Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Parte 3 - O Papel Dos Pais No Acompanhamento Escolar Dos Filhos
Parte 3 - O Papel Dos Pais No Acompanhamento Escolar Dos Filhos
SINOPSE
Mais do que prejudicar a educação dos filhos, a falta de
acompanhamento dos pais e a relação estabelecida entre estes pode levar a um
comprometimento neuronal da criança. Nesta aula, João Malheiro nos ensina
como estimular corretamente o desenvolvimento das crianças e quais os
riscos existentes na abstenção dos pais durante seu crescimento.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta aula, espera-se que você saiba: a importância do estímulo
da fala, das figuras, do silêncio e do contato com a natureza; o que é estresse
tóxico e quais suas consequências; a importância do carinho para a
aprendizagem.
1. INTRODUÇÃO
Vamos começar a terceira aula do nosso curso aqui na plataforma da
Brasil Paralelo. Na primeira aula, expliquei o conceito de escola, como eu vejo
o papel da escola na sociedade e como trabalhar a formação de pais, de
professores, funcionários e alunos, buscando os mesmos valores, as mesmas
virtudes.
Na segunda aula, fomos praticamente obrigados a aprofundar como
seria essa formação nas virtudes e fomos desenvolvendo todo esse itinerário,
que é muito bonito, que vem de São Tomás de Aquino1 desde o século XIII. Esse
conhecimento tem mais de oito séculos e infelizmente foi se perdendo ao
longo dos anos. O que nós vemos hoje na sociedade é uma consequência dessa
desgraça moral. Atualmente, estamos vivendo uma crise moral na sociedade
justamente porque esse ensinamento da virtude foi deixado de lado. O
1
Fil ósofo (1225 - 1274).
referencial teórico do meu doutoramento na UFRJ, Alasdair MacIntyre 2, tem
um famoso livro chamado After Virtue3, “Depois da virtude”, no qual mostra a
desgraça aconteceria na sociedade depois que esta, os pais e as escolas
deixassem de ter o ensino das virtudes. Tudo que profetiza nesse livro dos anos
1980, portanto, passados quarenta anos, é exatamente o que está acontecendo
hoje. Então, ele conseguiu ver de forma brilhante o que iria acontecer.
Corrupção, destruição da família, injustiças sociais. A consequência de você
não educar na virtude é enorme. E, obviamente, dentro do nosso contexto
aqui, é enorme também na educação, é enorme também nas escolas.
A crise educacional no momento é justamente causada pela falta de
educação na virtude. Enquanto todos nossos governantes, todos os
responsáveis pela educação, todos empresários da educação não perceberem
que é aí que está a virada do jogo, iremos continuar com os mesmos problemas
educacionais e nosso aprendizado continuará no último lugar do PISA. Todos
esses resultados que conhecemos de indicadores educacionais continuarão
sendo muito tristes e muito negativos.
2
Fil ósofo Britâni co.
3
Af t er Vi r t u e é um li vro sobre filosofia moral escrito por Alasdair MacI ntyre. Af t er vi r t u e pod e ter um
dupl o significad o em i nglês, d epois da vi rtude ou perseguind o a vi rtud e. Os tradutores no Brasil adotaram a
prim eira opção para o título.
2.1. As sinapses e a capacidade intelectual
Tem um estudo americano na universidade de Uppsala na Suécia em
que descobriram que nos primeiros três anos de sua vida, a criança produz
imensas sinapses por segundo. Vocês sabem o que é uma sinapse? Sinapse é
quando os neurônios se juntam e começam a produzir todo trânsito de
informação cerebral. Saiba que uma criança, do 0 aos 3 anos de idade, produz
700 sinapses por segundo. É uma coisa absurda. As conexões cerebrais e a
estrutura que está sendo construída lá dentro vai ser, depois, a base do edifício
do conhecimento que vai ter ao longo da sua vida. Se nessas fases da vida, essas
sinapses não são bem construídas e há as chamadas podas neuronais, porque
não houve a estimulação esperada, pois o pai não estava ali presente, não
estava ali ajudando, não estava ali apoiando, a criança vai apresentar algumas
lacunas nessas sinapses, alguns buracos, algumas pontes destruídas pela falta
de acompanhamento. Com isso, posteriormente, haverá dificuldade de
raciocínio, de memorização, de imaginação, porque quem produz essas forças
intelectuais são as sinapses. Então, é muito importante que os pais percebam
que têm que estar próximos, que precisam estar ajudando a colocar esse
estímulo correto na hora certa.
3. PERGUNTAS
1) Você teria alguma sugestão para como podemos dosar e controlar o uso
dos eletrônicos das crianças?
Eu costumo dizer que isso depende da idade da criança. Eu sou da
opinião que uma criança até os dez, doze anos, de acordo com sua maturidade,
não deve ter nenhum celular. E, como dizia, terá sim algum videogame,
próprio para essa idade, há vários jogos bacanas e construtivos que é bom
incentivar, mas dos 0 aos 5 anos de idade, o tempo desses jogos não pode
exceder quarenta minutos. Quando chega no fundamental 1, dos 6 aos 11 anos,
aí no máximo duas horas por dia. Como controlar isso? É definir um horário.
Assim como falamos há pouco, a virtude da temperança, depois da ordem
material, é a ordem temporal. Um dos aspectos importantíssimos dessa ordem
temporal é estabelecer qual é o tempo da diversão, qual é o tempo do jogo, qual
é o tempo em que vai jogar futebol, vai andar de bicicleta, vai brincar de
bonecas, etc.. Isso tem que ser previamente combinado. Quando há esses
combinados, em geral a coisa flui bem e a criança vai se habituando a
obedecer. Isso funciona bem. Quando os eletrônicos são usados, como falamos
há pouco, para substituir a nossa ausência ou para nos deixar descansar à
vontade, estamos trocando uma coisa que é boa em si por um mal maior. Essa
estimulação exagerada está estragando a criança e vai depois prejudicar toda
parte neuronal, toda parte intelectual dela. Isso vai ser muito nocivo. Eu acho
que essa é a forma mais correta de estabelecer uma relação entre crianças
pequenas e celular e jogos. Quando chega na adolescência, no fundamental 2,
a criança pode ter o seu celular, mas os pais têm que ser prudentes para saber
que não podem deixar entrar na sua casa qualquer cidadão. Assim como hoje
há tanta preocupação com a segurança e os apartamentos, condomínios têm
câmeras, pois a segurança é uma das principais questões sociais do momento.
Como eu me preocupo tanto com a segurança das minhas crianças do ponto
de vista físico e não me preocupo com a segurança digital, deixando entrar no
quarto do meu filho qualquer pessoa que ele tenha acesso pela internet? Isso
de fato acontece hoje. Um pai que é prudente tem que saber colocar filtros no
celular do seu filho. Hoje já existem aplicativos em que você consegue
acompanhar tudo o que seu filho vê no celular. Consegue inclusive configurá-
lo para que, antes de baixar um aplicativo, você tenha que autorizar. Quando o
filho entra num vídeo no Youtube, o pai recebe uma mensagem avisando o que
o filho está vendo naquele momento. Eu penso que usar esses recursos que
não são imbatíveis, mas que diminuem em parte os riscos ´à que a criança pode
estar exposta. Eu acho que hoje se o pai quer ser um pai sério e profissional,
tem que aprender a usar esses recursos. Eu não tenho muita facilidade, tem
que pedir assessoria para pessoas que trabalham com esses recursos
eletrônicos, mas hoje eu consigo perceber a eficácia disso. Semana passada,
na escola onde eu trabalho, tínhamos que fazer um trabalho no qual o celular
era necessário. Era um trabalho de ciências e todos tiveram que baixar um
programa para fazer o trabalho em sala de aula. Os alunos nunca podem trazer
o celular no colégio, mas, naquele dia, pedimos excepcionalmente que o
trouxessem. Foi engraçado que um dos alunos não conseguiu participar,
porque o pai não estava online naquele momento e não autorizou a baixar o
aplicativo que era necessário para fazer o trabalho. Ele teve que usar o celular
do colega. Reparem que funciona. Essas formas modernas, que estão
nascendo, são medidas preventivas que os países estão descobrindo. Se você
não faz isso, você está simplesmente prejudicando enormemente seu filho e
aquilo que é um instrumento maravilhoso de comunicação e de formação, se
torna um inimigo familiar e um destruidor da própria criança. Eu não sei se as
pessoas que estão me assistindo têm noção disso, mas saibam que 80% do que
corre todos os dias na internet é pornografia. Um pai responsável que tem esse
dado não pode ficar indiferente e pensar que seu filho nunca vai ver esses
programas, que nunca vai ter acesso a essas imagens. Isso é mentira. Toda
criança vai ter esse estímulo e quando entra na adolescência, na puberdade,
isso vai ter uma força muito maior e ele vai entrar nesses mundos que depois
se tornam às vezes perigosíssimos, viciantes e destruidores da família. Como
eu sou um defensor da família, penso que os pais desde cedo têm que vacinar
os filhos nessas matérias e principalmente mostrar o aspecto positivo desse
cuidado. Quando a criança entende que efetivamente a sexualidade levada de
forma irresponsável é uma destruidora da família, não ficará tão reprimida e
tão triste como às vezes os pais podem pensar. Muitos pais costumam me dizer:
“Ah, mas todas as crianças hoje têm celular. Todas as crianças hoje têm porque
é a forma de se comunicar”. Ótimo. A partir dos dez, doze anos, eu também
acho que tem que ter, mas ponha filtros, ponha limitadores, ponha
controladores, porque a sua criança, até os dezoito anos, que é quando você é
responsável pela educação do seu filho, não vai estar capacitada para se
autoadministrar, se autocontrolar, pois ainda está imatura. Como a gente falou
nas nossas primeiras aulas, como as crianças estão ficando todas defasadas do
ponto de vista psicológico, estão incapacitadas de se autocontrolar. Quando
chega a adolescência, do ponto de vista biológico e corporal, mas do
psicológico estão todos atrasados, aquilo é uma bomba-relógio, aquilo
simplesmente vai estourar. É o que estamos vendo hoje nas meninas
principalmente. As meninas são as mais prejudicadas hoje com o celular.
Quem tem filhas, e está me ouvindo, sabe disso. Elas, infelizmente, estão sendo
mal conduzidas por esse feminismo errado e acabam se permitindo uma série
de experiências que só as destroem e depois sofrem muito. A menina também
é a que mais sofre essa temática. Acho que está respondida a sua pergunta.
2) Eu tenho uma pergunta sobre crianças que nascem com dificuldade
mental ou psicológica e que precisam fazer um tratamento e acabam
tomando alguns medicamentos psicóticos. Quanto isso é prejudicial
para aprendizagem na educação dos filhos. Acho que os pais têm que ter
mais carinho, amor. É um processo um pouco diferente?
A pergunta é muito boa, mas difícil de responder e de descobrir a
verdadeira causa. Às vezes os pais pensam que o seu filho tem déficit de
atenção e precisa tomar ritalina. Às vezes, isso é falso. Hoje está na moda tomar
esses remédios todos para resolver problemas de má educação e falta de
virtudes, como falamos na segunda aula. Então, isso não vai resolver o
problema. Agora, quando há de fato um problema, e existem vários hoje, de
Transtorno Auditivo Central (TAC), por exemplo, uma criança que escuta mal
e o processamento do som chega tarde no raciocínio, é um problema sério.
Nesse caso, existem várias intervenções psicopsicológicas e fármacos que vão
facilitar um pouco essa cura, mas muitas vezes demora e, às vezes, não
consegue. Aí é questão de ir achando caminhos para administrar esse
problema. A dislexia é um problema que está acontecendo cada vez mais.
Crianças que leem tortas. No meu colégio tem crianças com dislexia. A gente
foi aprendendo a adaptar o aprendizado. Quando há dificuldade de fazer uma
prova, alguém lê para ele. Na hora que você corrige, relevam-se alguns erros.
A inclusão hoje é uma necessidade para esse tipo de criança. O mais
importante é as escolas aprenderem a trabalhar esses problemas sem grandes
traumas e sem grandes dramas e mostrarem que, muitas vezes, uma criança
com dislexia vai ser a melhor criança em outras áreas, em artes, em música,
em teatro e pronto, a criança irá ser feliz do mesmo jeito. Muitas vezes, tem
outros problemas dessa ordem, o próprio autismo é uma coisa muito comum
hoje em dia. Não é muito fácil ensinar uma criança autista e escolas hoje até
evitam a matrícula dessas crianças. Eu penso que isso é um pouco complicado,
é uma ciência que não estamos dominando plenamente, então esses
problemas não são fáceis de resolver. Mas acho que não podemos é fugir deles,
temos que estar buscando a solução e já tem escolas muito boas para ensinar
autistas, já tem escolas especialistas em dislexia. Eu sou da teoria que às vezes
é mais salutar para própria criança buscar essas escolas especialistas do que
querer que todos professores sejam especialistas em tudo. Obviamente, isso é
irreal.