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Embrapa Trigo/OCB

Capacitação em Cereais de Inverno

Fertilidade do solo: fundamentos de


algumas práticas I - Calagem

14/4/2016, 5ª feira, 14:00-15:00h

Sirio Wiethölter

Observação: material para uso restrito dos participantes do


curso.
Roteiro:

I) Aspectos gerais de fertilidade do solo


II) Acidez e calagem
Princípios e cálculos
III) Uso de gesso agrícola
BOAS PRÁTICAS DE CAMPO

A 1ª providência:

CALAGEM:
Quando o pH < 5,5,
Al for > 0,5 cmolc/dm³
ou a saturação da CTCe por Al for > 10 %

A 2ª providência:

ADUBAÇÃO:
Para adequar o teor de nutrientes no solo.
Evolução das recomendações de fertilidade do solo no RS e SC
Edições da ROLAS:
1968 (uma página), 1969, 1981. Informação geral essencial para trigo
Edições do NRS: 1987, 1989, 1995.

1995

NRS - Comissão de NRS, “Manual da ROLAS” Embrapa Trigo 2011,


Fertilidade do Solo, 10a. Ed, 2004, 394p., O livro tem 18 capítulos, 488p.
1995 em revisão Fertilidade capítulo 6
Fertilidade do Solo
Representa a capacidade do solo de produzir
biomassa vegetal, ao fornecer água e nutrientes às
plantas.

Água e nutrientes são os fatores do solo indutores


do crescimento das plantas. A energia provém do
sol, que faz o “pulo” de elétrons “morro acima” na
fotossíntese:
de C4+ para C0, ou seja, do CO2 para C(H2O)n.

O mais simples carboidrato é o açúcar: C6H12O6.


Proteína e óleo exigem mais energia para a sua síntese.

“Um solo pode ser considerado fértil se ao longo dos


anos produzir boas colheitas”.
pH do solo
Representa a concentração de H+ na solução do solo
e o pH afeta a capacidade do solo de suprir
nutrientes às plantas, pois o pH atua na solubilidade
dos compostos destes elementos.

Calagem
É o meio que temos para ajustar o pH do solo, bem
como suprir Ca e Mg, mediante o uso de calcário (na
legislação é denominado “corretivo de acidez”).
Para ter um bom programa de
manejo da fertilidade do solo
é necessária uma rede de
laboratórios de análise de solo.
SBCS-NRS-ROLAS-CQ RIGESA
Três Barras

SC
Chapecó
Caçador
EPAGRI Ituporanga
URI
(tecido)
EPAGRI
Frederico Westphalen
Fertilab Lajes
Precisão Passo Fundo
UDESC
SETREM Ijuí UNICRUZ UPF São Joaquim
UNIJUI EPAGRI
EMBRAPA
Cruz Alta UCS
São Borja
SC CCGL
Bento Gonçalves
RS
EMBRAPA
BASE
Santa Cruz do Sul
Santa Maria UNISC
IFF UFSM Cachoeirinha
IRGA
Porto Alegre
FEPAGRO
UFRGS
RS Novos em 2009:
UCS, Caxias do Sul
UNICRUZ, Cruz Alta
BASE/Silveira Martins
Bagé Novos em 2010:
URCAMP TERRANÁLISES, Fraiburgo, SC
Pelotas SETREM, Três de Maio, RS
Em 2016 participam do CQ EMBRAPA
UFPEL Novos em 2011:
IFF/São Vicente do Sul, RS

29 laboratórios, 23 com micro.


SIALSOLO (saiu em 2013)
Novo em 2012, mas saiu em 2013:
SUSTENLAB/Paraguay
Novos em 2013:
Localização dos Laboratórios FERTILAB/Coxilha
de Solos da ROLAS no RS e SC PRECISÃO/Tamandaré
“LASSUL/São Borja”
Saiu: CIDASC
Acidez do solo e calagem
AMBIENTE:
Ar:
 78 % N2
 21 % O2
 0,035 % CO2 (350 ppm). Plantas são +- 50 % de C.

Solo:
 50 % material sólido (5 % é MO) é o reservatório
de nutrientes.
 50 % de poros (ar e água).

O material sólido mineral é constituído de 3


frações:
 argila (< 0,002 mm) (invisível)
 silte (0,002 a 0,05 mm) (invisível)
 areia (> 0,05 mm a 2 mm) (visível).

Água: É o principal fertilizante.


Origem dos elementos químicos

1. A nébula solar de H se concentrou e com o Big


Bang (10 a 20 Bi anos) deu-se início a formação
dos demais elementos a partir do H, totalizando
92 elementos naturais (total 111), através de um
processo de fusão por colisão.
Exemplos: H  He Tudo na natureza é formado
2He  Be
3He  C por elementos químicos
C + 2H  N p.m. H = 1,0 g/mol (= 1 mg/mmol)
p.m. C = 12,0 g/mol
2. A Terra, a Lua, Marte e o Sol tem 4,5 Bi anos. O p.m. N = 14,0 g/mol
Sol é considerado uma estrela de 3ª geração e p.m. O = 16,0 g/mol
tem energia para mais 5 Bi de anos. p.m. Mg = 24,3 g/mol
p.m. P = 30,9 g/mol
3. Os elementos mais leves (parte superior da p.m. S = 32,1 g/mol
tabela periódica) são mais abundantes. p.m. K = 39,1 g/mol
4. As plantas (17) e os animais (25 no homem) p.m. Ca = 40,0 g/mol
adotaram os elementos mais leves. Os mais p.m. Zn = 65,4 g/mol
p.m. Mo = 95,9 g/mol
pesados destes (micronutrientes) são
catalizadores de processos. p.m. Al = 27,0 g/mol
Conversão de unidades
Ex. Converter cmolc Ca/dm3 para mg Ca/dm3 = ppm
molc = equivalente químico = p.m./valência (g/valência)
(6 cmolc Ca/dm3 = 60 mmolc Ca/dm3)

1 mmolc Ca mmol Ca 40,08 mg Ca mg Ca


------------------ x ---------------- x ------------------ = 20,04 ---------- = ppm
dm3 2 mmolc Ca mmol Ca dm3

1 mmolc Ca/dm3 = 20,04 mg Ca/dm3


1 molc Ca/dm3 = 20040 mg Ca/dm3
1 cmolc Ca/dm3 = 200,4 mg Ca/dm3 = 200 ppm Ca
Conversão de unidades

1 cmolc Ca/dm3 = 200,4 mg Ca/dm3 = 200 ppm Ca

1 cmolc Mg/dm3 = 121,56 mg Mg/dm3 = 122 ppm Mg

1 cmolc K/dm3 = 391 mg K/dm3 = 391 ppm K

1 cmolc Al/dm3 = 89,94 mg Al/dm3 = 90 ppm Al

1 cmolc H/dm3 = 10 mg H/dm3 = 10 ppm H

cmolc Ca/dm3 x 200 = ppm ppm K/391 = cmolc K/dm3

ppm = mg/dm3
Capacidade troca de cátions:

CTC a pH 7 = soma de bases + H+Al

CTC a pH 7 = Ca+Mg+K+H+Al

Se K é dado em ppm (mg/dm3), K em cmolc = ppm/391

O H+Al é estimado em função do pH SMP.

CTCe = Ca+Mg+K+Al (no pH natural do solo, ou seja,


sem “puxar” o pH para 7)

% saturação por Al = Al/(Ca+Mg+K+Al) x 100


10% é o máximo que a maioria das plantas aceita.
Saturação por bases (V) - usado em SP (1985),
PR (1985), Cerrados e RS/SC (2004).

CTC (V2 - V1)


NC (t/ha) = ------------------, [13]
10 x PRNT
em que, CTC é expresso em mmolc/dm3, V1 é a
% de saturação em bases atual, V2 a % de
saturação desejada, e PRNT é dado em %.
Ex.: CTC = 100 mmolc/dm3 (=10 cmolc/dm3)
V2 = 70%, V1 = 50% e
No RS e SC, saturação de bases:
PRNT = 100% pH = 5,5 → saturação = 65%
água
pHágua = 6,0 → saturação = 80%
100 (70-50) pHágua = 6,5 → saturação = 85%.
NC = ----------------- = 2 t/ha
10x100 (20 cm)
Se a CTC for dada em cmolc/dm3, a
equação será:

CTC (V2 - V1)


NC (t/ha) = ------------------,
PRNT

10 (70-50)
NC (t/ha) = -------------- = 2 t/ha
100
Cálculo da acidez total (H+Al)
Tabela 2. Equações desenvolvidas para solos de diversos Estados visando estimar o teor de H+Al em
função do pH SMP, cmolc/dm³.
pHSMP H+Al(1)
Estado/ quando quando
Região
Equação H+Al = 1 pHSMP =
Referência
cmolc/dm3 5
SP H+Al(1) = e7,76 - 1,053*SMP 7,4 12,1 Raij & Quaggio (1983)

Cerrados H+Al = e7,719 - 1,068SMP 7,2 10,8 Sousa et al. (1989)

PR H+Al = e6,0687 - 0,7444*SMP (solo com < 8,6 % MO) 8,2 10,5 Pavan et al. (1992)

PR H+Al = e 6,9056 – 0,8824*SMP (solo com > 8,6 % MO) 7,8 12,1 Pavan et al. (1992)

PR/solos arenosos H+Al = 20,1925 – 2,6484*SMP 7,6 7,0 Sambatti et al. (2003)
MS H+Al = e8,085 - 1,062*SMP 7,6 16,0 Maeda et al. (1997)

RJ H+Al = [e10,05 - 1,02*SMP]/10 7,6 14,1 Pereira et al. (1998)

RS e SC H+Al = [e8,9832 - 0,9004*SMP]/10 7,4 8,8 Escosteguy & Bissani (1999)

RS e SC(3) H+Al = [e10,665 – 1,1483*SMP]/10 7,3 13,7 Kaminski et al. (2001)


(1)
cmolc/dm3 de solo.
e = 2,7182818.
Relação entre o pH SMP e o valor de
pH SMP H+Al, cmolc/dm³ H+Al, usando a equação do RS e SC,
4.5 24.4 12/4/2016
5.0 13.7 30,0

H+Al, cmolc/dm³
25,0
5.5 7.7 20,0

6.0 4.4 15,0

6.5 2.5 10,0

5,0
7.0 1.4 0,0
4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5
7.5 0.8 pH SMP

A solução SMP tem no início pH = 7.5.


Se o solo é ácido, a mistura solo+SMP faz o pH baixar,
representando a capacidade tampão do solo.
Exp = e = 2.718218

𝒆𝒙𝒑(𝟏𝟎. 𝟔𝟔𝟓 − 𝟏. 𝟏𝟒𝟖𝟑 𝐒𝐌𝐏)


𝐇 + 𝐀𝐥 =
𝟏𝟎 (cmolc/dm³)
Kaminski et al. (2001).

A medida que aumento o pH SMP, diminui o H+Al e


menor é quantidade de corretivo necessário.
H+Al
H+Al

27,4 5,5

21,8 4,4

-0,1
a
cada 13,7
1a2 2,5
anos

7,7
1 meq CaCO3 (base) = 1 mmolc CaCO3 = 100/2 mg CaCO3. 1,4
Então, 1 mmolc de acidez (H+Al) é neutralizada com 1 t
CaCO3/ha. Por isso, 1 meq/100 g de solo de acidez é
neutralizada por 1 t/ha de CaCO3 (van Raij, 1991, p.152)

(Manual p.59)
Legislação de corretivos de acidez,
Cap 8 do Manual

Parâmetros de qualidade utilizados na legislação brasileira de calcário


agrícola
Parâmetro de qualidade
Ano Granulometria CaO + MgO Reatividade
100 % < 2 mm -
1961 Solúvel em HCl
50 % < 0,3 mm
100 % < 2 mm -
1975 > 38 %
50 % < 0,3 mm
95 % < 2 mm
1983 > 38 % PN  67 %
50 % < 0,3 mm
100 % < 2 mm PN  67 %
1986 38 a 68 % em função do Faixas de PRNT:
70 % < 0,84 mm
tipo de calcário A, 45-60;
50 % < 0,3 mm B, 60,1-75;
C, 75,1-90;
D, > 90 %.
Exigências mínimas de poder de neutralização,
soma de CaO e MgO e PRNT em calcários agrícolas

Tipo de PN (eq em CaO+MgO, PRNT


calcário CaCO3), % % mínimo, %
Calcário agrícola 67 38 45
Cal virgem, CaO 125 68 120
Cal hid, Ca(OH)2 94 50 90
Calcário calcinado 80 43 54
Outros 67 38 45

Fonte: Brasil (1986), Brasil (2004c), Manual p.91.

Outras classificações (Manual p.91):


Calcário calcítico: < 5% MgO (= 3% Mg)
Calcário dolomítico: ≥ 5% MgO
p.m. Ca = 40,0 g/mol (= 40 mg/mmol)
p.m. Mg = 24,3 g/mol
p.m. O = 16,0 g/mol
p.m. N = 14,0 g/mol
p.m. C = 12,0 g/mol
p.m. H = 1,0 g/mol
Exigências mínimas de poder de neutralização,
soma de CaO e MgO e PRNT em calcários
agrícolas (legislação em vigor)

Tipo de PN (eq em CaO+MgO, PRNT min,


calcário CaCO3), % % %
Calcário agrícola 67 38 45
Cal virgem, CaO 125 68 120
Cal hid, Ca(OH)2 94 50 90
Calcário calcinado 80 43 54
Outros 67 38 45
Fonte: Brasil (1986). Manual p.91, Brasil (2004c).
Cálculo da adição de Ca ao solo por
calcário ou gesso:

Calcário: >= 38 % CaO+MgO e PN >= 67 %.


Se Mg = 0, Ca no CaO = 40/56 = 0,71 % Ca
x 0,38 no calcário = 0,27 % Ca (1 t = 270 kg
Ca).
1 cmolcCa/dm3 = 200 mg Ca/dm3 = 200 ppm =
400 kg Ca/ha a 20 cm.

Resulta que 1 t calcário/ha (ou gesso)


aumentará o teor de Ca no máximo em ± 0,5
cmolc Ca/dm3 quando dissolvido em 20 cm.
Ou, 1 cmolc Ca/dm3 se aplicado em 10 cm.
Gesso, CaSO4.2H2O

1) RF + H2SO4 = fosfato monocálcico + CaSO4.2H2O = SFS


SFS (~50 % de gesso) = 18 % P2O5, 16 % Ca, 8 % S.

2) RF + H2SO4 = ácido fosfórico + gesso,


sendo o gesso separado por filtração. Este gesso é denominado gesso
agrícola. 5 a 6 t de gesso são produzidos/t de P2O5.

Gesso puro (CaSO4.2H2O) = 18,6 % S


Gesso fertilizante = 16 % Ca e 13 % S
• Toda fórmula NPK com baixo teor de P2O5 é preparada com
SFS, ou seja, contém gesso.

RF = rocha fosfatada.

p.164-165 do Livro do Trigo.


Fontes de enxofre

• S elementar = 95 % S
• Gesso puro (CaSO4.2H2O) = 18,6 % S
• Gesso fertilizante = 16% Ca e 13 % S
• SFS (~50% é gesso) = 18 % P2O5,
16 % Ca, 8 % S.
• Fórmulas NPK baixas em P contém SFS
e, portanto, contém gesso.
1 t/ha de gesso aplicado em 20 cm pode
aumentar o teor de Ca em 0,4 cmolc Ca/dm³de
solo. Idem +- para calcário.
Gesso:
CaSO4.2H2O = 40/172=0,23 = 23% Ca = 200 kg
Ca/t (a garantia é 16 % de Ca e 13 % de S).

1 cmolcCa/dm3 = 200 mg Ca/dm3 = 200 ppm =


400 kg Ca/ha a 20 cm.

Resulta que 1 t gesso/ha aumentará o teor de


Ca em no máximo ± 0,5 cmolc Ca/dm3 quando
dissolvido em 20 cm. Na prática, no máximo
0,4 cmolc Ca/dm3.
Ou, 0,8 cmolc Ca/dm3 a 10 cm.
Gesso em culturas de lavoura:
Em geral o efeito positivo do gesso é pequeno
para solos com CTC e MO média ou alta. A
MO é a principal fonte de S disponível.

Em geral o gesso não diminui o rendimento. É


uma questão econômica !

Quando o solo é deficiente em S, a


recomendação em geral é 20 a 30 kg/ha de
S.
Muito obrigado pela
atenção !

sirio.wietholter@embrapa.br
Fone 54-3316-5897

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