o que ocorreu a Maria e Mariana, do Espírito
Santo, que em 1840 vendiam carne de gado roubado e
sabão para comprar produtos que abasteciam quilombos
da região (MOURA, 2004, p. 267).

As mulheres tiveram papel destacado na rede de


proteção criada em torno dos quilombos e, muitas vezes,
exerciam papel de liderança no interior dos mesmos. Alguns
nomes femininos que se destacam na historiografia dos
quilombos são os de Acotirene, líder de um dos quilombos da
República de Palmares, Aqualtune, mãe de Ganga-Zumba e
avó materna de Zumbi, e Dandara, mulher de Zumbi.

Ao tratar da líder quilombola Zeferina, do maior


quilombo baiano, o do Urubu, localizado no atual Parque
São Bartolomeu, em Salvador/BA, Sílvia Barbosa (2003; 2005)
nos ajuda a entender como as mulheres atuavam no
processo de libertação da escravidão. De origem angolana,
Zeferina foi escravizada e resistiu ao regime, fugindo para o
subúrbio soteropolitano. Lá, fundou o quilombo e exerceu
papel de liderança na defesa da liberdade dos negros e
demais segmentos que ali viviam, fosse protagonizando
revoltas, como a de 17 de dezembro de 1826, ou praticando
o candomblé.

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade I - Origens
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1.6 O Quilombo dos Palmares

Mapa Praefecturae Paranambucae pars Meridionalis (1647), de Georg Marcgraf (1610-1644) e


Casper Barlaeus (1584-1648), única representação iconográfica conhecida de Palmares
Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal

Maior símbolo da resistência negra contra a


escravidão, foi criado por negros bantos, aproximadamente,
no final do século XVI, localizado entre Alagoas e
Pernambuco. O seu início é fruto de especulações, pois não
há registros. Gomes (2011) identifica duas possíveis formas de
surgimento: a partir de uma revolta na Vila de Porto Calvo,
em fins do século XVI, ou a partir da migração de
escravizados em fuga da Bahia para Pernambuco na
ocasião da ocupação holandesa (1624-1654).

Palmares abrigava várias comunidades, governadas


pelo Ganga Zumba (rei), e tinha como generais os chefes
locais de cada um dos mocambos da confederação. Era
também chamado pelos moradores do entorno de

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Unidade I - Origens
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Angola Janga, expressão quimbundo que significa “Angola


Pequena” (MOURA, 2004, p. 43-44).

O quilombo dos Palmares foi descrito por Carneiro


como “um Estado negro à semelhança dos muitos que
existiam na África, no século XVII” (CARNEIRO, 1966 [1947], p.
4), o que foi refutado por Freitas (1984, p. 96) ao defini-lo
como “uma criação original de negros empenhados na luta
e na resistência contra a escravidão”.
A resistência às entradas, expedições enviadas para
destruí-lo, não foi prolongada ou constante, pois os
palmarinos frequentemente abandonavam o campo de
batalha em busca de locais onde pudessem se resguardar e,
se fosse o caso, contra-atacarem os inimigos. À medida que
um quilombo era destruído, novos eram formados.
Além de indígenas, negros também participaram das
expedições que tentaram derrotar Palmares. Foi o caso de
Henrique Dias, que em 1633, durante a ocupação
holandesa, se apresentou aos portugueses e ofereceu seus
serviços ao comandante Matias de Albuquerque. Em 1639,
“recebeu a patente de Cabo e Governador dos crioulos e
mulatos que serviam ou viessem servir na guerra” (FREITAS, op.
cit., p. 50). A experiência do terço de Henrique Dias originou
os terços dos Henriques, “regimentos negros e mestiços que
se mantiveram por todo o período colonial, adentrando
mesmo os primeiros anos do Brasil independente” (SALLES &
SOARES, 2005, p. 34).
Em 1645, foram identificados os quilombos do Zambi
(chefe), de Arutirene, das Tabocas, Dambrubanga, Subrupira
(ou Subupira), Macaco (capital da federação de

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade I - Origens
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quilombos), Osengá, Amaro, Palmares de Antalaquituxe


(RODRIGUES, [1906] 2004).

NOMES DOS MOCAMBOS EM PALMARES QUE APARECEM NA


DOCUMENTAÇÃO COLONIAL

Uma Aqualtune
Macaco Pedro Capacaça
Gôngora Acotirene
Subupira Cucaú
Oiteiro Tabocas rande
Osenga Quissama
Garanhuns Tabocas Pequeno
Dambraganga Catinga
Quiloange Andalaquituche
Extraído de GOMES, 2011, p. 16.

Macaco, ou Cerca Real do Macaco, era o mais


importante mocambo, chefiado por Ganga Zumba. O
segundo mais importante era Subupira, chefiado por Gana
Zona, irmão de Ganga Zumba. O fugitivo que conseguia
chegar até Palmares era considerado livre, mas o
escravizado capturado pelos quilombolas palmarinos
somente deixaria de ser escravo se levasse algum cativo até
Palmares. Se fugisse e fosse capturado, por medida de
segurança, seria morto (CARNEIRO, 1966 [1947]). Apesar
disso, a afirmação de que Palmares reproduzia o escravismo
próprio das civilizações africanas, é incorreta. Segundo
Freitas,

O falado “escravismo africano” não passa de


abusão histórica hoje cabalmente refutada. A
escravidão nunca existiu como modo de
produção na África e mesmo quando aparece
em sua história, a título completamente
excepcional, assume quase sempre um caráter
patriarcal, o próprio prisioneiro de guerra
22
Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade I - Origens
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incorporado depois de algum tempo à


família do vencedor. (FREITAS, 1984, p. 29)

Os palmarinos viviam das lavouras de milho, banana,


cana de açúcar, feijão, batata doce e mandioca, além da
coleta de frutas da região e da criação de animais. Uma das
estratégias dos exércitos enviados para Palmares era a
destruição das plantações.
Diante da grandiosidade de Palmares e da ameaça
que os quilombos representavam ao sistema colonial,
estratégias foram criadas para reprimir as fugas, capturar
escravos fugitivos e destruir quilombos. O quilombo de
Palmares, durante quase um século de sua existência, foi
marcado por muitas tentativas de destruição, das quais se
destacam: em 1602, a primeira expedição de que se tem
registro, enviada pelo governador-geral Diogo Botelho; em
1644, chefiada pelo holandês Rodolfo Bareo; de 1675 a 1678,
pelo exército do governador pernambucano Pedro de
Almeida; em 1697, quando foi praticamente destruído por
um exército formado por cerca de três mil homens, entre
paulistas, alagoanos e pernambucanos (CARNEIRO, 1966
[1946]).
Um dos episódios decisivos na história de Palmares foi
o acordo de paz firmado por Ganga Zumba com o
governador Aires de Souza e Castro, em 1678. A promessa de
entregar os negros nascidos fora de Palmares aos seus
antigos senhores em troca de terras e liberdade para os
palmarinos suscitou a ira da massa quilombola e facilitou a
tomada do poder em Macaco por Zumbi, que depois
Ganga Zumba se tornou o novo rei de Palmares.

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade I - Origens
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A morte de Zumbi por suicídio foi desmentida por


Carneiro, que afirmou ter sido o guerreiro morto em 1695, dois
anos depois de um dos principais ataques ao quilombo do
Macaco, numa entrada chefiada pelo capitão André
Furtado de Mendonça e não por Domingos Jorge Velho,
como se propagara. Seu esconderijo foi revelado por um
homem capturado no quilombo e, no momento em que foi
surpreendido encontrava-se com mais 20 homens, que
também foram mortos após resistirem bravamente. Zumbi,
líder da capital Macacos, foi morto em 20 de novembro de
1694 e sua cabeça foi cortada e exposta em praça pública
de Recife para inibir possíveis revoltas.
Na próxima Unidade, ao distinguir diferentes
abordagens sobre quilombos, veremos como os movimentos
negros fizerem renascer Zumbi dos Palmares como herói
negro.

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Quilombo_S%C3%A3o_Jos%C3%A9_da_Serra_06.jpg

SERAFRO. 1ª Vivência Estadual de Educadores e Lideranças Quilombolas.jpg.


2013. Altura: 3.872 pixels. Largura: 2.592 pixels. 1.29 Mb. Formato JPEG.
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https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/83/1%C2%AA_Vi
v%C3%AAncia_Estadual_de_Educadores_e_Lideran%C3%A7as_Quilombolas.j
pg/800px-
1%C2%AA_Viv%C3%AAncia_Estadual_de_Educadores_e_Lideran%C3%A7as_
Quilombolas.jpg

27
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos

Ao examinarmos os estudos sobre quilombos no Brasil,


podemos identificar abordagens distintas, desde as que
tratam o quilombo como refúgio de escravos fugitivos no
passado colonial às que o destacam como comunidade
caracterizada, no passado e no presente, por um modo de
produção material e simbólica relativamente autônomo.
Nessa Unidade, estudaremos as principais abordagens
sobre o tema, incluindo as abordagens dos movimentos
sociais negros, que transformaram o negro de objeto de
ciência em sujeito de conhecimento e ampliaram o conceito
de quilombo, fazendo com que grupos sociais urbanos como
favelas, grupos artísticos e culturais também sejam incluídos.

2.1 Abordagem culturalista


Segundo Kabengelê Munanga (2008), podemos
identificar três períodos distintos nos estudos africanos no
Brasil:

1900-1950 => o conhecimento da África está


relacionado aos estudos afro-brasileiros. A
preocupação é em entender os mecanismos
de resistência, continuidade e inovação das
culturas africanas na Diáspora. Partindo da
Antropologia Evolucionista da época, o
negro é visto como objeto, não como sujeito
de conhecimento.
1950-1960 => Os “estudos sobre a África
ressurgem no quadro da Conferência de
Bandung (1955), e tem seu apogeu após a
queda do império colonial e nos anos que se
seguem à independência da maioria dos
países africanos” (MUNANGA, op. cit., p. 22).
Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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Década de 1970 => “[...] estreitamente


vinculado à ação político-ideológica do
segmento afro-brasileiro – ‘afrodescendente’
ou ‘africano-brasileiro’”. Inspirado no
Movimento Negritude, da década de 1930,
Teatro Experimental do Negro, de Abdias
Nascimento, e no Teatro Popular, de Solano
Trindade, das décadas de 1940 e 1950, e do
panafricanismo. Surge a preocupação com
o resgate da identidade coletiva do negro,
com a obrigatoriedade do ensino de história
da África e dos africanos na diáspora.
(MUNANGA, 2008, p. 22).

VOCÊ SABIA? A abordagem culturalista é característica do período


A ACULTURAÇÃO
Conferência de inicial dos estudos africanos no Brasil, quando predominavam
– Segundo
Bandung Artur
foi uma
Ramos,
reuniãoé de
“o fato
23 os estudos de mudança social e de aculturação,
de duas
países ou mais
asiáticos e
seis africanos
culturas em
se porem interessados pelas “sobrevivências” das culturas africanas no
emBandung
contato,
(Indonésia),
tendendo aentremais
Brasil, como as crenças e os ritos religiosos, principalmente os
18 e 24 adiantada
de abril dea
1955, com o oriundos do golfo da Guiné. Sylvio Romero sintetiza como o
suplantar a mais
objetivo de mapear
atrasada”
o futuro de uma negro era considerado na ciência de então: “O negro não é
(RAMOS, 1979
nova força política
[1937],
global p. 53)
(Terceiro
só uma máquina econômica; ele é antes de tudo, e
Mundo), visando a
malgrado sua ignorância, um objeto de ciência” (ROMERO,
promoção da
cooperação 2005 [1950], p. 19)
econômica e
cultural afro- A principal característica desse tipo de abordagem é
asiática, como
forma de oposição a ênfase ao quilombo como resistência cultural, como
ao neocolonialismo
dos Estados recriação ou continuidade africana em solo brasileiro. Os
Unidos e da União
Soviética. quilombos são representados como o oposto da senzala,
FONTE: Wikipedia
(https://pt.wikipedia uma vez que recriariam a África no Brasil, enquanto que as
.org/wiki/Confer%C
3%AAncia_de_Ban senzalas representariam o sistema de aculturação imposto
dung)
pelo regime escravista.

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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O principal nome dos estudos


dessa corrente no Brasil é Raimundo
Nina Rodrigues (1862-1906), que
propôs um método de estudo das
culturas negras em que, baseado em
estudos de outros autores sobre as
culturas negras africanas, identificaria
as sobrevivências dessas culturas
entre os negros brasileiros. Um outro Raimundo Nina Rodrigues
FONTE: Wikimedia

interesse de Nina Rodrigues foram as


mudanças que essa herança cultural africana sofreu ao
longo do tempo em que esteve em contato com outras
culturas, antecipando os estudos de aculturação mais tarde
realizados pela antropologia estadunidense (RAMOS, 2005
[1950]).
Ao discorrer sobre Palmares, considerado por ele “a
maior das ameaças à civilização do futuro povo brasileiro”,
Nina Rodrigues dirá que “...em liberdade os negros de
Palmares se organizaram em um estado equivalente aos que
atualmente se encontram por toda a África ainda inculta”
(RODRIGUES, 2004 [1906], p. 95). É característica do MELVILLE J.
HERSKOVITS
pensamento de Nina Rodrigues a hierarquização das (1895-1963) –
antropólogo
culturas europeia, indígena e negra e a inferiorização as duas estadunidense,
últimas perante a primeira. discípulo do
culturalista Franz
Em seu livro As culturas negras no Novo Mundo (1937), Boas, foi um dos
pioneiros dos
o psiquiatra e antropólogo Artur Ramos (1903-1949) recupera estudos afro-
americanos e
a teoria da aculturação do antropólogo estadunidense africanos na
academia dos
Melville J. Herskovits e relembra os três resultados da
EUA.
aculturação por ele observados: a aceitação, “quando a
nova cultura é aceita, com perda ou esquecimento da

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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herança cultural mais velha”, a adaptação, quando “ambas


as culturas, a original e a estranha, combinam-se
intimamente, num mosaico cultural, num todo harmônico”, e
a reação, “quando surgem movimentos contra-aculturativos,
ou por causa da opressão, ou devido aos resultados
desconhecidos da aceitação dos trações culturais
estranhos” (RAMOS, 1979 [1937], p. 245). Os quilombos são
interpretados por Ramos como uma reação à aculturação.
Das três formas de reação dos negros contra
escravidão apontadas pelo antropólogo Edison Carneiro
(1912-1972), a revolta organizada, a insurreição e a fuga para
o mato de que resultaram os quilombos, ele considera a
formação de quilombos a mais geral.

Era uma reação negativa – de fuga, de


defesa. Era a reação mais simples. Mesmo
quando os balaios passavam à ofensiva,
explorando a situação de intranquilidade
reinante no Maranhão, ao lado do
movimento existia o quilombo do Cosme.
(CANEIRO, op. cit., p. 3)

Em O quilombo dos Palmares (1966 [1946]), Carneiro


qualifica a caracterização feita por Nina Rodrigues em Os
africanos no Brasil (1932), como uma das melhores já feitas
sobre o tema, especialmente por destruir “a argumentação
com que alguns simplistas pretendiam que houvesse eleições
à maneira republicana no quilombo” (CARNEIRO, 1966, p.
143), que ele classificava como uma oligarquia formada por
“um grupo de chefes mais ou menos despóticos” (Ibid, p. 2).

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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O antropólogo francês Roger Bastide (1898-1974), em


MARRÃO –
As Américas Negras: as civilizações africanas no Novo Mundo derivado do
(1974 [1967]), atribui aos negros marrãos, ou fugitivos, o papel espanhol cimarrón,
designa animais
de guardiões das civilizações africanas devido à recusa a domesticados que
voltam a ser
serem assimilados. selvagens, como o
porco (BASTIDE,
O isolamento dos quilombos formados a partir da 1974).
reunião de africanos boçais, ou recém-chegados,
proporcionaria melhores condições para a preservação dos
valores culturais africanos do que aqueles formados por
crioulos, descendentes de africanos nascidos no Brasil. As
fugas coletivas e a homogeneidade étnica também
favoreceriam. Uma vez que essas condições não foram
mantidas por muito tempo nos lugares para onde os
africanos escravizados foram levados, Bastide afirma que os
traços culturais dos grupos de origem foram esmaecidos, o
que provocou o surgimento de uma cultura sincrética.
Um dos problemas dessa abordagem é a
compreensão da cultura como uma experiência estática
(GOMES, 1997), pois os quilombos são abordados como
isolados culturais.

2.2 Abordagem materialista


Por meio desse tipo de abordagem, que se fortaleceu
a partir da década de 1950, o quilombo é representado
como o símbolo máximo de resistência dos escravizados ao
modo de produção escravista, forma superior de resistência
política dos subalternos à opressão de classe. É realizada
uma mudança de referencial: da África e sua continuidade
na vida dos escravizados no Brasil para o Estado e à
dominação de classe:
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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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O quilombo constituiu uma criação dos


escravos em resposta às condições
peculiares do escravismo brasileiro; não foi a
transplantação de formações sociais
africanas. (MOURA, 2004, p. 337)

A abordagem materialista marca


uma ruptura com a interpretação
proposta por Gilberto Freyre em Casa
grande e senzala (1933), pois enfatiza o
VOCÊ SABIA?
conflito estruturante do que foi entendido
GILBERTO
FREYRE (1900- por Clóvis Moura como a primeira Clovis Moura (1925-
1987) – Sociólogo 2003), destacado
brasileiro que se
expressão da luta de classes no brasil: a estudioso das relações
destacou, a partir raciais no Brasil
relação entre senhores e escravizados. FONTE: UNEGRO
da década de
1930, por sua Não podemos, contudo, afirmar que
rejeição ao
determinismo Moura foi o primeiro teórico a associar quilombo e luta de
biológico e à
ideologia do classes, pois esta associação também foi identificada em
branqueamento e
1929, no pensamento de Astrogildo Pereira, líder comunista
exaltação da
mestiçagem. (KOINONIA, 2001, doc. www).
Afirmava que,
apesar do Considerado por Moura (1981, p. 87) a “unidade
preconceito e das
desigualdades básica de resistência do escravo”, o quilombo existiu
raciais, o Brasil
experimentava o enquanto durou a escravidão. Atuando como um elemento
processo de
de desgaste do regime escravista, os quilombos são
construção de uma
democracia étnica. concebidos como “embriões revolucionários em busca de
uma transformação social que, por essa característica,
poderiam ser associados inclusive à luta armada em um
contexto como o de combate à Ditadura Militar” (MARQUES,
2009, p. 341).
Destacando o caráter permanente da resistência
negra à escravização, Moura denomina o conjunto de
manifestações de rebeldia escrava de quilombagem,

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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[...] um movimento emancipacionista que


antecede, em muito, o movimento liberal
abolicionista; ela tem caráter mais radical,
sem nenhum elemento de mediação entre o
seu comportamento dinâmico e os interesses
da classe senhorial. Somente a violência, por
isso, poderá consolidá-la ou destruí-la
(MOURA, 1992, p. 22).

Além dos quilombos, fazem parte do movimento da


quilombagem as insurreições urbanas e a guerrilha.
Complementar ao quilombo, a guerrilha dele diferia por ser
extremamente móvel, demograficamente menos densa,
com ação baseada no ataque a transeuntes e no roubo de
mantimentos e produtos não produzidos nos quilombos, assim
como na defesa dos quilombos das tropas legais, capitães
do mato e moradores das vizinhanças (MOURA, 1981).
Dentre os estudos que adotaram a abordagem
materialista, a obra de Clóvis Moura sobre os quilombos teve
o mérito de apontar as complexas relações dos quilombolas
com a massa escravizada e outros segmentos sociais
(GOMES, 1997, p. 5), mas desconsiderou a possibilidade de
outras formas de organização dos quilombos que não
seguissem o modelo de Palmares (BARBOSA, 2003).
Um outro representante desse tipo de abordagem é o
jornalista, advogado e historiador autodidata Décio Freitas
(1922-2004). Em suas obras Palmares – a guerra dos escravos
(1971), Insurreições escravas (1976), O escravismo brasileiro
(1980) e Escravidão de índios e negros no Brasil (1980), Freitas
aborda os quilombos como instrumento por excelência da
luta dos escravos, recorrentes, mas que, devido à sua
condição geográfica, econômica e social marginal, não
tiveram força para destruir o sistema escravista.

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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Tomando como base a produção econômica


predominante, Freitas (1980) elaborou uma tipologia dos
quilombos que inclui:
• Quilombos agrícolas – maior parte dos quilombos
brasileiros, eram os mais populosos.
• Quilombos mineradores – característico das regiões de
mineração: Minas Gerais, Bahia, Goiás, Mato Grosso.
Habitados por poucas pessoas, eram caracterizados por
uma relação de cumplicidade com os comerciantes
brancos, com que negociavam os minerais extraídos em
troca de bens necessários à vida nos quilombos.
• Quilombos extrativistas – predominantes na região
amazônica, foram muito populosos e caracterizados pela
presença marcante de indígenas.
• Quilombos mercantis – também identificados na região
amazônica, eram marcados pelo controle do comércio
com os regatões, comerciantes fluviais, pelos negros e
pela ausência de miscigenação entre negros e indígenas.
• Quilombos pastoris – situados no sul do Brasil, também
abrigavam brancos e índios e eram caraterizados pela
criação de gado.
• Quilombos predatórios – não desenvolviam nenhuma
atividade produtiva, sobrevivendo da pilhagem.
• Quilombolas de serviços – os aquilombados saiam desses
quilombos, localizados na periferia dos grandes centros
urbanos, e trabalhavam como assalariados na prestação
de serviços. Originaram os primeiros subúrbios das grandes
metrópoles brasileiras.
Freitas (op. cit.) argumenta que a divisão de trabalho
observada nos quilombos não pode se comparar à divisão
de trabalho do sistema capitalista porque não havia a
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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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apropriação dos excedentes da produção por um grupo


detentor dos meios de produção. Ele define a divisão do
trabalho dos quilombos como uma divisão técnica, seguindo
a qualificação dos moradores (camponeses, pescadores,
artesãos, caçadores, etc.). A apropriação dos excedentes
era comunal. Freitas também discorda da existência dos
quilombos como uma reprodução de estruturas econômicas
e sociais africanas. Para ele, no Brasil “o quilombo foi uma
criação dos escravos, em resposta às condições específicas
do sistema escravista brasileiro” (FREITAS, ibid., p. 45).
Assim como na abordagem culturalista, na
abordagem materialista o quilombo é apresentado como
um fenômeno ligado ao passado. Ao analisar o livro O
escravismo brasileiro, de Décio Freitas, Ana Maria Reis de
Faria nos diz:

Se houve, com a corrente historiográfica


materialista, inequívoca evolução política,
devido à negação do paternalismo nas
relações escravistas, persistiu nas
caracterizações quilombolas, a exemplo de
Freitas, o estigma da coisificação, isto é,
como se houvesse um destino histórico fora
das intenções e das lutas dos agentes
históricos [...] os quilombos não podem ser
lidos hoje como negação e protesto ao
sistema apenas, mas, sobremaneira, como
experiências de transformação da realidade
de espoliação. (FARIA, 2011, p. 496-497)

Uma vez que não há um modelo único de quilombo,


torna-se necessário ler as experiências quilombolas “como
experiências não apenas determinantemente vinculadas ao
contexto de escravidão, mas também como experiências
possíveis à realidade campesina pós-Abolição” (Ibid, p. 497).

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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As abordagens históricas contemporâneas, como


veremos mais adiante, criticam a ênfase dos estudos
materialistas à rebeldia escrava por limitarem as formas de
reação dos escravizados à privação de liberdade e à
desumanização a práticas ostensivas de resistência.

2.3 Movimento negro


Desde o final do século XIX, quilombo passou a ser
utilizado como “instrumento ideológico contra as formas de
opressão” (NASCIMENTO, 2006, p. 122), e a servir como
metáfora no discurso de movimentos contemporâneos que
lutam pela liberdade, particularmente, do movimento negro,
definido por (2009, p. 263) como “uma reação ao padrão de
relações raciais do Brasil, em particular à forma de
preconceito racial, que serviria de empecilho para a
ascensão social dos negros”.
A partir da década de 1920, na imprensa negra, o que
se viu foi a popularização de um conceito que,
anteriormente associado à resistência negra e ao passado
escravista, passou a ser assumido como um “paradigma
para a formação da identidade histórica e política de
segmentos negros no Brasil” (DOMINGUES & GOMES, p. 10,
2013).
Com o jornal Quilombo, fundado em 1948, Abdias
Nascimento antecipava uma forma de apropriação do
conceito que se tornou popular a partir da década de 1970:
“o quilombo volta-se como código que reage ao
colonialismo cultural, reafirma a herança africana e busca

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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um modelo brasileiro capaz de reforçar a identidade étnica”


(NASCIMENTO, 2006 [1985], p. 124).
Outro marco da ressemantização dos quilombos foi o
estabelecimento, em 1978, pelo Movimento Negro Unificado
Contra a Discriminação Racial (atual MNU), da data do
assassinato do líder quilombola Zumbi dos Palmares, 20 de
VOCÊ SABIA?
Novembro, como o Dia da Consciência Negra. Inicialmente
O Movimento
proposto pelo governo militar, interessado em transformar a Negro Unificado
(MNU) surge em
região num polo turístico no final da década de 1970, por
meados do ano
força dos militantes do movimento negro foi criado, em 20 de de 1978 como
uma frente ampla
novembro de 1981, o Memorial Zumbi dos Palmares, que que unificou
vários setores da
desde então tem atraído a visitação de pessoas de vários luta antirracista
sob a sigla
lugares do Brasil (FIABANI, 2008). Na ocasião de fundação do Movimento Negro
Unificado contra
Memorial foi realizada a Missa dos Quilombos. a Discriminação
Racial. A mola
propulsora dessa
organização foi o
Nela, pela primeira vez em todo o mundo assassinato do
católico, altos representantes da Igreja, trabalhador negro
reunidos em uma celebração coletiva Robson Silveira
destinada a uma multidão, se penitenciaram e da Luz, no mês
de maio daquele
pediram perdão pelo posicionamento histórico ano, por policiais
da Igreja diante dos negros, da África e, em no bairro de
especial, dos negros aquilombados (Hoornaert, Guaianases,
1982: 12), marcando uma inflexão ideológica bairro localizado
dos agentes eclesiais engajados socialmente, no extremo leste
até então refratários à questão racial. Outro da capital
paulista.
exemplo seria dado pela discussão em torno (FARIAS, 2014,
dos chamados Monumentos Negros, que p. 6)
desembocaria no tombamento tanto do
Terreiro de Candomblé da Casa Branca
(Salvador, BA), quanto da Serra da Barriga
(União dos Palmares - AL). (ARRUTI, 2009, p. 107)

Em 1980, com o seu livro O Quilombismo, Abdias


Nascimento definiu quilombo como resistência física e
cultural dos negros, não apenas restrita às comunidades
situadas em locais de difícil acesso durante a escravidão,

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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não um reduto de escravizados, mas uma resistência que


pode ser verificada ontem e hoje nas irmandades, confrarias,
clubes, grêmios, terreiros, centros, tendas, afoxés, escolas de
samba, gafieiras.
Essa resistência implica um projeto de sociedade
diferente da que temos hoje: o quilombismo.

Quilombo não significa escravo fugido.


Quilombo quer dizer reunião fraterna e livre,
solidariedade, convivência, comunhão
existencial. (...) o Quilombismo expressa a
ciência do sangue escravo, do suor que
este derramou enquanto pés e mãos
edificadores da economia deste país. Uma
melhor qualidade para as massas afro-
brasileiras só poderá ocorrer pelo esforço
enérgico de organização e mobilização
coletiva, tanto das massas negras como das
inteligências e capacidades escolarizadas
da raça para a enorme batalha no front da
criação teoricocientífica. Uma teoria
científica inextrincavelmente fundida à
nossa prática histórica que efetivamente
contribua à salvação do povo negro, o qual
vem sendo inexoravelmente exterminado.
(...) Assegurar a condição humana das
massas afro-brasileiras, há tantos séculos
tratadas e definidas de forma humilhante e
opressiva, é o fundamento ético do
Quilombismo. Deve-se assim compreender
a subordinação do Quilombismo ao
conceito que define o ser humano como o
seu objeto e sujeito científico, dentro de
uma concepção de mundo e de existência
na qual a ciência constitui uma entre outras
vias do conhecimento (NASCIMENTO, 1980,
p. 262; 263; 264 passim).

A ação do movimento negro repercutiu no ambiente


acadêmico. Na universidade, o discurso em torno de
identidades coletivas, como a identidade negra e seu apelo
a ícones como os quilombos, contribuiu para a visibilização

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Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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do segmento dos “negros intelectuais” como contraponto


aos “negrólogos”, ou “peritos institucionais em matéria da
vida dos negros”, geralmente brancos (SANTOS, 2011). Os
“negros intelectuais” têm ascendência negra, incorporam o
antirracismo às suas visões de mundo e direcionam suas
trajetórias acadêmicas segundo a “ética da convicção
antirracista”, sob influência direta do movimento social
negro.
Uma das pesquisadoras a quem poderíamos aplicar o
rótulo de “negra intelectual” é a historiadora Beatriz
Nascimento. Morta prematuramente em 1994, dedicou boa
parte de sua vida, de 1976 a 1994, ao estudo dos quilombos
(RATTS, 2006).
Beatriz Nascimento propôs a ampliação do conceito
de quilombo e, com tal propósito, partia da hipótese de
continuidade histórica dos quilombos do passado em
relação às comunidades negras rurais e urbanas do
presente.

Continuidade histórica é um termo ainda


mais abstrato do que “sobrevivência” ou
“resistência cultural” dos antropólogos. A
continuidade seria a vida do homem – e dos
homens – continuando aparentemente sem
clivagens, embora achatada pelos vários
processos e formas de dominação,
subordinação, dominância e subserviência.
Processo que aconteceu, ao longo desses
anos, com aqueles que, em nossas
abstrações, se englobam na categoria de
negros. (NASCIMENTO, 2006, p. 110)

Semelhanças e diferenças do quilombo africano em


relação ao brasileiro também são abordadas por
Nascimento, que via no quilombo brasileiro tanto “um projeto
de nação, protagonizado por negros, mas includente de
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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
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outros setores subalternos” como “um território de


liberdade, não apenas referente a uma fuga, mas uma
busca de um tempo/espaço de paz” (RATTS, op. cit., p. 59).
Ao comparar o quilombo angolano, na África, com o
quilombo de Palmares, no Brasil, Nascimento identifica
algumas semelhanças: o nome Angola-Janga, pelo qual
Palmares era conhecido; Ganga Zumba, o nome do chefe
africano de Palmares, parecia com Gaga Zumba, nome do
chefe imbangala; o cabelo com longas tranças ornadas
com conchas usado pelo chefe imbangala e o adorno de
cabelo usado pelo chefe palmarino; o estilo de guerra
adotado pelos imbangala e pelos palmarinos.
Apesar da similitude organizacional e estética
apontada por Nascimento, a tese da origem angolana dos
quilombos brasileiros foi contestada por Décio Freitas
(FREITAS, 1982) com base no papel desempenhado pelos
quilombos no contexto do tráfico negreiro em África, que
funcionavam como empório de escravos. Freitas estima,
inclusive, que o termo quilombo tenha sido imposto pelos
próprios senhores de escravos.

O termo “quilombo” se revestiria


evidentemente de um significado sinistro
para os negros, muitos dos quais haviam sido
reduzidos à escravidão e vendidos
exatamente naqueles ergástulos. Não é
verossímil que batizassem de quilombos seus
bastiões livres. Contrariamente, para os
senhores de escravos, aquelas
aglomerações de negros deviam evocar os
quilombos angolanos – viveiros e depósitos
de escravos. Os senhores, não os escravos, é
que devem haver adotado o termo
quilombo. (FREITAS, 1982, p. 34)

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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A despeito do debate sobre as imprecisões históricas


em torno da origem do quilombo, o fato é que ele se tornou
um símbolo apropriado pelo movimento negro em sua luta
contra o racismo, alimentando a luta política e inspirando a
criação de obras artísticas na música, na literatura, nas artes
plásticas e no cinema.

Reportagem sobre
o grupo literário
Quilombhoje,
criado em 1978
FONTE: Blog 2BP

Grêmio Recreativo
de Arte Negra e
Escola de Samba
Quilombo
FONTE: Quintal do
Samba

A literatura negra foi uma das áreas onde a semente


de Palmares vicejou. Essa literatura busca “reverter sentidos,
encadear e explorar as possibilidades de forjar significados e
conexões, resgatar histórias e tradições de origem africana,
ou seja, apoderar-se também do sistema de produção de
imagens e significados” (SOUZA, 2000, p. 9). Vejamos como
as poesias negras de Jônatas Conceição (2000, p. 25) e
Lande Onawale (ibid, p. 43) representam os quilombos:
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Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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No Nordeste existem Palmares


Jônatas Conceição

Assim dizia um viajante antigo:


“- Palmeiras, símbolos de paz e sossego”.

No Nordeste, palmeiras resistem.


Brotam de concretos, casebres, barracos.
A Natureza mostra força e poesia.
À noite, leves brisas amenizam passadas
febres.

As palmeiras abundavam no antigo


quilombo.
E não foram transplantadas para o Nordeste.
Aqui, junto ao mar de Amaralina
Novos palmares também crescem
Arejando cabeças trançadas
Trazendo novas verdades.

Palmeiras são símbolos de paz e sossego...

Quilombo
Lande Onawale

minha certeza flecha


seta, reta
direção da liberdade
nossa razão concreta
terra preta
longe muito da opressão

nunca dissemos adeus à África


em nossas mentes
e de memória fresca
replantamos suas lições
no estreito e vasto chão
do agora e do possível

quilombo é o sol que se avista


um sonho acordado
um ponto de vista
onde foram dar as mãos
após varrerem as brenhas
se achando em qualquer caminho
se atando às guerras e seus espinhos
enraizando falanges
em pedaços de sonho e esperança

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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Devido à força
que foi investido, o
conceito de quilombo
extrapolou o âmbito da
luta negra e também
passou a significar “um
sopro de esperança de
“Arena conta Zumbi”, Espetáculo do Teatro de
um Brasil mais justo, com Arena, encenado em maio de 1965
FONTE: UOL
liberdade, união e
equidade” (DOMINGUES & GOMES, op. cit., p. 11). Na peça
de teatro Arena conta Zumbi (1965), quilombo é assumido
dessa forma, fazendo uma analogia entre resistência à
escravidão e resistência à ditadura. Nos filmes Ganga Zumba
(1964) e Quilombo (1984), de Cacá Diegues, as sagas dos
heróis palmarinos servem de mote para a discussão de um
modelo de sociedade alternativa, pautada nos ideais de
justiça e igualdade.

Filme Quilombo, de Cacá Diegues (1984)


FONTE: Site Viaduto de Madureira

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A partir da década de 1990, o movimento negro


urbano passou a assumir como pauta de reivindicação o
direito à terra, em consequência da associação ao
movimento das comunidades negras rurais, que já vinha
sendo organizando desde o final da década de 1970, no
Maranhão (FIABANI, 2008). Desde então, o conceito de
quilombo foi ressignificado também nas comunidades
negras rurais, que passaram a se autodenominar
comunidades quilombolas. Isso não significa que os negros
que vivem na zona rural não fossem notados anteriormente,
pois o próprio Abdias Nascimento, em O Quilombismo, já
apontava para a situação de desamparo vivida por esse
segmento da nossa população (NASCIMENTO, 1980).

2.4 Contribuições da Antropologia e da História


contemporâneas à ressemantização do conceito de
quilombo

Caracterizadas pela crítica às abordagens


tradicionais, especialmente a culturalista e a marxista, as
abordagens contemporâneas ao conceito de quilombo
mobilizam áreas como Antropologia, Arqueologia,
Sociologia, História, Agronomia, Geografia, Direito, etc. A
seguir, apresentaremos um breve panorama das
contribuições da Antropologia e da História à
ressemantização do conceito de quilombo.

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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Antropologia
Num artigo da década de 1980 em que discute os
estudos sobre o negro realizados na pós-graduação em
Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP), o
antropólogo João Batista Borges Pereira afirma que, até
então, a quase totalidade desses estudos era realizada no
âmbito da Antropologia (PEREIRA, 1981). Os negros em
condições de vida rural eram focalizados em parte dessas
pesquisas, preocupadas com o estudo das chamadas
“comunidades negras incrustradas” no mundo rural.
A expressão “comunidades negras incrustradas” era
utilizada nesses estudos para diferenciá-las de “isolados
negros” ou “quilombos” justamente pela diversidade de
situações encontrada no meio rural. Com o desenvolvimento
dessas pesquisas, ao mesmo tempo em que houve a
diversificação de temas e problemas nos estudos sobre o
negro, começou-se a perceber a insuficiência do conceito
de quilombo, pensado como refúgio de escravizados
fugitivos, para dar conta das realidades vividas pelas
comunidades negras rurais.
O isolamento é interpretado não como sobrevivência
do passado quilombola, mas como fruto das atuais
condições de vida, o que inclui o preconceito e a
discriminação por serem comunidades de predominância
negra. As barreiras da cor regulariam a relação com a
vizinhança e a delimitação da territorialidade dessas
comunidades.
O Grupo de Trabalho (GT) constituído pela Associação
Brasileira de Antropologia (ABA) para refletir sobre o conceito
de “terras remanescentes de quilombos”, reunido pela
primeira vez em 17 de outubro de 1994, constitui um marco
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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
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no processo de ressemantização do conceito de quilombo,


alimentado na década de 1980 pelo contexto de luta pela
terra e tematizado em estudos como os realizados pelo
antropólogo Alfredo Wagner Berno Almeida sobre terras de
uso comum em comunidades negras e indígenas do norte
do país (ALMEIDA, 1989).

A afirmação da dimensão do direito


camponês subordinado ao ordenamento
jurídico brasileiro trouxe ao debate uma
relativização dos paradigmas de fuga e
isolamento dos quilombos ditos “históricos” e
tratados não como especificidades
históricas, mas como norma, sobretudo
jurídica. (FARIAS, 2011, p. 495)

O GT da ABA produziu um documento que foi discutido


no Seminário das Comunidades Remanescentes de
Quilombos, promovido pela Fundação Cultural Palmares
entre os dias 25 e 27 de outubro de 1994, em Brasília. Ao tratar
dos significados assumidos pelo conceito de quilombo na
literatura especializada, assim como para grupos e
indivíduos, enfatizou a importância de se dar voz às
comunidades que se afirmavam e exigiam reconhecimento
como quilombolas, atentando para as diferentes situações
em que se encontravam tais comunidades em todo o país.
Com isso, deixaram de lado as referências aos quilombos
como comunidades do passado, isoladas, com população
homogênea e constituídas a partir de fugas, insurreições ou
revoltas.

... consistem em grupos que desenvolveram


práticas cotidianas de resistência na
manutenção e reprodução de seus modos
de vida característicos e na consolidação de

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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
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Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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um território próprio. A identidade desses


grupos também não se define pelo tamanho
e número de seus membros, mas pela
experiência vivida e as versões
compartilhadas de sua trajetória comum e
da continuidade enquanto grupo. (O’DWER,
2008, p. 10)

Mudanças conceituais ocorridas no campo trouxeram


para a definição de quilombo a ênfase aos aspectos
organizativos e a perda da ênfase aos aspectos raciais em
sua definição. Desde que o antropólogo norueguês Friedrik
Barth publicou Grupos étnicos e suas fronteiras, em 1969, as
fronteiras que fazem parte do fenômeno da etnicidade
passaram a ser consideradas sem a necessária referência a
fundamentos biológicos, raciais e linguísticos.

A redefinição de quilombo, tal como


colocada hoje pelos que através dele se
representam, estabelece uma clivagem
político-organizativa em face desses
intérpretes consagrados. Seus elementos
contrastantes não se encontram no fator
racial. A mobilização étnica apoia-se numa
expectativa de direitos sustentada, por sua
vez, numa identidade cultural que não tem
sua razão de ser na “miscigenação”.
(ALMEIDA, op. cit., p. 78)

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No estudo clássico Grupos étnicos e suas fronteiras, Fredrik Barth (2003,


1998[1969]) refere-se à etnicidade como a organização social das diferenças
culturais. Na construção do seu conceito, Barth distingue cultura de etnicidade ao
afirmar que as diferenças culturais fundamentam os grupos étnicos, não uma cultura
comum. Ao assim proceder, enfatiza o caráter variável e dinâmico da cultura, que
não se comporta como totalidade em si mesma, induzindo a passagem de uma
abordagem estática para uma abordagem interacionista da etnicidade.
Barth também evidencia a distinção entre cultura e grupo social. Ao caráter dinâmico
e variável da cultura, que se refere ao que é aprendido por meio da experiência das
pessoas, Barth (op. cit.) opõe os grupos sociais, que podem ter fronteiras definidas,
podem contar com uma participação uniforme dos seus membros e com a
estabilidade, o que não se verifica na cultura. Se o grupo social impõe a padronização
e uniformização, atuando como uma força conservadora, o pluralismo e o dinamismo
seriam intrínsecos à cultura, que atua como um vetor de mudança dos grupos. Assim,
a variação cultural seria obnubilada pelo “mito da homogeneidade e
compartilhamento cultural” na afirmação do pertencimento a um grupo étnico
(BARROS, 2013, p. 122).

O uso comum da terra é um dos elementos


fundamentais na definição contemporânea de quilombo.
Da mesma forma, se destacam o caráter de grupo étnico e
seus aspectos organizacional (Barth), de adscrição e auto-
adscrição, prevalecendo a memória histórica de um
passado comum como principal critério de identificação.
Segundo Almeida (1998),

A emergência do dado étnico aparece


atrelada à consolidação de uma identidade
coletiva fundada tanto numa autodefinição
consensual, quanto em práticas político-
organizativas, em sistemas produtivos
intrínsecos (unidade de trabalho familiar,
critérios ecológicos) e em símbolos próprios
que podem inclusive evocar uma
ancestralidade legítima, mas que marcam,
sobretudo, uma política de diferenças face a
outros grupos e uma relação conflitiva com
as estruturas de poder do Estado. (ALMEIDA,
1998, p. 52)

Segundo as formulações do grupo de trabalho da


ABA, quilombos seriam grupos que desenvolveram práticas
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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
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cotidianas de resistência na manutenção e reprodução dos


seus modos de vida característicos e na consolidação de um
território próprio, nos quais predomina o uso comum da terra,
baseados em laços parentesco e vizinhança e em relações
de solidariedade e reciprocidade (O’DWYER, 2002). Com tal
reformulação, o termo quilombo passa a incluir várias
situações sociais, como aponta Arruti (2009),

os pequenos grupos nômades, que viviam do


assalto às senzalas, os grupos extrativistas, os
pequenos produtores de alimentos que
habitavam a periferia das cidades e
realizavam comércio sistemático com os
comerciantes da cidade (Reis e Gomes,
1996) e até mesmo as Casas de Angu, Zungús
ou “Casas de quilombo”, que ocupavam o
centro da própria cidade imperial em pleno
século XIX (Soares, 1998). (ARRUTI, 2009, p.
104)

Com isso, a referência à negritude das populações


que compõem os quilombos deixa de ter importância nessa
definição, pois os remanescentes de quilombos passam a ser
vistos como “grupos sociais que se mobilizam ou são
mobilizados por organizações sociais, políticas, religiosas,
sindicais etc., em torno do auto-reconhecimento como um
outro específico” (MARQUES, 2009, p. 346).
Resumindo, o conceito antropológico de quilombo
inclui:
...ruralidade, forma camponesa, terra de uso
comum, apossamento secular, adequação
a critérios ecológicos de preservação dos
recursos, presença de conflitos e
antagonismos vividos pelo grupo e,
finalmente, mas não exclusivamente, uma
mobilização política definida em termos de
auto-afirmação quilombola. (ARRUTI, 2008, p.
339)

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Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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A pluralização de situações abrangidas pelo termo


quilombo levou a um descontentamento dos movimentos
negros por sua ênfase à etnicidade, acusada de ser “...
teoricamente destituída de qualquer substância cultural,
histórica ou racial” (ARRUTI, 2009, p. 116). O que se percebe,
no entanto, é que o investimento na desvinculação da
discussão de quilombos da discussão racial, característica
das teorias contemporâneas da etnicidade, não significa o
desprezo ao fato de que os remanescentes de quilombos
foram produzidos pelo contexto de dissolução do sistema
escravista, no bojo dos conflitos fundiários a ele relacionados.

História
Pelo menos até a década de 1970, os quilombos eram
representados pela historiografia como comunidades
isoladas fundadas por escravizados fugitivos que
congregavam libertos, desertores militares, indígenas e outros
segmentos marginalizados da nossa sociedade em torno de
um projeto comum de liberdade e resistência ao sistema
escravista. No contexto escravista, a violência seria a
principal arma utilizada tanto por senhores como por
escravos (FERREIRA, 2011).
Desde o final da década de 1980, estudos de
historiadores como E.P. Thompson, Sidney Mintz, Richard
Price, Seymor Drescher, Donald Ramos, Sidney Chalhoub,
Célia Marinho Azevedo, João José Reis, Flávio dos Santos
Gomes, Sidney Chalhoub e Robert Slenes, vêm influenciando
pesquisas desenvolvidas sobre o tema, que tanto
desacreditam a representação dos quilombos como
comunidades isoladas como nos mostram que o fim da
escravidão não era um objetivo perseguido por todos os
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Quilombos na história e cultura afro-brasileiras – Zelinda Barros
Processo de emergência histórica dos quilombos
Unidade 2 – Abordagens sobre quilombos
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quilombos. Em alguns casos, os quilombos cooperaram com


a sociedade escravista ou reproduziram em seu interior
práticas encontradas no entorno, como o rapto de mulheres
e a escravização.
A ênfase é dada à capacidade de agenciamento dos
escravizados, que tanto entravam em conflito como
negociavam e se acomodavam no contexto de relações
travadas durante a vigência do escravismo, recriando
constantemente os significados de liberdade. Com isso, o
determinismo econômico é abandonado em favor da
análise do processo histórico, que privilegia a
indeterminação e imprevisibilidade dos acontecimentos.
Analisadas por meio de enfoques historiográficos
contemporâneos, as abordagens culturalista e materialista
adotam uma perspectiva reducionista, ora limitando toda
resistência à recriação da África no Brasil, ora naturalizando
a resistência no contexto escravista (MARTINS, 2010, p. 4).
Muito do que se sabe sobre os quilombos e sua
organização interna se baseia em documentos da
administração colonial, baseados em relatos de
expedicionários enviados para destruí-los. A dificuldade de
encontrarmos documentos que tragam à luz as
representações dos próprios sujeitos quilombolas do passado
sobre suas condições reais de existência torna difícil o
trabalho de interpretação dos quilombos como fenômenos
históricos e acentua o caráter especulativo de algumas
afirmações sobre esse tema, como faz João Reis no trecho a
seguir:

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[...] por pouco que se conheça realmente da


dinâmica interna de ambos [quilombos e
senzalas], predominou a reinvenção, a
mistura fina de valores e instituições várias, a
escolha de uns e o descarte de outros
recursos culturais trazidos por diferentes
grupos étnicos africanos ou aqui
encontrados entre os brancos e índios. (REIS,
1996, p. 19)

As inferências dos estudos histórico contemporâneos se


baseiam no pressuposto da cultura como fenômeno
dinâmico e plural. Com isso, as experiências quilombolas são
lidas “não numa perspectiva essencialista de ‘africanismos’ –
como se os quilombos fossem necessariamente e/ou
exclusivamente lugares ou guardiães da ‘cultura africana’”
(GOMES, 1997, p. 430), mas como experiências que
extrapolam o contexto escravista e permanecem no pós-
abolição, quer no contexto rural ou urbano.

Se é reconhecido que há pouco material empírico sobre a vida


social nos quilombos, como podemos afirmar que neles predominou a
reinvenção?

Como vimos nesta Unidade, a definição de quilombo


sofreu modificações ao longo do tempo, assumindo
significados variados. Essas transformações não ocorreram
sem disputas. Diferentes sujeitos, como historiadores,
antropólogos, militantes, juristas e os próprios quilombolas,
como veremos no Módulo II, contribuíram (e contribuem)
para a construção dos significados contemporâneos de
quilombo.

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Zelinda Barros

Doutora em Estudos Étnicos e Africanos (CEAO/UFBA),


Mestra em Ciências Sociais pela Universidade Federal da
Bahia (2003), Especialista em Educação à Distância pelo
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (2008) e
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal
da Bahia (2000). Pós-doutoranda na Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia (UFRB). Tem experiência na área
de Antropologia, com ênfase em Gênero e Relações Raciais, atuando
principalmente nas seguintes subáreas: História e Cultura Afro-brasileiras,
Educação e Relações Étnico-raciais, Educação a Distância, Gênero e
Feminismo Negro. Coordenou o primeiro Curso de Formação de Professoras/es
para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras a distância da UFBA.
Consultora em Educação a Distância, Educação e Diversidade.

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