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Curso a Família e a Escola na Educação com João Malheiro

Aula 3 - O papel dos pais no acompanhamento escolar dos filhos

SINOPSE
Mais do que prejudicar a educação dos filhos, a falta de
acompanhamento dos pais e a relação estabelecida entre estes pode levar a um
comprometimento neuronal da criança. Nesta aula, João Malheiro nos ensina
como estimular corretamente o desenvolvimento das crianças e quais os
riscos existentes na abstenção dos pais durante seu crescimento.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta aula, espera-se que você saiba: a importância do estímulo
da fala, das figuras, do silêncio e do contato com a natureza; o que é estresse
tóxico e quais suas consequências; a importância do carinho para a
aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO
Vamos começar a terceira aula do nosso curso aqui na plataforma da
Brasil Paralelo. Na primeira aula, expliquei o conceito de escola, como eu vejo
o papel da escola na sociedade e como trabalhar a formação de pais, de
professores, funcionários e alunos, buscando os mesmos valores, as mesmas
virtudes.
Na segunda aula, fomos praticamente obrigados a aprofundar como
seria essa formação nas virtudes e fomos desenvolvendo todo esse itinerário,
que é muito bonito, que vem de São Tomás de Aquino1 desde o século XIII. Esse
conhecimento tem mais de oito séculos e infelizmente foi se perdendo ao
longo dos anos. O que nós vemos hoje na sociedade é uma consequência dessa
desgraça moral. Atualmente, estamos vivendo uma crise moral na sociedade
justamente porque esse ensinamento da virtude foi deixado de lado. O

1
Fil ósofo (1225 - 1274).
referencial teórico do meu doutoramento na UFRJ, Alasdair MacIntyre 2, tem
um famoso livro chamado After Virtue3, “Depois da virtude”, no qual mostra a
desgraça aconteceria na sociedade depois que esta, os pais e as escolas
deixassem de ter o ensino das virtudes. Tudo que profetiza nesse livro dos anos
1980, portanto, passados quarenta anos, é exatamente o que está acontecendo
hoje. Então, ele conseguiu ver de forma brilhante o que iria acontecer.
Corrupção, destruição da família, injustiças sociais. A consequência de você
não educar na virtude é enorme. E, obviamente, dentro do nosso contexto
aqui, é enorme também na educação, é enorme também nas escolas.
A crise educacional no momento é justamente causada pela falta de
educação na virtude. Enquanto todos nossos governantes, todos os
responsáveis pela educação, todos empresários da educação não perceberem
que é aí que está a virada do jogo, iremos continuar com os mesmos problemas
educacionais e nosso aprendizado continuará no último lugar do PISA. Todos
esses resultados que conhecemos de indicadores educacionais continuarão
sendo muito tristes e muito negativos.

2. A IMPORTÂNCIA DOS ESTÍMULOS


Nessa terceira aula vamos falar como os pais podem colaborar, além
desse aprendizado da virtude, no acompanhamento escolar. Eu insisti, na aula
anterior, que a criança precisa efetivamente desse acompanhamento dos pais.
A criança, nos primeiros anos, é muito emocional, não tem uma razão boa.
Então, se não houver uma aproximação dos pais nesses primeiros anos de
aprendizagem, a criança vai ter lacunas, vai ter buracos de conhecimento que,
às vezes, serão caros para serem preenchidos depois. Percebam que a criança
está precisando da sua ajuda, nesses primeiros três, quatro anos, de forma
muito intensa.

2
Fil ósofo Britâni co.
3
Af t er Vi r t u e é um li vro sobre filosofia moral escrito por Alasdair MacI ntyre. Af t er vi r t u e pod e ter um
dupl o significad o em i nglês, d epois da vi rtude ou perseguind o a vi rtud e. Os tradutores no Brasil adotaram a
prim eira opção para o título.
2.1. As sinapses e a capacidade intelectual
Tem um estudo americano na universidade de Uppsala na Suécia em
que descobriram que nos primeiros três anos de sua vida, a criança produz
imensas sinapses por segundo. Vocês sabem o que é uma sinapse? Sinapse é
quando os neurônios se juntam e começam a produzir todo trânsito de
informação cerebral. Saiba que uma criança, do 0 aos 3 anos de idade, produz
700 sinapses por segundo. É uma coisa absurda. As conexões cerebrais e a
estrutura que está sendo construída lá dentro vai ser, depois, a base do edifício
do conhecimento que vai ter ao longo da sua vida. Se nessas fases da vida, essas
sinapses não são bem construídas e há as chamadas podas neuronais, porque
não houve a estimulação esperada, pois o pai não estava ali presente, não
estava ali ajudando, não estava ali apoiando, a criança vai apresentar algumas
lacunas nessas sinapses, alguns buracos, algumas pontes destruídas pela falta
de acompanhamento. Com isso, posteriormente, haverá dificuldade de
raciocínio, de memorização, de imaginação, porque quem produz essas forças
intelectuais são as sinapses. Então, é muito importante que os pais percebam
que têm que estar próximos, que precisam estar ajudando a colocar esse
estímulo correto na hora certa.

2.2. A fala como primeiro estímulo


E qual é o primeiro estímulo que uma criança precisa nos primeiros
anos? A fala. A criança precisa te ouvir, muito e bem. Quando está na barriga
da mãe, a criança já a escuta e escuta até música clássica. Por isso, é muito
aconselhado que as mães descansem com harmonia, para que assim a criança
esteja se unindo à paz dela, e que durmam com música clássica, pois esta
auxilia o desenvolvimento neuronal da criança já dentro da barriga da mãe.
Além disso, também a fala da mãe está fazendo a sua influência. Muitas
mães falam com seus filhos quando estão no seu sétimo mês. A criança já está
ouvindo a mãe, já está produzindo sinapses, acredite. Nos primeiros meses,
parece que a criança não está ouvindo, parece que está em plena hibernação
intelectual, mas isso não é verdade, pois ela já está produzindo sinapses. Então,
fale muito com a sua criança, o máximo possível nos primeiros meses e anos.
Os cientistas estimam que 90% das palavras que a criança fala foram geradas
dos 6 aos 12 meses. Ou seja, estima-se que 90% das palavras presentes no
vocabulário de uma criança venham dos pais, quando eles falaram muito bem
e com muita frequência dos 6 aos 12 meses de idade da criança. Esse é um dado
que interessa muitos aos pais saberem. Quando o seu filho está ali no berço,
está ali mamando, está ali comendo a primeira papinha, não esqueça de estar
conversando com ele.

2.3. A introdução de figuras


Depois, com dois, três anos, vem a fase das figuras. É importante que os
pais mostrem muitas figuras, livros de figuras. Como a criança gosta de estar
com os pais vendo um livro de figuras. Todos nós, pais, lembramos como os
nossos filhos gostavam de estar conosco nesses momentos, porque, na
verdade, está sendo um estimulador da imaginação. A criança está produzindo
sinapses, mas está desenvolvendo a sua imaginação que é um dos elementos
importantíssimos no aprendizado.
2.4. A alfabetização
Quando chega na fase da alfabetização, no primeiro ano do ensino
fundamental 1, é preciso procurar ensinar a escrever, ensinar a ler, ensinar a
se expressar de forma correta. Tudo isso é o momento mágico da alfabetização.
Eu sou defensor do método fônico evidentemente, mas aqui não vou
aprofundar nesse tema. É importante perceber através da fala, das figuras e da
escrita, como a criança pode ter uma estrutura cerebral muito bem
construída. A arquitetura cerebral da criança será o fundamento do
conhecimento futuro.
Eu dou aula no fundamental 1, para criança de seis anos, e é perceptível
nos primeiros dias de aula quais são as crianças que foram bem estruturadas
na educação e quais já estão com algumas lacunas graves. Há que se fazer
depois um trabalho paralelo de recuperação e de intensificação. Existem
lacunas desde motricidade fina, na forma de pegar um lápis, que também tem
relação com a base cerebral neuro-motora. Lembrem disso: de 0 a 2 anos é a
fase neuro-motora. Quando as crianças não foram bem educadas nessa fase e
a psicomotricidade foi uma lacuna deixada porque não teve um bom professor
de educação física, isso vai trazer depois, com 6 anos, uma imensa dificuldade
de aprendizagem. As pessoas não captaram ainda que todo esse movimento
corporal de corrida, de rastejar, esse movimento de agarrar uma corda, de
subir numa árvore, tem relação com a estrutura cerebral que vai lhe ajudar
depois no raciocínio lógico.
Então, concluindo esse primeiro momento, é importante que os pais
falem corretamente com os filhos e se sintam responsáveis por não falarem
incorretamente. Nunca falem: “vai lá para nós buscar…”, não pode haver esse
tipo de frase. A criança vai ter um curto circuito nas suas sinapses. Além disso,
nesses primeiros meses, os pais devem dedicar muito tempo para fazer um
jogo de figuras, para abrir um livro, identificando os elementos que ali
aparecem, mostrando “isso aqui é o elefante, isso aqui é o rio, isso aqui é o
céu…”. A criança já está formando as primeiras imagens que facilitarão,
posteriormente, na hora de sua alfabetização. A criança vai trazer esses sons
com essas imagens e vai conseguir formar os primeiros conceitos. Depois, será
muito mais fácil produzir a escrita, a execução alfabética. Aprendam também
a dedicar tempo para narrar histórias. Quando você narra uma história, dessas
tradicionais como Cinderela, Lobo Mau, Três Porquinhos, isso tudo está
facilitando essa construção cerebral da criança.

2.5. O contato com a natureza


Sabem de uma coisa que está muito em baixa e eu sou um dos maiores
defensores no momento? É colocar as crianças na natureza. Ela está
programada, na sua natureza humana, para se encantar com as folhas, com os
insetos, com as areias, com o mar, com a chuva. Hoje, infelizmente, pela
segurança e pelo comodismo, também, dos pais, às vezes elas são poupadas
desses momentos mágicos que fazem uma imensa diferença depois na
construção dessa estrutura cerebral da criança. Porque a criança precisa
cheirar a folha, precisa amassar o barro, precisa vibrar com a borboleta,
precisa plantar o feijão no vaso, precisa cheirar o mar, a maresia, precisa ter
essas experiências sensoriais, porque a primeira meta de uma boa educação,
saibam disso, é a conquista do próprio corpo, os próprios sentidos sensitivos
da criança. Todos esses conjuntos serão os comunicadores com a realidade
futura que a ajudará a conhecer muito melhor os conceitos abstratos. Quando
o corpo está bem trabalhado e está bem concatenado, os sentidos externos,
com a sua inteligência e a parte da construção cerebral, lhe conferem uma
capacidade de percepção e de penetração da realidade que vai ajudá-la, depois,
a aprender muitas coisas difíceis.

2.6. A importância do silêncio


Outra coisa que eu costumo aconselhar muito: senhores pais, não
deixem a criança muito tempo em um meio barulhento. Hoje há uma obsessão
em chegar em casa e ligar a televisão, em ligar o rádio. Não. A sua criança
precisa de silêncio. O silêncio da criança é o momento em que ela está
estudando. Ela estuda no silêncio. Ela estuda quando está brincando. Três
horas de silêncio no quarto é o tempo de estudo de uma criança. Ali, com
aquele apalpamento de cubos, com aquela construção de lego, naquela
brincadeira com carrinhos e bonecas, naquele silêncio, está estudando, está
conhecendo a realidade. Isso já é aprendizagem.
Às vezes, os pais ficam desesperados, dizendo que não sabem o que fazer
com o seu filho. Não fiquem desesperados, deixem ele brincar do seu jeito. Ele
tem o seu mundo. E, acreditem, muitas vezes ele até já está rezando em
silêncio. E há um primeiro contato com o Criador, mesmo que seja de forma
inconsciente.

2.7. O impacto do relacionamento entre os pais


Diante dessas primeiras ideias, agora vem um momento em que tenho
que insistir muito, senhores pais que estão me ouvindo, porque para que toda
essa harmonia da criança, esse silêncio, vá produzindo seus frutos, é
importante, também, que entre os pais haja um bom relacionamento. Uma das
piores barreiras na aprendizagem de uma criança de 0 a 5 anos é um ambiente
pesado em casa. Aquele ambiente de discussão, de desarmonia, um ambiente
de terceirização de que se fala tanto hoje, em que a mãe quer trabalhar e o pai
chega tarde.
Há aquela falácia educacional que acredita que se eu estou trazendo
dinheiro para casa, eu estou sendo uma boa mãe, um bom pai. Isso é uma
falácia. A criança quer a sua presença, não o seu presente. Você tem que saber,
de forma harmônica, de forma prudente, evidentemente, porque às vezes as
dificuldades econômicas são grandes e de fato a mãe e o pai têm que trabalhar,
então, saber estudar e equacionar todos esses elementos para achar o
caminho acessível e possível para que a sua criança não seja descuidada.
Eu sempre gosto de falar esta frase porque é bem emblemática: O
primeiro negócio da sua vida é a educação do seu filho. Você nunca vai se
arrepender disso. Não pense que o principal negócio da sua vida é o seu
trabalho profissional, é o seu sucesso, é a sua visibilidade. Isso vem sempre
num segundo momento e quando há uma honestidade, quando há um coração
sadio, sempre se encontra ali os equilíbrios, sempre se encontra alguém que
possa ajudar em alguns momentos. Sempre se pode equilibrar as coisas.
O grande problema do momento é que as pessoas não foram se
preparando para serem pais, não foram, por um lado, tendo a ciência da
educação e, por outro, não foram tendo o aprendizado das virtudes para ter
essa maturidade que exige para ser um bom pai, como falamos na segunda
aula. Evidentemente, os pais ficam imaturos e reproduzem, depois, essa
imaturidade no relacionamento com o filho. Com isso, vão terceirizando a
educação dele ou sequer percebem que estão sendo descuidados com o seu
filho.
Saiba que o seu filho precisa de um ambiente carinhoso, precisa de uma
harmonia do casal, precisa de uma rotina no sono. Ele precisa de uma hora
para dormir à noite, uma hora para dormir depois do almoço. Ele precisa
gostar dessa higiene prazerosa, que é o banho com a mãe, com o pai, aquela
toalha gostosa, aquela colônia. Isso faz parte do aprendizado da criança. Às
vezes os pais não percebem a relação de uma coisa com a outra, mas uma
criança bem cheirosa é uma criança bem inteligente lá na frente. Aprendam
também que é preciso cuidar muito da alimentação adequada. Tem que ter um
acompanhamento nutricional. Às vezes, achamos que já sabemos todas essas
coisas, mas não sabemos. Então veja se você está dando a alimentação correta,
veja se está tendo o cuidado com esses barulhos de que falamos há pouco.
Pouco celular na mão, pouco tablet, pouca televisão, pouca música, elas não
precisam disso. É prazeroso para você, que vai ficar tranquilo e vai poder ver o
seu futebol, vai poder ir na sua academia, mas saiba que isso está sendo
prejudicial para o seu filho.

2.8. Os perigos do estresse tóxico


Agora, o que é pior é quando há de fato um momento de desgaste na
família, um momento de conflito. Sabe como se chama isso? Eu acho que já
expressei há pouco, chama-se estresse tóxico. Um estresse tóxico é quando a
criança começa a ficar perturbada diante da desarmonia dos pais. Vocês
sabiam que o estresse tóxico traz imensas consequências depois para a
educação? Uma criança recém-nascida já consegue entender a diferença que
existe entre uma voz calma e um grito nervoso. E esse grito é uma poda
neuronal. Ela fica perturbada, ela não está compreendendo o que está
acontecendo.
Saiba também que ela precisa desse colo, desse cantinho gostoso de
você estar lá conversando com ela. Ela precisa ter protegida essa afetividade
para que não haja distúrbios neuronais. Os cientistas hoje conseguiram
descobrir, através de tomografias, que diante de um cenário de estresse tóxico,
a região da memória, o hipocampo, diminui. Se a criança está tendo estresse
tóxico, o córtex pré-frontal, que é responsável pelas ações executivas de
caminhar, andar, pegar os objetos, fica reduzido. É aquela criança que fica
meio bobinha, que não sabe pegar os objetos, que tem dificuldade de se
locomover, não anda direito, fica torta.
Saibam que crianças que têm graves problemas afetivos dentro do
ambiente familiar não desenvolvem a amígdala. A amígdala não é só aquela da
garganta, existe também a amígdala cerebral, que é responsável pelas
emoções da criança. Quando esse órgão está sendo afetado pelo estresse
tóxico, a criança vai ficando cada vez mais nervosa, vai ficando uma criança
medrosa, uma criança com raivas. Às vezes os pais me perguntam: “Eu não sei
o que acontece com a minha criança que fica mordendo todo mundo” ou “Eu
não sei o que acontece com a minha criança que é muito medrosa, está sempre
com uma birra infernal.”. Eu respondo: será que você não é o responsável por
esses desequilíbrios emocionais e talvez a amígdala da criança já esteja sendo
afetada pelo mau ambiente familiar que você está causando? Às vezes, faz-se
isso de forma inconsciente, às vezes, de forma consciente.
Reparem como o papel dos pais nos primeiros anos da vida da criança é
fundamental. Os pais não percebem que podem estar desconstruindo a base
cerebral da criança. Olha a importância que tem, por isso, a educação infantil.
Isso é uma descoberta que se tem feito nos últimos anos.
Cada vez mais os governos de todo mundo já perceberam que esses
investimentos na educação infantil, posteriormente, trazem retornos sociais
lá na frente, na adolescência e ensino médio, porque são crianças mais
equilibradas, mais capacitadas, mais inteligentes. Nos países asiáticos, como
Singapura, Japão e China, as crianças mais inteligentes são aquelas que
tiveram uma imensa proteção nesses anos. Eles fazem de tudo para que as
crianças sejam educadas a adorar a escola, a adorar o aprendizado, porque é
dali que vão surgir servos mais inteligentes. Então, lembre que a sua presença
é muito importante e quando não puder estar presente o tempo todo, que
infelizmente é um fenômeno que acontece muito hoje em dia, não caia na
tentação de substituir a sua ausência pelas “babás eletrônicas”.

2.9. O perigo das tecnologias


Isso está acontecendo. As pesquisas recentes indicam que as crianças
estão expostas em casa a cinco horas e meia de televisão, tablet, videogame. É
muito tempo. Uma criança que está sendo educada assim vai ser prejudicada,
com certeza, lá na frente, na sua aprendizagem. Não se deixe enganar por essas
tecnologias. Hoje há um marketing pressionando você a adquirir sempre o
último jogo, a ver o último filme que foi lançado. Tudo isso tem interesses
comerciais imensos e os pais hoje, muitas vezes, por estarem ausentes,
sentem-se culpados e compensam essas ausências dando justamente esses
elementos de diversão que só prejudicam a criança. Não deixe a sua criança
também ficar tirando muitas fotos, fazendo muitas filmagens. Também está
na moda a criança já começar a tirar fotos com dois, três anos. Os pais pensam
“que divertido!”. Não, isso é muito ruim. A criança não tem que brincar com
esses eletrônicos, ela tem que brincar com os seus brinquedos. Tem uma
lógica incrível tudo isso, mas eu não vou aqui aprofundar para gente não se
estender.

2.10. A importância do carinho


Saiba que é importante que você, além de estar junto com seu filho e
evitar a omissão pela eletrônica, tratá-lo com muito carinho. O carinho é algo
fundamental no bom desenvolvimento intelectual. Os pais não percebem que
ao educar seu filho no berro, na palmada, estão prejudicando imensamente o
desenvolvimento da criança. Quando não se sente amada, a criança se fecha
para a aprendizagem. Isso é o problema de muitas salas de aula.
Às vezes os pais não percebem que a culpa é deles. Há muitos anos, na
minha escola, eu tenho experiência que toda criança que é indisciplinada, toda
criança que me dá problema, em 100% dos casos, a culpa é dos pais. Eu já
chamo direto os pais e falo: “O que está acontecendo em casa?”. Sempre se
descobre que está havendo uma briga, está havendo uma terceirização, está
havendo muita viagem, que todos estão chegando muito tarde em casa, que
não está havendo um acompanhamento. Tem algumas crianças que são mais
sensíveis, que apresentam os temperamentos chamados sensíveis,
temperamentos mais afetivos, e que sofrem muito mais. Senhores pais,
percebam que a forma como vocês gritam com o seu filho, a forma como vocês
tratam o seu filho, está sendo uma forma muito perigosa de afetar a parte
cognitiva da sua criança.
O que eu queria falar nessa terceira aula é isso. O papel dos pais é
imenso. A terceirização é condenar a sua criança a não ir bem na escola. Na
medida em que a criança vai crescendo, no ensino fundamental 1, essa
aproximação tem que continuar muito forte. No ensino fundamental 2,
quando a criança já tem mais autonomia, aí sim eu concordo que você possa se
afastar um pouco, mas nunca pode deixar de acompanhar de perto os seus
estudos. Você tem que saber como está a lição de casa, acompanhar a lição de
casa. Você tem que saber as notas dele no boletim. Tem que saber quais são as
dificuldades com o professor X, Y e Z, para saber se é um motivo do professor,
se é um motivo do aluno. Você tem que procurar saber se ele está fazendo os
trabalhos que são pedidos na escola. Você tem que ler a agenda escolar. Uma
pessoa que se omite nessas mínimas responsabilidades está dizendo para
criança que a escola não é tão importante assim.
Outro fenômeno que está acontecendo hoje - e é muito triste na minha
opinião -, mais no ensino fundamental 2 e no ensino médio, é os pais viajarem
com os filhos durante as aulas. Isso está cada vez mais comum hoje em dia,
porque a promoção da Disney é sempre na baixa temporada, porque o pai
consegue uma promoção no trabalho, o banco de horas permite fazer umas
férias extras, etc., e os pais simplesmente tiram seu filho da escola e fazem uma
viagem de dez dias para onde for. O que você está passando quando você faz
isso? Você está falando para sua criança que a escola não é tão importante
assim, é algo secundário, terciário, e que o importante é a diversão, que o
importante é curtir a vida. Você está passando uma mensagem muito perigosa
para a criança. Isso tudo não é bom para ela. Saiba que você tem que defender
esse período escolar da criança. As horas da escola, seja meio período, seja
período integral, são sagradas. Você não pode mexer. “Ah, mas eu tenho que
levá-lo no dentista” ou “Eu tenho que levá-lo no fonoaudiólogo”. Olha, tenta
encontrar um dentista ou fonoaudiólogo em que seja possível atendê-lo depois
desse horário. Infelizmente, tem que ser assim. Você está defendendo a
educação do seu filho. Quando isso não acontece, é algo muito prejudicial para
criança.
Senhores pais, ajudem seus filhos a serem bons alunos, ajudem-nos a
serem pessoas muito felizes.

3. PERGUNTAS
1) Você teria alguma sugestão para como podemos dosar e controlar o uso
dos eletrônicos das crianças?
Eu costumo dizer que isso depende da idade da criança. Eu sou da
opinião que uma criança até os dez, doze anos, de acordo com sua maturidade,
não deve ter nenhum celular. E, como dizia, terá sim algum videogame,
próprio para essa idade, há vários jogos bacanas e construtivos que é bom
incentivar, mas dos 0 aos 5 anos de idade, o tempo desses jogos não pode
exceder quarenta minutos. Quando chega no fundamental 1, dos 6 aos 11 anos,
aí no máximo duas horas por dia. Como controlar isso? É definir um horário.
Assim como falamos há pouco, a virtude da temperança, depois da ordem
material, é a ordem temporal. Um dos aspectos importantíssimos dessa ordem
temporal é estabelecer qual é o tempo da diversão, qual é o tempo do jogo, qual
é o tempo em que vai jogar futebol, vai andar de bicicleta, vai brincar de
bonecas, etc.. Isso tem que ser previamente combinado. Quando há esses
combinados, em geral a coisa flui bem e a criança vai se habituando a
obedecer. Isso funciona bem. Quando os eletrônicos são usados, como falamos
há pouco, para substituir a nossa ausência ou para nos deixar descansar à
vontade, estamos trocando uma coisa que é boa em si por um mal maior. Essa
estimulação exagerada está estragando a criança e vai depois prejudicar toda
parte neuronal, toda parte intelectual dela. Isso vai ser muito nocivo. Eu acho
que essa é a forma mais correta de estabelecer uma relação entre crianças
pequenas e celular e jogos. Quando chega na adolescência, no fundamental 2,
a criança pode ter o seu celular, mas os pais têm que ser prudentes para saber
que não podem deixar entrar na sua casa qualquer cidadão. Assim como hoje
há tanta preocupação com a segurança e os apartamentos, condomínios têm
câmeras, pois a segurança é uma das principais questões sociais do momento.
Como eu me preocupo tanto com a segurança das minhas crianças do ponto
de vista físico e não me preocupo com a segurança digital, deixando entrar no
quarto do meu filho qualquer pessoa que ele tenha acesso pela internet? Isso
de fato acontece hoje. Um pai que é prudente tem que saber colocar filtros no
celular do seu filho. Hoje já existem aplicativos em que você consegue
acompanhar tudo o que seu filho vê no celular. Consegue inclusive configurá-
lo para que, antes de baixar um aplicativo, você tenha que autorizar. Quando o
filho entra num vídeo no Youtube, o pai recebe uma mensagem avisando o que
o filho está vendo naquele momento. Eu penso que usar esses recursos que
não são imbatíveis, mas que diminuem em parte os riscos ´à que a criança pode
estar exposta. Eu acho que hoje se o pai quer ser um pai sério e profissional,
tem que aprender a usar esses recursos. Eu não tenho muita facilidade, tem
que pedir assessoria para pessoas que trabalham com esses recursos
eletrônicos, mas hoje eu consigo perceber a eficácia disso. Semana passada,
na escola onde eu trabalho, tínhamos que fazer um trabalho no qual o celular
era necessário. Era um trabalho de ciências e todos tiveram que baixar um
programa para fazer o trabalho em sala de aula. Os alunos nunca podem trazer
o celular no colégio, mas, naquele dia, pedimos excepcionalmente que o
trouxessem. Foi engraçado que um dos alunos não conseguiu participar,
porque o pai não estava online naquele momento e não autorizou a baixar o
aplicativo que era necessário para fazer o trabalho. Ele teve que usar o celular
do colega. Reparem que funciona. Essas formas modernas, que estão
nascendo, são medidas preventivas que os países estão descobrindo. Se você
não faz isso, você está simplesmente prejudicando enormemente seu filho e
aquilo que é um instrumento maravilhoso de comunicação e de formação, se
torna um inimigo familiar e um destruidor da própria criança. Eu não sei se as
pessoas que estão me assistindo têm noção disso, mas saibam que 80% do que
corre todos os dias na internet é pornografia. Um pai responsável que tem esse
dado não pode ficar indiferente e pensar que seu filho nunca vai ver esses
programas, que nunca vai ter acesso a essas imagens. Isso é mentira. Toda
criança vai ter esse estímulo e quando entra na adolescência, na puberdade,
isso vai ter uma força muito maior e ele vai entrar nesses mundos que depois
se tornam às vezes perigosíssimos, viciantes e destruidores da família. Como
eu sou um defensor da família, penso que os pais desde cedo têm que vacinar
os filhos nessas matérias e principalmente mostrar o aspecto positivo desse
cuidado. Quando a criança entende que efetivamente a sexualidade levada de
forma irresponsável é uma destruidora da família, não ficará tão reprimida e
tão triste como às vezes os pais podem pensar. Muitos pais costumam me dizer:
“Ah, mas todas as crianças hoje têm celular. Todas as crianças hoje têm porque
é a forma de se comunicar”. Ótimo. A partir dos dez, doze anos, eu também
acho que tem que ter, mas ponha filtros, ponha limitadores, ponha
controladores, porque a sua criança, até os dezoito anos, que é quando você é
responsável pela educação do seu filho, não vai estar capacitada para se
autoadministrar, se autocontrolar, pois ainda está imatura. Como a gente falou
nas nossas primeiras aulas, como as crianças estão ficando todas defasadas do
ponto de vista psicológico, estão incapacitadas de se autocontrolar. Quando
chega a adolescência, do ponto de vista biológico e corporal, mas do
psicológico estão todos atrasados, aquilo é uma bomba-relógio, aquilo
simplesmente vai estourar. É o que estamos vendo hoje nas meninas
principalmente. As meninas são as mais prejudicadas hoje com o celular.
Quem tem filhas, e está me ouvindo, sabe disso. Elas, infelizmente, estão sendo
mal conduzidas por esse feminismo errado e acabam se permitindo uma série
de experiências que só as destroem e depois sofrem muito. A menina também
é a que mais sofre essa temática. Acho que está respondida a sua pergunta.
2) Eu tenho uma pergunta sobre crianças que nascem com dificuldade
mental ou psicológica e que precisam fazer um tratamento e acabam
tomando alguns medicamentos psicóticos. Quanto isso é prejudicial
para aprendizagem na educação dos filhos. Acho que os pais têm que ter
mais carinho, amor. É um processo um pouco diferente?
A pergunta é muito boa, mas difícil de responder e de descobrir a
verdadeira causa. Às vezes os pais pensam que o seu filho tem déficit de
atenção e precisa tomar ritalina. Às vezes, isso é falso. Hoje está na moda tomar
esses remédios todos para resolver problemas de má educação e falta de
virtudes, como falamos na segunda aula. Então, isso não vai resolver o
problema. Agora, quando há de fato um problema, e existem vários hoje, de
Transtorno Auditivo Central (TAC), por exemplo, uma criança que escuta mal
e o processamento do som chega tarde no raciocínio, é um problema sério.
Nesse caso, existem várias intervenções psicopsicológicas e fármacos que vão
facilitar um pouco essa cura, mas muitas vezes demora e, às vezes, não
consegue. Aí é questão de ir achando caminhos para administrar esse
problema. A dislexia é um problema que está acontecendo cada vez mais.
Crianças que leem tortas. No meu colégio tem crianças com dislexia. A gente
foi aprendendo a adaptar o aprendizado. Quando há dificuldade de fazer uma
prova, alguém lê para ele. Na hora que você corrige, relevam-se alguns erros.
A inclusão hoje é uma necessidade para esse tipo de criança. O mais
importante é as escolas aprenderem a trabalhar esses problemas sem grandes
traumas e sem grandes dramas e mostrarem que, muitas vezes, uma criança
com dislexia vai ser a melhor criança em outras áreas, em artes, em música,
em teatro e pronto, a criança irá ser feliz do mesmo jeito. Muitas vezes, tem
outros problemas dessa ordem, o próprio autismo é uma coisa muito comum
hoje em dia. Não é muito fácil ensinar uma criança autista e escolas hoje até
evitam a matrícula dessas crianças. Eu penso que isso é um pouco complicado,
é uma ciência que não estamos dominando plenamente, então esses
problemas não são fáceis de resolver. Mas acho que não podemos é fugir deles,
temos que estar buscando a solução e já tem escolas muito boas para ensinar
autistas, já tem escolas especialistas em dislexia. Eu sou da teoria que às vezes
é mais salutar para própria criança buscar essas escolas especialistas do que
querer que todos professores sejam especialistas em tudo. Obviamente, isso é
irreal.

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