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Racionalis Deliris de Siruiz Batista

Epígrafe:

''Que importa o que pode ser a realidade colocada fora de mim, se ela não me ajudou a viver, a sentir
que sou, o que sou?'' – Charles Baudelaire

(...)

Ô cabeça over-dosada com calmaria-prisão-inércia, ô cabeça tempestade-sinuosa espiralada, furacão-


sopro, lança-gás de poeira-estrelas, cometa-catapultado, força motriz, força bipolar, força fraca/forte, ô
energia se fundindo em altas velocidades em pontos concentrados, fugaz de singularidades. Vertigem
magnífica! Ô inspiração, o que és? vens lá de cima da comédia divina? do poeta que do céu olha
arrebatando a Terra com sua poesia? Com as drogas-milagres que são as palavras, quantas angústias e
crises sinistras venceu graças a esses remédios insubstanciais? Da generalidade ao detalhe, quantos
monstros mitológicos teve que encarar? Ô caçador das fosforescências cerebrais, quantos devaneios
congelados não capturou das lacunas horriveis do seu cérebro a peça do quebra-cabeça incompleto? Ah!
Que sina! perturba-me ter a lucidez de saber quem sou, fazendo metafísicas como estas, sentindo uma
erudição escrupulosa de quem faz verdadeira ciência. Não me importa quem sou. O que me importa? Os
dias se acrescentam uns nos outros e com isso cada vez menos dias temos. Então procuro encontrar a
vida nos versos antes mesmo que as palavras me matem. Quem me dera fosse eu um decadente Ícaro,
filósofo esquecido, poeta mal-dito, gênio incompreendido. Quem me dera fosse eu um devir perdido, rei
escolhido, anjo caído. Quem me dera pudesse eu sonhar todos os sonhos do mundo, ser tudo quanto
posso... impossível! Desejo bobo de ter muitas vidas. Quem me dera fosse eu um pássaro na
tempestade, sendo nada, com o amor no bico, voando adiantado, seguindo indefinido. Qual foi a vida
que houve nisto? Que foi isto a vida? Pergunta-se o poeta, pergunta-se o profeta, perguntam-se os
filósofos e os cientistas em dúvidas todos, em intelectivas intrigas, em telas - tolos, tentando abrir as
portas do Desconhecido.

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