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© 1984 Living Stream


Ministry Edição para a
Língua Portuguesa
© 1993 Editora Árvore da Vida

Título do original em inglês:


Life-Study of Matthew

ISBN 0-87083-162

5ª Edição — Fevereiro/2001 — 5.000

exemplares ISBN 85-7304-086-6

Traduzido e publicado com a devida autorização do Living Stream


Ministry e todos os direitos reservados para a língua portuguesa pela
Editora Árvore da Vida.

Editora Árvore da Vida


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Impresso no Brasil

As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de João Ferreira


de Almeida, 2a Edição, e Versão Restauração (Evangelhos), salvo quando
indicado pelas abreviações: lit. — tradução literal do original grego ou
hebraico
IBB-Rev. — Imprensa Bíblica Brasileira, versão
Revisada VRC — Versão Revista e Corrigida de
Almeida

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MENSAGEM 1

OS ANTECEDENTES E A POSIÇÃO DO REI (1) UMA PALAVRA

INTRODUTÓRIA
A Bíblia é o falar de Deus. Nela há duas seções. Na primeira seção, o
Antigo Testamento, Deus falou pelos profetas, e na segunda seção, o Novo
Testamento, Ele falou no Filho (na Pessoa do Filho, Hb 1:1-2). Esta seção
é composta dos quatro Evangelhos, o livro de Atos, as Epístolas e o livro
de Apocalipse. Enquanto estava em carne, o Filho começou a falar nos
quatro Evangelhos. Após Sua ressurreição, Ele continuou a falar como o
Espírito por intermédio dos apóstolos (ver João 16:12-14). Assim, o Novo
Testamento é simplesmente o falar do Filho a nós, ministrando a Si
mesmo como vida e tudo para nós a fim de que possamos nos tomar Seu
Corpo, Sua expressão, a igreja.
A Bíblia é um livro de vida. Essa vida é a Pessoa viva de Cristo, nada
menos que isso. No Antigo Testamento Cristo é retratado como Aquele
que havia de vir. No Novo Testamento, Aquele cuja vinda fora profetizada
veio. Assim, o Novo Testamento é o cumprimento do Antigo. Santo
Agostinho disse certa vez que o Novo Testamento está contido no Antigo,
e o Antigo Testamento é expresso no Novo. Esses dois testamentos são, na
verdade, um só, revelando uma Pessoa que é nossa vida.

A PALAVRA DE ABERTURA DO NOVO TESTAMENTO


Quase todos os cristãos são incomodados pela primeira página do
Novo Testamento. Ela tem muitos nomes que são difíceis de
pronunciar. Mas essa página é a primeira parte do N ovo Testamento.
Em qualquer tipo de escrito, tanto a palavra de abertura como a de
conclusão são importantes. Muitos cristãos, quando lêem o Novo
Testamento, passam por cima do capítulo 1 de Mateus e começam a
ler a partir do versículo 18. Parece que no Novo Testamento deles não
há tais parágrafos como Mateus 1:1-17. Todavia, agradecemos a Deus
por essa rica porção da Palavra! Essa genealogia de Cristo é um
resumo de todo o Antigo Testamento. Ela inclui tudo, exceto os
primeiros dez capítulos e meio de Gênesis. A fim de conhecermos o
significado dessa genealogia, precisamos conhecer todo o Antigo
Testamento.

UM RETRATO VIVO DE CRISTO


Precisamos dizer uma palavra concernente ao Novo Testamento. O
N ovo Testamento é simplesmente um retrato vivo de uma Pessoa. Essa
Pessoa é maravilhosa demais. Ele é tanto Deus como homem. Ele é o
mesclar de Deus com o homem, porque Nele a natureza divina e a
natureza humana estão mescladas. Ele é o Rei, e Ele é um escravo. Ele é
maravilhoso!
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Nenhum ser humano jamais falou como Ele palavras tão profundas,
contudo, tão claras. Por exemplo, Jesus disse: “Eu sou o pão da vida” (Jo
6:35), e “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8:12). Platão e Confúcio foram dois
grandes filósofos e as pessoas apreciavam o que eles diziam, mas nenhum
deles poderia dizer: “Eu sou a luz do mundo”. Ninguém mais poderia
dizer: “Eu sou a vida”, ou “Eu sou o caminho”, ou “Eu sou a verdade”
(J o 14:6). Essas são palavras simples e sentenças curtas-” Eu sou”, “Eu
sou o que sou”-, mas são excelentes e profundas. Acaso poderia alguém
dizer que é a luz do mundo ou que é a vida? Se o fizéssemos, certamente
seríamos enviados para um hospício. Mas Jesus pôde dizer essas coisas.
Quão grande Ele é!

QUATRO BIOGRAFIAS DE UMA PESSOA


Jesus é todo-inclusivo. Nele há muitos aspectos. Ninguém pode
esgotar em palavras quem e o que Ele é. Quem mais na história tem
quatro biografias excepcionais? Embora o Novo Testamento seja um
pequeno livro, ele começa com quatro biografias de uma Pessoa, quatro
livros narrando a vida de Cristo.
Cada um de nós tem quatro lados: o da frente e o de trás, o direito e
o esquerdo. Se você olhar para mim de frente, poderá ver sete buracos em
minha face. Mas se voltar minhas costas a você, todos os buracos
desaparecem. No meu lado direito você pode ver um pequeno buraco, e
no esquerdo, um outro pequeno buraco. Para fazer uma cópia exata da
minha imagem, você precisaria tirar uma fotografia de cada lado. É
exatamente isso que foi feito no Antigo Testamento.
Por que temos quatro Evangelhos? Porque Cristo tem pelo menos
quatro aspectos principais. Cristo é excelente! Ele é todo-inclusivo e
insondavelmente rico; por isso Ele precisa de várias biografias. Mateus,
Marcos, Lucas e João apresentam aspectos diferentes de Cristo, porque
cada escritor era um tipo diferente de pessoa. Mateus, por exemplo, era
coleto r de impostos. Entre os judeus nos tempos antigos, um coletor de
impostos era uma pessoa desprezada.

Entretanto, Mateus escreveu a primeira biografia de Cristo. Marcos


era um homem comum, e Lucas era médico e gentio. No início, João era um
pescador comum, mas finalmente tomou-se o apóstolo mais maduro e
experimentado. Cada qual escreveu uma biografia diferente sobre o mesmo
Cristo. Essa Pessoa viva precisa de mui tas biografias.

A EXPANSÃO DE CRISTO
O livro de Atos registra a expansão dessa Pessoa maravilhosa. É o
propagar do Cristo todo-inclusivo. Esse Cristo expandiu-se de uma Pessoa
para milhares e milhares de pessoas. Outrora Ele era o Cristo individual,
mas em Atos tomou-se um Cristo corporativo. Após Atos, temos todas as
Epístolas, que dão uma completa definição desse Homem maravilhoso,
universal e vasto. Cristo é a Cabeça e a igreja é o Corpo: esse é o Homem
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uni versal, Cristo e a igreja. Finalmente, temos o livro de Apocalipse como
a consumação do Novo Testamento. Esse livro nos apresenta uma figura
completa do Cristo-Corpo, o Cristo individual mesclado com todos os
Seus membros para se tomar a Nova Jerusalém.

A ORDEM DOS QUATRO EVANGELHOS


Voltemos aos quatro Evangelhos. Se fosse pôr em ordem os quatro
Evangelhos, eu poria primeiro o Evangelho de João. Muitos cristãos
quando lêem a Bíblia começam com João e então passam a ler Lucas,
Marcos e Mateus. O conceito humano é exatamente o oposto do divino. O
conceito divino começa com Mateus e segue até João; o pensamento
humano inicia com João e volta a Mateus. Muitos de nós começariam
lendo o Novo Testamento por João, porque João é maravilhoso. É um livro
de vida. Após João, leríamos Lucas porque Lucas é um livro do Salvador,
falando-nos de muitos casos de salvação. Então, é claro, iríamos a Marcos
porque Marcos é curto e simples. As pessoas lêem Mateus por último
porque Mateus é muito difícil, muito misterioso. Não apenas o capítulo 1 é
difícil de se entender; as parábolas no capítulo 13 e as profecias nos
capítulos 24 e e 25 também são difíceis. Os capítulos 5, 6 e 7, o sermão da
montanha, são especialmente difíceis. Ninguém é capaz de praticá-los!
Você me fere na face direita, e eu lhe volto a esquerda. Você me obriga a
andar uma milha, e eu ando duas. Você me tira a túnica e eu lhe dou
também a capa. Isso é demais! Apenas Jesus pode fazê-lo.
Conseqüentemente, muitos colocam Mateus por último. João é querido e
precioso. Em João, Jesus é tudo e não necessitamos fazer nada. Portanto,
gostamos de João, mas não de Mateus. Talvez não o digamos abertamente,
mas temos tal sentimento em nosso coração. Entretanto, a seqüência
divina é melhor. Deus colocou Mateus primeiro.

O ESBOÇO GERAL
Em cada livro da Bíblia precisamos de um
esboço geral. O esboço geral de Mateus é:

Cristo é Jeová Deus encarnado para ser o Salvador-Rei que


veio para estabelecer o reino dos céus (o governo celestial),
salvando Seu povo do pecado (da rebelião) por meio da Sua
morte e ressurreição.

O PENSAMENTO CENTRAL
Em cada livro da Bíblia também precisamos encontrar o
pensamento central. O pensamento central de Mateus é:

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Cristo, como Jesus (Jeová, o Salvador) e Emanuel (Deus
conosco), é o Rei, o que batiza, a luz, o Mestre, o que cura, o
que perdoa, o Noivo, o Pastor, o Amigo, a sabedoria, o
descanso, o templo. maior, o Davi verdadeiro, o Senhor do
sábado, o Jonas maior, o Salomão maior, o Semeador, a
semente, o Alimentador, o pão, as migalhas sob a mesa, o
Cristo, o Filho do Deus vivo, a rocha para a igreja, o
Edificador da igreja, o Fundador do reino, o Moisés atual, o
Elias atual, a principal pedra angular, o Senhor, o Ressurreto,
Aquele com autoridade e o Sempiterno para Seu povo em
ressurreição.

Quão rico Cristo é no livro de Mateus, até mesmo mais rico que em
João. Como Jesus e Emanuel, Ele é ainda outros trinta e três itens para
nós. Devemos desfrutá-Lo e participar Dele. Precisamos experimentá-Lo
em todos esses aspectos em ressurreição, não no estado natural. Ele é o
Sempiterno. Mateus começa com “Deus conosco” e finaliza com “E eis que
estou convosco todos os dias até a consumação do século”. Que
maravilhoso!

OS ANTECEDENTES E A POSIÇÃO DO REI

I. SUA GENEALOGIA
Dentre os quatro Evangelhos, apenas dois, Mateus e Lucas, têm
genealogias. Mateus nos diz que Jesus é o descendente legítimo da família
real, que Ele é o herdeiro legal do trono real. Tal pessoa certamente
precisa de uma genealogia narrando-nos sobre Sua origem e ascendência.
Lucas apresenta Jesus como um homem normal, legítimo. Jesus como um
homem verdadeiro também requer uma genealogia. Em Marcos, Jesus é
descrito como um escravo, como alguém vendido à escravidão. Um
escravo não necessita de uma genealogia; assim, Marcos não a inclui.
João nos revela que Jesus é Deus: “No princípio era o Verbo [Palavra]... e
o Verbo [Palavra] era Deus”. Com Ele não houve princípio nem origem.
Ele é eterno, sem princípio ou fim de existência (Hb 7:3). No princípio era
Deus! Se João falasse da Sua genealogia, seria absurdo.
Qualquer outra pessoa, não importa quem seja ou quantas
biografias escrevam sobre ela, terá sempre a mesma genealogia. Mas
Jesus tem duas genealogias. Mais tarde veremos como essas genealogias,
por fim, tornam-se uma. Mais uma vez vemos que Ele é maravilhoso. Em
cada aspecto, Ele é maravilhoso.

A. A Genealogia de Cristo
Agora chegamos à genealogia de Jesus no Evangelho de Mateus.
Precisamos perceber quem é Jesus. Quem é Jesus? Podemos responder
dizendo que Ele é o Filho de Deus, mas essa genealogia não traz essa
expressão. Antes, ela O chama de o filho de Davi e o filho de Abraão. Por
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ser Jesus tão maravilhoso é difícil dizer quem Ele é.
Jesus é o mesclar de Deus com o homem, o
mesclar da divindade com a humanidade. Essa é a genealogia de Jesus. A
genealogia de Jesus revela que Ele é o mesclar, o maravilhoso mesclar.
Nessa genealogia temos o mesclar do Ser divino com tantos seres
humanos, com todos os tipos de pessoas. Não devemos mais pensar que
Mateus 1:1-17 é apenas uma lista de nomes.
A genealogia de Cristo é composta de:

1. Os Patriarcas
Esses são os antepassados, pessoas notáveis.
Todos eles juntos somam catorze gerações (1 :2-6a).

2. Os Reis
Os reis, a nobreza, também somam catorze gerações (1:6b-10).

3. Os Cidadãos Comuns
(os Capturados e os resgatados)
A genealogia de Cristo não inclui apenas pessoas importantes, ela
inclui também os cidadãos comuns, os insignificantes, como Maria e José.
Os pobres, os desprezados, estão também incluídos na genealogia de
Cristo. Cristo foi contado não apenas com os patriarcas e reis, mas
também com um grupo de cidadãos comuns. Ele não era apenas dos
notáveis, dos nobres, era também dos desprezados. Com esse quadro da
genealogia de Cristo, podemos ver que ela inclui todos os tipos de pessoas.
Essa genealogia inclui ambos os chamados, como Abraão, e os
exilados no cativeiro. Nesse breve registro, temos a palavra “desterro” (v.
17). Abraão foi chamado de Babel, a origem de Babilônia. A linhagem
de Cristo inclui não apenas os chamados, mas também os desviados.
Talvez há cinco anos você fosse um chamado, mas hoje pode ser um
desviado. Não fique desapontado. A genealogia de Cristo inclui você. Essa
genealogia inclui Jeconias, um rei que foi destronado e exilado na
Babilônia. Você já foi destronado? Não pense que não. Em sua vida cristã
algumas vezes você foi destronado. Outrora era um rei, mas perdeu seu
reinado e tornou-se um desviado. Nosso patriarca Abraão veio de
Babilônia; contudo você retomou para lá, não voluntariamente, mas foi
levado. Louvado seja o Senhor, porque a genealogia de Cristo inclui até
mesmo os derrotados.
Após o cativeiro houve a restauração. Portanto, temos um outro
nome, Zorobabel, o nome de restauração. Muitos cativos retomaram com
Zorobabel. A genealogia de Cristo inclui todos os tipos de pessoas: boas,
más, chamadas, degradadas e restauradas. Se lhe perguntasse de que tipo
é, você pode dizer que primeiramente era um chamado, então um
degradado e, finalmente, um restaurado. Você era um Abraão, tomou-se
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um Jeconias, mas hoje é um Zorobabel. Somos todos “Zorobabéis”.
Somos os chamados, os degradados e os restaurados.

4. As Quatro Mulheres Recasadas


De acordo com o costume judeu, o escritor de uma genealogia
jamais incluiria um nome feminino, apenas nome de homens. Mas nessa
breve genealogia cinco mulheres são mencionadas. Essas cinco mulheres
são como os dedos da minha mão: quatro formam um grupo e a outra fica
só. Quatro dessas cinco eram casadas mais de uma vez, e uma das quatro
era prostituta. É como se o relato divino aqui não quisesse mencionar as
boas, como Sara e Rebeca, mas as más. Observe o registro divino: Davi
gerou “a Salomão, da que fora mulher de Urias” (1 :6). O registro nem
mesmo dá o nome dela; fornece apenas a sua história a fim de lembrar-
nos que tipo de pessoa ela era.
Você conhece a história de Tamar? Ela era a nora de Judá. Judá
gerou gêmeos da nora (Gn 38:24-30). Que terrível! A
segunda mulher cujo nome é mencionado é
Raabe, aprostituta de Jericó, e a terceira, Rute, uma
moabita. Aos moabitas não era permitido entrar na congregação do
Senhor até a sua décima geração (Dt 23:3). Eles são descendentes de
Moabe, que nasceu da união de Ló com a própria filha. A quarta
mulher era Bate-Seba, a esposa de um cananeu chamado Urias a quem
Davi assassinou. Davi tomou-a por mulher e com ela gerou a Salomão.
Por que esse breve relato menciona todas essas mulheres? Porque elas
são nossas representantes. Não pense que você é tão puro, que é mais
puro que essas mulheres. Descubra sua própria origem. Se o fizer,
perceberá de que maneira e de quem seu avô nasceu, de que modo e
de quem seu pai nasceu, e de que maneira e de quem você nasceu.
Somos piores. Mas os piores também estão incluídos na genealogia de
Cristo! Louvado seja o Senhor! Ele é
verdadeiramente o Salvador dos pecadores.
O número quatro representa todas as criaturas, incluindo toda a
raça humana. A humanidade é desprezível, ninguém é puro. Mas, graças
ao Senhor, estamos todos ligados a Cristo. Somos parte da genealogia de
Cristo.
Se fôssemos escrever uma biografia de Cristo e não houvesse outra
biografia Dele na Bíblia, não ousaríamos escrevê-la dessa maneira.
Ocultaríamos todas essas mulheres impuras e apresentaríamos os nomes
das boas, tais como Sara e Rebeca. Mas o Espírito Santo não fez menção
de Sara, Rebeca ou de outras boas mulheres; antes, propositadamente
incluiu as impuras. Se esse relato divino tivesse relacionado os nomes das
boas mulheres sem o nome das impuras, eu estaria em dúvida sobre a
atual situação da igreja. Diria: “Olhe para a situação da igreja hoje.
Não muitos são realmente puros”. Não pense que você é tão puro, tão
limpo. Não somos puros. Entretanto, a genealogia de Cristo inclui tanto
bons como maus. Na verdade, inclui maior número de maus do que de
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bons.

5. A Única Virgem
Ao lado das quatro mulheres recasadas, destaca- se uma virgem:
Maria, a mãe de Jesus. Maria era boa, pura e limpa. Isso indica que todos
os mencionados neste livro da genealogia são pecadores, exceto Jesus. Com
exceção de Jesus, todos são impuros.

B. O Filho de Davi
Cristo é o filho de Davi (Mt22:42, 45; Ap22:16). Salomão, o filho .
de Davi, era um tipo de Cristo em três aspectos principais. Primeiro, ele
era um tipo de Cristo como o herdeiro do reino (2Sm 7:12b, 13; Jr 23:5; Lc
1 :32-33). Segundo, Salomão tinha sabedoria e falava a palavra de
sabedoria. Em Mateus 12, vemos que Cristo também tinha sabedoria e
falava a palavra de sabedoria. Nesse capítulo Cristo referiu-se a Si mesmo
como o Salomão maior (v. 42). Alguém maior que Salomão estava ali e
falou palavras de sabedoria. Nenhuma palavra humana é tão sábia como
as palavras de Cristo. Terceiro, Salomão edificou o templo de Deus (2Sm
7:13). Como o filho de Davi, Cristo edifica o templo de Deus, a igreja.

C. O Filho de Abraão
Cristo é também é filho de Abraão. Essa genealogia diz que Cristo e
o filho de Davi e o filho de Abraão, não o filho de alguém mais. No Antigo
Testamento havia uma clara profecia que Cristo seria filho de Abraão.
Isaque era um tipo de Cristo. Com Isaque, como um tipo de Cristo,
também havia três aspectos principais. Primeiro, Isaque trouxe a bênção a
todas as nações, tanto para Judeus como para gentios (Gn 22:18a; G13:16,
14). Segundo, ele foi oferecido a Deus como sacrifício e ressuscitou (Gn
22:1-12; Hb 11:17, 19). Terceiro, ele recebeu a noiva (Gn 24:67). Esse é um
tipo de Cristo como o Prometido que trouxe a bênção a todas as
nações, que também foi oferecido como sacrifício, morreu e foi
ressuscitado e que, após Sua ressurreição, receberá Sua Noiva (Jo3:29;
Ap 19:7). Um dia o Espírito Santo, prefigurado pelo servo de Abraão, trará
a Rebeca espiritual, divina, celestial para o seu Isaque celestial. o filho de
Abraão recebeu a noiva e o filho de Davi edificou o templo. Com Cristo, a
Noiva é o templo, e o templo é a Noiva.
É por isso que Mateus 1:1 diz que Cristo é o filho de Abraão e o filho
de Davi. Ele ofereceu-se para morrer e foi ressuscitado, agora Ele está
edificando o templo de Deus e no futuro Ele receberá a Noiva. Cristo
também falou palavras de sabedoria e trouxe a bênção de Deus a todas as
nações. É Ele que cumpre todas essas coisas. Nos quatro Evangelhos,
podemos achar cada um desses seis aspectos. Os Evangelhos revelam que
Cristo veio para herdar o reino, que Ele ofereceu-se para morrer e foi
ressuscitado, que Ele falou a palavra de sabedoria, que trouxe bênção a
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todas as pessoas, que está edificando a casa de Deus e que virá para
receber a Noiva. Cristo é, sem dúvida, o verdadeiro Isaque e o verdadeiro
Salomão.
Como o filho de Davi, Jesus era uma grande bênção para os
judeus. Mas como o filho de Abraão, Ele traz bênção a todos os gentios.
Como o filho de Davi, Ele é para os judeus; como o filho de Abraão,
Ele é para todos nós. Se Jesus fosse apenas o filho de Davi, Ele nada teria
a ver comigo. Louvado seja o Senhor por ser Ele também o filho de
Abraão! Todas as nações são abençoadas na semente de Abraão, que é
Cristo. Essa bênção é a participação no Deus Triúno. A bênção que Deus
prometeu a Abraão é o Espírito (Gl 3:14), e o Espírito é a consumação
final e máxima do Deus Triúno. Por meio de Cristo como o filho de
Abraão, temos o Espírito e participamos no Deus Triúno. Aleluia!

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MENSAGEM 2

OS ANTECEDENTES E A POSIÇÃO DO REI (2)

D. Abraão
A genealogia em Mateus começa com Abraão, mas a genealogia em
Lucas retoma a Adão. Mateus não inclui Adão e seus descendentes, mas
Lucas sim. Que significa essa diferença? Lucas é um livro da salvação de
Deus, enquanto Mateus é um livro do reino. A salvação de Deus é para a
raça criada e caída representada por Adão, mas o reino dos céus é apenas
para o povo escolhido de Deus, a raça chamada, representada por Abraão.
Portanto, Mateus começa com Abraão, mas Lucas traça a genealogia de
volta para Adão.

1. Chamado
Nos primeiros dez capítulos e meio de Gênesis, Deus tentou
trabalhar na raça criada, mas não conseguiu. A raça criada O frustrou. O
homem caiu a tal ponto que toda a humanidade rebelou-se contra Deus ao
extremo e edificou a torre e a cidade de Babel para expressar sua rebelião
(Gn 11:1-9). Então, Deus desistiu da raça criada e caída, e chamou uma
pessoa, Abraão, para fora daquela raça a fim de ser o pai de uma outra
raça. De um lugar cheio de rebelião e idolatria, onde todos eram um com
Satanás, Deus chamou um homem, Abraão (Gn 12:1-2; Hb 11:8).
Desde quando o chamou de Babel (mais tarde Babilônia) para Canaã,
Deus desistiu da raça adâmica e investiu todo Seu interesse nessa nova
raça, tendo Abraão como cabeça. Essa é a raça chamada, a raça
transformada. Não é uma raça segundo a natureza, mas segundo a fé.
O reino de Deus é para essa raça. Ele nunca poderia existir com a
raça caída. Assim, Mateus, ao tratar do reino dos céus, começa com
Abraão. Porque o livro de Lucas diz respeito à salvação de Deus (e
certamente a salvação deve ser para a raça caída), sua genealogia
retrocede a Adão. Após sermos salvos em Lucas, espontaneamente somos
transferidos da raça caída para a raça chamada. Éramos descendentes de
Adão; agora somos descendentes de Abraão. Gálatas 3:7 e 29 diz-nos que
todo aquele que crê em Jesus Cristo é filho de Abraão. De quem você é
filho? De Adão ou de Abraão? Somos os verdadeiros judeus (Rm 2:29).
Nosso antepassado é Abraão. Pertencemos à mesma categoria que ele. Se
não fôssemos descendentes de Abraão, então não teríamos participação
no livro de Mateus. N em mesmo teríamos parte no pequeno livro de
Gálatas, porque Gálatas foi escrito aos descendentes de Abraão. Somente
teremos participação em Gálatas se formos descendentes de Abraão.
Louvado seja o Senhor por sermos os filhos de Abraão! “E, se sois de
Cristo, também sois descendentes de Abraão, herdeiros segundo a
promessa” (G13:29).
Abraão foi chamado por Deus. A palavra grega para igreja, ekklesia,
significa “os chamados para fora” . Assim, na igreja somos também os
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chamados para fora. Abraão foi chamado para fora de Babel, o lugar de
rebelião e idolatria, para a boa terra, que prefigura Cristo. Nós também
estávamos em Babel. Estávamos caídos, em rebelião e adorávamos ídolos.
Hoje toda a raça humana está em Babel. Estávamos lá, mas um dia
Deus chamou-nos e colocou-nos em Cristo, a terra elevada. Fomos
chamados por Deus “à comunhão [a participação] de seu Filho Jesus
Cristo nosso Senhor” (l Co 1:9). “Para os que foram chamados (... ) Cristo
[é], poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Co 1:24).
2. Justificado por Fé
Abraão, como um chamado, foi justificado por fé (Gn 15:6; Rm4:2-
3). A raça caída confia em suas obras, mas os chamados crêem na obra de
Deus, não em sua própria obra. Aos olhos de Deus nenhuma pessoa pode
ser justificada por obras (Rm 3:20). Portanto, os chamados, tendo sido
chamados por Deus para fora da raça caída, não confiam em seus próprios
esforços; confiam na obra da graça de Deus. Abraão e todos os outros
crentes são iguais. “De modo que os da fé são abençoados com o crente
Abraão” (G13:9). A bênção da promessa de Deus, “a promessa do
Espírito” (G13:14-VRC), é para os que crêem. Por fé recebemos o Espírito,
que é a realidade e a percepção de Cristo (G13:2). Assim, tanto Abraão
como nós estamos ligados a Cristo e unidos a Ele por fé. É por fé na obra
da graça de Deus que o povo chamado de Deus é justificado por Ele e
participa em Cristo, sua porção eterna.

3. Vivendo por Fé
Hebreus 11:8 diz que Abraão foi chamado e que ele respondeu a
esse chamamento por fé. Então, o versículo 9 diz que ele viveu na boa
terra também por fé. Como o chamado de Deus, Abraão não apenas foi
justificado por fé, como também viveu por fé. Como chamado por Deus,
ele não deveria mais vi ver e andar por si mesmo, mas vi ver e andar por
fé. O fato
de Abraão viver e andar por fé significa que ele tinha de rejeitar a si
mesmo, esquecer de si mesmo, pôr a si mesmo de lado, e viver por outra
Pessoa. Tudo o que ele tinha por natureza devia ser posto de lado.
Se comparamos Gênesis 11:31 e 12:1 com Atos 7:2-3, vemos que
quando Deus chamou Abraão em Ur dos caldeus, ele era muito fraco.
Abraão não tomou a iniciativa de deixar Babel; seu pai, Terá, é quem o
fez. Isso forçou Deus a tirar o pai de Abraão. Em Gênesis 12:1 Deus o
chamou novamente, dizendo a ele para deixar não apenas sua terra (país)
e sua parentela, mas também a casa de seu pai, que significava não levar
ninguém consigo. Porém uma vez mais Abraão, como nós, foi fraco e
tomou Ló, seu sobrinho (Gn 12:5).
Que é um Abraão? Um Abraão é uma pessoa que foi chamada, que
já não vive e anda por si mesmo, e que abandona e esquece tudo o que
tem de natural. Essa é exatamente a mensagem do livro de Gálatas.
Gálatas 3 diz-nos que somos os filhos de Abraão e que devemos viver por
fé, não por obras. Gálatas 2:20 diz-nos que viver por fé significa “já não

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sou eu quem vive, mas Cristo” . Eu, o eu natural que surgiu da raça caída,
fui crucificado e sepultado. Assim, não sou mais eu, mas Cristo vive em
mim. Isso é Abraão. Se somos verdadeiros judeus, os legítimos
descendentes de Abraão, devemos deixar todas as coisas e viver por fé.
Devemos esquecer de tudo o que podemos fazer e rejeitar tudo o que
somos e temos por natureza. Isso não é fácil.
Os cristãos apreciam muito Abraão. Entretanto, não devemos ter
Abraão em tão alta estima. Ele não era tão excelente. Ele foi chamado,
mas não ousou deixar Babel; seu pai o tirou de lá. Isso forçou Deus a
remover seu pai. Então Abraão confiou em seu sobrinho, Ló. Mais tarde,
ele pôs sua confiança em seu servo, Eliezer (Gn 15:2-4). É como se Deus
estivesse dizendo a ele: “Abraão, não gosto de ver seu pai com você, não
gosto de ver seu sobrinho com você, não gosto de ver Eliezer com você.
Não quero que tenha ninguém em quem confiar. Você deve confiar em
Mim. Não dependa de nada mais ou de qualquer coisa que tenha por
natureza”. Isso é crer em Deus, andar N ele e viver por Ele. É não mais eu,
mas Cristo vivendo em mim.
Se somos verdadeiros judeus, então somos verdadeiros Abraãos. A
fim de ser um Abraão, devemos cremo Senhor. Crer no Senhor é tomar-se
unido a Ele. Abraão foi chamado para fora da raça caída e tomou-se unido
ao Senhor. Todos os filhos de Abraão devem igualmente ser unidos a
Cristo. “Se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão”. Em
outras palavras, se somos a descendência de Abraão, pertencemos a Cristo
e estamos unidos a Ele. Se quisermos unir-nos a Cristo, devemos rejeitar a
nós mesmos e tomar Cristo como tudo. Isso é crer em Cristo, e esse crer é
justiça aos olhos de Deus. Não tente fazer algo. Simplesmente creia em
Cristo.
A raça caída sempre gosta de realizar algo, trabalhar e fazer algum
esforço. Mas Deus diz: “Saiam daí. Vocês são a raça chamada. Não
tentem, não façam e não realizem nada mais! Esqueçam o seu passado.
Esqueçam o que vocês são, o que podem fazer e o que têm. Esqueçam
tudo e ponham toda a sua confiança em Mim. Eu sou sua boa terra. Vivam
em Mim e vivam por Mim” . Esses são os verdadeiros “Abraãos”, os
verdadeiros gálatas. Como filhos de Deus, eles confiam em Deus e
esquecem de si mesmos. Esses são os que compõem a linhagem de
Cristo. Todos devemos ser “Abraãos”, aqueles que esquecem o passado,
desistem do que são e têm, e põem a confiança em Cristo, sua boa terra.
Hoje nosso andar e viver devem ser pela fé em Cristo. Se assim for, então,
como herdeiros da promessa de Deus, como aqueles que herdam a
promessa do Espírito, participaremos de Cristo como a bênção de Deus.
Certa vez o Senhor pediu a Abraão para oferecer Isaque como
holocausto, aquele a quem Deus, segundo a Sua promessa havia lhe dado
(Gn 22:1-2). O Senhor dera Isaque a Abraão; agora Abraão tinha de dar
Isaque de volta ao Senhor. O Senhor já o tinha incumbido de rejeitar
Ismael (Gn 21 :10, 12); agora Ele ordena-lhe matar seu filho Isaque.
Você seria capaz de fazer isso? Que lição difícil! Entretanto, essa é a
maneira de experienciar Cristo. No mês passado ou na semana passada
você pode ter experienciado Cristo de uma certa maneira, mas hoje o
13
Senhor diz: “Consagre aquela experiência. Aquela foi uma experiência real
de Cristo, mas não a guarde” . Novamente, a lição é nunca confiam o que
temos, nem mesmo no que Deus nos deu. Se Deus deu algo a você, isso
deve ser devolvido a Ele. Esse é o andar diário pela fé. Andar na presença
do Senhor pela fé significa que não nos apegamos à coisa alguma, nem
mesmo às coisas dadas por Deus. Os melhores dons, dados pelo próprio
Senhor, devem ser devolvidos a Ele. Não retenha nada como algo em que
possa confiar; confie apenas e sempre no Senhor. Abraão fez isso.
Finalmente ele viveu e andou na presença de Deus simplesmente pela fé.

E. Isaque
Mateus 1:2 diz: “Abraão gerou a Isaque”. Qual é o ponto
importante aqui com respeito a Isaque? É que Isaque nasceu pela
promessa (Gl 4:22-26, 28-31; Rm 9:7-9). Ele era o único herdeiro (Gn
21:10, 12; 22:2a, 12b, 16-18) e herdou a promessa de Cristo (Gn 26:3-4).
Deus prometeu a Abraão um filho. Sara, pretendendo ajudar Deus a
cumprir Sua promessa, fez uma sugestão a Abraão. Sara parecia dizer:
“Veja, Abraão, Deus prometeu dar-lhe um descendente para herdar essa
boa terra. Mas olhe para você-tem quase noventa anos! E olhe para mim-
eu sou tão velha! É- me impossível gerar uma criança. Devemos fazer
alguma coisa para ajudar Deus a cumprir o Seu propósito. Tenho uma boa
serva chamada Hagar. Certamente você poderia ter um filho com ela” (Gn
16:1-2). Esse é o conceito natural, e é verdadeiramente tentador. Muitas
vezes nosso conceito natural tem algumas sugestões para tirar- nos do
espírito. Freqüentemente nosso conceito natural diz: “Eis aqui uma boa
maneira de fazer isso. Faça dessa maneira”. Mas tal proposta certamente
nos afastará da promessa de Deus.
Abraão aceitou a sugestão de Sara (Gn 16:2-4) e o resultado foi
Ismael (Gn 16:15). Esse Ismael terrível ainda está aqui hoje! Agir de
acordo com a sugestão de Sara não ajudou Deus; antes, prejudicou
Abraão em realizar o propósito de Deus. Essa não é uma questão
insignificante.
A lição que extraímos daqui é que, como a raça chamada, tudo
quanto fazemos com nossos próprios esforços resulta em um Ismael. O
que quer que façamos por nós mesmos na vida da igreja, mesmo na
pregação do evangelho, apenas produzirá um Ismael. Não produza
“Ismaéis”! Dê um fim em você mesmo! Você não cruzou o grande rio, o
Eufrates? Quando foi chamado para fora de Babel, você atravessou aquele
grande rio e foi sepultado ali. Foi terminado ali. Não viva por si mesmo
ou faça algo por si mesmo. Antes, deve dizer: “Senhor, eu não sou nada.
Sem Ti, nada posso fazer. Senhor, se Tu não fizeres algo, então eu não
farei também. Se Tu descansares, eu descansarei. Senhor, deposito minha
confiança em Ti”. Isso é fácil de dizer, mas difícil de praticar em nosso vi
ver diário.
Lembre-se o que é um Abraão: um Abraão é um chamado que nada
faz por si mesmo. Deus tinha de esperar até que Abraão e Sara fossem
terminados (Gn 17:17; ver Rm4:19). Ele esperou até que a energia natural
14
deles se extinguisse, até que viessem a perceber que lhes era impossível
gerar um filho.
Abraão queria manter Ismael e confiar nele, mas Deus rejeitou
Ismael (Gn 17:18-19). Também gostamos de preservar nossa própria obra
e depender dela, mas Deus não a reconhece. Finalmente, Deus exigiu de
Abraão que expulsasse Ismael e sua mãe (Gn 21:10-12). Foi difícil para
Abraão fazer isso. Mas ele tinha de aprender a lição de não vi ver
por si mesmo, a lição de desistir de seu próprio esforço e não fazer nada
por si mesmo. Ele tinha um filho, mas devia desistir dele. Essa é a lição de
Abraão e a lição no livro de Gálatas.
Participar de Cristo requer que nunca confiemos em nossos próprios
esforços nem em nada que somos capazes de fazer. Assim como Ismael era
um impedimento para Isaque herdar a promessa de Deus, também nossos
próprios esforços ou obras sempre impedirão nossa participação em
Cristo. Devemos abandonar tudo o que somos e tudo o que temos a
fim de esperar na promessa de Deus. Devemos renunciar tudo da nossa
vida natural; caso contrário, não podemos desfrutar Cristo. Após nossa
força natural ter-se esgotado, a promessa de Deus vem. Após Ismael ter
sido expulso, Isaque tinha a posição correta para participar da bênção da
promessa de Deus. A terminação do nosso esforço natural, a renúncia do
que podemos fazer ou temos feito, é “Isaque”, a herança da bênção
prometida por Deus, que é Cristo. Fomos batizados em Cristo (Gl 3:27).
Fomos terminados em Cristo, agora somos Dele, e O temos como nossa
porção. Assim, somos a descendência de Abraão, a raça chamada de Deus,
e herdeiros segundo a promessa de Deus (Gl 3 :29).
Que é Isaque? Isaque é o resultado de viver e andar por fé. Isso é
Cristo. Isaque era um tipo completo de Cristo herdando todas as riquezas
do Pai. Todos devemos experimentar Cristo de tal maneira; não pelos
nossos feitos, esforços ou diligência, mas simplesmente por confiar Nele.
Nossa confiança Nele resultará em Isaque. Somente Isaque é o elemento
verdadeiro da genealogia de Cristo. Nem todos os filhos da carne de
Abraão são filhos de Deus; apenas em Isaque Deus terá Seus filhos (Rm
9:7-8). Portanto, Deus considerou Isaque como filho único de Abraão (Gn
21:10, 12; 22:2a, 12b, 16-18), o único a herdar a promessa a respeito de
Cristo (Gn 26:3-4).
Embora sejamos a raça de Abraão hoje, estamos trilhando o
caminho de Ismael ou estamos vivendo à maneira de Isaque? A maneira
de Ismael é cumprirmos o propósito de Deus pela nossa própria energia
e trabalho. A maneira de Isaque é colocar- nos em Deus, permitindo-
Lhe fazer por nós todas as coisas para cumprir Seu propósito. Que enorme
diferença há entre essas duas maneiras! Ismael nada tem a ver com
Cristo. Tudo quanto fazemos, tudo quanto tentamos realizar, nada tem a
ver com Cristo. Devemos ter Isaque. Se quisermos Isaque, devemos
rejeitar Ismael, interromper nossa obra, e colocar- nos no próprio operar
de Deus. Se Lhe permitirmos cumprir Sua promessa em nosso lugar,
então teremos Isaque.

15
F. Jacó
O versículo 2 também diz que Isaque gerou a Jacó. Isaque e
Ismael eram irmãos por parte de pai, mas com mães diferentes. Jacó e
Esaú eram mais próximos, eram gêmeos. Jacó significa suplantador. Ele
suplanta os outros, colocando-os sob ele e elevando-se sobre eles. Quando
ele e seu irmão mais velho Esaú estavam saindo do ventre, Jacó agarrou o
calcanhar de Esaú. Jacó parecia dizer: “Esaú, não saia ainda! Espere por
mim. Deixe-me ir primeiro!” Jacó era um verdadeiro segurador de
calcanhar. O significado do nome Jacó é o segurador de calcanhar, o
suplantador. Ele derrota outros. Ele os coloca sob seus pés por qualquer
meio enganoso. Isso é Jacó.
Porque Deus já escolhera Jacó, todo empenho dele era vão. Jacó
precisava de uma visão. Ele não precisava suplantar os outros, porque
Deus o escolhera para ser o número um. Mesmo antes de os gêmeos
nascerem, Deus tinha dito à mãe que o mais jovem seria o primeiro, e o
mais velho seria o segundo. Está escrito: “Amei a Jacó, porém me aborreci
de Esaú” (Ml 1:2-3; Rm 9:13).
Infelizmente, Jacó não percebeu isso. Se o tivesse
percebido nunca teria tentado fazer nada. Antes, teria dito a Esaú: “Se
quer sair primeiro pode ir. Não importa quanto você tente ser o primeiro,
eu ainda serei o primeiro. Você nunca poderá vencer-me, porque Deus me
elegeu” . Jacó, entretanto, não sabia disso. Mesmo quando ele cresceu
ainda não percebia isso. Assim, ele estava constantemente suplantando.
Aonde quer que fosse, ele suplantava. Ele suplantou seu irmão (Gn 25
:29-33; 27:18-38), e suplantou seu tio (Gn 30:37-31:1). Ele planejou e
roubou seu tio, Labão. Contudo, todo seu labor foi em vão. Deus poderia
dizer-lhe: “Jacó, seu tolo. Não precisa fazer isso. Eu lhe darei mais do
que você conseguiu obter” . Mas Jacó continuou lutando.Embora
fosse um descendente de Abraão, pela sua luta e
natureza, ele era totalmente um descendente do diabo. Você
compreende isso? Posicionalmente falando, Jacó era um descendente de
Abraão, mas disposicionalmente, ele era um filho do diabo.
Que precisava Jacó? Ele precisava do tratamento de Deus. Por isso
Deus levantou seu irmão, Esaú, e depois seu tio, Labão, para tratar com
ele. Deus levantou até mesmo quatro esposas mais doze ajudantes varões
e uma ajudante. Havia muito sofrimento na vida de Jacó, mas esse
sofrimento veio do seu próprio esforço, não da escolha de Deus. Quanto
mais ele lutava, mais sofria. Podemos rir de Jacó, mas somos exatamente
iguais a ele. Quanto mais tentamos fazer algo, mais problemas temos.
Em Cristo, precisamos primeiramente da vida de Abraão.
Precisamos esquecer o que somos, viver por Cristo e confiar Nele. Em
segundo lugar, em Cristo não temos necessidade de Ismael, nossos
feitos; precisamos de Isaque, os feitos de Deus. Em terceiro lugar, não
precisamos de Jacó, mas de Israel. Não precisamos do Jacó natural, mas
do Israel transformado, o príncipe de Deus.
Você percebe que absolutamente não depende de você? Ao ouvir isso,
você pode dizer: “Se não depende de mim, mas inteiramente de Deus,
16
então pararei minha busca” . Muito bom. Se você puder parar sua busca,
encorajo-o a fazê-lo. Diga a todo o universo que você ouviu que isso
depende Dele, e que parou sua busca. Se puder pará-la, ela deve ser
parada. Mas, asseguro-lhe, quanto mais você parar,
melhor. Quanto mais parar, mais Ele se levantará. Tente. Diga ao
Senhor: “Senhor, eu paro minha busca!” O Senhor dirá: “Isso é
maravilhoso! Sua pausa abre a porta para que Eu faça algo. Eu queimarei
você. Você pode parar sua busca, mas Eu o deixarei queimando!” Todos
fomos escolhidos. Em certo sentido, fomos capturados. Que
podemos fazer? Nunca podemos escapar. Isso é absolutamente
devido à misericórdia do Senhor. Não escolhemos esse
caminho. Eu certamente não o escolhi, mas aqui estou. Que posso
fazer? Porque Deus nos escolheu, nunca podemos ir embora.
Se lermos Romanos 9, descobriremos que depende Dele, não de
nós. Ele era e ainda é a fonte. Louvado seja o Senhor que a Sua
misericórdia chegou a nós! Ninguém pode rejeitar Sua misericórdia.
Podemos rejeitar Seus feitos, mas não podemos rejeitar Sua misericórdia
(Êx33:19; Rm9:15). Que misericórdia termos sido escolhidos para estar
unidos a Cristo e participar Dele como a bênção eterna de Deus! Em certo
sentido somos Abraão, em outro, somos Isaque, e ainda em outro,
somos Jacó. Posteriormente, num quarto sentido, seremos Israel. Assim,
temos Abraão, Isaque e Jacó.
A genealogia de Cristo é uma questão do direito de primogenitura, e
o direito de primogenitura é principalmente a união com Cristo e a
participação em Cristo. O suplantar de Jacó não era justificável, mas sua
busca pela primogenitura certamente foi honrada por Deus. Esaú
desprezou a primogenitura e vendeu-a por um preço baixo (Gn 25:29-34).
Assim, ele a perdeu e não foi capaz de reavê-la, mesmo tendo lamentado
e chorado por ela (Gn 27:34-38; Hb 12:16-17). Ele perdeu a bênção de
participar de Cristo. Isso deve ser uma advertência para nós. Jacó honrou
e buscou o direito de primogenitura, e o alcançou. Ele herdou a bênção
prometida por Deus, a bênção de Cristo (Gn 28:4, 14).

G. Judá
O versículo 2 também diz que Jacó gerou a Judá e a seus irmãos. O
primeiro filho de Jacó foi Rúben. Rúben devia ter ficado com a porção do
primogênito que era o direito de primogenitura. A primogenitura incluía
três elementos: a porção dobrada da terra, o sacerdócio e a realeza.
Embora Rúben fosse o primogênito ele perdeu a primogenitura por causa
da sua profanação (Gn 49:3-4; 1 Cr 5:1-2). Então, a porção dobrada de
terra foi para José. Isso deve ter sido devido à pureza dele (Gn 39:7-
20). Ele era o filho mais apegado ao pai e o que era mais de acordo com
o coração do pai (Gn 37:2-3, 12-17). Cada um dos dois filhos de José,
Manassés e Efraim, receberam uma porção da terra (J s 16 e 17). Assim
por intermédio dos dois filhos ele herdou duas porções da boa terra.
A porção da primogenitura do sacerdócio foi para Levi (Dt 33 :8-
17
10). Levi era verdadeiramente segundo o coração de Deus. Para cumprir o
desejo de Deus, ele esqueceu seus pais, seus irmãos e seus filhos, e
unicamente se importou com o desejo de Deus. Assim, ele recebeu a
porção da primogenitura do sacerdócio.
A realeza, uma outra porção da primogenitura, foi entregue a Judá
(Gn 49:10; 1 Cr 5:2). Se lermos Gênesis, descobriremos a razão para isso.
Quando José estava sofrendo sob a conspiração de seus irmãos, Judá
cuidou dele (Gn 37:26). Ele também cuidou de Benjamim em tempos de
sofrimento (Gn 43:8-9; 44:14-34). Por essa razão, creio, a realeza foi para
Judá.
Hoje somos a “igreja dos primogênitos” (Hb 12:23). Nossa
primogenitura também é composta desses três elementos: a porção
dobrada de Cristo, o sacerdócio, e a realeza. Estamos em Cristo e podemos
desfrutá-Lo em porção dobrada. Somos também sacerdotes e reis de
Deus. Entretanto, muitos cristãos perderam sua primogenitura. Eles
foram salvos e jamais se perderão, mas perderam a porção extra de Cristo.
Se quisermos desfrutar a porção extra de Cristo, devemos conservar nossa
primogenitura.
Todos os cristãos renasceram como sacerdotes (Ap 1:6). Mas hoje
muitos perderam o sacerdócio. Porque perderam a posição de interceder,
para eles é difícil orar. Para conservarmos nosso sacerdócio, devemos ser
como os levitas e esquecer nosso pai, nossos irmãos e nossos filhos, e
cuidar dos interesses de Deus. O desejo de Deus, não nossa família, deve
estar em primeiro lugar. Se o desejo de Deus é prioridade em nosso
coração, então estaremos próximos a Ele e o nosso sacerdócio estará
seguro.
Todos os cristãos também são regenerados como reis (Ap 5:10),
mas muitos perderam sua realeza. Quando o Senhor Jesus voltar, os
santos vencedores estarão com Ele para ser sacerdotes de Deus e co-reis
com Cristo (Ap 20:4-6). Ao mesmo tempo, desfrutarão a herança dessa
terra (Ap 2:26).
Hebreus 12:16-17 nos adverte a não perdermos nosso direito de
primogenitura como Esaú. “Por um repasto” Esaú “vendeu o seu direito
de primogenitura” . Mais tarde, ele se arrependeu de tê- lo vendido por
tão pouco, mas não foi capaz de reavê- lo. Todos precisamos estar alertas.
Temos a posição de possuir a primogenitura e já a temos, mas preservá-la
depende se guardamos ou não a nós mesmos de ser profanos ou de nos
corromper. Temos visto que Esaú perdeu a sua primogenitura porque era
profano e Rúben por causa da sua impureza. Mas José herdou a porção
dobrada da terra por causa da sua pureza; Levi obteve o sacerdócio por
causa da sua absoluta separação para o Senhor, e Judá recebeu a realeza
por causa de seu cuidado pelos irmãos em sofrimento. Precisamos nos
conservar puros para a porção extra do desfrute de Cristo, precisamos
separar-nos absolutamente para o Senhor com um cuidado amoroso pelo
desejo do Senhor acima de todas as coisas; precisamos cuidar
carinhosamente dos nossos irmãos que estão em sofrimento. Se formos
assim, certamente conservaremos nosso direito de primogenitura. A
porção extra do desfrute de Cristo, o sacerdócio e a realeza serão nossos.
18
Mesmo hoje podemos desfrutar uma medida dobrada de Cristo. Podemos
orar, podemos governar e podemos reinar. Então, quando o Senhor
Jesus voltar, estaremos com Ele desfrutando a herança dessa terra.
Seremos sacerdotes contatando Deus continuamente e reis reinando
sobre o povo.
Porque Judá ganhou a porção da primogenitura da realeza, ele gerou
o Cristo, o Rei (Gn 49:10), Cristo, o Vitorioso (Ap5:5; Gn49:8-9). “Pois é
evidente que nosso Senhor procedeu de Judá” (Hb 7:14). Abraão, Isaque,
Jacó e Judá estão todos ligados a Cristo. Se temos a vida dessas quatro
gerações – a fé de Abraão, a herança de Isaque, os tratamentos de Jacó e o
cuidado amoroso de Judá – e tão somos ligados a Cristo em Sua
genealogia.

H. Seus Irmãos
Quando essa genealogia menciona Isaque e Jacó, não diz “e seu
irmão”; apenas quando menciona Judá é que diz “e seus irmãos”. Tanto o
irmão de Isaque, Ismael, e o irmão de Jacó, Esaú, foram rejeitados por
Deus. Mas todos os onze irmãos de Judá foram escolhidos; nenhum deles
foi rejeitado por Deus. Judá e seus onze irmãos tomaram-se os pais das
doze tribos que formaram a nação de Israel como o povo escolhido de
Deus para Cristo. Conseqüentemente todos os irmãos de Judá estavam
relacionados a Cristo. Por essa razão, a genealogia de Cristo também os
inclui.

19
MENSAGEM 3

OS ANTECEDENTES E A POSIÇÃO DO REI (3)


Tudo o que está registrado no Antigo Testamento diz respeito a
Cristo. Todo o Antigo Testamento é um registro de Cristo, quer direta ou
indiretamente. Se quisermos entender a genealogia de Cristo, devemos
voltar ao Antigo Testamento e lê- lo cuidadosamente. Se o fizermos,
compreenderemos que o Antigo Testamento é um registro de Cristo. Isso
prova que toda a Bíblia é uma revelação de Cristo.
Vimos na genealogia de Cristo que Sua linhagem inclui todos, os
tipos de pessoas: humildes, nobres, boas, más, patriarcas, reis, cidadãos
do povo, cativos, restaurados e até mulheres de má reputação. Entretanto,
devemos perceber que há aqui alguns princípios governantes. Na vida de
todas essas pessoas, podemos descobrir certos princípios que governam
nossa ligação com Cristo. A linhagem de Cristo inclui todo tipo de pessoa,
mas não de qualquer maneira. Não importa o que somos ou de onde
viemos, se satisfazemos os princípios, podemos ser incluídos na
genealogia de Cristo. Embora já tenhamos visto isso, não o fizemos
adequadamente, porque há muito mais pessoas a incluir.

I. Tamar
A primeira que consideraremos é Tamar. Tamar concebeu por meio
de um incesto com o sogro dela (Gn 38:6-27). Moralmente falando, isso
foi deplorável, e eticamente falando foi horrível. Ninguém justificaria tal
ato. Embora tenha estudado Gênesis por muitos anos, meu coração ainda
dói sempre que leio o capítulo 38. Até certo ponto, o que Tamarfez não foi
nada bom. Todavia, ela era justa. A falha não foi da parte dela, mas da
parte do seu sogro; Judá foi quem admitiu que ela era mais justa que ele
(Gn 38:26). Você pode dizer que não havia desculpa para o que Tamar fez
e que incesto sempre envolve ambos os lados. Embora Tamar possa ser
considerada responsável até certo ponto, ela era justa, e tinha um coração
pela primogenitura.
Porque temos experiências passadas diferentes e pouco
entendimento do direito de primogenitura e de seu significado para as
pessoas naqueles dias, preciso dizer uma palavra a esse respeito. No
tempo de Tamar, a primogenitura representava muito (Gn 38:6-8). Como
enfatizei na última mensagem, a primogenitura incluía uma porção
dobrada da terra, o sacerdócio e a realeza. A porção dobrada da terra diz
respeito ao desfrute dobrado de Cristo. A terra é Cristo, e a porção
dobrada da terra não é um desfrute comum ou corriqueiro de Cristo, mas
algo especial, algo extraordinário. Tanto o sacerdócio como a realeza estão
também relacionados a Cristo. Para as gerações após Abraão, a
primogenitura era inteiramente uma questão de herdar Cristo. Em
Efésios 2:12 nos é dito que quando incrédulos, estávamos sem Cristo. Mas
por crer no Senhor Jesus, fomos introduzidos na primogenitura. Fomos
colocados em Cristo, Cristo tornou-se a nossa porção, e Ele mesmo será
20
nossa porção dupla. Por meio Dele, Nele e com Ele temos o
sacerdócio e a realeza. O próprio Cristo é a nossa boa terra, nosso
sacerdócio e nossa realeza. Agora podemos entender por que Tamar
estava ansiosa para obter a primogenitura. Ela sabia que se fosse excluída,
estaria terminada quanto à promessa de Deus. E a promessa de Deus era
simplesmente a promessa de ser Ele mesmo a porção de Seu povo
escolhido em Cristo. Tamar não estava disposta a perder essa bênção.
Tamar era a esposa do primeiro filho de Judá. Esse filho devia ter
herdado a primogenitura. Mas o marido de Tamar era perverso aos olhos
do Senhor, e o Senhor o fez morrer (Gn 38:7). O Senhor também levou o
segundo filho de Judá (Gn 38:8-1 O). De acordo com os regulamentos
antigos, Judá devia ter providenciado para que seu próximo filho casasse
com Tamar a fim de que um filho pudesse ser gerado para herdar a
primogenitura. Judá, entretanto, não cumpriu sua responsabilidade. De
certo modo, Judá trapaceou Tamar (Gn 38:11-14). Mas ela não desistiu;
antes, até mesmo usou um meio impróprio para obter a primogenitura.
Se a maneira foi inadequada ou não, o fato é que Tamar fez tudo o que
pôde para obter aquele direito de primogenitura.
Obter a primogenitura é simplesmente ganhar Cristo. Para isso,
devemos estar prontos a tomar um caminho que não parece ser o melhor.
Deixem-me contar-lhes uma história que ilustra isso, mas tentem
entender-me, não me interpretem mal. No passado, alguns jovens na
China foram inspirados pela minha pregação, creram no Senhor Jesus e
desejaram ser batizados. Entretanto, seus pais, que eram budistas,
opuseram-se bastante. Quando tomaram conhecimento de que os filhos
estavam planejando ser batizados, não os permitiram sair de casa. Os
jovens oraram acerca disso. Finalmente, disseram aos pais que tinham
de ir à escola por meio período. Certamente aquilo era mentira, pois eles
não foram à escola; eles foram ao local de reunião da igreja para ser
batizados. Embora dissessem uma mentira, foi uma mentira pura. A
intenção deles ao falar aquela mentira era muito agradável a Deus. Se
quiser ganhar Cristo, você não deve importar-se com a maneira. Não seja
religioso; não guarde regras e regulamentos. Ganhe Cristo! Você precisa
ganhar Cristo. De qualquer maneira, alcance a primogenitura.
Foi de uma maneira imprópria que Tamar adquiriu a
primogenitura. Mas no registro divino na Bíblia, o nome de Tamar não é
um nome ruim. Rute 4:12 indica que esse nome é sagrado. Nesse versículo
os anciãos disseram: “Seja a tua casa como a casa de Perez, que Tamar
teve de Judá”. O nome de Tamar é sagrado porque ela não se importou
com nada pecaminoso; importou-se apenas com a primogenitura. O
significado disso para nós hoje é que se desejamos Cristo e O estamos
buscando, qualquer que seja a maneira pela qual verdadeiramente
possamos ganhá-Lo é a maneira correta.

J. Perez e Zerá
De Tamar chegamos ao filho dela, Perez (v. 3). Tamar concebeu
gêmeos (Gn38:27-30). Na hora do parto, um menino, Zerá, tentou sair
21
primeiro, mas não conseguiu. Ele pôs a mão para fora e a parteira
marcou-o com uma fita escarlate, indicando que seria o primogênito.
Entretanto, Perez o precedeu sendo o primogênito. Assim, o primeiro
tomou-se o último e o último tomou-se o primeiro. A parteira ficou
surpresa. Essa é uma boa ilustração de como ganhar a primogenitura.
Perez herdou a primogenitura. O homem não o escolheu, mas Deus o
enviou. Isso prova que não depende do esforço do homem, depende da
escolha de Deus. A história da mãe nos mostra um lado: que devemos
estar desejosos pela primogenitura, fazendo o máximo para obtê-la; a
história do filho nos revela o outro lado: que embora possamos lutar para
obter o direito de primogenitura, T este é, na verdade, uma questão da
escolha de Deus, não dos nossos esforços (ver Rm 9:11).
Recordo-me de uma história de D. L. Moody. Um dia, um
estudante do seu Instituto Bíblico disse- lhe: “Sr. Moody, lendo o Novo
Testamento aprendi que todos os salvos são escolhidos, predestinados por
Deus antes da fundação do mundo. Agora tenho um problema. Se pregar
o evangelho e convencer as pessoas a crer, posso cometer algum erro e
persuadir alguém a quem Deus não escolheu. Que farei?” Moody
respondeu: “Meu filho, apenas vá em frente e dê o melhor de si. Quando
as pessoas entrarem pela porta, verão escrito do lado de fora: 'Todos que
desejarem podem vir'. Mas uma vez que eles entrarem e olharem para
trás, verão escrito do lado de dentro: 'Escolhidos antes da fundação do
mundo'. A história de Tamar significa: “Todos que desejarem podem vir”.
Tamar desejou e veio. Mas a história de seu filho significa: “Escolhido
antes da fundação do mundo”. Talvez você seja a Tamar de hoje, lutando e
laborando para obter a primogenitura. Mas uma vez que a conquista,
olhará para trás e verá que foi escolhido antes da fundação do mundo. O
direito de primogenitura não depende de nós, depende da escolha de
Deus.
Raabe
Prossigamos com Raabe (v. 5). Raabe era prostituta em Jericó (Js
2:1), um lugar amaldiçoado por Deus pela eternidade. Embora fosse
prostituta em tal lugar, tomou-se uma ancestral de Cristo. Como poderia
uma prostituta tornar-se ancestral de Cristo? Para responder essa
questão, precisamos descobrir os princípios. Toda população de Jericó foi
destruída exceto Raabe, sua farru1ia e possessões. Ela foi salva porque se
voltou a Deus e ao povo de Deus (Js 6:22-23, 25; Hb 11:31). Após voltar-se
a Deus e a Seu povo, casou-se com Salmom, um líder no exército da
principal tribo, a tribo de Judá, e um dos homens enviados por Josué para
espiar Jericó. Naquela época, Salmom tornou-se conhecido de Raabe e, de
certo modo, a salvou. Finalmente, Raabe casou-se com ele, e eles geraram
um homem piedoso chamado Boaz.
Agora devemos voltar toda nossa atenção aos princípios que
governam nossa ligação com Cristo. O primeiro princípio é que, não
importa qual seja o nosso passado, devemos voltar-nos a Deus e ao povo
de Deus. Segundo, devemos casar-nos com pessoas adequadas, não num
sentido físico, mas num sentido espiritual. Após ter-nos voltado a Deus e
22
ao povo de Deus, devemos ser unidos, edificados e envolvidos com a
pessoa adequada. Terceiro, devemos gerar o fruto adequado. Então
estaremos plenamente na posição da primogenitura de Cristo.
Parece que muitos cristãos hoje perderam sua primogenitura. Eles
não têm Salmon e Boaz. Se deseja ter um Salmom e um Boaz, você deve
envolver-se com os crentes adequados, com os líderes adequados nas
tribos principais. Então você precisa gerar o fruto adequado, Boaz, que
será um antepassado de Davi. Devemos voltar-nos ao Senhor, e devemos
voltar-nos ao povo do Senhor, devemos também tomar cuidado de como
nos envolver com outros. Se nos envolvermos com as pessoas adequadas,
certamente geraremos o fruto adequado. Isso nos manterá no pleno
desfrute do direito de primogenitura de Cristo.

K. Boaz
Para conhecermos a história de Boaz, devemos ler o livro de Rute.
É uma boa história. Boaz é um tipo de Cristo, e Rute é um tipo da
igreja. O livro de Rute nos conta que Boaz redimiu Rute; ele também
redimiu o direito de primogenitura para ela. Isso I. '\
,/
T significa que Cristo, como nosso Boaz verdadeiro, redimiu tanto a
nós como também ao direito de primogenitura.
Boaz redimiu a herança de seu parente e casou com a viúva (Rt 4:1-
17); assim, ele tornou-se um notável antecessor de Cristo. Como um irmão
e um Boaz, você deve cuidar da primogenitura de Cristo para os outros, e
não apenas da sua própria primogenitura. Em outras palavras, você não
deve apenas cuidar do seu próprio desfrute de Cristo, mas também dó
desfrute de Cristo de outros.
Rute era nora de Noemi. Quando lemos essa história, vemos que
Rute e Noemi tinham perdido o desfrute, a primogenitura, mas de acordo
com o regulamento de Deus havia uma maneira de reaver a
primogenitura, de redimi-la. Contudo essa redenção tinha de ser feita
por outra pessoa. O princípio é o mesmo na vida da igreja hoje. Se eu
perder a primogenitura, os irmãos têm um modo de redimi-la para mim.
Muito freqüentemente, alguns queridos irmãos perdem seu desfrute de
Cristo. De certo modo, tornam-se Noemi ou Rute. Sendo assim, você
precisa ser um Boaz, capaz de redimir a primogenitura perdida e casar
com a redimida.
Suponha que eu seja uma verdadeira Rute que perdeu o marido.
Perder o marido significa perder o desfrute da primogenitura. Tenho a
primogenitura, mas perdi o seu desfrute. Assim, preciso de você, como
meu irmão, para redimir meu direito de primogenitura. Mas você precisa
ser um tanto rico em Cristo. Precisa ter algumas riquezas com o que
redimir minha primogenitura. Então você paga o preço para recobrar
minha primogenitura, e também casa-se comigo. Isso significa que você
se envolveu comigo. Esse tipo de envolvimento espiritual produzirá
Obede, o avô de Davi. Boaz tornou-se um dos grandes antepassados de
23
Cristo. Num sentido espiritual, ele foi aquele que desfrutou a maior e a
mais rica porção de Cristo. Se um irmão torna-se um Boaz para mim, ele
será alguém com o mais excelente desfrute de Cristo. Porque redimiu
minha primogenitura e tornou-se tão envolvido comigo, nosso
envolvimento no Senhor finalmente produzirá um pleno desfrute de
Cristo.
Na vida da igreja hoje precisamos ter vários “Boazes”. O livro de
Rute nos diz que havia um outro parente que era mais próximo de Rute
que Boaz. Mas aquele homem foi egoísta; ele apenas cuidou de sua
própria primogenitura. Ele temia que cuidar da primogenitura de outro
pudesse danificar a sua própria. Essa é exatamente a situação de hoje.
Alguns irmãos deveriam cuidar de mim, a pobre Rute, mas são egoístas
no desfrute espiritual de Cristo. Até mesmo nessa questão é possível ser
egoísta. Entretanto, um Boaz será generoso e pagará o preço para
redimir minha primogenitura. Tudo isso mostra que deveríamos cuidar I
não apenas da nossa própria primogenitura, mas também da
primogenitura de outros. Dia a dia devemos cuidar do desfrute de Cristo
de outros. Quanto mais o fizermos, melhor.

L. Rute
Chegamos agora a Rute (1:5). Podemos dizer que Rute certamente
era uma boa mulher, mas ela teve uma grande falta. Embora ela mesma
não estivesse envolvida em incesto, sua origem foi uma questão de
incesto. Rute pertencia à tribo de Moabe (Rt 1:4). Moabe era filho de Ló,
fruto da união incestuosa de Ló com sua filha (Gn 19:30-38). De acordo
com Deuteronômio 23:3, os moabitas eram proibidos de entrar na
congregação do Senhor, até a décima geração. Assim, Rute era uma
excluída. Entretanto, não apenas ela foi aceita pelo Senhor, mas tornou-se
uma pessoa maravilhosa que participou do desfrute de Cristo.
Embora, como moabita, Rute fosse proibida de entrar na
congregação do Senhor, ela buscava Deus e o povo de Deus (Rt 1:15-17;
2:11-12). Isso revela um princípio muito prevalecente: não importa quem
somos nós ou qual é o nosso passado, contanto que tenhamos um coração
de buscar Deus e o povo de Deus, estamos na posição de ser aceitos no
direito de primogenitura de Cristo. Rute casou-se com Boaz, um homem
piedoso entre o povo de Deus, e gerou Obede, o avô do rei Davi.
A mãe de Boaz era Raabe, uma cananéia, e sua esposa era Rute,
uma moabita. Ambas eram gentias. Entretanto, elas estavam ligadas a
Cristo. Essa é uma forte prova que Cristo está ligado não apenas aos
judeus, mas também aos gentios, mesmo aos gentios de classe baixa e
insignificante.
Você pode ser de origem pobre por nascimento e ter um passado
lamentável, mas não fique aborrecido ou frustrado por isso. Esqueça!
Nada pode ser pior do que uma pessoa nascida de Moabe. Mas desde que
tenha um coração de busca a Deus e ao povo de Deus e uma vez que se
torne comprometido com a pessoa adequada, tal como Boaz, você entrará
na porção dobrada do desfrute de Cristo.
24
M. Jessé
Prossigamos com Jessé (vs. 5-6). Embora a Bíblia não tenha muito
a dizer de Jessé, o que ela diz sobre ele é importante. Isaías capítulo 11 fala
duas vezes a respeito de Jessé. Isaías 11:1 diz que Cristo será o rebento que
sai do tronco de Jessé e um renovo que sai da raiz de Jessé. Cristo saiu
dele. Isaías 11:10 diz que Cristo é a raiz de Jessé, indicando que Jessé saiu
de Cristo. Jessé é um homem que saiu inteiramente de Cristo; ele é
também urna pessoa que gerou Cristo. Cristo saiu dele, e ele saiu de
Cristo. Cristo era seu renovo. Cristo era também sua raiz. Precisamos da
luz do Senhor para entender essas coisas. Que é um Jessé? Um Jessé é
uma pessoa que gera Cristo, que ramifica Cristo por estar enraizado Nele.
Quando você ramifica Cristo, não se esqueça que Ele é não apenas seu
ramo, mas também sua raiz. Cristo ramifica de você e você provém de
Cristo.
Cristo é nossa origem e Cristo é também nosso produto. Isso
significa que somos um com Cristo e muito intimamente ligados a Ele.
Estamos Nele e Ele está em nós. Ele brota de nós e somos enraizados Nele.
Esse é o tipo de pessoa que desfruta a primogenitura de Cristo.
Todos devemos ser um Boaz, uma Rute, um Jessé e uma Tamar.
Precisamos ser como tais pessoas. Finalmente diremos: “Louvado seja o
Senhor por todos! A condição de todos é a mesma que a minha. A
condição de Tamar é também a minha condição. As condições boas e as
más são todas iguais às minhas. Sou Tamar, sou Perez, sou Raabe, sou
Boaz, sou Rute e sou essé. Aleluia!” Após Jessé, finalmente somos Davi.

N. Davi
Davi era o oitavo filho de seu pai, o mais novo. Isso é significativo.
Na Bíblia o número oito indica ressurreição, um novo começo. O oitavo
dia é o primeiro dia da segunda semana; portanto, significa algo novo,
algo da ressurreição. Quando Samuel veio ungir o rei do povo de Deus,
Jessé apresentou seus sete filhos a ele. Samuel olhou-os e disse: “O
Senhor não escolheu a estes”. Quando Samuel soube que havia um oitavo,
Davi, chamou-o e ungiu-o (1Sm 16:10-13). Isso significa que nós, os
escolhidos e salvos, não somos pessoas da primeira semana, somos do
primeiro dia da segunda semana. Somos o oitavo filho.
Davi foi o último das gerações dos patriarcas, que foram catorze
gerações . Davi foi a conclusão da seção dos patriarcas na genealogia de
Cristo. Davi foi também o primeiro das gerações dos reis. Nessa
genealogia, apenas de Davi se diz “o rei”, porque foi por intermédio dele
que foi introduzido o reino com a realeza. Ele foi a conclusão de uma
seção e o início da seção seguinte. Ele foi o marco de duas eras. Ele foi o
término de uma e o início da outra, porque ele estava no verdadeiro
desfrute de Cristo. Se quisermos ter o rico desfrute de Cristo,
freqüentemente precisaremos ser o fim de uma situação e o início de
outra. Entretanto, muitos queridos santos não são capazes de ser nem o
término nem o princípio. Por fim, eles nada são. Na vida da igreja,
25
precisamos de alguns “Davis”, alguns que são mais fortes para concluir
certas situações e iniciar outras. Precisamos de alguns que encerrem a
geração dos patriarcas e iniciem a geração dos reis. Devemos ser fortes;
devemos ser o oitavo filho, devemos ser Davi.
Davi era um homem segundo o coração de Deus (1Sm 13:14). O
próprio Deus disse a Saul que Ele o substituiria, porque encontrara um
homem segundo o Seu coração. Em toda sua vida, Davi não fez nada
de errado, exceto uma grande coisa: ele assassinou um homem e tomou
sua esposa. Em um único ato Davi cometeu dois grandes pecados,
assassinato e adultério. O próprio Deus condenou isso. A Bíblia diz que
Davi fez o que era reto aos olhos do Senhor todos os dias da sua vida,
exceto por essa única coisa (1 Rs 15:5).

O. A Esposa de Urias (Bate-Seba)


Davi assassinou Urias e tomou sua esposa, Bate- Seba. Ela era a
esposa de um heteu (2Sm 11:3). Ela casou novamente em conseqüência de
um adultério (2Sm 11:26-27).

P. Salomão
Depois que Davi cometeu assassinato e adultério ele foi repreendido
pelo profeta Natã, a quem Deus enviou propositadamente para condená-
lo (2Sm 12:1-12). Após ter sido condenado, Davi se arrependeu. O Salmo
51 é o salmo de arrependimento de Davi. Davi se arrependeu e Deus o
perdoou (2Sm 12:13). Houve arrependimento e houve perdão. Ao todo
temos aqui três itens: transgressão, arrependimento e perdão. Se
colocarmos todos os três juntos, o resultado é Salomão. Primeiro houve
transgressão e arrependimento mais perdão. Em seguida, houve Salomão
(2Sm 12:24), aquele que edificou o templo de Deus. Salomão é o resultado
não apenas de transgressão e arrependimento, mas de transgressão,
arrependimento e do perdão de Deus. Aqui vemos dois casamentos. O
primeiro foi um casamento entre Davi e Bate-Seba. O segundo foi um
casamento espiritual, o casamento da transgressão e arrependimento de
Davi com o perdão de Deus. O perdão de Deus casou-se com a
transgressão e arrependimento de Davi. Esse casamento gerou um
homem chamado Salomão que edificou o templo de Deus. A igreja é
sempre edificada por esse tipo de pessoa, Salomão, o resultado da
transgressão e arrependimento do homem mais o perdão de Deus.
Depois que Davi recebeu o perdão de Deus, e o desfrute da sua
salvação foi restaurado, ele orou por Sião, pela edificação dos muros de
Jerusalém, pelo fortalecimento do seu reino (Sl51:18). Finalmente, como
conseqüência do perdão de seu pecado por Deus, este lhe deu um filho
para edificar o templo de Deus para a Sua presença como o centro da
cidade de Jerusalém.
Espero que o Senhor lhe mostre o que palavras humanas não
podem dizer. Se você tem sido e ainda é uma pessoa tipicamente boa
26
que nunca matou outros, que nunca transgrediu e que nunca precisou se
arrepender, então Deus não precisa perdoar-lhe. Se esse é o caso, então
nunca haverá um Salomão, e o templo de Deus nunca será edificado.
Como vimos, a edificação do templo de Deus vem da transgressão do
homem e do arrependimento mais o perdão de Deus.
Um dia eu disse ao Senhor: “Senhor, minha transgressão e
arrependimento precisam do Teu perdão. Mas, Senhor, Tu sabes
melhor que eu que Teu perdão também precisa da minha transgressão.
Minha transgressão precisa do Teu perdão, e Teu perdão precisa da
minha transgressão. Se não tenho transgressão, então Tu não tens lugar
para usar o Teu perdão”. Quando falei isso ao Senhor, parece que Ele
disse: “Sim, por causa da sua transgressão e arrependimento, Eu tenho
uma oportunidade de usar o Meu perdão. Estou feliz por isso”. Mas você
nunca deve dizer: “Façamos o mal para que venha o bem”. Você deve
esforçar-se ao máximo. Mas não importa quão diligentemente você possa
tentar fazer tudo correto aos olhos do Senhor, cedo ou tarde algo
acontecerá. Repentinamente você irá assassinar, tomará posse de outros,
transgredirá. Entretanto, após transgredir, haverá um caminho para se
arrepender. Se você se arrepender, Deus estará pronto para perdoá-lo.
Então você gerará um filho e o chamará Salomão. O nome Salomão
significa “pacífico” (2Sm 12:24; 1 Cr22:9), mas Salomão também tem
outro nome: “Jedidias” (2 Sm 12:25), que significa “amado do Senhor”.
Para você, Salomão significa “pacífico”, mas para o Senhor ele significa
“amado do Senhor”. Esse filho será aquele que edificará a casa de Deus, a
igreja de hoje.
Você precisa ser justo todo o tempo aos olhos de Deus. Mas esteja
certo de que o simples fato de você ser justo não é bom para a edificação
da igreja. Entretanto, não deve dizer: “Cometerei erros!” Digo- lhe,
mesmo se tentar estar errado, você descobrirá que não é capaz de cometer
erros. Não sei que tipo de soberania é essa. Mas um dia você fará algo
terrível. Todos os irmãos balançarão a cabeça, incapazes de crer que você
poderia ter feito tal coisa. Contudo, você a fez! Então você precisa ler o
Salmo 51, fazer dele seu salmo, e ir ao Senhor, dizendo: “Senhor, eu me
arrependo. Contra Ti, contra Ti somente fiz esse mal. Perdoa-me”. Após
esse arrependimento, você terá um outro casamento, o casamento da sua
transgressão e arrependimento com o perdão de Deus. Isso gerará um
Salomão, alguém que é pacífico para você e amado do Senhor. Essa pessoa
edificará a igreja, o templo de Deus. Naquele tempo você será muito útil
na edificação da igreja.
Você pode dizer: “E quanto a hoje? Que faremos esperar que aquele
tipo de pessoa venha?” Não, não espere. Sua espera de nada aproveitará.
Devemos unicamente andar na presença do Senhor e deixar o Senhor
agir. Como diz Charles Wesley em um de seus hinos: “Tudo é
misericórdia!” Sim, é absolutamente uma questão da misericórdia de
Deus. Esqueça sobre seu passado, sua situação ou o que pode acontecer
no futuro. Você simplesmente precisa confiar na soberana misericórdia do
Senhor. Se você tem um coração para Ele e para Seu povo, Ele realizará
todas as coisas. Ele lhe dará o pleno desfrute da primogenitura de Cristo.
27
Esses versículos da genealogia de Cristo são muito difíceis. Não são
leite ou carne, são ossos. Se usarmos uma ou duas horas orando sobre
esses versículos e acerca dos pontos incluídos nesta mensagem, veremos
algo mais. Veremos que precisamos ser uma pessoa com um verdadeiro
coração de busca, um coração que busca Deus e o povo de Deus. Então
seremos o Boaz, a Rute, o Obede, o Jessé, e o Davi de hoje, e finalmente o
Salomão de hoje, edificando a casa de Deus.

MENSAGEM 4

OS ANTECEDENTES E A POSIÇÃO DO REI (4)


Chegamos agora à última parte da genealogia de Cristo de acordo
com Mateus. Na mensagem anterior disse que essa parte da Palavra não é
leite ou alimento sólido, mas ossos. Todos os pontos nesta mensagem nos
ajudarão a penetrar o osso e ver o . que está dentro dele.

Q. Davi, o Rei, Gera Salomão


Mateus 1:6 diz que o rei Davi, gerou a Salomão. Compare essa
afirmação ao registro que diz: “Natã, filho de Davi” (Lc 3:31). Natã também
era filho de Davi. A genealogia em Mateus diz que o filho de Davi era
Salomão e a genealogia em Lucas diz que o filho de Davi era Natã. Se
lermos 1 Crônicas 3:1 e 5, veremos que se trata de duas pessoas. Lucas
registra a genealogia do filho de Davi, Natã, que foi um antepassado de
Maria, enquanto Mateus registra a genealogia do filho de Davi, Salomão,
que foi um antepassado de José. Uma genealogia é a linhagem de Maria,
a linhagem da esposa; a outra genealogia é a linhagem de José, a
linhagem do marido. Ambos, Maria e José, eram descendentes de Davi,
mas eram de duas famílias descendentes do mesmo avô. Uma família é a
28
de Salomão; a outra é a de Natã. Pela soberania de Deus, Maria e José,
descendentes dessas duas famílias, ficaram noivos e geraram Cristo. Cristo
pode ser considerado como descendente de Davi tanto por meio de
Salomão como por Natã. Essa é a razão de Ele ter duas genealogias.

O parentesco de Salomão com Cristo não era direto.


Rigorosamente falando, Salomão não era um antepassado direto de
Cristo. Seu parentesco com Cristo era indireto, por meio do casamento de
José (seu descendente) com Maria, de quem Cristo nasceu (Mt 1:16).
O Antigo Testamento não diz que Cristo seria descendente de
Salomão, mas profetizou repetidamente que Cristo seria o descendente
de Davi (2 Sm 7:13-14, 16; Jr23:5). Embora Cristo não fosse um
descendente direto de Salomão, as profecias do Antigo Testamento com
respeito a Cristo foram cumpridas.

R. Roboão
Prossigamos com Roboão, o filho de Salomão (v. 7). Com Roboão, o
reino de Davi foi dividido (1 Rs 11:9-12; 12:1-17). Das doze tribos, uma foi
preservada por causa de Davi (1 Rs 11:13), isto é, por Cristo. Cristo
precisava do reino que pertencia à casa de Davi porque tinha de nascer
corno o herdeiro do trono de Davi. Se todo o reino ti vesse sido eliminado,
nada teria permanecido para permitir Cristo nascer como herdeiro real de
Davi. Assim, Deus preservou uma das tribos para Davi. Aparentemente
ela foi preservada para Davi; na verdade foi preservada para Cristo.
Após essa di visão, o reino de Davi tinha duas partes: a parte norte,
chamada o reino de Israel, e a parte sul, chamada o reino de Judá. A parte
norte foi denominada o reino de Israel, um nome universal, porque era
composto de dez tribos de Israel; a parte sul era chamada o reino de
Judá, um nome local, porque era composto das duas tribos: de Judá e
de Benjamim. Quanto a nós, qual título tem o melhor significado-o reino
de Israel ou o reino de Judá? Certamente eu preferiria o reino de Israel,
porque é algo universal, algo para a maioria. Nunca escolheria Judá,
porque Judá é tão local, tão limitado. Entretanto, embora o reino de Israel
fosse mais universal que o de Judá, na genealogia de Cristo não está
incluído nenhum nome dos reis de Israel. Eles eram uni versais, mas
foram excluídos da genealogia de Cristo. Foram excluídos porque não
estavam ligados com Cristo.
Essa figura, como todos os outros itens no Antigo Testamento, foi
escrita para nosso aprendizado, e é um tipo dos acontecimentos na era do
Novo Testamento. Vemos a mesma coisa hoje. No princípio, no início, a
igreja era uma. Mas após certo tempo, a igreja foi dividida, não em duas
partes, mas tal vez em mais do que duas mil partes. Alguns podem dizer
“os do reino de Israel não eram ainda o povo de Deus?” Certamente eram.
Eram o povo de Deus, mas estavam fora da linhagem de Cristo. Que isso
significa? Estar fora da linhagem de Cristo significa que, embora vocês
sejam o povo de Deus, vocês não são por Cristo. Vocês são por algo além
29
de Cristo. Considerem a situação hoje. Todos somos verdadeiros cristãos e
todos somos povo de Deus. Mas somos exclusivamente, inteiramente,
completamente e essencialmente para Cristo ou somos por algo além? Se
você é por algo mais além de Cristo, então está fora da linhagem de
Cristo. Por essa causa, nenhum dos reis do reino do norte, o reino maior e
mais universal, está incluído na genealogia de Cristo.

S. Jorão Gerou a Uzias


O versículo 8 diz que Jorão gerou a U zias. Compare esse registro
com 1 Crônicas 3:11 e 12, que diz, “de quem foi filho Jorão, de quem foi
filho Acazias, de quem foi filho Joás; de quem foi filho Amazias, de quem
foi filho Azarias” (que é Ozias ou Uzias (2Rs 15:1, 13). Mateus omitiu três
gerações que são encontradas em 1 Crônicas Acazias, Joás e Amazias.
Isso deve ter sido devido ao casamento maligno de Jorão com
a filha de Acabe e Jezabel, que corrompeu seus
descendentes (2Cr 21:5-6; 22:1-4). Acabe era o rei do reino do norte e sua
esposa Jezabel era uma mulher iníqua que estava totalmente ligada aos
ídolos. Porque era uma com o diabo, ela corrompeu
o marido. Eles geraram uma filha, e Jorão, um dos reis de Judá, casou-se
com ela. Essa mulher ensinou Jorão a adorar ídolos, a ser um com os
ídolos. Assim a família dele se corrompeu. De acordo com Êxodo 20:5,
as três gerações dos descendentes de Jorão foram cortadas da genealogia
de Cristo. Êxodo 20:5 diz que qualquer um que abandone a Deus e adore
ídolos corrompe a si mesmo e sofrerá a
maldição de Deus por três ou quatro gerações. Assim, três
gerações do rei Jorão foram cortadas da genealogia de
Cristo. Aqui devemos aprender uma lição. Para sermos unidos a Cristo,
nunca podemos estar envolvidos com algo relacionado a ídolos. Deus é
um Deus ciumento e nunca tolerará idolatria.

T. Josias Gerou a Jeconias


O versículo 11 diz: “Josias gerou a Jeconias”. Compare esse registro
com “os filhos de Josias (...) o segundo, Jeoaquim (...) Os filhos de
Jeoaquim: Jeconias” (1 Cr3:15-16). Uma geração Jeoaquim-foi omitida da
genealogia de Cristo. Isso deve ter sido porque ele foi constituído rei por
Faraó do Egito e coletava impostos para Faraó (2 Rs 23:34-35). Porque
estava tão intimamente relacionado ao Egito, ele foi excluído da
genealogia de Cristo. O Egito representa o mundo. Desses dois registros
vemos que qualquer pessoa que esteja relacionada c. om os ídolos ou
associada com o mundo será excluída da genealogia de Cristo.

V. Os Cativos para Babilônia


Os que foram levados para Babilônia como cativos (vs. 11-12)
30
estavam indiretamente relacionados a Cristo por meio do casamento do
descendente deles, José com Maria. Mesmo esses cativos estão incluídos
nesse registro sagrado da genealogia de Cristo porque eles tinham um
parentesco indireto por intermédio de Maria, a mãe de Jesus.

W. Jeconias
Jeconias não foi considerado como um rei nessa genealogia porque
ele nasceu durante o cativeiro efoi levado como um cativo (2 Cr 36:9-10,
Joaquim é Jeconias). Segundo a profecia de Jeremias 22:28-30, nenhum
descendente de Jeconias herdaria o trono de Davi. Todos os seus
descendentes foram excluídos do seu trono. Se Cristo tivesse sido um
descendente direto de Jeconias, Ele não estaria habilitado para o trono de
Davi. Embora Jeremias 22:28-30 diga que todos os descendentes de
Jeconias estão excluídos do trono de Davi, o capítulo seguinte, versículo
5, diz que Deus levantará a Davi um renovo, um rei que reinará e
prosperará. Esse Renovo é Cristo. Essa profecia confirma que Cris to será
o descendente de Davi, contudo não um descendente direto de Jeconias, e
herdará o trono de Davi.

X. Jeconias Gerou a Salatiel e Salatiel Gerou a Zorobabel


O versículo 12 diz: “Jeconias gerou a Salatiel, e Salatiel a
Zorobabel”. Compare esse registro com o de
1 Crônicas 3:17-19: “Os filhos de Jeconias (... ) Sealtiel (...) e Pedaías (...)
os filhos de Pedaías: Zorobabel” mostrando que Zorobabel era o filho de
Pedaías, irmão de Salatiel. Zorobabel não era filho de Salatiel, mas seu
sobrinho, que se tornou herdeiro dele. Tal vez esse fosse um caso de
acordo com Deuteronômio 25:5 e 6, que diz que se um homem morre sem
filho como herdeiro, seu irmão deve casar-se com sua esposa a fim de
gerar um filho para ser seu herdeiro. Sem esse caso, não podemos
entender porque há tal regulamento em Deuteronômio 25. Certamente
aquela palavra em Deuteronômio está relacionada à genealogia de Cristo.

Y. Zorobabel
Esdras 5:1 e 2 diz que Zorobabel era um dos líderes que retomaram
do cativeiro na Babilônia para Jerusalém. Isso significa que ele era um
líder na restauração do Senhor. Essa é uma grande coisa. Ele era também
um líder na reedificação do templo de Deus (Zc4:7-1O).
Sem esse retomo do cativeiro, teria sido impossível para Cristo
nascer em Belém. O Antigo Testamento definitivamente prediz que Cristo,
como o descendente de Davi, nasceria em Belém (Mt2:4-6; Mq 5:2).
Suponha que ninguém do povo de Israel tivesse retomado a Judá, e
chegasse a época para Cristo nascer em Belém. Ninguém estaria lá. Agora
podemos entender porque Deus ordenou que os cativos retomassem. A
ordem de Deus para que os cativos retomassem não era apenas para a
reedificação do templo, mas também a preparação para Cristo nascer
31
em Belém.
Exatamente o mesmo ocorre hoje. Alguns podem perguntar: “Qual
a diferença entre permanecer em Babilônia e retomar a Jerusalém? Desde
que adoremos a Deus e andemos no espírito, não é a mesma coisa?” Para
você pode estar tudo bem, mas não para Cristo. Cristo precisa de algumas
pessoas para trazê-Lo a Belém. Você pode adorar Deus e andar no espírito
em Babilônia, mas esteja certo de que Cristo nunca poderia nascer na
humanidade por seu intermédio. Isso requer um lugar específico. Você
deve retomar de Babilônia para Judá. Quando o tempo chegou para o
Senhor Jesus nascer, alguns israelitas, descendentes dos cativos que
retomaram, estavam esperando em Judá. Naquela época, José e Maria
não estavam em Babilônia; estavam em Judá. Para Cristo vir à terra,
algumas das pessoas capturadas por Ele tinham de retomar. Para Sua
segunda vinda, Cristo também precisa que algumas das pessoas
capturadas por Ele retomem do cativeiro para a vida adequada da igreja.

Z. Jacó Gerou a José


A genealogia aqui diz: “E Jacó gerou a José” (v. 16); mas Lucas
3:23 diz: “José, filho de Heli”. José era filho de quem? O registro de
Lucas diz: “Era, como se cuidava”. U ma tradução literal seria “segundo a
lei”. Isso indica que José não era na verdade o filho de Heli, mas foi
considerado como seu filho segundo alei. José era genro de Heli, pai de
Maria. Esse pode ter sido um caso de acordo com Números 27:1-8 e 36:1-
12, no qual um regulamento foi dado por Deus que se alguns pais tivessem
somente filhas como herdeiras, a herança deles deveria ir para as filhas;
as filhas então deveriam se casar com um homem da sua própria tribo a
fim de manter a herança dentro daquela tribo. Se não tivéssemos Mateus
capítulo 1 poderíamos estranhar por que existe tal registro. Agora vemos
que isso não é simplesmente o registro de um regulamento qualquer; é
um assunto relacionado a Cristo, porque a filha virgem que gerou Cristo
era um caso semelhante. Cremos que os pais de Maria não tinham filhos e
que ela herdou a herança dos pais dela e casou-se com José, um homem
da mesma tribo, a tribo de Judá. Certamente o regulamento em Números
27 e 36 está relacionado à genealogia de Cristo. Toda a Bíblia direta ou
indiretamente é um registro de Cristo.

AA. José, o Marido de Maria, da qual Nasceu Jesus


A essa altura, o registro dessa genealogia não diz “José gerou a
Jesus”, como mencionado em todos os casos anteriores; mas diz: “José,
marido de Maria, da qual nasceu Jesus” (v. 16). Jesus nasceu de
Maria, não de José, uma vez que foi profetizado que Cristo seria a
semente de uma mulher e nasceria de uma virgem (Gn 3:15; Is 7:14).
Cristo não poderia ter nascido de José, porque José era um homem e um
descendente de Jeconias, cujos descendentes não poderiam herdar o
trono de Davi (Jr 22:28-30). Se Cristo tivesse nascido de José, Ele teria
sido excluído do trono de Davi. Entretanto, Maria era uma virgem (Lc
1:27) e uma descendente de Davi (Lc 1:31-32), a pessoa certa de quem
32
Cristo deveria nascer. O casamento de José com Maria conduziu-o a um
parentesco com Cristo e reuniu em uma as duas linhagens da genealogia
de Cristo para gerar Cristo.
Agora precisamos examinar o gráfico (pág. 58) que mostra que a
genealogia de Cristo começa com Deus e prossegue até chegara Jesus. O
primeiro nome é Deus e o último nome é Jesus. Prossegue de Deus a
Adão, de Adão a Abraão, de Abraão a Isaque e Jacó até Davi. Após Davi, é
dividido em duas linhas: a primeira segue de Natã até Maria e a segunda
de Salomão até José. Finalmente, sob a soberania de Deus, essas duas
linhas são unidas pelo casamento de Maria com José para gerar Cristo. Se
gastarmos tempo considerando esse gráfico, perceberemos quão
maravilhosa é a soberania de Deus.
Todos os casamentos estão sob a soberania de Deus, especialmente
aqueles relacionados a Cristo. De Deus a Davi a genealogia era uma linha,
e de Davi a Jesus eram duas linhas; entretanto essas duas linhas foram
unidas por intermédio do casamento de José e Maria. O Jesus que foi
gerado por Maria cumpre as profecias: a profecia com respeito à semente
da mulher (Gn 3:15); a profecia de uma virgem que gera um filho (Is
7:14); a profecia de Abraão que tem um descendente que abençoaria
todas as nações (Gn 22:18); a profecia para Isaque e Jacó, que era a
mesma profecia feita a Abraão (Gn 26:4; 28:14); a profecia feita a Judá de
que Judá seria a tribo real (Gn 49:10); e a profecia feita a Davi (2 Sm 7:12-
13). Embora o nascimento de Jesus tenha cumprido muitas profecias do
Antigo Testamento, Ele não era o descendente de Jeconias.
Aparentemente, os descendentes de Jeconias ainda estavam na linhagem
real. Mas de acordo com a soberania de Deus, Maria, a mãe de Jesus,
casou-se com José, um descendente de Jeconias, que parecia estar na
linha da família real. Aparentemente, Jesus era o descendente de
Jeconias; na verdade, Ele não era. Ele era o descendente de Davi. Apenas
Deus pode planejar coisa semelhante. Louvado seja Ele!
Se considerar sua história, a história da sua salvação, você verá que
o princípio é o mesmo. Não pense que o casamento de José e Maria foi
um acidente. Não foi acidente; antes foi planejado pela mão soberana de
Deus. Semelhantemente, sua ligação com Cristo-sua salvação-não foi um
acidente; também foi planejada pela mão divina. Algumas vezes agradeço
ao Senhor e digo a Ele: “Estou tão feliz que Tu não me puseste na terra no
ano 20 a. C. , mas no século vinte. Tu me puseste nessa terra num lugar
onde os missionários vieram com a Bíblia. Um dia nasci de uma mãe
cristã. Mais tarde, foi-me dada a oportunidade de ouvir o evangelho e fui
salvo. Aleluia!” Isso não foi acidente. Nem a sua ligação com Cristo foi
um acidente. Deus cuidadosamente planejou tudo. Deus preparou tudo
isso para pessoas insignificantes como nós. Essa não é uma questão sem
importância. Quando entrarmos na eternidade, ficaremos emocionados.
Gritaremos: “Louvado seja o Senhor!”

BB. Maria
Chegamos agora a Maria, a virgem (1:16). Por ser uma virgem, ela
33
era diferente das outras quatro mulheres mencionadas nessa genealogia.
Maria era pura e singular. Ela concebeu do Espírito Santo, não do
homem, para gerar Cristo (Lc 1:34-35; Mt 1:18b, 20b). Esse relato das
quatro mulheres recasadas e uma virgem prova que todas as pessoas
mencionadas nessa genealogia nasceram do pecado, exceto Cristo, que
nasceu em santidade.

CC. Aquele que É Chamado o Cristo


Mateus usa a frase: “Que se chama o Cristo” (v. 16). Na genealogia
de Lucas, o título Cristo não é mencionado. Lucas menciona o nome Jesus
porque Lucas prova que o Senhor veio para ser um homem, não para ser o
Ungido, o Rei, o Messias. Mateus, ao contrário, prova que Jesus é o Rei, o
Messias profetizado no Antigo Testamento. Por essa razão, ele adicionou a
palavra “que se chama o Cristo”.

DD. Abraão, Davi e Maria


Abraão, Davi e Maria são três nomes amáveis na Bíblia, nomes doces
aos ouvidos de Deus (vs. 2, 6, 16). Abraão representa urna vida pela fé,
Davi representa urna vida sob o tratamento da cruz, e Maria representa
urna vida de absoluta rendição ao Senhor. Por intermédio desses três tipos
de vida Cristo foi gerado na humanidade.
O princípio é o mesmo hoje. Considere a questão de pregação do
evangelho. O propósito de pregar o evangelho é trazer Cristo para a
humanidade. Isso requer muita fé, uma vida sob o tratar da cruz e uma
vida de absoluta entrega ao Senhor. Se temos esses tipos de vida,
certamente traremos Cristo para a humanidade.

EE. Até Davi e desde Davi


Davi é o último das gerações dos patriarcas e o início das gerações
dos reis (v. 17). Ele foi uma pessoa usada por Deus como um marco tanto
para concluir a seção dos patriarcas como para iniciar a seção dos reis.

FF. Até ao Desterro e desde o Desterro


Na época da degradação, não havia uma pessoa como um marco
para dividir as gerações como fizeram Abraão e Davi. Então, o próprio
desterro tornou-se um marco, um marco de vergonha. Naquele tempo, o
marco não era uma pessoa, era o desterro para Babilônia. A Bíblia é
cautelosa ao mostrar-nos que ninguém prevaleceu como um marco para
aquela geração. Isso foi urna vergonha.

GG. Três Grupos de Catorze Gerações


o versículo 17 menciona três grupos de catorze gerações. O número
catorze é composto de dez mais quatro. Quatro significa as criaturas. Em
Apocalipse 4:6 ternos os quatro seres vi ventes; e em Apocalipse 7:1 temos
“os quatro cantos da terra” e “os quatro ventos”. O número dez significa
34
plenitude. Freqüentemente falamos de um dízimo, que significa a décima
parte do todo (ver Gn 14:20). Portanto, em Mateus 25:1 ternos as dez
virgens. Olhe para suas mãos e para seus pés: temos dez dedos nos pés e
dez nas mãos. Assim, o número dez denota plenitude e o número catorze
representa todas as criaturas.
Três vezes catorze gerações indica que o Deus Triúno mescla-se
completamente com as criaturas. Isso é muito significativo. As Pessoas
do Deus Triúno são o Pai, o Filho, e o Espírito. Essa genealogia possui três
seções: a seção dos patriarcas, a seção dos reis, e a seção dos cidadãos
comuns, incluindo os exilados e restaurados. Deus o Pai se enquadra na
seção dos patriarcas, Deus o Filho se enquadra na seção dos reis, e Deus o
Espírito na seção dos cidadãos comuns. Isso é maravilhoso! Portanto, três
vezes catorze gerações representa o mesclar do Deus Triúno com Suas
criaturas. Esse registro da genealogia de Cristo indica o amalgamar do
Deus Triúno com essas criaturas humanas.
O Deus Triúno viajou através de Abraão e Isaque, Jacó e Judá, Boaz
e Obede, Jessé e Davi, e então por muitas outras gerações, até Maria e
José. Finalmente, Jesus veio. Quem é Jesus? Jesus é o Deus Triúno
movendo-se por todas as gerações e surgindo corno o mesclar da
divindade com a humanidade. Três vezes catorze é quarenta e dois.
Quarenta é o número de provações, tentações e sofrimentos (Hb 3:9;
Mt 4:2; 1Rs 19:8). Cristo é a quadragésima segunda geração. Quarenta e
dois representa descanso e satisfação após as provações. Números 33:5-
48 mostra-nos que os filhos de Israel passaram por quarenta e duas
paradas antes de entrar em Canaã, Segundo o
registro do Antigo Testamento, os israelitas sofreram por todo o
caminho nesses quarenta e dois lugares. Eles foram julgados, tentados
e provados. Eles não tinham descanso. Entretanto, após passarem por
esses quarenta e dois lugares, eles entraram no descanso. Isso não apenas
ocorreu no passado, mas acontecerá novamente no futuro. Em Apocalipse
13, vemos que haverá quarenta e dois meses, três anos e meio. Esses
quarenta e dois meses será a parte conclusiva dos sete anos finais, a
última semana mencionada em Daniel 9:24-27. Há setenta semanas: as
primeiras sete semanas, depois sessenta e duas semanas e por fim a
última semana, cada semana representando sete anos. A segunda metade
desses últimos sete anos, um período de quarenta e dois meses, será a
grande tribulação, e erá terrível. Haverá muitos julgamentos, provas,
tentações e sofrimentos. Mas quando esses quaren ta e dois meses forem
completados, o reino virá e haverá descanso. De Abraão até Maria foi
uma época de sofrimentos, provas e tentações. Após todas as gerações de
julgamentos, tentações e sofrimentos, Cristo veio como a quadragésima
segunda geração para ser nosso descanso e satisfação. Com Ele temos
completo descanso e satisfação total.
Se lermos a história em Crônicas, descobriremos que de Abraão a
Cristo foram, na verdade, quarenta e cinco gerações. Por que então
Mateus tem apenas quarenta e duas? Deduzindo das quarenta e cinco
gerações as três gerações amaldiçoadas e a geração inadequada, e

35
representando Davi como duas gerações (uma dos patriarcas e uma dos
rei s), as gerações perfazem quarenta e duas, que são divididas em três
períodos de catorze gerações cada um.
Lembre-se: esse não é apenas um estudo-vida. mas também um
estudo da Bíblia. Portanto, precisamos de algum conhecimento.
Precisamos ver que o registro de Mateus não é um registro segundo a
história, mas segundo a doutrina. O registro de João, ao contrário, é de
acordo com a história, porque João escreveu seu Evangelho conforme os
eventos históricos. De acordo com a história, foram quarenta e cinco
gerações, mas de acordo com o objetivo doutrinário de Mateus, foram
quarenta e duas gerações. Mateus deve ter tido uma finalidade
doutrinária ao dizer que de Abraão a Davi foram catorze gerações, de Davi
ao desterro foram outras catorze gerações e do desterro a Cristo foram
ainda catorze gerações. Não foi incorreto Mateus dizer isso. Três gerações
foram omitidas porque não estavam qualificadas, e uma quarta geração
foi desqualificada e excluída. Mas houve uma pessoa maravilhosa, Davi, o
rei, que estava duplamente qualificado. Ele tornou- se duas gerações,
encerrando uma seção e abrindo outra. Ele introduziu a realeza, pois, por
intermédio dele o reino foi estabelecido. Portanto, por ter sido Davi
contado como duas gerações, essa genealogia de Cristo pode consistir de
quarenta e duas gerações em três seções, cada qual com catorze gerações.

HH. “Até Cristo”


Consideremos as palavras “até Cristo” (v. 17). O registro de Lucas
começa com Jesus e retoma a Deus, um total de setenta e sete gerações. O
registro de Mateus prossegue de Abraão a Cristo. Lucas retoma e sobe até
Deus; Mateus vai adiante e desce a Cristo. Todas as gerações foram
direcionadas a Cristo e geraram Cristo. Sem Cristo há somente quarenta e
uma gerações; não há meta, nenhuma realização, nenhuma conclusão.
Quarenta e um não é um bom número; devemos ter o número quarenta e
dois. Cristo é o alvo, a consumação, a conclusão, a completação e a
perfeição de todas as gerações, cumprindo suas profecias, resolvendo
seus problemas e satisfazendo suas necessidades. Cristo veio para cumprir
todas as profecias, as profecias de Abraão, Isaque, Jacó, Judá e Davi. Sem
a vinda de Cristo, todas essas profecias teriam sido em vão. Quando Cristo
vem, luz, vida, salvação, satisfação, cura, liberdade, descanso, conforto,
paz e alegria vêm todos com Ele.
Desse ponto em diante, o Novo Testamento inteiro é uma completa
exposição desse Cristo maravilhoso. Os vinte e sete livros do Novo
Testamento-os Evangelhos, Atos, as Epístolas e Apocalipse-contam-nos
como Cristo cumpre todas as profecias, soluciona todos nossos problemas
e satisfaz todas nossas necessidades e como Ele é tudo para nós. Aleluia,
Cristo veio!

36
MENSAGEM 5

OS ANTECEDENTES E A POSIÇÃO DO REI (5)

II. SEU NASCIMENTO


Nesta mensagem chegamos ao nascimento de Cristo. Porque o
nascimento de Cristo é muito misterioso, é difícil falar sobre ele. Primeiro
precisamos considerar algumas questões relacionadas à preparação para
o nascimento de Cristo.

A. Pela Soberania de Deus


O nascimento de Cristo foi preparado e levado a cabo pela
soberania de Deus (1:18; Lc 1:26-27). Em Sua soberania, Deus uniu José e
Maria em casamento para gerar Cristo para ser o herdeiro legal do
trono de Davi. Casamento é um mistério. Não é fácil unir duas pessoas,
especialmente quando diz respeito ao nascimento de Cristo. Não foi fácil
unir José e Maria. Olhe para a história. De acordo com a genealogia de
Cristo em Mateus, José era um descendente de Zorobabel, um cativo que
retomou. Zorobabel, um líder da tribo de Judá e um descendente da
família real, levou os cativos de Babilônia para Jerusalém (Ed 2:2).
Finalmente, ele também tomou a liderança em reedificar o templo (Ed
3:8; 5:2). José era descendente dele. Se não houvesse nenhum retomo dos
cativos, onde José teria nascido? Ele teria nascido em Babilônia. O
mesmo teria ocorrido com Maria, também descendente dos cativos que
retomaram. Se os antepassados de José e Maria ti vessem
permanecido em Babilônia e se ambos, Maria e José, tivessem nascido lá,
como Jesus poderia soberanamente ter nascido em Belém?
Pela Sua soberania, Deus colocou ambos, José e Maria, na mesma
cidade, Nazaré (Lc 1:26; 2:4). Se tivessem vivido longe um do outro, teria
sido difícil eles se unirem em casamento. José e Maria não apenas eram
descendentes dos cativos que retomaram, como também viviam na
mesma vila. Isso os permitiu encontrar-se para casar.
funda mais, quando examinamos as genealogias em Mateus e
Lucas, descobrimos que José era um descendente da família real, da
linhagem de Salomão (vs. 6-7), e Maria era uma descendente da linhagem
comum, a linhagem de Natã (Lc 3:31). Embora José e Maria tenham se
casado, Jesus nasceu de Maria, não de José. Aparentemente, Ele nasceu
37
de José; na verdade, Ele nasceu de Maria (1:16). Isso foi absolutamente
uma questão da soberania de Deus.
Como vimos na mensagem anterior, a maldição registrada em
Jeremias desqualificou qualquer descendente de Jeconias de herdar o
trono de Davi (Jr 22:28-30). Se, de fato, Jesus tivesse nascido de
José, Ele teria sido desqualificado para o trono de Davi. Porque José ainda
era da linhagem real, ele era um descendente real aos olhos do homem.
Pelo casamento de Maria, mãe de Jesus, com José, Jesus era
aparentemente participante dessa linhagem real. Novamente, vemos a
soberania de Deus. Deus encontrou uma jovem, também descendente de
Davi, para gerar Cristo. Jesus nasceu dela e era, de fato, a semente de
Davi qualificado a herdar o trono de Davi. Por esse arranjo soberano,
Jesus era tanto uma pessoa comum como o herdeiro do trono real.
Por essa razão Ele tem duas genealogias, uma em Lucas, mostrando-nos
Sua posição comum, e outra em Mateus, revelando-nos Sua posição real.
Sua posição comum veio de Maria e Sua posição real veio de José. Assim
Jesus nasceu pela soberania de Deus. “Nenhum de nós nasceu debaixo de
tal soberania de Deus. Apenas Jesus estava qualificado a desfrutar tão
grande arranjo soberano.

B. Pela Submissão de Maria


De acordo com Lucas 1:26-38, o nascimento de Cristo foi
cumprido pela submissão de Maria. Aqui eu diria uma palavra aos
jovens. Não é fácil para uma jovem virgem como Maria aceitar a comissão
para conceber um filho. Se fosse ela, eu diria: “Senhor, se Tu me pedisses
para fazer qualquer outra coisa, eu faria. Mas conceber um filho! Isso não
é humanamente possível, não é moral nem ético. Não posso aceitar!” Para
nós essa passagem é fácil. Entretanto, suponha que uma jovem irmã entre
nós receba tal comissão essa noite. Ela poderia aceitar? Essa não é uma
questão insignificante. Maria poderia ter dito: “Gabriel, você não sabe que
já estou desposada com um homem? Como posso conceber um filho?”
Quem entre nós aceitaria tal comissão? Se um anjo lhe falasse tal palavra,
você poderia aceitar?
Após ouvir a palavra do anjo, Maria disse: “Eis aqui a serva do
Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1:38). Pode parecer
simples, mas o preço era extremamente alto. Para gerar Cristo, Maria
pagou um preço muito alto-o sacrifício de todo o seu ser. Não é fácil gerar
Cristo; não é barato. Para gerar Cristo, devemos pagar um alto preço.
Maria pagou.
José reagiu imediatamente, planejando deixá-la secretamente (v.
19). Assim, Maria estava em apuros. Asseguro-lhe, sempre que aceitar a
comissão de gerar Cristo, você se encontrará em apuros. Todos os anjos o
compreenderão, mas nenhum ser humano o entenderá. Não espere que
alguém seja como o anjo Gabriel. Todos irão compreendê-lo mal. De fato,
até a pessoa mais próxima de você poderá interpretá-lo mal. Contudo, em
grande parte, o nascimento de Cristo foi realizado por meio da submissão
de Maria.
38
C. Do Poder do Espírito Santo
Todavia, a concepção de Jesus não estava diretamente relacionada
à submissão de Maria. Estava diretamente relacionada ao Espírito Santo
(vs. 18, 20; Lc 1:35). Sem o Espírito Santo, a submissão de Maria nada
significaria. Não importa quanto possamos nos submeter, sem o poder do
Espírito Santo nossa submissão nada significa. Não considere sua
submissão algo tão elevado. Nossa submissão pouco significa; ela
simplesmente proporciona a oportunidade ao poder do Espírito Santo
para vir e realizar algo dentro de nós.

D. Com a Obediência e Coordenação de José


Embora houvesse a soberania de Deus, a submissão de Maria e o
poder do Espírito Santo, ainda era necessário a obediência e coordenação
de José (vs. 19-21, 24-25). Que teria acontecido se José tivesse insistido
no divórcio? Ele estava planejando isso. Entretanto, ele foi a pessoa
escolhida por Deus para o nascimento de Cristo. Assim, ele não foi tão
impetuoso e apressado; antes, foi ponderado e cuidadoso. Porque
naquela época José era um jovem, tomo essa oportunidade para dizer
uma palavra aos jovens: Não tome decisões muito rápidas nem aja tão
depressa. Seja um pouco demorado e dê ao Senhor uma oportunidade de
vir. Ao menos, entregue a questão ao Senhor por mais uma noite. Durante
essa noite, o anjo pode vir e falar com você. Isso aconteceu com José.
Enquanto pensava nessas coisas, o anjo do Senhor apareceu-lhe em sonho
(v. 20). José obedeceu à palavra do anjo.
Suponha que estivesse comprometido com uma jovem e descobrisse
que ela estava grávida. Você ainda a receberia? Aceitar uma mulher assim,
sem dúvida, seria uma vergonha. Portanto, não apenas Maria pagou um
preço, mas José também. Gerar Cristo custou-lhe muito, causou-lhe
vergonha.
Os pontos que tratamos até agora nesta mensagem são
simplesmente algumas questões pequenas. Chegamos agora aos pontos
principais.

E. Cumprindo as Profecias
O nascimento de Cristo foi um importante cumprimento das
profecias no Antigo Testamento. A primeira profecia do Antigo
Testamento está em Gênesis 3:15. Não há profecias nos capítulos 1 e 2 de
Gênesis, mas no capítulo 3, após a queda do homem, após a serpente
introduzir-se no homem por intermédio da mulher, Deus deu-lhe uma
promessa. Ao dar essa promessa, Deus parecia dizer: “Serpente, você
entrou por intermédio da mulher. Agora eu tratarei com você pelo
descendente dessa mulher”. Assim, a promessa a respeito do descendente
da mulher foi a primeira profecia na Bíblia.
Em 1:22 e 23 essa promessa é cumprida por uma virgem que
39
concebeu uma criança. Essa criança veio a ser a semente da mulher.
Em Gálatas 4:4 Paulo diz que Cristo nasceu sob a lei e também nasceu
da mulher. Cristo veio não apenas para cumprir a lei, mas também
para cumprir a promessa que a semente da mulher esmagaria a
cabeça da serpente.
De Gênesis prosseguimos a Isaías 7:14 onde há outra profecia com
respeito a Cristo. “Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho”. O
cumprimento dessa promessa trouxe Deus para dentro do homem.
Aleluia! Deus tornou-se homem!

F. Deus Tornou-se Carne


Entretanto, é difícil encontrar um versículo que diz que Deus
tomou-se homem. O que a Bíblia diz é isso: “O Verbo (a Palavra) era Deus
(...) e O Verbo tornou-se carne” (101:1, 14). A palavra homem é boa, mas
carne não. Se eu lhe disser que você é um homem, você ficará feliz. Mas se
disser que é carne, você não ficará satisfeito, porque a palavra carne não é
um termo positivo. Em 1 Timóteo 3:16 Paulo diz: “Grande é o mistério (...)
Aquele que foi manifestado na carne”. Embora carne não seja uma boa
palavra, a Bíblia diz que Deus foi manifestado na carne.
Não é fácil entender o que a Bíblia quer dizer por carne. Na Bíblia, a
carne tem pelo menos três significados. Primeiro, num bom sentido,
significa a carne do nosso corpo (Jo 6:55). Nosso corpo tem carne e osso,
sangue e pele. Isso é físico. Segundo, a carne significa nosso corpo caído.
Deus não criou a carne caída; Ele criou um corpo. Quando o homem caiu,
o veneno de Satanás foi injetado no corpo dele e o corpo foi corrompido e
tomou-se carne. Por isso, Romanos 7:18 diz: “Porque eu sei que em mim,
isto é, na minha carne, não habita bem nenhum”. Isso indica que o
corpo caído, o corpo do pecado (Rm 6:6), é chamado carne. Todas as
concupiscências humanas vêm dessa carne. Por essa razão, o Novo
Testamento tem a expressão “os desejos da nossa carne” (Ef 2:3- VRC).
Terceiro, a carne, especialmente no Novo Testamento, denota o homem
caído. Romanos 3:20 diz: “Por isso nenhuma carne será justificada diante
dele por obras da lei.” Nesse versículo carne é o homem caído.
Todavia, João 1:14diz: “O Verbo[que era Deus] tornou-se carne”.
Como vimos, carne significa o homem caído. Como, então,
interpretaremos João 1:14? O Verbo era Deus, e o Verbo tornou-se carne.
Grande é o mistério de Deus ter-se manifestado na carne. A Bíblia diz que
Deus se tomou carne e que carne não é o homem criado, mas o homem
caído. Podemos dizer que Deus se torno um homem caído? Certamente
essa é uma questão difícil.
Entretanto, há dois versículos que podem ajudar-
nos. O primeiro é Romanos 8:3, que diz que Deus enviou “o seu
próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa”. Esse versículo não
diz “a carne pecaminosa”, diz “emsemelhança de carne
pecaminosa”. O outro versículo é João 3:14: “E do modo por que Moisés
40
levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja
levantado”. A serpente levantada em uma estaca no deserto não era de
fato uma serpente com veneno; era uma serpente de
bronze feita em semelhança da serpente verdadeira (Nm21:9). João
3:14 é a palavra do Senhor Jesus a Nicodemos. O Senhor
disse-lhe que como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importava que Ele mesmo fosse levantado na cruz.
Quando Jesus estava na cruz, aos olhos de Deus, Ele tinha a forma,
a semelhança, de uma serpente. Mas, assim como foi o caso com a
serpente de bronze no deserto, não havia veneno Nele, porque Ele não
nasceu de um homem caído. Ele nasceu de uma virgem.
Agora devemos diferir claramente dois pontos. Cristo foi concebido
do Espírito Santo e Ele nasceu de uma virgem. Sua fonte era o Espírito
Santo e Seu elemento era divino. Por meio da virgem Maria como
instrumento, Ele vestiu carne e sangue, a natureza humana, assumindo a
“semelhança da carne”, a “semelhança de homens” (Fp 2:7). Entretanto,
Ele não tinha a natureza pecaminosa da carne caída. Ele não conheceu
pecado (2 Co 5:21) e Ele não tinha pecado (Hb 4:15). Ele tinha carne, mas
era a “semelhança da carne do pecado”. Exteriormente Ele foi feito
segundo a forma de um homem caído, mas, na verdade, não havia
natureza caída dentro Dele. Seu nascimento foi exatamente o mesmo em
princípio. Aparentemente Ele era o filho de José, na verdade, Ele era o
filho de Maria.
Por que o Senhor Jesus quando estava na cruz foi visto por Deus na
forma de uma serpente? Porque desde o dia que o homem caiu (Gn 3:1), a
serpente tem estado no homem, e ela fez de cada homem uma serpente.
De acordo com Mateus 3:7 e 23:33, tanto João Batista como o Senhor
Jesus chamavam as pessoas de “raça de víboras”, isto é, serpentes,
indicando que todas as pessoas caídas são descendentes da serpente.
Somos todos pequenas serpentes. Não pense que você é tão bom. Antes de
ser salvo, você era uma serpente. Essa é a razão pela qual o Senhor
Jesus morreu na cruz para sofrer o julgamento de Deus. Quando
Jesus estava na cruz, Ele não era apenas um homem, mas estava também
na forma de uma serpente. Aos olhos de Deus, por causa de nós, pessoas
serpentinas, Ele tomou a forma de uma serpente e morreu na cruz. Tal vez
você nunca tenha ouvido que Jesus tomou a forma de uma serpente, a
semelhança da carne do pecado. Você ouviu que Jesus é Deus e que Ele
tomou a forma de um homem, mas não que Ele também tomou a forma
de uma serpente. Quão maravilhoso Ele é!
Somos carne caída e Jesus entrou nessa carne para introduzir Deus
na humanidade. Nele, a Pessoa divina de Deus foi mesclada com a
humanidade. O nascimento de Cristo não foi simplesmente para produzir
um Salvador, mas também para introduzir Deus no homem. Embora a
humanidade estivesse caída, Deus não tomou qualquer parte dessa
natureza caída. Deus tomou apenas a semelhança da carne pecaminosa, e
por meio disso Ele mesclou-Se com a humanidade. Não deveríamos
pensar de Jesus da maneira como muitos outros pensam. Devemos

41
perceber que Jesus é nada menos que o próprio Deus mesclado com a
humanidade caída, tomando a forma da humanidade, mas sem a natureza
pecaminosa do homem. Esse foi o nascimento de Cristo.

G. Jeová Sendo Jesus


A Pessoa maravilhosa que nasceu dessa maneira maravilhosa é
Jeová. E Ele não é apenas Jeová-Ele é Jeová com algo mais. O nome Jesus
significa “Jeová, o Salvador” ou “a salvação de Jeová” (Mt 1:21). Essa
Pessoa maravilhosa é a própria salvação que Jeová apresenta às pessoas.
Ele mesmo é a salvação. Porque o próprio Jeová tornou-se a salvação,
Ele é o Salvador.
Não pense que quando chamamos Jesus estamos apenas chamando
o nome de um homem. Jesus não é simplesmente um homem; Ele é
Jeová nossa salvação, Jeová nosso Salvador. Isso é simples, contudo
profundo. Quando invoca Jesus, todo universo percebe que você está
invocando Jeová como seu Salvador, Jeová como sua salvação.
Os judeus crêem em Jeová, mas não em Jesus. De certo modo, eles
têm Jeová, mas não têm a salvação ou o Salvador. Temos mais do que os
judeus têm, porque temos Jeová o Salvador, Jeová nossa salvação. É por
isso que temos tal sentimento maravilhoso quando invocamos Jesus.
Mesmo que dissesse que odeia Jesus, ainda haveria um sentimento dentro
de você. Se você dissesse: “Eu odeio Abraham Lincoln”, não haveria
qualquer sentimento. Se diz: “Eu odeio Jesus”, algum sentimento há.
Abraham Lincoln nada tem a ver com você, mas Jesus tem. Muitos
disseram: “Eu odeio Jesus” e mais tarde foram capturados por Ele. Todo
aquele que invocar o nome de Jesus será salvo. Se você tocar o nome de
Jesus, você será tocado por Ele. Quando pregamos o evangelho, é bom
ajudar as pessoas a invocar Jesus. Se eles invocarem Jesus, algo
acontecerá.
Jesus é um nome maravilhoso porque Jesus é Jeová. Em Gênesis 1
não encontramos o nome Jeová. Encontramos apenas o nome Deus: “No
princípio criou Deus”. Eloim-Deus-é o termo para o Deus da criação. O
nome Jeová, que não é usado até Gênesis 2, é usado especialmente quando
Deus se relaciona com o homem. O nome Jesus é algo adicionado a Jeová,
isto é, Jeová nossa salvação, Jeová nosso Salvador.
Jesus é o verdadeiro Josué (Nm 13:16; Hb 4:8). Josué é o
equivalente hebraico de Jesus e Jesus é a tradução grega para Josué.
Moisés fez sair o povo de Deus do Egito, mas Josué os introduziu no
descanso. Como nosso verdadeiro Josué, Jesus nos introduz no descanso.
Mateus 11:28 e 29 nos diz que Jesus é o descanso e que Ele nos trouxe para
Si mesmo como o descanso. Hebreus 4:8, 9 e 11 também falam de Jesus
como nosso Josué verdadeiro. O Josué no texto do Antigo Testamento
torna-se Jesus no texto grego de Hebreus. O Jesus mencionado em
Hebreus 4 é nosso Josué.
É difícil separar Jesus de Josué, porque Jesus é Josué, e Josué é
Jesus. Hoje, Jesus é nosso Josué verdadeiro que nos conduz ao descanso,
o descanso da boa terra. Ele não é apenas nosso Salvador salvando-nos do
42
pecado, mas também nosso Josué conduzindo-nos ao descanso, a boa
terra. Sempre que invocamos Seu nome, Ele nos salva do pecado e nos
conduz ao descanso, ao desfrute Dele mesmo. Há um hino que fala acerca
de clamar o nome de Jesus mil vezes num dia. Quanto mais você diz:
“Jesus”, melhor. Devemos aprender a falar o nome de Jesus todo o tempo.
Jesus é nossa salvação. Jesus é também nosso descanso. Todo que
invocar o nome do Senhor Jesus será salvo e entrará no descanso.

H. Deus Sendo Emanuel


Em 1:23 temos um outro nome maravilhoso- Emanuel. Jesus foi o
nome dado por Deus e Emanuel era o nome chamado pelo homem.
Emanuel significa “Deus conosco”. Jesus o Salvador é Deus conosco. Sem
Ele não podemos encontrar Deus, porque Deus é Ele, e Ele é Deus.
Sem Ele não podemos encontrar Deus, porque Ele é o próprio Deus
encarnado para habitar entre nós (Jo 1:14).
Jesus não é somente Deus; Ele é Deus conosco. O “c0nosco”
refere-se às pessoas salvas. Somos o “conosco”. Dia após dia temos
Emanuel. Em Mateus 18:20 Jesus disse que sempre que dois ou três
estiverem reunidos em Seu nome, Ele estará com eles. Isso é Emanuel.
Sempre que nós, cristãos, nos reunimos, Ele está em nosso meio. Em
Mateus 28:20, o último versículo desse Evangelho, Jesus disse a Seus
discípulos: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do
século”. Jesus como Emanuel está aqui hoje. De acordo com Mateus,
Jesus veio, mas Ele nunca se foi. Ele foi sepultado no túmulo por três dias,
mas veio em ressurreição e nunca partiu. Ele está conosco como Emanuel.
Quando invocamos Jesus, temos o sentimento de que Deus está
conosco. Invocamos Jesus, mas temos Deus. Às vezes, nós cristãos somos
muito tolos. Invocamos Jesus e achamos Deus, contudo nos perguntamos
se Jesus é ou não Deus. Jesus é Deus! Ele não é apenas Deus-Ele é Deus
conosco. Quando invocamos Jesus, temos Jeová, temos o Salvador, temos
a salvação e temos Deus conosco. Temos Deus no próprio lugar onde
estamos.

I. Jeová Deus Nasceu em Carne para Ser Rei


Esse Jesus, que é Jeová Deus, nasceu em carne para ser Rei a fim de
herdar o trono de Davi (1:20; Lc 1:27, 32-33). Mateus é um livro do reino
com Cristo como o Rei, o Messias. Quando você invoca Jesus, você tem
Jeová, o Salvador, a salvação, Deus, e finalmente, o Rei. O Rei governa.
Quando invocamos Jesus, imediatamente temos Aquele que governa
sobre nós. Se você tem alguma figura ou foto imprópria em sua parede e
invocar Jesus, Ele será seu Rei e dirá: “Livre-se disso!”
Jesus, o Rei, quer estabelecer Seu reino em você e erigir o trono de
Davi em seu coração. Quanto mais invoca Jesus, mais o poder governante
estará lá. Se você não acredita em mim, convido-o a tentar. Invoque o
nome de Jesus por dez minutos e veja o que acontece. O Rei governará

43
sobre você e o incomodará. N a primeira noite Ele pode dizer que sua
atitude para com os outros nunca foi muito boa, especialmente para com
seu marido ou sua esposa e que você deve ser governado. Invoque Seu
nome e você será governado por Ele.
Jesus é uma Pessoa maravilhosa. Ele é Jeová, Deus, o Salvador, e o
Rei. O Rei nasceu e está aqui hoje. Cada dia, manhã e noite, apreciamos
Cristo como nosso Salvador, como nosso Rei e como o Rei dos reis.
Quando ninguém pode governar sobre você, esse Rei dos reis será
capaz de governar. Quando ninguém mais pode controlar você-nem seus
pais, seu marido, sua esposa ou seus filhos-o Rei dos reis fará algo.
Simplesmente invoque o nome de Jesus. Se o fizer, desfrutará Jeová, o
Salvador, a salvação, a presença de Deus, e também a realeza de Jesus.
Jesus o Rei nascerá em você, e Ele estabelecerá Seu reino em você. Esse é
o próprio Jesus Cristo encontrado em Mateus.
O Cristo em Mateus é o Salvador-Rei e o Rei- Salvador que
estabelece o reino dos céus em nós e sobre nós. Mateus 1 não apenas nos
dá a origem desse Rei, ele também nos dá a presença desse Rei. O nome
desse Rei é Jesus. Sempre que invocamos Seu nome, temos o
sentimento de que Ele está nos salvando, governando-nos. Ele está
estabelecendo o reino dos céus em nós. Aleluia, esse é o nosso Cristo!

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MENSAGEM 6

OS ANTECEDENTES E A POSIÇÃO DO REI (6)


Mateus 1 é um capítulo de nomes. Gastamos considerável tempo
com os nomes de Abraão, Isaque, Jacó e até mesmo com os nomes de
Tamar e Raabe. Os últimos dois nomes, Jesus e Emanuel, entretanto, são
mais que maravilhosos. Embora a última parte de Mateus 1 pareça
ocupar-se com o nascimento de Cristo, trata, na verdade, dos nomes de
Jesus e Emanuel. Nesta mensagem tenho encargo de dar a vocês urna
sugestão de corno habitar nesses nomes.

J. Jesus, o Nome Dado por Deus


Jesus foi o nome dado por Deus, enquanto Emanuel foi o nome
dado pelo homem. O anjo Gabriel disse a Maria que a criança que ela
conceberia seria chamada Jesus (Lc 1:31). Mais tarde, o anjo do Senhor
apareceu a José e também lhe disse para chamar a criança de Jesus (Mt
1:21, 25). Portanto, Jesus foi um nome dado por Deus.

1. Três Elementos no Nome de Jesus


a. Jeová-”Eu Sou o que Sou”
o nome Jesus inclui o nome Jeová. Em hebraico,
o nome Deus significa o Poderoso, Deus, o Todo- Poderoso; e o nome
Jeová significa Eu sou-Eu sou o que sou (Êx 3:14). O verbo “ser” em
hebraico não apenas se refere ao presente, mas também inclui tanto o
passado como o futuro. Assim, o significado correto de Jeová é Eu sou
o que sou, Aquele que é agora no presente, que era no passado e que
será no futuro e na eternidade para sempre. Esse é o nome de Jeová.
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Somente Deus é o Eterno. Da eternidade passada à eternidade futura, Ele
é o Eu sou. Portanto, o Senhor Jesus podia dizer de Si mesmo: “Antes que
Abraão existisse, eu sou” (Jo 8:58). Ele também disse aos judeus: “Porque
se não crerdes que eu sou morrereis nos vossos pecados” e “Quando
levantardes o Filho do homem, então sabereis que eu sou” (Jo 8:24, 28).
Devemos perceber que Jesus é o grande Eu sou e devemos crer Nele
como o grande Eu sou.
Uma vez que o nome do Senhor é o Eu sou, podemos dizer:
“Senhor, Tu me disseste que Teu nome é Eu sou. Então, que és Tu?” A
resposta Dele será: “Eu sou tudo o que você necessita”. O Senhor é tudo o
que necessitamos. Se precisamos de salvação, Ele mesmo será salvação
para nós. Temos um cheque em branco assinado e podemos preenchê-lo
com tudo o que precisamos. Se precisamos de um real, podemos colocar
um real. Mas se precisamos de um bilhão de reais, podemos colocar um
bilhão de reais. Se sentimos que precisamos de dez bilhões, simplesmente
preenchemos com esse valor. O cheque cobre tudo o que necessitamos. O
que você precisa, Jesus é. Você precisa de luz, vida, poder, sabedoria,
santidade ou justiça? O próprio Jesus é luz, vida, poder, sabedoria,
santidade e justiça.
Tudo o que precisamos é encontrado no nome de Jesus. Quão
elevado e quão rico é esse nome maravilhoso!

b. Salvador
o primeiro elemento incluído no nome de Jesus é Jeová. O segundo
é o Salvador. Jesus é Jeová- Salvador, o que nos salva de todas as coisas
negativas: dos nossos pecados, do inferno, do julgamento de Deus e da
condenação eterna. Ele é o Salvador. Ele nos salva de todas as coisas que
Deus condena e de tudo o que odiamos. Se odiamos nosso temperamento,
Ele nos salvará dele. Ele nos salva do poder maligno de Satanás, de todos
os nossos pecados habituais no vi ver diário e de cada escravidão e vício.
Aleluia! Ele é o Salvador!

c. Salvação
Jesus não é apenas o Salvador, Ele mesmo é também nossa
salvação. Não peça a Ele para dar-lhe salvação. Em vez disso, você deve
dizer: “Senhor Jesus, venha e seja minha salvação”. Jesus nunca lhe dará
salvação. Ele virá a você como salvação. Nós, crentes, não percebemos o
quanto precisamos ser salvos. Cada dia, cada hora e até mesmo cada
momento temos algo do qual precisamos ser salvos.
N as mensagens de Gênesis 1 falamos sobre a necessidade de
crescermos em vida. Mas que significa crescer em vida? Do lado positivo,
crescer em vida é entrar nas riquezas do que Cristo é. Do lado
negativo, é estar liberto de certas coisas ou rejeitar certas coisas. Embora
sejamos pequenos homens, acumulamos muitas coisas negativas o
Provavelmente você não perceba quantas coisas negativas tem

46
acumulado. Aonde quer que vamos, recolhemos coisas. Assimilamos
muitas coisas negativas e adquirimos uma quantidade de hábitos dos
quais precisamos ser salvos. Enquanto está lendo isso, você pode não
sentir que precisa ser salvo de algumas coisas. Suponha, entretanto,
que você fosse subitamente arrebatado aos céus. Se fosse levado aos céus
agora, imediatamente você sentiria que precisa muito de salvação. Crescer
em vida é simplesmente ser salvo de todas as coisas desnecessárias, de
tudo o que não é necessário para o nosso vi ver. Se você tem a luz, a
exposição da luz do quarto dia, dirá: “Senhor, salva-me! “Nessas ocasiões
percebemos que Jesus é verdadeiramente Jeová como nosso Salvador e
nossa salvação.

2. O Nome de Jesus Está acima de Todo Nome


O nome de Jesus está acima de todo nome (Fp 2:9-10). Nenhum
nome é tão elevado e tão exaltado como o nome de Jesus. Se você odeia ou
ama Jesus, se é por Ele ou contra Ele, perceberá que o nome de Jesus é
um nome especial. A história nos mostra que durante os últimos dois mil
anos todos reconheceram que Seu nome é o mais elevado, que é um nome
extraordinário. Meu encargo nesta mensagem é enfatizar que o nome
exaltado de Jesus é para que façamos muitas coisas.

a. Para Crer Nele


Primeiramente, o nome de Jesus é para crermos nele (Jo 1:12).
Todos devemos crer no nome de Jesus. Essa não é uma questão
insignificante. Devemos não apenas dizer que cremos no Senhor Jesus,
mas também declarar que cremos no nome de Jesus. Quando pregamos o
evangelho, devemos ajudar as pessoas não apenas a orar, como também a
fazer uma declaração a todo o universo de que crêem no nome de Jesus.
Sempre que um pecador crê no Senhor Jesus, deve declarar: “Hoje eu
creio no nome de Jesus”. Isso faz uma grande diferença.

b. Para Ser Batizado para Dentro Dele


O nome de Jesus é para sermos batizados para dentro dele (At8:16;
19:5). Entre alguns cristãos há uma controvérsia quanto ao nome no qual
eles batizam as pessoas. Alguns argumentam fortemente que devemos
batizar as pessoas apenas no nome de Jesus. Outros insistem no nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Esses dois grupos argumentam,
discutem e lutam. Na verdade, não é uma questão de no nome, mas de
para dentro do nome. Batizamos as pessoas para dentro do nome de
Jesus. O nome precisa da pessoa, e o nome é a pessoa. Sem a pessoa, o
nome nada significa. Ser batizado no nome de Jesus significa ser
batizado para dentro da Sua Pessoa. Suponha que um certo jovem acabou
de crer no nome de Jesus. Que devemos fazer? Devemos batizá-lo para
dentro do nome de Jesus, isto é, colocá-lo dentro de Jesus. Isso não é um

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ritual nem uma cerimônia para aceitação de um membro religioso. É um
ato de fé em que tomamos alguém que crê no nome de Jesus e o
colocamos para dentro desse nome, batizando para dentro da Pessoa de
Jesus. Romanos 6:3 diz que fomos batizados para dentro de Cristo Jesus e
Gálatas 3:27 diz: “Porque todos quantos fostes batizados para dentro
(lit. ) de Cristo”. Essa é a realidade de ser batizado para dentro do nome
de Jesus.

c. Para Ser Salvo


O nome de Jesus é também para sermos salvos. Atos 4:12 diz:
“Porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os
homens, pelo qual importa que sejamos salvos”. O nome de Jesus foi
dado a nós com o objetivo de sermos salvos. O nome de Jesus é um nome
que salva.

d. Para Ser Curado


Ao coxo que encontrou à porta do templo, Pedro disse: “Não possuo
nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus
Cristo, o Nazareno, anda!” (Atos 3:6). Imediatamente o homem foi
curado. Então Pedro disse ao povo: “Em nome de Jesus Cristo, o
Nazareno (...) em seu nome é que este está curado perante vós” (4:10).
Isso testifica que o nome de Jesus é também um nome que cura. Podemos
invocar o nome de Jesus para a cura de qualquer tipo de enfermidade.

e. Ser Lavado, Santificado e Justificado


O nome de Jesus foi dado a nós para que possamos ser lavados,
santificados e justificados (1 Co 6:11). Como pessoas corrompidas,
fomos lavados, santificados e justificados no nome de Jesus e pelo
Espírito de Deus. Li 1 Coríntios 6:11 por anos sem ver um ponto crucial:
no nome e pelo Espírito. O nome está intimamente relacionado à Pessoa e
ao Espírito. Se o nome de Jesus fosse um nome vazio, como poderia lavar-
nos? Como poderia santificar-nos e justificar-nos? Seria impossível,
Porém, esse nome está ligado ao Espírito. O Espírito é a Pessoa do nome e
a realidade do nome. Portanto, o nome pode lavar- nos, santificar-nos e
justificar-nos. O Espírito é um com o nome. Jesus é o nome do Senhor e
o Espírito é a Pessoa do Senhor. Quando chamamos o nome de uma
pessoa real, aquela pessoa vem. O nome de Jesus está ligado à Pessoa
que nos lava, santifica e justifica. Isso não é meramente doutrina ou
teoria-é realidade. Quando cremos no nome de Jesus e somos colocados
dentro do
Seu nome, somos colocados dentro de uma Pessoa viva, isto é, no
Espírito Santo. Esse Espírito Santo lava-nos, santifica-nos e justifica-nos.

f. Para Invocar
O nome de Jesus é para invocarmos (Rm 10:13; 1 Co 1:2). Eu já era
um cristão por pelo menos trinta e cinco anos antes de descobrir o
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segredo de invocar o nome de Jesus. Pensava que invocar o nome de
Jesus era o mesmo que orar. Finalmente, pelo registro da Bíblia, descobri
que orar é uma coisa e invocar é outra. Cinqüenta anos atrás, eu fazia
muitas orações, a maior parte de joelhos. Não conhecia o segredo de
invocar o nome de Jesus nem sabia que invocar é diferente de orar.
Muitos de nós têm experimentado orar, mas com pouca inspiração.
Entretanto, quando invocamos Jesus por cinco minutos, somos
inspirados. Tente! Muitos de nós podem testificar que quando oram da
maneira antiga, algumas vezes oram para dormir. Mas invocar o Senhor
nunca nos faz dormir. Pelo contrário, desperta-nos.
Atos 9:14 diz que Paulo, quando era Saulo de Tarso, tentou
destruir todos os santos. Ele pretendia ir de Jerusalém para Damasco
prender todos os que invocavam o nome de Jesus. Esse versículo não diz
que ele estava interessado em prender todos os que oravam a Jesus,
mas todos os que invocavam Jesus. Por esse único versículo podemos ver
que os cristãos primitivos eram os que invocavam Jesus. Sempre que
oravam, eles invocavam. Eles invocavam o nome de Jesus e aquilo tomou-
se uma marca de reconhecimento.
A Bíblia não diz que todo aquele que ora será salvo. Diz que todo o
que invoca o nome do Senhor será salvo (Rm 10:13). Suponha que eu seja
um pecador e que creio no Senhor Jesus.
Você ajuda-me a orar e eu digo: “Senhor Jesus, sou um pecador. Tu
és meu Salvador. Tu me amas. Tu morreste na cruz por mim. Agradeço a
Ti”. Embora seja bom orar dessa maneira, orações como essa dificultam a
entrada do Espírito em nós. Entretanto, se você me ajudasse a invocar: “Ó
Senhor Jesus” cada vez mais alto, isto faria uma grande diferença.
Quando prega o evangelho, não tente tanto mudar o pensamento das
pessoas. Antes, ajude-as a abrir seu ser, seu coração e seu espírito, do
mais profundo interior, e a usar a boca para invocar o nome de Jesus. Se
você ajudar os novos crentes a invocar o nome de Jesus dessa maneira, a
porta se abrirá completamente para o Espírito entrar. Não há necessidade
de orar com palavras vãs. Após invocar o nome de Jesus dez vezes, você
estará nos céus. Seus pecados serão perdoados, seu encargo surgirá e você
terá vida eterna. Você terá todas as coisas.
Até mesmo para alguém que é crente há muitos anos, a melhor
maneira de tocar o Senhor Jesus, desfrutá-Lo e compartilhar algo Dele,
não é falar muito, mas ir ao Senhor e clamar: “Jesus! Jesus! Senhor
Jesus!” Invoque o nome de Jesus e você provará algo. “Uma vez que o
mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam” (Rm
10:12). Muitas vezes, nossas palavras são vãs demais. É melhor apenas
invocar “Jesus”. Se invocar Seu nome, você O provará e O desfrutará. O
nome de Jesus é um nome maravilhoso. Todos precisamos invocá-Lo.

g. Para Orar
Podemos também orar no nome de Jesus (Jo 14:13, 14; 15:16;
16:24). Isso não significa fazer uma longa oração e concluir com as
palavras “em nome de Jesus”. Essa maneira é formal demais. Contudo,
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não me oponho, porque tenho feito assim muitas vezes. Preferivelmente,
diria que em nossa oração é bom invocar o nome de Jesus e dizer: Ó
Jesus! Jesus! Venho orar!” No nome de Jesus, você terá um encargo
verdadeiro de orar, e será muito fácil ter a certeza de que sua oração foi
ouvida e respondida. Se invocarmos o nome de Jesus, temos a garantia
de que receberemos o que temos pedido.
Depois que o Senhor Jesus nos falou para orarmos em Seu
nome, prosseguiu dizendo que o Espírito viria habitar em nós (Jo 14:13-
17). Isso indica que o Espírito que habita em nós tem muito a ver com
nossa oração no nome do Senhor Jesus. Para orar no nome de Jesus,
precisamos do Espírito. Quando estamos no Espírito, estamos na
realidade do nome de Jesus no qual estamos orando.

h. Para Reunir-nos no Nome


o nome de Jesus é também para nos reunir nele (Mt 18:20).
Sempre que nos reunimos, devemos fazê-lo no nome de Jesus.
Ainda que nos ajuntemos com a finalidade de ler o Estudo-Vida, não nos
reunimos no Estudo-Vida, mas no nome de Jesus. Quando for a uma
reunião cristã, você deve perceber que está se reunindo uma vez mais no
nome. Fomos inseridos no nome de Jesus, mas não estamos ainda muito
profundamente nele. Por essa razão, precisamos vir muitas vezes para nos
reunir no Seu nome. Todos podemos testificar que após cada reunião
temos tido um profundo sentimento interior de que entramos mais no
Senhor. As reuniões cristãs nos levarão a apreciar mais profundamente o
nome de Jesus.

i. Para Expulsar Demônios


O nome de Jesus é bom também para expulsar demônios (At 16:18).
Para conhecer o poder do nome de Jesus, use-o para expulsar demônios.
Os demônios conhecem o poder do nome Jesus melhor do que nós. Os
demônios são sutis. Das nossas experiências na China, onde havia muitos
casos de possessão demoníaca, aprendemos que quando expulsamos
demônios devemos dizer-lhes que esse Jesus não é o Jesus comum, mas
que Ele é o Jesus designado. Devemos dizer: “Demônio, venho no próprio
nome de Jesus, o Filho de Deus, que se encarnou para ser um homem,
que nasceu de uma virgem em Belém, que cresceu em Nazaré, que morreu
na cruz pelos meus pecados e pelos pecados dessa pessoa que está
possuída; esse Jesus foi ressuscitado dos mortos e ascendeu aos céus.
Venho no nome desse Jesus e ordeno-lhe que saia!” Imediatamente, o
demônio partirá. Entretanto, se você disser: “Expulso-o em nome de
Jesus”, o demônio não te ouvirá. Os demônios conhecem o poder do
nome de Jesus. Ao expulsar um demônio, não é necessário orar muito.
Simplesmente diga: “Venho no nome do Jesus designado e você deve
sair”. Quando Jesus chega, os demônios fogem.

J. Para Pregar
50
O nome de Jesus é para ser pregado (At 9:27). Quando pregamos,
devemos fazê-lo no nome de Jesus. A pregação do nome do Senhor deve
ser feita no Espírito, porque o Espírito é a Pessoa do Senhor e a realidade
do Seu nome. Quando pregamos em Seu nome, precisamos do Espírito
para tomá-lo real.
Por meio de todas as coisas que podem ser feitas no nome de Jesus,
vemos que tudo o que fazemos e tudo o que somos deve estar no nome de
Jesus. Jamais se esqueça do nome de Jesus. Seu nome é doce, rico,
poderoso; Seu nome salva, cura, conforta e é acessível. Esse é o nome que
é exaltado, honrado e respeitado. E é o nome que o inimigo teme.

3. A Aversão de Satanás pelo Nome de Jesus


a. Ele Ataca Esse Nome
Satanás odeia o nome de Jesus. Em 1935 a igreja em minha cidade
natal foi reavivada, todos recebemos o encargo de pregar o evangelho.
Todas as noites saíamos às ruas para pregar. Uma noite, enquanto
pregávamos numa esquina, um homem com cerca de trinta anos foi muito
atrevido em escarnecer do nome de Jesus. Um irmão foi a ele de uma
maneira muito gentil e perguntou-lhe se poderiam conversar um pouco.
Ao concordar, o irmão disse-lhe: “Você já teve um encontro com
Jesus?” Ele respondeu: “Não”. Então o irmão indagou: “Você já ouviu
falar de Jesus?” Novamente, ele disse: “Não”. Após o que, o irmão
perguntou: “Jesus fez algum mal para você?” Ele disse: “Nunca”. Então o
irmão inquiriu: “Você nunca se encontrou com Jesus e Ele nunca fez nada
de mal para você. Por que então O odeia?” Ele replicou: “Embora eu
nunca O tenha encontrado nem tenha sido prejudicado por Ele, ainda
assim eu O odeio”. O irmão perguntou: “Por que você não odeia a mim?”
O homem respondeu: “Eu não odeio você; odeio Jesus”. “Porquê?”,
inquiriu o irmão. “Não sei”, disse o homem. Então o irmão perguntou:
“Sr. , posso narrar-lhe um fato?” O homem consentiu e o irmão disse-lhe:
“Digo-lhe, você não odeia Jesus. É uma outra pessoa que odeia Jesus. Por
quê? Porque você nunca se encontrou com Jesus. Não é você!” Quando o
homem perguntou ao irmão quem era que odiava Jesus, este respondeu-
lhe: “É o diabo que está dentro de você que odeia Jesus”. Por tudo isso
vemos que Satanás utiliza as pessoas para atacar o nome de Jesus (At
26:9).
Como crente, provavelmente você tem a seguinte experiência.
Quando está prestes a falar a alguém sobre Platão ou Abraham Lincoln,
você não se sente envergonhado; mas sempre que fala às pessoas sobre
Jesus, um sentimento estranho toma conta de você. Quando os chineses
falam sobre Confúcio, sentem-se honrados. Devemos também sentir-nos
honrados sempre que falamos de Jesus a alguém, mas muitas vezes não
temos tal sentimento. Em vez disso, temos um sentimento estranho. Isso
é diabólico! Neste uni verso e nesta terra há um elemento diabólico que é
contra Jesus. Enquanto estiver falando sobre a situação mundial,
economia, ciência e tantas coisas, você não terá problema, mas, uma vez
51
que fale sobre o nome de Jesus, sentirá algo estranho. Isso vem do diabo.
Porque Satanás e todos os seus demônios odeiam o nome de Jesus,
devemos proclamá-lo ainda mais. Devemos ser ousados com esse nome e
dizer: “Satanás, Jesus é meu Senhor! Satanás, fique longe!” Precisamos
gritar o nome de Jesus.

b. Impedindo Falar Nesse Nome


Se ler o livro de Atos, verá que nos dias primitivos os religiosos
atacavam o nome de Jesus, proibindo os crentes de pregar ou ensinar
naquele nome (At4:17-18; 5:40). Os fariseus advertiram Pedro e João a
não pregar no nome de Jesus, não fazer ou dizer qualquer coisa em Seu
nome. Era certo pregar a Bíblia, mas não pregar no nome de Jesus.
Satanás odeia o nome de Jesus porque ele sabe que a salvação de Deus
está nesse nome. Quanto mais pregamos no nome de Jesus e quanto mais
oramos a Jesus, mais pessoas serão salvas. É por essa razão que
Satanás odeia esse nome.

c. Sofrer por Esse Nome


Quando os apóstolos estavam sendo perseguidos, eles se
regozijavam porque eram dignos de sofrer pelo nome de Jesus (At5:41).
Isso não é maravilhoso? Eles até mesmo arriscavam a vida por esse nome
(At 15:26). Porque Satanás ataca o nome de Jesus com todo o seu poder
maligno, devemos aprender a sofrer por esse nome.

d. Não Negar Esse Nome


Em Apocalipse 3:8 o Senhor Jesus louvou a igreja em Filadélfia
porque eles não negaram o Seu nome. Jamais devemos negar o nome de
Jesus. Devemos negar todos os outros nomes, mas conservar o nome de
Jesus. Devemos testificar que não pertencemos a qualquer pessoa ou
facção, mas que pertencemos simplesmente a Jesus. O nome de Jesus é o
único nome que possuímos.

K. Emanuel, o Nome Dado pelo Povo

1. Jesus como Emanuel Experimentado por Nós


Agora chegamos ao segundo nome, Emanuel (Mt 1:23). Os anjos
não falaram a José ou Maria desse nome. Antes, Emanuel é o nome dado
pelas pessoas que têm tido certa experiência. Sempre que tem alguma
experiência de Jesus, você será capaz de dizer que Ele é Deus. É Deus com
você. Jesus é Deus conosco, nada menos que isso. Esta é nossa
experiência. Deus nos falou que Seu nome é Jesus. Mas quando O
recebemos e O experimentamos, podemos dizer que Jesus é Deus
conosco. Isso é maravilhoso.
Muitas vezes voltamos à nossa mente e perguntamos: “Esse Jesus é
o próprio Deus?” Podemos estar certos de que Ele é o Filho de Deus,
52
contudo podemos não estar seguros de que Ele, de fato, é o próprio Deus.
Quando jovem, fui ensinado por alguns mestres cristãos fundamentalistas
a ser cuidadoso em dizer diretamente que Jesus era Deus. Fui ensinado
que o Filho de Deus era diferente do próprio Deus. Portanto, fui orientado
a não dizer diretamente que Jesus era Deus. Fui informado que devo
orar por intermédio de Jesus a Deus. Recebi um ensinamento que se
adaptava ao conceito humano. Entretanto, após muito praticar, quanto
mais orava, mais percebia que esse Jesus era simplesmente Deus comigo.
Argumentar com base na teoria, é uma coisa; experimentar o fato é outra.
Com muita freqüência os cristãos não vivem de acordo com suas
experiências, mas de acordo com seus conceitos.
Creio que todos os cristãos têm essa experiência. No íntimo,
segundo a sua experiência, você não tem o sentimento que Jesus é Deus?
Você tem, mas não ousa dizer isso em doutrina. Entretanto, você não deve
considerar Jesus como alguém além de Deus. Jesus é o próprio Deus. Ele
não é apenas o Filho de Deus, mas também o próprio Deus. Alguns bons
escritores têm dito que a fora Jesus não podemos jamais encontrar Deus.
Deus está com Jesus e Deus é Jesus . No princípio era o Verbo [a Palavra],
e o Verbo não apenas estava com Deus, mas o Verbo era Deus (Jo 1:1).
Esse Verbo tornou-se carne e foi chamado Jesus.
Quando experimentamos Jesus, Ele é Emanuel, Deus conosco.
Temos ouvido que Jesus é nosso conforto, descanso, paz e vida. Jesus é
muito para nós. Se O experimentássemos, imediatamente diríamos: “Este
é Deus! Não Deus longe de mim ou Deus nos céus, mas Deus comigo”.
Sempre que experimentamos Jesus de certa maneira, percebemos que
Jesus é Deus conosco. Jesus é nossa salvação. Após experimentarmos essa
salvação, dizemos: “Esse é Deus conosco para ser nossa salvação”. Jesus é
nossa paciência. Mas quando O experimentamos como nossa paciência,
dizemos: ''Essa paciência é Deus comigo”. Jesus é o caminho e a
verdade, mas quando O experimentamos como o caminho e a verdade,
dizemos: “Esse caminho e essa verdade são exatamente Deus comigo.”
Aleluia! Jesus é Deus conosco! Em nossa experiência, Ele é Emanuel.

2. Conosco em Nossas Reuniões


Sempre que estamos reunidos em nome de Jesus, Ele está conosco
(Mt 18:20). Uma vez mais, Ele é Emanuel; Deus conosco. A presença de
Jesus em nossas reuniões é, de fato, Deus conosco.

3. Conosco Todos os Dias


Jesus está conosco todos os dias, até a consumação do século
(28:20). “Todos os dias” inclui hoje. Não se esqueça de hoje. Muitos
cristãos pensam que Jesus está presente todos os dias, exceto hoje. Mas
Jesus está conosco agora, hoje!

4. Conosco em Nosso Espírito


53
Jesus não apenas está entre nós; Ele está em nosso espírito.
ASegundaEpístolaaTimóte04:22diz: “O Senhor seja com o teu
espírito.” Esse Jesus que está com o nosso espírito é Emanuel, Deus
conosco.

5. Sua Presença é o Espírito


Não podemos jamais separar o Espírito da presença de Jesus. O
Espírito é simplesmente a realidade da presença de Jesus (Jo 14:16-20).
Essa presença é Emanuel, Deus conosco.

6. Receber o Espírito por Invocar o Nome de Jesus


Quando invocamos O nome de Jesus, recebemos o Espírito, que é a
Pessoa, a realidade e a percepção de Jesus. A Primeira Epístola aos
Coríntios 12:3 diz: “Ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo
Espírito Santo”. Sempre que dizemos “Senhor Jesus” estamos no Espírito
e recebemos o Espírito. Todos temos sido influenciados pela tradição
pensando que devemos jejuar e orar antes que possamos receber o
Espírito. Entretanto, é simples receber o Espírito- apenas invoque o nome
de Jesus.

7. O Inimigo Tenta Tomar Posse da Terra de Emanuel


De acordo com Isaías 8:7-8, o inimigo pode tentar tomar posse da
terra de Emanuel. Não pense que essa palavra é apenas para os filhos de
Israel. Hoje nosso espírito é a terra de Emanuel. Assim, nós mesmos
somos a terra de Emanuel. O inimigo, Satanás, com todo o seu exército
fará tudo o que puder para tomar essa terra de Emanuel, isto é, tomar
nosso espírito e nosso ser.

8. O Inimigo é Incapaz de Possuir-nos


Isaías 8:10 nos diz que porque Deus está conosco, o inimigo nunca
poderá tomar a terra de Emanuel. Embora Satanás tentasse ao máximo
possuí-lo, você ainda está aqui. Tal vez na semana passada Satanás
tenha tentado vinte e uma vezes possuir você, mas fracassou todas as
vezes. Você ainda está aqui por causa de Emanuel, por causa de Deus
conosco. Esse Emanuel é Jesus. Hoje podemos desfrutar Jesus e
experienciá-Lo de tal maneira verdadeira como nosso Emanuel.
MENSAGEM 7

OS ANTECEDENTES E A POSIÇÃO DO REI (7)


Chegamos agora ao capítulo 2 de Mateus. Nas mensagens
anteriores tratamos da genealogia e do nascimento de Cristo. Nesta
mensagem consideraremos a juventude de Cristo.

54
III. SUA JUVENTUDE

A. O Registro da Juventude de Cristo em Mateus e


Lucas
Se prestarmos atenção aos quatro Evangelhos, veremos que em
João e Marcos não há nenhum registro da juventude de Cristo. João nos
mostra que Cristo é Deus. Para com Deus não há nem juventude nem
velhice. Deus é antigo, contudo imutável. Portanto, para com Deus não há
essa questão de juventude. Em Marcos, Cristo é revelado como um
escravo. Ninguém se importa com a juventude de um escravo. Em
compensação, tanto Lucas como Mateus registram a Sua juventude. De
qualquer modo, corno foi o caso das genealogias, há uma diferença entre
esses dois registros da juventude de Cristo.

1. O Registro de Lucas Comprova a


Humanidade de Cristo
O Evangelho de Lucas comprova que Cristo foi um homem perfeito.
Portanto, o registro de Lucas testifica e demonstra a humanidade de
Jesus (Lc 2:21-52). Os itens da juventude de Cristo registrados por Lucas
mostram que Jesus foi um homem adequado, normal. Jesus foi
circuncidado no oitavo dia conforme alei dos judeus (2:21). Também,
segundo o costume dos judeus, Ele foi chamado Jesus no oitavo dia, não
no primeiro dia. Ele foi oferecido a Deus com o sacrifício de um par de
rolas ou dois pombinhos (2:22-24). O fato de Maria e José poderem
dispor apenas de um pequeno sacrifício mostra que eram pobres. Todavia,
eles cumpriram as exigências da lei. Além disso, Jesus foi levado a
Jerusalém todos os anos na época da festa da Páscoa (2:41). Isso também
estava de acordo com as exigências da lei, que todo varão israelita
comparecesse às festas três vezes ao ano. Lucas especificamente
menciona que Jesus foi levado à festa com doze anos (Lc 2:42). Lucas
também registra que Jesus cresceu fisicamente, que se tornou forte em
Seu espírito e que achou graça diante de Deus e dos homens (Lc 2:40, 52).
Todos esses itens registrados por Lucas demonstram que Jesus era um
homem típico.

2. O Registro de Mateus Comprova a Realeza de Cristo


O registro de Mateus demonstra que o jovem Jesus era o Rei do
povo de Deus (2:1-23). Lucas não incluiu esse ponto, mas Mateus,
ignorando todos os pontos apresentados por Lucas, enfatiza-o. Com isso
vemos que a Bíblia tem urna intenção: em Lucas comprovar que Jesus era
um homem, em Mateus mostrar que Jesus era um descendente da
realeza. Consideraremos agora o registro de Mateus para ver corno Jesus
era tal descendente real.
Não devemos tentar entender a Bíblia apenas pelas letras pretas no
papel branco. Devemos entrar e achar algo de vida nela. Mateus 1 nos
55
mostra que o Antigo Testamento contém profecias com respeito a Cristo
e que o povo de Deus estava esperando pela Sua vinda. Em Mateus 1
Jesus veio. Cristo foi introduzido na humanidade, Ele foi manifestado na
terra. O capítulo 2 continua mostrando o caminho para encontrar Cristo.
Sua vinda foi profetizada, Ele veio, e Ele está aqui. Entretanto, há o
problema de corno encontrá-Lo.

a. Achado em Belém por Homens Pagãos


Mateus 1 revela que Jesus, o Messias, veio. Se tivesse sido um
israelita naquele tempo, você teria dito: “Você me diz que Jesus veio, mas
corno posso encontrá-Lo?” Agradeça ao Senhor que a questão de
encontrar Jesus não foi iniciada por nós, mas foi iniciada por Deus.
Considere a situação da época. No tempo do nascimento de Jesus
havia uma religião chamada judaísmo. Era uma religião fundamentalista,
sólida, escritural que foi formada, organizada e constituída conforme os
trinta e nove livros do Antigo Testamento. Pelo registro de Mateus 2,
vemos que o judaísmo era bastante baseado na Bíblia. Entretanto,
dificilmente alguém naquela religião sabia que Cristo havia vindo. Não
encontramos nenhum registro no Novo Testamento que mostre que
alguma daquelas pessoas religiosas foram encontrar Cristo. Pelo
contrário, há um registro de que alguns homens pagãos, magos, foram
encontrá-Lo (2:1-12). Isso, é claro, foi iniciado por Deus, não por eles.

(1) GUIADOS PELA ESTRELA, A VISÃO CELESTIAL


Deus deu aos magos uma estrela brilhante para guiá-los (2:2). Essa
estrela não apareceu na terra santa. Apareceu a homens distantes-longe
da terra santa; longe da cidade santa; longe do templo santo e da religião
santa; longe da Bíblia santa, do povo santo e dos sacerdotes santos.
Longe de todas essas coisas santas, a estrela que brilhava apareceu a
alguns pagãos em uma terra pagã. O brilhar daquela estrela despertou
esses sábios pagãos quanto ao Rei dos judeus. Não sei como esses sábios
foram despertados em relação ao Rei dos judeus e não quero supor nada.
Já existem muitas fantasias com respeito a esses sábios. De qualquer
forma, eles vieram do Leste, do Oriente, e compreenderam que a estrela
indicava o Rei dos judeus.
Os sábios tinham uma visão viva, a estrela celestial, e os religiosos
judeus tinham a Bíblia. Qual você prefere ter: a Bíblia ou a estrela? O
melhor é ter ambos. Prefiro ter a Bíblia em minha mão e ver a estrela nos
céus. O melhor é ser ambos, tanto um pagão como um judeu. Para a
Bíblia, sou um judeu; para a estrela, sou um sábio pagão.

(2) DISTRAÍDOS POR SEUS CONCEITOS HUMANOS


Após os sábios experienciarem a visão da estrela celestial, tiveram
problemas. Esse problema veio do conceito natural deles. Embora
possamos ter a Bíblia e a estrela, devemos reconhecer que os problemas

56
podem vir do nosso conceito natural. Os sábios tiveram a visão e
compreenderam que ela indicava o Rei dos judeus, eles, então,
presumiram que deveriam ir a Jerusalém, a capital da nação judaica,
onde se deduzia que estava Ele (vs. 1-2). A decisão deles de ir a
Jerusalém não veio da luz da estrela. Eles foram a Jerusalém porque
foram distraídos do caminho correto por seus conceitos naturais.
Jerusalém era o lugar errado; era a capital e a cidade onde o templo estava
localizado, mas não era o lugar onde Jesus ia nascer. Por causa do seu
engano, os sábios causaram um problema sério e quase provocaram a
morte do menino Jesus. Se não fosse pela soberania de Deus, por causa do
erro deles, o menino Jesus teria sido morto. O erro deles custou a vida de
muitas crianças (vs. 16-18). Cuidado: você pode ter a Bíblia e a estrela,
mas não siga seus conceitos naturais.

(3) CORRIGIDOS PELAS ESCRITURAS


Muitas vezes você tem a visão, mas quando considera a questão em
sua mente, é distraído e enganado pelos seus conceitos naturais. Seu
conceito humano o distrai do caminho certo. Sempre que é distraído
assim, você precisa da Bíblia. Após ter chegado ao lugar errado, você
precisa do livro certo. Depois que os magos foram a Jerusalém, o lugar
errado, foram corrigidos pelas Escrituras. Delas eles aprenderam que o
lugar correto era Belém, não Jerusalém (vs. 4-6). Se não tivessem sido
enganados por seus conceitos naturais, a estrela certamente os teria
levado diretamente a Belém, o lugar onde Jesus estava. Mas eles foram
distraídos e extraviados. Assim, eles precisavam ser corrigidos pelo
conhecimento da Bíblia. Quando foram corrigidos pelas Escrituras, os
magos deixaram Jerusalém e recuperaram o caminho certo, então, a
estrela apareceu novamente (v. 9). A visão viva sempre caminha junto
com as Escrituras.
Entretanto, nenhum dos religiosos em Jerusalém foi a Belém com
os magos. Isso é muito estranho. Se fosse um daqueles sacerdotes, você
não teria ido com os sábios para ver se Jesus, de fato, havia nascido em
Belém? Se estivesse lá, eu certamente teria ido averiguar por mim mesmo
se o Cristo havia ou não, de fato, nascido. Mas nenhum deles foi. Eles
tinham conhecimento e podiam falar às pessoas que o Messias nasceria
em Belém; contudo, nenhum deles foi. Embora tivessem interesse pelo
conhecimento da Bíblia, não estavam interessados pela Pessoa viva do
Messias.
E quanto à situação de hoje? Muitos são verdadeiramente
escriturais, mas se importam apenas com as Escrituras, não com o
Cristo vivo. Se os religiosos judeus tivessem se importado com Cristo,
teriam ido a Belém, que não era longe de Jerusalém mesmo pelo método
antigo de viagem. Embora Belém não fosse longe, nenhum dos escribas,
anciãos ou sacerdotes deram-se ao trabalho de ir. Isso prova que você
pode ter o conhecimento da Bíblia sem ter um coração pelo Cristo vivo.
Ter a visão é uma coisa, ter o conhecimento da Bíblia é outra coisa, e ter

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um coração pelo Cristo vivo é ainda outra questão. Todos precisamos orar:
“Senhor, dá- me um coração por Ti. Quero ter a visão e quero conhecer a
Bíblia. Mas ainda mais, quero ter um coração que Te busca”.

(4) GUIADOS NOVAMENTE PELA ESTRELA PARA


ENCONTRAR CRISTO E ADORÁ-LO
Depois que os magos viram a estrela novamente, a estrela guiou-os
ao lugar onde Cristo estava (vs. 9-10). A estrela conduziu-os não apenas
à cidade de Belém, mas ao ponto exato onde Jesus estava.
Muitas vezes os cristãos dizem que para conhecer o Senhor é
suficiente ter apenas a Bíblia. Em certo sentido, concordo com isso.
Entretanto, em outro sentido-digo isso cuidadosamente-não concordo
totalmente. Embora tenhamos a Bíblia, ainda precisamos de uma visão
viva. A Bíblia diz que Cristo nascerá em Belém, mas não diz onde, em que
rua ou em que casa. A estrela viva guiou os sábios para a cidade de
Belém e ainda exatamente para a rua e a casa onde estava o menino.
Naquele lugar, a estrela parou (v. 9). Os magos não precisaram bater em
todas as portas; eles sabiam onde estava Jesus. Isso prova que todos
precisamos de uma visão nova e clara que nos leva diretamente ao lugar
onde está Jesus.
Os magos não apenas acharam Cristo; eles também O adoraram (v.
11). Entre os israelitas, não era permitido a ninguém receber adoração.
Era considerado um insulto a Deus, uma blasfêmia contra Ele. Segundo
eles, apenas Deus era digno de adoração. Mas os sábios adoraram uma
criança, e aquela criança era Deus. Isaías 9:6 diz: “Um menino nos nasceu
(...) e seu nome será (...) Deus Forte”. O menino encontrado pelos magos
era chamado de Deus Forte. Os sábios O adoraram e ofereceram a Ele
ouro, incenso e mirra (Mt 2:11).
Precisamos conhecer o significado do ouro, do incenso e da mirra.
Na tipologia da Bíblia, ouro significa a natureza divina. Isso indica que o
menino Jesus tinha a natureza divina. Ele era divino. Incenso significa a
fragrância da ressurreição. De acordo com a nossa mentalidade religiosa
natural, a ressurreição de Jesus aconteceu apenas após a Sua morte.
Entretanto, antes de Ele morrer, Jesus disse a Maria e Marta que Ele era
a ressurreição e a vida (1011:25). Assim, antes mesmo de Ele morrer, Ele
era a ressurreição. A vida que Cristo viveu nesta terra era uma vida de
ressurreição. Lucas 2:52 nos diz que mesmo em Sua infância Ele achou
graça diante de Deus e dos homens. Isso não era algo natural; era a vida
de ressurreição. O registro em Lucas 2 revela que o menino era
extraordinário. Ele era singular porque era um menino em ressurreição.
Em toda a Sua vida e viver humano havia a fragrância, a doçura da
ressurreição. A morte não poderia detê-Lo ou mesmo tocá-Lo. Ele era não
apenas a vida-Ele era a ressurreição.
A mirra significa a morte e também a fragrância da morte. Entre a
raça humana, a morte não tem fragrância; entretanto, com Jesus havia a
fragrância da morte.
Quando os sábios apresentaram o ouro, o incenso e a mirra, não
58
creio que soubessem o significado dos presentes oferecidos. Certamente
eles ofereceram seus presentes sob a inspiração do Espírito Santo.
Apresentaram o ouro, o incenso e a mirra, significando que o menino
Jesus tinha a natureza divina, que Sua vida seria uma vida de
ressurreição, cheia da fragrância da mirra, e que Sua vida seria cheia da
fragrância da morte.
Quando tinha doze anos, Jesus foi a Jerusalém com Seus pais (Lc
2:42). Ele queria ver o que as pessoas estavam fazendo na casa do Seu Pai,
o templo, por isso ficou em Jerusalém após a festa (2:43). Maria e José
não O compreenderam. Eles O procuraram e finalmente O encontraram
no templo (vs. 44-48). De certo modo, Maria O reprovou. Se fosse Jesus,
eu a teria repreendido. Teria retrucado e dito: “Você não sabe o que estou
fazendo aqui? Por que vem incomodar-Me?” Se lermos o relato de Lucas,
veremos que Jesus disse algo a eles: “Não sabíeis que me cumpria estar na
casa de meu Pai?” (v. 49). Após dizer isso, Ele os acompanhou e retomou
com eles a Nazaré. Isso foi para Ele um verdadeiro matar. A intenção Dele
foi morta, e nisso podemos sentir o aroma da mirra. Aquilo não era a
fragrância do incenso, mas era o doce aroma da mirra.
Se lermos os quatro Evangelhos, as biografias de Jesus, veremos
que o ouro, o incenso e a mirra foram muito prevalecentes na Sua vida.
Ele sempre vivia a vida de ressurreição e estava constantemente sob o
mortificar da cruz. Ele não esperou até que os trinta e três anos e meio se
passassem antes de ir à cruz e ser crucificado. Em toda Sua vida Jesus foi
continuamente crucificado.
Assim, Ele tinha não apenas a fragrância da ressurreição, como
também a doce mirra da cruz.
Os sábios encontraram o nobre menino Jesus em Belém, a qual
Miquéias 5:2 chama de “pequena demais para figurar como grupo de
milhares de Judá”. Ele nasceu nessa cidade humilde, em tal circunstância
modesta. Entretanto, devido à visão que veio pela estrela, os sábios
prestaram as mais elevadas honras à nobre criança, sem se importar com
o lugar. Assim, ofereceram a Jesus três itens preciosos. Cada um desses
itens representa algum elemento precioso da vida e natureza do Senhor
Jesus. Em quase todas as páginas dos quatro Evangelhos, vemos a
preciosidade da humanidade do Senhor, a fragrância da Sua vida de
ressurreição e o doce aroma da Sua morte sacrificatória. Mesmo nos
primeiros dias de vida, logo após o nascimento do Senhor, os sábios
fizeram tal coisa apropriada. Isso combinava exatamente com a vida e
natureza do Senhor. A oferta deles certamente foi apresentada sob a
inspiração do Espírito Santo.
Pode ser que esses tesouros preciosos oferecidos pelos magos
tenham proporcionado a viagem do Senhor da Judéia ao Egito e do Egito
a Nazaré. A adoração e ofertas dos sábios verdadeiramente realizaram
algo.

(5) ADVERTIDOS POR DEUS A RETORNAR POR


OUTRO CAMINHO
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Após os sábios terem encontrado Cristo, adorado-O e oferecido a
Ele esses tesouros preciosos, foram advertidos por Deus a retomar por
outro caminho (Mt 2:12). Esse outro caminho, não o original, era o
caminho correto. Sempre que descobrimos Cristo e O encontramos, é-nos
revelado para não retomar pelo caminho original. Descobrir Cristo e
encontrá-Lo sempre nos faz voltar por outro caminho.
A situação de hoje é exatamente a mesma. Temos a Bíblia e Cristo
está vindo, mas como O descobriremos? O princípio básico não está com a
Bíblia. Embora a Bíblia ajude, o princípio básico está com a estrela viva, a
visão celestial.
Agora devemos ver como podemos ter essa estrela, como podemos
ter essa visão celestial. A Bíblia nos fala que a estrela viva é Cristo. Foi
profetizado que Cristo seria a estrela (Nm 24:17), Ele veio como a estrela
(Mt 2) e Ele continua como a estrela (Ap 22:16). Ele está brilhando.
Como podemos ter Cristo como a estrela? De acordo com 2 Pedro 1:19, a
estrela está ligada à Bíblia. Pedro nos fala para atender à “confirmada
palavra profética”. Se atendermos a essa palavra segura, o dia clareará em
nós e a estrela da alva nascerá em nosso coração. Atender à palavra
infalível é atentar à Palavra viva. Não é apenas ler a Palavra; é entrar na
Palavra até que algo nasça dentro de nós. A isso podemos chamar
alvorecer ou estrela da alva. Em 2 Pedro 1:19 a estrela da alva é, na
verdade, a estrela da manhã. A palavra em grego é phosphoros, uma
substância que carrega luz. Um fósforo pode brilhar nas trevas. Cristo é o
verdadeiro fósforo resplandecendo nas trevas de hoje. Todavia, a Palavra
não pode resplandecer sobre você a menos que atente para ela. Você deve
atentar até que algo comece a brilhar dentro de você. Esse brilhar tornar-
se-á o fósforo em seu coração. Então você terá a estrela da manhã. Será
como os sábios e algo dos céus resplandecerá sobre você.
Cristo é a estrela. A Bíblia diz que os seguidores de Cristo são
estrelas também. Apocalipse 1:20 nos diz que todos os líderes da vida
da igreja adequada são estrelas, porque são os que brilham. Daniel 12:3
diz que os justos brilharão como estrelas. Os que conduzem outros à
justiça e os convertem do caminho errado para o
certo, brilharão como estrelas. Hoje há apenas duas maneiras de
a estrela brilhar sobre você. De acordo com a
primeira maneira, você deve ir à Palavra confirmada e abrir
todo seu ser a ela-boca, olhos, mente, espírito e coração-até que algo
nasça e brilhe sobre você. Isso é Cristo. A segunda maneira é vir aos
santos que estão brilhando, os seguidores de Cristo. Se vier a eles,
receberá luz. Também receberá alguma liderança, porque eles o levarão ao
lugar onde Cristo está.
Ambas as maneiras de se ter a estrela estão ligadas ao Espírito e à
igreja. Imediatamente após Apocalipse 22:16, que diz que o Senhor Jesus
é a estrela da manhã, o versículo seguinte diz: “O Espírito e a noiva
dizem”. Isso prova que, como a estrela da manhã, o Senhor Jesus está
ligado ao Espírito e à igreja, que é a Noiva. Apocalipse 3:1 diz que o
Senhor Jesus tem os sete Espíritos e as sete estrelas, e Apocalipse 1:20 diz
que as sete estrelas são os anjos das igrejas. Esses versículos mostram que
60
as estrelas estão ligadas não apenas ao Espírito, mas também às igrejas.
Para termos a estrela viva ou as estrelas vivas, precisamos do Espírito e da
igreja. Pelo Espírito e por intermédio da igreja, será fácil termos a visão
celestial de modo que possamos descobrir Cristo e apresentar nossa
apreciação a Ele.

b. A Fuga para o Egito


Cristo foi achado em Belém. Essa descoberta criou problemas. Deus
usou esse problema para levar o menino de Belém para o Egito (Mt 2:13-
18). Oséias 11:1 profetizou que Jesus seria chamado do Egito. Se não fosse
o problema que ocorreu após Jesus ter sido descoberto em Belém, não
haveria oportunidade para Ele fugir para o Egito.
Isso é muito significativo. Os sábios cometeram um grande erro,
mas isso proporcionou a Deus a oportunidade para cumprir
Sua profecia. Mas não erre propositadamente. Isso não funcionará.
Esmere-se por fazer tudo corretamente. Entretanto, a despeito de quão
diligentemente você tente ser correto, finalmente cometerá um erro tão
grande como os sábios. Nunca diga: “Façamos o mal para que nos venha o
bem”. Se fizer o mal, o bem não virá. Todavia, se tentando ser correto
cometer um erro, aquele erro dará a Deus uma oportunidade para
cumprir Seu propósito.
Porque José fugiu com Maria e Jesus para o Egito, o menino Jesus
escapou do primeiro martírio, o martírio causado pelo erro dos sábios.
Satanás está sempre ativo, esperando por uma oportunidade para causar
um martírio. Mas Deus é soberano sobre todos, até mesmo sobre Satanás,
para preservar Seus amados dos ardis do inimigo. Pela soberania de Deus,
o menino Jesus foi preservado.

c. Criado em Nazaré
A essa altura preciso apresentar uma pequena história. Embora a
conheça, você precisa ainda de mais luz. Maria concebeu uma criança em
Nazaré (Lc 1:26-27, 31). De acordo com a profecia em Miquéias 5:2,
entretanto, Cristo tinha de nascer em Belém. Sob o arranjo soberano de
Deus, César Augusto ordenou
o primeiro censo do Império Romano (Lc 2:1-7). Isso forçou todas as
pessoas a retomarem a seus lugares de origem. Maria e José foram
forçados a retomar a Belém, sua cidade natal. Imediatamente após
chegarem a Belém, o menino Jesus nasceu. O erro dos magos fez surgir o
ódio e o ciúme do rei Herodes, que ficou irado porque um menino real
tinha nascido. Então José recebeu uma orientação em sonho para levar o
menino para o Egito (M t 2:13-15). Isso possibilitou a Deus cumprir a
profecia de Oséias 11:1. Após Herodes ter morrido, José recebeu uma
palavra em outro sonho para retomar à terra santa (Mt2:19- 20). Quando
José retomou e viu que Arquelau, o filho de Herodes, estava no poder,
temeu ficar no território ao redor de Belém. Assim, foi para Nazaré, onde
Jesus cresceu (vs. 21-23). Por essa razão Jesus foi chamado Jesus de
Nazaré.
61
Que significa tudo isso? Significa que quando Jesus nasceu na raça
humana, Ele apareceu de uma maneira um pouco secreta, não de uma
maneira pública ou evidente. Algumas vezes até mesmo usei a palavra
“sorrateiro” para descrever isso. Todos O chamavam Jesus de Nazaré,
porque Ele era um nazareno. Mas a Bíblia diz que Cristo nasceria em
Belém. A maneira oculta do nascimento de Cristo incomodou todos os
religiosos. Quando Filipe encontrou Jesus, percebeu que Ele era o
Messias. Então foi a Natanael e disse-lhe que tinha achado o Messias e
que era o filho de José, um homem de Nazaré. Imediatamente Natanael
disse: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (Jo 1:45-46). Filipe deu a
Natanael a informação errada? É difícil dizer. Filipe apenas sabia que
Jesus era o filho de José e que Ele era um nazareno. Embora Jesus fosse
de Nazaré e fosse um nazareno, Ele não havia nascido em Nazaré, mas em
Belém. Natanael estava perturbado. Entretanto, Filipe não argumentou
com ele; simplesmente disse: “Vem e vê” (Jo 1:46).
Em outra ocasião, Nicodemos, que havia vindo conhecer Jesus,
tentou argumentar com os fariseus com respeito a Ele. Os fariseus lhe
perguntaram: “Dar-se-á o caso de que também tu és da Galiléia?” (Jo
7:52). A Galiléia era uma região gentia, e a Bíblia diz: “Galiléia dos
gentios” (Mt4:15). Os fariseus pareciam dizer a Nicodemos: “Você é da
Galiléia? Sabemos que Jesus veio da Galiléia. Mas da Galiléia não se
levanta profeta”. Aparentemente Jesus era da Galiléia, de Nazaré; na
verdade, Ele nasceu em Belém. Essa foi Sua maneira um tanto oculta e
secreta de aparecer às pessoas.
O princípio é o mesmo hoje. Menciono-lhes a figura do tabernáculo.
O tabernáculo era coberto com pele de animais marinhos, com pêlos e
áspera; do lado de fora, isto não parecia ser muito atrativo. Do lado de
dentro, entretanto, era de linho fino, ouro e pedras preciosas. O princípio
espiritual da igreja é o mesmo. Não olhe para o exterior da igreja. Você
precisa vir para o interior da igreja. Tenho certeza de que se o apóstolo
Paulo viesse visitá-lo, você se surpreenderia e perguntaria: “Você é o
irmão Paulo? Pensei que o apóstolo Paulo fosse como um anjo
resplandecente. Mas que é você? Apenas um pequeno homem sem uma
aparência atrativa”.
Nunca devemos fazer uma exibição de nós mesmos, tampouco
conhecer os outros segundo a aparência exterior. Devemos conhecê-los
segundo o espírito interior. Em aparência, Jesus era um nazareno, mas
dentro Dele havia ouro, incenso e mirra. Dentro Dele havia a glória de
Deus. A Segunda Epístola aos Coríntios 5:16 diz que não devemos
conhecer Cristo ou a qualquer homem segundo a aparência exterior.
Antes, devemos discernir a realidade interior de Cristo.
Devemos conservar esse princípio hoje. Para achar Cristo devemos
ter a estrela brilhando; não nos guiando pela aparência exterior, mas
segundo o que está no interior. Se quiser conhecer a igreja ou os santos,
então não se incomode com a aparência exterior. Não dê qualquer valor às
coisas exteriores, tais como catedrais imensas, templos grandes ou órgãos
de tubo. Esqueça tudo isso. Jesus não tinha nenhum atrativo exterior.
Ele era um pequeno nazareno que cresceu em uma província chamada
62
“Galiléia dos gentios” e foi criado em uma cidade desprezada pelas
pessoas-”De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” Mas se você “vem e vê”,
e entra Nele, você O apreciará e será capturado por Ele. Do mesmo modo,
você precisa vir para a igreja e estar com a igreja por algum tempo. Se o
fizer, encontrará algumas coisas preciosas. O mesmo é verdade quanto
aos santos sedentos. Quanto mais buscam o Senhor, mais eles ocultam
suas experiências de coisas espirituais. Você precisa ir a eles e estar com
eles. Então entrará neles e encontrará as riquezas que estão dentro deles.
Verá o incenso, a mirra e muitos outros tesouros preciosos. Então você
será atraído e capturado. Essa é a maneira de descobrir Cristo e apreciar
tudo o que Ele é e todos os Seus itens preciosos, o ouro, o incenso e a
mirra.
Mateus 2:23 diz: “Ele será chamado Nazareno”. Alguns supõem que
essa palavra nazareno refere-se a “nazireu” em Números 6:2. Outros
supõem que ela se refere à palavra hebraica para rebento, netzer, em
Isaías 11:1. Mas não acho que temos de pensar demais. Sabemos que em
aparência Jesus era um nazareno. Isso foi dito pelos profetas.

MENSAGEM 8

A UNÇÃO DO REI (1)


Mateus 3:1-4:11 trata da unção do Rei. Essa seção do Evangelho de
Mateus é dividida em três partes: a apresentação do Rei (3:1-12), a unção
do Rei (3:13-17) e o teste do Rei (4:1-11). Nesta mensagem e na seguinte
trataremos da apresentação do Rei.
63
I. APRESENTADO
A. O Apresentador
Mateus capítulo 3 trata da apresentação e a unção do Rei.
Nesse capítulo primeiramente o próprio apresentador do Rei, João
Batista, é apresentado. Mateus 3:1 diz: “Naqueles dias apareceu João
Batista”.

1. Nascido Sacerdote
João Batista nasceu sacerdote (Lc 1:5, 13). No Estudo-Vida de
Gênesis vimos que o direito de primogenitura incluía três itens: a porção
dobrada de terra, o sacerdócio e a realeza. Rúben, o primogênito de Jacó,
deveria ter recebido todos os três itens da primogenitura. Entretanto, por
causa da profanação, ele perdeu a primogenitura. Como resultado, a
porção dobrada de terra foi para José, o sacerdócio, para Levi, e o reinado,
para Judá. A principal função do sacerdócio é levar as pessoas a Deus e a
da realeza é trazer Deus às pessoas. De acordo com a Bíblia, os sacerdotes
levavam pessoas a Deus a fim de que elas pudessem obter bênção de
Deus. Esse é o serviço sacerdotal. Os reis eram os que representavam
Deus e traziam Deus às pessoas. Assim, a realeza é o ministério que traz
Deus aos outros para que possam obtê-Lo. Mediante esse tráfego de vir e
ir, homem e Deus, Deus e homem, têm uma comunhão verdadeira,
genuína. Por fim, o homem e Deus tomam-se um. Esse é o ministério do
sacerdócio e da realeza.
O primeiro ministério do Antigo Testamento foi o sacerdócio.
Após o sacerdócio veio a realeza. Em todos os livros que antecedem 1
Samuel havia o sacerdócio. Mas iniciando 1 Samuel na segunda seção do
Antigo Testamento há a realeza. Nesse livro, Samuel representa o
sacerdócio e Davi, a realeza. Samuel, o sacerdote, introduziu Davi, o rei. O
sacerdócio introduz a realeza. É o mesmo que ocorre hoje na igreja. Se
somos genuínos sacerdotes, então também nos tomaremos reis, porque o
sacerdócio sempre introduz a realeza. Primeiro somos sacerdotes
trazendo os outros à presença de Deus. Então nos tomamos reis levando
Deus a eles.
Todo verdadeiro evangelista é um rei. Se não somos um rei, não
estaremos qualificados a pregar o evangelho. Em Mateus 28:18 e 19 o
Senhor Jesus, o Rei do reino, disse: “Toda a autoridade me foi dada no
céu e na terra, Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações”. Aqui o
Senhor disse aos discípulos para irem com a Sua autoridade. Os que vão
com essa autoridade são reis no reino dos céus. Sem dúvida, Ele
compartilha conosco essa autoridade. Portanto, devemos ir e discipular as
nações, isto é, pregar o evangelho para subjugar os rebeldes. Quando
vamos pregar o evangelho, devemos ser reis.
Muitos cristãos não conhecem o segredo de Deus em Sua economia.
Quando é comissionado a pregar o evangelho, você deve primeiro
executar a função de sacerdote. Ao pregar o evangelho você deve primeiro
64
ir a Deus como um sacerdote e levar outros a Ele. Mediante o sacerdócio
você será autorizado e ungido, e então sairá da presença de Deus para ser
um rei. A pregação adequada do evangelho é o resultado de uma ordem
real. É a declaração de um mandato real. Considere a pregação de Pedro
no dia de Pentecoste. Embora fosse um jovem pescador galileu, ele era um
rei. Todo evangelista adequado deve ser um rei.
Vimos que o sacerdote introduz o rei. A primeira vez que isso
aconteceu foi quando Samuel introduziu o rei Davi. Em Mateus 3 vemos
outro Samuel, João Batista, que nasceu sacerdote da tribo de Levi.
Mateus 3 testifica a consistência da Bíblia, porque aqui vemos alguém da
tribo sacerdotal, a tribo de Levi, apresentando alguém da tribo real, a
tribo de Judá. Em Mateus 3 João apareceu como Samuel e Jesus como
Davi. Lá no deserto João estava levando pessoas a Deus. Assim, ele era um
sacerdote genuíno. Enquanto estava levando os outros a Deus, o Rei veio, e
João introduziu-O. Esse Rei trouxe Deus aos homens. João levou os outros
a Deus e Jesus trouxe Deus aos homens.
Como pecadores viemos a Deus por intermédio do ministério de
João. Pelo arrependimento entramos na presença de Deus. Esse era o
ministério do sacerdócio, o ministério de João Batista. Todos temos
entrado na presença de Deus por intermédio de João. Foi João que nos
levou de volta a Deus. Então o novo Rei Davi, Jesus Cristo, trouxe Deus a
nós. Mediante o ministério de arrependimento de João e o ministério de
dispensar vida de Jesus, fomos feitos sacerdotes e reis. Hoje somos a
continuação tanto do sacerdote, João Batista, como do Rei, Jesus Cristo.
Se é um cristão adequado, então você é primeiramente o João de hoje e
em segundo lugar, o Jesus de hoje. Jovens, ao irem às universidades,
vocês devem ser sacerdotes reais. Vocês precisam dizer: “Senhor, tem
misericórdia dessas pessoas. Ó Senhor, lembre-se de todos esses jovens.
Eu os trago a Ti”. Esse é o sacerdócio, o ministério de João Batista. Após
levar pessoas a Deus, imediatamente, de certo modo, você se tornará
Cristo trazendo Deus a elas a fim de que possam obtê-Lo. Esse é o
sacerdócio e a realeza de hoje.

2. Rejeitou a Posição Exterior do Sacerdote


Embora João Batista tenha nascido sacerdote, ele rejeitou a
postura exterior do sacerdote. Pela posição exterior do seu nascimento,
ele não era um sacerdote de fato, mas um sacerdote em figura, um
sacerdote em sombra. Em 3:1 João veio pregar no deserto como sacerdote
verdadeiro. A pregação de João Batista foi a iniciação da economia de
Deus do Novo Testamento. Ele fazia sua pregação não no templo santo
dentro da cidade santa, onde os religiosos e as pessoas cultas adoravam a
Deus segundo as suas ordenanças escriturais, mas no deserto, de uma
maneira “selvagem”, não guardando nenhum regulamento velho. Isso
indica que a velha maneira de adorar a Deus de acordo com o Antigo
Testamento foi repudiada e que uma nova maneira estava para ser
introduzida. O deserto aqui indica que o novo caminho da economia de
Deus do Novo Testamento é contrária à religião e à cultura. Também
65
indica que nada velho foi deixado e que algo novo está para ser edificado.
A dispensação da lei foi terminada pela vinda de João Batista (Mt
11:13; Lc 16:16). Após o batismo de João, a pregação do evangelho da paz
começou (At 10:36-3 7). A pregação de João foi o início do evangelho (Me
1:1-5). Assim, a dispensação da graça começou com João.
Nem João, o novo sacerdote, nem Jesus, o novo Rei, estavam na
velha maneira. Segundo a velha maneira, os sacerdotes ficavam no templo
santo na cidade santa, vestiam as vestes sacerdotais, comiam a comida
sacerdotal e observavam os rituais sacerdotais. Mas com a vinda de João
Batista, tudo aquilo foi terminado. Aquela não era a realidade; era uma
sombra. Agora com João Batista, o genuíno sacerdote, a realidade veio.
Como o verdadeiro sacerdote, João veio para trazer as pessoas de volta a
Deus. Esse era o ministério dele.

3. Viveu de uma Maneira Contrária à Religião e à


Cultura
João realizou seu ministério vi vendo de uma maneira
absolutamente contrária à religião e à cultura e fora de ambas. Mateus 3:4
diz: “Usava João vestes de pêlos de camelo e um cinto de couro; a sua
alimentação era gafanhotos e mel silvestre”. De acordo com os preceitos
da lei, João, que nasceu sacerdote, deveria vestir a veste sacerdotal, que
era feita principalmente de linho fino (Êx28:4, 40-41; Lv6:10; Ez44:17-18)
e alimentar-se da comida sacerdotal, que era constituída especialmente de
fina flor de farinha e da carne dos sacrifícios oferecidos a Deus pelo Seu
povo (Lv 2:1-3; 6:6-18, 25-26; 7:31-34). Entretanto, João fez totalmente
diferente. Ele se vestia de pêlos de camelo e usava um cinto de couro, e
comia gafanhotos e mel silvestre. Todas essas coisas não são civilizadas ou
culturais nem são de acordo com as ordenanças religiosas. Um sacerdote
vestir-se de pêlos de camelo era um golpe muito forte para a mente
religiosa, porque o camelo era considerado impuro pelas ordenanças
levíticas (Lv 11:4). Além disso, João não vivia em um lugar civilizado, mas
no deserto (Lc 3:2). Tudo isso indica que ele tinha abandonado totalmente
a dispensação do Antigo Testamento, a qual caiu numa espécie de religião
misturada com cultura humana. A intenção dele era introduzir a economia
do Novo Testamento, que é constituída unicamente de Cristo e do Espírito
da vida.
Vimos que na época de João, ser um sacerdote era uma questão de
religião, de usar veste sacerdotal, alimentar-se de comida sacerdotal e
habitar num edifício sacerdotal. Quando alguém procedia como um
sacerdote, todos o consideravam como uma pessoa religiosa, uma pessoa
na religião. Mas aqui em Mateus 3 vemos um sacerdote de fato. Em vez
de estar no templo, ele foi ao deserto, para um lugar selvagem onde não
havia nem religião nem cultura. Lá no deserto ele viveu de uma maneira
“sel vagem”, comendo gafanhoto e mel silvestre. Seu mel não era o mel
cultivado e processado como é vendido hoje nas lojas. Era um mel
selvagem. João era um verdadeiro sacerdote vivendo de tal maneira
“selvagem”. Entretanto, se tentar imitá-lo, você será falso.
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João estava realmente fora da religião e da cultura. Ele não apenas
comia coisas selvagens, mas também vestia-se de pêlos de camelo. Note
que a Bíblia não diz que ele vestia pele de camelo, o que teria sido um
tanto regular, mas pêlos de camelo, que certamente deveriam ser
desalinhados. Ainda mais, seu cinto de couro provavelmente não era
muito “elegante”. João era, verdadeiramente, “selvagem”. Entretanto esse
sacerdote genuíno foi o apresentador do Rei.
De João Batista até hoje, muitas pessoas foram levadas de volta a
Deus pelo ministério de João. Sempre que dizemos a outros que se
arrependam devemos lembrar-nos de João Batista.
O ministério de João Batista estava fora tanto da religião como da
cultura. Quando João nasceu, em
Jerusalém havia duas coisas principais – a religião hebraica e a
cultura greco-romana. João, todavia, não ficou em Jerusalém onde seus
pais, sem dúvida, moravam. Ele deixou Jerusalém e foi para o deserto
onde não havia nem religião nem cultura, mas onde tudo era natural.
João ministrou no deserto levando pessoas a Deus; ele também
introduziu o Rei, o que representa Deus diante das pessoas. Essa era uma
forte indicação de que, na época de João, a era estava mudando da velha
para a nova dispensação, da dispensação das sombras e figuras para a
dispensação da realidade. Aqueles sacerdotes que usavam vestes
sacerdotais, comiam a comida sacerdotal e ficavam no templo sacerdotal
queimando o incenso e realizando as funções sacerdotais, nunca levavam
alguém a Deus. Mas esse João “selvagem”, irreligioso e sem cultura levou
centenas a Ele. E também trouxe o Rei a eles. Esse Rei foi Aquele que
trouxe Deus às pessoas arrependidas.
Quando esse Rei foi trazido às pessoas e elas foram
verdadeiramente levadas de volta a Deus, o reino estava
imediatamente presente. O Rei com o povo é o reino. O reino estava lá,
porque tanto o Rei como as pessoas estavam lá. O Novo Testamento
começa com o sacerdócio genuíno introduzindo a realeza genuína. O
sacerdote verdadeiro introduz o Rei verdadeiro. Essa introdução anuncia
o reino.
A mensagem de João era: “Arrependei-vos, porque está próximo o
reino dos céus” (Mt 3:2). As pessoas tinham de se arrepender porque o
reino estava vindo e porque o Rei estava lá. Também precisamos nos
arrepender para que o Rei possa nos ganhar e para que sejamos Seu povo.
Após nos arrependermos, o Rei nos conquista e nós O conquistamos. Por
esse conquistar mútuo, nós e o Rei nos tomamos o reino. O reino
vem imediatamente após o Rei. Se vocês recebem o Rei e Ele os toma
como Seu povo, o reino está instantaneamente presente. Por que o reino
não veio ainda? Porque vocês não receberam o Rei e Ele ainda não os
conquistou. Porque ainda estão longe Dele, o Rei não foi capaz de
conquistá-los, Portanto, o reino ainda não está aqui. Ele está fora, em
algum lugar, esperando pelo seu arrependimento. Se se arrependerem, o
Rei conquistará vocês, e vocês a Ele, e o reino estará aqui.
Muitos cristãos que estão pregando o evangelho hoje não conhecem
os princípios divinos na economia de Deus. Se desejamos ser verdadeiros
67
evangelistas e pregadores do evangelho, devemos primeiramente ser João
Batista. Isso significa que devemos ser sacerdotes, não na forma, em
sombra, mas sacerdotes genuínos, em realidade. Depois, então, devemos
também ser Jesus Cristo. Devemos ser o Rei que traz Deus aos outros.
Quando vamos a Deus para orar pelas pessoas, somos sacerdotes
levando-as a Deus. Mas quando saímos da presença de Deus e vamos às
pessoas, somos reis trazendo Deus a elas. Se fizermos assim, elas se
arrependerão para o Rei, e Ele as conquistará e o reino estará presente.
A vida adequada da igreja hoje é o reino. Ternos nos arrependido, o
Rei nos conquistou e O recebemos. Agora somos um com o Rei e o reino
está aqui conosco. Aleluia! o reino está aqui agora! Tudo isso depende
daquele que apresenta.
Meu encargo nesta mensagem é enfatizar a questão do
apresentador. Você é um apresentador de Cristo hoje? Se é, então, precisa
verificar se ainda está ou não na religião e cultura. Todos devemos estar
no deserto, num ambiente que é “selvagem”, não religioso ou cultural. O
ambiente apropriado é fora da religião e cultura, mas está cheio da
presença de Deus.
Quando João estava no deserto, ele era um grande ímã atraindo
para si grande número de pessoas. Por essa razão, o versículo 5 diz:
“Então saíram a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a
circunvizinhança do Jordão”. Por esse seu poder de atração, muitos
vinham a ele. Espero que os jovens que vão às universidades estejam lá
como ímãs. Se é tal ímã, as pessoas afluirão a você. Primeiro você será o
sacerdote indicado por Deus para levar outros à Sua presença. Então será
capaz de apresentar o Rei dos céus a elas. Naquele tempo, você não
apenas apresentará o Rei às pessoas, mas na verdade você será o Rei.
Assim, você ordenará a outros e muitos voltarão a Cristo. Dessa maneira,
Cristo conquistará as pessoas e elas O conquistarão. Então,
imediatamente, o reino aparecerá nas universidades.
Essa é a maneira correta de levar a cabo a pregação dó evangelho.

B. O Lugar de Apresentação
Vimos que o lugar de apresentação não foi a cidade santa nem o
templo santo, mas o deserto. O versículo 1 diz que João Batista veio
pregar no deserto, e o versículo 3 diz: “Porque este é o referido por
intermédio do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto”. Foi segundo a
profecia que João Batista começou seu ministério no deserto. Isso indica
que a introdução da economia de Deus do Novo Testamento por João
não foi acidental, mas planejada e profetizada por Deus por intermédio
de Isaías, o profeta. Isso implica que Deus desejava que Sua economia do
Novo Testamento começasse de uma maneira absolutamente nova.
Se traçar a história de alguns séculos atrás, verá que muitos
reavivamentos prevalecentes aconteceram em algum tipo de “deserto”.
Quando John Wesley e George Whitefield foram levantados há dois
séculos como evangelistas, suas pregações eram feitas principalmente nas
esquinas. De acordo com a biografia dele, George Whitefield
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freqüentemente pregava nos montes dos desertos. Não obstante, naquele
tempo, a Igreja da Inglaterra tinha regulamentos proibindo a exposição da
Palavra Santa fora do “santuário”. Conforme esses regulamentos,
qualquer um que pregasse ou ensinasse a Bíblia tinha de fazê-lo no
“santuário”. Todavia, Deus levantou George Whitefield e John Wesley
guiando a pregação deles para fora do “santuário”. O princípio deve ser o
mesmo hoje. Mas isso não significa que devemos copiar João Batista
naforma exterior. Significa que não devemos tomar a maneira religiosa
nem a cultural. Antes, devemos seguir a maneira que é cheia da
presença de Deus. Não devemos estar na cidade santa ou no templo
santo, mas num lugar fora da religião e cultura, porém pleno da presença
de Deus. Espero que os jovens levem essa questão ao Senhor e orem:
“Senhor, faça-nos João Batista de hoje. Senhor, leva-nos ao deserto e
mostra-nos como ser sacerdotes genuínos para levar pessoas a Ti e
apresentar-Te a elas como Rei delas”.
O Evangelho de Mateus é absolutamente diferente do Evangelho de
João. O Evangelho de João é um livro de vida, enquanto o Evangelho de
Mateus é um livro do reino. Em João, Jesus é vida, mas em Mateus Ele é o
Rei. De acordo com o livro de Mateus, o Jesus que recebemos é o Rei. Ao
considerarmos o Evangelho de Mateus, devemos ser inteira e
profundamente impressionados pelo fato de que estamos agora no reino.
Todas as coisas escritas nesse livro estão relacionadas ao reino. Portanto,
devemos olhar para esse livro do ângulo do reino, enxergando cada
capítulo e até mesmo cada versículo da perspectiva do reino.
O arrependimento exigido no capítulo 3 é para o reino. Você deve
arrepender-se porque não está no reino, porque não está sob a autoridade
de Deus. Você deve arrepender-se porque ainda não se submeteu à
autoridade de Cristo nem está sob Sua realeza. Embora não sinta que seja
um pecador, uma vez que não está no reino, você é um rebelde. Se nada
tem a ver com a realeza de Cristo, você está em rebelião e deve
arrepender-se. Arrependa-se de não estar no reino! Os cristãos genuínos
de hoje são salvos, contudo muitos deles ainda não estão no reino. Até
mesmo esses cristãos devem arrepender-se. Desde que não está sob a
realeza de Cristo, você deve arrepender-se. Se não está realmente no
reino dos céus nem sob o governo celestial, você deve
arrepender-se. Não importa quão espiritual, santo ou bom você seja. A
única coisa que conta é se você está ou não debaixo do governo
celestial. Caso contrário, isso significa que você não está no reino e
deve arrepender-se. Se não está no reino, você está em rebelião.
Você se considera escritural,
fundamentalista e santo, mas, na verdade, é rebelde. Mesmo sua
espiritualidade é um tipo de rebelião contra a realeza de Cristo. Você se
importa com sua espiritualidade, não com a realeza de Cristo. Isso
indica que está em rebelião, que não está no reino. Arrependa-se da
sua rebelião! Arrependa-se de não estar no reino e de não estar
debaixo da realeza e autoridade de Cristo. Esse é o pensamento básico
do Evangelho de Mateus.
Não pense que Mateus é apenas para os incrédulos, estranhos ou
69
gentios. Muitos de nós nunca ouviram o Evangelho de Mateus. Não sei
que tipo de evangelho você tem ouvido, mas sei que precisa ouvir o
Evangelho de Mateus, o evangelho do reino que exige que você se
arrependa de não estar sob a realeza de Cristo. Todos devemos
arrepender- nos diante do Senhor e dizer: “Senhor, perdoa-me. Mesmo
hoje estou ainda em rebelião. Não estou debaixo do Teu senhorio, Tua
autoridade, Teu governo celestial. Senhor, confesso que tenho sido
governado só por mim mesmo. Senhor, conceda-me um arrependimento
verdadeiro pela minha rebelião, por eu não estar debaixo da Tua
autoridade”. Todos precisamos arrepender-nos. Louvado seja o Senhor
porque João Batista e esse ministério do sacerdócio estão ainda conosco!
Por um lado, esse sacerdócio nos leva a Deus, e, por outro, apresenta o
Rei celestial que traz Deus a nós. Quando recebemos esse Rei, Ele nos
conquista e o reino está aqui. Esse é o Evangelho de Mateus.

70
MENSAGEM 9

A UNÇÃO DO REI (2)


No Antigo e no Novo Testamento há dois ministérios fundamentais
que constituem o reino de Deus: o sacerdócio e a realeza. Na Bíblia há
também um terceiro tipo de ministério, o ministério do profeta. O
ministério profético, no entanto, não é um ministério fundamental; antes
é um suplemento para o sacerdócio e a realeza. Quando o sacerdócio ou a
realeza estão fracos, os profetas vêm fortalecê-los. De acordo com o
Antigo Testamento, o sacerdócio estava com a tribo de Levi. Por fim, esse
sacerdócio consumou-se em João Batista, um descendente dessa tribo. Do
mesmo modo, Jesus era a consumação da realeza do Antigo Testamento, a
qual estava com a tribo de Judá. Jesus veio como um descendente de Judá
para ser a consumação da realeza. Por um lado, João Batista e Jesus
Cristo concluíram o sacerdócio e a realeza do Antigo Testamento; e por
outro, fizeram brotar o sacerdócio e a realeza do Novo Testamento. Em
outras palavras, eles concluíram a dispensação do Antigo Testamento e
iniciaram a dispensação do Novo Testamento.
Quando o sacerdócio leva pessoas a Deus e a realeza traz Deus às
pessoas, há o domínio, o governo celestial. Esse domínio celestial é o
reino, que hoje é a vida adequada da igreja. A vida da igreja hoje é o reino
com o sacerdócio e a realeza. Essa vida da igreja continuará até o
milênio. No reino milenar ainda haverá o sacerdócio e a realeza. Por um
lado, nós, os vencedores, seremos sacerdotes, e, por outro, seremos reis.
Assim, no reino milenar, o sacerdócio e
a realeza serão ainda mais fortes do que hoje. E sustentarão o reino de
Deus na terra para que o Rei possa conquistar as pessoas e para que elas
possam conquistar o Rei. Após o milênio não haverá mais
necessidade do sacerdócio. Na eternidade haverá apenas a realeza, porque
no novo céu e na nova terra com a Nova Jerusalém todos estarão na
presença de Deus. Naquele tempo Deus estará com o homem. Assim, não
será mais necessário que o sacerdócio leve as pessoas a Deus. Na
eternidade a presença de Deus eliminará o sacerdócio. Todavia, a realeza
permanecerá a fim de que os que estiverem na Nova Jerusalém possam
reinar sobre as nações ao redor da cidade. Esse é um resumo da Bíblia à
luz do sacerdócio e da realeza.
Na mensagem anterior consideramos o apresentador João Batista.
Nesta mensagem consideraremos a mensagem de apresentação de João.

c. A Mensagem de Apresentação

1. Arrependimento para o Reino dos Céus


A mensagem de apresentação de João é curta, mas é crucial e todo-
inclusiva. Mateus 3:2 diz: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino
dos céus”. A primeira palavra significativa nesse versículo é “arrepender-
se”. João iniciou seu ministério com essa palavra. Arrepender-se é ter uma
71
mudança de mente resultando em pesar, é ter uma mudança de propósito.
No grego a palavra traduzi da para arrependimento significa ter uma
mudança de mente. Arrepender-se é ter uma mudança em nosso
pensamento, nossa filosofia, nossa lógica. A vida do homem caído é
absolutamente de acordo com o seu pensamento. Tudo o que ele é e faz é
segundo a sua mente. Enquanto caído, você era dirigido por sua mente.
Sua mentalidade, lógica e filosofia governavam sua maneira de vida. Antes
de sermos salvos, todos estávamos sob a direção da nossa mentalidade
caída. Estávamos longe de Deus e nossa vida estava em direção oposta à
Sua vontade. Sob a influência da nossa mentalidade caída, nós nos
afastávamos cada vez mais de Deus. Mas um dia ouvimos a pregação do
evangelho que nos dizia para arrepender-nos, ter uma mudança em nosso
pensamento, filosofia e lógica.
Essa foi exatamente a minha experiência quando fui salvo. Eu era
como um potro correndo em minha própria direção. Na verdade, não
estava tomando minha direção, mas a direção do diabo, porque ele estava
me dirigindo por meio da minha mentalidade caída, conduzindo-me para
longe de Deus. Mas um dia ouvi o chamado para me arrepender-ter uma
mudança em minha filosofia, ter uma mudança em minha lógica e
pensamento. Louvado seja o Senhor! passei por uma grande mudança!
Estava me movendo em uma direção, mas quando ouvi o chamado para
me arrepender, fiz meia-volta. Creio que todos fizemos esse tipo de volta,
que é a chamada conversão. Quando nos convertemos, voltamos as costas
para o passado e voltamos a face para Deus. Isso é o que significa se
arrepender, experimentar uma mudança da nossa mente.
Cada doutrina é uma filosofia que dirige a vida de alguém.
Quase todo partido político tem uma doutrina que é virtualmente um
deus. Mas não temos uma doutrina-temos o Senhor. Temos Deus.
Outrora estávamos sob a direção de certas doutrinas, mas agora estamos
sob a direção de Deus. Nossa mente foi radicalmente mudada.
Costumávamos ser liderados em certa direção, mas agora somos liderados
em direção oposta. Tivemos uma volta em nosso pensamento, em nosso
conceito.
A segunda palavra crucial no versículo 2 é reino. Na pregação de
João Batista, o arrependimento, como a abertura da economia de Deus
do Novo Testamento, era para haver uma conversão ao reino dos céus.
Isso indica que a economia de Deus do Novo Testamento está focalizada
em Seu reino. Por isso devemos arrepender-nos, mudar nossa mente, ter
uma mudança. em nosso objetivo de vida. O alvo da nossa busca tem sido
outras coisas; agora nossa busca deve dirigir-se para Deus e Seu reino,
que é especificamente e propositadamente chamado de reino dos céus em
Mateus (cf. Me 1:15). O reino dos céus, conforme todo o contexto do
Evangelho de Mateus, é diferente do reino Messiânico. O reino
Messiânico será o reino de Davi restaurado (o tabernáculo de Davi
reedificado-At 15:16), composto dos filhos de Israel, terreno e físico em
natureza; enquanto o reino dos céus é constituído dos crentes
regenerados e é celestial e espiritual.
Em sua mensagem, João Batista disse ao povo que se arrependesse
72
para o reino. Ele não disse que se arrependessem para que pudessem ir
ao céu ou mesmo para obter a salvação. Ele disse que deveriam
arrepender-se para o reino. O reino denota um tipo de domínio,
governo. Antes de sermos salvos, não estávamos sob qualquer governo. Se
não houvesse política, autoridade ou tribunal de justiça para nos dizer o
que fazer, teríamos feito tudo o que nos agradava. Entretanto, quando
ouvimos a pregação do evangelho, nos voltamos de uma condição sem
governo para outra de total governo. Assim, estamos agora no reino.
Antes de sermos salvos, não tínhamos um rei. Mas após nos voltarmos ao
Senhor, Ele se tornou nosso Rei. Agora estamos todos sob o governo desse
Rei. O Rei tem a realeza, e essa realeza é o reino. Hoje estamos no reino
desse Rei.
A terceira palavra crucial no versículo 2 é céus. João disse para nos
arrependermos para o reino dos céus. O termo “os céus”, uma expressão
hebraica, não se refere a algo plural em natureza; mas ao mais alto céu, o
qual, segundo a Bíblia, é o terceiro céu, o céu acima do céu. O terceiro céu
é chamado os céus. O reino dos céus não denota um reino no ar, mas um
reino acima do ar, um reino no céu acima do céu, onde está o trono de
Deus. Nesse reino há o governo, o domínio do próprio Deus. Portanto, o
reino dos céus é o reino de Deus no terceiro céu onde Ele exerce Sua
autoridade sobre todas as coisas criadas por Ele. Esse reino dos céus deve
descer à terra. Esse domínio ce1estial deve descer para ser a autoridade
sobre a terra.
De acordo com a palavra de João no versículo 2, “está próximo o
reino dos céus”. Isso claramente indica que antes da vinda de João
Batista, o reino dos céus não estava aqui. Mesmo após sua aparição, em
sua pregação, o reino dos céus ainda não estava lá; apenas havia se
aproximado. Nessa época o Senhor iniciou Seu ministério e até mesmo
enviou Seus discípulos a pregar que o reino dos céus ainda não havia
vindo (4:17; 10:7). Por isso, na primeira parábola do capítulo 13:3-9, a
parábola do semeador, que indica a pregação do Senhor, Ele não diz: “O
reino dos céus é semelhante.”. Somente na segunda parábola, a parábola
do joio (v. 24), que indica o estabelecimento da igreja no dia de
Pentecoste, é que o Senhor disse isso. O fato de Mateus 16:18 e 19 usar
o termo a “igreja” e o “reino dos céus” permutavelmente prova que o reino
dos céus veio quando a igreja foi estabelecida.
Quando João Batista veio, o reino dos céus apenas havia se
aproximado. Ele estava se aproximando, chegando, mas ainda não havia
vindo. Isso prova que no Antigo Testamento não havia o reino dos céus.
Mesmo na época de Moisés e Davi o reino dos céus não estava lá. João
disse que o reino dos céus estava a caminho, não disse que havia chegado.
Quando o Senhor Jesus iniciou Seu ministério, Ele também disse:
“Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (4:17). Isso indica
que mesmo quando o Senhor Jesus iniciou Seu ministério, o reino dos
céus ainda não havia chegado. Na sua mensagem, João Batista disse às
pessoas para se arrependerem para o reino dos céus, o qual, naquele
tempo, estava a caminho. O reino dos céus chegou em Jerusalém no dia

73
de Pentecoste. Isso significa que ele chegou no exato momento em que a
igreja veio à existência. Hoje todos os que têm uma mudança em sua
filosofia e voltam-se a Deus, imediatamente estarão no reino dos céus.
Aleluia! estamos no reino dos céus! Ternos um Rei e estamos sob Seu
governo.
Muitas vezes o governo do Rei, dentro de nós, toma desnecessário
que sejamos controlados pelos policiais ou por um tribunal de justiça.
Esse Rei interior tira o emprego dos advogados. Contudo, aqueles que
não se arrependem e não se voltam a Deus não estão sob o Rei. Em
vez disso, eles violam a lei constantemente. Por essa razão, muitos são
convidados para o tribunal de justiça. Mas nós, o povo do reino, estamos
sob o Rei do reino dos céus. Esse Rei veio para dentro do nosso ser. Nesse
exato momento Ele está habitando em nosso espírito. Quando fala a nós,
Ele diz principalmente uma palavra: “não”. De acordo com a minha
experiência, Sua palavra favorita é “não”. Temos um governo de “não”
dentro de nós. Agradeça ao Senhor por essa pequena palavra, porque ela
nos livra de muitos problemas. O falar do “não” interior é o governar
íntimo do Rei. Talvez hoje você tenha ouvido o “não” do Rei várias vezes.
Se o povo do reino não se importar com esse “não”, eles se tomarão
reincidentes. Por que estamos no reino dos céus, o Rei governa-nos na
maioria das vezes falando a palavra “não”.
Consideremos agora corno João Batista foi capaz de levar as
pessoas ao reino. O ministério de João era levar pessoas a Deus (Lc 1:16-
17). João Batista, um sacerdote genuíno, era “cheio do Espírito Santo, já
do ventre materno” (Lc 1:15). Não há dúvida de que enquanto cresceu da
infância à idade adulta, à idade de trinta anos, ele foi continuamente
imerso no Espírito Santo. Porque estava inundado e saturado do
Espírito Santo, ele pôde ser ousado. É uma questão séria colocar-se
contra o curso da era. Requer muita ousadia. Como João Batista poderia
ser tão corajoso a ponto de colocar-se contra a religião judaica e a cultura
greco-romana? Ele foi ousado por causa dos trinta anos em que esteve
imerso no Espírito Santo. Ele era uma pessoa inteiramente saturada do
Espírito. Portanto, quando saiu para ministrar, foi no Espírito e com
poder. Sim, ele vestia pêlos de camelo como sinal de seu repúdio à velha
dispensação. Mas aquilo era meramente um sinal exterior. Havia também
realidade dentro dele e aquela realidade era o Espírito e o poder. A
realidade em João não era apenas a presença de Deus, mas também o
Espírito de Deus.
João estava imerso no Espírito, saturado e impregnado do Espírito
Santo. Espontaneamente isso fez dele um grande ímã. Ele era um ímã
porque havia sido completamente enchido com o Espírito. Ano após ano e
dia após dia, ele foi enchido com o Espírito. Por isso, em seu ministério,
ele era um poderoso Ímã. João tinha o Espírito e o poder de atração.
Portanto, como Lucas 1:16 diz, ele converteu muitos dos filhos de Israel ao
Senhor seu Deus. (O Senhor aqui é o equivalente a Jeová). O fato de João
ter convertido muitos dos israelitas ao Senhor indica que a nação de Israel
tinha se desviado de Deus. Senão, não haveria necessidade de João
Batista convertê-los. Até mesmo aqueles sacerdotes que serviam a Deus
74
no templo acendendo as lâmpadas e queimando o incenso tinham se
desviado de Deus e estavam longe Dele. Em outra parte no Novo
Testamento nos é dito que muitos sacerdotes se converteram a Deus (At
6:7). Assim, mesmo os sacerdotes, os que serviam a Deus, precisavam de
uma conversão a Deus. Portanto, João Batista foi usado para converter
muitos ao Senhor.

2. A Necessidade de a Natureza Ser Mudada


A palavra de João aos fariseus e saduceus que vieram a ele revela
nossa necessidade de ter nossa natureza mudada. Mateus 3:7 diz: “Vendo
ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-lhes:
Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?” Os fariseus
eram a facção religiosa mais severa dos judeus (At26:5), formada em
mais ou menos 200 a. C. Eles se orgulhavam de sua superior santidade de
vida, devoção a Deus e conhecimento das Escrituras. Na verdade, eles
estavam degradados a uma conduta pretenciosa e hipócrita (Mt23:2-33).
Os saduceus eram outra facção no judaísmo (At 5:17). Eles não criam na
ressurreição nem nos anjos nem nos espíritos (Mt 22:23; At 23:8).
Tanto os fariseus como os saduceus foram denunciados por João Batista e
o Senhor Jesus como raça de víboras (Mt 3:7; 12:34; 23:33). Os fariseus
consideravam-se os ortodoxos e os saduceus eram os modernistas
naquela época.
Em Mateus 3:8 e 9 João diz: “Produzi, pois, fruto digno do
arrependimento; e não comeceis a dizer entre vós mesmos:
Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras
Deus pode suscitar filhos a Abraão”. Devido à impenitência dos judeus,
tanto essa palavra como a do versículo 10 foram cumpridas. Deus cortou-
os e suscitou os crentes gentios para serem filhos de Abraão na fé (Rm
11:15, 19-20, 22; Gl 3:7, 28-29). A palavra de João nesse versículo indica
claramente que o reino dos céus pregado por ele não é constituído dos
filhos de Abraão por nascimento, mas dos filhos de Abraão pela fé. Assim,
esse é um reino celestial, não o reino terreno do Messias.
Os fariseus e os saduceus eram os líderes dos filhos de Israel.
Quando vieram a João Batista, com um tom de repreensão, ele os
chamou de raça de víboras. Víboras são serpentes venenosas. João
falou essa palavra aos judeus, a raça escolhida. Os filhos de Israel não
eram porcos pagãos. Eles consideravam os gentios como
porcos e a si mesmos como o povo santo. Mas quando os líderes desse
povo santo vieram a João, ele não disse: “Bem-vindos. Quão bom é que
vocês venham ao meu ministério. Que honra é para mim que vocês, os
líderes dos filhos de Israel, façam-me uma visita”. João não falou como
os pastores no cristianismo de hoje. Ele não agradeceu aos fariseus e
saduceus pela visita deles nem dirigiu-se a eles como líderes; antes,
chamou-os de raça de víboras. Você crê que os filhos de Israel, os
descendentes de Abraão, os chamados, poderiam ter- se tomado tão
maus?
João também disse a eles que não se atrevessem a dizer que tinham
75
Abraão por pai, porque Deus era capaz de suscitar das pedras filhos a
Abraão. João parecia dizer: “Não se atrevam a nada. Não presumam que
vocês são filhos de Israel tendo Abraão como pai. Deus é capaz de suscitar
filhos dessas pedras”. A palavra de João era uma forte indicação e mesmo
uma profecia do fato de que a era havia mudado. Porque a era havia
mudado, não era mais uma questão de nascimento natural, mas do
segundo nascimento, o nascimento espiritual. Embora possam ter nascido
uma pedra sem vida, Deus é capaz de fazê-los Seus filhos vivos. Aleluia!
isso é exatamente o que Ele fez conosco! Precisamos recordar nossa
condição antes de sermos salvos. No que diz respeito à vida, éramos
pedras sem vida. Mas quanto ao pecado, estávamos cheios e ativos no
pecado. Louvado seja o Senhor que no dia do nosso arrependimento
cremos no Senhor Jesus, e Deus nos fez Seus filhos vivos.
Pela palavra de João aqui, vemos que Deus estava preparado para
rejeitar essa raça de víboras, Seu povo escolhido anteriormente, e
procurar outro povo. Ele estava pronto para abandonar os filhos de Israel
e voltar às pedras, que eram principalmente os gentios. Embora fossem
pedras sem vida, os gentios foram destinados a tomar-se os filhos de
Deus. Isso prova que Deus é verdadeiramente capaz de fazer de cada
pedra sem vida um filho de Deus.
No versículo 10 João disse aos fariseus e saduceus: “Já está posto o
machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto,
é cortada e lançada ao fogo”. João parecia estar dizendo: “Raça de
víboras, o machado está agora cortando a raiz da árvore. Se vocês são uma
boa árvore produzindo bom fruto, tudo lhes estará bem. Senão, serão
cortados e lançados ao fogo”. Como veremos, o fogo mencionado nesse
versículo é o fogo no lago de fogo.

3. Cristo, O que Batiza


O versículo 11 diz: “Eu vos batizo com água, para arrependimento;
mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas
sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e
com fogo”. Neste versículo João parecia estar dizendo: “Eu vim batizar
vocês com água, para dar- lhes um fim, para sepultá-los. Mas Aquele que
vem após mim é mais poderoso do que eu. Ele os batizará com o Espírito e
com fogo. Se Ele batizará com o Espírito ou com o fogo dependerá de se
arrependerem ou não. Se vocês se arrependerem, Ele os colocará no
Espírito. Mas se continuarem a ser uma raça de víboras, certamente Ele
os batizará no lago de fogo. Isso significa que Ele colocará vocês no fogo
do inferno”.
De acordo com o contexto, o fogo aqui não é o fogo em Atos 2:3, que
está relacionado ao Espírito Santo, mas o mesmo fogo dos versículos 10 e
12, o fogo do lago de fogo (Ap 20:15), onde os incrédulos sofrerão perdição
eterna. A palavra de João aqui aos fariseus e saduceus significa que se eles,
de fato, se arrependessem e cressem no Senhor, Ele os batizaria no
Espírito Santo para que tivessem a vida eterna; caso contrário, o Senhor os
batizará no fogo, colocando-os no lago de fogo para punição eterna. O
76
batismo de João era unicamente para arrependimento, anunciando ao
povo a fé no Senhor. O batismo do Senhor é ou para vida eterna no
Espírito Santo ou para perdição eterna no fogo. O batismo do Senhor no
Espírito Santo deu início ao reino dos céus, levando para lá Seus crentes,
enquanto Seu batismo no fogo dará fim ao reino dos céus, colocando os
incrédulos no lago de fogo. Portanto, o batismo do Senhor no Espírito
Santo, baseado na Sua redenção, é o início do reino dos céus, enquanto Seu
batismo no fogo, baseado no Seu julgamento, é Sua conclusão. Portanto,
nesse versículo há três tipos de batismo: o batismo na água, o batismo no
Espírito Santo e o batismo no fogo. O batismo na água realizado por João
introduziu as pessoas no reino dos céus. O batismo no Espírito Santo por
Jesus deu início e estabeleceu o reino dos céus no dia de Pentecoste e
continuará até a sua consumação no final desta era. O batismo no fogo
realizado pelo Senhor, conforme o julgamento do grande trono branco
(Ap 20:11-15), finalizará o reino dos céus.
Alguns cristãos, pensando que o fogo no versículo 11 refere-se às
línguas de fogo no dia de Pentecoste, dizem que o Senhor batizará os
crentes com o Espírito Santo e com fogo. Mas devemos atentar ao
contexto desse versículo. Note que a palavra fogo é encontrada nos
versículos 10, 11 e 12. No versículo 10 as árvores que não produzem bons
frutos são cortadas e lançadas no fogo. Certamente esse fogo é o lago de
fogo. O fogo no versículo 11 deve também denotar o lago de fogo, porque é
uma explicação adicional do fogo citado no versículo anterior. De acordo
com o versículo 12, o Senhor queimará a palha em fogo inextinguível. O
trigo que é ajuntado no celeiro do Senhor são aqueles que estão colocados
no Espírito. Todavia, a palha é queimada com fogo. Certamente esse fogo
é também o lago de fogo. Portanto, o fogo mencionado nos versículos 10
a 12 refere-se, em todos os casos, ao mesmo fogo, o fogo do lago de fogo.
João parecia dizer aos líderes judeus: “Vocês, fariseus e saduceus, podem
ser capazes de me enganar, mas não a Ele. Se de fato se arrependerem, Ele
os colocará no Espírito. Mas se permanecerem na perversidade, Ele os
porá no fogo”. Esse é o entendimento correto desses versículos.
O versículo 12 diz: “A sua pá ele a tem na mão, e limpará
completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas. queimará
a palha em fogo inextinguível”. Os que são prefigurados pelo trigo têm a
vida interior. O Senhor os batizará no Espírito Santo e os ajuntará no Seu
celeiro nos céus por meio do arrebatamento. Os que são prefigurados pela
palha, como o joio em 13:24-30, não têm a vida. O Senhor os batizará
no fogo, colocando-os no lago de fogo. Palha aqui refere-se aos judeus
impenitentes, enquanto o joio no capítulo 13 diz respeito aos cristãos
nominais. O destino eterno de ambos será o mesmo perdição no lago de
fogo (13:40-42).
Jesus, o Rei, exerce dois tipos de batismo: o batismo no Espírito e
o batismo no fogo. O batismo no Espírito deu início ao reino dos céus, e
o batismo no fogo o concluirá. O início do reino dos céus foi no dia de
Pentecoste. Naquele dia Jesus, o Rei, batizou os crentes no Espírito
Santo. Por aquele batismo no Espírito, o reino dos céus começou. O reino
dos céus será finalizado com o julgamento do grande trono branco.
77
Naquele tempo os incrédulos serão julgados e lançados no lago de
fogo. Esse será o batismo no fogo. Esse batismo de fogo finalizará o
reino dos céus. O batismo na água praticado por João foi
preliminarmente para o reino dos céus. Foi a
reparação para a vinda do reino dos céus. Muitos cristãos nominais foram
batizados na água. Mas se participarão no batismo do Espírito ou sofrerão
o batismo no fogo dependerá do seu arrependimento. Se de fato
se arrependerem, o SenhorJesusos colocará no Espírito.
Senão, Ele, como o Juiz do grande trono branco, os lançará no lago de
fogo. Portanto,na Bíblia há três tipos de batismo: o batismo na
água, o batismo no Espírito e o batismo no fogo. O batismo na água de
João foi a preparação para o reino vir, o batismo no Espírito foi o
princípio do reino e o batismo no fogo será a terminação do reino.
Não devemos continuar a ser raça de víboras; nem devemos ser a palha
no capítulo 3 nem o joio no capítulo 13. Antes, devemos nos tornar o trigo,
os filhos vivos de Deus. Para nos tornarmos os filhos de Deus, devemos
ser batizados pela água para dentro do Espírito. Desse modo somos
regenerados. Portanto, temos dois tipos positivos de batismo, o batismo na
água e o batismo no Espírito. Mas não temos nada a ver com o batismo no
fogo.

D. A Maneira de Apresentar
Vimos o apresentador e a mensagem de apresentação. Agora
devemos considerar a maneira de apresentar.

1. Batizar as Pessoas na Água


O primeiro aspecto da maneira de João apresentar foi batizar as
pessoas na água. Os versículos 5 e 6 de Mateus 3 revelam que muitos
foram batizados por ele no rio Jordão, confessando seus pecados. Batizar
as pessoas é imergi-las, sepultá-las na água, significando morte. João
Batista fez isso para indicar que alguém que se arrepende não serve para
nada mais senão para ser sepultado. Isso também representa a
terminação da velha pessoa, para que um novo início possa ocorrer em
ressurreição, para ser levado a Cristo como o doador de vida.
Portanto, após o ministério de João, Cristo veio. O batismo de João
não apenas dava um fim àqueles que se arrependiam, ele também os
conduzia a Cristo para a vida. Batismo na Bíblia implica morte e
ressurreição. Ser batizado na água é ser introduzido na morte e ser
sepultado. Ser levantado da água significa ser ressuscitado da morte.
Foi no rio Jordão que doze pedras, representando as doze tribos
de Israel, foram sepultadas e foi dele que outras doze pedras,
representando as doze tribos, foram ressuscitadas e erigidas (Js4:1-18).
Portanto, batizaras pessoas no rio Jordão implicava o sepultamento do
velho ser delas e a ressurreição do novo. Assim como o cruzar do rio
Jordão introduziu os filhos de Israel na boa terra, ser batizado introduz
as pessoas em Cristo, a realidade da boa terra.
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Sempre que alguém se arrependia na presença de João, ele o
colocava na água. De acordo com o Novo Testamento, imergir alguém
na água primeiramente significava enterrá-lo, e em segundo ressuscitá-lo.
Assim, do lado negativo, o batismo significa morte e sepultamento; e do
lado positivo, ressurreição. Em sua mensagem de apresentação, João
indicou que Deus suscitaria filhos vivos de pedras mortas. Ao batizar os
arrependi dos, João indicou que eles e todo seu passado foram
terminados e sepultados. Sepultamento, entretanto, não era o fim, porque
resulta sempre em ressurreição. Assim, por um lado, sepultamento é
terminação, mas, por outro, é também germinação. Aqueles a quem João
terminou no batismo foram ressuscitados, não nele, mas Naquele que
vinha após ele. O batismo de João era um indicador de que Alguém estava
vindo para ressuscitar os mortos.
O batismo significa que nosso ser natural e todo nosso passado
devem ser terminados. Nosso ser e nosso passado são bons apenas para
serem enterrados. Portanto, quando João, o sacerdote genuíno, estava
levando os outros a Deus e introduzindo-lhes o Rei, ele terminava e
sepultava todos que vinham a ele em arrependimento, indicando por
meio disso que os que foram sepultados por ele seriam levantados pelo
Ressurreto. Essa é a maneira de apresentar o legítimo caminho para levar
os arrependi dos ao Rei que os ressuscitaria.
No Novo Testamento há dois ministérios: o ministério de João e o
ministério do Senhor Jesus. O ministério de João é levar os outros a Deus
terminando-os e sepultando-os. Esses terminados e sepultados necessitam
da ressurreição que apenas Cristo pode proporcionar. Por isso, Cristo veio
após João para ministrar vida para os mortos e sepultados. Essa é a razão
por que precisamos renascer, para ser batizados na água e no Espírito. Ser
batizado na água é ter nossa vida natural e nosso passado terminados. Ser
batizado no Espírito é ter um novo começo sendo germinados com a vida
divina. Essa germinação é possível apenas por meio de Cristo como o
Espírito que dá vida.
Alguém que é levado a Deus deve ser terminado em Sua presença.
Por um lado, é maravilhoso ser introduzido na presença de Deus. Mas,
por outro, significa que você deve ser terminado. Se não for terminado,
você será morto. Por isso, ser introduzido na presença de Deus é
maravilhoso e sério, porque significa que seremos terminados ou mortos.
Os dois filhos de Arão, Nadabe e Abiú, vieram à presença de Deus, mas
foram mortos pelo fogo (Lv 10:1-2). Estarmos dispostos a ser terminados
na presença de Deus significa que estamos prontos a ser germinados,
ressurretos, a ter um novo início. Essa terminação é a genuína maneira de
apresentação. É o caminho de preparação para levar-nos à presença do
Rei a fim de que Ele nos dê um novo início em ressurreição. Em Mateus
capítulo 3 temos urna forte terminação e uma germinação prevalecente.
Por meio dessa terminação e germinação, o Rei conquista um povo e o
povo recebe o Rei.

2. Preparar as Pessoas para Receber Cristo


79
O versículo 3 diz: “Porque este é o referido por intermédio do
profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do
Senhor, endireitai as suas veredas”. Este versículo revela que João Batista
foi alguém que preparou o caminho do Senhor e endireitou as Suas
veredas. Preparar o caminho do Senhor e endireitar as Suas veredas é
mudar a mente das pessoas, converter a mente delas ao Senhor e fazer
reto o coração delas, fazer com que cada parte e avenida seja endireitada
pelo Senhor mediante o arrependimento para o reino dos céus (Lc 1:16-
17). João Batista preparou o caminho e endireitou as veredas. Isso indica
que o caminho era acidentado, cheio de montanhas e vales. Em alguns
lugares era muito baixo, e em outros muito alto. Mas João veio e
pavimentou o caminho, aplainando os montes, preenchendo as brechas e
tornando o caminho regular e plano. João também endireitou as veredas
que eram cheias de curvas. O fato de João haver pavimentado o caminho
e endireitado as veredas significa que seu ministério trata com a mente e o
coração.
Considere seu passado antes de ser salvo. Não havia um caminho
irregular dentro de você? Certamente o caminho em sua mente estava
cheio de montanhas e vales. Antes de ser salvo, minha mente era repleta
de altos e baixos. Nada era plano. Ainda mais, nas alamedas do seu
pensamento, emoção, vontade e desejo, havia muitas curvas. Um dia
você dizia que sua esposa era um anjo, no dia seguinte que era um
demônio. Isso mostra que sua emoção era cheia de curvas. Antes de se
arrepender, todas as veredas dentro de você eram curvas; nada era reto.
Quando João Batista veio, ele ordenou às pessoas que se
arrependessem. O arrependimento genuíno prepara o caminho e endireita
as veredas. Antes de me arrepender, minha mentalidade era acidentada.
Mas, pela misericórdia do Senhor, no dia do meu arrependimento, todo
meu ser interior tornou-se aplainado. Desde a época do meu
arrependimento, cada avenida, alameda e vereda em meu ser tem sido
endireitada. Isso é para preparar- nos para receber o Senhor, para
preparar o caminho para o Senhor e endireitar as Suas veredas. O
caminho para preparar as pessoas para receber o Senhor é ajudá-los a se
arrependerem. João Batista parecia estar dizendo: “Vocês, filhos de Israel,
estão muito longe do Senhor. Sua mente é um caminho acidentado,
e sua emoção, vontade, desejo e intenção são veredas curvas. Vocês
precisam se arrepender e endireitar cada avenida dentro do seu ser para
que o Senhor possa entrar”. Quando muitos ouviram a palavra de João,
eles se arrependeram e seu caminho foi pavimentado e suas veredas
endireitadas. Portanto, o Rei pôde entrar. Esse é o verdadeiro
arrependimento. O genuíno arrependimento prepara o caminho para o
Senhor entrar como Rei. Posso testificar que ao longo desse caminho
pavimentado e nessas veredas endireitadas, continuamente eu desfruto o
Senhor. Meu caminho está pavimentado, o Senhor Jesus está andando
dentro de mim, e junto à minha vereda endireitada sempre tenho o
Senhor Jesus comigo. Esse é o caminho para preparar-nos para
receber Cristo, o Rei.

80
MENSAGEM 10

A UNÇÃO DO REI (3)

Nesta mensagem chegamos finalmente à unção do Rei (3:13-17).

II. UNGIDO

A. Por Intermédio do Batismo


O versículo 13 diz: “Por esse tempo, dirigiu-se Jesus da Galiléia para
o Jordão, a fim de que João o batizasse”. As duas palavras cruciais desse
versículo são Galiléia e Jordão. Esse versículo não diz que Jesus foi de
Belém a Jerusalém para ser santificado. Diz que Ele veio da Galiléia ao
Jordão para ser batizado. Precisamos considerar o significado da frase
“da Galiléia para o Jordão”. Não é fácil ver por que Jesus não veio de
Belém, mas da Galiléia, e não foi a Jerusalém, mas ao Jordão. Também
precisamos ver porque Ele foi a João, que era uma pessoa “selvagem”, e
não ao sumo sacerdote que deveria ser uma pessoa culta e religiosa. Ainda
mais, precisamos saber por que Ele veio para ser batizado, não para ser
santificado.

1. Veio da Galiléia
No Novo Testamento, a Galiléia, uma região desprezada, significa
rejeição. Jesus não veio de Belém porque naquele tempo Belém era um
lugar de honra e benquisto. Se você viesse de Belém, todos o honrariam e
lhe dariam boas-vindas calorosas. Mas se viesse da Galiléia, todos o
desprezariam e rejeitariam. Jesus veio de tal lugar desprezado e rejeitado.
Esse lugar não foi rejeitado por Deus, mas foi rejeitado pela religião e
cultura. Todos aqueles que vem à restauração do Senhor não procedem
de Belém, antes, procedem da Galiléia. Não tente vir de um lugar de
honra e benquisto, mas venha de um lugar que é desprezado e rejeitado
pela religião e cultura. Mesmo se o presidente de uma nação tomasse o
caminho da igreja, ele também teria de ser alguém vindo da Galiléia para
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o Jordão. Por muitos anos de atenção e observação, tenho visto que os de
classe social alta que se voltaram ao caminho da igreja foram desprezados
e rejeitados pela religião e cultura presente. Estou convicto de que se você
ainda é honrado e saudado pela religião e cultura atual, não está no
caminho da Galiléia para o Jordão. O caminho da Galiléia para o Jordão
é o caminho correto para a igreja. O caminho da vida da igreja hoje não é
o de Belém para Jerusalém; é o da Galiléia para o Jordão.
O caminho da igreja é um caminho estreito. Ainda que não
houvesse oposição à restauração do Senhor, antes uma grande apreciação
de todas as organizações cristãs, o número daqueles que se voltariam
ao caminho da igreja ainda seria quase o mesmo de hoje, simplesmente
porque o caminho da igreja é um caminho estreito. Quando alguns
ponderam a respeito da igreja, podem dizer: “Esse é o reino dos céus.
Certamente esse caminho deve ser muito elevado”. Embora esse caminho
seja elevado, não é de acordo com o seu conceito. Antes, é uma estrada da
Galiléia para o Jordão.

2. Veio ao Jordão
Como enfatizamos, o Jordão era um lugar de sepultamento e
ressurreição. Assim, o Jordão significa terminação e germinação. Os filhos
de Israel viajaram pelo deserto por quarenta anos, e por fim foram todos
enterrados no rio Jordão. Portanto, o Jordão terminou, finalizou a
história deles de peregrinação no deserto, e concluiu a era de
peregrinação. Mas o Jordão também deu-lhes um novo início, fê-los
brotar e conduziu-os à uma nova era. Foi o Jordão que fez sair os filhos de
Israel do deserto e entrar na boa terra, que é Cristo. Esse é o significado
do Jordão.
Na vida da igreja hoje nosso caminho é o da Galiléia para o Jordão,
o caminho da rejeição à terminação e ressurreição. Todos precisamos
dizer àqueles que nos desprezam e rejeitam: “Adeus. Não tentarei mais
ser bem recebido por vocês. Irei ao lugar onde posso ser terminado e
germinado”. Na vida da igreja não há honra; antes, há terminação.
Dia após dia somos terminados. Na igreja temos uma mútua terminação.
Terminamos uns aos outros todos os dias, até mesmo cada dia. Mas é
bom ser terminado. A terminação não é o fim, é o princípio, porque a
terminação sempre leva à germinação. Portanto, podemos testificar que
cada terminação toma-se uma germinação.
Algumas vezes as irmãs dizem: “Irmão Lee, a vida da igreja é
maravilhosa, mas é muito difícil para nós, irmãs. Sabemos que os irmãos
são os cabeças e que as irmãs devem submeter-se a eles. Os irmãos
são bons, mas são também muito fortes. Não podemos suportá-los.
Muitas vezes eles quase nos matam”. Sempre que ouço isso, digo: “Isso
não é bom? Quão bom é ser terminado. Não é bom as irmãs serem
mortificadas pelos irmãos?”
Poucos anos atrás fui convidado por determinada igreja. Os irmãos
de lá me disseram que as irmãs eram tão emocionais e cheias de opiniões
que estavam encontrando muita dificuldade para ter comunhão com elas.
82
Eles simplesmente não sabiam como lidar com aquela situação. Alguns
dias depois, algumas das muitas irmãs em questão convidaram- me para
almoçar. O propósito delas ao fazer isso era ter uma oportunidade de
expressar sua opinião. Disseram-me que sua paciência estava esgotada
porque os irmãos eram tão fortes. Elas queriam que lhes desse a maneira
de continuar. Alguns dias antes eu havia sido pressionado pelos irmãos,
mas agora estava sendo pressionado pelas irmãs. Vi que aquela era uma
terminação terrível e séria tanto para os irmãos como para as irmãs. Os
irmãos e as irmãs estavam sendo terminados. Mas aquela mútua
terminação é muito positiva. Você não ama ser terminado? Se você nunca
foi terminado na vida da igreja, prepare-se. Asseguro-lhe que aqui todos
seremos terminados, porque estamos no caminho da Galiléia para o
Jordão.
Quando os novos irmãos vêm para a vida da igreja, dizem: “Aleluia!
Eu vi a vida da igreja! Que maravilhoso!” Sempre que ouço isso, digo por
dentro: “Sim, é maravilhoso, mas espere por algum tempo. Cedo ou tarde,
essa maravilhosa vida da igreja terminará você”. Na vida da igreja tenho
sido terminado dezenas de vezes. Experimentei pelo menos dez grandes
terminações. Fui terminado em Chefoo, Xangai, Taipé, Manila, Los
Angeles e Anaheim. A esplêndida vida da igreja certamente é uma
vida de terminação. A maravilhosa vida da igreja termina com todos nós.
Prepare-se para ser terminado. Os que estão na igreja por apenas um
curto período, provavelmente estão ainda na lua de mel da igreja. A lua de
mel é ótima. Mas como todos os casais sabem, a lua de mel por fim
transforma-se em terminação. Quase todos os maridos terminaram com a
esposa, e todas as esposas terminaram com o marido. Mas essa
terminação é muito positiva porque leva à germinação. Aleluia,
terminação resulta em ressurreição.
A vida da igreja realmente é maravilhosa, mas não segundo os
nossos conceitos. A maravilhosa vida da igreja mais cedo ou mais tarde
terminará com todos nós. Ela terminará e germinará você. Asseguro- lhe
que tudo o que você é, tudo o que você tem e tudo o que pode fazer será
terminado. Pode levar dez anos de história para completar isso. Os que
estão na igreja por dez anos podem testificar que cada parte do seu
ser tem sido terminada. Quanto mais tempo estamos na igreja, mais
somos terminados. A princípio, a experiência de terminação é amarga.
Mas depois toma-se doce. Hoje para mim é doce ser terminado. Após
alguns anos sendo terminado na vida da igreja, você ficará feliz por isso
ocorrer. No início quando é terminado na vida da igreja você se sente
envergonhado. Gradualmente, entretanto, isso toma-se uma experiência
doce. Estamos no caminho da Galiléia para o Jordão, do lugar de
rejeição ao lugar de terminação.
É nesse lugar de terminação que encontramos o Rei. Aqui, na vida
da igreja, é onde O encontramos. Desde quando vim para a vida da igreja,
tenho sido levado ao Senhor mais e mais. Dia após dia, a vida da igreja
leva-me a Cristo e traz Cristo, o Rei, a mim. Finalmente, o reino está aqui.
Essa é a razão porque a vida da igreja é o reino.
Fui ensinado pelos Irmãos Unidos que o reino foi suspenso até um
83
tempo no futuro. Também que a igreja hoje não era o reino. Mas em
minha experiência gradualmente percebi que todas as vezes que fui
terminado fui levado ao Rei e o Rei foi trazido a mim. Em minha
experiência essa era a realidade do reino. Foi por intermédio da
experiência que pela primeira vez vim a conhecer que a vida da igreja é o
reino. Minha experiência me disse que o ensinamento que recebi dos
Irmãos Unidos com respeito ao reino não era correto. De acordo com a
minha experiência, sabia que estava no reino. Cada vez que era
terminado, eu encontrava o meu Rei, e o reino estava presente.
Isso não é uma questão de doutrina; é uma questão de experiência.
Mais tarde, estudando o Novo Testamento, recebi luz nessa questão, e a
minha experiência foi confirmada. Agora posso ousadamente dizer que
de acordo com o Novo Testamento o reino está aqui hoje. Porque não
têm sido terminados, alguns mestres cristãos dizem que o reino foi
suspenso até algum tempo no futuro. Eles não foram levados ao Rei, e o
Rei não foi trazido a eles. Assim, em sua experiência diária, eles não têm o
reino. Entretanto, após vocês terem sido terminados no caminho da
Galiléia para o Jordão, o Rei e o reino estarão presentes.

3. Batizado por João


O Senhor Jesus veio da Galiléia para o Jordão para ser batizado
por João. Como um homem, o Senhor Jesus veio para ser batizado por
João Batista conforme a maneira de Deus no Novo Testamento. Dos
quatro Evangelhos apenas João não dá um registro do Senhor sendo
batizado, porque ele testifica que o Senhor é Deus. Mateus 3:13 não diz
que Jesus veio a João para ser santificado; diz que Ele veio para ser
batizado. Embora muitos cristãos gostem de ser santificados, ninguém
gosta de ser batizado no sentido de ser terminado e sepultado. Ser
batizado é ser terminado. Se lhe dissesse que a igreja não o santificará,
antes o terminará, você fugiria da igreja e diria: “Não quero ficar aqui.
Quero ser santificado. Quero que a igreja faça-me mais santo”. Mas a
igreja primeiramente não o tornará mais santo, ela o terminará mais e
mais.
A igreja não é primeiramente uma igreja que santifica, mas que
batiza. Considere o caso do Senhor Jesus. Ele era o verdadeiro Pastor. Um
pastor sempre toma a liderança. Como o Rei-Pastor, o Senhor Jesus
tomou a liderança de andar da Galiléia para o Jordão a fim de ser
batizado. Ele não veio ao

4. Para Cumprir Toda a Justiça


Jordão para ser entronizado, mas para ser colocado na morte, para
ser sepultado.
Os versículos 14 e 15 dizem: “Ele, porém, o dissuadia, dizendo: Eu é
que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim? Mas Jesus lhe
respondeu: Deixa por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a
justiça. Então ele o admitiu”. João não entendeu muito bem; ele se
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perguntou como Jesus poderia ser batizado por ele, e achou que ele é que
deveria ser batizado por Jesus. Isso indica que João estava ainda um tanto
em sua vida natural. Embora ti vesse sido saturado do Espírito Santo por
mais de trinta anos, algum elemento natural ainda permanecia. Sua
palavra no versículo 14 foi proferida totalmente de acordo com o seu
conceito natural. Assim, ao responder-lhe, o Senhor parecia dizer: “Você
deve permitir-Me ser batizado. Não me frustre por causa do seu conceito
natural. Não pense que porque sou mais poderoso não preciso ser
batizado por você. Permita-me ser batizado para que possa cumprir toda
justiça”.
Justiça é ser justo ao viver, andar e fazer as coisas da maneira que
Deus ordenou. No Antigo Testamento, justiça era guardar a lei dada por
Deus. Agora Deus enviou João Batista para ordenara batismo. Ser
batizado é também cumprir a justiça perante Deus, isto é, cumprir as
exigências de Deus. O Senhor Jesus veio a João, não como Deus, mas
como um homem típico, um verdadeiro israelita. Portanto, Ele deve ser
batizado para guardar essa prática dispensacional de Deus; do contrário,
Ele não seria justo com Deus.
Justiça é uma questão de ser justo com Deus. Suponha que Deus
abra uma porta no teto de uma sala e diga que aquela é a maneira
apropriada de entrar lá. Alguém que não entra na sala através daquela
porta não é justo com Deus. Tal vez você diga: “Não concordo em entrar
na sala através daquela porta. De acordo com a minha concepção, essa
porta não está certa. A porta da frente ou a do lado é a porta correta”. Sua
maneira pode estar certa aos seus olhos, mas não aos olhos de Deus.
Justiça não é uma questão da sua opinião; é uma questão da ordenação de
Deus.
Na época de João Batista, o batismo era a maneira ordenada por
Deus. Alguém que quisesse entrar no reino dos céus tinha de passar pelo
portão do batismo de João. Nem mesmo Jesus Cristo poderia ser uma
exceção. Mesmo Ele teve de passar por esse portão. Caso contrário, Ele
teria faltado com a justiça de passar por essa entrada. Depois que o
Senhor respondeu-lhe dessa maneira, João entendeu e O batizou.
Ser batizado é ser justo aos olhos de Deus. A terminação e a
germinação são justiça diante de Deus. Quem foi batizado, terminado,
germinado, é justo para com Deus. A economia de Deus é terminar nosso
homem natural e germinar-nos com uma nova vida. Se quisermos ser
justos para com Deus, devemos ser terminados em nossa vida natural e
germinados com Sua vida divina. A terminação e a germinação são a mais
elevada justiça. O Senhor Jesus, como o Rei do reino dos céus tomou a
liderança para ser terminado. Desse modo, Ele cumpriu a justiça aos olhos
de Deus. Assim, Ele era a pessoa correta para estabelecer o reino dos céus.
O Senhor foi batizado não apenas para cumprir a justiça segundo a
ordenação de Deus, mas também para permitir a Si me mo ser colocado
na morte e ressurreição para que pudesse ministrar, não de uma maneira
natural, mas em ressurreição. Ao ser batizado Ele viveu e ministrou em
ressurreição mesmo antes da Sua efetiva morte e ressurreição três anos e

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meio depois. Segundo o nosso entendimento, o Senhor Jesus foi levado à
morte na cruz e ressuscitou no terceiro dia. Mas aos olhos de Deus e de
acordo com a percepção do Senhor, Ele foi posto na morte três anos e
meio antes da Sua crucificação.
Antes de iniciar Seu ministério, Ele já foi colocado na morte e
ressuscitou. Assim, Ele não ministrou de uma maneira natural. Seu
ministério foi absolutamente em Sua vida de ressurreição. Por isso, Ele
entrou. pelo portão da justiça e percorreu a vereda da justiça. Tudo o que
Ele fez nesse caminho foi justo.
Quando o Senhor Jesus voltar, muitos Lhe dirão: “Senhor, Senhor!
Porventura, não temos profetizado em teu nome, e em teu nome não
expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?”
(7:22). O Senhor dirá a eles: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os
que praticais a iniqüidade” (7:23). O Senhor parecerá dizer: “Você é um
iníquo. Nunca o aprovei nem concordei com o que fez, porque não fez
em ressurreição. Todas as coisas boas que realizou foram em seu homem
natural e em sua vida natural. Você não é justo; você é iníquo”. Por
intermédio do batismo, o Senhor Jesus entrou pelo portão da justiça,
então percorreu continuamente o caminho da justiça. Portanto, Ele era o
Justo, a Justiça (At3:14; 7:52; 22:14).

B. Com o Espírito Santo


Mateus 3:16 diz: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se Lhe
abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo
sobre Ele”. Jesus não apenas foi ungido por meio do batismo, mas Ele foi
também ungido com o Espírito Santo.

1. Levantado da Água
Em Seu batismo o Senhor foi levantado da água. Isso significa que
após Sua morte e sepultamento, Ele foi levantado da morte.

2. Os Céus Foram Abertos para Ele


O batismo do Senhor para cumprir a justiça de Deus e para ser
colocado na morte e ressurreição trouxe-Lhe três coisas: os céus abertos,
a descida do Espírito de Deus e o falar do Pai. O mesmo deve ocorrer
conosco hoje.
Porque o Senhor Jesus foi batizado, cumprindo a justiça de Deus, os
céus foram abertos para Ele, o Espírito Santo desceu sobre Ele e o Pai
falou a respeito Dele. O fato de ser batizado para cumprir a justiça de
Deus agradou a Deus. Assim, Seu batismo abriu os céus, trouxe o Espírito
Santo e abriu a boca do Pai. O caminho para que tenhamos um céu aberto,
a descida do Espírito e o falar do Pai é ser terminado. Muitos de nós
podem testificar que sempre que temos sido terminados, os céus têm
sido abertos. Ao contrário, sempre que fomos bem acolhidos e honrados,
os céus se fecharam. Quando somos terminados na vida da igreja, os
86
céus são abertos. Ainda mais, cada terminação faz descer o Espírito
Santo e abre a boca do nosso Pai celestial. Nessa hora o Pai dirá: “Meu
amado”. Posso testificar que os momentos mais doces do falar de
Deus para mim foram os momentos de terminação. Talvez estivesse
terminado em lágrimas, mas minha terminação abriu a boca do Pai, que
me falou uma palavra doce. Ele apenas disse: “Meu filho amado”. Essa
simples palavra é suficiente. É cheia de misericórdia e graça. Que alívio e
força é Ele dizer: “Meu amado filho”. Na vida da igreja temos muitas
experiências como essa.
Porém, raramente tais coisas acontecem fora da igreja. Na vida da
igreja, quando somos terminados, os céus são abertos, o Espírito vem e o
Pai fala. Temos um céu aberto, um Espírito ungindo e um Pai falando.

3. O Espírito de Deus Desceu sobre Ele


O versículo 16 diz: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se
Lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba,
vindo sobre Ele”. Antes de o Espírito de Deus descer e recair sobre Ele, o
Senhor Jesus nasceu do Espírito (Lc 1:35), o que provava que Ele já tinha
o Espírito de Deus dentro Dele. Isso foi para o Seu nascimento. Agora,
para o Seu ministério, o Espírito de Deus desceu sobre Ele. Isso foi para o
cumprimento de Isaías 61:1; 42:1 e Salm0 45:7, para ungir o novo Rei e
apresentá-lo a Seu povo.
Uma pomba é simples, e seus olhos podem ver apenas uma coisa de
cada vez. Portanto, a pomba representa simplicidade e singeleza na visão
e propósito. Porque o Espírito de Deus desceu como pomba sobre Ele, o
Senhor Jesus ministrou em simplicidade e singeleza, voltado unicamente
à vontade de Deus.
O Senhor Jesus foi concebido do Espírito Santo (1:18, 20). Ele
nasceu do Espírito Santo e foi constituído Dele. a Espírito Santo era Seu
constituinte. Entretanto, Ele ainda precisava do batismo do Espírito
Santo, do Seu derramar. Quando estava no ventre da virgem Maria, Ele
foi constituído com o Espírito Santo. Isso significa que Ele era uma
constituição do Espírito Santo. Aquilo era algo interior. Exteriormente,
Ele ainda precisava do Espírito Santo para derramar-se sobre Ele.
Visto que o Espírito já estava em Jesus antes de Ele ser batizado,
por que o Espírito desceu sobre Ele? São dois Espíritos? a Espírito de
Deus não estava em Jesus? Certamente estava. Então, por que o Espírito
ainda desceu sobre Ele? a Espírito que estava dentro Dele era diferente
do Espírito que desceu sobre Ele? a Espírito que desceu sobre Ele é outro
Espírito além daquele que já estava dentro Dele? Se disser que esses dois
eram um Espírito, eu perguntaria como esses dois Espíritos podem ser
um. O mesmo Espírito que já habitava no Senhor Jesus desceu sobre Ele.
Jesus tinha ou não o Espírito? Sim, Ele tinha. Por que então o Espírito
ainda desceu sobre Ele? Estou aqui com você. Uma vez que estou aqui,
como ainda poderia vir a você? Embora não seja possível para eu estar
aqui e contudo ainda estar vindo, não é impossível quanto à Pessoa
divina. O Senhor é maravilhoso. Ao mesmo tempo, Ele tanto pode estar
87
aqui como estar vindo. Cristo está em você ou Ele está nos céus? Ele
está tanto em nós como nos céus. Assim, o Senhor tanto está aqui como
está vindo.

4. O Pai Falou a Ele


O versículo 17 diz: “E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o Meu
Filho amado, em quem Me comprazo”. Enquanto a descida do Espírito
era o ungir de Cristo, o falar do Pai era um testemunho Dele como o Filho
amado. Aqui está uma figura da Trindade divina: o Filho saiu da água, o
Espírito desceu sobre o Filho e o Pai falou quanto ao Filho. Isso prova
que o Pai, o Filho e o Espírito existem simultaneamente. Isso
é para o cumprimento da economia de Deus.

88
MENSAGEM 11

A UNÇÃO DO REI (4)

III. TESTADO
Nesta mensagem chegamos ao teste do Rei recém-designado (4:1-
11). Após ter sido ungido, o Senhor foi testado. Na administração de Deus
a seqüência é sempre escolha, unção e teste. Há uma ilustração disso na
vida conjugal. Antes de se casar, você certamente fez uma escolha. Entre
os muitos com os quais poderia ter casado, você escolheu um. Após a
escolha, veio a designação e após a designação veio o teste. Quase todos os
casais são malsucedidos no teste conjugal. Embora sejamos bem-
sucedidos na designação, não o somos no teste.
Depois que o Rei celestial foi ungido e designado, foi levado pelo
Espírito Santo ao deserto para ser testado. Ele não foi ao deserto por Si
mesmo; Ele foi guiado até lá pelo próprio Espírito Santo que desceu sobre
Ele. Na vida conjugal, Deus também nos conduzirá ao teste. Um bom
número de irmãos e irmãs jovens se queixam para Deus, dizendo:
“Senhor, antes de me casar eu orei tanto. Por fim Tu me disseste que era
Tua vontade que eu casasse com essa pessoa, que era essa quem tinhas
preparado para mim. Senhor, Tu sabes que no início eu não estava
interessado, mas pela Tua soberania Tu providenciaste para que nos
uníssemos. Mas olhe para a situação hoje. Olhe para essa pessoa que
Tu me deste. Tu erraste, ou eu?” Nem o Senhor nem você errou. Esse é o
teste do Senhor.
Creio que todos os casamentos são soberania, até
mesmo aqueles que parecem ser os mais errados. Nada acontece aos filhos
de Deus sem a Sua permissão soberana. Sabemos que todas as coisas
cooperam para o nosso bem (Rm 8:28), incluindo até aqueles casamentos
aparentemente errados. Quem sabe qual é o casamento certo? Tenho
experiência de muitos anos na vida conjugal. Quarenta e cinco anos atrás,
poderia falar a outros definitivamente, claramente e enfaticamente qual era
o casamento certo. Mas se me perguntasse hoje, eu diria: “Não posso sabê-
lo até que entremos na eternidade. Após tantos anos de experiência na vida
conjugal, sinceramente não sei o que é um casamento certo”. Mas aprendi
que todo casamento sob a soberania de Deus é correto. Portanto, todos
vocês têm o casamento certo. Irmão, sua esposa é a esposa certa para você.
Irmã, seu marido é o marido certo para você. Se crê nisso ou não, você não
pode fugir da sua situação. Depois de alguns anos de casado, os jovens e os
de meia-idade podem concluir que cometeram um erro e que se pudessem
fazê-lo de novo o fariam diferentemente. Posso assegurar-lhe que mesmo se
pudesse fazer de novo muitas vezes, você ainda sentiria que cometeu um
erro. Quase todos aqueles que estão para se casar pensam que fizeram a
escolha certa, mas após alguns anos por vezes sentirão que cometeram um
erro. A razão para isso é que Deus testa-nos na vida matrimonial.
O Senhor nos testa não apenas na vida conjugal, mas também na
89
vida da igreja. No princípio experimentamos uma lua-de-mel na vida da
igreja. Estávamos desfrutando a vida gloriosa da igreja e tudo era
maravilhoso. Contudo mais cedo ou mais tarde seremos testados. Cada
irmão que é posto na liderança é testado, e o teste geralmente vem de
outros líderes. Talvez no início em sua localidade você fosse oúnico líder.
Você estava procurando por alguns outros para ajudá10, e mais tarde dois
foram acrescentados. Após vários meses, os três foram testados uns pelos
outros. O Senhor permite isso. Na economia de Deus, após sermos
designados para alguma coisa, sempre seremos testados. Se o Senhor
Jesus precisou de um teste, que dizer de nós?
Por muitos anos não fui capaz de entender completamente esta
porção da Palavra. Embora tenha ouvido várias mensagens a respeito
dessa passagem, nenhuma delas verdadeiramente tocou o ponto
principal. Para termos um completo entendimento precisamos ver que na
economia de Deus sempre seremos testados após termos sido ungidos e
designados para alguma coisa. Nem mesmo o Senhor Jesus foi uma
exceção. Como veremos, em princípio, todos os testes são o mesmo.

A. Levado pelo Espírito


Mateus 4:1 diz: “Então foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto
para ser tentado pelo diabo”. Após ser batizado na água e ungido com o
Espírito de Deus, Jesus, como um homem, moveu-se conforme a
liderança do Espírito. Isso indica que Seu ministério real em Sua
humanidade estava de acordo com o Espírito.
Antes de tudo, o Espírito liderou o Rei ungido para ser tentado pelo
diabo. Essa tentação era um teste para comprovar que Ele estava
qualificado para ser Rei do reino dos céus. A palavra grega traduzida para
diabo é diabolos, que significa acusador, difamador (Ap 12:9-10). O
diabo, que é Satanás, nos acusa diante de Deus e nos difama diante do
homem.

B. Jejuou Quarenta Dias e Quarenta Noites


O versículo 2 diz que o Senhor jejuou quarenta dias e quarenta
noites. Esses quarenta d9:9, 18; 1Rs 19:8). O Rei recém ungido foi levado
pelo Espírito para jejuar por tal período para que pudesse assumir Seu
ministério real.

C. As Tentações do Tentador
1. Transformar Pedras em Pães
O primeiro teste foi na questão do vi ver humano, na questão
essencial do viver. Nossos parentes em geral, especialmente os da geração
mais antiga, sempre se preocupam em como ganharemos a vida. Eles
podem dizer: “Está certo amar o Senhor, mas não O ame de uma maneira
tola. Você deve considerar sua necessidade de ganhar bem a vida”.
90
Quando em 1933 fui encarregado pelo Senhor e dirigido por Ele a deixar
meu emprego, meus parentes disseram: “Você tem um bom emprego.
Está ganhando um bom dinheiro para cuidar da sua família e ajudar os
outros. Você pode falar aos domingos e se ocupar com reuniões à noite
durante a semana. Por que deve largar seu emprego? Muitos desejam
ansiosamente um emprego como esse, mas não têm oportunidade de obtê-
lo. Mas você o está abandonando. Perguntamos como você será capaz de
sustentar-se. Não sabemos como cuidará da sua esposa e filhos”. Eu não
dei ouvidos ao conselho deles, e eles não conseguiram desencorajar-me a
deixar o emprego para servir o Senhor em tempo integral. Muitas vezes
minha parentela até mesmo enviou seus filhos pequenos para espiar nossa
cozinha para ver se tínhamos o que comer. Eles estavam preocupados que
pudéssemos estar morrendo de fome. A questão do nosso viver toca-nos
profundamente, e até mesmo o Senhor Jesus foi testado quanto a isso.
O Senhor foi levado a jejuar por quarenta dias e quarenta noites.
Após esses quarenta dias e quarenta noites, Ele estava fisicamente
faminto, e o tentador veio aEle e disse: “Se és Filho de Deus, manda que
estas pedras se transformem em pães” (v. 3). A essa proposta o Senhor
respondeu: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que
procede da boca de Deus” (v. 4). Muitos cristãos pensam que porque
estava jejuando nesse tempo o Senhor não comeu nada. Entretanto, essa
palavra revela que enquanto o Senhor Jesus estava jejuando, Ele estava
comendo. Fisicamente Ele estava jejuando, mas espiritualmente Ele
estava comendo.
Aqui vemos um princípio importante. No ministério e economia do
Senhor, se não soubermos como reduzir nossas necessidades físicas e
cuidar da necessidade espiritual, não estamos qualificados para o Seu
ministério. Para sermos qualificados no ministério do Senhor, devemos
ser testados. Devemos renunciar às nossas exigências físicas. Uma boa
vida, boa comida, boas roupas e moradia adequada são todos secundários.
Comer o alimento espiritual é primário. Imediatamente após Seu batismo,
o Senhor Jesus foi levado a uma situação onde poderia declarar a todo o
uni verso que Ele não se importava com as necessidades físicas, mas que
se importava apenas com as necessidades espirituais. Por quarenta dias e
quarenta noites, Ele renunciou a todo alimento físico, esquecendo-se das
exigências físicas. Todavia, Ele cuidou da necessidade espiritual. Embora
não tenha comido para nutrir Seu corpo, Ele comeu muito para o sustento
do Seu espírito. Satanás estava absolutamente errado ao pensar que o
Senhor Jesus não comeu naqueles dias no deserto. Enquanto estava
jejuando do alimento físico, estava comendo do alimento espiritual. Esse é
o teste na questão do nosso vi ver.
Muitas esposas não são capazes de resistir a esse teste. Toda esposa
é muito preocupada com sua segurança. As esposas desejam ter uma boa
alimentação, roupa e moradia. Em outras palavras, elas desejam uma boa
vida. Isso tomou-se um problema para muitos irmãos. Embora tivessem
um coração para tomar o caminho da igreja, suas esposas não estavam
dispostas a segui-los porque não havia garantia de uma vida boa. Muitos
de nós podem testificar que, quando no início tomamos o caminho da
91
igreja, nossas esposas disseram: “E quanto ao nosso futuro? E quanto ao
nosso viver? E quanto à nossa alimentação, roupa e moradia?” Esse é um
teste que devemos enfrentar se quisermos tomar o caminho da igreja e
andar no caminho da economia de Deus.
O primeiro teste pelo qual devemos passar é o teste com respeito ao
nosso vi ver. Devemos nos importar com o alimento espiritual mais do
que com o alimento físico. Se vivemos ou morremos é secundário. Apenas
nos preocupamos em que o nosso espírito seja alimentado, que nosso
espírito deleite-se na Palavra de Deus, no próprio Deus.
Alguns pastores, missionários e mestres da Bíblia viram o caminho
da igreja e conversaram claramente comigo sobre isso. Entretanto,
percebendo que esse caminho é estreito, ficaram preocupados com o que
aconteceria com sua vida se o seguissem. As esposas de muitos desses
amados simplesmente não concordavam que o marido tomasse esse
caminho estreito. Sabiam que o padrão de vida delas seria reduzido, caso
seguissem o caminho da igreja.
Há quarenta e cinco anos, na China, esse
caminho de fato era estreito e estávamos diariamente sendo testados
quanto ao nosso viver. Freqüentemente
apenas um dólar livrava alguns de nós de nada ter para comer. A fim de
tomar esse caminho estreito, tínhamos de viver pela fé em Deus. Embora
fosse difícil, vivemos pela fé por muitos anos. Posso testificar que
banqueteamos em Deus e na Sua Palavra naqueles dias de teste quando
nosso padrão de vida foi grandemente reduzido. Nossa experiência era a
mesma que a do Senhor Jesus no deserto. Ele não escolheu ir ao
deserto nem foi para lá pela Sua própria preferência. Ele foi
levado pelo Espírito Santo. Semelhantemente
fomos levados por Deus ao deserto da vida da igreja. Cinqüenta anos
atrás, a igreja verdadeiramente estava no deserto. Quase
todos os dias éramos testados quanto ao que
comeríamos à noite. Mas aquela foi a época em que desfrutamos um
banquete na Palavra de Deus. Por um lado, não tínhamos muito
alimento físico para comer, mas, por outro, banqueteamos na rica Palavra.
A princípio é o mesmo hoje na vida da igreja. Ao tomar o caminho da
igreja, o primeiro teste que encontraremos é o de reduzir nosso padrão de
vida. Esse é o teste na esfera do nosso viver físico. Todos os que tomarem
o caminho da igreja serão testados nessa questão do seu viver diário.
Seremos testados a
mostrar a todo o universo que nossa preocupação não está no alimento
físico, mas no alimento espiritual. Naqueles dias no deserto, Jesus não
estava preocupado com o Seu alimento físico, mas com a Sua comida
espiritual. Fisicamente Ele estava jejuando, contudo estava se
alimentando da Palavra de Deus. No deserto Ele não vi via só pelo pão,
Ele vivia pela Palavra de Deus.

a. Tentado a Abandonar a Posição de Homem para


Admitir Ser o Filho de Deus
92
Agora chegamos ao ponto principal do primeiro teste. Na época do
batismo de Cristo, o Pai abriu os céus e declarou: “Este é o Meu Filho
amado” (3:17). Uma voz do céu declarou que um pequeno homem de
Nazaré era o Filho amado de Deus, o Pai. Imediatamente depois que essa
declaração foi feita, o Espírito Santo levou esse homem ao deserto a fim
de ser testado para ver se Ele se preocuparia com Sua vida física ou com
Sua vida espiritual. Então, baseado na declaração de Deus, o Pai, o
tentador veio tentar esse homem, dizendo: “Se és Filho de Deus, manda
que estas pedras se transformem em pães” (v. 3). Satanás parecia dizer:
“Ouvimos, quarenta dias atrás, a declaração de Deus, o Pai, que Você era o
Filho amado. Agora se Você é realmente o Filho de Deus, faça algo para
provar. Simplesmente diga: 'Pedras, quero que se transformem em pães.
Se é o Filho de Deus, Você deve provar a Si mesmo e a mim e a todos em
todo o universo fazendo algo que ninguém mais pode fazer”.
O Rei recentemente ungido jejuou em Sua humanidade, mantendo-
se na posição de um homem. Entretanto, Ele era também o Filho de
Deus, como Deus, o Pai, havia declarado no Seu batismo. Para realizar Seu
ministério para o reino dos céus, Ele tinha de derrotar o inimigo de Deus,
o diabo, Satanás. Isso Ele deve fazer como um homem. Portanto, Ele
permaneceu como um homem para enfrentar o inimigo de Deus. O diabo,
sabendo disso, tentou-O a deixar Sua posição de homem e assumir Sua
posição como o Filho de Deus. Quarenta dias antes, Deus, o Pai, declarou
dos céus que Ele era o Filho amado do Pai. O sutil tomou aquela
declaração de Deus, o Pai, como base para tentá-Lo. Se admitisse Sua
posição como o Filho de Deus diante do inimigo, Ele teria perdido a
posição para derrotá-lo.
Fazer pedras tornarem-se pães certamente seria um milagre. Isso
foi proposto pelo diabo como uma tentação. Muitas vezes o pensamento
de realizar um milagre em certas situações é uma tentação do diabo. A
tentação do diabo ao primeiro homem, Adão, era quanto à questão do
comer (Gn 3:1-6). Agora sua tentação ao segundo homem, Cristo, também
é quanto à questão de comer. Comer é sempre uma cilada usada pelo
diabo para enganar o homem.

b. Derrotou o Tentador por Permanecer na Posição de um


Homem
O versículo 4 diz: “Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só
de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de
Deus”. O tentador tentou o novo Rei a tomar Sua posição como Filho de
Deus. Mas Ele respondeu com a Palavra das Escrituras, “Homem”,
indicando que Ele estava na posição de homem para tratar com o inimigo.
Os demônios dirigiram-se a Jesus como o Filho de Deus (8:19), mas os
espíritos malignos não confessaram que Jesus veio em carne (1Jo 4:3),
porque se confessassem Jesus como um homem, seriam derrotados.
Embora os demônios confessem Jesus como o Filho de Deus o diabo não
quer que as pessoas creiam que Jesus é o Filho de Deus, porque fazendo
isso serão salvas (J 020:31).
93
A palavra “homem” falada pelo Senhor Jesus ao tentador era uma
palavra mortal. O Senhor parecia estar dizendo: “Satanás, não Me tente
a assumir Minha posição como o Filho de Deus. Estou aqui como um
homem. Se Eu fosse apenas o Filho de Deus, nunca poderia estar aqui,
nunca poderia ser tentado por você. Mas porque sou um homem, estou
sendo tentado. Satanás, sei que você não teme o Filho de Deus, mas
teme o homem. O primeiro homem, o homem que Deus criou para
derrotá-lo e cumprir o Seu propósito, foi derrotado por você. Assim,
Deus enviou-Me como o segundo homem para derrotá-lo. Agora você
está Me tentando a deixar Minha posição como homem para assumir
Minha posição como o Filho de Deus. Mas digo-lhe, Satanás, Eu estou
aqui como um homem”.
Embora os demônios gritassem “Filho de Deus”, os espíritos
malignos não confessavam que Jesus veio como um homem. Eles
admitem que Ele é o Filho de Deus, mas não reconhecem que Ele é um
homem. A razão pela qual os espíritos malignos não querem que alguém
creia que Cristo é o Filho de Deus é que quem o fizer será salvo. Mas eles
não ousavam reconhecer Jesus como um homem, porque se o fizessem,
seriam derrotados. Ao lidar com os demônios, Jesus é o Filho do homem.
Ao salvar-nos como pecadores, Ele é o Filho de Deus. Quando cremos
Nele como o Filho de Deus, somos sal vos.
Mas se os demônios O reconhecessem como o Filho do homem,
seriam derrotados. Portanto, o Senhor Jesus posicionou-se fortemente
como um homem para derrotar Satanás. Nesse primeiro teste, Satanás foi
derrotado porque Jesus tomou a posição de um homem.
O Rei recém-ungido enfrentou a tentação do inimigo não
pela Sua própria palavra, mas pela palavra das Escrituras,
citando Deuteronômio 8:3. Essa palavra indica que o Senhor Jesus
tomou a palavra de Deus nas Escrituras como Seu pão e viveu por ela. A
palavra grega traduzida para “palavra” no versículo 4 é rhema.
Rhema, a palavra instantânea, difere de logos, a palavra constante.
Nessa tentação, todas as palavras citadas de
Deuteronômio pelo Senhor eram logos, a
palavra constante nas Escrituras. Mas quando Ele as
citou, elas tomaram-se rhema, a palavra instantânea aplicada à Sua
situação. Toda Escritura é soprada por Deus (2Tm 3:16).
Assim, as palavras nas Escrituras são as palavras que procedem da boca
de Deus.

2. Atirar-se do Pináculo do Templo

a. Tentado a Fazer uma Exibição para que Deus O


Protegesse
O versículo 5 diz: “Então o diabo O levou à cidade santa e O
colocou sobre o pináculo do templo”. A primeira tentação do diabo ao
novo Rei foi na questão do vi ver humano. Derrotado I, nisso, ele passou
94
à segunda tentação, a da religião, tentando o novo Rei a demonstrar que
Ele é o Filho de Deus se atirando do pináculo do templo. No versículo 6
o diabo disse-Lhe: “Se és Filho de Deus, atira-Te
abaixo, porque está escrito: Aos Seus anjos ordenará a Teu respeito: Eles
Te susterão nas mãos, para não tropeçares em alguma pedra”. Não havia
necessidade de o Senhor Jesus fazer isso. Era simplesmente uma tentação
mostrar que como o Filho de Deus Ele era capaz de fazer algo miraculoso.
Qualquer pensamento de fazer coisas miraculosamente na religião é uma
tentação do diabo.
O segundo teste é uma questão de religião. Na religião a coisa mais
excitante são milagres. Segundo o conceito humano, toda religião que não
tem milagres é sem poder; a religião mais poderosa é uma religião de
milagres. Por isso, Satanás levou o novo Rei ao pináculo do templo e
tentou-O a lançar-Se de lá dizendo que os anjos O protegeriam. Não
pense que você nunca teve o pensamento de fazer esse tipo de coisa. No
início eu pensava em fazer coisas para mostrar que era uma pessoa
sobrenatural e que tinha poderes sobrenaturais. Você não teve esse tipo
de conceito em sua vida cristã? Algumas vezes somos testados quando há
a necessidade de fazer algo, e em outras vezes somos testados quando não
há tal necessidade. Nesse caso, não havia necessidade de Jesus atirar-se
do pináculo do templo.
Algumas vezes parece ser preciso realizar um milagre. Certa vez
meu cunhado mais novo ficou seriamente doente. Naquele tempo fui
tentado a fazer uma auto-exibição, orando pela sua cura. Eu pensei:
“Agora é a hora para provar à minha parentela que sou uma pessoa
maravilhosa. Farei apenas uma oração e meu cunhado será curado. A
Bíblia não diz que Jesus cura, que Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre, e
que devemos orar pelos outros? Se fizer esse milagre para meu
cunhado, minha sogra será convencida que sou uma pessoa
sobrenatural. Aos olhos dela sou tão religioso, diariamente falando sobre
Deus, Cristo e a fé. Imagine que aconteceria se eu fosse ao meu cunhado e
dissesse: 'Senhor Jesus, cura-o', e imediatamente ele se levantasse! Não
apenas ele seria curado, mas eu seria reconhecido. Que pessoa
maravilhosa eu seria aos olhos da minha sogra!” Aquela era a unção do
Senhor, o Seu liderar e orientação? ou era uma tentação? Certamente era
uma tentação. Você nunca teve tal tentação no passado?
Muitos jovens cristãos têm conceitos peculiares quanto à realização
de milagres. Alguns podem dizer: “Desde que eu seja um seguidor do
Senhor e esteja na Sua presença como meu Emanuel, devo fazer algo para
mostrar aos outros que Deus está comigo”. Conheço um querido irmão que
tinha tal pensamento. Convencido de que o Senhor estava com ele, pediu
ao Senhor para dar-lhe duzentos mil dólares dentro de alguns dias. Ele
disse: “Senhor, Tu deves mostrar às pessoas que és um comigo. Tu deves
mostrar-lhes que tudo quanto eu pedir em Teu nome, Tu me concederás.
Senhor, estou Te pedindo duzentos mil dólares. Dentro de alguns dias, Tu
deves dar-me”. Esse irmão parou de comer e dormir e começou a
orar por essa quantia. Que tipo de oração era essa? Era atirar-se do
pináculo do templo para fazer uma exibição de si mesmo. Em princípio
95
temos feito isso muitas vezes. Todo cristão tem sido tentado dessa
maneira.
Se o diabo não nos tentar na questão do nosso viver, tentar-nos-á
na questão da religião. Você pode desejar ser “o grande” na religião, ser
reconhecido como uma pessoa poderosa. Todos os demais devem descer
do pináculo do templo, mas você, como uma pessoa sobrenatural, que é
mais poderosa que outras, pode atirar-se. Fazendo isso você se tomará
grande no cristianismo. Todos os religiosos “importantes” são os que se
renderam à essa tentação. Se você tomou-se famoso no cristianismo, se
teve sucesso em tomar-se reconhecido como uma pessoa sobrenatural
então você já se rendeu à essa tentação. Você já foi derrotado
pelo inimigo. Entretanto, se
deseja derrotar o inimigo nesse teste, você não deve atirar- se
do templo. Antes, deve descer dele
o mais vagarosamente possível. Deixe
outras pessoas pensarem que você é fraco e incompetente. Mas
você deve dizer a si mesmo: “Não estou andando em poder. Estou
andando em vida. Não me interesso por poder- me interesso pela vida”.
É fácil dizer isso, mas é difícil praticá-lo.
Quando a oportunidade se apresenta,
embora possa não se atuar do pináculo do templo, você
descerá correndo, pelo menos para mostrar
que é um bom corredor, capaz de correr mais rápido do que os outros.
Todavia, se quisermos derrotar o inimigo, devemos ser um ninguém.
Nunca faça nada para provar que você é algo ou alguém. Deixe os
outros pensarem que você é nada.
Na verdade, eu sou nada, e meu Cristo é tudo. Se tomar a posição de ser
ninguém, você aniquilará o inimigo. Você matará o tentador.

b. Derrotou o Tentador por não Tentar a Deus


Quando o diabo tentou Jesus a atirar-se do pináculo do templo, Ele
lhe disse: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus” (v. 7).
Porque o Senhor Jesus derrotou-o a primeira vez citando as Escrituras,
o tentador imitou-O em sua segunda tentação citando também as
Escrituras, porém de uma maneira sutil. Citar alguma coisa das Escrituras
sob um ponto de vista, exige que cuidemos ainda mais do outro ponto de
vista, a fim de sermos guardados do engano do tentador. Isso foi o que o
novo Rei fez aqui para ir contra a segunda tentação do tentador.
Muitas vezes precisamos dizer ao tentador: “Também está escrito”. o
Senhor Jesus derrotou Satanás na primeira tentação citando as
Escrituras. Então, na segunda, o próprio tentador citou-as também. Ele
parecia estar dizendo: “Jesus, Tu citaste a Bíblia. Conheço a Bíblia
também. Deixe- me citar-Te um versículo”. Mas o Senhor Jesus disse:
''Também está escrito”. A palavra “também” é muito forte. Não pense que
você pode citar a Bíblia e que o inimigo não. Satanás conhece mais a
Bíblia que você. Portanto, a melhor proteção é ter também uma palavra
de equilíbrio ou uma confirmação. Então, na segunda tentação. o inimigo
96
também será derrotado.
O Senhor Jesus disse a Satanás: “Não tentarás o Senhor teu Deus”
(v. 7). Não tente a Deus. Não vá ao pináculo do templo e atire-se de lá. Se
encontrar-se lá por acaso, você deve encontrar uma maneira de descer.
Mas nunca vá lá propositadamente. Se for lá por um erro, peça ao Senhor
para perdoá-lo e ajudá- lo a descer passo a passo. Mas não atire-se para
fazer uma exibição. Você é ninguém. O Senhor Jesus venceu o tentador
não aceitando sua proposta de tentar a Deus.

3. Adorar o Diabo
a. Tentado a Obter os Reinos do Mundo e a
Glória Deles
Os versículos 8 e 9 dizem: “Levou-O ainda o diabo a um monte
muito alto e mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, e Lhe
disse: Tudo isto Te darei se, prostrado, me adorares”. Derrotado em sua
tentação na esfera religiosa, o diabo apresentou sua terceira tentação ao
novo Rei, dessa vez na esfera da glória deste mundo. Mostrou a Ele todos
os reinos do mundo e a glória deles. A tentação do sutil sempre vem desta
maneira: primeiramente, no viver humano; em segundo lugar, na-'
religião; e em terceiro, na glória do mundo. Em qualquer tentação, todos
esses três itens estarão presentes. A terceira tentação é uma questão da
glória do mundo, promoção, ambição, posição e um futuro promissor.
Tudo isso é a glória do mundo.
Lucas 4:6 diz que o reino do mundo e a glória dele foram entregues
ao diabo; portanto, ele a dará a quem quiser. Antes de sua queda, Satanás,
como o arcanjo, foi designado por Deus para ser o governador do mundo
(Ez 28:13-14). Por isso, ele é chamado o príncipe deste mundo (Jo 12:31),
tendo todos os reinos do mundo e a glória deles em suas mãos. Ele
apresentou tudo isso ao Rei recém-ungido como uma tentação a fim de
receber adoração. O Rei celestial venceu essa tentação, mas o anticristo
vindouro não vencerá (Ap 13:2, 4).
Essa tentação envolve a questão de ambição e promoção. Mesmo
entre os irmãos, há o desejo de ser um líder. Esse é o desejo da glória do
mundo. Sua ansiedade por ser um líder é sua ambição. Essa é a glória do
mundo. Sempre que é tentado dessa maneira, você deve perceber que
por trás dessa tentação está o tentador procurando ganhar a sua
adoração. Satanás disse ao Senhor Jesus que se Ele o adorasse, ele Lhe
daria todos os reinos do mundo e a glória deles. Por trás de cada ambição
há um ídolo escondido. Se você ambiciona ter uma posição, uma
promoção ou um nome, há um ídolo por detrás dessa ambição. Se não
adorar algum ídolo, você nunca realizará sua ambição. Para ter qualquer
parte da glória do mundo, você deve adorar algum ídolo. Sem adorar
ídolos é impossível ter uma posição. Sempre que busca certa posição, no
profundo do seu ser, você sabe que está adorando um ídolo. Por essa
razão, o apóstolo disse que avareza é idolatria (Cl 3:5).
97
Suponha que alguns irmãos que entraram para a vida da igreja
quatro anos depois de você tomaram- se líderes e você se sente ignorado.
Se se queixar sobre isso, perguntando porque eles foram feitos líderes e
você não, é uma prova que está buscando glória do mundo. Talvez entre
um grupo de dez irmãs, três sejam designadas para tomar a liderança num
determinado serviço. Se as outras sete nada sentem sobre isso, elas serão
vitoriosas. Mas se se questionam por que três foram designadas, indica
que estão buscando vanglória, a glória desta era. Nessa questão, todos
somos fracos. Se esse desejo por ambição e posição pode ainda assim
penetrar na vida da igreja, então, quanto precisamos ser guardados em
outras coisas!

b. Derrotou o Tentador por Adorar a Deus e Servir a Ele


Somente
No versículo 100 Senhor Jesus disse: “Retira-te, Satanás, porque
está escrito: Ao Senhor, teu Deus adorarás, e só a Ele servirás”. Satanás
no grego significa adversário. Ele não apenas é o inimigo de Deus fora do
reino de Deus, mas também o adversário dentro do reino de Deus,
rebelando-se contra Ele. O novo Rei reprovou a proposta do diabo e
derrotou-o posicionando-se como um homem para adorar a Deus e servir
só a Ele. Adorar ou servir algo além de Deus para obter alguma coisa é
sempre a tentação do diabo para conseguir adoração. O Senhor parecia
estar dizendo a Satanás: “Satanás, como um homem, Eu, Jesus, adoro a
Deus e sirvo a Ele somente. Você é o inimigo de Deus, e nunca o adorarei.
Não me importo com a glória do mundo ou com os reinos do mundo.
Satanás, saia de perto de mim!”
Se considerarmos nossa experiência, veremos que todas as
tentações estão incluídas nestes três aspectos: a tentação na questão do
nosso viver, a tentação dos milagres religiosos e a tentação na esfera da
glória do mundo. Durante todo o dia somos tentados nos aspectos do
nosso viver, religião e posição no mundo. Mas o Senhor Jesus venceu cada
aspecto da tentação do inimigo. Ele podia dizer: “Meu viver é secundário.
Não Me importo com poderes religiosos. E a glória do mundo nada tem a
ver Comigo. Sei apenas da palavra de Deus e do próprio Deus. Interesso-
Me apenas por servir a Deus”. Portanto, como Aquele que passou no teste,
o Senhor estava qualificado para ser o Rei do reino dos céus.

D. O Resultado
o versículo 11 diz: ''Então O deixou o diabo, e eis que vieram anjos e
O serviam”. A tentação do diabo para o primeiro homem, Adão, foi um
sucesso; sua tentação para o segundo homem, Cristo, foi um fracasso
absoluto. Isso indica que não haverá lugar para ele no reino dos céus do
novo Rei. Após o Senhor Jesus ter derrotado Satanás, os anjos vieram e
ministraram ao Rei tentado, como um homem sofrido (cf. Lc 22:43).
Não apenas o Rei, mas também todo o povo do reino deve vencer a
questão do seu viver diário, poder religioso e glória do mundo. Se não
98
pudermos vencer essas três tentações, estamos fora do reino. Se
quisermos ser o povo do reino, essas três coisas devem estar sob nossos
pés. Ao aniquilarmos essas três tentações, dizendo: “Não me preocupo
com meu viver, com poderes religiosos ou com posição do mundo”,
Satanás não será capaz de fazer nada para nós.
Não devemos estar preocupados acerca do nosso viver diário.
Considere o exemplo do apóstolo Paulo. Ele disse: ''Tanto sei estar
humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as
circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome;
assim de abundância como de escassez” (Fp 4:12). Paulo parecia estar
dizendo: “Não me importo se estou em pobreza ou em abundância. Posso
vi ver em escassez ou em abundância. A questão do meu viver diário não
me preocupa”. Ainda mais, em vez de nos importarmos com poderes
religiosos, devemos ser fracos, assim como Jesus Cristo foi ao ser preso e
crucificado. Se Ele não tivesse sido fraco, quem poderia tê-Lo prendido e
posto na cruz? Quando foi preso, tentado e crucificado, Ele não fez
exibição do Seu poder. Ele se recusou a exibir algum poder religioso.
Antes, foi fraco ao máximo. Paulo disse que Cristo “foi crucificado em
fraqueza”; ele também disse: “Somos fracos nele” (2Co 13:4). Muitas
pessoas diabólicas desafiaram Paulo, dizendo: “Se é realmente apóstolo
de Cristo, você deve fazer algo para provar”. Mas quando Paulo esteve na
prisão, o Senhor não fez alguma coisa miraculosa por ele.
A situação de Paulo era a mesma que a de João Batista, que também
foi aprisionado. Após certo período na prisão, João enviou seus discípulos
para desafiar o Senhor, dizendo: “És Tu Aquele que havia de vir ou
devemos esperar outro?” (11:3). É como se João dissesse: “Se você é
Aquele que havia de vir, por que não faz algo por mim? Não sabe que eu,
Seu precursor e apresentador, estou na prisão? Você não é poderoso?
Não é o Cristo, o Todo-poderoso? Se é, faça algo por mim”. Em Sua
resposta, o Senhor disse: “E bem-aventurado é aquele que não achar em
Mim motivo de tropeço” (11:6). O Senhor parecia estar dizendo: “Sim, Eu
posso, mas não quero fazer algo por você. Embora seja Meu apresentador,
Meu precursor, não estou preocupado em fazer algo por você. Antes Eu
preferiria que você fosse decapitado. João, você tropeçará em Mim?” A
experiência do irmão Nee é uma ilustração atual disso. Ele esteve preso de
1952 até 1972, quando morreu. N aqueles vinte anos, o Senhor não fez
algo por ele de maneira miraculosa.
Como precisamos vencer esses três tipos de tentação: a tentação do
nosso viver, a tentação do assim chamado poder religioso e a tentação da
vanglória. Se vencermos essas coisas, seremos realmente o povo do reino
seguindo nosso Rei celestial. Aleluia! nosso Rei celestial venceu o tentador
e derrotou-o nessas três tentações!

99
MENSAGEM 12

O INÍCIO DO MINISTÉRIO DO REI


Chegamos agora a uma seção muito importante do Evangelho de
Mateus, a seção do ministério do Rei (4:12—11:30). Nesta mensagem
consideraremos o início do ministério (4:12-25). Após ter sido ungido, o
Senhor foi testado para provar que Ele era qualificado e, então, começou
a ministrar.

I. INICIA O MINISTÉRIO
A. Após João Batista Ser Aprisionado Mateus 4:12 diz: “Ora
ouvindo Jesus que João fora preso, retirou-se para a Galiléia”. Embora
João Batista ministrasse no deserto, não no templo santo na cidade santa,
ele estava ainda na Judéia, não longe das assim chamadas coisas “santas”.
Pelo fato de o povo rejeitar João, o Senhor Jesus retirou-se para iniciar
Seu ministério, longe do templo e da cidade santa. Isso ocorreu
soberanamente para cumprir a profecia de Isaías 9:1 e 2.
De acordo com o conceito humano, Jesus deveria ter iniciado o
ministério a partir do templo santo na cidade santa, Jerusalém. Mas veio
a Ele a notícia de que Seu precursor, João Batista, foi aprisionado. Essa
foi uma indicação para esse novo Rei que Jerusalém tinha se tornado um
lugar de rejeição; portanto, Ele não deveria iniciar lá Seu ministério real.
Em Sua economia, Deus desejava ter uma completa mudança, uma
mudança da velha para a nova economia. A velha economia resultou
numa religião, num templo, numa cidade e num sistema de
adoração exteriores. Todas as coisas na velha economia foram
sistematizadas de uma maneira exterior. Na nova economia de Deus, Ele
abandonou tudo aquilo e teve um novo início. O ambiente sob a soberania
de Deus combinou C0m essa mudança em Sua economia. Por ter
Jerusalém rejeitado o apresentador do novo Rei, o Senhor Jesus sabia que
não deveria iniciar Seu ministério lá. Ele não era bem-vindo em
Jerusalém.
Embora o novo Rei fosse o Filho de Deus e tivesse sido ungido
com o Espírito de Deus, não nos é dito aqui que Ele tenha orado a respeito
de onde deveria ir ministrar. Não nos é dito que Ele tivesse o profundo
sentimento que estava sendo conduzido ao norte, para longe de
Jerusalém. Ao contrário, o Senhor considerou o ambiente e
recebeu dele a clara indicação de onde deveria ir. Não pense que podemos
ser tão espirituais a ponto de não precisar de indicação
do nosso ambiente. Mesmo o Rei do reino celestial, o Filho de Deus
ungido com o Espírito Santo, moveu-se conforme as indicações do
100
ambiente. O pensamento do Senhor não era nem natural nem religioso.
Também não era segundo a história
passada. Segundo a história, como o Rei ungido, Ele deveria ter
ido à capital, Jerusalém, porque Jerusalém é o lugar
certo para o Rei. Todavia, porque Seu precursor, Seu
apresentador, foi lançado na prisão, Ele foi para a Galiléia.
Segundo a expectativa humana, era ridículo para o Rei recém-ungido
deixar a capital e ir para uma região desprezada para começar Seu
ministério real. Ele nem mesmo foi ao sul de Hebrom, o lugar onde Davi
foi entronizado, nem a Berseba, o lugar onde Abraão viveu. Ele foi para a
Galiléia.
Considerando o mover do Senhor após a prisão de João Batista,
devemos aprender a não tentar ser espirituais de modo sobrenatural. Jesus
não era espiritual dessa maneira. Devemos também aprender a não agir de
acordo com a história passada ou o entendimento humano. De acordo com
a história e o conceito humanos, o Rei dos judeus deveria estar em
Jerusalém sentado no trono. Entretanto, Jesus não se moveu meramente
conforme a liderança espiritual nem conforme a história passada ou o
conceito natural. Antes, moveu-se de acordo com o ambiente que
correspondia à economia de Deus. Ao fazer isso, espontaneamente
cumpriu a profecia de Isaías 9:1 e 2. Embora o Senhor se tenha movido
aparentemente de acordo com o ambiente em vez de seguir o Espírito, Seu
mover era um cumprimento da profecia nas Escrituras.
Ao nos movermos com o Senhor, devemos evitar dois extremos. O
primeiro extremo é o sobrenatural. Alguns dizem que não há necessidade
de considerar o ambiente em que estão porque eles têm o Espírito. O
outro extremo é prestar demasiada atenção à história e à inclinação e
entendimento natural. Mas em Mateus 4 o novo Rei não se moveu apenas
segundo a assim chamada liderança espiritual nem segundo a história ou
inclinação natural. Antes, moveu-se com a economia de Deus conforme
as indicações do ambiente. Ele foi à Galiléia, à região de Zebulom e
Naftali, para resplandecer como uma grande luz sobre os que viviam em
trevas e na região e sombra da morte (4:15-16).
Nada do que aconteceu a João Batista ou ao Senhor Jesus foi
acidental. Quando João saiu para ministrar aos trinta anos, ele era
muito ousado. Isso não foi muito antes de ser aprisionado. Você pode
achar difícil crer que João Batista poderia ser aprisionado. Parece não
haver motivo para isso. Novamente, devido ao ambiente, ele foi preso.
João foi aprisionado por Herodes, o rei, não pelos líderes judeus.
Entretanto, o poder religioso e o político, a religião judaica e o governo
romano, colaboraram para a realização do propósito de Deus. FOI de
acordo com a soberana economia de Deus que João Batista foi
aprisionado naquela época. A razão para isso é que chega um momento
quando todo ministério de apresentação deve cessar. Se João Batista não
tivesse sido aprisionado, teria sido difícil a ele parar seu ministério.
Porque João era o apresentador, seu ministério não deveria ter
continuado. Em João capítulo 3 vemos que os discípulos de João Batista

101
estavam competindo com o ministério do novo Rei (v. 26). O ministério
do apresentador estava competindo com o do Rei. Portanto, o ministério
do apresentador tinha de parar, e a melhor maneira de pará-lo era colocar
o próprio João na prisão e, mesmo, decapitá-lo.
Você pode dizer que Deus não seria assim tão cruel. Mas Deus
algumas vezes permite coisas como essa. Sem dúvida, Ele gerou,
preparou, constituiu e qualificou você e, então, usou-o muito. Mas após
tê- lo usado, Ele pode dizer: “Vá para a prisão e espere lá para ser
executado”. Você é capaz de aceitar isso? Você pode dizer: “Isso é
absolutamente injusto. Jesus não deveria permitir isso”. Mas no passado
Deus permitiu muitas coisas assim várias vezes, e creio que permitirá
novamente. Se Ele permitir que isso lhe aconteça, você deve
simplesmente dizer: “Amém”. Não envie alguns dos seus discípulos
para desafiar Cristo, dizendo: “Tu és o Cristo, o Senhor Todo- poderoso a
quem sirvo? Se é, por que não faz algo para livrar-me da prisão?” O Rei
diria: “Não o livrarei disso. Você deve morrer. Você deve ser terminado.
Deixe o novo Rei estar no trono”. João Batista e seu ministério foram
terminados porque o novo Rei estava lá. Quando o novo Rei está aqui, não
deve existir qualquer competição.

B. Começa da Galiléia
O novo Rei começou Seu ministério na Galiléia, no mar da Galiléia,
não na cidade santa ou no templo santo. Seu precursor ministrou à
margem do rio, no deserto, mas Ele iniciou Seu ministério pelo mar da
Galiléia. A Galiléia era um lugar de população mista de judeus e gentios.
Por isso, foi chamado de “Galiléia dos gentios” e era desprezada pelos
judeus ortodoxos (Jo 7:41, 52). O Rei recém-designado iniciou Seu
ministério real para o reino dos céus em tal lugar desprezado, longe da
capital do país, a digna Jerusalém, com seu templo sagrado, o centro da
religião ortodoxa. Isso implicava que o ministério do Rei recém-ungido
era para o reino celestial, diferente do reino terreno de Davi (o reino
Messiânico). João Batista ministrou à margem do rio porque estava
preparado para enterrar todos os que fossem a ele em arrependimento. O
novo Rei ministrou ao redor do mar da Galiléia. Na Bíblia, o rio Jordão
representa sepultamento e ressurreição, terminação e germinação. Mas o
mar da Galiléia representa o mundo corrompido por Satanás. Assim, o
Jordão era um lugar de sepultamento e o mar da Galiléia era o mundo
corrompido.
Nessa porção da Palavra há quatro discípulos que foram
chamados por Jesus: Pedro, André, Tiago e João. Você sabe onde e
quando esses quatro foram salvos? A resposta a essa pergunta está
em João capítulo 1. Enquanto João Batista estava ministrando, André
foi levado ao Senhor Jesus (Jo 1:35-37, 40). André, então,
encontrou Pedro, seu irmão, e levou-o ao Senhor (vs. 40-42).
Quando o Senhor viu Pedro, mudou seu nome de Simão para
102
Cefas, que significa uma pedra (Jo 1:42). Portanto, em João
capítulo 1, Pedro e André encontraram o Senhor Jesus. Creio que
eles foram salvos naquela época à margem do rio Jordão. O mesmo
aconteceu a Tiago e João. Dos dois discípulos de João Batista
mencionados em João 1:35, um era o apóstolo João. Esse João
também trouxe seu irmão Tiago ao Senhor. Portanto,
os quatro discípulos mencionados em
Mateus 4 foram terminados,
germinados e salvos à margem do
Jordão em João capítulo 1.
Entretanto, provavelmente eles não entenderam claramente o
que lhes aconteceu.
Creio que tudo isso aconteceu antes da tentação do Senhor,
enquanto João ainda estava ministrando próximo ao Jordão. Depois
disso, eles retomaram à Galiléia para continuar a pescar. Provavelmente
tenham esquecido o que lhes acontecera à margem do rio. Eles
simplesmente retomaram às suas antigas ocupações nas proximidades do
mar. Mas o Senhor não os esqueceu. Após Sua tentação, Ele iniciou Seu
ministério e procurou por eles. O mesmo aconteceu com muitos de nós. A
primeira vez que viemos ao Senhor, Ele fez muitas coisas por nós, mas
não percebemos o seu significado. Talvez sua margem do rio fosse o Brasil
ou a China. Após encontrar o Senhor à margem do rio, você foi ao mar
da Galiléia para ganhar seu sustento, para seu emprego de pescador,
esquecendo o que o Senhor havia feito próximo à margem do rio. Muitos
de nós simplesmente esqueceram o que o Senhor havia feito por nós no
passado próximo à margem do rio Jordão e fizemos o máximo para
ganhar dinheiro trabalhando ao redor do nosso mar da Galiléia, no
mundo maligno, demoníaco e corrompido de Satanás. Mas um dia, para
muito espanto nosso, Aquele que nos salvou próximo à margem do rio
veio ao nosso mar da Galiléia como o Rei recém-designado para,
propositadamente, nos encontrar.

C. Como uma Grande Luz que Resplandece nas Trevas


Quando o Senhor veio a nós próximo ao nosso mar da Galiléia, havia
algo diferente Nele. Em João capítulo 1, o apresentador de Cristo declarou:
“Eis o Cordeiro de Deus”. Quando João declarou que Cristo era o Cordeiro
de Deus, dois dos seus discípulos, André e o apóstolo João, seguiram o
Senhor Jesus. Finalmente, corno vimos, o irmão de André, Pedra, e o
irmão de João, Tiago, foram também levados ao Senhor e sal vos por Ele.
Embora fosse maravilhoso ser salvo, mais tarde eles se esqueceram da sua
experiência. Muitos de nós fizeram o mesmo. Talvez você tenha dito: “Que
aconteceu lá próximo à margem do rio Jordão? Aquilo foi uma tolice!
Fornos colocados na água e encontramos um Nazareno que era chamado o
103
Cordeiro de Deus. Mas agora precisamos ganhar o sustento. Voltemos ao
nosso trabalho. Temos muito a pescar e redes a remendar”. Todavia, o Rei
tem Seu objetivo, e Ele precisa de você, assim corno precisou de Pedro,
André, Tiago e João.
Assim, repentinamente' o Cordeiro de Deus apareceu no lugar
exato onde esses quatro homens foram trabalhar para
obter o sustento. Mas nessa hora Ele não veio como o Cordeiro-veio
como urna grande luz.
O versículo 16 diz: “O povo que estava sentado em trevas viu grande
luz, e aos que estavam sentados na região e sombra da morte, raiou-lhes a
luz”. João Batista era uma lâmpada que ardia e iluminava (Jo 5:35). Mas
esse novo Rei era a luz. Na verdade, Ele não era apenas a luz, mas uma
grande luz. Pedro, André, Tiago e João não perceberam que estavam nas
trevas quando foram trabalhar para ganhar a vida próximo ao mar da
Galiléia. Eles estavam na sombra da morte. Essa é uma figura da situação
de hoje. Muitos cristãos encontraram o Senhor Jesus em alguma margem
do rio e foram salvos. Mas depois não se importaram com aquela
experiência, antes, preocuparam-se em obter o sustento. Por isso, eles
foram ao mar da Galiléia. Ao agirem assim, sem saber, eles entraram nas
trevas e na sombra da morte. Todos aqueles que lutam para ganhar a vida
nas grandes cidades corno São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre estão
nas trevas e na região e sombra da morte. Louvado seja o Senhor, o novo
Rei não ficou em Jerusalém! Ele veio ao mar da Galiléia, e Ele ainda hoje
está vindo ao mar da Galiléia, andando pela margem tentando nos
alcançar. Nessa hora, Ele vem não como um pequeno Cordeiro, mas como
uma grande luz. Quando Pedro e André foram lançar suas redes no mar,
essa grande luz brilhou sobre eles. Enquanto estava lá resplandecendo
sobre eles, Ele pode ter dito: “Pedro e André, que vocês estão fazendo
aqui? Não se lembram que os encontrei próximo à margem do rio Jordão?
Pedro, você se lembra que Eu mudei seu nome?” Naquele dia, próximo ao
mar da Galiléia, uma grande luz estava resplandecendo sobre eles.
Nossa experiência foi a mesma que a deles. Fomos sal vos às
margens do Jordão. Mas depois esquecemos o que aconteceu conosco e
fomos ao mar da Galiléia ganhar a vida. Enquanto estávamos trabalhando
lá pelo nosso viver, Aquele a quem encontramos como o Cordeiro de Deus
próximo à margem do Jordão, veio como uma grande luz para
resplandecer sobre nós. Enquanto estava resplandecendo sobre nós, Ele
perguntou: “Que você está fazendo aqui?” Posso testificar que isso
aconteceu comigo um dia. Eu estava trabalhando próximo ao mar da
Galiléia ganhando o sustento; repentinamente, uma luz resplandeceu
sobre mim e o Senhor disse: “Que você está fazendo aqui? Não se recorda
o que ocorreu com você próximo à margem do rio? Você pode não se
lembrar disso, mas Eu me lembro”. Então o chamamento aconteceu,
“Siga-Me”, e eu O segui. Creio que, em princípio, a maioria de nós teve
esse tipo de experiência. Você foi salvo na margem do rio pelo Cordeiro de
Deus, mas foi chamado próximo ao mar da Galiléia pelo resplandecer de
uma grande luz. Embora possa ser fácil esquecer o que aconteceu próximo

104
à margem do rio, não pode esquecer a hora que a grande luz resplandeceu
sobre você próximo ao mar da Galiléia.
Apesar de o registro ser muito simples, a história na verdade não é
tão simples. Não foi uma questão simples para o Senhor chamar você.
Primeiramente, Ele teve de encontrá-lo em alguma margem do rio. Mais
tarde, Ele teve de vir a você em algum litoral. Um dia, enquanto estava
trabalhando, a sala onde estava sentado foi iluminada, uma grande luz
resplandeceu sobre você e o Senhor perguntou: “Que está fazendo aqui
dia após dia?” Quando isso aconteceu a alguns irmãos, eles jogaram as
canetas e disseram: “Que estou fazendo aqui?” Então o Senhor perguntou:
“Não se lembra o que fiz a você à margem do rio? Agora você deve seguir-
Me”. Não leia o registro de Mateus 4 de uma maneira meramente
objetiva. Devemos ler esse capítulo e até mesmo toda a Bíblia de maneira
subjetiva, aplicando-a a nós. Louvado seja o Senhor por muitos de nós
termos tido as experiências de dois lugares-à margem do rio e litoral!
O ministério do novo Rei para o reino dos céus começou não com o
poder terreno, mas com a luz celestial, que era o próprio Rei como a luz da
vida, resplandecendo na sombra da morte. Quando o Senhor iniciou Seu
ministério como luz, Ele não fez exibição de poder e autoridade. Ele
andou à beira mar como uma pessoa comum. Mas quando veio aos
quatro discípulos no mar da Galiléia, Ele resplandeceu sobre eles como
uma grande luz, brilhando nas trevas e na região da sombra da morte.
Naquela situação, Pedro, André, Tiago e João foram iluminados e
atraídos. Já enfatizamos que João Batista era um grande ímã. Mas o
Senhor Jesus é o maior ímã de todos. Quando resplandeceu sobre os
quatro discípulos, eles foram atraídos e capturados. Imediatamente
abandonaram suas ocupações e seguiram esse pequeno Nazareno.
Em Mateus 4 não há registro, como em Lucas 5, de algum milagre
sendo feito pelo Senhor quando Pedro foi chamado. Entretanto, nesse
capítulo, havia uma grande luz que atraiu os primeiros quatro
discípulos. Essa atração não veio do que o Senhor Jesus fez; veio do que
Ele era. Ele era uma grande luz, um grande ímã, com o poder para atrair
as pessoas e capturá-las. Dessa maneira, Ele atraiu e capturou os
primeiros quatro discípulos. Ninguém que segue o Senhor pelo que Ele
faz pode ser digno de confiança ou fiel. Os dignos de confiança são os que
são capturados pelo que o Senhor é. Pedro, André, Tiago e João foram
atraídos e capturados no litoral, não por ver o que o Senhor fez, mas por
perceber o que o Senhor era. Porque foram atraídos e capturados, eles
tomaram-se fiéis seguidores do Senhor até o fim. Por fim, todos eles
foram martirizados porque seguiram o Rei do reino celestial.
Ainda mais, quando o Senhor Jesus chamou esses quatro
discípulos, Ele não começou um movimento ou uma revolução. Antes, Ele
atraiu os discípulos para Si para o estabelecimento do reino dos céus.

D. Prega o Arrependimento para o Reino dos Céus


O versículo 17 diz: “Daí por diante, passouJesusaproc1amar e a
dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”. O novo Rei
105
deu continuidade à pregação do Seu precursor, João Batista, isto é, à
pregação de arrependimento para o reino dos céus como uma preliminar
para o evangelho do reino.

E. Chama os Quatro Discípulos

1. Pedro e André
O versículo 18 diz: “Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu dois
irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, que lançavam
rede ao mar, porque eram pescadores”. O ministério do novo Rei não
foi na capital, mas junto ao mar. O ministério do Seu precursor
começou à margem do rio e consistia em enterrar os religiosos e
terminar com a religião deles. O ministério do novo Rei começou no
litoral e consistia em capturar homens que não eram tão religiosos,
que viviam ao redor do mar e não no lugar santo, e fazê-los
pescadores de homens para o estabelecimento do reino dos céus.
Os versículos 19 e 20 dizem: “E disse-lhes: Vinde após Mim, e Eu vos
farei pescadores de homens. E eles deixando imediatamente as redes O
seguiram”. Quando jovem, ao ler essa porção da Palavra, não podia
entender por que esses pescadores, repentinamente, seguiram um
Nazareno que lhes disse: “Segue-Me”. Pensei que eles estavam fora de si.
Entretanto, após vários anos lendo a Palavra e considerando minha
experiência, comecei a entender. André, um dos dois discípulos de João
Batista, havia levado Pedro ao Senhor, no lugar onde antes João pregava (J
o 1:35-36, 40-42). Aquela foi a primeira vez que eles encontraram o
Senhor. Aqui o Senhor encontrou-os pela segunda vez, desta vez no mar da
Galiléia. Eles foram atraídos pelo Senhor como a grande luz nas trevas da
morte e O seguiram para o estabelecimento do reino dos céus na luz da
vida.
Quando Pedro e André foram chamados pelo Senhor, estavam
lançando redes ao mar. O Senhor chamou-os para segui-Lo e prometeu
fazê-los pescadores de homens. Eles deixaram a rede e seguiram o Rei do
reino dos céus para serem pescadores de homens. Por fim, Pedro
tomou-se o primeiro grande pescador para o estabelecimento do reino
dos céus no dia de Pentecoste (At 2:37-42; 4:4).

2. Tiago e João
O mesmo (4:21-22). Quando foram chamados pelo Senhor, estavam
remendando suas redes no barco. Quando o Senhor os chamou, eles
deixaram o barco e seu pai e seguiram-No. João e seu irmão, como
Pedro e André, foram atraídos pelo Senhor e O seguiram. Por fim, João
tomou-se um verdadeiro remendador, remendando os danos na igreja por
meio do seu ministério de vida (ver suas três Epístolas e Apocalipse
capítulos 2 e 3).
O chamamento dos quatro discípulos foi no início do ministério
real do Rei recém-ungido. Foi o próprio fundamento para o
106
estabelecimento do reino dos céus. Esses quatro discípulos tornaram-se
os primeiros quatro dos doze apóstolos. Pedro e André foram o primeiro
par, e Tiago e João foram o segundo. Portanto, os primeiros quatro
discípulos capturados pelo Senhor tornaram-se as primeiras quatro
pedras de fundamento do reino de Deus, que são quatro dos doze
fundamentos da Nova Jerusalém (Ap 21:14).

F. Atrai Grandes Multidões

1. Percorre Toda a Galiléia


O versículo 23 diz: “Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas
sinagogas deles, pregando o evangelho do reino e curaria toda sorte de
doença e toda sorte de enfermidade entre o povo”. Jesus expandiu Seu
ministério percorrendo inteiramente toda a Galiléia.
2. Ensina nas Sinagogas
O versículo 23 diz que Jesus ensinou nas sinagogas da Galiléia.
Uma sinagoga é um lugar para os judeus lerem e aprenderem as
Escrituras (Lc 4:16- 17; At 13:14-15). O Rei celestial agarrou a
oportunidade para ensinar lá.

3. Prega o Evangelho do Reino


Desde o início do Seu ministério, o Rei celestial pregou o evangelho
do reino. O evangelho nesse livro é chamado de o evangelho do reino. Ele
inclui não apenas o perdão dos pecados (cf. Lc 24:47) e o dispensar da
vida (cf. Jo 20:31), mas também o reino dos céus (Mt 24:14) com o poder
da era vindoura (Hb 6:5) para expulsar os demônios e curar enfermidades
(Is 35:56; Mt 10:1). O perdão dos pecados e o dispensar da vida são para o
remo.

4. Cura Toda Enfermidade e os Possuídos por Demônios


Enquanto o Senhor percorria toda a Galiléia, Ele curava toda
enfermidade e perturbação das pessoas. O Senhor Jesus propagou Seu
ministério realizando quatro coisas: percorrendo, ensinando, pregando e
curando. No trabalho do evangelho hoje, também devemos percorrer,
ensinar, pregar e curar. Precisamos de todos esses quatro itens; não
devemos ignorar nem menosprezar a questão de curar. Não devemos
tampouco seguir a prática do cristianismo fundamentalista, que tem
muito pouca cura, ou a do cristianismo pentecostal, que dá muita ênfase a
esse assunto, tendo até mesmo falsas curas que são mera representação
teatral. Em vez de seguir esses dois extremos, devemos andar nas
pegadas do Senhor Jesus que percorreu, ensinou, pregou e curou. Não
pense que não cremos em milagres. Definitivamente cremos neles.
Seguimos a liderança do Senhor para percorrer, pregar e curar.
Ao resplandecer como uma grande luz, o Senhor capturou quatro
107
jovens pescadores para ser Seus discípulos. Esses quatro discípulos
percorreram com o Rei toda a Galiléia enquanto Ele ensinava, pregava e
curava. O resultado foi que “numerosas multidões O seguiam” (v. 25)
para o reino dos céus. Isso foi o início do fundamento do reino dos céus.
Foi absolutamente diferente da maneira do mundo. O Senhor não deu
início a um movimento ou fundou um partido político. Ele não realizou
nenhum tipo de movimento. Na pregação do evangelho não devemos
seguir a maneira política ou da religião. Devemos seguir a maneira do
Senhor Jesus para resplandecer sobre os outros e para atraí-los pelo que
somos. Então devemos percorrer, ensinar, pregar e curar. Isso atrairá
uma multidão.

MENSAGEM 13

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (1)


Nesta mensagem chegamos ao decreto da constituição do reino
registrado nos capítulos 5 a 7. Ao longo dos anos, esses três capítulos têm
sido mal- interpretados ou mal-usados por muitos cristãos. Nas
mensagens desses capítulos esperamos que todos vejamos o verdadeiro
significado dessa seção da Palavra.
Uma das coisas mais difíceis para os crentes entenderem é o reino
dos céus. O reino dos céus não corresponde a qualquer conceito natural
ou religioso. Como veremos, refere-se a algo muito específico. Para
entender o reino dos céus, todos devemos livrar- nos dos conceitos
tradicionais recebidos do nosso passado no cristianismo. Nenhum dos
ensinamentos com respeito ao reino dos céus recebido no passado estava
de acordo com a pura Palavra. Estudamos essa questão do reino dos céus
repetidamente por mais de cinqüenta anos. O primeiro livro que
publiquei sobre esse assunto foi editado em 1936. Desde então, todos os
anos, temos permanecido nesse assunto. Por isso, temos a plena
segurança de que o que temos visto na Bíblia com respeito ao reino dos
céus está correto. Entretanto, é um tanto diferente do conceito tradicional
sobre o reino. Assim, devemos gastar tempo considerável nesses capítulos
para ver muito claramente esse assunto.
Mateus 5, 6 e 7 pode ser chamado de a constituição do reino dos
céus. Cada nação tem uma constituição. Certamente o Evangelho de
Mateus, o livro do reino dos céus também deve ter uma constituição.
Nesses três capítulos-as palavras faladas pelo novo Rei como a
constituição do reino dos céus vemos uma revelação do vi ver espiritual e
princípios celestiais do reino dos céus. A natureza é singular, mas os
princípios são plurais. A constituição do reino dos céus é composta de
sete seções: a natureza do povo do reino (5:1-12); a influência do povo do
reino sobre o mundo (vs. 13- 16); a lei do povo do reino (vs. 17-48); os
feitos justos do povo do reino (6:1-18); o tratamento do povo do reino com
as riquezas (vs. 19-34); os princípios do povo do reino ao tratar com os

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outros (7:1-12), e a base do viver e obrado povo do reino (vs. 13-29). A
primeira seção, 5:3-12, descreve a natureza do reino dos céus por meio de
nove bênçãos. Isso desvenda o tipo de pessoa que vive no reino dos céus.
O povo do reino deve também exercer uma influência sobre o mundo. A
natureza do povo do reino, a própria natureza do reino, exerce uma
influência sobre o mundo. O povo do reino também tem uma lei. Essa lei
não é a velha lei, a lei de Moisés, os Dez Mandamentos; é a nova lei do
reino dos céus. O povo do reino são os que realizam feitos justos e que
têm a atitude adequada com respeito às riquezas materiais. Porque o povo
do reino ainda está na terra na sociedade humana, a constituição do reino
dos céus revela princípios pelos quais eles tratam com os outros.
Finalmente, na última seção dessa constituição, vemos o terreno, a base
do viver diário e da obra do povo do reino. Todos esses aspectos do povo
do reino são tratados nas sete seções da constituição do reino dos céus.

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I. O LUGAR E A AUDIÊNCIA
A. No Monte
Mateus 5:1 diz: “Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e tendo
se assentado, aproximaram-se Dele os seus discípulos”. O novo Rei
chamou Seus seguidores no litoral, mas Ele subiu ao monte para dar-lhes
a constituição do reino dos céus. Isso indica que precisamos ir mais alto
com Ele para ter a percepção do reino dos céus.
É muito significativo que a constituição do reino dos céus tenha
sido decretada sobre um monte. O mar significa o mundo corrompido de
Satanás. Quando fomos capturados pelo Senhor, estávamos no mundo
corrompido de Satanás esforçando-nos para ganhar a vida. Mas após o
Senhor capturar-nos, Ele levou-nos a um alto monte que representa o
reino dos céus. Isso indica que o reino dos céus não foi estabelecido no
litoral, mas no monte. Na Bíblia, um monte algumas vezes representa o
reino. Por exemplo, de acordo com DanieI2:34-35, a pedra cortada sem o
auxílio de mãos quebrou a imagem em pedaços e tornou-se uma grande
montanha que encheu toda a terra. Essa montanha representa o reino
milenar. Portanto, na Bíblia, uma montanha representa o reino,
especialmente o reino dos céus.
Ainda mais, ser levado ao monte Significa que se quisermos ouvir o
decreto da constituição do reino dos céus, não podemos estar numa
planície, mas devemos subir num alto monte. Devemos estar num nível
alto para ouvir essa constituição. No litoral, o Senhor simplesmente disse:
“Segue-Me”. Mas para decretar a constituição do reino dos céus, Ele I
'vou- os ao cume de um monte. Seguir o Senhor pode ser fácil, mas ou
vir a constituição para o estabelecimento do reino dos céus requer que
subamos ao cume de um alto monte.

B. Para Seus Discípulos


O versículo 1 diz: “E tendo-se assentado, aproximaram-se Dele os
Seus discípulos”. Quando o novo Rei se assentou no monte, Seus
discípulos, não a multidão, vieram a Ele para ser a Sua audiência.
Por fim, não apenas os judeus que creram tomaram- se Seus discípulos,
mas também as nações discipuladas (gentios, 28:19). Mais tarde, os
discípulos foram chamados cristãos (At 11:26). Portanto, a palavra do
novo Rei falada no monte nos capítulos 5 a 7, com respeito à constituição
do reino dos céus, foi dita aos crentes do Novo Testamento, não aos
judeus do Antigo Testamento.
Nos versículos 1 e 2 vemos que o Senhor ensinou os discípulos, não
as multidões. As multidões que se ajuntaram ao redor Dele eram o círculo
externo, mas Seus discípulos eram o círculo interno. Embora você possa
estar no monte, deve também estar no círculo interno, porque a
constituição não é para os do círculo externo; é para os do círculo interno.
Por toda a história, tem havido um grande debate quanto a quem

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esse decreto foi dado: aos judeus, aos gentios ou aos crentes. Segundo o
nosso estudo, vimos que não foi dado nem aos judeus nem aos gentios,
mas aos crentes do Novo Testamento. Não há dúvida de que os discípulos
eram os crentes judeus na época em que o decreto da constituição foi
dado. Entretanto, quando estavam lá no monte ouvindo o decreto da
constituição do reino, eles eram representantes não do povo judeu, mas
dos crentes do Novo Testamento. Em 28:19, o Senhor disse aos Seus
discípulos para ir e discipular as nações, isto é, os gentios. Isso significa
que as nações seriam convertidas em discípulos. Portanto, os crentes
judeus e gentios eram discípulos. A audiência do monte era composta
principalmente de judeus, representando todos os discípulos.

II. QUANTO À NATUREZA DO POVO DO REINO


Agora chegamos à primeira seção da constituição, a seção com
respeito à natureza do povo do reino. Provavelmente não muitos cristãos
têm visto que 5:1-12 revela a natureza do povo do reino. Todos os cristãos
devem ser o povo do reino. Entretanto, a situação hoje não é normal.
Muitos cristãos não estão no alto nível do povo do reino. O povo do reino
são os vencedores. Na economia de Deus, todo crente deve ser um
vencedor. Ser um vencedor não é ser algo especial; é ser normal.
Portanto, todo crente deve ser uma parte do povo do reino.
Esses versículos descrevem nove aspectos da natureza do povo do
reino. Eles são pobres em espírito, choram pela situação presente, são
mansos ao sofrer oposição, têm fome e sede de justiça, exercem
misericórdia para com os outros, são puros no coração, têm paz com
todos os homens, sofrem perseguição por causa da justiça e sofrem sendo
injuriados e difamados. Cada aspecto começa com a palavra “Bem-
aventurados”. Por exemplo, o versículo
3 diz: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos
céus.” A palavra portuguesa “Bem-aventurados” não traduz
adequadamente a palavra grega aqui, porque essa transmite o significado
de bem-aventurado e feliz. Várias versões usam a palavra feliz em vez de
bem- aventurado. Entretanto não devemos usar a palavra feliz de maneira
leve. A bem-aventurança e a felicidade aqui não são uma coisa leve, antes
são algo de peso. Quando ouvirem as palavras “Felizes são os pobres em
espírito” vocês não devem gritar ou pular. Ser feliz nesse versículo é algo
profundo.

A. Pobres em Espírito para Receber o Reino dos Céus


No versículo 3 o novo Rei disse: “Bem- aventurados os pobres em
espírito, porque deles é o reino dos céus”. Embora muitos falem sobre as
bem- aventuranças desses versículos, não tenho ouvido ninguém falar
sobre o espírito no versículo 3. A tradução do versículo 3 para a versão
chinesa é muito pobre. Ela diz: “Bem-aventurados são os humildes no
coração”. Embora os estudiosos que traduziram a versão chinesa, em
geral, tenham feito um trabalho muito bom, não viram a diferença entre o
111
coração e o espírito. Outro versículo nesse capítulo, versículo 8, fala
acerca de ser puro no coração. Portanto, a tradução chinesa fala do
humilde decoração e do puro de coração. Antes de vir para a igreja,
muitos de nós não viam a diferença entre o coração e o espírito. O reino
dos céus está primeiramente relacionado ao nosso espírito.
O espírito no versículo 3 refere-se não ao Espírito de Deus, mas ao
espírito humano, a parte mais profunda do nosso ser, o órgão para
contatarmos Deus e percebermos as coisas espirituais. Ser pobre em
espírito não significa ter um espírito pobre. Nosso espírito nunca deve ser
pobre. Ter um espírito pobre seria lamentável. Mas se somos pobres em
nosso espírito, somos bem- aventurados. Ser pobre em espírito não é
apenas ser humilde, mas é também estar esvaziado em nosso espírito, nas
profundezas do nosso ser, não nos apegando às coisas antigas da velha
dispensação, mas desembaraçados para receber coisas novas, as coisas do
reino dos céus. Precisamos ser pobres, esvaziados e desembaraçados
nessa parte do nosso ser para que possamos perceber e possuir o reino
dos céus. Isso indica que o reino dos céus é uma questão espiritual, não
material.
Precisamos esvaziar nosso espírito de todas as coisas velhas que nos
têm enchido. Os mais enchidos em espírito são os muçulmanos. Não há
absolutamente nenhum espaço vazio no espírito deles. Por isso, é muito
difícil falar com eles sobre o evangelho. O diabo encheu totalmente o
espírito deles. Porque o espírito deles é tão ocupado, é difícil a algum
muçulmano crer no Senhor Jesus. Os judeus também estão cheios em seu
espírito. O espírito deles está completamente carregado com as coisas da
sua religião. Os gregos são enchidos em seu espírito com a filosofia
deles. Certa vez trabalhei com um grego que se gabava acerca da
linguagem e filosofia gregas. Embora a mente e o espírito dos gregos
estejam cheios, segundo a minha experiência com eles, é mais fácil os
gregos serem esvaziados. Eles não são tão obstinados como os
muçulmanos. Hoje muitos cristãos estão também enchidos em seu
espírito. Se falar aos que estão nas denominações, descobrirá que o
espírito deles está cheio. Quase todos os cristãos hoje são enchidos em
seu espírito com algo além de Deus.
Quando o Senhor Jesus veio pregar:
“Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus” (4:17),
não muitos puderam receber Sua palavra porque
o espírito deles estava enchido com outras coisas. A
melhor bebida estava sendo oferecida, mas o
recipiente deles já estava cheio. Por isso, eles não tinham sede. Quando
nosso espírito está cheio, não temos capacidade em nosso recipiente, nem
mesmo para a melhor bebida. Portanto, quando o Senhor falou aos
discípulos no monte, a palavra de abertura do Seu decreto era que
devemos ser pobres em espírito, que o nosso espírito deve estar vazio de
todas as coisas.
Muitos anos atrás visitei nesse país algumas assembléias dos
Irmãos Unidos. Quando olhei para as pessoas, meu coração ficou
dolorido e meu espírito, quebrado. Quanta morte havia ali! Todos estavam
112
secos. No primeiro lugar a que fui convidado, dei uma palavra dizendo a
eles que não precisavam de ensinamentos. Disse-lhes que tinham
ensinamentos suficientes e que o que precisavam era da vida e do espírito.
Minha palavra os ofendeu. Eles não ouviram o que eu disse acerca da vida
e do espírito; apenas ouviram o que eu disse sobre a doutrina.
Imediatamente após a mensagem, o líder veio a mim e repreendendo-me
disse: “Irmão Lee, seu ensinamento certamente está errado. Você há pouco
nos disse que não precisamos de doutrina. Certamente precisamos de
doutrina. A Bíblia não é um livro de doutrina?” Não disse uma palavra,
mas pensei: “Pobres pessoas, se vocês gostam de doutrina, vão a ela e
morram lá”. Mais tarde fui convidado para falar numa outra assembléia
dos Irmãos Unidos. A situação e a reação foram as mesmas. Tal reação
aconteceu porque eles não estavam pobres em espírito. Antes, o espírito
deles foi enchido com todas as assim chamadas doutrinas dos Irmãos
Unidos. Todas essas doutrinas eram como galhos secos, bons apenas para
mortificá-las.
Todos precisamos atentar à palavra do Senhor sobre ser pobre em
nosso espírito e dizer: “Senhor, esvazia-me. Encha meu espírito. Não
quero armazenar nada em meu espírito. Senhor, quero que todo o espaço
em meu espírito esteja disponível para Ti”.
O versículo 3 diz que os pobres em espírito são bem-aventurados
porque deles é o reino dos céus. Muitos cristãos estão ansiosos para ir aos
céus, mas dificilmente alguém desej a estar no reino dos céus. É um erro
estar ansioso acerca do céu. O coração de Deus não está nos céus; está no
reino dos céus. Os pobres em espírito são bem-aventurados, porque deles
é o reino dos céus.
O reino dos céus é um termo específico usado por Mateus,
indicando que o reino dos céus difere do reino de Deus, o termo usado nos
outros três Evangelhos. O reino de Deus se refere ao domínio de Deus de
uma maneira geral, da eternidade passada à eternidade futura. Abrange a
eternidade sem princípio antes da fundação do mundo, o paraíso de Adão,
os patriarcas escolhidos, a nação de Israel no Antigo Testamento, a igreja
no Novo Testamento, o reino milenar vindouro com seu governo celestial
(a manifestação do reino dos céus), e o novo céu e a nova terra com a
Novo Jerusalém sem fim pela eternidade. O reino dos céus é uma seção
especial dentro do reino de Deus, composta apenas da igreja hoje e da
parte celestial do reino milenar vindouro. Por isso, o reino dos céus,
uma seção do reino de Deus, é também chamado o reino de Deus no
Novo Testamento, especialmente nos outros três Evangelhos. Enquanto o
reino de Deus já existia de uma maneira geral no Antigo Testamento
com a nação de Israel (21:43), o reino dos céus ainda não veio de
uma maneira específica, mas apenas se aproximou quando João Batista
veio (3:1-2; 11:11-12). De acordo com Mateus, há três aspectos a respeito
do reino dos céus: a realidade, a aparência e a manifestação. A realidade
do reino dos céus é o conteúdo interior do reino dos céus em sua
natureza espiritual e celestial, como revelado no monte pelo novo Rei
nos capítulos 5 a 7. A aparência do reino dos céus é a condição exterior do
reino dos céus em nome, como revelado pelo Rei, no litoral, no capítulo
113
13. A manifestação do reino dos céus é a vinda prática do reino dos
céus em poder, conforme desvendado pelo Rei no Monte das Oliveiras
nos capítulos 24 e 25. A realidade e a aparência do reino dos céus estão
com a igreja hoje. A realidade do reino dos céus é a vida da igreja
adequada (Rm 14:17), que está dentro
da aparência do reino dos céus, conhecida
como cristandade. A manifestação do reino dos céus será a parte
celestial do reino milenar vindouro, que é chamada o reino do Pai
em 13:43. A parte terrena do reino milenar será o reino Messiânico, que é
chamado o reino do Filho do Homem em 13:41 e que será o tabernáculo
restaurado de Davi, o reino de Davi (At 15:16). Na parte celestial do reino
milenar, que será o reino dos céus manifestado em poder, os crentes
vencedores reinarão com Cristo por mil anos (Ap 20:4, 6). Na parte
terrena do reino milenar, que será o reino do Messias na terra, os
remanescentes salvos de Israel serão os sacerdotes, ensinando as nações a
adorar a Deus (Zc 8:20-23).
Se somos pobres em espírito, o reino dos céus é nosso. Já estamos
em sua realidade agora na era da igreja e compartilharemos de sua
manifestação na era do reino.
De acordo com o ensinamento dos quatro Evangelhos, há uma
diferença crucial entre o reino dos céus e o reino de Deus. Se quiser
entender Mateus, você deve diferenciar o reino dos céus do reino de Deus.
O reino de Deus é simplesmente o governo divino. É o governo de Deus da
eternidade passada à eternidade futura. Assim, o reino de Deus refere-se à
autoridade divina, o governo de Deus. Entre a eternidade passada e a
eternidade futura temos o paraíso de Adão, os patriarcas, a nação de
Israel, a igreja e o milênio. O milênio é dividido em parte superior e parte
inferior. A parte superior é chamada o reino do Pai, e a parte inferior é
chamada o reino do Filho do Homem e o reino do Messias, que é o reino
restaurado de Davi. Todas as coisas desde o paraíso de Adão até a Nova
Jerusalém estão incluídas no reino de Deus que se estende de eternidade
a eternidade.
O reino dos céus é uma parte do reino de Deus, assim como São
Paulo é uma parte do Brasil. Porque o reino dos céus é parte do reino de
Deus, é algumas vezes chamado de o reino de Deus. Por exemplo, o
Estado de São Paulo, parte do Brasil, é algumas vezes chamado de Brasil.
Quando alguém do exterior vem a São Paulo, pode dizer que veio ao
Brasil. Embora São Paulo possa ser chamado de Brasil, Brasil não pode
ser chamado de São Paulo. Da mesma maneira, embora o reino dos céus
possa ser chamado de reino de Deus, o reino de Deus não pode ser
chamado de reino dos céus.
Mateus 21:43 indica que o reino de Deus seria tirado de Israel. O
reino de Deus ser tirado de Israel indica que ele já estava com Israel. Se
ele não estivesse com Israel, como poderia ter sido tomado? Embora o
reino de Deus já estivesse lá, João Batista disse: “Arrependei-vos, porque
está próximo o reino dos céus” (3:2). Por um lado, o reino de Deus estava
lá; por outro, o reino dos céus ainda não estava. Mesmo quando o Senhor
falou aos judeus no capítulo 21 com respeito ao reino de Deus sendo
114
tirado de Israel, o reino dos céus ainda estava apenas próximo. Isso não
aconteceu até o dia de Pentecoste, quando o reino dos céus veio. Por isso,
na primeira parábola do capítulo 13, a parábola do semeador, o Senhor
Jesus não disse: “O reino dos céus é semelhante a um semeador”, porque
Ele já era o Semeador antes do dia de Pentecoste. O Pentecoste era o
cumprimento da segunda parábola, a parábola do joio. Assim, na
introdução daquela parábola o Senhor Jesus disse: “O reino dos céus é
semelhante a” Por tudo isso, vemos que o reino de Deus já estava
presente antes de o reino dos céus vir.
O reino dos céus é composto de duas seções. A primeira seção é a
igreja, e a segunda é a parte superior do milênio. Todos os cristãos
genuínos estão na igreja hoje. Mas apenas os vencedores estarão na parte
superior, a parte celestial do milênio. O que temos na igreja hoje é a
realidade do reino dos céus, não a manifestação. A manifestação do reino
não acontecerá até o milênio. A manifestação do reino dos céus será
vista na parte superior do milênio.
Os pobres em espírito são bem-aventurados, porque deles é o reino
dos céus. (Note que o Senhor não diz “porque deles é o reino de Deus.”)
Quando nos tornamos pobres em nosso espírito, estamos prontos para
receber o Rei celestial. Quando Ele vem, Ele traz o reino dos céus com
Ele. Imediatamente após receber o Rei celestial, estamos na igreja, onde
a realidade do reino dos céus está. Se somos vencedores, na Sua vinda o
Senhor nos introduzirá na manifestação do reino dos céus. Ter o reino dos
céus é primeiramente participar da vida normal e adequada da igreja e,
em segundo lugar, herdar a manifestação do reino dos céus na parte
superior do milênio. Esse é o significado das palavras “porque deles é o
reino dos céus”. Os cristãos desviados perderão a realidade do reino dos
céus nesta era e a manifestação do reino dos céus na era vindoura. Que
bênção é ser pobre em espírito! Se somos pobres em espírito, o reino dos
céus é nosso. Aleluia pela primeira bem-aventurança.e pelo reino dos
céus! Quão bom é ser pobre em nosso espírito!

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MENSAGEM 14

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (2)


O reino dos céus está absolutamente relacionado ao nosso espírito.
A primeira bem-aventurança no capítulo cinco é uma bem-aventurança
em nosso espírito: “Bem-aventurados os pobres em espírito” (5:3). Por
isso, o primeiro aspecto do reino dos céus tratado nesse capítulo diz
respeito ao nosso espírito.
Há algumas traduções muito pobres do versículo 3, tais como:
“Felizes são os de disposição humilde” e “Bem-aventurados são os
humildes no coração”. Muitos cristãos não compreendem a que o Senhor
Jesus estava se referindo quando falou de ser pobre em espírito. Além
disso, eles não sabem que o reino dos céus é totalmente uma questão do
nosso espírito. Se não conhecermos o nosso espírito, estamos terminados
para o reino dos céus porque o reino dos céus está relacionado ao nosso
espírito.
Enquanto o Senhor Jesus estava falando lá no monte, Ele conhecia
a situação real da sua audiência, uma audiência composta de galileus.
Aqueles galileus estavam cheios do conceito tradicional da religião. Até
mesmo a mulher samaritana imoral, em João 4, tinha vários conceitos
religiosos. A conversa dela com o Senhor Jesus expôs esse fato. Se até
mesmo tal mulher de baixo nível estava cheia de conceitos religiosos,
certamente os pescadores galileus também estavam. Três vezes ao ano
eles subiam a Jerusalém para as festas e permaneciam lá por pelo menos
uma semana. Esse único fato mostra que os pescadores galileus não eram
recipientes vazios. Enquanto o Senhor Jesus esteve na terra, todas as
pessoas, quer fossem judeus, romanos ou gregos, estavam cheias. Os
judeus estavam cheios dos conceitos tradicionais religiosos, do
conhecimento espiritual e dos ensinamentos da lei. Eles sabiam tudo
sobre a cidade santa, o templo santo, e sobre o sagrado sistema de serviço
sacerdotal. Eles conheciam o altar, os sacrifícios, as festas, as ordenanças
e os regulamentos, os quais consideravam bênçãos exteriores. Não há
necessidade de mencionar os gregos e os romanos, porque até mesmo os
judeus que estavam diante do Senhor Jesus estavam cheios dos conceitos
tradicionais deles.
O Senhor Jesus veio como o novo Rei para iniciar uma nova
dispensação. Com a vinda do novo Rei, Deus iniciou uma nova economia.
A nova dispensação de Deus está comprometida com uma Pessoa
maravilhosa. Falando de maneira figurada, essa nova economia é
simplesmente essa Pessoa. Não considere o reino dos céus como algo à
parte de Cristo. Não, ele é o próprio Cristo. Sem o Rei, não poderíamos ter
116
o reino. Não podemos ter o reino dos céus sem Cristo. Quando os fariseus
interrogaram o Senhor Jesus sobre quando viria o reino' de Deus, Ele
respondeu: “Porque eis que o reino de Deus está no meio de vós” (Lc
17:21). A palavra do Senhor aos fariseus indicava que Ele mesmo era o
reino. Onde Jesus está, aí está também o reino. O reino é simplesmente a
Pessoa do Rei. Portanto, quando temos o Rei, temos também o reino.
Quando Pedro, André, Tiago e João foram a Jerusalém para as
festas, João Batista estava ministrando no deserto fora de Jerusalém. Sem
dúvida, esses quatro foram atraídos a ele. Por fim, encontraram o
Senhor Jesus e foram salvos à margem do Jordão. O Senhor Jesus foi
batizado no Jordão, onde estavam esses quatro discípulos, e Ele foi
ungido lá. Após a unção do Senhor Jesus, houve um período de quarenta
dias quando Ele foi testado. Aqueles quarenta dias foram também um
teste para esses quatro discípulos recém-salvos. O Senhor passou no teste,
mas os discípulos fracassaram, esquecendo-se de sua experiência de
salvação à margem do Jordão e retomando ao mar da Galiléia para obter
o sustento. Dois foram pescar e dois, remendar as redes. O fato de terem
voltado ao mar da Galiléia para pescar e remendar as redes mostra que
foram derrotados. Embora tenham sido salvos, retomaram à sua velha
situação. Portanto, eles fracassaram.
O novo Rei foi levado ao deserto e lá foi vitorioso sobre o inimigo.
Após vencer a batalha contra Satanás, Ele foi ao mar da Galiléia, para o
espanto de Pedro, André, Tiago e João. Lá no mar da Galiléia, o Senhor
Jesus teve o segundo contato com eles. Como vimos na mensagem 12, a
primeira vez que esses quatro discípulos foram levados ao Senhor, eles O
viram como o Cordeiro de Deus. Mas na segunda vez, o Senhor concedeu-
lhes uma graciosa visitação como a grande luz. A Bíblia é muito
econômica em sua descrição do chamamento desses quatro discípulos.
Pedro e André estavam pescando, e Tiago e João estavam remendando
suas redes. Subitamente, Aquele com quem eles haviam encontrado há
mais de quarenta dias apareceu como uma grande luz resplandecendo
sobre eles. Eles perceberam que esse era o Cordeiro de Deus e foram
atraídos a Ele. Entretanto, dessa vez o Cordeiro de Deus era agrande
luz resplandecendo sobre eles. Após resplandecer sobre eles, o novo Rei
disse: “Segue- Me”, e esses quatro discípulos O seguiram. Finalmente, os
quatro influenciaram outros a seguir o Senhor Jesus, e multidões foram
atraídas a Ele. Quando o Senhor Jesus subiu ao cume do monte, Seus
discípulos foram até Ele para formar o círculo interno, a audiência mais
próxima para o decreto do novo Rei. A primeira coisa que Ele disse foi:
“Bem- aventurados os pobres em espírito”. Essa palavra era a
continuação da pregação do Senhor em 4:17, onde Ele disse: “Arrependei-
vos, porque está próximo o reino dos céus”. Em Sua pregação o Senhor
tratou a mente, os pensamentos. Ele parecia estar dizendo: “Vocês devem
arrepender-se. Devem ter uma mudança em seus pensamentos, em sua
mentalidade. A mente de vocês precisa mudar”. Sem dúvida, Pedro,
André, Tiago e João tiveram uma mudança genuína em seu
entendimento. Na época em que estavam no círculo interno para serem a
audiência mais próxima para o decreto do novo Rei, não havia problema
117
quanto à mente deles. Os seus pensamentos já tinham passado por uma
mudança.
Voltar a nossa mente nos proporciona um caminho para entrar no
reino e para o reino entrar em nós. A mente não é nem o receptor nem o
compartimento interior; é a porta. O receptor, a câmara interior, é o
nosso espírito. Assim, nossa mente é a porta e nosso espírito é o
compartimento interior. Devemos colocar a palavra do Senhor em 4:17:
“Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”, com a Sua
palavra em 5:3: “Bem- aventurados os pobres em espírito, porque deles é
o reino dos céus”. A mente que se voltou é a porta pela qual o reino dos
céus vem a nós. Quando o reino vem, ele é implantado em nosso espírito.
Ele entra pela porta de nossa mente e alcança o nosso espírito. É nosso
espírito, não nossa mente, que recebe o reino e o retém. Portanto, nosso
espírito é o receptor e o recipiente do reino dos céus.
Os evangelistas que conhecem o segredo do evangelho, em suas
pregações tratam primeiramente da mente das pessoas.
Então prosseguem tratando do espírito delas. A pregação do
evangelho deve tratar da mente das pessoas, com sua maneira de pensar.
Isso é para produzir nelas arrependimento, para terem uma mudança em
seu pensamento e maneira de vida. Tão logo alguém se arrependa, o
pregador adequado do evangelho lhe pedirá para orar e invocar o nome
do Senhor. Isso não é lidar com a mente, mas lidar com o espírito .
Depois que uma pessoa exercita seu espírito para orar e invocar o nome
do Senhor, Ele imediatamente entrará em seu espírito, atravessando a
porta da mente e alcançando o seu espírito.
O próprio Senhor Jesus, que entrou em nosso espírito por meio da
nossa mente, é o Rei. O reino está com Ele. Quando o Rei entra no
espírito de alguém, significa que o reino também entra em seu espírito.
Daquele dia em diante, o Rei e o reino permanecem em seu espírito. No
ensinamento do cristianismo degradado de hoje, poucos enfatizam que o
Cristo que entra em nosso espírito é o próprio Rei com o reino. Quando
Ele entra em seu espírito, o reino vem com Ele. Agora em nosso espírito
não apenas temos o Salvador; temos também o Rei com o reino.
Por muitos anos, temos enfatizado a importância de 2 Timóteo 4:22:
“O Senhor seja com o teu espírito”. Sempre aplicamos isso à questão
da vida. Entretanto, agora devemos ver também que sempre que
dizemos que o Senhor Jesus está com o nosso espírito, significa que o
reino está com o nosso espírito. Esse Senhor Jesus não é apenas o
Salvador e a vida, mas também o Rei com o reino. Hoje podemos
declarar: “Em meu espírito tenho o Salvador, a vida, o Rei e o reino!”
Quando nos arrependemos e cremos no Senhor Jesus como o
Salvador, a vida e o Rei com o reino, Ele entrou em nosso espírito e foi
implantado ali. Assim, em nosso espírito agora temos o Salvador, a
vida e o Rei com o reino. Recebemos tal Pessoa em nós nos
118
arrependendo em nossa mente e sendo pobres em espírito. Quando
estava numa condição caída andando longe de Deus, fui enchido com
filosofia e religião. Não apenas andava numa direção errada, mas
também estava cheio de conceitos e pensamentos indignos. Quando
ouvi a pregação do evangelho, tive uma mudança em minha mente;
minha mente foi mudada. Entretanto, ainda estava cheio de muitos
conceitos filosóficos e religiosos. Assim, não apenas precisava ter uma
mudança na mente, mas também tornar-me pobre em espírito. Ser
pobre em espírito é esvaziá-lo; é abrir-se das profundezas do nosso
ser e ser desembaraçado de todas as outras coisas para que o Senhor
Jesus seja capaz de entrar em nosso espírito. Quando Ele entrou em
mim, veio como o Rei com o reino. Portanto, se você é pobre em
espírito, seu é o reino dos céus. Você pode ter dado “meia-volta” em
sua vida e está agora face a face com o Senhor, mas, e quanto ao seu
espírito? Seu espírito está aberto a Ele ou está cheio de outras coisas?
Você está ainda cheio de conceitos filosóficos e religiosos? Os gregos
podem estar cheios da filosofia de Platão, os chineses, dos
ensinamentos de Confúcio e os judeus, dos ensinamentos de Moisés.
Para que o Rei e o reino entre em você, você deve ser pobre em seu
espírito. Isso significa que deve abrir-se das profundezas do seu ser e
lançar fora todos os conceitos, opiniões e pensamentos que o têm
enchido. Quando estiver com seu espírito vazio, o Rei com o reino
virão para dentro de você. Então o reino dos céus é seu.
Por favor, prestem muita atenção ao tempo do verbo no versículo 3.
Ele não está no futuro, mas no presente. Esse versículo não diz: “Deles
será o reino dos céus,” mas diz: “Deles é o reino dos céus”. Quando você se
abre das profundezas do seu ser, isto é, do seu espírito, e desembaraça-se
e esvazia seu espírito, o Rei como o Espírito que dá vida entrará pela porta
da sua mente arrependida e virá ao seu espírito para ser seu Rei com o
reino. A partir de então, o reino está dentro de você, e o reino dos céus é
seu. Essa é a salvação de acordo com o Novo Testamento.
Entretanto, o cristianismo degradado de hoje perdeu isso.
Quando recebeu o Senhor Jesus, percebeu que uma espécie de
governo veio para dentro de você? Esse governo é o reinar do reino. Não
temos apenas o Salvador e a vida, mas também o Rei. Esse Rei exercita
Sua autoridade de dentro do nosso espírito. Mesmo que tenha sido salvo
hoje, você já tem o reino dentro de si. Embora eu tenha sido salvo há mais
de cinqüenta anos, não tenho nada mais do que tem alguém que acabou
de ser salvo. Quem está dentro de nós é o nosso Salvador, nossa vida e
119
nosso Rei com o reino. Quão rico e elevado Ele é! Porque O recebemos em
nosso espírito, nosso é o reino dos céus. O reino é nosso e o reino está em
nosso espírito.
Agora devemos compreender o significado do versículo 3: “Bem-
aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus”.
Precisamos trocar o pronome e dizer: “Bem-aventurados são os pobres
em espírito, porque nosso é o reino dos céus”. Uma vez que entendemos o
significado deste versículo, vemos que é um erro ensinar que o reino está
suspenso até o milênio. A palavra “é” neste versículo prova que o reino dos
céus é nosso agora mesmo. Como somos bem-aventurados! Que bem-
aventurança é ser pobre em espírito! Se somos pobres em espírito, nosso
é o reino dos céus. Se tomar essa palavra, você nunca mais será o mesmo.
Esse único versículo é melhor do que cem mensagens. Aleluia! o reino dos
céus é nosso! Somos verdadeiramente bem-aventurados e felizes. Bem-
aventurados e felizes são os pobres em espírito, porque nosso é o reino dos
céus.

B. Os que Choram Serão Consolados


Embora devamos estar muito felizes em ouvir que estamos no reino
dos céus hoje, já no próximo versículo o Senhor Jesus disse-nos para
chorar. O versículo 4 diz: “Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados”. Não parece lógico dizer que os que choram são bem-
aventurados e felizes. Entretanto, se orarmos por certo tempo com um
espírito cheio com o Rei e o reino, começaremos a chorar pela situação
negativa atual. Toda a situação do mundo é negativa em relação à
economia de Deus.
Satanás, o pecado, o ego, as trevas e o mundanismo predominam
entre todas as pessoas na terra. A glória de Deus é insultada, Cristo é
rejeitado, o Espírito Santo é frustrado, a igreja está desolada, o ego está
corrompido e o mundo todo é maligno. Portanto, Deus quer que
choremos por tal situação. Porque o reino está em nós, somos subjugados,
controlados e governados pelo Rei que habita interiormente. Se, enquanto
estamos sob esse governo, olharmos para o ambiente e a situação do
mundo, nós lamentaremos e choraremos.
Esse choro, entretanto, é uma bem-aventurança, porque o Senhor
disse que os que choram “serão consolados”. Se chorarmos segundo Deus
e a Sua economia, seremos confortados sendo recompensados com o
reino dos céus. Veremos o governo celestial de Deus sobre todas as
situações negativas. Muitas vezes tive a experiência de chorar e ser
confortado. Não fique desapontado. Devemos chorar, contudo estar
cheios de esperança. O Rei está vindo, o inimigo será derrotado e a terra
será governada por Cristo. Mais cedo ou mais tarde, seremos consolados.
Não é um consolo ver tantos na restauração do Senhor buscando-O e a
Seu reino? Que conforto isso é para mim! Se nunca experimentou chorar
em seu espírito, então você não percebe quão doce e confortante é ver
tantos que se importam apenas com o reino do Senhor. Por essa razão,

120
amamos todos os queridos santos na restauração do Senhor. Todas as
igrejas com todos os santos sedentos são um verdadeiro consolo para cada
espírito que chora.

C. Os Mansos Herdarão a Terra


A seqüência desses versículos é muito significativa. Primeiramente
somos pobres em espírito para receber o Rei com o reino e contê-Lo.
Então, choramos pela situação miserável e somos consolados. A seguir,
temos uma palavra sobre os mansos. O versículo S diz: “Bem-aventurados
os mansos, porque herdarão a terra”. Alguns tradutores dizem que a
palavra grega para “terra” deve ser “território”. Mas quer seja terra ou
território, isso se refere ao mundo vindouro subjugado. Hoje a terra é um
reino mundano sob o governo de Satanás. Mas dia virá quando o
Senhor, o Rei, reinará neste mundo. Apocalipse 11:15 diz: “O reino do
mundo se tomou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos
séculos dos séculos”. O mundo citado em Apocalipse 11:15 éa terra em
Mateus 5:5.
Em Mateus 5:5 o Senhor disse que os mansos herdarão a terra. Os
pobres em espírito no versículo 3 e os que choram no versículo 4 são
agora os mansos no versículo 5. Mui tos cristãos não entendem o que
significa ser manso. Não significa simplesmente ser gentil, humilde e
submisso. Ser manso não significa resistir à oposição do mundo, mas
significa sofrê-la voluntariamente. Ser manso significa não lutar ou
resistir. Se somos mansos, dispostos a sofrer a oposição do mundo nesta
era, herdaremos a terra na era vindoura, como revelado em Hebreus 2:5-8
e Lucas 19:17, 19.
Hoje, os que lutam são os que ganham a terra. Se não lutar, você
não receberá qualquer território. Essa é a razão pela qual há tantas
guerras. As nações promovem guerras umas contra as outras a fim de
ganhar mais territórios para si. A maneira humana é ganhar a terra
lutando por ela, mas a maneira do reino dos céus é ganhá-la sendo
manso. Não há necessidade de lutar, mas há necessidade de ser manso.
Alguns jovens têm proclamado algumas frases sobre tomar a terra. A
maneira de tomar a terra não é por frases, aclamações ou lutas. A
maneira é por meio da mansidão. Bem-aventurados são os mansos,
porque herdarão a terra. Você é um lutador ou um manso? Se quiser
herdar a terra, deve ser manso. Quando o Senhor Jesus voltar, Ele
dominará a terra. Entretanto, quando foi preso, traído e crucificado no
Gólgota, Ele foi manso. Enquanto estava pregado na cruz, Ele não
resistiu. De todas as maneiras Ele foi manso, manso até o fim. Por fim, a
terra será conquistada não pelos que lutam, mas pelos mansos. Algumas
semanas atrás um opositor disse a um dos nossos irmãos: “Vamos deter
vocês!” O tempo dirá quem vai deter quem. Os que lutam serão detidos,
mas os mansos não. Antes, eles herdarão a terra. Satanás está sempre
lutando, mas o Senhor Jesus nunca luta. Ao contrário, Ele é manso. Nisso
vemos que a economia de Deus é oposta à economia do homem. Se você
quer conquistar a terra, deve ser manso. Se não tem recebido qualquer
121
território, isso pode indicar que você ainda não é manso o suficiente. Os
jovens devem ser mansos nas universidades. Percebo que essa é uma
linguagem celestial. O Senhor Jesus não disse: “Bem- aventurados os que
lutam, porque conquistarão a terra. Os que lutam tomarão a terra!” Não
digam: “Vamos tomar a terra lutando por ela”. Não, pelo contrário,
devemos dizer: “Tomemos a terra sendo mansos”. Você pode pensar que
mansidão está relacionada a coisas materiais. Entretanto, se considerar a
questão cuidadosamente, verá que mansidão não está relacionada a
coisas materiais exteriores. Antes, está relacionada a algo interior, que
está em nosso próprio ser.

D. Os Famintos e Sedentos de Justiça Serão Fartos


No versículo 6 o Senhor disse: “Bem- aventurados os que têm fome
e sede de justiça, porque serão fartos”. Justiça aqui é ser justo em nosso
comportamento. Essa justiça está relacionada ao que somos
interiormente. Isso está indicado pelo fato de nos ser dito para termos
fome e sede de justiça a fim de que sejamos fartos.
Para entender o versículo 6 devemos também considerar o versículo
20 que diz: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito
a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”.
Nos versículos 3 e 20 vemos dois aspectos do reino dos céus. No versículo
3 o verbo está no presente e no versículo 20 está no futuro. Por um lado, o
reino dos céus é nosso; por outro, nós entraremos no reino dos céus. Se
somos pobres em nosso espírito, a realidade do reino dos céus é nossa
hoje. Mas ainda precisamos entrar na manifestação do reino dos céus.
Lembre-se dos dois aspectos do reino dos céus: a realidade na igreja hoje
e a manifestação na parte superior do milênio no futuro. Se somos
verdadeiramente pobres em espírito, buscando Cristo, a realidade do
reino dos céus é nossa. Então na época do milênio, entraremos na
manifestação do reino dos céus. Entretanto, para entrarmos na
manifestação do reino dos céus precisamos da justiça excedente, a justiça
que excede a dos escribas e fariseus. Precisamos ter fome e sede dessa
justiça, tentar alcançar tal justiça, a fim de que possamos entrar no reino
dos céus (vs. 6, 10, 20). Se tivermos fome e sede de justiça, Deus nos
fartará com a própria justiça que buscamos. Se buscamos essa justiça que
excede, ela nos será dada. Justiça é ser justo não apenas com Deus, mas
também com o homem. A justiça dos escribas e fariseus era insuficiente
porque era a justiça segundo alei. Nossa justiça não deve ser conforme a
velha lei, mas conforme a nova lei. Como veremos, a nova lei é muito mais
elevada do que a velha. A velha lei diz: “Não matarás”. Mas a nova diz:
“Todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a
julgamento” (v. 22). Por esse único exemplo vemos que nossa justiça deve
estar em um nível mais elevado do que a justiça dos fariseus. Não
devemos nos preocupar apenas em não matar, mas até mesmo em não
estar irado com nosso irmão. Essa justiça está no plano mais elevado.
Nossa vida natural não é capaz de satisfazer a essa justiça. Essa
122
justiça interior subjetiva deve ser Cristo. Apenas Cristo pode cumprir as
exigências da nova lei. Ao ler Mateus 5 quando jovem, fiquei desapontado
e disse: “Simplesmente não posso praticar isso. Terei de desistir”. Mas
quanto mais tenho crescido, mais tenho percebido que posso praticá-la
porque tenho uma vida dentro de mim que é capaz. O Rei com Seu reino
dentro em mim pode. Entretanto, esse Rei precisa da nossa cooperação.
Cooperamos sendo famintos e sedentos. Cooperamos dizendo:-ó Senhor
Jesus, estou faminto e sedento de Ti. Senhor, quero ser enchido Contigo”.
Se for faminto e sedento dessa maneira, você será farto.
A justiça no versículo 6 é simplesmente Cristo. É a justiça que excede,
a justiça no plano mais elevado, que apenas pode ser a1cançada
por Cristo. Porque Ele é quem produz essa justiça mais elevada,
devemos buscá-Lo. Precisamos orar: “Senhor, faz-me faminto.
Conceda-me um apetite por Ti. Conceda-me o apetite para buscar a
justiça que excede”. Se buscá- la de tal maneira, você será satisfeito.
Receberá o que tem buscado.

E. Os Misericordiosos Alcançarão
Misericórdia
O versículo 7 diz: “Bem-aventurados os misericordiosos porque
alcançarão misericórdia”. Ser justo é dar a alguém o que ele merece,
enquanto ser misericordioso é dar mais do que ele merece. Para o reino
dos céus, precisamos não apenas ser justos, mas também
misericordiosos. Receber misericórdia é termais do que merecemos. Se
somos misericordiosos com os outros o Senhor nos concederá
misericórdia (2Tm 1:16, 18), especialmente no Seu trono de julgamento
(Tg 2:12- 13).
Ser justo é tratar consigo mesmo de uma
maneira estrita. Devemos ser justos ao tratar conosco. Não devemos dar a
nós mesmos qualquer desculpa. Para com os outros,
entretanto, devemos ser misericordiosos. Se somos diligentes
em buscar a justiça que excede, por fim nos
tomaremos misericordiosos com os outros. Em
nossa busca descobriremos que nosso homem natural é fraco
e que somos propensos a falhar. Se não perceber a condição
miserável do seuhomem natural, você nunca terá
misericórdia dos outros. Em vez de demonstrar misericórdia com eles,
você os condenará quando caírem ou fracassarem. A razão por que os
condena é que você não conhece a si mesmo. Se se conhecer, sempre que
alguém fracassar, você dirá: “Senhor, tem misericórdia de mim e do meu
irmão. Somos todos vasos fracos e não podemos cumprir Tuas exigências.
Senhor, mesmo que meu irmão tenha me ofendido, eu ainda desejo ser
misericordioso com ele”. Se nunca fracassou, você nunca será
misericordioso. Se sempre obtém êxito em sua busca pela santidade e
123
perfeição, você não terá compaixão dos outros quando falharem. Você
sempre os condenará. Mas se conhece quão fraco você é e quantos erros
tem cometido, será misericordioso com os outros.
Há uma promessa para nós no versículo 7. A promessa é que os que
são misericordiosos alcançarão misericórdia. Se julga seu irmão sem
misericórdia hoje, você não receberá qualquer misericórdia no trono de
julgamento de Cristo. Porque julga outros sem misericórdia, Cristo julgará
você sem misericórdia. Mas se tem misericórdia de seu irmão, o Senhor
terá misericórdia de você no Seu trono de julgamento. Assim, o povo do
reino é justo em tratar consigo mesmo, mas muito misericordioso em
tratar com os outros. Uma vez mais, essa não é uma questão exterior, mas
relacionada ao nosso ser interior.

F. Os Puros de Coração Verão a Deus


O versículo 8 diz: “Bem-aventurados os puros de coração, porque
verão a Deus”. Ser justo é para tratar com nós mesmos; ser misericordioso
é para lidar com os outros; e ser puro de coração é para relacionar-nos
com Deus. Conosco, devemos ser estritos e não permitir desculpas.
Com os outros, devemos ser misericordiosos, dando-lhes mais do que
merecem. Mas com Deus devemos ser puros de coração, não buscando
nada além Dele. A recompensa para quem é puro de coração é ver a
Deus. Deus é a nossa recompensa. Nenhuma recompensa é maior do que
o próprio Deus. Nós a obtemos sendo estritos, justos com nós mesmos,
misericordiosos com os outros e puros de coração para com Deus.
Ser puro de coração é ser simples em propósito, ter como único alvo
realizar a vontade de Deus para a Sua glória (1Co 10:31). Isso é para o
reino dos céus. Nosso espírito é o órgão para receber Cristo (101:12; 3:6),
enquanto o nosso coração é o solo onde Cristo como a semente da vida
cresce (Mt 13:19). Para o reino dos céus precisamos ser pobres em
espírito, vazios em nosso espírito, para que possamos receber Cristo.
Todos precisamos ser puros e simples em nosso coração, para que Cristo
possa crescer em nós sem frustração. Se somos puros de coração ao
buscar a Deus, nós O veremos. Ver a Deus é uma recompensa para esses.
Essa bênção é para hoje e para a era vindoura.

G. Os Pacificadores Serão Chamados Filhos de Deus


O versículo 9 diz: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão
chamados filhos de Deus”. Satanás, o rebelde, é o instigador de toda
rebelião. Por causa do reino dos céus, debaixo do seu governo celestial,
devemos ser pacificadores entre os homens (Hb 12:14).
Em todas as primeiras sete bem-aventuranças vimos que não
deveríamos ser pessoas que brigam ou que causam problemas; antes,
devemos ser pacificadores, sempre promovendo a paz com os outros.
Se somos pacificadores, seremos chamados filhos de Deus. Os filhos
124
do diabo criam problemas, mas os filhos de Deus promovem a paz.
Como o Filho de Deus, o Senhor Jesus fez paz com Deus e com o
homem. Agora, como os filhos de Deus, devemos segui-Lo fazendo a
paz. Então seremos chamados os filhos de Deus.
Nosso Pai é o Deus de paz (Rm 15:33; 16:20), que tem uma vida
pacífica com uma natureza pacífica. Como os nascidos Dele, se quisermos
ser os pacificadores, devemos agir em Sua vida divina, de acordo com a
Sua natureza divina. Assim, expressaremos Sua vida e natureza, e seremos
chamados filhos de Deus.

H. Os Perseguidos por causa da Justiça Terão Parte no Reino


dos Céus
Mateus 5:10 diz: “Bem-aventurados os que são perseguidos por
causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.” O mundo todo jaz no
maligno (1Jo 5:19) e está cheio de injustiças. Cada aspecto do mundo é
injusto. Se somos sedentos e famintos de justiça, seremos perseguidos por
causa da justiça. Precisamos pagar um preço pela justiça por causa do
reino dos céus. Se somos justos, seremos condenados, perseguidos e
sofreremos oposição. Assim, sofreremos perseguição. Muitos santos que
fizeram o máximo para ser justos sofreram perseguição como
conseqüência. Em seu ambiente, negócios ou trabalho havia muitas
coisas injustas. Porque desejavam ser justos naquela situação, eles
sofreram perseguição dos outros.
Esse versículo diz que os perseguidos por causa da justiça são bem-
aventurados “porque deles é o reino dos céus”. Se buscamos a justiça a
todo custo, o reino dos céus toma-se nosso: estamos em sua realidade
agora e seremos recompensados com sua manifestação na era vindoura.
Temos enfatizado que, de acordo com o versículo 20, a fim de estar no
reino dos céus precisamos da justiça que excede, a justiça no plano mais
elevado. Para entrarmos na manifestação do reino dos céus precisamos
desse tipo de justiça. Portanto, precisamos ter fome e sede dela e sofrer
perseguição por sua causa.

I. Os
Injuriados, Perseguidos e Difamados por causa Dele
Receberão o Grande Galardão
nos Céus
No versículo 11 o novo Rei disse: “Bem- aventurados sois quando,
por Minha causa, vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem
todo mal contra vós”. A perseguição no versículo 10 é por causa da justiça,
por causa da nossa busca de justiça, enquanto a perseguição no versículo
11 é diretamente por causa de Cristo, o novo Rei, por seguirmos a Ele.
Quando vivemos uma vida para o reino dos céus em sua natureza
125
espiritual e de acordo com seus princípios celestiais, somos injuriados,
perseguidos e difamados, principalmente pelos religiosos, que se apegam
aos seus conceitos tradicionais. Os religiosos judeus fizeram todas essas
coisas aos apóstolos nos primeiros dias do reino dos céus (At 5:41;3:8).
Isso é também verdade hoje. Se estiver verdadeiramente buscando Cristo,
muitos nas denominações se levantarão contra você. Isso é o que estamos
sofrendo agora. Estamos sofrendo injúrias e perseguição, e boatos
maldosos circulam a nosso respeito. Recentemente uma reputada editora
publicou um livro nos associando com o hinduísmo. Que boato maligno!
Essa injúria e perseguição vem a nós porque não nos importamos
com a tradição, mas com Cristo e a pura palavra da Bíblia.
No versículo 12 o Senhor Jesus dá uma palavra de encorajamento
aos que são perseguidos por Sua causa: “Regozijai-vos e exultai, porque é
grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas
que viveram antes de vós”. Esse galardão da nona bem-aventurança
indica que todos os resultados das oito bem-aventuranças anteriores
também são recompensas. Esse galardão é grande e está nos céus, uma
recompensa celestial, não terrena.

MENSAGEM 15

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (3)


Para se ter uma boa nação ou reino, deve-se ter um bom povo. Um
país adequado precisa de pessoas adequadas. Por isso, na constituição do
reino celestial, o Senhor Jesus primeiramente revela o tipo de pessoa que
vive no reino dos céus.

O SER INTERIOR DO POVO DO REINO


As nove bem-aventuranças em 5:3-12 estão todas relacionadas à
natureza do povo do reino. O tipo de pessoa que somos depende da nossa
natureza. Cada aspecto dessas nove bem-aventuranças trata
126
principalmente do nosso ser interior, não com coisas materiais exteriores.
Além do nosso ser interior, esses versículos também tratam um pouco da
expressão exterior. Tome o exemplo da justiça. Se ler esses versículos
cuidadosamente, você verá que justiça aqui não é meramente uma
questão de comportamento exterior. Antes, é o fluir do nosso ser interior,
a expressão do que somos interiormente. Portanto, a primeira seção da
constituição (5:1-12) trata o ser interior do povo do reino.

NOVE PALAVRAS CRUCIAIS


Ao considerar a natureza do povo do reino como revelada nesses
versículos, precisamos relembrar nove expressões cruciais, uma para cada
uma das nove bem-aventuranças: pobre em espírito, que chora, manso,
faminto e sedento pela justiça, misericordioso, puro, pacífico, perseguido e
injuriado.
Essas palavras revelam que tipo de pessoa o povo do reino deve ser.
Devem sempre estar pobres em espírito, tristes pela situação presente,
mansos ao enfrentar oposição, justos consigo mesmos, misericordiosos
com os outros, puros para com Deus, pacíficos com todos os homens,
perseguidos por causa da justiça e injuriados por causa de Cristo. A soma
dessas nove expressões é a natureza do povo do reino.

POBRES EM ESPÍRITO E TRISTES


A seqüência desses versículos é muito significativa. Primeiramente
devemos ser pobres em espírito e, então, podemos chorar. Se não somos
pobres em nosso espírito, não temos lugar para que o Rei venha
estabelecer Seu reino dentro de nós. Se não temos o reino celestial
formado em nós, não podemos perceber quão negativo e miserável é o
mundo inteiro. Entretanto, quando o Senhor Jesus encontra caminho
para estabelecer Seu remo em nós e quando todos os lugares do nosso ser,
e mesmo as profundezas do nosso ser, o nosso espírito, estão disponíveis
para Ele, percebemos que a terra está em trevas, corrompida e cheia de
pecado. Espontaneamente choraremos por essa Situação triste. Por isso, o
Senhor Jesus não falou primeiramente sob:-e chorar e, então, de ser
pobre em espírito. Ele colocou a questão de ser pobre em espírito antes.
Apenas quando somos pobres em espírito é que podemos chorar.

CHORO E MANSIDÃO
Se formos pobres em espírito e chorarmos pela situação miserável
dos outros, espontaneamente seremos mansos. Mesmo se sua sogra
estiver em uma condição miserável, não diga isso a ela. Igualmente a
condição de sua querida esposa pode não ser muito positiva aos olhos
do Senhor. Se o coração e os interesses dela não são pelo Senhor, e ela
não se importa com o Seu reino, a situação dela é lamentável. Você
tem o Senhor Jesus com o reino celestial em seu espírito, mas e
quanto a sua esposa? Você pode estar no mais alto céu, mas ela pode

127
estar no mais profundo inferno. Além disso, considere seus filhos.
Você pode amar o Senhor ao máximo, mas eles podem não amá-
Lo de jeito nenhum. Portanto, você deve chorar pela sua sogra, esposa
e filhos. Deve também chorar pelos seus parentes, colegas e vizinhos.
Onde está quem realmente é pelo Senhor? Olhe para a condição
deplorável do mundo, incluindo a da cristandade. Os comerciantes se
importam apenas com o dinheiro, os estudantes, com a educação
deles, e os que trabalham se importam apenas com promoções e
posições. Quando somos pobres em espírito, certamente
prantearemos por toda a situação. Lamentaremos pelo nosso
ambiente e pelas pessoas ao nosso redor.
Por chorarmos pelos outros, nunca contenderemos com eles. Em
vez disso, espontaneamente seremos mansos com eles. Se você ainda não
é manso com sua esposa, é um sinal de que não foi possuído pelo reino
dos céus. É uma indicação que outras coisas estão ainda ocupando você.
Se foi completamente ocupado no seu interior pelo reino dos céus, você
chorará por sua esposa e será manso com ela. Você será manso com todas
as pessoas que estão em situação lamentável. Se é um estudante, você
será manso com seus professores e colegas. Será manso com os outros
porque tem um profundo sentimento interior acerca da situação
lamentável deles. Porque orou por eles chorando, sempre que os contatar,
você será manso.

UMA PALAVRA SOBRE A MANSIDÃO


Deixe-me dizer uma palavra adicional sobre a mansidão. O Novo
Testamento nos fala que não lutamos contra carne e sangue, mas contra o
diabo, contra o inimigo de Deus. Devemos lutar contra o diabo, o inimigo
de Deus, dia e noite. Entretanto não lutamos contra pessoas nem mesmo
contra quem se nos opõe. Em relação a todos os homens, inclusive os
adversários e opositores, devemos ser mansos. Embora lutemos contra
Satanás e as potestades no ar, não lutamos contra pessoas. Antes, amamos
a todos. Jovens, não vão às universidades lutar contra os estudantes.
Nunca diga: “Derrotaremos os estudantes e tomaremos a terra!” Não vão
às universidades para lutar-vão para serem mansos. Precisamos ser tão
mansos que, mesmo se um perseguidor bater-nos na face direita,
voltaremos a ele a face esquerda. Ser manso significa não resistir ou
lutar. Entretanto, quando voltamos a face esquerda ao perseguidor,
devemos orar: “Senhor, amarre os poderes das trevas!” Enquanto somos
mansos com outras pessoas, devemos lutar contra os poderes das trevas. O
inimigo não é as pessoas, é Satanás e seus anjos, os poderes malignos no
ar.

FAMINTOS E SEDENTOS PELA JUSTIÇA


Enquanto somos mansos com os outros,
devemos ser famintos e sedentos pela justiça. Nós mesmos devemos
ser justos com todos. Devemos ser justos com nossos pais, nosso
marido ou esposa, nossos filhos, nossos parentes e nossos vizinhos. As
128
pessoas do reino celestial são justas dessa maneira. Não pense que, se
choramos e somos mansos, podemos permitir-nos ser negligentes.
Não, devemos ser famintos e sedentos pela mais elevada justiça.

JUSTOS COM NÓS MESMOS, MISERICORDIOSOS


COM OS OUTROS
Embora devamos ser estritos com nós mesmos em justiça, devemos
aprender a ser misericordiosos com os outros e não colocar exigências
sobre eles. Se você é de fato estrito consigo mesmo, então saberá como
ser misericordioso com os outros. Não tente. ser misericordioso com
os outros sem primeiro ser justo consigo mesmo. Toda pessoa desleixada
é misericordiosa com os outros porque ela já é misericordiosa consigo
mesma. Se dorme até mais tarde todas as manhãs, ela será muito
misericordiosa com os que fazem o mesmo. Esse tipo de
misericórdia não é verdadeira misericórdia; isso está absolutamente
errado. Ninguém que é desleixado sabe como ser misericordioso com os
outros. Apenas uma pessoa estrita e justa sabe como ser misericordiosa.
Se quiser ser misericordioso com os outros conforme a quinta bem-
aventurança, você deve primeiro ser justo consigo mesmo de acordo com
a quarta bem-aventurança.
Devemos ser justos e estritos conosco, nunca arranjando desculpas
para nós mesmos. Mas quando os outros nos ofendem, expondo suas
próprias falhas, devemos ser misericordiosos com eles. Todos os que se
justificam, condenam os outros e nunca os perdoam. A palavra falada pelo
Senhor no monte é absolutamente diferente disso. Conosco, devemos ser
justos e estritos, sérios e sóbrios. Mas com os outros devemos ser
misericordiosos. Em si mesmo Deus é justo. Entretanto, se Ele fosse justo
ao máximo em lidar conosco, todos estaríamos mortos. Embora Deus
seja justo em relação a Si mesmo, Ele é cheio de misericórdia ao lidar
conosco. Como pecadores caídos, certamente precisamos da misericórdia
de Deus. Também devemos aprender a ser justos com nós mesmos e
misericordiosos com os outros. Essa questão de ser justo conosco e
misericordioso com outros não é primariamente uma questão de
comportamento exterior, mas da nossa atitude interior, do nosso ser
interior.
Como um irmão que toma a liderança, quer como líder na igreja ou
como irmão na casa dos irmãos, você pode achar difícil ser estrito com
você mesmo e ainda ser misericordioso com os outros. Suponha que
alguém tenha de estar em casa numa certa hora. Chegar após essa hora
não é justo. Igualmente não é justo incomodar os outros. Entretanto,
quando alguns jovens chegam em casa, eles gostam de jogar os sapatos
em qualquer lugar. Conheci um cooperador, um pregador e mestre da
Bíblia, que costumava atirar as meias sem qualquer preocupação de onde
elas iriam parar. Uma vez esse irmão e eu ficamos hospedados em certa
casa. Os anfitriões, muito preocupados, conversaram comigo sobre esse
irmão desleixado. Que vergonha foi para mim! Alguns dos irmãos que
vivem nas casas de irmãos agem da mesma maneira.
129
Outros irmãos ficam tristes porque foram escolhidos para
lavar os pratos; por isso, eles não os limpam completamente. Isso
não é justo. Nunca é justo levar vantagem sobre os outros,
violar os direitos deles. Não lavar os pratos corretamente é levar
vantagem sobre os outros. Se é assim, você não é uma pessoa justa.
Se é um líder na casa de irmãos, você deve ser estrito consigo
mesmo acerca do tempo, do falar excessivo, do barulho, de lavar os
pratos, e de muitas outras coisas. Não diga que isso é demais. Pode
parecer demais para você, mas não para o Cristo que vive dentro de
você. Em tudo o que faz, você deve ser estrito consigo mesmo.
Entretanto, ao tomar a liderança na casa de irmãos ou em algum
aspecto da vida da igreja, você deve ser também misericordioso. Algumas
vezes um irmão líder pode advertir um outro desleixado sobre sua
lavagem de pratos, dizendo: “Essa é a primeira advertência sobre a
maneira como lavar os pratos. Após mais duas advertências, você terá de
sair”. Lembre-se da palavra do Senhor Jesus sobre quantas vezes você
deve perdoar seu irmão (Mt 18:21-22). Ainda que certo irmão não limpe
os pratos totalmente depois que falou a ele várias vezes, você ainda deve
ser misericordioso com ele. Não expulse nem mesmo tal irmão de
condição fraca e desleixada. Antes, seja misericordioso com ele. Isso não
significa que irá ao extremo oposto e dirá: “Aprendi que devo ser
misericordioso com esse irmão. Portanto, de agora em diante, nunca
mais lhe falarei sobre a maneira como lavar os pratos. Que ele lave como
quiser. Terei realmente de tolerar isso a fim de preservá-lo”. Essa atitude
também não é justa. Você precisa cuidar de tal irmão desleixado dia a dia.
Faça com que ele tenha uma mudança na lavagem de pratos. Mas cada
vez que fizer a mesma coisa, você deve ser paciente e misericordioso com
ele.
É fácil sermos estritos ou desleixados. Mas devemos aprender a ser
estritos por um lado e misericordiosos por outro. Se damos a outros um
tratamento estrito, devemos imediatamente ser misericordiosos com eles.
Essa é uma lição importante para os presbíteros aprenderem. As pessoas
do reino são justas e misericordiosas. Quando são justas, devem ser
absolutamente justas, e quando são misericordiosas, devem ser muito
misericordiosas. Embora justiça e misericórdia sejam dois pólos opostos,
devem estar juntas em sua experiência. Sua justiça deve caminhar junto
com a sua misericórdia.

PUROS DE CORAÇÃO E QUE VÊEM A DEUS


De acordo com a seqüência das bem- aventuranças em Mateus 5,
ser puro de coração segue a manifestação de misericórdia para com os
outros. Isso também corresponde à nossa experiência. Se não é justo
consigo mesmo e misericordioso com outros, você achará dificuldade em
130
ser puro de coração para com Deus. Para ser puro de coração para com
Deus, você deve ser estrito ao tratar consigo mesmo e misericordioso ao
tratar com os outros. Segundo a lógica, não parece haver razão para isso.
Mas nossa experiência prática prova que isso é assim. Se não é justo
consigo mesmo e misericordioso com outros, você nunca será puro para
com Deus. Creio que pelo menos alguns entre nós nas igrejas têm
experiência do que estou falando aqui. Por anos, temos aprendido a lição
de ser estrito e não dar desculpas a nós mesmos. Mas também temos
aprendido a ser misericordiosos com outros, especialmente com os que
são mais fracos. Por isso, . nosso coração é puro em buscar a Deus.
Quando somos justos conosco e misericordiosos com os outros, vemos
Deus. Mas quando somos relaxados conosco e condenamos os outros,
nossos olhos estão absolutamente cegos e não podemos ver Deus. Se dá
desculpas para si mesmo, contudo faz exigência aos outros, seu coração
não é puro. Um coração puro para com Deus vem unicamente de ser
estrito consigo mesmo e misericordioso com outros.
Mesmo na igreja, muitos santos sempre se desculpam e fazem
exigências a outros. Por exemplo, eles podem se desculpar por acordar
mais tarde dizendo que a noite passada receberam um demorado
telefonema. Mas se ouvem que determinado irmão não veio para a oração
matinal, podem dizer: “Por que ele não veio? Como um líder na casa de
irmãos, ele deveria levantar-se de madrugada”. Os olhos de uma pessoa
assim estão cegos, indicando que seu coração não é puro. Devemos ser
estritos conosco e misericordiosos com os outros. Se os outros são
frouxos, preguiçosos ou desleixados, podemos admoestá-los de uma
maneira adequada. Todavia, devemos ainda ser misericordiosos com eles.
Não importa quão estritos precisamos ser as vezes ao tratar os outros,
mas ainda devemos demonstrar-lhes misericórdia. Se somos estritos
conosco e misericordiosos com os outros, teremos um coração puro, um
coração singelo para com Deus. A recompensa de ter um coração puro é
ver a Deus. Posso garantir que se você praticar ser estrito consigo mesmo
e misericordioso com outros, você verá a Deus.

PACIFICADORES
Você será também uma pessoa pacífica. Os estritos consigo mesmos,
misericordiosos com outros, e puros com Deus são pacificadores. Eles não
gostam de ofender, machucar ou prejudicar alguém. Antes, gostam de
manter paz com todos. Ser um pacificador não significa ser político. Ser
político é falsidade e hipocrisia. Devemos ser absolutamente justos, não
políticos. Lembre-se, a Nova Jerusalém é quadrada, não redonda. Nós,
cristãos, devemos ser assim. Embora sejamos absolutamente justos, somos
ainda misericordiosos com os outros. Se somos tal pessoa,
espontaneamente seremos pacificadores. Em vez de contender com os
outros e magoá-los, sempre manteremos paz com quem estamos
envolvidos. Isso é o que significa ser pacificador.

FILHOS DE DEUS
131
Os pacificadores serão chamados filhos de Deus. Isso significa que
os que estão ao nosso redor dirão: “Essas pessoas não são apenas filhos de
homens, mas filhos de Deus”. Todos os filhos de homens lutam uns contra
os outros, mas os filhos de Deus, tal como seu Pai celestial, são
pacificadores e sempre mantêm paz com os outros. Romanos 12:18 diz:
“Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”.
Entretanto, essa paz não deve ser meramente um comportamento
exterior. Isso é política. Nossa paz deve provir da nossa natureza. Temos
uma natureza que nos faz estritos com nós mesmos, misericordiosos com
os outros e puros para com Deus. Porque temos essa natureza,
espontaneamente teremos paz com outros. Isso não é uma pacificação
política; é o resultado espontâneo da nossa natureza. Tal atitude levará os
outros a dizer: “Esses são verdadeiramente os filhos de Deus”.

SOFRER PERSEGUIÇÃO POR CAUSA DA JUSTIÇA


Se temos uma natureza que corresponde ao que está revelado
nesses versículos, algumas pessoas na sociedade nos perseguirão. Essa
perseguição será por duas razões: pela justiça e por causa de Cristo. A
oitava bem-aventurança diz respeito à perseguição por causa da justiça (v.
10), e a nona, à perseguição por causa de Cristo (vs. 11-12). Porque outras
pessoas nos perseguiriam por causa da justiça e de Cristo? Simplesmente
porque somos pobres em espírito, tão preocupados com a situação
negativa do mundo atual que choramos por ela, mansos com os opositores
e com os que nos atacam, justos com nós mesmos, misericordiosos com
os outros, puros com Deus e mantendo paz com todos. Por isso, a
sociedade maligna não concordará conosco. Porque desejamos ser justos,
eles nos perseguirão por causa da justiça.
Porque queremos ser verdadeira e honestamente justos, eles nos
perseguirão. Se sofrermos perseguição por causa da justiça, nosso é o
reino dos céus. Sofrer por causa da justiça é uma condição para participar
no reino dos céus. Se não permanecemos na justiça, estamos fora do
reino. Mas se somos justos, estamos no reino, porque o reino é
absolutamente uma questão de justiça. No reino não há nada errado,
injusto ou obscuro; tudo é justiça e luz. Essa é a natureza do reino.
Quando somos pobres em espírito, o reino dos céus chega a nós. Mas
quando estamos em justiça, o reino dos céus permanece em nós. Em
ambos os casos, nosso é o reino dos céus. Se quisermos receber o reino
dos céus, devemos ser pobres em espírito, e se quisermos ter o reino dos
céus permanecendo em nós, devemos estar em justiça. Mas se quisermos
estar em justiça, estejamos preparados para enfrentar perseguição. Você
será perseguido por causa da justiça.

INJURIADOS POR CAUSA DE CRISTO


o mundo todo, quer seja o político, o religioso, o educativo, o
comercial ou o industrial, é contra Cristo. Portanto, se viver por Cristo,
132
para Cristo e com Cristo, você certamente será injuriado e difamado. As
pessoas espalharão muitos boatos a seu respeito. Você pode trabalhar na
esfera educacional, mas algumas vezes recusar-se a cooperar com certas
coisas que acontecem lá, preferindo seguir a maneira de Cristo. Alguns
podem estar no campo econômico ou comercial. Mas enquanto trabalham
nessas esferas, eles vi vem por Cristo e para Cristo e se movem com Cristo.
Os outros ao seu redor se levantarão e o perseguirão, falando mentiras e
falsidades a seu respeito. Todavia, você deve sofrer isso por causa de
Cristo.

CRISTO COM O REINO


Cada uma das nove bem-aventuranças tem uma recompensa. A
recompensa da primeira é o reino dos céus; da segunda, o consolo; da
terceira, a terra; da quarta, ser satisfeito; da quinta, misericórdia; da
sexta, ver a Deus; da sétima, ser chamado filho de Deus; da oitava, o reino
dos céus; e da nona, Cristo. Se temos Cristo, temos o reino dos céus.
Mas se não O temos, não temos o reino dos céus. Assim, a verdadeira
bem-aventurança é Cristo com Seu reino. Para compartilhar dessa bem-
aventurança, precisamos ser pobres em espírito, tristes pela situação
negativa, mansos ao enfrentar oposição, justos conosco, misericordiosos
com os outros, puros de coração para com Deus, tendo paz com todos,
sofrendo perseguição pela justiça e injúrias por Cristo. Essa é a natureza
do povo do reino. Finalmente, o povo do reino é a própria realidade do
reino. Isso é o reino, que é a vida da igreja hoje. A igreja hoje é a realidade
do reino.

133
MENSAGEM 16

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (4)


Nesta mensagem chegamos à segunda seção do decreto da
constituição do reino (5:13-16), que diz respeito à influência do povo do
reino dos céus sobre o mundo. O povo do reino é sal para a terra
corrompida e luz para o mundo em trevas.

III. QUANTO À INFLUÊNCIA DO POVO DO REINO


SOBRE O MUNDO
Após revelar a natureza do povo do reino, esse decreto prossegue
para mostrar a sua influência. A seqüência aqui é significativa. Se o povo
do reino não tivesse a natureza descrita em Mateus 5:3-12, não poderia ter
qualquer influência sobre o mundo. A influência do povo do reino procede
da sua natureza, do que eles são. Se nós, o povo do reino, o povo da igreja,
somos pobres em nosso espírito, o reino dos céus terá um lugar no mais
profundo do nosso ser. Então choraremos, seremos mansos, famintos e
sedentos pela justiça, misericordiosos, puros de coração, pacificadores,
sofreremos perseguição e injúrias por Cristo. Se somos tal povo,
certamente exerceremos uma grande influência sobre as pessoas
mundanas ao nosso redor. Espontaneamente influenciaremos a terra
corrompida e o mundo em trevas.
Porque a influência da vida da igreja adequada é deficiente, o
mundo todo está corrompido e em trevas. Se viajar pelo mundo,
estudando e observando a situação em vários países, verá que dois dos
piores lugares são França e Suécia, países sem a influência da vida
adequada da igreja. Além do mais, devido à predominância do
catolicismo, na América Central e do Sul1 não há nada senão trevas. Onde
quer que o catolicismo prevaleça, há trevas e corrupção. Hoje, como uma
preparação para a volta do Senhor, há a necessidade urgente de que todos
esses países corrompidos e trevosos sejam conduzidos a estar sob a
influência da vida: adequada da igreja.
Em Mateus 5:13 o Senhor disse: “Vós sois o salda terra”, e no
versículo 14 disse: “Vós sois a luz do mundo”. De acordo com o texto
grego, o pronome aqui é plural. O “vós” nesses dois versículos não se
refere a um indivíduo, mas a um povo corporativo. Muitos leitores
aplicam esses versículos aos indivíduos. Os que têm as nove bem-
aventuranças apresentadas nos versículos 3 a 12 são um povo corporativo,
não indivíduos. Portanto, a palavra do Senhor acerca do sal e da luz não
diz respeito a indivíduos. Individualmente, nenhum de nós pode ser o sal
ou a luz adequados. No versículo 14 o Senhor assemelha-nos a uma
cidade, não a pedras individuais. Isso claramente revela que a palavra do
Senhor aqui não é dirigida para indivíduos, mas para um povo
corporativo edificado junto em um padrão elevado. O Senhor não disse:
“Vós sois as luzes do mundo”. Ele disse: “Vós sois a luz do mundo”. O
plural “vós” é uma única luz.
134
Não considere a influência do povo do reino sobre o mundo como
uma questão individual. Se tentar ser individualmente espiritual, você
não terá sucesso. Mesmo se obtiver alguma espiritualidade individual,
isso será um câncer. Toda pessoa espiritualmente individualista é um
câncer que absorve para si próprio o nutriente que é destinado para todo
o Corpo. O câncer não é causado por germes; é causado por células que se
separam do corpo e se importam apenas com elas mesmas. Se tentar ser
espiritualmente individualista, você se tomará um câncer. Todos
precisamos ouvir essa palavra de advertência.
Nos últimos vinte e cinco anos, vi que espiritualidade não é uma
questão individualista; é absolutamente uma questão corporativa. Tome o
exemplo da saúde física. A saúde do nosso corpo não é um assunto de
membros individuais; é uma questão corporativa. Não dizemos que
nossos ouvidos são saudáveis, mas que nosso corpo é saudável. Se seus
ouvidos não estão saudáveis, então seu corpo também não deve estar.
Assim, saúde é uma questão de todo o corpo.
Quando jovem, tomei a palavra do Senhor nesse versículo I sobre o
sal e a luz de maneira individualista, pensando que pessoalmente poderia
ser o sal e a luz. Mas agora vejo que ser sal é uma questão corporativa.
Precisamos ser impressionados com o fato de que é como entidade
corporativa que o povo do reino é sal e luz. Se nos separamos da vida da
igreja, não mais podemos ser sal ou luz.
O sal e a luz se referem ao povo corporativo do reino. Hoje o povo
da igreja é o povo do reino. Quanto à disciplina e exercício, somos o povo
do reino. Mas quanto à vida e a graça, somos o povo da igreja. Nesses
versículos há a questão de exercício e disciplina; portanto, eles se referem
ao povo do reino. O povo do reino, como um todo, como um corpo
corporativo, é sal e luz.
No versículo 13 o Senhor fala da terra e no versículo 14 Ele fala do
mundo. Há uma diferença entre a terra e o mundo; os termos não são
sinônimos. O que foi criado por Deus é a terra e o que entrou por meio da
corrupção de Satanás é o mundo. Para a terra criada por Deus, o povo do
reino é sal. Mas para o mundo corrompido por Satanás, o povo do reino é
luz. Somos o sal da terra e a luz do mundo.

A. Ser o Sal da Terra

1. Para Matar e Eliminar da Terra os Germes da Corrupção


Quando dizemos que somos sal, significa que exercemos nossa
influência sobre a terra criada por Deus para preservá-la em sua condição
original. A terra, que foi criada por Deus, tornou-se caída. De certo modo,
tomou-se podre e corrompida. O sal mata os germes e elimina essa
podridão. Qualquer médico pode dizer-lhe que o sal mata os germes,
elimina a podridão e preserva as coisas em seu estado original. Por
natureza, o sal é um elemento que mata os germes da corrupção e os
135
elimina. Por isso, mediante a sua função de matar e preservar, o sal
devolve à terra sua condição original ou a preserva em sua condição
original. Portanto, a função do sal é preservar o que Deus criou. Toda a
terra está se tornando cada vez mais estragada. Assim, devemos
exercernossa influência sobre esta terra corrupta. Para a terra corrupta, as
pessoas do reino dos céus são o elemento que a preserva de ser
completamente estragada.
2. A Possibilidade de se Tornar Insípido
No versículo 13 o Senhor disse: “Ora, se o sal vier a ser insípido,
com que será salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e
pisado pelos homens”. O povo do reino tomar-se insípido significa que
perdeu sua função de salgar. Eles tomaram-se o mesmo que as pessoas da
terra, sem nada que os diferenciem dos incrédulos. Tomar-se insípido é
perder a distinção entre nós e as pessoas do mundo; é tomar-se o
mesmo que os do mundo. Ser o mesmo que as pessoas do mundo é
contrário à natureza revelada nos versículos 3 a 12. Significa que não
somos mais pobres em espírito, os que choram pela situação negativa,
mansos, famintos e sedentos pela justiça, misericordiosos, puros em
buscar a Deus, que promovem a paz, dispostos a ser perseguidos por
causa da justiça e dispostos a ser injuriados por Cristo. Significa que
vivemos, andamos e nos comportamos como as pessoas do mundo. Se
esse é o nosso caso, tornamo-nos insípidos e o sal perdeu a sua função.
A esposa de Ló é uma ilustração desse fato (Gn 19:26). Ela se tomou
uma estátua de sal, indicando que o sal perdeu sua função. Quando o sal
toma-se uma coluna, ele não tem função, principalmente porque perdeu
seu sabor. O fato de a esposa de Ló ter-se tomado uma estátua de sal é
uma forte advertência para não perdermos a distinção entre nós e o
mundo. Nunca devemos perder nosso sabor, mas conservar a nossa
função de matar os germes, eliminar a podridão e preservar as coisas na
sua condição original ou de devolvê-las à condição criada por Deus.
Onde quer que as pessoas do reino estejam, elas devem exercer uma
influência salgada sobre os que estão ao seu redor. Em nossa vizinhança
devemos exercer nossa função de matar os germes. Mas se nos tornamos
iguais às pessoas do mundo, perdemos nossa função e nosso sabor.
Porque perdemos nosso sabor, não mais temos a habilidade de salgar e
não podemos cumprir nossa função “salgadora”. Se temos a natureza do
povo do reino revelada nessas nove bem-aventuranças, seremos
verdadeiramente salgados. Seremos sal para nossos parentes. Se somos
pobres em espírito, se somos os que choram, se somos mansos, justos,
misericordiosos e puros ao buscar a Deus, teremos a função de salgar.
Não haverá necessidade de repreender os outros ou enfatizar seus erros e
injustiças. Eles serão salgados simplesmente pela nossa presença.
Algumas vezes, certas pessoas más fugirão de nós por sermos tão
salgados. Isso é o que significa matar os germes desta terra estragada.
A intenção do Senhor é trazer a terra de volta à sua condição
original. Embora possamos não ver isso na era presente, veremos na

136
próxima era. Quando o reino milenar vier, toda a terra será salgada.
Todos os germes serão totalmente mortos, e toda a terra não apenas será
reconquistada por Cristo, ela também será conduzida de volta à sua
condição criada por Deus. Essa obra será feita pelo povo do reino.
No versículo 13 o Rei disse que o sal que perdeu o sabor será
lançado fora para ser pisado pelos homens. Ser lançado fora é ser deixado
de fora do reino dos céus (Lc 14:3 5). Ser pisado pelos homens é ser
tratado como poeira inútil.
B. Ser a Luz do Mundo
1. Como a Cidade Sobre um Monte
Mateus 5:14 diz: “Vós sois a luz do mundo”. Luz é o resplandecer
da lâmpada para iluminar os que estão nas trevas. Para o mundo em
trevas, as pessoas do reino dos céus são como luz que dissipa suas trevas.
Em natureza, elas são o sal que cura e, em comportamento, são a luz que
resplandece.
Como a luz que brilha, as pessoas do reino são como a cidade sobre
um monte. Tal cidade não pode estar oculta. Isso é finalmente consumado
na cidade santa da Nova Jerusalém (Ap 21:10-11, 23-24). Por muitos anos,
fui incomodado pela ilustração usada pelo Senhor da cidade situada sobre
um monte. Até vir para a vida da igrej a, não podia entender como a luz
poderia ser ilustrada por uma cidade edificada. Depois que vim para a
edificação prática da igreja, vi que apenas sendo edificadas juntas é que as
pessoas do reino podem ser uma cidade situada no monte. Essa cidade
toma-se luz que resplandece. Em São Paulo, os santos são agrupados de
acordo com a proximidade de sua casa. Se essa prática tomar-se
prevalecente e os santos forem edificados juntos, cada grupo será uma
parte da cidade resplandecente situada no topo do monte.
Nesses três capítulos, o Senhor Jesus não usou o termo “igreja”.
Entretanto, o termo “reino”, usado muitas vezes, na verdade, se refere à
igreja. O reino mencionado em Mateus 5, 6 e7 é o aspecto da igreja
referente à disciplina e exercício. A igreja é o aspecto de graça e vida para
o reino, e o reino é o aspecto de disciplina e exercício para a igreja.
Portanto, a palavra do Senhor nesses capítulos com respeito ao reino,
na verdade, se refere ao exercício e disciplina na igreja.
Como vimos, muitos cristãos entendem esses capítulos de uma
maneira individualista. A maioria não viu que essa constituição não é para
indivíduos, mas para um povo corporativo. Sabemos que este decreto é
para um povo corporativo porque a luz não é uma pessoa individual, mas
uma cidade edificada. Isso indica que o povo do reino precisa de
edificação. Se os santos na igreja em sua cidade não são edificados, mas
estão dispersos, divididos e separados, não há cidade lá. Uma vez que não
haj a cidade, não há luz, porque a luz é a cidade; a luz não é um crente
individual. A luz é uma cidade corporativa edificada como uma entidade
para resplandecer sobre as pessoas ao seu redor. É impossível encontrar
coisa semelhante no cristianismo de hoje. Mas cada igreja na restauração
137
do Senhor deve ser uma cidade edificada.
No livro de Apocalipse as igrejas são candelabros de ouro (Ap 1:20).
O princípio da cidade e do candelabro é o mesmo: nenhum deles é
individual. Ambos são corporativos. O candelabro, como a cidade, não é
um crente individual, mas a igreja. Se está fora da igreja, você não é uma
parte do candelabro. Para ser parte do candelabro, você deve ser edificado
na igreja em uma cidade. A igreja numa localidade, que é o candelabro, é
comparada pelo Senhor a uma cidade edificada no topo da montanha. Se
somos edificados em nossa cidade, estaremos no topo da montanha. Mas
se somos dispersos, separados e divididos, estaremos em um vale
profundo. Em cada cidade deve haver apenas um candelabro, a cidade
edificada sobre o monte. Para isso, devemos manter a unidade e
permanecer uma única entidade, um Corpo corporativo. Então seremos
capazes de brilhar. Mas se estamos divididos, não haverá nenhum brilho.
No cristianismo hoje não há brilho porque há muita divisão. Há muitas
divisões no cristianismo. Na restauração do Senhor, entretanto, devemos
retomar à única unidade, que é o Corpo corporativo. Quando
verdadeiramente formos edificados juntos, seremos a cidade no topo
do monte resplandecendo sobre os que estão ao nosso redor.

2. Como uma Lâmpada no Candelabro


Mateus 5:15 diz: “Nem se acende urna lâmpada e se coloca debaixo
do alqueire, mas no candelabro, e alumia a todos os que se encontram na
casa”. O resplandecer da luz tem dois aspectos. No primeiro aspecto, a luz
é comparada a urna cidade iluminando os que estão fora. No segundo, a
luz é comparada a uma lâmpada no candelabro iluminando os que estão
em casa. Vimos que a cidade é a igreja edificada, mas que é a casa? Você
pode pensar que a casa aqui também se refere à igreja. Entretanto, não há
necessidade de interpretar a casa dessa maneira. De acordo com o
contexto, o ponto principal é que o brilhar da luz tem dois aspectos: o
aspecto exterior e o interior. A luz como cidade na montanha resplandece
sobre os que estão do lado de fora, enquanto a lâmpada acesa no
candelabro resplandece sobre os que estão na casa. Corno a cidade, a luz
brilha sobre as pessoas, mas corno a lâmpada na casa, a luz brilha dentro
das pessoas. Isso indica que nossa influência sobre os outros não deve ser
apenas exterior, mas também interior.
Para resplandecer sobre os outros exteriormente, precisamos ser
edificados. Mas para resplandecer sobre os outros interiormente,
precisamos estar sem qualquer cobertura. Tal corno a luz no monte, que
não pode ser escondida, também a luz da candeia no velador não deve ser
encoberta.
No versículo 15 o Senhor fala sobre colocar a lâmpada sob o
alqueire. Uma lâmpada acesa colocada sob o alqueire não pode emitir
luz. O povo do reino, como a lâmpada acesa, não deve ser coberto pelo
(Mt 6:25) alqueire, antiga medida para alimentos, que se refere à
alimentação e é um assunto que causa ansiedade. Nunca devemos ser

138
cobertos pelo alqueire; antes, devemos estar no candelabro.
O Senhor sabiamente falou sobre não estar coberto por um
alqueire. Nos tempos antigos, um alqueire, corno urna medida para grãos,
era algo relacionado ao comer e, portanto, dizia respeito à questão de
obter o sustento. Assim, esconder a candeia sob o alqueire indica
ansiedade quanto ao nosso vi ver. Se nós, cristãos, somos ansiosos quanto
ao nosso viver e preocupados com quanto dinheiro estamos ganhando,
essa ansiedade se tornará um alqueire cobrindo nossa luz.
O povo do reino primeiramente exerce urna influência exterior sobre
as pessoas que estão fora do reino. Entretanto, ainda precisamos
influenciá-las por dentro. Quando a igreja, corno um todo, vive junto
corno uma cidade no topo do monte, os que estão ao redor estarão sob o
resplandecer de tal igrej a edificada. Mas isso é meramente o brilho do
lado de fora. A igreja também precisa exercer outro tipo de influência, a do
brilhar interior que entra nas pessoas. Assim, a cidade no monte significa o
brilhar exterior, e a lâmpada na casa representa o resplandecer interior.
Nosso brilhar não deve ser apenas exterior, sobre as pessoas, mas também
interior, para dentro delas. Para resplandecer sobre os outros
exteriormente, devemos ser edificados como cidade no cume do monte.
Mas a fim de resplandecer sobre eles interiormente, precisamos sair de
debaixo da nossa cobertura. Isso indica que o povo do reino vi ve sem
ansiedades e sem preocupação com sua existência. Eles se importam
apenas com Cristo e a igrej a. Dia após dia eles são pessoas felizes, o
povo de louvor, o povo aleluia. Quando nossos vizinhos, pais e colegas nos
contatam, podem sentir que não temos ansiedades. Não estamos
preocupados com nosso viver, com o que comeremos ou com o que nos
vestiremos. Dia após dia, manhã e noite, o povo do reino se importa
apenas com Cristo e a igreja.
Sabemos por experiência que nossa falta de ansiedade toca os
outros. Se todas as vezes que alguém o contata, você está feliz e
desfrutando o Senhor, ele ficará profundamente tocado. Sempre cheias de
ansiedade e ocupadas com todos os tipos de preocupações, as pessoas do
mundo conversam sobre o temor de perder seus empregos ou sobre as
dificuldades que têm com seus chefes. Mas o povo do reino, o povo
aleluia, os que não estão cobertos pelo alqueire, se preocupam apenas
com Cristo e a igreja. Sendo tal povo, tocamos o coração dos outros e
resplandecemos no interior deles. Esse brilho penetra neles.
O iluminar exterior do povo do reino é geral e todos da sociedade
podem vê-lo. A sociedade pode ver um grupo de pessoas que são
edificadas, colocadas sobre o cume do monte e que brilham. O iluminar
interior, ao contrário, é particular. Um de seus primos pode ser tocado
por sua falta de ansiedade e por sua face brilhante. Sempre que o contata,
nunca ouve você falar sobre como ganhar a vida. Em vez disso, ele sempre
o ouve louvar o Senhor e dizer quão maravilhosa é a vida da igreja. Isso
será uma luz que penetra no ser dele e ilumina-o interiormente. Através
do brilhar dessa luz, ele será convencido. Esse não é o resplandecer geral,
do exterior; é o resplandecer particular, do interior. Se somos o povo
adequado do reino, teremos esse duplo brilhar. Seremos uma cidade no
139
cume do monte iluminando todos os que estão ao redor, e entre eles
seremos o povo aleluia, que não tem ansiedade, nem se preocupa com esta
vida e que ilumina o interior deles. Esse iluminar interior penetra o
íntimo das pessoas e as convence.

3. Para Glorificar o Pai nos Céus


Finalmente, os dois aspectos do nosso resplandecer darão glória ao
Pai. O versículo 16 diz: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai
que está nos céus”. O título Pai prova que os discípulos, a audiência do
novo Rei, eram filhos regenerados de Deus (Jo 1:12; Gl 4:6). As boas obras
aqui são o comportamento do povo do reino por meio do qual os homens
podem ver a Deus e ser levados a Ele. Nosso brilhar glorificará o Pai
porque expressará o que Deus é. Glorificar a Deus, o Pai, é dar a Ele a
glória. Glória é Deus expresso. Quando o povo do reino expressa Deus em
seu comportamento e boas obras, os homens vêem Deus e dão glória a
Ele. Quando Deus está oculto, é Deus, mas quando Deus é expresso, isso é
a glória de Deus. Se, como as pessoas do reino, temos tal luz
resplandecendo, Deus será expresso nesse brilhar, e todos aqueles ao
nosso redor verão a glória, Deus expresso. Quando outros vêem Deus em
nosso brilhar, isso é uma glória para Deus. Nós, o povo do reino, somos a
luz do mundo. Como luz somos semelhantes à cidade no cume do monte e
corno a candeia brilhando em uma casa. Do interior e do exterior,
resplandecemos para expressar Deus, para Ele ter a glória aos olhos dos
outros. Que possamos exercer influência sobre os que estão ao nosso
redor.

140
MENSAGEM 17

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (5)


O ensinamento e a pregação do reino dos céus começou com
arrependimento (Mt 3:2; 4:17). Arrependimento significa uma mudança de
mente. Assim, o reino começa com a nossa mente. Da nossa mente,
prossegue para o nosso espírito (5:3). Precisamos nos arrepender em
nossa mente e ser pobres em espírito. A seguir, devemos ser puros no
coração para ver a Deus (5:8). A mente, o espírito e o coração são as três
partes principais do nosso ser. Se colocarmos Mateus 4:17 junto com 5:3-
12, veremos vários itens relacionados ao reino dos céus. Os três primeiros,
como vimos, são a mente, o espírito e o coração. Em seguida, precisamos
ter uma emoção normal, apropriada e elevada. Isso é visto na questão de
chorar (5:4), que procede de uma emoção ajustada. Também precisamos
ser mansos, que requer uma emoção forte, normal e adequada. Ter fome e
sede de justiça, conforme registrado em 5:6, é questão de ter- se um desejo
puro e adequado. Devemos desejar essa justiça por causa do reino. Ser
misericordiosos com os outros envolve nossa atitude (5:7). Nossa atitude
para com os outros deve ser de misericórdia. Se temos uma emoção,
vontade, desejo e atitude adequados, seremos capazes de promover a paz
com os outros. Assim, todo nosso ser-nossa mente, espírito, coração,
emoção, vontade, desejo e atitude- precisam ser exercitados pela vida do
reino. Quando temos todas essas virtudes, estamos qualificados a ser
perseguidos. Caso contrário, você não será capaz de suportar
perseguição. Finalmente, os que são qualificados por terem todas essas
virtudes, não apenas serão perseguidos por causa da justiça, mas
injuriados por causa de Cristo. Essa é a natureza do povo do reino.
Cada uma das nove bem-aventuranças em Mateus 5:3-12 tem um
galardão. Por exemplo: se for pobre em espírito, o reino dos céus é seu.
Isso é uma recompensa. Se chorar, será consolado e se for manso, herdará
a terra. Assim, o consolo e a terra também são galardões. De acordo com o
versículo 12, o galardão é grande para os perseguidos, injuriados e
difamados por causa de Cristo. É difícil dar um nome a essa recompensa.
Se somos injuriados, perseguidos e difamados por causa de Cristo, nosso
galardão nos céus é grande, tão grande que vai além do nosso
entendimento. Hebreus 13:13 e 1 Pedro 4:14 falam de sermos injuriados
por causa de Cristo. Hebreus 13:13 diz: “Saiamos, pois, a ele, fora do
arraial, levando o seu vitupério”. A Primeira Epístola de Pedro 4:14 diz:
“Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem- aventurados sois”. Essa
questão de ser injuriado é também mencionada em Romanos 15:3. Há um
grande galardão aguardando os injuriados por causa de Cristo.
141
Precisamos ser o povo do reino com a natureza revelada nesses versículos.
Então seremos capazes de levar o vitupério por Cristo.

IV. COM RESPEITO À LEI DO POVO DO REINO


Nesta mensagem chegamos à terceira seção da palavra do Rei, no
monte, em Mateus 5:17-48, que diz respeito à lei do povo do reino dos
céus. A constituição do reino celestial certamente deve tratar da questão
da lei. Antes da época do Senhor Jesus, os filhos de Israel tinham a lei de
Moisés. Tinham também os profetas. A profecia é sempre um auxílio para
a lei. Quando povo está sem força para cumprir a lei, há a necessidade
dos profetas para fortalecê-los a guardá-la. Portanto, o cumprimento da
lei precisa do fortalecimento dos profetas. Por isso, no Antigo Testamento
havia a lei e os profetas. E por isso que o Senhor falou da lei e dos profetas
no versículo 17.

A. Não para Revogar a Lei e os Profetas, mas para Cumpri-


los
O versículo 17 diz: “Não penseis que vim revogar a lei ou os
profetas; não vim para revogar, mas para cumprir.” Cumprir a lei aqui
significa três coisas: que Cristo guardou a lei do lado positivo; que, por
Sua morte substitutiva na cruz, Cristo cumpriu as exigências da lei do
lado negativo; e que Cristo complementa a velha lei com a Sua nova lei
nessa seção, conforme Ele expressou continuamente pelas palavras “eu
porém, vos digo” (vs. 22, 28, 32, 34, 39,
44). '
Quanto à lei, há dois aspectos: os mandamentos da lei e o princípio
da lei. Os mandamentos da lei são cumpridos e complementados pela
vinda do Senhor, enquanto o princípio da lei e substituído pelo princípio
da fé segundo a economia de Deus do N ovo Testamento.
Antes de Cristo vir, havia a lei com o fortalecimento dos profetas.
Por que, então, havia ainda a necessidade da lei do reino dos céus? A
razão é que as exigências da velha lei não eram elevadas o suficiente. As
exigências da velha lei não eram completas. Tome o exemplo de matar. A
velha lei dizia-nos para não matar (Êx 20:13), mas não dizia uma palavra
acerca de se irar. Se matasse alguém, você seria condenado pela lei de
Moisés. Mas não importava quão irado estivesse com uma pessoa,
contanto que não a matasse, você não seria condenado pela lei de Moisés.
Aqui vemos a deficiência, a imperfeição da velha lei. Entretanto, a
exigência da lei do reino dos céus é muito mais elevada que a da lei de
Moisés. Segundo a lei do reino dos céus, é-nos proibido irar com nossos
irmãos. Nos versículos 21 e 22 o Senhor disse: “Ouvistes que foi dito aos
antigos: Não matarás; e quem matar estará sujeito a julgamento. Eu,
porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará
sujeito a julgamento”. Assim, a lei do reino dos céus é mais elevada que a
lei da velha dispensação.
142
Uma outra ilustração disso é a lei com respeito ao adultério. A
velha lei proibia cometer adultério, mas a nova lei proíbe olhar para uma
mulher com intenção impura (vs. 27-28). Portanto, o princípio básico da
lei do reino dos céus é que ela é mais elevada do que a velha lei. Não
anulamos a velha lei, nós a complementamos para tomá-la mais elevada.
Por isso, o Senhor Jesus disse que Ele não veio para revogar a lei, mas
para cumpri-la.
Muitos cristãos não entendem adequadamente o significado da
palavra “cumprir” no versículo 17. Por muitos anos de estudo, observação
e experiência, vimos que a palavra “cumprir” nesse versículo significa três
coisas.

1. Guardar a Lei do Lado Positivo


Primeiramente significa que Cristo veio para guardar alei do lado
positivo. Enquanto viveu na terra, Ele guardou cada aspecto da velha lei.
Ninguém jamais guardou os dez mandamentos; o Senhor Jesus fê-lo
completamente. Ele guardou a lei da velha dispensação de uma maneira
muito positiva.

2. Cumprir as Exigências da Lei do Lado Negativo por


meio da Morte Substitutiva na
Cruz
Porque Cristo guardou a lei, Ele tomou-se o Perfeito. Sua perfeição
qualificou-O a morrer na cruz por nós. Esse é o guardar da lei num sentido
negativo. É a segunda maneira de Cristo cumprir a lei. Todos nós
quebramos e transgredimos a lei. Mas nossas transgressões foram tratadas
pela morte substitutiva do Senhor. Na cruz Ele foi nosso substituto,
morrendo por nós para cumprir as exigências da lei do lado negativo.

3. Complementar a Velha Lei com a Nova


Cumprir a lei também significa que Cristo complementa a velha lei
com a Sua nova lei. Isso é expresso pela palavra “Eu, porém, vos digo” (vs.
22, 28, 32, 34, 39, 44). Por guardar alei, Cristo foi qualificado a cumprir
as exigências da lei por meio da Sua morte substitutiva na cruz. Ao
cumprir as exigências da lei por meio da Sua morte substitutiva na cruz,
Cristo trouxe a vida de ressurreição para complementar a lei, para
completá-la totalmente. A velha lei, alei inferior, com suas exigências de
observância e punição, já passou. O povo do reino, como filhos do Pai,
agora apenas precisa cumprir a nova lei, a lei mais elevada, pela vida de
ressurreição, que é a vida eterna do Pai.
A morte substitutivade Cristo trouxe a vida de ressurreição. Quando
essa vida de ressurreição entra em nós, ela é capaz de fazer a maravilhosa
tarefa de completar a lei. Ela nos capacita a cumprir a mais elevada lei.
Pela vida de ressurreição dentro de nós, é possível sermos guardados não
apenas de matar os outros, mas até mesmo de nos irar com eles ou odiá-
los. Essa vida de ressurreição é muito mais elevada do que a vida
143
natural, porque é, na verdade, a vida divina, a vida eterna, a vida no mais
elevado plano. Essa vida superior dentro de nós pode cumprir as
exigências da lei superior.
No Novo Testamento, Mateus, o livro do reino, primeiramente traz
as exigências. Então João, o livro de vida, traz a vida para cumprir essas
exigências. Pela nossa vida natural, não somos capazes de cumprir os
requisitos de Mateus 5. Mas no Evangelho de João temos a vida mais
elevada que nos capacita a cumprir as exigências mais elevadas. Todos os
cristãos amam João, mas não muitos amam Mateus. Não creio que tenha
ouvido um cristão dizer que ama Mateus. Alguns de vocês podem dizer
que o Evangelho de Mateus é muito difícil e que João é muito
simples. João diz que no princípio era o Verbo e o Verbo era Deus, e que o
Verbo tornou-se carne, cheio de graça e de verdade (Jo 1:1, 14). O
Evangelho de João tem muitos versículos preciosos, tal como João 3:16.
Neste Evangelho há muito poucas exigências e requisitos, mas há o rico
suprimento de vida. Entretanto, no Novo Testamento, Mateus vem
primeiro, não João. Não podemos ignorar Mateus. Entretanto, muitos
cristãos têm sido instruídos a fazer isso. Trinta e cinco anos atrás, eu
pensava que os novos crentes não deveriam ler Mateus. Eu mesmo os
instruía a não ler Mateus primeiro. Dizia que se lessem primeiro Mateus
capítulo 1, seriam frustrados em sua leitura da Bíblia e pensariam ser
muito difícil lê-la. Assim, aconselhava os novos crentes a iniciar a leitura
deles com o quarto livro, o Evangelho de João. Então dizia-lhes para ler
Romanos ou algum outro livro, mas não Mateus. Mas precisamos voltar a
Mateus. Mateus precisa de João, e João é para Mateus. Mateus nos dá
as mais elevadas exigências do reino, exigências que podem ser
cumpridas apenas pela vida divina revelada em João. Para cumprir as
exigências do reino dos céus desvendadas em Mateus, devemos receber o
suprimento de vida que está no Evangelho de João. Jesus, o novo
Rei, não veio abolir a lei de Moisés. Antes, veio elevar o padrão da velha
lei. Agora que a exigência foi muito elevada, ela não é mais a velha lei, mas
a nova lei do reino dos céus. Cristo eleva o padrão da velha lei de duas
maneiras: complementando e mudando a velha lei. Nos versículos 17 a30
vemos o complemento da velha lei. A mudança da lei começa com o
versículo
31. Nesta mensagem conseguiremos tratar apenas do complemento da
velha lei.
O versículo 18diz: “Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a
terra passem, de modo algum passará da lei um só i ou um só til até que
tudo se cumpra”. Após o reino milenar, o velho céu e a velha terra
passarão e o novo céu e a nova terra virão (Ap 21:1; Hb 1:11-13:10-13). Alei
vai apenas até o fim do reino milenar, enquanto os profetas vão até o novo
céu e a nova terra (Is 65:17; 66:22). É por isso que a lei e os profetas, são
citados no versículo 17, mas apenas a lei, não os profetas, é mencionada
no versículo 18.
O cumprimento da lei continuará até o final do milênio, em cujo
tempo os céus e a terra passarão. Antes que isso ocorra, nem um i ou til da

144
velha lei serão anulados. Entretanto, o que é compreendido pelos profetas
vai além do milênio. alcançando o novo céu e a nova terra.
Cristo cumpriu a lei de três maneiras. Ele mesmo guardou a lei.
Entretanto, porque não a guardamos, Ele morreu na cruz pelas nossas
transgressões dalei. Sua morte substitutiva trouxe a vida de ressurreição,
que foi dispensada para dentro do nosso ser. Pela Sua vida de ressurreição
somos capazes de cumprir as exigências da lei nova e superior. Por esses
três passos, Cristo fez mais do que cumprir a velha lei. Ele guardou-a, Ele
morreu por nós e Sua morte trouxe- nos a vida de ressurreição para
fortalecer-nos a fim de cumprirmos as exigências da nova lei. Hoje não
estamos tentando guardar a lei inferior; antes, estamos cumprindo alei
superior, elevada por intermédio da vida elevada que está em nós. Agora
podemos cumprir a lei superior.

B. Guardar Até Mesmo o Menor dos Mandamentos da


Lei É a Condição para Ser
Grande no Reino dos Céus
O versículo 19 diz: “Aquele, pois, que anular um destes
mandamentos, ainda que dos menores, e assim ensinar aos homens, será
chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os praticar e
assim ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus”. Os
mandamentos aqui se referem à lei no versículo 18. O povo do reino não
apenas cumpre, mas complementa a lei. Na verdade, eles não anulam
nenhum mandamento da lei, nem mesmo o menor. Se seremos
grandes ou pequenos no reino dos céus dependerá de guardarmos ou não
até mesmo o menor dos mandamentos da lei. Nesse versículo Cristo
salientou o fato de que se não guardamos todos os mandamentos da lei,
inclusive os menores, mas os anulamos e ensinamos outros a fazer o
mesmo, nos tomaremos o menor no reino dos céus. Em outras palavras,
Cristo parecia dizer: “Se quiser ser grande no reino dos céus, você deve ter
o mais elevado padrão de moralidade. Se seu padrão de moralidade não
alcança o padrão da nova lei, você será o menor no reino dos céus”.
Nenhum outro povo possui uma moralidade tão elevada como o povo do
reino. Nunca pense que nos importamos apenas com vida e não com
moralidade. A vida deve ter sua expressão, e a vida mais elevada tem a
expressão mais elevada. Moralidade é simplesmente a expressão da vida.
Assim, se tem a vida mais elevada, você certamente terá a mais elevada
moralidade como a expressão dessa vida. Precisamos orar: “Senhor,
conceda-me a mais elevada expressão da vida. Conceda-me o mais alto
nível de moralidade. Senhor, não somos apenas o povo moral, mas o povo
do reino”.
Porque o padrão do reino é mais alto que o padrão de moralidade,
devemos fazer mais do que guardar o padrão da velha lei. Segundo o
padrão de moralidade, não devemos matar ou adulterar. Se não matamos
ou adulteramos, somos pessoas morais. Mas tal padrão é mais baixo do
que o do reino. De acordo com o padrão do reino dos céus, não
145
deveríamos ficar irados com nosso irmão ou olhar para uma mulher com
intenção Impura. Esse não é o padrão de moralidade; é o padrão do reino
que é mais elevado do que o de moralidade. O padrão de moralidade diz:
“Olho por olho, dente por dente” (Êx 21:24; Lv 24:20; Dt 19:21). Mas o
padrão do reino nos diz para amar nossos inimigos, orar pelos que
nos perseguem e não resistir ao perverso (Mt 5:44, 39). Se alguém ferir-
nos na face direita devemos voltar-lhe também a outra (v. 39). Quão mais
alto é esse padrão do que o padrão de moralidade!
O ponto. crucial que Cristo salienta nesses versículos é que o povo
do remo deve ter o mais elevado padrão de moralidade. Se virmos essa
questão, então seremos capazes de compreender 5:17-48. Temos a lei, a
vida e o padrão mais elevado. Pela vida mais elevada cumprimos a lei
mais elevada e temos o padrão mais elevado.

C. A Justiça Excedente É a Condição para Entrar no


Reino
No versículo 20 o Rei disse: “Porque vos digo que, se a vossa justiça
não exceder em muito a dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis
no reino dos céus”. A justiça excedente é a condição para entrarmos na
manifestação do reino dos céus no milênio. Guardando a lei superior com
o mais elevado padrão satisfazemos a condição para entrar na
manifestação vindoura do reino dos céus.
A justiça no versículo 20 não se refere à justiça objetiva, que é o
Cristo que recebemos quando cremos Nele para que possamos ser
justificados diante 3:9; 1Co 1:33:26). Mas refere-se à justiça subjetiva, que
é o Cristo que habita interiormente expresso por meio de nós como nossa
justiça para que possamos vi ver na realidade do reino hoje e entrar na
sua manifestação no futuro. Essa justiça subjetiva não é obtida
meramente pelo cumprimento da velha lei, mas pela completação da
velha lei por meio do cumprimento da nova lei do reino dos céus, a lei
dada pelo novo Rei. Essa justiça do povo do reino, de acordo com a nova
lei do reino, excede a dos escribas e fariseus que é conforme a velha lei. É
impossível para nossa vida natural alcançar essa justiça excedente; ela
apenas pode ser produzida por uma vida superior, a vida de ressurreição
de Cristo. Essa justiça, que é comparada à veste nupcial (22:11- 12), nos
qualifica a participar das bodas do Cordeiro (Ap 19:7-8) e a herdar o reino
dos céus em sua manifestação, isto é, entrar no reino dos céus no futuro.
Entrar no reino de Deus exige regeneração como um novo início da
nossa vida (Jo 3:3-5), mas entrar no reino dos céus exige uma justiça
excedente em nosso viver após a regeneração. Entrar no reino dos céus
significa viver em sua realidade hoje e participar de sua manifestação no
futuro.

D. Com Respeito ao Homicídio

146
1. A Velha Lei-Não Matar
Mateus 5:21 diz: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e
quem matar estará sujeito a julgamento”. A velha lei era o mandamento
para não matar. O “ouvistes que foi dito” nos versículos 21, 27, 33, 38 e43
é alei da velha dispensação; enquanto o “eu, porém, vos digo” nos
versículos 22, 28, 32, 34, 39 e 44 é a nova lei do reino complementando
alei da velha dispensação.

2. A Nova Lei Complementada – Não se Irar, Não Desprezar e


Não Condenar o Irmão
No versículo 22 o Rei disse: “Eu, porém, vos digo que todo aquele
que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem disser a
seu irmão: Raca, estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; e quem lhe
disser: Moré, estará sujeito à Geena de fogo”. A lei da velha dispensação
trata a ação de matar, mas a nova lei do reino trata da ira, o motivo de
matar. Portanto, a exigência da nova lei do reino é mais profunda que a
exigência da lei da velha dispensação. A palavra “irmão” no versículo 22
prova que a palavra do Rei aqui é falada aos crentes.
A coisa mais difícil para nós é controlar nossa ira. Alguns
parecem ser muito gentis,mas quando perdem a calma
sua ira é come:> um cavalo selvagem. Quando estamos irados, ninguém
pode nos conter ou controlar. Por vários anos não pude
terminar o estudo desse capítulo por causa do
problema da minha ira.
É também muito difícil não desprezarmos ou condenarmos outros.
No versículo 22 o Senhor fala sobre dizer ao nosso irmão “Raca” ou
“Louco”. A palavra Raca é uma expressão de desprezo que significa
estúpido, inútil. Louco, isto é, tolo, é uma expressão hebraica de
condenação indicando um rebelde (Nm 20:10). Essa expressão é muito
mais séria do que a expressão de desprezo, Raca. Quão difícil é não
condenar um irmão ou desprezá-lo! Talvez não possa nem mesmo passar
uma semana sem condenar ou desprezar alguém. Quase todos os dias
condenamos ou desprezamos alguém. Os casais desprezam e condenam
um ao outro. Não creio que haja alguma exceção. Toda esposa despreza
e condena o marido, e todo esposo faz o mesmo com a esposa. Esse é
um verdadeiro problema. Ao ler isso, você ainda pode dizer que é
vencedor, o povo do reino? Não fique desapontado. Antes, seja
encorajado. Lembre-se, temos uma vida vencedora. Você não tem o Rei
no seu interior? Somos o povo do reino e temos
o Rei dentro de nós. Esse Rei é a vida real, vencedora. Não olhe para si
mesmo. Se o fizer, você será desencorajado. Esqueça de si mesmo e olhe
para a vida real que está em você. É essa vida que nos faz o povo do reino.
Esqueça sua vida natural e siga essa vida do Rei.
No versículo 22 há três tipos de julgamento. O primeiro é o
julgamento na entrada da cidade, que é
o julgamento distrital. O segundo é o julgamento pelo Sinédrio, que é um
julgamento mais superior. O Sinédrio é um concílio composto do, s
147
principais sacerdotes, anciãos, mestres da lei e escribas. E a corte .
suprema dojudeus (Lc 22:66; A4:5-6, 15; 5:27, 34, 41). O terceiro é o
julgamento de Deus pela Geena de fogo, que é o julgamento mais elevado
de todos. Esses três tipos de julgamento foram mencionados pelo novo
Rei, usando figuras do passado judeu, porque toda Sua audiência era
judaica. Entretanto, quanto ao povo do reino, os crentes do Novo
Testamento, todos esses julgamentos referem-se ao julgamento do Senhor
no trono de julgamento de Cristo, como revelado em 2 Coríntios 5:10;
Romanos 14:10, 12; 1 Coríntios 4:4-5; 3:1315; Mateus 16:27;
Apocalipse 22:12 e Hebreus 10:27, 30. Isso claramente revela que os
crentes do Novo Testamento, embora perdoados por Deus para sempre,
ainda estão sujeitos ao julgamento do Senhor, não para perdição, mas
para disciplina, caso pequem contra a lei do reino como descrito aqui.
Entretanto, quando pecamos contra a nova lei do reino, se nos
arrependermos e confessarmos nossos pecados, seremos perdoados e
limpos pelo sangue do Senhor Jesus (1Jo 1:7, 9). No versículo 22 o novo
Rei fala da Geena de fogo. A palavra Geena é o equivalente grego da
palavra hebraica Ge Hinnom, vale de Hinom. Esse era um vale profundo e
estreito próximo a Jerusalém, o lugar de refugo da cidade, onde corpos de
criminosos e todo tipo de imundícia eram jogados. Foi também chamado
de Tofete (2Rs 23:10; Is 30:33; Jr 19:13). Por causa do seu fogo contínuo,
ele tomou-se o símbolo do lugar de punição eterna, o lago de fogo (Ap
20:15). Essa palavra também é usada em Mateus5:29-30; 10:28; 18:9;
23:15, 33; Marcos 9:43, 45, 47; Lucas 12:5 e Tiago 3:6.

a. Antes de Ofertar a Deus, Reconcilie-se com Seu Irmão


Os versículos 23 e 24 dizem: “Se estiveres apresentando a tua oferta
no altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
deixa ali perante o altar a tua oferta e vai primeiro reconciliar- te com teu
irmão; e, então, vem apresentar a tua oferta”. O sacrifício, tal como o
sacrifício pelo pecado, é para lidar com o pecado, enquanto oferta é para
ter comunhão com Deus. O altar citado no versículo 23 era um móvel (Êx
27:1-8) no átrio do templo (1Rs 8:64), no qual todos os sacrifícios e
ofertas eram oferecidos (Lv 1:9, 12, 17). O Rei, ao decretar a nova lei do
reino, referiu-se aqui às ofertas e ao altar da velha dispensação porque, no
período transitório de Seu ministério na terra, a lei ritual da velha
dispensação ainda não havia terminado. Nos quatro Evangelhos, antes
de Sua morte e ressurreição, nas coisas concernentes às circunstâncias, o
Senhor tratou Seus discípulos como judeus segundo a velha lei, enquanto
nas coisas concernentes ao espírito e à vida, Ele os considerou como
crentes que compõem a igreja conforme a economia do Novo Testamento.
As palavras “alguma coisa contra ti” no versículo 23 devem referir-se à ira
ou insulto no versículo 22. De acordo com o versículo 24, devemos
primeiro ser reconciliados com nosso irmão para que nossa recordação da
ofensa possa ser removida e a nossa consciência esteja livre de ofensa.
Então podemos vir e levar nossa oferta ao Senhor para termos comunhão
com Ele com uma consciência pura. O Rei do reino nunca tolerará que
148
dois irmãos que não se reconciliaram alegrem-se juntos no reino em sua
realidade, ou reinem em Sua manifestação. Se, ao contatar o Senhor, você
tem o sentimento de que um irmão ou irmã tem alguma queixa contra
você, você deve parar sua comunhão com o Senhor e ir a ele para ser
reconciliado. Então . pode voltar para continuar sua comunhão com o
Senhor. Embora seja algo pequeno, não é fácil fazer isso. Contudo,
devemos fazê-lo.

b. Antes que Você Morra, que Seu Adversário Morra ou que o


Senhor Volte
Mateus 5:25 e 26 diz: “Entra em acordo sem demora com o teu
adversário enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não
te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas lançado na prisão.
Em verdade te digo: De modo algum sairás dali, enquanto não pagares o
último centavo”. Precisamos entrar em acordo sem demora com o nosso
adversário antes que ele morra ou morramos nós ou o Senhor volte, não
havendo, então, mais oportunidade para reconciliação. As palavras “a
caminho” significam que estamos ainda vi vendo nesta vida. A questão de
ser entregue ao juiz, ao oficial de justiça e recolhido à prisão, acontecerá
no tribunal de Cristo quando Ele voltar (2Co 5:10; Rm 14:10). O juiz será
o Senhor, o oficial de justiça, o anjo, e a prisão será o lugar de disciplina.
Sair dali, isto é, sair da prisão é ser perdoado na próxima era, o milênio.
O centavo romano mencionado no versículo 26 é uma pequena
moeda de bronze igual a um quarto de um assanon, que é igual a um
centavo. O significado aqui é que até mesmo das menores coisas
precisamos fazer um completo acerto de contas. Isso mostra o rigor da
nova lei.
Precisamos ser reconciliados com nossos adversários antes que
morramos, antes que eles morram ou antes de o Senhor voltar. Se não
cuidarmos de todas as questões agora, teremos de tratá-las na era
vindoura. Não espere pela próxima era, porque o tratamento será mais
difícil. Cuide de cada problema agora, antes que você ou seu adversário
morra. Enquanto ambos ainda estão vivos, você tem a oportunidade de ser
reconciliado com ele. Ainda mais, se você esperar, o Senhor pode voltar
antes que vocês se reconciliem. Por um lado, a volta do Senhor será
maravilhosa. Por outro, será bastante séria, porque terminará a
oportunidade para tratar os problemas nesta era e nos obrigará a tratá-los
na próxima. Portanto, é muito melhor solucionar cada problema antes da
era vindoura. Isso significa que devemos cuidar de cada problema antes
de morrermos, antes que a outra parte morra ou antes de o Senhor
voltar.

E. Com Respeito ao Adultério


1. A Velha Lei-Não Adulterar
Mateus5:27diz:” Ouvistes que foi
149
dito:Nãoadulterarás”. Essa é a velha lei,5:18).

2. A Nova Lei Complementada – Não Olhar para Cobiçar


A nova lei complementada quanto ao adultério está no versículo 28:
“Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a
cobiçar, no coração já adulterou com ela”. A lei da velha dispensação trata
a ação exterior do adultério, enquanto a nova lei do reino trata a intenção
do coração.

a. Considerar a Seriedade de tal Pecado no que Diz


Respeito ao Reino
Devemos considerar a seriedade de tal pecado no que diz respeito
ao reino. A seriedade desse pecado é indicada pela palavra do Senhor nos
versículos 29 e 30 sobre arrancar nossos olhos e lançá-los de nós e cortar
nossas mãos e lançá-las de nós. Em ambos os versículos o Senhor disse:
“Pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu
corpo lançado na Geena”. Isso, entretanto, não deve ser observado
literalmente; pode apenas ser cumprido espiritualmente, como revelado
em Romanos 8:13 e Colossenses 3:5. Sei de casos de pessoas que
aplicaram essa palavra literalmente. Um desses casos era o de um
jogador de cartas que literalmente cortou a mão após ler essa porção da
Palavra. Finalmente ele descobriu que, embora a mão ti vesse sido
cortada, ainda havia dentro dele uma mão interior desejando jogar. Ele
aprendeu que cortar a mão física não resolve, porque o problema estava
com a mão interior. Embora essa palavra não seja para ser tomada
literalmente, revela a seriedade de tal pecado.
De acordo com a palavra do Senhor nos versículos
29 e 30, é possível que as pessoas salvas sejam lançadas na Geena.
Isso significa que mesmo as pessoas salvas podem sofrer dano da
segunda morte. Em Apocalipse 2:11 o Senhor Jesus disse: “O vencedor,
de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte”. Como enfatizamos, a
Geena é um símbolo do lago de fogo, que é a segunda morte (Ap
20:15). A palavra do Senhor em Apocalipse 2:11 indica que é possível
aos crentes sofrerem dano da segunda morte. A palavra do Senhor em
Apocalipse 2:11 corresponde à Sua palavra em Mateus 5:29 e 30. Como
salvo se não e seno em tratar esse tipo de pecado, algum dia você sofrerá
dano da segunda morte. Como o Senhor Jesus diz aqui, você será
lançado na Geena. Isso não significa que você perecer::
significa que será disciplinado. Além disso, a Geena de
fogo não se refere ao purgatório do catolicismo. Mas essa palavra sobre
Geena avisa-o que se você não é sério em tratar esse pecado hoje, quando
o Senhor Jesus voltar, Ele exercerá Seu Julgamento sobre você.
Como vimos, os três tipos de julgamento
mencionados no versículo 22 se referem ao julgamento de Cristo em Seu
tribunal. Esse julgamento não diz respeito aos não-salvos, que serão
Julgados no grande trono branco após o milênio (Ap 20:12, 15). Nenhuma
150
pessoa não-salva estará qualificada a estar diante do tribunal de Cristo em
Sua vinda. Todos aqueles que comparecerem nesse trono de julgamento
serão os salvos. Os crentes serão julgados lá, não quanto à questão de
salvação ou perdição, mas pela recompensa ou punição.
A palavra dita pelo Senhor com respeito ao julgamento e a ser
lançado no Geena de fogo é uma palavra séria. Tal palavra deve fazer-nos
sóbrios e não leves ao tratar esse tipo de pecado. Nunca considere esse
pecado como um assunto insignificante. A situação de hoje quanto à
fornicação é lamentável. Nunca devemos ser leves a respeito disso. A
palavra do próprio Senhor nos mostra quão sério isso é. Devemos ser
sóbrios e tratar isso de uma maneira muito séria. Entretanto, não
tratemos os nossos membros de uma maneira literal. Antes, devemos
mortificar nossos membros pecaminosos pela cruz de Cristo. Como
Romanos 8:13 revela, pelo Espírito devemos “mortificar os feitos do
corpo”, e como Colossenses 3:5 diz, devemos mortificar nossa “natureza
terrena”. Essa é a maneira adequada de tratar nossos membros
pecaminosos.

b. Livrar-se da Motivação de Tal Pecado a Qualquer


Custo
Os versículos 29 e 30 também indicam que devemos lançar fora a
motivação de tal pecado a qualquer custo. A intenção do Senhor aqui é
fazer- nos sóbrios para que nos livremos não apenas da ação, mas
também da motivação desse tipo de pecado. Se falharmos em fazer isso,
Ele nos porá na Geena de fogo quando vier. Essa é uma palavra muito
sóbria.

151
MENSAGEM 18

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (6)


Nesta mensagem tenhoencargo de dar uma palavra
adicional sobre a lei. Tem havido muitos debates entre os mestres
cristãos quanto a essa questão da lei. Esses
debates são principalmente devido à falta da luz que vem da
Bíblia com respeito à lei. De acordo com a economia do Antigo
Testamento, o tratamento de Deus com Seu povo era baseado na lei.
Esse era o princípio da lei. Mas na economia do Novo Testamento,
Deus hoje lida com Seu povo, não segundo a lei, mas segundo a fé.
Assim, alei era o princípio do tratamento de Deus com Seu povo no
Antigo Testamento, mas a fé é o princípio do Seu tratamento conosco no
Novo Testamento. Segundo a economia do Antigo Testamento,
era necessário guardar á lei para ser aceitável a Deus. Mas
hoje, ser aceito por Deus é uma questão de fé.
O princípio da lei foi abolido, mas os mandamentos da lei, não.
Exatamente porque o princípio da lei foi abolido, nunca pense que os
mandamentos da lei também o foram e que não há necessidade de honrar
nossos pais ou de não roubar. Não, em lugar de serem abolidos, os
mandamentos da lei foram elevados. Embora nosso contato com Deus
não esteja baseado no princípio da lei, ainda devemos observar os
mandamentos elevados da lei.

NÃO É PRECISO GUARDAR O SÁBADO

152
A essa altura, os adventistas do sétimo dia podem
dizer: “Sim, devemos cumprir todos os
mandamentos da lei. Um desses é guardar o sábado. Baseado no que disse
sobre não abolir os mandamentos da lei, afirmamos que devemos guardar
o sábado”. Embora os mandamentos de Deus não tenham sido abolidos,
um desses mandamentos, a lei sobre guardar o sábado, não está
relacionado à moralidade. Antes, é uma lei ritual. Um ritual é uma forma,
uma sombra, que hoje não precisamos mais observar. Por exemplo, não
precisamos mais oferecer sacrifícios de animais, precisamos?
Semelhantemente, não é mais necessário guardar o sábado. No Antigo
Testamento, o período das sombras ou prefigurações, havia a necessidade
de sacrifícios e festas e de guardar o sábado. Mas hoje é a era da
realidade. Nosso sacrifício não é um cordeiro ou um cabrito; é Cristo, a
realidade de todos os sacrifícios do Antigo Testamento. Semelhantemente
nosso descanso não é um dia específico; também é Cristo. Porque Cristo, a
realidade, está aqui, todas as sombras se foram. Porque o mandamento
para guardar o sábado é um mandamento ritual, não um mandamento
moral, não somos obrigados a guardá-lo hoje. Esse mandamento não está
relacionado à moralidade, mas à sombra, à forma, que agora já se foi.

O PRINCÍPIO DA LEI
Precisamos ser impressionados com o princípio da lei. O
tratamento de Deus com Seu povo sempre depende de um princípio. Por
exemplo, os tratamentos de Deus com Abraão eram baseados nas
promessas de Deus. Deus não deu a Abraão os mandamentos da lei; Ele
lhe deu apenas a promessa. Assim, Deus lidou com ele de acordo com a
Sua promessa. A promessa dada por Deus a Abraão tornou-se o princípio
segundo o qual Deus tratou com ele. Mais tarde, Deus deu a lei aos filhos
de Israel por intermédio de Moisés. A lei dada no monte Sinai, portanto,
tomou-se o princípio segundo o qual Deus lidou com os filhos de Israel.
Desse modo a lei tomou-se o princípio para os tratamentos de Deus com
Seu povo no Antigo Testamento. Agora no Novo Testamento Deus trata
com os crentes segundo a fé, não mais de acordo com a lei. Isso está
completamente desenvolvido no livro de Romanos e Gálatas. Se ler esses
livros, você verá que Deus trata com os crentes em Cristo não segundo a
lei, mas segundo a fé. Na época do Antigo Testamento Deus aceitava as
pessoas segundo a lei. Se alguém quisesse ser aceito por Deus: tinha de
satisfazer o padrão da lei. Mas hoje Deus nos aceita, não segundo a lei,
mas se cremos ou não em Cristo. Assim, a aceitação de Deus hoje é
baseada na fé.

OS MANDAMENTOS DE DEUS NÃO FORAM REVOGADOS,


FORAM ELEVADOS
O fato de Deus não mais lidar conosco, os crentes, segundo o
princípio da lei, não significa que os mandamentos da lei tenham sido
revogados. Por exemplo, os primeiros dois mandamentos da velha lei
estavam relacionados com não ter outros deuses e não fazer imagens.
153
Dizer que o princípio da lei foi revogado não significa que esses
mandamentos tenham sido revogados. Antes, de acordo com o Novo
Testamento, esses mandamentos foram acentuados, reforçados e
elevados. N O Antigo Testamento foi- nos dito para não fazermos uma
imagem física, mas no Novo Testamento é-nos dito que mesmo nossa
avareza é uma forma de idolatria (C13:5). Ganância é um ídolo. Por aqui
vemos o elevar dos mandamentos no que diz respeito à idolatria. Sim, o
princípio da lei foi revogado, mas não os mandamentos da lei. O
mandamento sobre honrar os pais nunca foi abolido. N o Novo
Testamento esse mandamento também é repetido, reforçado e elevado.
Devemos honrar nossos pais muito mais hoje do que os filhos de Israel
faziam no passado.
Vimos que o Senhor Jesus também elevou os mandamentos quanto
à questão de matar e adulterar. Porque os mandamentos do Antigo
Testamento com respeito a esses assuntos não eram adequados, o Senhor
complementou-os. O velho mandamento sobre matar não incluía a
questão do ódio ou ira. Assim, o Senhor complementou a velha lei
quanto ao matar dizendo que quem se irasse contra seu irmão estaria
sujeito a julgamento. Ele também complementou o mandamento no que
diz respeito ao adultério dizendo que se alguém olhasse para uma mulher
com lascívia no coração já teria adulterado com ela. Por esses exemplos,
vemos que as leis morais nunca foram revogadas; antes, foram elevadas.
Todos os dez mandamentos foram repetidos e elevados no Novo
Testamento, exceto o quarto mandamento, o mandamento sobre guardar
o sábado. Esse mandamento já passou porque não está relacionado à
moralidade. Ao contrário, ele é um mandamento ritual.

UM PADRÃO SUPERIOR DE MORALIDADE


Agora chegamos ao encargo desta mensagem propriamente dito.
Sim, a salvação do Novo Testamento está baseada no princípio da fé; não
tem nenhuma relação comalei. Todos fomos salvos por intermédio da fé,
não por guardar a lei. Mas após sermos salvos, devemos viver uma vida
que tenha um padrão de moralidade mais elevado que o da velha lei.
Nunca pense que somos livres para ser negligentes, desleixados ou
mesmo imorais simplesmente porque não fomos salvos por guardar a
lei. Não pense que, apenas porque Deus não lida conosco de acordo
com o princípio da lei, mas de acordo com o princípio da fé, não
deveríamos atentar aos mandamentos da lei. Todos os que pensam
assim foram drogados pelos ensinamentos encontrados em parte do
cristianismo de hoje. Devemos ser sóbrios. Mais uma vez digo: após
termos sido salvos, precisamos viver uma vida com um padrão muito
mais elevado que o da velha lei. N osso padrão deve ser mais elevado do
que as exigências da lei. A lei exige que não matemos. Mas não
deveríamos nem mesmo ficar irados com os outros. Mesmo se
dissermos ao nosso irmão “Raca”, uma expressão de desprezo, ou Moré,
uma palavra de condenação indicando um rebelde, estaremos
correndo o risco de julgamento. Embora possamos não matar nosso
154
irmão, se o chamarmos de tolo ou rebelde nos encontraremos em sérios
problemas.

OS PROBLEMAS DE TEMPERAMENTO E
CONCUPISCÊNCIA
Em Mateus 5 o Senhor Jesus falou sobre matar e adulterar. Matar
refere-se ao nosso temperamento e adulterar, à concupiscência, Nosso
temperamento e concupiscência constantemente nos prejudicam e
perturbam. Se fôssemos pedras, não seríamos incomodados por essas
duas coisas. Não importa quanto você irrite, insulte ou ofenda uma
pedra, ela nunca reagirá, porque não tem qualquer temperamento. Além
disso, uma pedra não tem lascívia. Portanto, ela nunca será tentada por
isso. Mas diariamente somos perturbados pelo nosso temperamento ou
tentados pela nossa lascívia. Como nos é fácil ficar irritados e ofendidos!
Alguns podem ficar ofendidos pelo menos dez vezes num dia. Você pode
ser ofendido por seu esposo ou esposa, pelos filhos, vizinhos ou parentes.
Você pode até mesmo ser ofendido pelos seus sapatos, pelo fogão ou
chaleira. Sei de algumas irmãs que foram ofendidas pela sua cozinha. É
como se a ira delas nunca pudesse se esgotar. Outros são perturbados
pela lascívia. Por essa razão, enfatizei em uma das mensagens do Estudo-
Vida de Gênesis que nunca devemos ficar sozinhos com alguém do sexo
oposto por longo tempo. Se ficar, você será tentado por sua lascívia feroz.
Para viver num padrão moral mais elevado do que o da velha lei,
você deve vencer seu temperamento e lascívia. Você pode dizer que isso
não é fácil de se fazer. Sim, não é fácil. É por isso que precisamos de
Cristo. É por isso que você precisa de outra vida. Como precisamos
permanecer com Cristo! Devemos contatá-Lo não apenas dia a dia, mas
até mesmo hora a hora. Por causa do temperamento e lascívia que estão
em nós, precisamos permanecer em constante comunhão com Ele. Você
deve reconhecer que não é nem madeira nem pedra. Se fosse madeira ou
pedra, não precisaria se preocupar com a questão da ira ou
concupiscência. Mas porque é um ser vivo, você tem essas duas coisas
no seu interior. Você não tem o temperamento e a concupiscência no
seu interior? A qualquer hora podemos tropeçar pelo nosso
temperamento ou ser tentado pela nossa concupiscência. Esteja alerta!
Esteja vigiando e orando a respeito desses dois “demônios”, nosso
temperamento e lascívia. Após sermos salvos segundo o princípio da fé,
precisamos viver uma vida elevada, uma vida com um padrão superior.
Essa vida com o mais alto padrão vence nosso temperamento e lascívia.

UMA ADVERTÊNCIA QUANTO AO


JULGAMENTO DOS CRENTES
Semana após semana muitos são drogados pelos ensinamentos do
cristianismo. Esses ensinamentos não advertem os cristãos nem dizem a
eles a verdade. Assim, muitos não são avisados que será motivo de muitos
problemas ficar irado e desprezar ou condenar os outros ou entregar-se à
lascívia. Demonstrando apenas um pouco de desprezo pelo nosso irmão,
155
estaremos sujeitos a julgamento (Mt 5:22). Isso não significa que
pereceremos. Não, uma pessoa salva nunca perecerá, e ninguém que se
tenha perdido estará qualificado a comparecer diante do trono de
julgamento de Cristo. Apenas os que ti verem sido salvos segundo o
princípio da fé estarão qualificados para estar lá. Mas não pense que é
impossível para você ter algum problema no tribunal de Cristo. Você pode
dizer ao Senhor: “Nunca roubei um banco ou matei alguém. A única coisa
que fiz foi perder a calma”. Mas o simples ato de perder a calma poderá
levá-lo a julgamento.
Em 5:22 o julgamento dos crentes no tribunal de Cristo é descrito
por três tipos de julgamento, conforme a história passada dos judeus: o
julgamento na entrada da cidade, o julgamento diante do Sinédrio e o
julgamento do Geena de fogo. Todos esses três níveis de julgamento se
referem ao único julgamento no tribunal de Cristo. Nós, cristãos, salvos
de acordo com o princípio da fé, não seremos julgados no trono branco
citado em Apocalipse 20. Antes, seremos julgados no tribunal de Cristo
mil anos antes do julgamento no trono branco. O julgamento no grande
trono branco será para os incrédulos a respeito da perdição eterna deles.
Mas o julgamento no tribunal de Cristo será para os crentes quanto a
serem recompensados ou punidos.
Embora muitos de vocês tenham estado no cristianismo por anos,
provavelmente nunca ouviram tal mensagem sensata. Vocês já ouviram
um sermão dizendo que, embora tenham sido salvos pela fé mediante a
graça, vocês ainda devem viver uma vida que é de um padrão moral ainda
mais elevado do que aquele exigido pela velha lei? Foi-lhes dito que vocês
devem viver uma vida que nunca perde a calma ou que não olha para uma
mulher com desejo de lascívia? A mais alta lei, a lei do reino dos céus, não
apenas toca as ações exteriores, mas também a intenção no interior. Quão
elevado é o padrão dessa lei! A advertência do Senhor acerca do padrão
dessa lei é séria. Ela até mesmo fala de ser posto na Geena de fogo, Digo
novamente, isso não significa que os crentes perecerão. O lamentável
cristianismo meramente diz às pessoas que elas irão para o céu ou para o
inferno. Mas a Bíblia diz claramente que após sermos salvos segundo o
princípio da fé, devemos cumprir todas as exigências da nova lei. A lei não
é mais o princípio pelo qual somos salvos, antes, ela é o padrão de
moralidade que nos é ordenado guardar. O princípio da lei foi revogado,
mas a moralidade exigida pelos mandamentos da lei permanece e foi
elevada. Não pense que não há necessidade de cuidar da moralidade
porque estamos debaixo da lei da salvação. Isso é um conceito
absolutamente errado. O ponto crucial do decreto do Senhor com respeito
à lei é que não precisamos cumpri-la a fim de sermos salvos, mas que
devemos ter um padrão de moralidade muito mais elevado que o da
velha lei após termos sido salvos pela fé.

CONSTRANGIDOS A PERMANECER COM CRISTO


Após ouvir isso, você poderá dizer que não é capaz de cumpri-lo, É
bom falar assim, porque nesse caso é necessário Cristo vir para dentro de
156
nós. A própria Pessoa que cumpriu totalmente a lei e morreu em nosso
lugar veio para dentro de nós em ressurreição para ser a nossa vida. A
advertência do Senhor em Mateus 5 deve constranger-nos a permanecer
com Cristo. Devemos ter uma vida diária cheia de temor e tremor.
Precisamos dizer: “Devo estar próximo ao Cristo ressurreto. Devo ser um
com Ele. Devo confiar e depender Dele. Porque o padrão da moralidade
do reino dos céus é elevado demais para cumprir, devo permanecer com o
Senhor. Se apenas perder a calma com meu irmão, serei queimado no
fogo. Quão sério isso é!”
Quando alguns mestres cristãos ouvem isso, podem dizer: “É
heresia ensinar que os salvos serão queimados no fogo”. Leia Mateus 5
novamente. Esse capítulo não foi falado aos incrédulos, mas é uma
palavra dada aos discípulos, os salvos, os filhos de Deus. Se não
refrearem sua ira, eles serão lançados no Geena de fogo. Alguns podem
dizer: “Isso é o Geena de fogo, não o lago de fogo”. Não argumente sobre o
que é o fogo, porque mesmo um pequeno fogo pode causar muito
sofrimento. Domingo após domingo, tantos cristãos estão sendo enchi dos
com ensinamentos açucarados. Eles nunca ouviram uma palavra sensata
de Mateus 5. Agradecemos ao Senhor pela Sua misericórdia e graça e pela
fé que Ele nos deu por intermédio da qual fomos sal vos. Quão
maravilhoso é ser salvo pela fé! Mas como salvos, devemos ouvir uma
palavra séria de advertência! Mesmo perder a calma com nosso irmão
pode levar- nos a ser queimados no Geena de fogo.
Esse pensamento de ser queimado pelo fogo é encontrado em 1
Coríntios 3 e Hebreus 6. Em 1 Coríntios 3:15 diz-se: “Se a obra de alguém
se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como
que através do fogo”. Embora tal pessoa se salve, será através do fogo.
Hebreus 6:7 e 8 dizem: “Porque a terra que absorve a chuva que
freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é
também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz
espinhos e abrolhos é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser
queimada”. Aqui os crentes são comparados à terra na qual pode crescer
vegetação aprovada por Deus ou produzir espinhos e abrolhos que serão
queimados. Quão terrível seria passar por tal fogo! Além disso, em
Apocalipse 2:11 o Senhor disse: “O vencedor, de nenhum modo sofrerá
dano da segunda morte.” Essa palavra implica que os cristãos derrotados
sofrerão dano da segunda morte, o lago de fogo (Ap 20:15). Sofrer dano da
segunda morte é ser tocado pelo lago de fogo. Certamente nenhum de
nós quer ser tocado por esse fogo.

PUNIÇÃO DISPENSACIONAL
Essa questão de julgamento dos crentes e de sofrer dano do
fogo não é calvinismo ou
arminianismo. Segundo o calvinismo, uma vez salvos, somos salvos para
sempre e não haverá mais nenhum problema. De certo modo, o
157
calvinismo está correto, porque uma vez salvos somos salvospor
toda a eternidade. Entretanto, não devemos dizer que
não haverá mais problemas. Há a possibilidade de ser queimado no fogo.
Segundo o arminianismo, alguns podem ser sal vos de manhã e perder
sua salvação à noite. A salvação deles sobe e desce como
um elevador. Nem o calvinismo nem o arminianismo estão de
acordo com a pura palavra da Bíblia. A Bíblia revela que somos salvos
pela eternidade, mas que após sermos salvos, precisamos vencer todas
as coisas pecaminosas. Caso contrário, seremos disciplinados,
punidos. Se não se arrepende e confessa seus
pecados, mas permanece em adultério, na próxima era você será colocado
no fogo e queimado, não para perdição eterna, mas como uma punição
dispensacional.

FUGIR DO NOSSO TEMPERAMENTO E LASCÍVIA


Nossa era é uma era de fornicação e adultério. Cada país está cheio
de imoralidade. Quanto a esse assunto, tantos têm sido drogados pelo
“alho” e perdido a percepção desse pecado. Que essa palavra possa nos
tornar sóbrios! Devemos afastar-nos da tendência imoral do mundo de
hoje. Nada insulta mais a Deus do que a fornicação, a qual danifica o
homem criado por Deus à Sua imagem. Todos devemos fugir do nosso
temperamento e lascívia. Fuja do seu temperamento! Fuja da sua
lascívia! Não é uma coisa insignificante perder a calma ou entregar-se à
lascívia. Tolerar essas coisas pode levar-nos a ser queimados. Assim,
precisamos dar ouvidos a essa palavra sóbria, que nos constrangerá a
permanecer perto de Cristo. Precisamos orar: “Senhor, há raiva e lascívia
dentro de mim. Mas, agradeço-Te, Senhor pois tenho a Ti em meu
espírito. Senhor, não quero permanecer com minha lascívia física ou com
meu temperamento psicológico. Quero estar Contigo em meu espírito,
querido Senhor Jesus”. Aqui está a nossa salvação, nosso livramento,
nossa santidade. Dia e noite devemos estar com o Senhor Jesus em nosso
espírito, olhar para Ele, contatá-Lo e Nele confiar.
O temperamento, um problema para todo cristão, é como cupim que
está escondido, é sutil e prevalecente. Devemos estar alertas sobre ele. A
lascívia é também um grande problema. Sinto dizer que mesmo entre os
santos têm havido vários casos de fornicação. Que vergonha! Nada é
mais vergonhoso do que fornicação ou adultério entre os santos. Isso
danifica o povo criado por Deus, a vida da igreja e o testemunho dela.
Muitas vezes o apóstolo Paulo nos adverte que nenhum fornicador
herdará o reino de Deus (1Co 6:9-10; 015:19-21; Ef 5:5). Os crentes que
cometem adultério ou fornicação estão acabados para o reino dos céus. O
povo do reino deve ter o mais alto padrão de justiça. Não perca a calma
nem olhe para uma mulher com desejo de lascívia. Seja cuidadoso! Você
precisa considerar essas questões seriamente e tratá-las até a raiz. Essa
palavra não é uma ameaça; é uma advertência que nos compele a estar
junto de Cristo. Agradeço ao Senhor por termos o Evangelho de Mateus e o
Evangelho de João. Precisamos confiar na vida revelada no Evangelho de
158
João. Aleluia! temos tal vida! Essa vida é a vida de ressurreição, a vida
vencedora. Cristo já venceu e agora em ressurreição Ele está vivendo em
nós. Essa é a vida pela qual cumprimos as mais elevadas exigências do
reino dos céus.

ANDAR SEGUNDO O ESPÍRITO


Devemos estar muito esclarecidos a respeito do fato de que na
verdade não estamos guardando a lei. Antes, estamos andando segundo o
espírito. Romanos 8:4 diz que quando andamos segundo o espírito,
espontaneamente cumprimos todas as justas exigências da lei. Não
estamos tentando guardar a lei, porque quanto mais tentamos guardá-la,
mais a transgredimos. Isso está totalmente revelado e registrado em
Romanos 7. Hoje não estamos sob a lei nem obrigados a guardá-la.
Estamos livres da lei e agora estamos andando segundo o espírito.
Dentro do espírito há o Rei, Cristo, que é nossa vida de ressurreição.
Quando andamos segundo o espírito, cumprimos até mesmo as exigências
da mais elevada lei.
Creio que agora temos clareza sobre a lei. Podemos dizer aos outros
que o princípio da lei já passou, mas que os mandamentos da lei
permanecem e foram elevados! Embora não sejamos capazes, de cumprir
o padrão dessas exigências mais elevadas, temos a vida de ressurreição
em nosso espírito. Portanto, não precisamos guardar a lei no sentido de
esforçar-nos em nós mesmos, mas devemos andar segundo o espírito.
Quando andamos segundo o espírito, espontaneamente cumprimos todas
as exigências da lei e temos o mais elevado padrão de moralidade. Esse é o
testemunho de Jesus, o testemunho da igreja. Essa é a vida adequada da
igreja, a realidade do reino dos céus.
MENSAGEM 19

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (7)


N esta mensagem chegamos a Mateus 5:31-48 que abrange quatro
leis. Nos versículos 21 a 30 o Senhor referiu-se a duas leis que foram
complementadas, a lei com respeito ao homicídio e a lei com respeito ao
adultério. Mas as quatro leis dessa seção: sobre o divórcio, sobre
juramentos, sobre resistir ao perverso e sobre amar nossos inimigos,
todas foram mudadas. O que o Rei decretou nos versículos 21 a 30 como
a nova lei do reino complementa a lei da velha dispensação, enquanto o
que o Rei proclamou nos versículos 31 a 48 como a nova lei do reino muda
a lei da velha dispensação.

F. Com Respeito ao Divórcio

1. A Velha Lei-Divorciar-se com uma Carta


Consideremos primeiramente a mudança da lei com respeito ao
divórcio. O versículo 31 diz: “Também foi dito: Aquele que repudiar sua
159
mulher, dê-lhe carta de divórcio”. Segundo a velha lei, um homem
poderia di vorciar-se de sua esposa simplesmente dando a ela uma carta
de divórcio. A lei da velha dispensação a respeito do divórcio foi
ordenada por causa da dureza do coração do povo, não segundo o
desígnio de Deus desde o princípio (Mt 19:7-8). O novo decreto do Rei
restabelece o casamento ao que foi no princípio designado por Deus
(19:4-6).

2. A Nova Lei-Não se Divorciar Exceto em Caso de


Fornicação
Mateus 5:32 diz: “Eu, porém, vos digo que todo aquele que repudia
sua mulher, exceto por causa de fornicação, faz com que ela cometa
adultério; e aquele que casar com a repudiada, comete adultério”. O laço
do casamento pode ser quebrado apenas pela morte (Rm 7:3) ou
fornicação. Conseqüentemente, ter um divórcio por qualquer outra razão
é cometer adultério,
Conforme a palavra do Senhor Jesus, o único motivo para
divorciar-se é fornicação. Apenas duas coisas podem quebrar o vínculo do
casamento: a morte de uma das partes ou fornicação, adultério. Se uma
ou outra parte comete adultério, o vínculo do casamento é quebrado. Esse
é o princípio. Portanto, o Senhor Jesus disse que não deve haver divórcio
exceto em caso de fornicação. Mas não tire vantagem disso como desculpa
para casar de novo simplesmente porque um ato de fornicação foi
cometido. Isso também é uma questão de intenção. Se possível, o que
ofendeu deve ser perdoado. Entretanto, se a parte culpada recusa-se a se
arrepender e vive nesse tipo de pecado ou se casa com alguém mais,
o caso é diferente. Em tal situação, o laço do casamento é quebrado e a
outra parte está livre.
Em Sua intenção original para o casamento, Deus ordenou uma
esposa para um marido. Mas devido à fraqueza e dureza de coração dos
filhos de Israel, quando a lei foi dada, Moisés deu ao homem a permissão
para divorciar-se de sua esposa com uma carta de divórcio. Mas agora,
com a vinda do reino dos céus, essa lei com respeito ao divórcio foi
mudada, e a questão do casamento é restaurada à intenção original de
Deus. No princípio Deus não criou duas ou três Evas para Adão, de tal
modo que ele pudesse ter um ou mais divórcios. Não, havia apenas um
marido e uma esposa. Portanto, o Senhor Jesus, como o Rei do reino
celestial, traz a questão do casamento de volta ao princípio.
Nesse ponto gostaria de dizer uma palavra aos jovens. Nesse país há
um grande número de divórcios todo ano. Alguns até se casam várias
vezes. Que deplorável! Os filhos de Deus jamais devem ter um divórcio.
Isso é sério. Divorciar-se e casar-se novamente significa cometer
adultério. Nas mensagens anteriores vimos quão sério é o adultério. Por
essa razão, quero falar uma palavra de advertência aos jovens que ainda
não estão casados: não se lancem ao casamento de maneira leviana. Você
deve orar ao Senhor e esperar Nele por uma clara liderança. Jamais seja
160
levado por sua lascívia ou desejo. Se o fizer, se arrependerá mais tarde,
porque a lascívia e o desejo não permanecerão. Antes de se casar, seus
olhos devem ser abertos para considerar o assunto cuidadosamente. Mas
após ter-se casado, seus olhos devem ser fechados. Há um provérbio que
diz que o amor é cego, mas que o casamento abre os olhos. Nós,
entretanto, precisamos mudar esse provérbio. Nossos olhos devem ser
abertos antes do casamento e fechados depois dele. Jovens, antes de se
casarem, peçam ao Senhor para dar-lhes olhos para enxergar cada
aspecto da situação. Mas após ter-se casado, vocês devem fechar os olhos
e ser cegos. Seja uma esposa cega, seja um marido cego, considerando
sempre seu esposo ou esposa muito preciosos. Se o fizer, não haverá
divórcio.
Fico surpreso sempre que ouço sobre um irmão e irmã que se
casaram após conhecerem um ao outro por apenas pouco tempo. Não se
case de maneira apressada ou precipitada. Nenhum casamento
precipitado é da direção do Senhor. Se há um assunto que exige oração, é
casamento. E se há algo pelo qual você precisa apresentar-se ao Senhor, é
pelo seu casamento. Apresente-se a si mesmo e a outra parte ao Senhor,
oferecendo-se no altar como um holocausto a Ele pelo seu casamento que
virá. Após apresentar-se ao Senhor, busque Sua liderança e espere Nele
por um tempo. Encorajo-o a esperar por pelo menos mais um mês. Não
tenha pressa. Como um homem idoso com muita experiência, aconselho-
o a gastar seu tempo nessa questão. Mesmo se você casar um ano depois,
não fará muita diferença. Se o seu casamento com determinada pessoa
vem do Senhor, Ele a preservará para você. Não precisa se precipitar.
Além disso, não faça sua própria escolha, sua própria opção. Esteja
satisfeito com o desejo do Senhor e com o Seu tempo. Isso o livrará da
possibilidade de divórcio.
Novamente digo, uma vez que tenha se casado, você deve ser cego.
Bem-aventurados são os maridos e esposas cegos. A esposa que tentar ser
perspicaz a respeito do seu marido sofrerá, mas a que não for, desfrutará a
vida. Para ela, o céu é azul, o sol está brilhando e o ar está fresco. Ela não
tenta achar todas as falhas do marido. Ela simplesmente louva ao Senhor
por ele.

G. Com Respeito ao Juramento


1. A Velha Lei-Não Jurar Falso, mas Cumprir para com o
Senhor os Seus Juramentos
Mateus 5:33 diz: “Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não
jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus
juramentos”. Essa é a velha lei com respeito ao juramento.

2. A Nova Lei-Não Jurar de Modo Nenhum


161
Nos versículos 34 a 36 vemos a nova lei do Senhor com respeito ao
juramento: não jurar de modo algum. A nova lei do reino proíbe o povo do
reino de jurar de todos os modos, pelo céu, pela terra, por Jerusalém ou
por sua cabeça, porque os céus, a terra, Jerusalém e a cabeça não estão
sob seu controle, mas sob o controle de Deus. Não devemos jurar pelo céu
ou pela terra, porque não são nossos. Do mesmo modo, não devemos
jurar por Jerusalém porque, como a cidade do grande Rei, ela não é nosso
território. Não devemos nem mesmo jurar pela nossa cabeça porque não
podemos tornar um cabelo branco ou preto. Todas essas coisas-céu, terra,
Jerusalém e mesmo os cabelos da nossa cabeça-não estão sob nosso
controle. Não somos ninguém e não controlamos nada.
No versículo 37 o Senhor diz: “Seja, porém, a vossa palavra: Sim,
sim; não, não. O que disto passar, vem do maligno”. As palavras do povo
do reino devem ser simples e verdadeiras: “Sim, sim; não, não”, não
convencendo os outros com muitas palavras. Nossas palavras devem ser
breves e claras. Os honestos não falam muito. Mas tenha cuidado com os
tagarelas: eles podem ser mentirosos. Os mentirosos são muito falantes,
sempre dando muitas razões e desculpas pelas coisas. Mas uma pessoa
honesta geralmente é breve. Além disso, devemos perceber que o muito
falar na presença de Deus não deixa o Senhor feliz. Quando vamos ao
Senhor, devemos ir a Ele com honestidade, dizendo-Lhe coisas de
maneira breve.
No versículo 37 o Senhor diz que o que passar de um sincero sim ou
não vem do maligno. Aqui chegamos a um ponto crucial: em nosso falar o
maligno pode estar presente. Quando falamos mais palavras do que as
necessárias, aquelas palavras não vêm de nós, mas do diabo, o maligno.
Isso indica que em nosso falar o maligno está conosco. Isso é
especialmente verdadeiro na vida conjugal. Embora possamos não falar
muito com os outros, é fácil haver excesso de falar entre marido e mulher.
Se quiser evitar um casamento infeliz, não permita um falar frouxo entre
você e sua esposa ou esposo. Esteja alerta! Enquanto está falando, o
maligno pode estar com você. Essa não é a minha palavra, é a palavra do
Senhor. A palavra do Senhor nesse versículo é uma forte indicação de que
o maligno está buscando oportunidade para expressar-se por meio do
nosso falar excessivo. Não fale tanto. Simplesmente diga o que é
necessário. Não diga algo além. Se for além do necessário, o maligno será
expresso. Se aceitar esse conselho, você será um marido ou esposa muito
feliz. Entretanto, se falar demais, terá dificuldade. Isso abrirá a porta do
inferno e permitirá que os demônios saiam. Devemos aprender a falar
apenas o que é necessário. Nunca tente convencer os outros com muitas
palavras. Palavras assim convincentes não são confiáveis; antes, são
falsidades que vêm do maligno.

H. Com Respeito a Resistir ao Perverso

1. A Velha Lei-Olho por Olho, Dente por Dente


162
Agora chegamos à terceira lei mudada pelo Senhor, alei com respeito
a resistir ao perverso. O versículo 38 diz: “Ouvistes que foi dito: Olho por
olho, dente por dente”. Essa é a velha lei.

2. A Nova Lei-Não Resistir


No versículo 39 O Senhor disse: “Eu, porém, vos digo que não
resistais ao perverso; antes a qualquer que te fere na face direita, volta-lhe
também a outra”. A nova lei não é para resistir ao perverso. Nesse
versículo o Senhor disse que quando alguém nos ferir na face direita,
devemos voltar-lhe também a outra. Fazer isso indica que não há
resistência. O versículo 40 diz: “E ao que quer demandar contigo e tirar-te
a túnica, deixa-lhe também a capa”. Se alguém pede sua túnica, uma
roupa de baixo, tipo camisa, dê a ele também sua capa. Isso provará que
você não tem resistência. No versículo 41 o Senhor diz: “Se alguém te
obrigar a andar uma milha, vai com ele duas”. Voltar a outra face ao
agressor, deixar a capa ao que exige e andar a segunda milha com quem o
obriga, prova que o povo do reino tem o poder; poder para sofrer e ser
manso em vez de resistir, e para não andar na carne nem na alma pelos
seus próprios interesses, mas no espírito por causa do reino.
Suponha que alguém venha a você e queira sua camisa e você
também dá a ele sua jaqueta. Talvez você possa dar-lhe dez jaquetas. O
ponto aqui não é se sua condição financeira lhe permite dar sua jaqueta;
é se seu temperamento o deixa fazê-lo. Se alguém pede sua camisa, sua ira
pode ser despertada. Assim, não é a questão de uma camisa ou jaqueta,
mas do seu temperamento. É o mesmo princípio de ferir na face direita ou
compelir a andar uma milha.
Resistir rei vindicando olho por olho significa que você está
liberando seu temperamento. Aqui o Senhor está dizendo que não
podemos satisfazer nosso temperamento. Em vez de liberar o “cupim” do
nosso temperamento, devemos matá-lo. Não trate quem lhe faz uma
reivindicação; trate seu temperamento. O problema não é o seu opositor;
é o seu temperamento. O Senhor permite que alguém peça sua túnica
como um teste para expor onde você está, para provar que o “cupim” do
seu temperamento ainda está escondido dentro de você. Somos pessoas
espirituais, até mesmo pessoas do reino, mas nosso temperamento ainda
está escondido dentro de nós e precisa ser exposto. Os que exigem de você
expõem esse pequeno “cupim”. Se alguém pede sua túnica, você pode
dizer: “Não lhe devo coisa alguma! Por que você vem a mim?” Não
repreenda alguém que lhe faz uma rei vindicação-o Senhor o enviou-, mas
mate o “cupim” do seu temperamento. Em vez de se irar, diga-lhe: “Já que
você quer minha camisa, dar-lhe-ei minha jaqueta também”. Isso prova
que seu temperamento foi morto. Todas as pessoas do reino devem ser
capazes de dizer: “Não importa quantas exigências injustas você coloque
sobre mim, minha ira não é despertada. Eu ainda o amo e estou disposto a
repartir com você tudo o que tenho. Se quiser minha camisa, dar-lhe-ei
alegremente a jaqueta também”. A atitude do povo do reino deveria
ser sempre essa.
163
Digo novamente, o ponto aqui não é dinheiro, mas nosso
temperamento. Todas as questões mencionadas nos versículos 39 a 41
tocam o nosso temperamento. Os milionários podem dispor de bilhões de
reais. Mas freqüentemente expõem o seu temperamento com um
motorista de táxi por apenas alguns centavos. O dinheiro não significa
nada; é uma questão de temperamento. Nós, o povo do reino, devemos
estar acima do nosso temperamento.
No versículo 42 o Senhor disse: “Dá a quem te pede, e não voltes as
costas ao que deseja que lhe emprestes”. Dar e não voltar as costas ao que
pede emprestado prova que o povo do reino não se importa com as
riquezas materiais e não é possuído por elas. Entretanto, o verdadeiro
problema não são as riquezas materiais. Dar aos que pedem ou que
querem emprestado toca o nosso ser. O Senhor não está dizendo que deve
nos faltar discernimento e que devemos comportar-nos de maneira tola
quanto às possessões materiais. Ele está nos dizendo que devemos estar
acima das coisas materiais e do nosso temperamento. Nunca devemos ser
provocados em nosso temperamento por esse tipo de coisa nem tocados
pelas coisas materiais. Essa é a atitude vencedora do povo do reino. Isso
não significa que seremos excessivamente generosos ou descuidados ao
administrar o dinheiro. Embora possa ser muito cuidadoso na maneira de
gastar o dinheiro, você estará acima das possessões materiais e acima do
seu temperamento quando tal ocasião vier como descrito no versículo 42.
Nenhuma solicitação despertará sua ira. A velha lei não tocava a ira do
povo ou o coração deles. Mas a nova lei, a lei mudada, toca nosso
temperamento e nosso coração.

I. Com Respeito aos Inimigos

1. A Velha Lei – Amar Seu Próximo e Odiar Seu Inimigo


Agora chegamos a última lei mudada pelo Senhor: a lei com
respeito ao inimigo. O versículo 43 diz: “Ouvistes que foi dito: Amarás o
teu próximo, e odiarás o teu inimigo”. Legalmente falando, a velha lei é
boa e justa, porque o próximo merece nosso amor e o inimigo, nosso ódio.
Assim, amar o próximo e odiar o inimigo é justo e bom.

2. A Nova Lei – Amar Seus Inimigos e Orar pelos Seus


Perseguidores
O versículo 44 diz: “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e
orai pelos que vos perseguem”. Uma vez mais, essa é uma questão que
toca o nosso ser. A razão por que você ama seu próximo é que ele é bom
segundo o seu sentimento. Embora seus próximos correspondam ao seu
sentimento, um inimigo, não. Antes, ele incita seu temperamento. Assim,
a questão de amar nossos inimigos é um teste. Se ler os capítulos 5 a 7 de
Mateus, você verá que essa constituição celestial não admite nem mesmo
um pouco do nosso ser natural. Antes, mata cada germe em nós. Você
odeia seu inimigo porque ele não concorda com sua escolha natural, e
164
ama seu bom próximo porque ele concorda com ela. Se o Senhor lhe
providenciasse ter apenas pessoas bondosas ao seu redor, você agiria
como um anjo e diria: “Senhor, graças Te dou por dar-me tais próximos
amáveis”. Mas o Senhor jamais prepararia apenas boas pessoas para
serem seus próximos. Pelo menos alguns deles serão impertinentes e o
Senhor os usará para expor o que está dentro de você. Ele pode perguntar-
lhe se você ama essas pessoas difíceis. Talvez você diga que isso é muito
difícil. A razão dessa dificuldade é que eles são contra seu ser e sentimento
natural. Isso é um teste para prová-lo se vive por si mesmo ou por Cristo.
Algumas vezes Cristo pode amar seus inimigos mais do que seu próximo,
e você deve segui- Lo. Entretanto, isso não é meramente uma ação
exterior.
Todas essas leis tocam nosso ser e põem-nos na cruz. Um único
mandamento quanto ao divórcio é suficiente para crucificar todos os
esposos e esposas. Ainda mais, a palavra sobre dizer sim e não, também
nos põe na cruz. O mesmo é verdade sobre não resistir ao perverso e
especialmente acerca de não odiar nossos inimigos. Todas essas leis
matam nosso homem, gosto e temperamento naturais.

a. Agir como os Filhos do Pai Celeste


O versículo 45 diz: “Para que vos tomeis filhos do vosso Pai que
está nos céus”. O título “filhos do vosso Pai” é uma forte prova que o povo
do reino, que é a audiência aqui para o decreto do novo Rei, no monte, são
os crentes regenerados do Novo Testamento. Como filhos do nosso Pai,
devemos proceder com o perverso e o injusto do mesmo modo que
procedemos com o bom e o justo (v . 45), amar não apenas os que nos
amam, mas os que não nos amam (v. 46), e saudar não apenas os irmãos,
mas também os outros (v. 47).
O versículo 45 também diz do Pai: “Ele faz nascer o Seu sol sobre
maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos”. Enviar chuvas sobre
justos e injustos é na era da graça, mas na era vindoura, a era do reino,
nenhuma chuva virá sobre os injustos (Zc 14:17-18).
No versículo 46 o Senhor fez uma pergunta: “Porque se amardes os
que vos amam, que recompensa tendes? não fazem os cobradores de
impostos também o mesmo?” Ao povo do reino que observa a nova lei do
reino em sua realidade será dado um galardão na manifestação do reino.
O galardão difere de salvação. Alguns podem ser sal vos, mas não estar
qualificados a receber uma recompensa.

b. Ser Perfeito como o Pai Celeste


O versículo 48 diz: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o
vosso Pai celeste”. Para que o povo do reino seja perfeito tal como seu Pai
celeste, eles devem ser perfeitos em Seu amor. Eles são os filhos do Pai,
tendo a vida e a natureza divinas do Pai. Conseqüentemente, podem ser
perfeitos como o Pai. A exigência da nova lei do reino é muito superior aos
requisitos da lei da velha dispensação. Essa exigência elevada pode ser
165
satisfeita apenas pela vida divina do Pai, não pela vida natural. O reino
dos céus tem a exigência mais elevada e a vida divina do Pai tem o
suprimento mais elevado para satisfazer essa exigência. Os Evangelhos
primeiramente apresentam amais elevada exigência do reino dos céus no
Evangelho de Mateus e, por fim, nos proporcionam o suprimento mais
elevado da vida divina do Pai celestial no Evangelho de João, de modo
que possamos vi ver a vida do reino dos céus. A exigência da nova lei do
reino em Mateus 5 a 7 é verdadeiramente a expressão da nova vida
interior, a vida divina, do povo regenerado do reino. Essa exigência,
revelando o ser interior do povo regenerado, é para mostrar-lhes que são
capazes de alcançar tal estágio elevado.
Todas as exigências dessas leis mudadas revelam o quanto a vida
divina no nosso interior consegue realizar por nós. Essas leis não são
meramente uma exigência; são uma revelação, mostrando-nos que a vida
divina pode até mesmo fazer-nos perfeitos como nosso Pai celeste. Temos
dentro de nós essa vida que nos aperfeiçoa. Temos uma vida com tal
natureza divina que pode fazer-nos tão perfeitos como nosso Pai celeste.
Vimos que, de acordo com o versículo 45, o Pai faz nascer o Seu sol
sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Primeiro o Pai faz
nascer o sol sobre os maus, então sobre os bons. Se fosse o Pai, você faria
seu sol nascer primeiro sobre os maus ou sobre os bons? Certamente
primeiro o faria nascer sobre os bons. Esse versículo também diz que o
Pai envia Sua chuva sobre os justos e injustos. Note que a ordem dessa
parte do versículo está trocada. Isso indica que aos olhos do Pai celeste
não há diferença entre enviar a luz do sol primeiro sobre os maus e então
sobre os bons ou enviar a chuva primeiro sobre o justo e, então, sobre o
injusto.
Apliquemos isso à questão de tratar nossos filhos. Mesmo ao lidar
com seus próprios filhos, você tem a sua escolha. Isso indica quão natural
é. Suponha que tenha três filhos. Um deles pode ser amável, o outro
travesso, e o outro neutro. Dia após dia esses três filhos expõem você,
revelando o quanto o desobediente o desagrada, e o repreende. Embora
você não goste dele, o Pai celestial ama-o mais do que ao que é amável. Ele
o enviou para expor o seu gosto natural.
Também temos nosso gosto natural na vida da igreja. Gostamos dos
irmãos que são gentis e das irmãs que são simpáticas. Queremos que
todos os irmãos e irmãs sejam assim. Mas isso é apenas um sonho, porque
sempre haverá alguns que nos aborrecem. Considere a questão dos
presbíteros. Muitos irmãos são agradáveis e gentis, mas não estão aptos a
ser presbíteros. Entretanto, os que são aptos podem ser um pouco rudes.
Deus usa isso para expor sua escolha natural.
Agora entendemos a implicação e significado da palavra do Senhor
nos versículos 31 a 48. Não é simplesmente uma questão de amar nossos
inimigos exteriormente. Não, é uma questão de ter nosso ser natural
exposto. Após termos sido expostos, diremos: “Senhor, tem misericórdia
de mim. Como preciso da Tua libertação! Quero ficar perto de Ti e confiar
em Ti. Então serei perfeito como meu Pai”.
Não tome a palavra do Senhorcomo um
166
ensinamento de como deve proceder. Isso não
funcionará. A palavra do Senhor é para tocar nosso ser, nossa escolha
natural, e expor o que somos e onde estamos. Quando formos expostos e
subjugados, daremos uma ótima oportunidade para a vida divina viverem
nós. Isso nos fará perfeitos como nosso Pai celeste. Não podemos imitar
o Pai. Quando jovem, ensinava que nosso Pai celeste ama os que são
maus e que devemos amar nossos inimigos assim como nosso Pai
os ama.Embora isso pareça bom, na verdade é
como tentar ensinar um macaco a agir como uma pessoa. Você pode
ensinar um macaco a agir como um amável cavalheiro. Os macacos,
entretanto, falharão, porque eles não são filhos de homem. Somos os filhos
do nosso Pai celeste. Assim, a vida e natureza do Pai estão dentro de nós.
Todos os inimigos exteriores, os que nos compelem a fazer coisas, e os
opositores expõem o que somos. Porque eles expõem nosso ser natural,
aprendemos a não confiar mais em nós mesmos, mas a olhar para nosso
Pai e perceber que temos Sua vida e natureza dentro de nós. Por
intermédio dessa exposição vemos que devemos estar próximos a Ele e
viver por Sua vida e natureza. Desse modo seremos perfeitos como nosso
Pai celeste. Essa é a vida do reino, o vi ver do reino.
Interpretando mal esses versículos, muitos cristãos os têm tomado
como instruções a respeito da sua conduta exterior. Essa é a razão por que
tantos ficaram desapontados e disseram: “Isso é demais para nós.
Estamos longe disso e somos incapazes de cumpri-10”. Essa não é uma
palavra comum dada pelo Senhor Jesus, é a constituição do reino
celestial. Porque somos povo do Seu reino, certamente podemos cumprir
essas exigências. Temos a vida do reino dentro de nós, e podemos
cumprir essas leis, não por nós mesmos, mas pela vida e natureza do Pai.
Portanto, devemos agradecer-Lhe por permitir tantas coisas adversas em
nosso ambiente a fim de tocar nosso ser e expor o que somos de modo que
sejamos completamente subjugados, voltemos a Ele, permaneçamos
próximos a Ele, confiemos Nele e vivamos por Ele. Então seremos o
genuíno povo do reino com a vida do reino para um vi ver do reino
adequado. Esse é o reino de Deus hoje na terra, e essa é a vida adequada da
igreja.

MENSAGEM 20

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (8)


Por séculos, os cristãos não têm tido um entendimento claro da lei.
Por um lado, em Romanos e Gálatas é-nos dito que a lei já passou. Por
exemplo, Romanos 10:4 diz: “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de
todo aquele que crê”. Baseado nisso, muitos cristãos pensam que podem
esquecer a lei. Por outro lado, em Mateus 5:17 o Senhor Jesus disse: “Não
penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim para revogar,
mas para cumprir”. Essa palavra tem incomodado muitos cristãos.
Louvamos ao Senhor porque Ele nos concedeu um entendimento claro
dessa questão.
167
OS TRÊS ASPECTOS DA LEI
Afim de compreender essa questão da lei, devemos conhecer os três
aspectos da lei: o seu princípio, os seus mandamentos e os seus rituais. Se
não diferenciar essas três coisas, você nunca terá um entendimento
adequado da lei. Como vimos, o princípio da lei já passou. Hoje, na
dispensação da graça, Deus não lida conosco segundo o princípio da lei;
antes, Ele nos trata segundo o princípio da fé. Se seremos ou não
justificados, salvos e aceitos por Deus depende do princípio da fé, não do
princípio da lei. Uma vez que temos fé em Cristo, somos justificados por
Deus, aceitos por Ele e salvos. Isso é o que significa o princípio da lei ser
abolido em Cristo sob a dispensação da graça.
Embora o princípio da lei tenha sido abolido, os mandamentos da lei
não foram anulados. Antes, o padrão desses mandamentos foi
elevado. Portanto, os mandamentos relacionados às regras morais
não foram abolidos; eles permanecerão pela eternidade. Mesmo pela
eternidade não iremos adorar ídolos, matar, roubar ou mentir. Em
Seu reino celestial, o Rei elevou o padrão da lei de duas maneiras:
complementando e mudando as leis inferiores em leis mais elevadas.
Dessa maneira, amoralidade dos mandamentos da lei foi elevada a um
padrão superior.
O próprio Salvador real guardou todos os mandamentos da lei
quando esteve na terra. Então Ele foi à cruz para morrer por nós. Por Sua
morte substitutiva, Ele cumpriu a lei do lado negativo. Além disso, por
meio da Sua morte substitutiva, Ele liberou Sua vida para dentro de nós, e
agora temos essa vida de ressurreição em nosso espírito. Porque somos
capazes de viver por essa vida de ressurreição, temos o poder, a
habilidade e a capacidade para ter o mais alto padrão de moralidade.
Quando andamos segundo o espírito (Rm 8:4) cumprimos as justas
exigências da lei, fazemos até mesmo mais do que a lei requer. Assim, não
abolimos a lei, antes a cumprimos da maneira mais elevada.
O terceiro aspecto da lei são os seus rituais. Por exemplo, oferecer
sacrifícios e guardar o sábado são rituais exteriores da lei. Esses rituais
foram também terminados porque eram parte da velha dispensação de
sombras, figuras e tipos, os quais foram todos cumpridos por Cristo como
a realidade. Não somos mais obrigados a observar os rituais da lei.
Portanto, o princípio da lei e os seus rituais foram terminados, mas os
mandamentos da lei, que requerem um alto padrão moral, não foram
terminados. Antes, esses mandamentos foram elevados. Por meio de
Cristo como a vida de ressurreição em nosso espírito, podemos cumprir o
padrão de moral idade exigido pela lei superior do reino dos céus. Essa
palavra deve esclarecer-nos quanto à lei em seus três aspectos: o
princípio, os mandamentos e os rituais da lei.

VIVER PELA VIDA E NATUREZA DO PAI


168
No final de Mateus 5, o Senhor Jesus disse: “Portanto, sede vós
perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (v. 48). Essa palavra conclui
essa seção da constituição, uma seção que é extraordinariamente
elevada. Após ler todas essas exigências, todos diríamos que possivelmente
não podemos cumpri-las. Então chegamos ao versículo 48 que nos diz
que devemos ser perfeitos como nosso Pai celeste é perfeito. Esse
versículo é um indicador de que temos a vida e natureza do Pai dentro de
nós. Nascemos Dele e somos Seus filhos. Porque somos Seus filhos
possuindo Sua vida e natureza, não há necessidade de imitá-Lo ou copiá-
Lo. Se crescermos em Sua vida, seremos iguais a Ele. Assim, todas as
exigências da lei do reino dos céus revelam quanto essa vida e natureza
divinas podem realizar por nós. Nossa única necessidade é sermos
expostos de modo que possamos abandonar toda esperança em nós
mesmos. Quando formos expostos, perceberemos que nossa vida natural
é sem esperança. Então renunciaremos a ela, voltaremos à vida do nosso
Pai e ficaremos com a natureza divina. Espontaneamente, essa vida
crescerá em nós e cumprirá as exigências dessa lei superior. Nossa
necessidade hoje é voltar ao nosso espírito e andar nele. Sempre que
fizermos isso, viveremos pela vida e natureza do nosso Pai; então
espontaneamente cumpriremos as justas exigências da lei. É crucial
entendermos essa questão, porque ela é absolutamente diferente do nosso
conceito natural.
Por minha experiência posso testificar que hoje não estou sob o
princípio da lei. Aleluia! estou sob o princípio da fé e tenho a vida do meu
Pai celestial dentro de mim! Essa vida nada mais é que o Filho querido do
Pai. Estou agora vi vendo por essa vida em meu espírito e andando
segundo o espírito. Por essa vida em meu espírito espontaneamente
cumpro as exigências elevadas da lei do reino dos céus. Isso não é orgulho,
é meu humilde testemunho para glorificar o Senhor. Isso não significa
que sou capaz de fazer algo, mas que Ele é capaz, porque está em mim
como minha vida. Ele é capaz de fazer o mesmo em você e para você. Para
que isso seja a sua experiência, você precisa ter uma visão da desesperança
da sua vida natural. Depois de sua vida natural ser completamente
desenterrada e exposta, você perceberá que é um caso sem esperança,
que não deve confiar nela e que deve voltar-se à vida e natureza divinas do
Pai em seu interior. Volte à vida do Pai, permaneça com a vida do Pai e
viva pela vida do Pai. Você pode facilmente voltar-se à vida do Pai porque
nesse exato momento ela está em seu espírito. Simplesmente ande
segundo o seu espírito e todas as justas exigências da lei serão cumpridas
em você.

CUMPRIR AS JUSTAS EXIGÊNCIAS DA LEI POR ANDAR


SEGUNDO O ESPÍRITO
Nesse ponto precisamos considerar alguns versículos em Romanos
8. Romanos 8:3 diz:
169
“Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne,
isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne
pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na
carne, o pecado”. Por causa da fraqueza da nossa carne é-nos impossível
cumprir a lei. Não podemos fazernada. No que diz respeito à lei, somos
um caso perdido. Portanto, Deus enviou Seu próprio Filho em semelhança
da carne do pecado e, no tocante ao pecado, condenou o pecado na carne,
“a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós que não andamos
segundo a carne, mas segundo o Espírito” (v. 4). Porque era impossível,
pela fraqueza da nossa carne, que a lei fosse cumprida, Deus enviou Seu
Filho para guardar a lei do lado positivo, e morrer pela nossa fraqueza do
lado negativo. Seu propósito ao fazer isso era que as justas exigências da
lei se cumprissem em nós. O “nós” no versículo 4 se refere aos que não
andam segundo a carne, mas segundo o espírito. Deus enviou Seu Filho
para guardar a lei e morrer por nós para que andemos no espírito e
cumpramos as justas exigências da lei.

COMO É FORMADO NOSSO ESPÍRITO


Romanos 8:16 revela como é formado o nosso espírito. “O próprio
Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”. Este
versículo revela que nosso espírito, no qual andamos para cumprir as
justas exigências da lei, é formado pelo testemunho do Espírito Santo com
o nosso espírito. Isso indica que o Espírito Santo de Deus entrou no nosso
espírito. Isso ocorre no momento da nossa regeneração. O Espírito de
Deus entrou no nosso espírito para regenerar-nos. Desde então, o
Espírito Santo tem testificado com o nosso espírito que somos filhos de
Deus. Assim, o versículo 14 diz: “Pois todos os que são guiados pelo
Espírito de Deus são filhos de Deus”.

NÃO APENAS CRIATURAS DE DEUS, MAS TAMBEM SEUS


FILHOS REGENERADOS
Com esses versículos diante de nós, podemos entender por que o
Senhor concluiu Sua palavra em Mateus 5 dizendo: “Portanto, sede vós
perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”. Não somos apenas criaturas
de Deus; somos também Seus filhos regenerados, possuindo Sua vida e
natureza. Portanto, não somos criaturas de Deus tentando copiá-Lo e
imitá-Lo; somos os filhos do Pai vivendo a vida do Pai. Como nos
tornamos os filhos do Pai? Foi pela vinda do Espírito de Deus para dentro
de nosso espírito a fim de regenerar-nos e fazer do nosso espírito a
habitação d2:22). Aqui, em nosso espírito, tomamo-nos os filhos de Deus
tendo a Sua vida e natureza. Se andarmos segundo o espírito regenerado,
somos os filhos de Deus vivendo pela vida de Deus. Quando vi vemos e
andamos no espírito, espontaneamente seremos perfeitos como nosso Pai
celeste.
Considere um irmão que tem quatro filhos. Quanto mais esses
pequenos crescem, mais vivem como o pai deles. Essas crianças não são
quatro macacos tentando imitar um ser humano. Não, eles são filhos do
170
seu pai crescendo à imagem dele. Quanto mais crescem, mais vivem a
vida do pai. Semelhantemente, não somos macacos-somos filhos de Deus.
Embora alguns de nós possam ser infantis e imaturos, estamos, no
entanto, crescendo. As crianças podem ser travessas, mas estão
crescendo. Espere por alguns anos e verá que todos esses pequenos
travessos serão perfeitos como Seu Pai celeste. Estou muito feliz porque
todos os santos nas igrejas não são macacos, mas filhos queridos. Deixe-
os ser travessos por um pouco. Por fim crescerão. Não estamos
tentando imitar Deus. Antes, somos os filhos do Pai crescendo na vida do
Pai. É por isso que o Senhor Jesus disse que devemos ser perfeitos como
nosso Pai celeste.
Agora podemos entender por que em Mateus 5 o Senhor dirige-se a
nós como os filhos de Deus. Ele não estava falando aos incrédulos, aos
que eram simplesmente criaturas de Deus; estava falando aos filhos de
Deus. Deus não é mais simplesmente o nosso Criador; Ele é também
nosso Pai celeste. Portanto, temos Sua vida e natureza. Finalmente, pelo
nosso crescimento em vida, seremos iguais a Ele. Espere por mais um
tempo e você verá que muitos de nós nos tomaremos perfeitos como o Pai.

PARA DEUS NÃO HÁ O ELEMENTO TEMPO


Alguns podem se perguntar como os discípulos no monte puderam
ser regenerados. Uma vez que o Espírito da vida ainda não havia entrado
neles, como podemos dizer que aqueles discípulos foram regenerados?
Lembre-se, não há o elemento tempo para Deus. Antes, há o princípio.
Quando o Senhor Jesus estava falando com os discípulos no monte,
dando-lhes o decreto da constituição do reino, Ele falou segundo o
princípio, não segundo o elemento tempo. Deus não tem o elemento
tempo; Ele faz as coisas uma vez por todas. Em nossa mente há tal coisa
como antes e depois, mas na mente de Deus, não. Sim, um dia Cristo
realizou a obra de redenção na cruz e um dia o Espírito que dá vida
formou-se. Mas aos olhos de Deus é difícil determinar quando essas
coisas ocorreram, porque na economia de Deus elas são eternas. A cruz e
o Espírito que dá vida são eternos. Porque os discípulos no monte creram
no Senhor Jesus e decidiram segui-Lo, em princípio eles foram
regenerados, e o Senhor os considerou como pessoas regeneradas.

171
MENSAGEM 21

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (9)


Nesta mensagem chegamos à quarta seção do decreto do Rei no
monte, Mateus 6:1-18, com respeito aos feitos justos do povo do reino.

V. COM RESPEITO AOS FEITOS JUSTOS DO POVO DO


REINO

A. O Princípio – Não Exercer Sua Justiça Diante dos


Homens
Em 5:17-48 vimos a complementação e a mudança da lei. Nesses
versículos, todas as novas leis do reino dos céus escavaram e expuseram
nosso temperamento, lascívia e ser natural. Assim, esses versículos não
tratam nossas ações exteriores, mas o que está oculto no mais íntimo do
nosso ser: nossa ira, lascívia e ser natural.
Mateus 6:1 diz: “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos
homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis
galardão junto de vosso Pai que está nos céus”. Justiça aqui denota feitos
justos, tais como dar esmolas, mencionado nos versículos 2a4; orar, nos
versículos 5 a 15, e jejuar, nos versículos 16 a 18. Sem dúvida, esses
versículos falam sobre os feitos justos do povo do reino. Porém mais do
que isso eles expõem o ego e a carne. Temos algo dentro de nós que é pior
que a carne e a lascívia. Todos sabem quão horrenda é a lascívia; no
entanto, muitos cristãos não sabem quão horrendos são o ego e a carne.
Obviamente, as palavras “ego” e “carne” não são usadas nesses
versículos. Entretanto, o ego e a carne estão expostos aqui. Nesses dezoito
versículos, o Senhor usa três ilustrações dar esmolas, orar e jejuar-para
revelar como estamos cheios de ego e carne.
A carnedo homem buscando glorificar-se, sempre quer
realizar boas obras diante dos homens com o fim de ser louvada por
eles. Mas ao povo do reino, que vive em um espírito esvaziado e
humilde e porta-se com um puro e singelo coração
sob o governo celestial do reino, não é permitido fazer algo na
carne para o louvor dos homens, mas devem fazer tudo no espírito para a
satisfação do seu Pai celestial. Para o povo do reino, Deus não é apenas
o seu Deus, mas também o seu Pai. Eles não são apenas criados por
Deus, são também regenerados pelo Pai. Eles não têm apenas a vida
humana natural criada, têm também a vida
divina espiritual incriada. Portanto, a nova lei do
reino, decretada pelo Rei no monte, foi entregue a eles não para que a
guardassem pela sua vida humana caída, mas pela vida eterna do Pai,
não para obter a glória do homem, mas para
receber a recompensa do Pai.
Referindo-se a cada uma dessas três ilustrações, o Senhor usa a

172
palavra “secreto” (vs. 4, 6, 18). Devemos realizar nossos feitos justos em
secreto, porque o nosso Pai está em secreto. No versículo 4, o Senhor diz
que nosso Pai vê em secreto. O povo do reino, como filhos do Pai celestial,
deve vi ver na presença do Pai e importar-se com Sua presença. O que
quer que façam em secreto para o reino do Pai, o Pai vê em secreto. O
olhar do Pai celestial em secreto deve ser um incentivo para fazerem suas
obras justas também em secreto. Nesse versículo, o Senhor também disse
que o Pai nos recompensará. Isso pode ocorrer como uma recompensa
nesta era (2Co 9:10- 11) ou na vindoura (Lc 14:14).
O resultado de realizar nossos feitos justos em secreto é que o ego e
a carne são mortos. Se não for permitido que as pessoas na sociedade de
hoje façam uma exibição das suas boas ações, elas não as farão. Uma vez
que tenham oportunidade de fazer uma exposição pública dos seus feitos
justos, as pessoas ficam alegres em realizá-las. Essa é a prática lamentável
do cristianismo degradado de hoje, especialmente na questão de angariar
fundos, que dá aos doadores uma excelente oportunidade de fazer uma
exibição. Quanto maior a demonstração pública, mais dinheiro as pessoas
se dispõem a dar. Tal exibição, certamente, é algo da carne. Dar esmolas
aos pobres a fim de mostrar quão generoso você é não é uma questão de
ira, lascívia ou do seu ser natural; é uma questão do ego, da carne. Fazer
uma exibição assim é simplesmente vangloriar-se. Portanto, para nós
como povo do reino, um princípio básico quanto aos feitos justos é nunca
fazer uma exibição de nós mesmos. Tanto quanto possível esconda-se,
mantenha-se oculto e faça as coisas em secreto. Devemos ser de tal modo
ocultos que, como o Senhor Jesus disse, a nossa mão esquerda não saiba
o que a direita está fazendo (v. 3). Isso significa que não devemos
permitir que os outros saibam o que estamos fazendo. Por exemplo, se
você jejuar por três dias, não desfigure sua face ou demonstre um
semblante triste. Antes, dê aos outros a impressão de que não está
jejuando, para que o seu jejum possa ser em secreto. Não jejue na
presença dos homens, mas na presença secreta do seu Pai celestial.
Fazer isso é matar o ego e a carne.
Encorajamos os santos a funcionar nas reuniões da igreja.
Entretanto, há o perigo de funcionarmos a fim de nos exibir. Má o risco de
fazer coisas na presença do homem. Se considerar sua própria
experiência, perceberá que talvez das dez vezes que funcionou nas
reuniões, nove foram diante dos homens. Isso é para glorificar o ego e a
carne. Mas a constituição do reino celestial não cede um passo sequer
para a nossa ira, lascívia ou ser natural; nem concede qualquer base para
o nosso ego e carne. Pela misericórdia e graça do Senhor, devemos fazer
tudo quanto possível de maneira oculta. Procure sempre fazer as coisas
que são agradáveis a Deus e justas ao homem de maneira secreta. Tente
fazer com que eles não saibam. Simplesmente faça seus feitos justos na
presença de Deus.
N osso Pai vê em secreto. Quando está orando sozinho em seu
quarto, ninguém mais pode vê-l o, senão seu Pai celestial. Não ore nas
esquinas ou nas sinagogas para ser visto pelos homens. Ore em secreto
para ser visto por seu Pai que vê em secreto. Então você também receberá
173
uma resposta Dele em secreto. Preocupo-me que muitos de nós têm
apenas experiências públicas e nenhuma experiência em secreto. Não
apenas o Pai vê nossas experiências; todos as vêem também. Isso indica
que não estamos rejeitando o ego ou repudiando a carne. Devemos
sempre fazer as coisas de modo a continuamente rejeitar o ego e repudiar
a carne. Se possível, faça tudo em secreto, não dando qualquer
oportunidade para seu ego ou concedendo alguma base para sua carne.
Embora o Senhor fale aqui da questão de recompensa (vs. 1,
5) o mais importante não é a recompensa, mas o crescimento em vida.
Os santos que crescem publicamente não o fazem de maneira
saudável. Todos precisam de algum crescimento de vida secreto,
algumas experiências secretas de Cristo. Precisamos orar, adorar,
contatar e ter comunhão com o Senhor de maneira secreta. Talvez
nem mesmo as pessoas mais próximas a nós saibam ou entendam o
que estamos fazendo. Precisamos dessas experiências secretas do
Senhor, porque elas matam nosso ego e nossa carne. Embora ira e
lascívia sejam horrendas, a coisa que mais nos frustra crescer em vida
é o ego. O ego é especialmente visível pelo fato de gostar de fazer
coisas de maneira pública, na presença do homem. O ego gosta de
realizar obras justas diante do homem. Sem exceção, todos devemos
admitir que temos tal ego. Os que sempre querem realizar coisas de
modo a fazer uma exibição pública são cheios de ego, cheios de carne.
O ego ama ser glorificado e a carne ama ser contemplada.
Provavelmente você nunca ouviu uma mensagem sobre esses
versículos que tratam com o ego e a carne. Sempre que viermos a essa
porção da Palavra, devemos perceber que ela expõe nosso ego e nossa
carne.
Repito, a questão crucial aqui não é a recompensa, mas o
crescimento em vida. Os santos que sabem apenas fazer uma exibição do
ego e uma demonstração da carne não crescerão em vida. O genuíno
crescimento em vida é matar o ego. Aqueles cujo ego tem sido morto e a
carne tratada, podem algumas vezes falar a respeito dos seus feitos.
Todavia, é com muita cautela que digo isso. Não é saudável expor nossos
feitos justos. Antes, devemos orar muito, mas não deixe os outros
saberem o quanto você ora. Isso é saudável. Se orar cada dia sem contar
aos outros ou permitir que saibam sobre isso, significa que você é
saudável e está crescendo. Entretanto, suponha que sempre diga aos
outros o quanto ora. Se fizer isso, não apenas perderá seu galardão, mas
não crescerá em vida nem será saudável. Todos devemos admitir que
temos o ego e a carne sutis dentro de nós. Todos temos tal ponto fraco.
174
Quando oramos sozinhos em nosso quarto, freqüentemente gostaríamos
que outros pudessem ouvir-nos. Semelhantemente, fazemos nossos feitos
justos com a intenção de que outros possam vê-los. Tal desejo e intenção
não são saudáveis; indicam que não estamos crescendo em vida. Fazer
uma exibição diante dos homens nunca nos ajudará acrescerem vida. Se
quiser crescer e ser saudável na vida espiritual. você deve matar o ego ao
realizar obras justas. Não importa que tipo de obra justa façamos- dar
coisas materiais aos santos, orar, jejuar, fazer algo que agrade a Deus-,
devemos fazer o máximo para realizá-las em secreto. Se seus feitos justos
são realizados em secreto, pode estar certo de que você está crescendo
em vida e é saudável. Mas toda vez que se exibir em suas obras justas,
você não é saudável. Tal exibição frustra grandemente o seu crescimento
em vida.
O universo indica que Deus é oculto, que Deus é secreto. Embora
Ele tenha feito muitas coisas, as pessoas não percebem isso. Podemos ver
as coisas feitas por Deus, mas jamais O vimos, porque Ele sempre está
oculto, sempre secreto. A vida de Deus possui tal natureza secreta e
oculta. Se amamos a outros pela nossa própria vida, essa vida buscará
exibir-se diante dos homens. Mas se amamos a outros mediante o amor
de Deus, esse amor sempre ficará oculto. Nossa vida ama fazer uma
exibição, demonstração diante dos outros, mas a vida de Deus é sempre
oculta. Um hipócrita é aquele que tem uma manifestação exterior sem ter
algo no interior. Tudo o que ele tem é meramente uma exibição
exterior; não há realidade interior. Isso é absolutamente contrário à
natureza de Deus e à Sua vida oculta. Embora Deus tenha tanto dentro
Dele, apenas um pouco é manifestado. Se vivermos por essa. Vida divina,
podemos orar muito, mas os outros não saberão o quanto temos orado.
Podemos ajudar bastante os outros, mas ninguém saberá o quanto temos
feito. Podemos jejuar muitas vezes, mas isso também não será conhecido
pelos outros. Podemos ter muito dentro de nós, mas muito pouco será
manifestado. Essa é a natureza do povo do reino ao realizar seus feitos
justos.
Isso é totalmente diferente da natureza do povo do mundo. Quando
as pessoas do mundo doam cem mil reais, elas fazem propaganda disso,
fazendo parecer que deram uma enorme quantia. Mas quando nós,
cristãos, damos cem mil reais, é melhor que pensem que demos apenas
um real. Fazemos mais do que é visível aos outros. Jamais podemos
praticar isso em nossa vida natural. Isso apenas é possível na vida
divina, a vida que não se deleita em fazer exibição. Esse é o ponto crucial
nessa porção da Palavra.
Se encararmos seriamente a questão de sero povo do reino,
devemos aprender a viver pela vida oculta do nosso Pai. Não devemos vi
ver pela nossa vida natural, que sempre está fazendo uma exibição de si
mesmo. Se vivemos pela vida oculta do Pai que está em nós, faremos
muitas coisas, mas sem nenhuma demonstração pública. Antes, tudo o
que faremos será em secreto, escondido dos olhos dos outros. A biografia
de muitos santos revela que eles fizeram determinadas coisas em secreto
coisas que muitas vezes só se tornaram conhecidas após a morte deles.
175
Essa é a maneira correta. Conheci muitos queridos santos que fizeram
algo pelo Senhor, pela igreja e pelos santos em secreto. Eles nunca
quiseram fazer uma exibição ou deixar que outros soubessem o que
haviam feito. Esses feitos são segundo a natureza do nosso Pai e segundo
a Sua vida secreta e oculta.

B. Com Respeito às Esmolas


1. Não Tocar Trombeta
Mateus 6:2 diz: “Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta
diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para
serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo: Eles já receberam
por completo a sua recompensa”. Certamente o espírito do povo do reino
regido pelo céu restringe-os de tal ostentação carnal. Em determinada
denominação da qual participava, o prato de ofertas passava em cada
culto de domingo de manhã. Naquele tempo, moedas de cobre ou dólares
de prata eram usados em vez de cédulas. Algumas pessoas costumavam
colocar suas ofertas no prato de um modo a atrair a atenção sobre elas.
Isso era uma exibição do ego. É claro, elas não diziam nada. Antes,
jogavam as moedas no prato de uma maneira barulhenta. Fazendo assim,
estavam tocando trombeta diante de si. Quando chegava o momento de
afixar no saguão o boletim com respeito às contribuições, os que davam
mais eram registrados primeiro, e os que davam menos, por último. Se
aquele que tivesse dado mais fosse arrolado por último, ele
provavelmente não daria tanto no futuro.
Por essa razão, nas igrejas não guardamos
registros das ofertas dos santos. O dinheiro é
colocado na caixa de ofertas e não há oportunidade para o ego ou a
carne ser glorificado. O uso de cheque, entretanto, provoca alguns
problemas. Em nossa prática da vida da igreja na
China, muitos anos atrás, não usávamos cheques com muita freqüência.
Mas o uso de cheque não deve ser controlado por uma regra. Tudo
depende da nossa intenção e atitude. Não estou dizendo que os santos não
devam usar cheques. O princípio é não ofertar com a intenção de fazer
uma exibição ou receber glória do homem. Antes, façamos tudo em
secreto na presença do nosso Pai celestial. Nesse caso, você sabe quais
são suas intenções e atitudes.

2. Não Permitir à Mão Esquerda Saber o que Faz a Direita


O versículo 3 diz: “Tu, porém, ao dares esmola, não saiba a tua
esquerda o que faz a tua direita”. Essa palavra indica que os feitos justos
do povo do reino devem ser, tanto quanto possível, mantidos em segredo.
O que eles fazem no espírito sob o governo celestial para agradar
176
exclusivamente o Pai não deve ter interferência da concupiscência carnal
que visa à glória do homem.

3. Dar Esmolas em Secreto


No versículo 4 o Rei disse: “Para que a tua esmola fique em secreto;
e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”. O viver do povo do reino é
pela vida divina do Pai que está em seu espírito. Por isso é-lhes dito que
façam as coisas em secreto, não em público. Qualquer exibição diante dos
outros não corresponde à misteriosa natureza ocultada vida divina.

C. Com Respeito à Oração

1. Não Fazer Exibição Diante dos Homens


Quer orando ou dando esmolas, o povo do reino não deve fazer
exibição para os outros. O versículo 5 diz: “E, quando orardes, não sereis
como os hipócritas, porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nas
esquinas das ruas, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo:
Eles já receberam por completo a sua recompensa”. A oração que busca o
louvor do homem obtém recompensados homens, mas não uma resposta
do Pai. Portanto, é uma oração sem valor.

2. Orar em Secreto
Nossa oração deve ser em secreto. No versículo 6 o Rei decretou:
“Tu, porém, quando orares, entra no teu aposento íntimo e, fechada a
porta, ora a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará”. O povo do reino deve ter alguma experiência de orar em
seu quarto, contatando o Pai celestial em secreto, experimentando um
desfrute secreto e recebendo uma resposta secreta Dele.

3. Não Usar de Vãs Repetições


Ao orar não devemos usar de vãs repetições. O versículo 7 diz: “E,
orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, porque presumem
que pelo seu a muito falar serão ouvidos”. Isso não significa, entretanto,
que não devemos repetir nossas orações. O Senhor repetiu Sua oração no
Getsêmani (26:44), o apóstolo Paulo orou a mesma oração três vezes (2Co
12:8), e a numerosa multidão no céu louvou a Deus com aleluia
repetidamente (Ap 19:1-6). O significado é que não devemos usar de vãs
repetições, palavras vazias.
O versículo 8 diz: “Não vos assemelheis pois, a eles; porque Deus, o
vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade antes que lho peçais”.
Embora Deus, nosso Pai, conheça nossas necessidades, ainda precisamos
pedir-Lhe, pois todo o que pede recebe (7:8).

177
4. O Modelo de Oração
Nos versículos 9 a 13 encontramos o modelo de oração. Todavia,
não é o modelo de todas as orações. A oração apresentada aqui
em Mateus 6 é absolutamente diferente
da oração ensinada em João. Em Mateus 6 não nos é dito para orar no
nome do Senhor, mas em João capítulos 14 a 17 o Senhor Jesus nos fala
repetidamente para orar no nome Dele. A razão para essa diferença é
que a oração aqui em Mateus não está relacionada à vida; está
relacionada ao reino. Nesse curto modelo de oração, o reino é mencionado
pelo menos duas vezes. O versículo 10 diz “venha o Teu reino”, e o
versículo 13 diz “pois Teu é o reino”. A oração em João, ao contrário,
relaciona- se à vida. Orar no nome do Senhor não é uma questão do
reino, mas de vida. Orar no nome do Senhor significa que somos um com
o Senhor. Orando ao Pai, somos um com o Senhor. Conseqüentemente,
estamos orando em Seu nome. Orar no nome do Senhor é, na verdade,
orar na Pessoa do Senhor. Estamos orando com Ele em um nome e em
uma vida. Portanto, somos um com Ele em vida, orando a Deus, o Pai. Mas
como vimos, a oração em Mateus 6 é absolutamente diferente, porque é
uma oração do reino.
Se você deseja ter fortes orações em vida, deve ir a João.
Deve habitar no Senhor e ser um com Ele. Deve permanecer em seu
espírito e orar em unidade com Ele. Isso é o que significa orar em Seu
nome. Mas a oração em Mateus 6 diz respeito ao reino. Em outras
palavras, é uma oração de luta, uma oração de combate contra o inimigo
de Deus por causa do reino de Deus.
O versículo 9 começa com as palavras: “Portanto, orai vós
assim”. A palavra“assim” não significa recitar.
Em Atos e nas Epístolas não há exemplo de tal repetição. Entretanto,
em algumas denominações cristãs essaoração é recitada em
todo culto de domingo de manhã. Recitei essa oração
muitas vezes quando jovem na denominação em que me reunia. Isso
não é dizer que os que repetem essa oração não são sinceros ao fazê10.
Sem dúvida, havia um bom número que era muito sincero ao repetir
essa oração.

a. Orar para que o Nome de Deus Seja Santificado


No modelo de oração mostrado pelo Senhor, as três primeiras
petições envolvem a Trindade da Deidade. “Santificado seja o Teu
nome” está principalmente relacionado ao Pai; “venha o Teu reino”, ao
Filho, e “seja feita a Tua vontade” ao Espírito. Isso está sendo cumprido
nesta era, e será cumprido na era do reino vindouro, quando o nome de
Deus será excelente em toda a terra (Sl 8-:1), o reino do mundo se tomará
o reino de Cristo (Ap 11:15) e a vontade de Deus será realizada.
O versículo 9 diz: “Portanto, orai vós assim: Pai nosso que estás nos
céus, santificado seja o Teu nome”. Hoje o nome de Deus não é santificado;
antes, é profanado e vulgarizado. Os incrédulos podem perguntar: “Que é
178
Deus? Quem é Deus?” As pessoas falam sobre Jesus Cristo da mesma
maneira que falam sobre Platão ou Hitler. Elas vulgarizaram o nome do
Senhor Jesus. Mas sabemos que dia virá, no milênio, quando o nome de
Deus será santificado. Mas antes dessa época, o nome do nosso Pai é
totalmente santificado na vida da igreja hoje. Não invocamos o Pai ou
falamos o nome do Senhor de maneira comum. Antes, quando dizemos
“Pai” ou “Senhor” santificamos esses nomes santos. Assim, precisamos
orar:-ó Pai, santificado seja o Teu nome”.

b. Orar para que Venha o Reino de Deus


O versículo 10 diz: “Venha o Teu reino”. Embora o reino esteja aqui
na vida da igreja hoje, a manifestação do reino está ainda por vir. Assim,
devemos orar pela vinda do reino. Essa questão do reino está
inteiramente relacionada a Deus, o Filho.

c. Orar para que a Vontade de Deus Seja Feita na


Terra
O versículo 10 também diz: “Seja feita a Tua vontade, assim na
terra como no céu”. Após a rebelião de Satanás (Ez 28:17; Is 14:13-
15), a terra caiu na mão usurpadora dele. Por isso, a vontade de Deus
não poderia ser feita na terra como no céu. Assim, Deus criou o
homem com a intenção de recuperar a terra para Si (Gn 1:26-28).
Após a queda do homem, Cristo trouxe o governo celestial à terra para
que esta fosse recuperada pela justiça de Deus, a fim de que Sua
vontade fosse feita na terra como no céu. Essa é a intenção do novo
Rei ao estabelecer o reino dos céus com Seus seguidores. O povo do
reino deve orar por isso até que a terra seja completamente
recuperada para o desejo de Deus na era vindoura do reino.
Quando o nome do Pai for santificado, o reino do Filho terá chegado
e a vontade do Espírito será feita na terra como no céu; essa será a época
da manifestação do reino. Mas nós que estamos na realidade do reino hoje
devemos orar por essas coisas.

d. Orar para que Deus nos Dê o Alimento de Cada Dia


O versículo 11 diz: “O pão nosso de cada dia dá- nos hoje”.
Essa oração é todo-inclusiva. O modelo de oração mostrado
primeiramente cuida do nome de Deus, do reino de Deus e da vontade de
Deus; então, em segundo lugar, cuida da nossa necessidade. Isso revela
que em nossa oração de luta o Senhor ainda cuidará das nossas
necessidades. De acordo com o versículo 11 pedimos “hoje” pelo nosso pão
de cada dia. O Rei não quer que Seu povo se preocupe com o amanhã (v.
34); Ele apenas quer que eles orem pelas suas necessidades diárias. O
termo “pão de cada dia” indica vi ver pela fé. O povo do reino não deve
viver do que tem acumulado; mas pela fé eles vivem do suprimento diário
do Pai.

179
e. Orar para que Deus nos Perdoe os Pecados
O versículo 12 diz: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
também temos perdoado aos nossos devedores”. Em terceiro lugar, o
modelo de oração mostrado cuida das faltas do povo do reino diante de
Deus e das suas relações com os outros. Eles devem pedir ao Pai para
perdoar suas dívidas, suas faltas e transgressões, como eles perdoam seus
devedores a fim de preservar a paz. O versículo 12 indica que nessa oração
de luta devemos admitir e confessar que temos' fraquezas, erros e
injustiças. Somos devedores aos outros. Portanto, devemos pedir ao Pai
para nos perdoar como perdoamos os outros por causa Dele.

f Orar para que Deus Não nos Deixe Cair em Tentação e


Livre-nos do Maligno
O versículo 13 diz: “E não nos deixes cair em tentação; mas livra-
nos do maligno”. Em quarto lugar, o modelo de oração mostrado cuida
da maneira como o povo do reino lida com o maligno. Eles devem pedir
ao Pai para não deixá-los cair em tentação, mas livrá-los do maligno,
Satanás, o diabo. Lembre-se, o Rei foi conduzido à tentação. Algumas
vezes o Pai leva-nos a uma situação onde somos provados e tentados.
Assim, quando oramos ao Pai, devemos reconhecer nossas fraquezas e
dizer:
Pai, sou muito fraco. Não me deixe cair em tentação”. Isso implica
você admitir que é fraco. Se não reconhecer essa fraqueza,
provavelmente não orará dessa maneira. Antes, você poderá sentir-se
forte, será nessa hora que o Pai o levará a uma tentação para mostrar-lhe
que você não é totalmente forte. Portanto, é melhor indicar ao Pai nas
nossas orações que sabemos das nossas fraquezas. Devemos dizer: “Pai,
reconheço plenamente que sou fraco. Por favor, não me deixe cair em
tentação. Não há necessidade de fazer isso, porque reconheço a minha
fraqueza”. Nunca diga a si mesmo: “Não importa o que aconteça, estou
confiante que posso resistir”. Se essa é sua atitude, esteja preparado para
ser conduzido ao deserto para enfrentar a tentação. Em vez de ter essa
atitude, ore para que o Pai não o deixe cair em tentação, mas que Ele o
livre do maligno.

g. Reconhecer o Reino, o Poder e a Glória de Deus


De acordo com esse modelo de oração, o povo do reino deve
reconhecer o reino, o poder e a glória de Deus. O versículo 13 também diz:
“Pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém”. O reino é a
esfera onde Deus exercita Seu poder para expressar Sua glória.

5. A Condição da Oração Perdoar as Ofensas dos Outros


Os versículos 14 e 15 revelam que a condição para orar é perdoar as
ofensas dos outros. Esses versículos dizem: “Porque se perdoardes aos
homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se,
180
porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai
vos perdoará as vossas ofensas”. “Porque” indica que a palavra nos
versículos 14 e 15 é uma explicação do por quê o povo do reino deve
perdoar seus devedores (v. 12). Se eles não perdoarem as ofensas dos
homens nem o Pai celestial perdoará as ofensas deles; portanto, as suas
orações serão frustradas.

D. A Respeito do Jejum
Nos versículos 16 a 18 o Rei fala sobre o jejum. Em vez de mostrar
aos homens que jejuamos, devemos jejuar em secreto. O versículo 16 diz:
“Quando jejuardes, não vos mostreis sombrios como os hipócritas, porque
desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em
verdade vos digo: Eles já receberam por completo a sua recompensa”.
Jejuar não é abster-se de comer, é ser incapaz de comer por estar
desesperadamente oprimido para orar por algumas coisas. É também
uma expressão de auto-humilhação em busca da misericórdia de Deus.
Dar esmolas é dar o que temos direito de possuir, enquanto jejuar é
desistir do que temos direito de desfrutar.
Os versículos 17 e 18 dizem: “Tu, porém, quando jejuares, unge a
cabeça e lava o rosto, para não parecer aos homens que jejuas, e, sim, ao
teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará”. Isso indica que nosso jejum, assim como o dar esmolas e
orar, deve ser feito em secreto, não diante dos homens. O Pai vê em
secreto e Ele nos recompensará.

181
MENSAGEM 22

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (10)


Nesta mensagem chegamos à quinta seção do decreto do Rei, 6:19-
34, que diz respeito ao tratamento dado pelo povo do reino às riquezas.

VI. COM RESPEITO AO TRATAMENTO DADO PELO POVO


DO REINO ÀS RIQUEZAS

A.Não Armazenar Tesouros na Terra, mas no Céu


Nos versículos 19 e 20 o Rei decreta que o povo do reino não deve
acumular para si tesouros na terra, mas no céu. Acumular tesouros no céu
é dar coisas materiais aos pobres (19:21) e cuidar dos santos necessitados
(At 2:45; 4:34-35; 11:29; Rm 15:26) e dos servos do Senhor (Fp 4:16-17).

1. O Coração Está Onde Está o Tesouro


Mateus 6:21 diz: “Porque onde está o teu tesouro, aí estará também
o teu coração”. O povo do reino deve enviar seu tesouro para o céu para
que seu coração possa também estar lá. Antes de ir para lá, seu tesouro
e seu coração devem ir primeiro.

2. Se o Olho for Singelo Todo o Corpo será Luminoso


O versículo 22 diz: “A lâmpada do corpo é o olho. Se, pois, o teu
olho for singelo, todo o teu corpo será luminoso”. Nossos olhos podem
focalizar apenas uma única coisa de cada vez. Se tentarmos ver duas
coisas ao mesmo tempo, nossa visão ficará embaçada. Ao focalizarmos
os olhos numa única coisa, a visão serásimples e todo o
corpo será iluminado. Se acumularmos nosso tesouro no céu e na
terra, nossa visão será embaçada. Se quisermos ter uma visão simples,
182
devemos acumular nosso tesouro em um único lugar.

3. Se o Olho For Mau, Todo o Corpo Será Tenebroso


O versículo 23 diz: “Se, porém, o teu olho for mau, todo o teu corpo
será tenebroso. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que
grandes trevas serão!” Ver dois objetos de uma vez é tornar maus nossos
olhos. Nesse caso, todo o nosso corpo estará em trevas. Se nosso coração
está apegado ao tesouro acumulado na terra, a luz que há em nós se
tornará trevas, e grandes serão as trevas.

B. Ninguém Pode Servir a Dois Senhores


o versículo 24 diz: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou
há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.
Não podeis servir a Deus e a Mamom” (VRC). A palavra mamom é uma
palavra aramaica que significa prosperidade, riquezas. Aqui mamom
encontra-se em oposição a Deus, indicando que prosperidade ou riquezas
são opositores de Deus, usurpando o povo de Deus para que não O sirva.

C. Não Andar Ansiosos pela Nossa Vida

1. A Vida É Mais do que o Alimento e o Corpo Mais do que o


Vestuário
O versículo 25 diz: “Por isso vos digo: Não andeis ansiosos pela
vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou que haveis de beber;
nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais
do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?” Nesse versículo o
Senhor nos diz para não andarmos ansiosos pela nossa vida. A palavra
grega traduzida para “vida” aqui é alma, na qual está o desejo, o apetite
por alimento e vestes (Is 29:8). Nossa vida é mais do que o alimento e
nosso corpo é mais do que as vestes. Nossa vida e corpo vieram à
existência por Deus, não pela nossa ansiedade. Uma vez que Deus nos
criou com uma vida e um corpo, certamente Ele cuidará das nossas
necessidades. O povo do reino não precisa estar ansioso acerca dessas
coisas.

2. Não Andar Ansioso pelo Comer, Beber e Vestir


Agora, nos versículos 19 a 34 chegamos à questão crucial.
Aparentemente, nessa seção da constituição, o Senhor está falando sobre
o tratamento dado pelo povo do reino às riquezas materiais. Na verdade,
Ele está tratando da questão da ansiedade. O Senhor é sábio. Após tocar
nosso temperamento, lascívia, ser natural, ego e carne, Ele prossegue para
tocar a nossa ansiedade. No original grego, a palavra “ansiedade” é usada
seis vezes (vs. 25, 27, 28, 31 e 34). Pode também parecer que o Senhor
está tocando nosso coração, porque onde está o nosso tesouro, aí estará

183
também o nosso coração. Entretanto, nosso coração está relacionado não
apenas às riquezas, mas a muitas outras coisas.
A constituição do reino dos céus é composta da vida e natureza do
Pai. Embora esses capítulos, na verdade, não usem as palavras “vida” e
“natureza”, de acordo com o contexto podemos ver que se tirarmos a
vida e natureza do Pai, esses capítulos são vãos. Ninguém seria capaz de
cumprir as exigências do reino dos céus se não tivesse a vida e natureza do
Pai. Toda constituição é baseada num certo tipo de vida. Suponha que
você queira fazer uma constituição para cachorros. Certamente tal
constituição seria baseada na vida canina. Seria irracional se essa
constituição decretasse que todas as manhãs os cachorros fizessem a
ronda matinal voando. Porque não podem voar, ps cachorros não
poderiam cumprir tal exigência. Mas se a constituição recomendasse aos
cães que fizessem a ronda matinal latindo, não haveria problema.
Semelhantemente, a constituição dada pelo Senhor Jesus no monte era
para os filhos de Deus, baseada na vida e natureza do Pai. Dois versículos
no capítulo cinco indicam esse fato. O versículo 9 diz: “Bem-aventurados
os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”, e o versículo 48
diz: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”.
Muitos cristãos não entendem essa seção da Palavra porque não
viram que ela é baseada na vida e natureza divinas. Mesmo muitos
incrédulos mencionaram versículos desses capítulos nos escritos deles,
como se essas fossem palavras faladas a todos os seres humanos. Não,
assim como a vida canina não pode voar, a vida humana não pode
cumprir as exigências da constituição do reino dos céus. Essa é uma
constituição baseada na vida e natureza divinas.
Na vida e natureza divinas não há ansiedade. A ansiedade não
pertence à vida divina, mas à humana, assim como o latir pertence à
vida de cão, não à de pássaro. Nossa vida humana é de ansiedade,
enquanto a vida de Deus é uma vida de desfrute, descanso, conforto e
satisfação. Para Deus, ansiedade é um termo estranho. Nele, não há tal
coisa como a ansiedade. Você acha que Deus já ficou ansioso? Já foi
afligido pela ansiedade? Embora Deus tenha muitos desejos, Ele não tem
ansiedade. A vida humana, ao contrário, é virtualmente composta de
ansiedade, é constituída dela. Tire a ansiedade do ser humano e o
resultado será morte. Um morto não tem ansiedade. Uma imagem num
museu de cera ou uma estátua em frente de uma catedral católica não tem
ansiedade, mas se você é uma pessoa viva, não pode escapar dela.
Se considerarmos a maneira de o Senhor falar no Novo Testamento,
veremos que é absolutamente diferente do falar dos apóstolos. Dentre os
apóstolos, principalmente Paulo escreveu muitos livros espirituais.
Embora Paulo fale de muitas coisas divinas, espirituais e celestiais,
contudo seu estilo é humano. O mesmo é verdade com os escritos de
Pedro e João. Não importa quanto os escritores do Novo Testamento
falassem de coisas espirituais e divinas, o estilo deles ainda era humano.
Mas o estilo do falar do Senhor no Novo Testamento é único. É
absolutamente impossível descrevê-lo. Se ler Mateus 5, 6, 7, 13, 24 e 25 e
João 14 a 17, você verá que o estilo do falar do Senhor é extraordinário.
184
Não é humano ou comum; é profundo, contudo, breve, simples e no
ponto. Esse é o falar divino com o estilo divino. Quando jovem, li uma
afirmação escrita por um grande filósofo francês que dizia que se os
quatro Evangelhos fossem falsos, então a pessoa que os escreveu estaria
qualificada para ser o Cristo. Concordo com essa palavra.
Em Seu falar no capítulo 6 de Mateus, aparentemente o Senhor está
tratando da questão das riquezas. Na realidade, entretanto, Ele está
tocando a questão da ansiedade, o problema básico do nosso viver. Como
vimos, em 6:1-18 Ele aparentemente estava tratando os feitos justos do
povo do reino, mas, na verdade, Ele estava tocando o ego e a carne. Vim a
saber disso não por ler livros, mas por minha experiência na vida da igrej
a. Pela experiência, aprendi que fazer uma exibição de obras justas é
certamente algo do ego e da carne. Se permanecemos na cruz, nunca
faremos tal exibição. No mesmo princípio, 6:19-34 aparentemente toca
nossa prosperidade, nossas riquezas; na verdade, a intenção do Senhor
aqui é tocar a ansiedade, a fonte do problema do nosso viver diário. O
mundo todo está envolvido com a ansiedade. A ansiedade é a engrenagem
que move o mundo, é o incentivo para toda cultura humana. Se não fosse
pela ansiedade quanto ao nosso vi ver, ninguém faria coisa alguma. Antes,
todos ficariam ociosos. Assim, ao tocar nossa ansiedade, o Senhor toca a
engrenagem da vida humana.
Ao ouvir essas palavras os jovens podem dizer: “Aleluia! Porque o
Senhor Jesus tocou a ansiedade, a engrenagem da vida humana, não
precisamos estudar ou trabalhar muito. Se tivermos fome, podemos
simplesmente comer algumas sobras”. Esse conceito está errado. Em6:260
Senhor Jesus disse: “Olhai para as aves do céu: não semeiam, não colhem,
nem ajuntam em celeiros; contudo vosso Pai celeste as alimenta”. Se o
Senhor Jesus estivesse aqui, eu perguntaria a Ele: “Senhor, Tu nos
assemelhaste a pássaros. Os pássaros não semeiam nem colhem; apenas
voam e nada fazem. Senhor, isso significa que não deveríamos fazer nada?
Os pássaros se alimentam do labor humano. Senhor Jesus, Tu queres
dizer que devemos tirar vantagem dos outros? Devemos esquecer de
trabalhar e simplesmente ser pássaros no ar, desfrutando a vida e tirando
vantagem do labor dos outros?” Também gostaria de perguntar ao Senhor:
“Tu também nos assemelhaste a lírios. Lírios não fazem nada, mas se
vestem mais gloriosamente do que Salomão (vs. 28-30). Tu estás dizendo
que não deveríamos fazer nada, senão simplesmente desfrutar o ar, a luz
do sol, o solo e a água?” Esse é o conceito defendido por muitos jovens que
citam essas palavras do Senhor Jesus. Eles dizem: “Sejamos pássaros no
ar e lírios no vale”. Há uma dificuldade de entender a palavra do Senhor
aqui. Novamente digo, se o Senhor estivesse aqui, eu perguntaria a Ele:
“Tu queres dizer que deveríamos apenas ser como pássaros voando,
tirando vantagem do labor dos outros? Eles semeiam e ceifam, e nós
simplesmente chegamos para desfrutar? Isso está correto? Isso é justo?
Parece que todos os pássaros são ladrões. Tenho apenas uma pequena
área, mas os pássaros vêm e tiram vantagem do que está crescendo ali. Tu
estás dizendo que deveríamos fazer a mesma coisa?” Fiz essas perguntas
porque conheço a psicologia dos jovens. Após despender tantos anos na
185
escola, eles podem estar cansados de estudar. Quando passam do ensino
fundamental para o ensino médio, deste para a faculdade e dessa para a
pós-graduação, o labor torna-se maior. Em vez de estudar tanto, muitos
jovens prefeririam ser como pássaros voando. Se forem honestos, os
jovens admitirão que têm tal conceito.
Vamos considerar a intenção do Senhor nos versículos 19 a 34. O
Senhor quer que os jovens terminem seus estudos ou os abandonem e
sejam como pássaros no ar? É errado ter ansiedade, porque a ansiedade
não pertence à vida divina. Não há ansiedade na vida de Deus. Todavia, o
Senhor não quer dizer que não devemos cumprir nossa obrigação. Quando
o Senhor levou os filhos de Israel para a boa terra, todos tinham de
trabalhar na terra. Aquela era a obrigação deles. Se a boa terra produziria
ou não uma rica colheita, dependeria de vários fatores: tempo, luz do sol,
quantidade adequada de chuva e temperatura correta. Nenhum desses
fatores estava sob o controle dos filhos de Israel Sua responsabilidade era
apenas laborar na terra. Eles laboravam, não apenas para si mesmos, mas
também para os pássaros. Se não cultivassem, seria difícil para os
pássaros viverem. Cumprir suas obrigações era justo e necessário, mas ter
ansiedade era errado. Semelhantemente, devemos fazer nossa obrigação
hoje, mas fazê-la sem estarmos ansiosos pelo nosso viver. A razão por que
você é tão relutante em dar aos outros é a sua ansiedade. Por causa da
ansiedade, você ama as coisas materiais. Se não tivesse ansiedade, não se
preocuparia com as coisas materiais. Antes, você deixaria que outros as
tivessem. É a ansiedade que nos causa problemas.
Na economia de Deus todos devemos trabalhar. Não somos como os
filhos de Israel, porque não podemos trabalhar literalmente na boa terra.
Em vez disso, os jovens hoje devem estudar e adquirir uma boa educação.
Estudar é como lavrar o solo e o diploma da faculdade é como fazer a
colheita. Jovens, estudar é sua obrigação e vocês devem fazê-lo. Nos
tempos antigos, os filhos de Israel tinham de trabalhar lavrando o solo,
semeando, irrigando e ceifando. Esse era o dever deles. Mas se receberiam
ou não a colheita dependeria de Deus. A responsabilidade deles era
trabalhar sem qualquer ansiedade. Se fossem ansiosos, isso teria sido uma
ofensa para Deus. Não havia necessidade de serem ansiosos.
Simplesmente tinham de fazer tudo quanto Deus lhes recomendava. Por
exemplo, de acordo com Deuteronômio, Deus ordenou-lhes que
separassem dez por cento para Ele, outros dez por cento para os levitas e
ainda outros dez para um propósito diferente. Não lhes era permitido
reservar toda a produção para o seu desfrute. Eles não deviam ter
qualquer ansiedade. Se não tivessem ansiedade, eles conseguiriam ser
generosos, prontos a dar aos outros e a pôr suas coisas materiais na mão
do Senhor.
Precisamos ler Mateus 6:19-34 com essa luz. Sob a soberania de
Deus, os filhos de Israel tinham de laborar na terra. Sob a soberania de
Deus, os jovens hoje devem estudar e terminar os estudos. Se queremos
ter a vida da igreja adequada, todos os nossos jovens devem terminar a
faculdade. Não fazê- lo é como semear e não ceifar. Os requisitos para se
ganhar a vida hoje são muito diferentes do que há centenas de anos. Hoje
186
os jovens devem cultivar o solo, semear e irrigar a plantação estudando
diligentemente e formando-se no ensino médio e faculdade. Mas não
devem fazê-lo por ansiedade. Devemos diferenciar ansiedade de dever.
Seu dever é terminar sua tarefa de cultivar isto é, formar-se no ensino
médio e faculdade. Caso contrário, será difícil viver. A fim de viver para
Deus nesta terra, você deve
concluir os estudos. Mas enquanto estuda e conclui os estudos, você
deve diferenciar-se das pessoas do mundo. Estas estudam por causa da
ansiedade, mas você não deve estudar por ansiedade, mas para cumprir
sua obrigação. Se não vir esse ponto, essa porção da Palavra será
simplesmente uma questão de lei para você.
Boaz, um antepassado de Davi, é um exemplo de alguém que fez sua
obrigação sem ansiedade. Boaz era um fazendeiro rico; ele tinha uma
grande produção. Entretanto, esse homem não produzia por ansiedade,
mas para cumprir sua obrigação. Quando chegou a hora, o Senhor disse-
lhe para doar certa quantia, e ele o fez. Certamente Boaz entesourou
coisas no céu. Ao vencer a ansiedade, ele acumulou tesouros no céu.
Após vários anos, muitos dos nossos jovens terão diploma
universitário. Creio que debaixo da bênção soberana do Senhor muitas
riquezas serão introduzidas. Nessa hora você precisará lembrar-se de que
foi à escola não por causa da ansiedade, mas para cumprir sua obrigação.
Portanto, as riquezas que você produziu não devem ser usadas para sua
ansiedade, mas para seu dever. Seu dever é dar, acumular tesouros no céu.
Não aspire ser milionário. Não se empenhe para ter uma poupança de
um bilhão de reais. Em vez disso, aprenda a dar e a acumular tesouros no
céu. Transfira seus tesouros da terra para os céus. Desse modo, você não
será um milionário na terra, mas um milionário nos céus. Seu dever é
obter seu diploma e, então, ganhar riquezas. Mas não procure ser um
milionário. Antes, seja um bom doador, segundo a vida e a natureza do seu
Pai celestial. Esse é o significado dessa porção da Palavra.
Meu encargo nesta mensagem é extrair esse ponto básico. Todos
temos nossas obrigações. Quando estamos cumprindo nosso dever, não
devemos fazer nada por causa da nossa ansiedade, porque temos uma
vida divina que não conhece ansiedade. E temos um Pai celestial Todo-
poderoso e Todo-inclusivo que cuida de nós em cada aspecto. O mundo
hoje está cheio de ansiedade, mas o povo do reino não deve estar ansioso
de coisa alguma. Não podemos acrescentar um côvado à nossa estatura
pela nossa ansiedade (v. 27). Quanto à moralidade, temos a vida e a
natureza do nosso Pai dentro de nós que nos capacitam a cumpriras mais
elevadas exigências morais. Quanto ao nosso viver, temos o próprio Pai
celestial que cuida de nós. Todavia, isso não significa que não temos
necessidade de cumprir nosso dever. Embora devamos cumprir nosso
dever, não devemos ter ansiedade. Como os filhos de Israel que tinham o
suficiente para viver e que doavam certas porções para vários fins,
também devemos ter uma ceifa e estar dispostos a ceder determinada
quantidade para vários fins. Finalmente, tudo o que dermos será
depositado no banco celestial, e todas as nossas riquezas estarão lá. Isso
187
também está relacionado ao nosso crescimento de vida diário. Desleixo e
ansiedades atrasarão nosso crescimento em vida. Nenhum preguiçoso,
que não cumpre seu dever, crescerá em vida. Todos os que crescem em
vida são diligentes e laboriosos. É claro, essa diligência produzirá uma
recompensa e algumas riquezas materiais virão a você. Todas essas
riquezas devem ser usadas, não para sua ansiedade, mas para que possa
ofertar. A ansiedade tem de ir embora. Não permita que ela ocupe seu
viver diário. Porque a vida do Pai em você não conhece ansiedade, você
não deve ter qualquer ansiedade. Todo “extra” que tem não deve ser
usado para sua ansiedade. Use-o para fazer poupança no banco celestial.
Asseguro-lhe que se fizer isso, você crescerá em vida. O único tipo de
pessoa que cresce em vida é aquele que é diligente, contudo não usa seu
dinheiro extra para sua ansiedade. Você precisa estudar diligentemente,
obter boas notas e alcançar o título mais elevado. Entretanto, as riquezas
que obtiver não devem ser usadas para sua ansiedade. Trabalhamos e
cumprimos nosso dever, mas não temos ansiedade. Essa é a maneira
adequada de crescer na vida do Pai.

3. O Pai Celeste Conhece Todas Essas


Necessidades
No versículo 32 o Senhor disse: “Porque todas essas coisas os
gentios procuram ansiosamente; pois vosso Pai celeste sabe que
necessitais de todas elas”. O povo do reino tem a vida divina do seu Pai
celestial como o seu poder para guardar a nova lei do reino. Eles também
têm o Pai celestial que cuida de suas necessidades materiais, para que não
fiquem ansiosos acerca dessas coisas. O Pai celeste é a fonte de poder e
suprimento deles. Conseqüentemente, eles não devem ser fracos ou
carentes de coisa alguma.

4. Buscar Primeiro o Reino do Pai e a Sua Justiça


O versículo 33 diz: “Buscai, porém, em primeiro lugar, o Seu reino e
a Sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas”. O reino do Pai
é a realidade
do reino dos céus hoje e a manifestação do reino dos céus na era vindoura.
A justiça do Pai é a justiça por guardar a nova lei do reino, como
mencionado em 5:20 e 6:1. Se o povo do reino buscar primeiro o reino e a
justiça do seu Pai celestial, não apenas o Seu reino e a Sua justiça serão
dados a eles, mas também todas as coisas lhes serão acrescentadas.

5. Não Andar Ansioso pelo Dia de Amanhã


Finalmente, o versículo 34 diz: “Portanto, não andeis ansiosos pelo
dia de amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo; basta ao
dia o seu próprio mal”. O povo do reino nunca deve viver pelo dia de
188
amanhã, mas sempre pelo dia de hoje. A palavra “mal” aqui denota
problemas e aflição. Isso indica que o Rei do reino deixou claro ao povo do
reino que os dias deles na terra a favor do reino serão dias de problemas e
aflição, não de bem-estar e conforto.

189
MENSAGEM 23

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (11)


Chegamos agora à sexta seção do decreto do novo Rei no monte,
7:1-12.

VII. COM RESPEITO AOS PRINCÍPIOS DO POVO DO


REINO EM TRATAR COM OS
OUTROS
Aparentemente, a intenção do Senhor em 7:1-12 é tratar dos
princípios segundo os quais o povo do reino lida com os outros. Na
verdade, Sua intenção aqui é encorajar-nos a esquecer de nós mesmos e a
nos preocupar com os outros. Nos dois capítulos anteriores, o Senhor
expôs nosso temperamento, lascívia, ser natural, ego, carne e ansiedade.
Agora Ele nos conduz à questão onde devemos aprender a nos importar
com os outros. Quando julga a outros, faça-o tal como você gostaria que
eles o julgassem. Considerar a questão dessa maneira é importar-se com
os outros.
O governo celestial sobre o povo do reino exige que eles se
importem com os outros. Embora tenham sido tratados vários pontos
negativos nos capítulos 5 e 6, a questão de importar-se com os outros não
foi tratada até o capítulo 7. Em tudo quanto fazemos, devemos pensar nos
outros. Temos uma verdadeira carência nessa questão porque em nossa
vida natural não levamos os outros em consideração. Do princípio ao fim,
apenas nos importamos com nós mesmos. Nossos pensamentos e
considerações se concentram em nós. Por isso, estamos sempre
centralizados em nós mesmos e nunca nos importamos com os outros.
Pediria a você que recordasse como viveu no passado. Você costumava
levar os outros em consideração? Se levássemos os outros em
consideração quando fôssemos criticá-los ou julgá-los, não os
criticaríamos ou julgaríamos. A razão por que julgamos e criticamos os
outros é porque não nos importamos com eles. Se nos importássemos, nós
nos compadeceríamos deles.

A. Não Julgar para que não Sejamos Julgados com o mesmo


Critério com que Julgamos
Em 7:1 o Senhor disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados”.
O povo do reino, vivendo em um espírito humilde sob o governo celestial
do reino, sempre julga a si mesmo, não aos outros. A palavra do
Senhor não julgar para não ser julgado não parece ser uma palavra sobre
se preocupar com os outros. Entretanto, quando nos aprofundamos nela,
vemos que na verdade esse é o seu significado. Quando estiver a ponto de
julgar os outros, você deve antes preocupar-se com eles.
Vamos tentar descobrir o segredo dessa palavra sobre não julgar.
Como podemos afirmar que o verdadeiro significado aqui é importar com

190
os outros? Você teme ser julgado? Se teme, então deve perceber que os
outros também temem. Sente-se mal em ser julgado pelos outros? Se isso
acontece, então deve saber que os outros sentem-se da mesma maneira ao
serem julgados por você. Ninguém gosta de ser julgado. Se você não gosta
de ser julgado, que dizer dos outros, então? Você precisa importar-se com
eles. Se não gosta de ser julgado pelos outros, por que julga as outras
pessoas? Se está temeroso de ser julgado, então deve levar os outros em
consideração, pois também estão temerosos. Sempre se importe com os
outros.
O versículo 2 diz: “Pois com ajuízo com que julgardes, sereis
julgados; e com a medida com que medirdes medir-se-vos-á também”.
Sob o governo celestial, o povo do reino será julgado com o mesmo
critério com que julgam. Se julgam a outros com justiça, serão julgados
pelo Senhor com justiça. Se julgam com misericórdia, serão julgados pelo
Senhor com misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2:13).
Não julgue tanto os outros, porque você será julgado na mesma
proporção. Se você se preocupa com os outros, não será julgado por eles.
Mateus 7:2 diz que com a medida com que medirmos nos medirão
também. O princípio aqui é o mesmo que o do julgamento.
Aparentemente, nesses versículos o Senhor não nos encarrega de nos
importarmos com os outros, na verdade, entretanto, esses versículos nos
mostram que devemos nos importar com os outros. Você teme ser medido
pelos outros? Se teme, então deve considerar os outros, porque eles
também estão temerosos de serem medidos por você. Se você se importar
com os outros, você não os julgará, não os criticará nem os medirá.
No passado conheci determinado grupo de cristãos que falava
muito sobre espiritualidade. De certo modo, o falar deles era genuíno.
Entretanto, esse grupo tinha um ponto fraco: o costume de medir os
outros. Parecia que todos nesse grupo tinham uma pequena régua no
bolso. Quando o convidavam para um chá, mediam você com a régua
invisível deles. Mais tarde se reuniam para falar a seu respeito. Alguns
indagariam: “Você descobriu onde ele está?” Isso significa: “Você o
mediu?” Também aprendi que esse grupo não se preocupava com os
sentimentos dos outros, preocupava-se apenas com o costume de medir
os outros. O medir deles era, na verdade, a sua crítica e o seu julgamento.
Gostaria de tomar essa oportunidade para encorajá-los a não medir os
outros. Não tente determinar quão espiritual os outros são, quanto
crescimento têm ou qual a sua condição em vida. Se deixar de medir os
outros, você será guardado de criticá-los e julgá-los. Isso está baseado no
princípio de importar-se com os outros.
Aquelas pessoas do grupo ao qual me referi há pouco tinham
dificuldade de ajudar os outros. A razão por que eles não conseguiam
ajudar os outros é que os outros estavam sob sua medição, julgamento e
crítica. Ao ajudar os outros, devemos ser cegos. Se quiser ajudar os outros
na vida da igreja, você precisa ser cego. Se deseja ser um bom esposo ou
esposa, seja cego em seu cuidado com ele ou ela. Não meça nem julgue ou
critique. Não tenha qualquer medida dos outros. Essa é a maneira de
mostrar misericórdia por eles. Se mostrar misericórdia aos outros, você
191
receberá misericórdia. Mas se medir os outros sem misericórdia, você
também será medido sem misericórdia. O critério com que medir, você
será medido.
A misericórdia não faz nenhuma medição. Isso significa que a
misericórdia não impõe exigências. Qualquer coisa que exija uma
medição não é misericórdia. A misericórdia não sabe matemática, não
sabe somar ou subtrair. A misericórdia é absolutamente cega. Por que
você me trata tão bem se sou miserável? É porque você é misericordioso
comigo.
Algumas vezes, pela misericórdia do Senhor, fui misericordioso com
os outros. Mais tarde alguns dos meus filhos, cujos olhos estavam tão
claros sobre a situação, disseram-me: “Pai, você não sabe quão indigna
essa pessoa é? Por que foi tão bom para ela?” Fui bom porque estava cego.
Meus filhos, entretanto, eram muito perspicazes. Mas os que são
perspicazes não podem ser misericordiosos. Se deseja ser misericordioso,
você deve ser como Isaque, que abençoou Jacó de uma maneira cega.
Semelhantemente, nós, o povo do reino, devemos ser cegos ao lidar com os
outros. Então, seremos misericordiosos e sempre nos importaremos com
eles. Quando meus filhos me perguntavam porque fui bom com os que não
mereciam bondade, eu respondia: “Vocês não entendem o que estou
fazendo. Seus olhos são tão grandes e abertos. Por que o tratei daquela
maneira? Porque tenho consideração por ele”. Esse é o princípio do povo
do reino ao tratar com os outros. Para lidar com os outros, devemos levá-
los em consideração, compadecer-nos deles e ser misericordiosos com eles.
O povo do reino deve cuidar dos outros em seu relacionamento com eles.
Se ler esses versículos várias vezes, você verá que o princípio básico
oculto aqui é que devemos esquecer a nós mesmos e importarmo-nos
com os outros. Você sabe por que critica e julga os outros? É porque você
considera-se melhor. Você negligencia os sentimentos dos outros e não se
importa com eles. Você se importa apenas com o seu sentimento.
Conseqüentemente, julga e critica os outros. Portanto, se quisermos ser
preservados de julgar os outros, devemos cuidar deles. Isso requer que
esqueçamos de nós mesmos e os levemos em consideração. Se nos
centralizarmos em nós mesmos e ignorarmos o sentimento dos outros, nós
os criticaremos. Mas se cuidarmos deles, não os julgaremos.

1. Considerar a Trave no Seu Próprio Olho Quando Olha


para o Argueiro no Olho do Seu
Irmão
No versículo 3 o Senhor disse: “Por que vês tu o argueiro que está
no olho de teu irmão, porém não consideras a trave que está no teu olho?”
Como o povo do reino, que vive em um espírito humilde sob o governo
celestial do reino, devemos considerar a trave em nossos próprios olhos
sempre que olhamos para o argueiro nos olhos do nosso irmão. O
argueiro nos olhos do nosso irmão deve lembrar-nos de que temos uma
trave em nosso próprio olho.

192
2. Remover Primeiro a Trave do Seu Olho
O versículo 4 continua: “Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar
o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?” A palavra do Senhor
nos versículos 3 e 4 é muito profunda. A intenção Dele aqui não é
incumbir-nos de cuidar de nós mesmos, mas de cuidar dos outros.
O versículo 5 diz: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e
então verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão”. Uma
vez que a trave permanece em nosso olho, nossa visão é embaçada e não
podemos ver claramente. Ao atentar para a falha do irmão, devemos
perceber que temos uma falha maior. A falha do nosso irmão é
semelhante a um argueiro e a nossa semelhante a uma trave. Assim, uma
vez mais, a intenção do Senhor é que cuidemos dos outros. Sempre que
tenta apontar a falha de alguém, você se importa com a falha, não com a
pessoa. Quando faz com que a falha de alguém seja tão grande como uma
trave, isso mos tra que você se preocupa apenas com a falha dele,
não com ele. Se você se importar com seu irmão, não se importará apenas
com sua falha. Antes, dirá: “A falha dele é meramente um argueiro
quando comparada à minha, que é uma enorme trave. Portanto, fico feliz
de deixar passar a falha dele”.
A intenção do Senhor em 7:1-12 é que cuidemos dos outros. O
princípio do povo do reino ao lidar com os outros é que devemos nos
preocupar com os outros. Devemos observar esse princípio em todos os
nossos relacionamentos com as pessoas. Não aja simplesmente segundo o
seu sentimento, mas considere a outra pessoa. Esse é o princípio básico.

B.Não Dar aos Cães o que E Santo nem Lançar Pérolas aos
Porcos
O versículo 6 diz: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante
os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-
se, vos dilacerem”. “O que é santo” deve referir-se à verdade objetiva que
pertence a Deus, e “vossas pérolas” deve referir-se às nossas experiências
subjetivas. Os cães não têm casco nem ruminam, e os porcos têm casco
dividido, mas não ruminam. Assim, ambos são impuros (Lv 11:4, 7).
Conforme é revelado em 2 Pedro 2:12, 19-22 e Filipenses 3:2, os cães e os
porcos referem-se às pessoas que são religiosas, mas não limpas.
Mateus 7:6 está também relacionado à questão de importar-se com
os outros. Muitas vezes quando vê certa verdade doutrina ou luz, você
fala a outros sobre ela, sem qualquer consideração se eles são “cães”,
“cordeiros” ou “lobos”. Você considera apenas a sua empolgação. Você
pode dizer: “Oh! eu vi a luz quanto à vida da
igreja! A igreja é gloriosa e
maravilhosa!” Por estar empolgado, você pode
compartilhar com a pessoa errada. Isso é dar aos cães o que é santo.
Quando estiver prestes a dar algo santo aos outros, você deve considerar
com quem está falando. Não dê aos cães o que é santo nem lance aos
porcos as suas pérolas. Quando fala aos outros sobre as coisas santas
193
sobre as verdades ou sobre as pérolas, as experiências, você deve observar
o princípio básico de importar-se com os outros. Você deve definir se as
pessoas podem ou não receber o
que pretende compartilhar. Deve também perceber o quanto
eles podem receber. Em outras
palavras, quando fala sobre as coisas espirituais,
não fale segundo os seus sentimentos ou desejos;
antes, fale segundo a capacidade deles de receber o que você
tem a dizer.
Muitas vezes os jovens saíram para falar às pessoas sobre a igreja
ou sobre certas coisas espirituais que experimentaram. Eles consideravam
apenas o seu sentimento, não o sentimento dos outros. Infelizmente,
várias vezes as pessoas eram cães ou porcos, incapazes de receber o que
foi dito. Antes, eles atacaram os que compartilhavam, pisavam sobre as
pérolas e tentavam morder os irmãos. Assim, quando vemos a luz sobre
determinadas verdades ou experimentamos algumas coisas preciosas do
Senhor e desejamos compartilhá- las com outros, devemos cuidar
daqueles com quem vamos compartilhar. Devemos perguntar-nos: “Essas
pessoas podem receber meu testemunho? Podem receber o que
pretendo compartilhar com eles?” Se cuidar dos outros, você não
compartilhará tudo com todos; haverá alguns para quem você não dará
seu testemunho. Esse é o princípio do povo do reino em relacionar-se com
os outros.
Freqüentemente, falamos aos outros de acordo com os nossos
sentimentos sem nos importarmos com os sentimentos deles. Talvez num
certo dia você possa estar muito zeloso quanto à vida da igreja e à
restauração do Senhor. Mas em seu zelo você ofende alguns “cães”. Em
outras vezes, por causa de algumas experiências novas, você pode dizer:
“Oh! Cristo é maravilhoso! Cristo é o bronze, o ferro e as armas para
derrotar o inimigo”. Você está tão excitado com a sua experiência que diz
a todos sobre ela. Mas alguém pode se voltar para atacá-lo, dizendo:
“Quê?! Nunca ouvimos que Cristo é arma. Onde você aprendeu isso? E
como pode dizer que Cristo é bronze e ferro? Isso é blasfêmia!”
Entretanto, se considerar os outros, você não dirá uma palavra da sua
nova experiência de Cristo. Antes, será sábio ao lidar com eles,
considerando quais “cães” podem receber ou quais “porcos” podem
entender. Mas se você se empolgar e se importar apenas consigo mesmo e
não com os outros, você terá problemas ou mesmo provocará problemas!
No passado alguns dos nossos jovens foram a outras reuniões e,
considerando apenas o seu zelo, falaram imprudentemente. Eles eram
fervorosos, mas porque não consideraram os outros causaram apenas
problemas.
O povo do reino deve ser o mais sábio. Quando contatamos os
outros, devemos saber qual a temperatura deles, e devemos nos
importar com a situação deles. Devemos fazer as coisas de maneira
adequada e não provocar os cães para morder-nos ou os porcos para
atacar-nos. Eles podem voltar-se e dilacerar-nos.

194
C. Pedir, Buscar e Bater
Os versículos 7 a 11 apresentam uma dificuldade, porque parece que
esses versículos não deveriam estar aqui. Por alguns anos,
pulei-os, indo do versículo 6 para o 12, porque o versículo
12, é uma continuação dos versículos 1 ao 6. O versículo 12 diz: “Tudo
quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também
a eles; porque esta é a lei, e osprofetas”. Esse versículo é a
continuação e a conclusão dos primeiros seis versículos. Entretanto,
entre os versículos 6 e 12, temos os versículos 7 a 11 fazendo uma
evidente inserção. Qual o significado disso? Como enfatizamos, 7:1-
12 diz respeito ao princípio do povo do reino em lidar com
os outros. Vimos que o povo do reino deve principalmente
observar o princípio de considerar os outros. Ao julgar as pessoas ou falar
sobre as coisas santas, devemos considerar os outros.
Vejamos como os versículos 7 a 11 se ajustam a essa questão.
Os versículos 7 e 8 dizem: “Pedi, e dar-se-vos-á, buscai, e achareis;
batei, e abrir-se-vos-á”. É preciso experiência para entender esses
versículos. Ao lê-los repetidas vezes à luz da nossa experiência, podemos
perceber que eles mostram que devemos olhar para o Pai celestial ao
lidarmos com os outros. Devemos pedir-Lhe, buscá-Lo e bater. Muitas
vezes temos falhado em fazer isso. Mas esses versículos indicam que no
exato momento em que estamos contatando as pessoas e lidando com
elas, devemos olhar para o Senhor e dizer: “Senhor, diga-me como
contatar essas pessoas. Senhor, mostre-me como lidar com elas”. Algumas
vezes simplesmente pedir não será adequado. Devemos buscar e bater.
Isso indica que contatar as pessoas é uma questão séria. Nunca pense
que é uma coisa insignificante. Nós, o povo do reino, devemos tratar disso
seriamente, nunca de maneira leve ou desleixada ou simplesmente
segundo o nosso sentimento. Antes, devemos fazer de modo a nos
importarmos com os outros. Devemos pedir, buscar e até mesmo bater na
porta celestial por uma maneira; então teremos a maneira adequada para
contatar as pessoas.
Em Mateus, a maneira adequada para contatar as pessoas é
segundo o princípio do reino. Após usar os exemplos de um filho pedindo
pão e peixe nos versículos 9 e 10, o Senhor diz, no versículo 11: “Se vós,
pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais
vosso Pai que está nos céus dará boas coisas aos que Lhe pedirem?”
Porque Mateus é um livro do reino, sem dúvida, as “boas coisas” no
versículo 11 são as coisas do reino. Entretanto, Lucas 11:13, o versículo
irmão de Mateus 7:11 diz: “Pois, se vós, que sois maus, sabeis dar boas
dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo
aos que Lhe pedirem?” Em Lucas 11:13 as “boas coisas” foram mudadas
para “o Espírito Santo”. Se colocarmos esses dois versículos juntos,
veremos que a melhor maneira para o povo do reino contatar outros é
segundo o reino e segundo o Espírito Santo. O reino e o Espírito Santo são
a maneira de contatarmos os outros. A sabedoria que precisamos para
contatar adequadamente os outros é do reino e do Espírito. Ao
195
lidarmos com os outros, devemos pedir, buscar e bater.
Finalmente, receberemos a direção para lidar com as pessoas
segundo o reino e o Espírito. Assim, o princípio governante para nosso
contato com os outros é o reino e o Espírito. Se nosso contato com os
outros está baseado nesse princípio, não cometeremos erros.
Se considerarmos o passado, teremos de admitir que temos
cometido erros ao contatar as pessoas. Alguns daqueles contatos não
foram proveitosos para ninguém. Mas agora estamos sendo treinados pelo
reino. Não somos crentes desleixados, mas povo do reino sérios e estritos.
Nosso contato com os outros está de acordo com o princípio do reino e o
princípio do Espírito Santo. Recebemos a liderança que precisamos para
contatar os outros pedindo, buscando e batendo. Se pedirmos,
receberemos; se buscarmos, encontraremos; e se batermos, a porta será
aberta.
Segundo nosso pensamento, primeiro tomamos o caminho e,
então, chegamos à porta. Mas o conceito divino na Bíblia é exatamente o
oposto. Primeiro passamos pela porta, e então tomamos o caminho. O
Senhor disse: “Batei e abrir-se-vos-á”. Isso significa que a porta nos será
aberta e, então, estaremos no caminho. Se pedirmos, buscarmos e
batermos, a porta nos será aberta e o caminho será posto diante de nós.
Então saberemos como contatar os outros. A fim de contatar as
pessoas, precisamos de uma porta aberta e um caminho reto como nosso
guia. Podemos ter essa porta aberta e o caminho reto apenas por pedir,
buscar e bater. Quanto todos nós precisamos descobrir um caminho
adequado e proveitoso para contatar os outros, quer sejam incrédulos,
santos ou as igrejas.
Todos devemos aprender a cuidar dos outros e orar: “Senhor,
mostra-me o caminho”. Primeiro você precisa pedir. Se o caminho não se
abrir, então você deve buscar. Se o caminho ainda assim não se abrir,
então deve bater. Bater significa aproximar-se Daquele a quem está
buscando. Quando você pede, ainda pode haver uma distância, mas
quando bate, não há distância. Antes, você está diretamente diante
Daquele a quem está buscando. Portanto, você precisa gastar tempo para
buscar o Senhor. Ao contatar os outros, precisamos pedir, buscar e bater.
Então a porta se abrirá, um caminho reto será dado para contatar as
pessoas, nosso contato será proveitoso, e seremos salvos de cometer
erros. Também saberemos como acautelar-nos dos cães e dos porcos. Esse
é o significado da inserção dos versículos 7 a 11 entre os versículos 6 e 12.
Antes de considerarmos o versículo 12, precisamos acrescentar uma
palavra sobre o pedir, buscar e bater. Pedir é orar de maneira comum,
buscar é suplicar de maneira específica, e bater é tocar a porta bem de
perto. A questão de pedir e receber no versículo 8 é útil para a oração do
povo do reino no que diz respeito a guardar a nova lei do reino. Eles
pedem e receberão. A questão de buscar e alcançar é útil para 6:3 3. O
povo do reino busca o reino do Pai e Sua justiça e os achará. A questão de
bater e ter a porta aberta é útil para 7:14. A porta estreita se abrirá ao povo
do reino por causa do bater deles.

196
O versículo 11 contém uma grande promessa. Essa promessa
assegura que o povo do reino está sob o cuidado e suprimento do Pai
que está nos céus. Assim, eles são perfeitamente capazes de cumprir
a
nova lei do reino e vi ver em sua realidade para que possam entrar em sua
manifestação.
Nos versículos 9 e 10, o pão e peixe que foram pedidos indicam a
necessidade de quem pede. Quando pedimos, buscamos e batemos,
sempre temos uma necessidade. Nosso Pai celestial conhece a nossa
necessidade e nos dará o que precisamos. Nenhum pai humano daria ao
filho uma pedra em lugar de pão ou uma serpente em vez de peixe, mas
sempre daria a eles boas coisas. Quanto mais nosso Pai celestial nos dará
coisas que Ele considera boa. Até mesmo ao buscarmos a maneira para
contatar outros, Ele nos dará a melhor maneira, o caminho que
precisamos.

D. Fazer às Pessoas o que Queremos que Elas nos Façam


Agora chegamos ao versículo 12, a conclusão da seção dos
princípios do povo do reino em lidar com os outros. Esse versículo diz:
“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-O vós
também a eles; porque esta é a lei e os profetas”. A nova lei do reino não
contradiz a lei e os profetas; antes, cumpre-os e até mesmo completa-os.

197
MENSAGEM 24

O DECRETO DA CONSTITUIÇÃO DO REINO (12)


Nesta mensagem chegamos à última seção do decreto do reino,
7:13-29.

VIII. COM RESPEITO À BASE DO VIVER E OBRA DO


POVO DO REINO
Antes de considerarmos 7:13-29, vamos rever o que já foi tratado
nessa constituição. Devemos ser profundamente impressionados com o
fato de que a constituição do reino dos céus está baseada na vida e
natureza Divinas do povo do reino. Precisamos ter em mente que a
constituição de qualquer povo está sempre de acordo com a vida e
natureza daquele povo. Ninguém pode cumprir as exigências dessa
constituição a menos que tenha sido regenerado e possua a vida e
natureza do Pai celestial. Os filósofos e mestres incrédulos que citam
alguns versículos de Mateus 5 a 7 não entendem essas palavras. Essa
constituição não é dada a incrédulos. Porque ela está baseada na vida e
natureza espiritual, celestial e divina do povo do reino, apenas o povo do
reino pode viver em conformidade com ela. Além do mais, nem mesmo o
povo do reino pode cumprir as exigências dessa constituição se não
viverem segundo a vida e natureza divinas dentro deles. Essa
constituição não é dada segundo a vida natural ou a natureza humana do
povo do reino. Repetindo, ela é estabelecida conforme a vida e natureza
divinas.
Essa constituição primeiramente revela a natureza do povo do
reino, como desvendado nas nove bem-aventuranças em 5:312. Aqueles
itens da constituição que descrevem o que o povo do reino deve fazer e
como deve agir, todos eles correspondem à natureza do povo do reino.
Tudo o que o povo do reino faz é uma expressão da sua natureza. As suas
ações, comportamento, conversas e feitos exteriores são a expressão da
vida e natureza divinas deles. O que está dentro deles é manifestado em
seu comportamento exterior. A primeira seção da constituição, a seção
concernente à natureza do povo do reino, é, portanto, muito básica. A
segunda seção abrange a influência do povo do reino sobre o mundo, e a
terceira trata da lei do reino dos céus. Como vimos, todas as leis
mudadas e complementadas expõem nossa ira e lascívia. Iniciando no
capítulo 6, a constituição do reino celestial prossegue em tratar a maneira
do povo do reino realizar seus feitos justos. Essa porção da constituição
expõe o ego e a carne. Em seguida, a próxima seção nos fala que o povo
do reino deve viver na terra sem qualquer ansiedade. Não estamos aqui
para ansiedade, mas para o cumprimento do nosso dever sob o cuidado
do nosso Pai celestial. Ele nos alimentará, vestirá e suprirá todas as
nossas necessidades. Entretanto, devemos cumprir nossa
responsabilidade para o cumprimento do propósito de Deus, contudo,
sem ansiedade. Em 7:1-12 a constituição revela a atitude que devemos ter
198
para com os outros, como devemos tratá-los e como devemos importar-
nos com eles. Até alcançarmos 7:12, quase todos os aspectos do nosso
viver e comportamento foram tratados. Parece que a constituição está
agora completa, perfeita e todo- inclusiva.
Entretanto, há um fato que deve ficar estabelecido: o povo
do reino está na terra fazendo a vontade de Deus, nosso Pai. Portanto,
na última seção não se fala de ira, lascívia, ser natural, ego, carne,
ansiedade ou nossa atitude para com os outros. Antes, nessa seção
fala-se de entrar pela porta estreita e andar o caminho apertado
(7:13-14). Também vemos que devemos edificar uma casa e fazer a
vontade do Pai celestial (vs. 24-27, 21). Portanto, a conclusão da
constituição do reino celestial conduz-nos pela porta estreita e pelo
caminho restrito. Assim podemos fazer a vontade do Pai celestial e
edificar uma casa.
Quando consideramos a constituição do reino dos céus como um
todo, vemos que ela revela de maneira completa o que é o povo do reino, o
que eles devem ser e o que devem fazer. Também revela onde eles estão e
para onde irão. Revela que no caminho apertado devemos fazer a vontade
do Pai celestial e edificar uma casa conforme a palavra do Rei celestial. Na
última seção da constituição não há ira, lascívia, ego, carne, ansiedade
nem qualquer palavra de nossa atitude para com os outros. Antes, há
quatro palavras cruciais: porta, caminho, vontade e casa. Aqui temos a
porta estreita, o caminho apertado, a vontade do Pai celestial e a casa
edificada sobre a rocha, que é a palavra sábia do Rei celestial. Se não
somos o povo descrito nas nove bem-aventuranças e se não somos os que
cumprem a lei complementada e mudada, não podemos entrar pela porta
estreita, andar pelo caminho apertado, fazer a vontade do Pai celestial ou
edificar uma casa sobre a rocha. Assim, essa última seção é a consumação
da constituição.

A. Entrar pela Porta Estreita e Tomar o


Caminho Apertado
Os versículos 13 e 14 dizem: “Entrai pela porta estreita, pois larga é
a porta e espaçoso o caminho que conduz para a destruição e são muitos
os que entram por ela; porque estreita é a porta e apertado o caminho que
conduz para a vida, e são poucos os que a encontram”. Quem pode entrar
pela porta estreita citada no versículo 13? Apenas o povo do reino com a
natureza descrita nas nove bem-aventuranças no capítulo 5. Os que
entram pela porta estreita devem ser pobres em espírito, os que choram,
mansos, famintos e sedentos pela justiça, misericordiosos, puros de
coração, que promovem a paz com todos os homens, dispostos a ser
perseguidos por causa da justiça e dispostos a ser injuriados por causa de
Cristo. Somente aqueles com tal natureza podem entrar pela porta
199
estreita. Ainda mais, os que entram por essa porta estreita devem estar
sob as leis mais elevadas do reino, as leis complementadas e mudadas, e
não devem ter qualquer ansiedade quanto ao viver. Antes, devem ter a
confiança de que o Pai celestial está cuidando deles. E mais, não devem
ser preguiçosos e inativos, mas diligentes e produti vos. Essas são as
pessoas que entram pela porta estreita e andam pelo caminho apertado.
Esse caminho é apertado, limitado por todos os lados. A porta é
estreita e o caminho é apertado porque a nova lei do reino é mais rigorosa
e a exigência do reino é mais elevada do que a da velha aliança. Ela não
apenas trata da conduta exterior, mas também da motivação interior. O
velho homem, o ego, a carne, o conceito humano e o mundo com sua
glória estão todos excluídos. Apenas o que corresponde à vontade de
Deus pode entrar. O povo do reino precisa primeiramente entrar em tal
porta estreita e, então, andar em tal caminho apertado. Não é andar o
caminho primeiro e, então, entrar pela porta. Entrar pela porta é
simplesmente começar a andar no caminho, o qual é por toda a vida.
Todos estamos felizes por estar na restauração do Senhor e a
apreciamos muito. Mas permita-me perguntar-lhe: “Como alguém na
restauração do Senhor, você está andando no caminho apertado?” Todos
devemos ser capazes de dizer que não estamos tomando o caminho do
cristianismo, mas o caminho apertado. Somos pressionados por todos os
lados. Os do cristianismo podem usar música rock ou outros métodos
mundanos para servir, mas nós não podemos, porque nosso caminho é
apertado. Todos os jovens desejam ser livres, isto é, livrarem-se de toda
restrição. Quando se formam no segundo grau, eles são como pássaros
engaiolados desejando ser livres. Entretanto, muitos são tão livres que
não têm nenhuma restrição. Nós, na restauração do Senhor, ao contrário,
estamos tomando um caminho apertado. Devemos até mesmo ter alguma
restrição na prática de orar-ler. Em nosso orar-ler não devemos ser como
as pessoas mundanas jogando bola sem restrição. Nós, na restauração do
Senhor, devemos andarem nosso espírito. Viver no espírito e andar no
espírito restringe-nos. Mesmo quando estamos amando, regozijando-nos
e felizes, devemos estar sob restrição. Não devemos ser como os que
quando empolgados libertam-se de toda restrição. Antes, devemos ficar
empolgados dentro do limite do espírito. Isso também deve ser verdade
nas reuniões. Embora possamos liberar completamente o espírito,
devemos ser restritos no que diz respeito à atividade física. Em tudo
precisamos tomar o caminho apertado, não o largo.
Devemos tomar o caminho apertado em nossa comunhão cornos
irmãos. Você quer elogiar um irmão? Faça-o de maneira restrita. Você vai
repreender um irmão? Repreenda-o, mas tome um caminho apertado.
Você está tendo comunhão com alguns irmãos? Isso é excelente, mas você
deve ter comunhão com eles de modo restrito. Algumas vezes quando está
tendo comunhão, você esquece toda limitação. Avança hora após hora
sem se importar com a necessidade de se alimentar ou descansar. Ainda
mais, em sua comunhão você fala sobre tudo, do arcanjo Miguel a
Martinho Lutero e de todos os irmãos e irmãs da igreja. Você tem
comunhão sobre todos sem qualquer restrição. Louvado seja o Senhor que
200
somos, de fato, livres! Entretanto, ainda temos as limitações, as restrições
e os “apertos”.
Considere o exemplo do Senhor Jesus em João capítulo 7. Quando
Seus irmãos propuseram-Lhe que entrasse na Judéia e se fizesse
conhecido ao público, o Senhor disse: “O Meu tempo ainda não chegou,
mas o vosso sempre está pronto” (v. 6). A palavra do Senhor indica que
Ele estava limitado, que Ele estava andando de maneira restrita. Como o
povo do reino, também devemos andar de maneira restrita. Nosso
caminho é apertado, cheio de limitações e restrições. Mas não considere
toda limitação como uma frustração. Antes, as limitações nos ajudarão em
nosso caminho. Se recusarmos ser restringidos, nosso progresso será
lento. Entretanto, se estivermos dispostos a ser limitados e restringidos,
nosso progresso será mais rápido. Após ter passado por todas as seis
seções anteriores da constituição, na última seção somos conduzidos à
porta estreita e ao caminho apertado.

1. APorta Larga e o Caminho Espaçoso Levam à


Destruição e Muitos Entram por Ela
No versículo 13 O Senhor disse: “Entrai pela porta estreita, pois
larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz para a destruição, e são
muitos os que entram por ela”. A destruição aqui não se refere à perdição
da pessoa, mas à destruição dos seus feitos e obras (1Co 3:15). Sem
dúvida, o cristianismo de hoje leva as pessoas à destruição. O tempo
provará que isso é verdade. Pela misericórdia do Senhor, nunca tomarei o
caminho do cristianismo, porque no meu interior tenho a convicção de
que é um caminho largo que leva à destruição. Mas a porta estreita e o
caminho apertado conduzem para a vida. Se você tomar o caminho do
cristianismo, o caminho espaçoso, seu espírito será imediatamente
amortecido. Por fim, tudo o que fizer será destruído, porque aquele
caminho espaçoso leva para a destruição. Essa não é a minha opinião, é
a palavra do apóstolo Paulo em 1 Coríntios 3.
Em 1 Coríntios 3:10 Paulo diz que ele lançou o fundamento, o qual é
Cristo, e que outros estão edificando sobre ele. Paulo, então, diz: “Porém
cada um veja como edifica”, porque podemos edificar sobre esse
fundamento com ouro, prata, pedras preciosas ou com madeira, feno e
palha. Nos versículos 13 a 15 Paulo diz: “Manifesta se tomará a obra de
cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo;
e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer
a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá
galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse
mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo”. Nesses versículos
Paulo parece estar dizendo: “Atente para como você está edificando. Se
edifica com ouro, prata e pedras preciosas, você será recompensado”.
Essa é a obra do caminho apertado que conduz a uma viva recompensa
em vida. Entretanto, Paulo também parece estar dizendo: “Se sua obra é
201
de madeira, feno e palha, ela será queimada pelo fogo e você não receberá
galardão”. Em outras palavras, tal obra resultará em destruição. Você
pode alegar ser um obreiro cristão, mas com que tipo de material está
edificando? Nesses versículos de 1 Coríntios 3 vemos que não apenas os
que edificam teatros e cassinos serão destruídos, mas os que edificam
catedrais e capelas também. O fogo provará a natureza da sua obra. Se sua
obra é de madeira, feno e palha, ela está certamente no caminho largo que
leva à destruição.
Porque não estamos no caminho largo, mas no caminho apertado,
há muitas coisas que não podemos fazer. Preferiria ter alguns gramas de
ouro do que muitos quilos de madeira. Não quero ter uma imensa pilha de
madeira, feno e palha, porque isso apenas resultará numa grande
fogueira. Preferiria ter uma pequena quantidade de ouro, prata e pedras
preciosas. Embora queiramos ver o aumento em todas as igrejas, não
queremos um aumento no caminho espaçoso. Antes, queremos o
aumento no caminho apertado, o aumento do ouro, prata e pedras
preciosas. Se temos esse tipo de aumento, o Senhor terá um testemunho
no caminho apertado.

A Porta Estreita e o Caminho Apertado Conduzem para a Vida e Poucos a


Encontram
Mateus 7:14 diz: “Porque estreita é a porta e apertado o caminho
que conduz para a vida, e são poucos os que a encontram”. Vida aqui
refere-se à eterna condição bem-aventurada do reino, que é cheio da vida
eterna de Deus. Essa vida está na realidade do reino hoje e estará na sua
manifestação na era vindoura (19:29; Lc 18:30). Na restauração do
Senhor hoje estamos tomando o caminho apertado que conduz para a
vida.

B. Discernir os Falsos Profetas pelos Seus Frutos


O versículo 15 diz: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós
com vestes de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes”. Enquanto
estamos tomando o caminho apertado, devemos discernir quem são os
falsos profetas. Isso significa que nesse caminho devemos estar alertas
para todo tipo de falsidade. O Senhor disse com respeito aos falsos
profetas: “Pelos seus frutos os conhecereis” (v. 16). Conhecemos um
profeta não pelo seu falar, pregar ou obra, mas pelo seu fruto. Hoje todos
os cristãos costumam ser influenciados pelo falar das pessoas. Um orador
eloqüente com palavras persuasivas é capaz de seduzir a muitos. Não ouça
o orador eloqüente ou as palavras persuasivas. Antes, espere e veja que
tipo de fruto é produzido. Essa é a maneira de discernir se um profeta é
verdadeiro ou falso.
A igreja está prosseguindo e o testemunho do Senhor está se
espalhando por todo o mundo. Porque as portas estão abertas, alguns que
se autodenominam profetas podem tentar entrar, dizendo que eles sabem
algumas coisas e podem fazer algumas obras. Deixe-os dizer tudo o que

202
queiram, porque nós confiaremos que o Senhor os provará pelos seus
frutos. Precisamos aplicar esse princípio a todos esses casos. Não ouça o
falar eloqüente, mas considere o fruto. Toda árvore boa produz frutos
agradáveis, mas a árvore má produz fruto mau. Toda árvore que não
produz frutos bons será cortada e lançada ao fogo (7:17-19).

C. A Condição para Entrar no Reino dos Céus


1. Não Simplesmente Invocar o Senhor, mas Fazer a
Vontade do Pai Celestial
O versículo 21 diz: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai que
está nos céus”. Isso não se refere à realidade do reino dos céus hoje, mas à
manifestação vindoura do reino, no futuro. Para entrar no reino dos céus
precisamos fazer duas coisas: invocar o Senhor e fazer a vontade do Pai
celestial. Para sermos salvos basta invocar o Senhor (Rm 10:13), mas para
entrar no reino dos céus precisamos também fazer a vontade do Pai
celestial. Portanto, “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no
reino dos céus”, mas aquele que invoca o Senhor e faz a vontade do Pai
celestial. Para entrar no reino de Deus é preciso ser regenerado (Jo 3:3,
5), mas para entrar no reino dos céus, além de ser regenerado, é
preciso fazer a vontade do Pai celestial. Entrar no reino de Deus é pelo
nascimento da vida divina; entrar no reino dos céus é pelo viver dessa
vida.
No versículo 21 o Senhor não diz “seu Pai”, mas “Meu Pai”. Aqui o
Senhor parece estar dizendo: “Eu, o Filho do Homem e o Filho de
Deus, tenho feito a vontade de Meu Pai. Vocês também são filhos de
Deus e Meus irmãos. Portanto, vocês devem ser Meus parceiros e tomar o
mesmo caminho que Eu tomo. Agora vocês não devem fazer a
vontade do seu pai, mas a vontade do Meu Pai. Vocês são Meus
irmãos, Meus companheiros e Meus parceiros. Vocês e Eu estamos
andando no mesmo caminho e fazendo a mesma vontade.
Vocês estão vivendo Comigo segundo a vontade de Meu
Pai”. Essa última seção da constituição, não é mais a questão negativa de
trata; nosso temperamento, lascívia, ego, carne e ansiedade. E
absolutamente uma questão positiva de fazer a vontade do Pai que está
no céu. O povo do reino não está aqui para fazer nada além da
vontade do Pai. Não estamos aqui meramente para vencer
nosso temperamento, lascívia, ego e carne e para sermos amáveis e
simpáticos com outros. Estamos aqui para o cumprimento da vontade do
Pai celestial. Para fazer a vontade do Pai, precisamos andar no caminho
apertado. Nos ensinamentos dos filósofos mundanos, não há a vida e
natureza divinas nem a maneira divina. Mas aqui o objetivo máximo da
constituição do reino dos céus é a vontade do Pai celestial. Isso
significa que temos um Pai celestial e que somos os filhos doPai.
Entretanto, a última seção da constituição não é
203
apenas uma questão de vida, mas também uma questão da vontade do
Pai. Nosso Pai tem uma vontade a cumprir, mas podemos realizá-la
apenas pela Sua vida. Precisamos vi verna vida do Pai celestial e também
por essa vida. Esse modo de viver é para fazer a vontade do Pai. Na
constituição do reino dos céus não podemos ver qual é, de fato, a vontade
do Pai. Entretanto, ela está totalmente revelada no capítulo 16. A vontade
do Pai é edificar a igreja sobre o Filho como a rocha. Isso está inteiramente
desenvolvido em Atos, nas Epístolas e no livro de Apocalipse. O Novo
Testamento revela que a vontade eterna e divina de Deus é edificar a
igreja.

2. Muitos Profetizam, Expulsam Demônios e Fazem


Milagres em Nome do Senhor, mas não Segundo a Vontade
do Pai Celestial
O versículo 22 diz: “Muitos, naquele dia, Medirão: Senhor, Senhor!
não foi em Teu nome que profetizamos, e em Teu nome expulsamos
demônios, e em Teu nome fizemos muitos milagres?” As palavras
“naquele dia” referem-se ao dia do julgamento do trono de Cristo (1Co
3:13; 4:5; 2Co 5:10). No dia do julgamento, quando todos os crentes
comparecerem diante do tribunal de Cristo, muitos dirão ao Senhor que
profetizaram, expulsaram demônios e fizeram milagres em Seu nome,
mas eles serão rejeitados pelo Senhor.

3. O Senhor não os Aprova, antes Considera- os como


Praticantes de Iniqüidade
Mateus 7:23 diz: “Então lhes declararei: Nunca vos conheci.
Apartai-vos de Mim, os que praticais a iniqüidade.” Aqui a palavra
“conheci” significa “aprovei”. A mesma palavra grega em Romanos 7:15
é traduzida para “aprovo” na Versão Corrigida de João Ferreira de
Almeida. Nesse versículo Paulo diz:
“Porque o que faço não o aprovo.” O Senhor nunca aprovou os que
profetizaram, expulsaram demônios e fizeram milagres em Seu nome, mas
não segundo a vontade do Pai celestial (Mt 7:21). O Senhor não nega que
eles tenham feito essas coisas, mas considerou-as como iniqüidades, porque
não estavam de acordo com a vontade do Pai celestial. Elas não foram feitas
na linha da vontade divina. O Senhor parecia estar dizendo: “Você
profetizou em Meu nome, expulsou demônios em Meu nome e realizou
milagres em Meu nome, mas nunca permiti-lhe fazê-las. Nunca o aprovei
porque você fez todas aquelas coisas de maneira iníqua. Você fez em si
mesmo, em seu próprio desejo e conforme a sua própria intenção, não
segundo a vontade do Meu Pai”. Portanto, os que fazem tais coisas, mesmo
em nome do Senhor, não entrarão no reino dos céus, mas serão apartados
do Senhor, isto é, ser-lhes-á recusado participar da manifestação do reino
na era vindoura.
Vemos aqui pelas palavras do Senhor que certas obras podem ser

204
feitas no nome do Senhor e, contudo, não estar de acordo com a vontade
de Deus. Você está fazendo esse tipo de obra ou está fazendo a vontade de
Deus? Temos falado muito sobre ir às universidades, mas você está indo
lá para fazer alguma obra ou para fazer a vontade do nosso Pai celeste?
Jovens irmãos e irmãs, como vocês responderiam a essa questão? Iriam à
universidade para fazer a vontade do Pai celestial? Devemos ter a
segurança de que em tudo o que fazemos, estamos fazendo a vontade do
Pai celestial. Caso contrário, o Senhor Jesus nos dirá: “Praticantes de
iniqüidade”. Mesmo profetizar no nome do Senhor, mas não conforme a
vontade do Pai, é um tipo de iniqüidade.
Além disso, expulsar demônios no nome do Senhor e fazer
milagres no nome do Senhor, mas não conforme a vontade de Deus, é
também considerado aos olhos do Rei celestial como iniqüidade.
Em qualquer corrida os atletas devem correr nas raias certas.
Embora você possa correr mais rápido do que os outros, sua corrida não
será reconhecida se correr fora da sua raia. Antes, essa maneira de correr
será considerada iniqüidade. Você deve correr a corrida
entre as raias, isto é, deve correr de maneira restrita. Hoje a obra de
muitos obreiros cristãos não está restrita pelas raias celestiais. Aos seus
próprios olhos, eles fizeram muito em nome do Senhor e para o Senhor.
Aos olhos do Senhor, entretanto, a obra deles é um tipo de transgressão,
uma violação das regras celestiais. Assim, a obra deles é iniqüidade. A
palavra do Senhor em 7:21-23 é uma palavra forte de advertência a
todos nós para que não nos preocupemos
apenas em profetizar, expulsar demônios ou fazer
milagres. Devemos cuidar das regras celestiais. Se transgredir as regras
corno um corredor na corrida celestial, você será desqualificado. Há regras
que nos constrangem na restauração do Senhor e devemos ser
constrangidos em nosso correr. Se corrermos nas raias,
não foradelas, seremos aprovados pelo
Senhor.
Mais uma vez afirmo que a consumação da constituição do reino
dos céus é introduzir-nos na porta estreita e no caminho apertado.
Agora estamos correndo nesse caminho estrito. Não devemos nos
preocupar com profecia, expulsar demônios ou milagres. Antes, devemos
nos preocupar apenas em fazer a vontade do nosso Pai celeste. Você pode
estar se perguntando corno podemos saber a vontade do Pai. Podemos
conhecê-la por meio da vida e natureza do Pai dentro de nós. A natureza
do Pai sempre nos dirá “sim” ou “não”. Se está correndo conforme a
natureza divina e dentro das raias apertadas, a natureza divina indicará:
“Sim, você está certo; prossiga”. Mas se não está correndo segundo a
natureza divina ou se anda fora das raias, a natureza divina dirá: “Não
ande dessa maneira”. Não há necessidade de alguém falar-lhe o que fazer,
porque a natureza divina restritiva e que dita as regras está dentro de
você. Essa natureza diz onde você está. Um corredor pode ver as raias
quando corre, por isso ele não precisa que ninguém lhe diga se está dentro
dos seus limites. Semelhantemente, ternos as linhas demarcatórias dentro

205
de nós, as raias da vida e natureza divinas, e podemos saber onde
estamos. De acordo com a natureza divina em nós, não podemos usar
música rock em nossas reuniões. Embora possamos tentar vários métodos
mundanos, a natureza divina discordaria de todos eles e indicaria que
você está transgredindo as regras. Todos que são povo do reino, todos que
foram regenerados pelo Pai, têm Sua vida e natureza dentro de si. A vida e
natureza do Pai indicam se estamos ou não no caminho apertado. Vamos
todos correr a corrida conforme a natureza do Pai.

D. Dois Tipos de Edifícios Sobre Dois Tipos de Fundação


1. A Edificação na Rocha Conforme as Palavras do
Senhor
No versículo 24 O Rei disse: “Todo aquele, pois, que ouve estas
Minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente,
que edificou a sua casa sobre a rocha”. A rocha aqui não se refere a
Cristo, mas à Sua palavra sábia, a palavra que revela a vontade de Seu
Pai que está nos céus. O viver e obra do povo do reino deve estar
fundamentado na palavra do novo Rei para a realização da vontade do
Pai celeste. Isso é para entrar na porta estreita e andar o caminho
apertado que conduz para a vida.
O versículo 25 diz: “E caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram
os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque fora fundada
sobre a rocha”. A chuva é de Deus, descendo dos céus; os rios são do
homem, vindo da terra, e os ventos são de Satanás, soprando do ar. Tudo
isso testa o viver e obra do povo do reino. Embora a chuva possa descer,
os rios possam vir e os ventos soprarem, a casa edificada sobre a rocha
não cairá porque está edificada conforme o caminho apertado, o caminho
de fazer a vontade do Pai. A casa edificada na rocha que não cai é como a
obra de edificação com ouro, prata e pedras preciosas, que pode suportar
o teste do fogo (1Co 3:12-13).

2. A Edificação na Areia não Conforme as Palavras do


Senhor
Mateus 7:26 diz: “E todo aquele que ouve estas Minhas palavras e
não as pratica, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua
casa sobre a areia”. A areia aqui se refere aos conceitos humanos e
métodos naturais. Se vivemos e trabalhamos segundo os nossos conceitos
humanos e métodos naturais, nosso vi ver e obra serão construídos na
areia. Isso é entrar pela porta larga e andar no caminho espaçoso que
conduz à perdição. O versículo 27 diz: “E caiu a chuva, vieram as
torrentes, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu, e foi
grande a sua queda”. A casa edificada na areia e que cai é como a obra de
edificação feita com madeira, feno e palha, que será queimada pelo teste
do fogo. Entretanto, o próprio edificador será salvo (1Co 3:12- 15).
206
Edificar nossa casa sobre nossa opinião e conceito é edificar a casa sobre a
areia. Quando a chuva, os rios e os ventos testarem a casa edificada sobre
a areia, essa, não tendo uma sólida fundação, cairá. Essa é a conclusão
do Senhor da constituição do reino dos céus.
O conceito básico da constituição do reino dos céus é que o povo do
reino deve ser estrito de maneira justa consigo mesmo,
misericordiosamente bom para com outros e secretamente puro para com
Deus.
Não posso dizer quanto essa constituição tem me controlado por
todos esses anos. Posso testificar que meu viver, meu andar e minha obra
estão sob essa constituição. Espero que todos sejamos introduzidos nesse
caminho apertado para edificar uma casa sobre a rocha sólida conforme a
vontade do nosso Pai.

IX. AUTORIDADE NO FALAR


Os versículos 28 e 29 dizem: “E aconteceu que, ao terminar Jesus
essas palavras, estavam as multidões atônitas do Seu ensinamento,
porque as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas”.
Cristo, como o novo Rei do reino dos céus, falou com autoridade ao
decretar a nova lei do reino.

207
MENSAGEM 25

A CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO DO REI (1)


Na constituição do reino dos céus há quatro versículos que nos
dizem como entrar no reino dos céus. O primeiro é Mateus 5:3, que diz:
“Bem- aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos
céus”. O segundo diz: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa
da justiça, porque deles é o reino dos céus” (v. 10). Esses dois versículos
referem-se ao presente. Se quisermos estar na realidade do reino hoje,
precisamos ser pobres em nosso espírito e ser perseguidos por causa da
justiça. A realidade do reino hoje baseia-se principalmente na justiça.
Somos introduzidos na realidade do reino por sermos pobres em espírito.
Após termos uma mudança na mente, voltamo-nos ao Senhor e nos
tomamos vazios em nosso espírito. Desse modo o Senhor entra em nosso
espírito com Seu reino celestial. A partir desse momento, começamos a
viver na realidade do reino. Por sermos justos, seremos conservados nesta
realidade. Entretanto, se formos injustos, estamos fora da realidade do
reino. Uma vez que mantenhamos a justiça, somos preservados na
realidade do reino. Examine sua vida diária. Se for relaxado, descuidado,
negligente quanto à justiça, você estará imediatamente desligado da
realidade do reino. Para estarmos na realidade do reino hoje, devemos ser
pobres em espírito e conservar-nos em justiça, dispostos, até mesmo, a
sofrer por causa da justiça. Os outros dois versículos que nos falam de
como entrar no reino referem-se ao futuro, a entrar na manifestação do
reino dos céus no futuro. Mateus 5:20 diz: “Porque vos digo que, se a
vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, de modo
algum entrareis no reino dos céus”. Isso diz respeito a participar na
manifestação do reino. Se quisermos entrar na manifestação do reino dos
céus, precisamos da justiça excedente. Portanto, a justiça não apenas nos
preserva na realidade do reino hoje, mas também nos introduzirá na
manifestação do reino no futuro.
O último versículo é 7:21 que diz: “Nem todo o que Me diz: Senhor,
Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu
208
Pai que está nos céus”. Este versículo revela que para entrar no reino dos
céus, devemos fazer a vontade do Pai. Portanto, é a justiça e o fazer a
vontade do Pai que nos introduzirá na manifestação do reino. Justiça
refere-se principalmente ao nosso viver e fazer a vontade do Pai, à nossa
obra. Ambos, nosso viver e obra, devem estar de acordo com a
constituição do reino dos céus. Se nosso viver for de acordo com essa
constituição, ele será justo. E se essa nossa obra estiver de acordo com a
constituição, ela será o operar da vontade de Deus. Esse tipo de viver e
obra nos qualifica a entrar na manifestação do reino. Portanto, sendo
pobres em espírito, somos introduzidos na realidade do reino, e, por meio
da justiça somos conservados nessa realidade. Pela justiça excedente e
fazendo a vontade do Pai, entraremos na manifestação do reino dos céus.
Após pronunciar a constituição do reino dos céus no monte, o
Senhor Jesus desceu para continuar Seu ministério. Nesta mensagem,
consideraremos a continuação do ministério do Rei (8:1-9:34).
I. SINAIS COM SIGNIFICADO
DISPENSACIONAL
Após o novo Rei descer do monte para levar a cabo Seu ministério
real, a primeira coisa que fez foi purificar os impuros, curar os doentes e
expulsar os demônios dos possessos a fim de que todos se tomassem povo
do reino dos céus (8:2-17).
Os milagres ou sinais, registrados nos versículos 2 a 17, têm um
significado dispensacional. A ordem dos quatro casos registrados em
Mateus 8:2-16 difere dos de Marcos 1:29-2:1 e Lucas 4:38-41; 5:12-14 e
7:1-10. A ordem do registro de Marcos, mostrando que Jesus é o Servo de
Deus, está de acordo com a história. A ordem do registro de Mateus,
provando que Cristo é o Rei do reino dos céus, é segundo a doutrina. Em
seu Evangelho Mateus reuniu alguns casos a fim de apresentar uma
doutrina. A ordem do registro de Lucas, revelando que Jesus é o homem
adequado para ser o Salvador dos homens, é segundo a moralidade. A
seqüência do registro de João, testificando que Cristo é o Filho de Deus e
até mesmo o próprio Deus, está também um pouco de acordo com a
história. Portanto, nos quatro Evangelhos há três tipos de seqüências:
histórica, doutrinária e moral. Em Mateus 8:1-17 três milagres-a
purificação do leproso, a cura do servo paralítico de um centurião gentio
e a cura da sogra de Pedro-e a cura de tantos outros são colocados juntos
para apresentar uma doutrina significativa, isto é, eles têm um significado
dispensacional. Primeiramente consideraremos a curado leproso (vs. 1-4).

A. A Cura do Leproso
1. O Rei Desce do Monte
O versículo 1 diz: “Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o
seguiram”. Descer do monte significa que o Rei celestial desceu dos céus
para a terra. Ele veio primeiramente para alcançar os judeus, porque, sem
dúvida, o leproso aqui representa o povo judeu. O Rei celestial desceu dos
209
céus para trazer a salvação primeiramente aos leprosos judeus. De acordo
com Romanos capítulo 1, a salvação é primeiro para os judeus e, então,
para os gentios (v. 16).

2. Um Leproso Aproximou-se Dele para Purificar-se e


Adorá-Lo
Mateus 8:2 diz: “E eis que um leproso, tendo-se aproximado,
adorou-O, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me”. O leproso
adorou o novo Rei e chamou-O Senhor, reconhecendo que Ele é o Senhor
Deus. Em realidade, o novo Rei é Jeová Deus (1:21, 23).
As enfermidades curadas nos casos registrados em Mateus 8 são
significativas, porque cada uma delas representa uma doença espiritual
específica. A primeira classe de pessoas salvas pelo Salvador real para ser
o povo do reino é representada por um leproso. Conforme os exemplos
das Escrituras, a lepra vem da rebelião e desobediência. Miriã tornou- se
leprosa devido à sua rebelião contra Moisés, o. autoridade representativa
de Deus (Nm 12:1-10). A lepra de Naamã foi purificada por causa da sua
obediência (2Rs 5:1, 9-14). Todos os seres humanos caídos tornaram-se
leprosos aos olhos de Deus por causa da rebelião deles. A lepra é a
expressão da rebelião. A rebelião é interior e a lepra é a manifestação
exterior. Agora o Salvador real veio para salvar os homens da rebelião
deles e purificá-los da sua lepra para que possam tornar-se o Seu povo
do reino.
A lepra é uma doença imunda. No Antigo Testamento um leproso
tinha de ser excluído do acampamento dos filhos de Israel até que
estivesse purificado. Isso indica que alguém que é rebelde no meio do
povo de Deus e, portanto, torna-se leproso, será excluído da comunhão do
povo de Deus até que seja curado. O leproso aqui representa os judeus. Os
judeus tornaram-se rebeldes contra Deus. Assim, aos olhos de Deus eles
são leprosos. Entretanto o Rei celestial veio primeiro para eles não para
julgá-los, mas para curá-los. Conforme o Senhor indicou em 9:12, Ele veio
como um Médico para curar o doente. Ele veio primeiramente para
alcançar os judeus a fim de curá-los e trazer-lhes salvação.

3. O Rei Estende Sua Mão e Toca-o para Purificá-lo


O versículo 3 diz: “E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo:
Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra”. De
acordo com a lei, um leproso deveria ser excluído do povo por causa da
sua impureza. Ninguém poderia tocá-lo (Lv 13:45-46). Mas o novo Rei,
como um homem e como o Salvador real tocou-o. Que misericórdia e
compaixão! Por um único toque Seu, imediatamente a lepra dele foi
purificada. Que purificação maravilhosa!

4. O Leproso Purificado Foi Instruído pelo Rei para Fazer


uma Oferta a Fim de Servir de Testemunho ao Povo
210
Mateus 8:4 diz: “Disse-lhe então Jesus: Olha, não o digas a
ninguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés
determinou, para servir de testemunho a eles”. O novo Rei disse ao
leproso purificado para ainda fazer as coisas segundo os regulamentos da
lei antiga para a sua purificação, porque o período transitório ainda
permanecia, uma vez que a velha lei ainda não fora cumprida pela Sua
morte redentora.

B. A Cura do Criado de um Centurião


1. Um Centurião Aproximou-se Dele e Rogou- Lhe pela Cura
de Seu Criado
Após o Senhor ter entrado em Cafarnaum, “aproximou-se Dele um
centurião, implorando-Lhe: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico,
horrivelmente atormentado” (vs. 5-6). Um centurião era um oficial sobre
cem soldados no exército romano. O leproso nos versículos 2 a 4
representa os judeus, enquanto o centurião nos versículos 5 a 13
representa os gentios. Diante de Deus, os judeus tornaram-se leprosos,
impuros, por causa da sua rebelião e desobediência, enquanto os gentios
tornaram-se paralíticos, mortos em função, por causa da pecaminosidade
deles. O Salvador real veio primeiramente para os judeus e, então, para os
gentios (At 3:26; 13:46; Rm 1:16; 11:11). Os judeus crentes são salvos pelo
Seu toque direto (v. 3), enquanto os crentes gentios são salvos pela fé em
Sua palavra (vs. 8, 10, 13).
2. O Centurião, que Conhece Autoridade, Rogou
apenas por uma Palavra
Quando o Senhor disse ao centurião que Ele iria e curaria seu
servo, o centurião respondeu: “Senhor, não sou digno de que entres
debaixo do meu teto; mas apenas dize uma palavra, e o meu criado será
curado” (v. 8). O centurião gentio reconheceu a autoridade do Salvador
real e percebeu que a autoridade para curar estava em Sua palavra. Assim
ele creu não apenas no Salvador real, como também em Sua palavra,
pedindo-Lhe não para ir pessoalmente, mas apenas para enviar Sua
palavra. Essa é uma fé poderosa e foi admirada pelo Salvador (v. 10).

3. A Admiração do Rei pela Fé do Centurião Gentio e a


Indicação de que Muitos Gentios
Participarão do Desfrute do Reino
O versículo 10 revela que o Senhor Jesus admirou-se da fé do
centurião e disse: “Em verdade vos afirmo: Em ninguém de Israel achei
tamanha fé”. Portanto, nos versículos 11 e 12 o Senhor disse que muitos
viriam do Oriente e do Ocidente para reclinar-se com Abraão, Isaque e
Jacó no reino dos céus, mas que os filhos do reino seriam lançados para
fora, nas trevas exteriores. Isso indica que os gentios participarão do
211
evang3:6, 8; Gl 2:8-9; Rm 1:13-16). A referência ao reino dos céus no
versículo 11 diz respeito à manifestação do reino dos céus. Será na
manifestação do reino que os crentes gentios vencedores festejarão com
Abraão, Isaque e Jacó.
Os filhos do reino no versículo 12 referem-se aos judeus que são a
boa semente (13:38), mas que não têm a fé poderosa que os capacita a
entrar pela porta estreita e a andar no caminho apertado (7:13-14). Eles
perderão a festa na manifestação do reino (Lc 13:24-30). As trevas
exteriores serão as trevas fora do esplendor da glória na manifestação do
reino dos céus (25:30; 16:28). Ser lançado nas trevas exteriores no reino
vindouro difere de ser lançado no lago de fogo após o milênio e pela
eternidade (A20:15).

4. O Criado do Centurião Foi Curado Conforme a


Fé do Centurião
Mateus 8:13 diz: “Então disse Jesus ao centurião: Vai-te; faça-se
contigo conforme creste. E naquela mesma hora o seu servo foi curado”. O
leproso judeu foi curado pelo contato direto do Rei. O Rei estendeu a mão
e o tocou, e o leproso foi curado. Mas o servo do centurião não foi curado
pelo toque direto do Rei. Antes, foi curado pela palavra do Rei. O
centurião gentio creu nessa palavra e seu servo foi curado. Os judeus
sempre são salvos pelo toque do Rei, mas os gentios são salvos, não pelo
Seu toque direto, mas pelo enviar da Sua palavra salvadora. Cremos nessa
palavra e somos curados. Nenhum de nós, gentios, tivemos um contato
direto do Senhor. Fomos salvos por crer na palavra vivificante e
regeneradora do evangelho. Portanto, o servo do centurião representa
todos os crentes gentios. O Senhor não elogiou a fé do leproso, porque
ali a fé não era a característica importante. A questão significativa era o
toque do Rei. Mas com a cura do criado do centurião, a fé é muito
importante. Portanto, o Senhor louvou a fé do centurião.
Conseqüentemente, o criado foi curado.
O rapaz era paralítico. Ser paralítico significa que o corpo está
sem função. Antes de nós gentios sermos salvos, estávamos
completamente sem função. Os judeus eram leprosos, mas nós
éramos paralíticos, sem função, por causa da nossa pecaminosidade.
Precisamos da salvação curadora do Rei celestial. Ele nos enviou uma
palavra, e nós cremos nela. Portanto, fomos curados, nossa função foi
recobrada, e agora podemos começar a servir nosso Mestre. Somos tal
como o criado que foi curado e capacitado a servir novamente.

C. A Cura da Sogra de Pedro


Os versículos 14 e 15 dizem: “Tendo Jesus entrado na casa de
Pedro, viu a sogra deste acamada e com febre. E tocou-lhe a mão, e a
212
febre a deixou. Ela se levantou e pôs-se a servi-Lo”. A sogra de Pedro
representa os judeus no final desta era que serão salvos por receber o
Salvador real. Naquele tempo, durante a grande tribulação, aos olhos de
Deus os judeus estarão febris (v. 14), quentes em outras coisas além de
Deus. O Salvador real, após a plenitude da salvação dos gentios, voltará a
esse remanescente judeu para que possam ser salvos (Rm 11:25-26; Zc
12:10). A sogra de Pedra foi curada na casa de Pedro, que representa a
casa de Israel. No final desta era, todo o remanescente dos judeus será
salvo na casa de Israel. Eles também serão salvos pelo toque direto do
Salvador real (v. 15), como foi o judeu leproso (v. 3).
No final desta era a salvação voltará dos gentios para os judeus.
Entretanto, não voltará aos judeus dispersos, mas aos judeus na casa de
Israel. Naquele tempo, os judeus estarão enfermos com febre. Isso é até
mesmo verdade aos judeus hoje. Tantos deles estão fervendo de ciência,
finanças, educação e com todas as atividades mundanas. Mas aos olhos
de Deus tudo isso é febre. A temperatura dos judeus hoje é muito alta no
fervor deles pela política, indústria, agricultura e guerra. Eles são
representados pela sogra febril de Pedro. Mas nesse calor e febre eles não
confiam em Deus nem se importam com amoralidade. Assim como o
Senhor curou a sogra de Pedro, igualmente Ele voltará novamente no
final desta era para curar os judeus que estarão ardentes, queimando
em febre. Ele não os curará pela fé deles, mas por intermédio do Seu
toque direto. Na segunda vinda do Senhor, os judeus serão tocados
diretamente pela Sua vida e serão salvos.
Imediatamente após a sogra de Pedro ter sido curada, ela se
levantou e serviu ao Senhor (v. 15). Isso significa que na volta do
Senhor, o remanescente dos judeus, após ser salvo, se levantará e servirá a
Ele no milênio.

D. A Cura de Muitos – A Restauração de Toda a Terra no


Milênio

1. Chegada a Tarde
O versículo 16 diz: “Ao cair da tarde, trouxeram- Lhe muitos
endemoninhados; e Ele, com a Sua palavra, expulsou os espíritos, e curou
todos os que estavam doentes”. As palavras “muitos” e “todos os”
representam todas as pessoas da terra no milênio. O milênio será a última
dispensação do velho céu e velha terra; assim é considerado o entardecer
do velho céu e velha terra. Após essa “noite” haverá um novo dia, isto é, o
novo céu e nova terra com a Nova
Jerusalém.

2. Muitos Endemoninhados e Todos os Enfermos Foram


213
Curados – um Antegozo do
Poder da Era Vindoura
N o milênio, haverá o máximo de poder para expulsar os demônios
e curar os enfermos. Portanto, todos os endemoninhados e os enfermos
serão curados. As profecias de Isaías testificam isso (Is 35:5-6). Isso será
uma verdadeira restauração. A expulsão de demônios e a cura de doentes
nesta era são apenas um antegozo do vasto poder da era vindoura. No
versículo 16, após o Senhor haver curado a sogra de Pedro, quando a noite
veio, Ele curou muitos que estavam endemoninhados e todos que
estavam doentes. Isso indica que após Cristo vir e os judeus serem
salvos, terá início o milênio. Naquele período, todas as enfermidades
serão curadas. Assim, os sinais registrados nos versículos 2 a 17 têm um
significado dispensacional.

3. O Cumprimento da Palavra do Profeta


O versículo 17 diz: “Para que se cumprisse o que fora dito por
intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades
e carregou com as nossas doenças”. Todas as curas realizadas nas pessoas
caídas são graças à redenção do Senhor. Ele tomou nossas enfermidades e
carregou nossas doenças na Sua cruz e realizou lá para nós uma cura total.
Entretanto, a aplicação da cura pelo poder divino apenas pode ser um
ante gozo nesta era; a amostra completa ocorrerá na era vindoura.

II. O CAMINHO PARA SEGUIR O REI


A. O Rei Ordena Apartar-se da Multidão
O versículo 18 diz: “Vendo Jesus uma multidão ao Seu redor,
ordenou passar para a outra margem”. Em Seu ministério, como
registrado nos quatro Evangelhos, o Senhor sempre afastou-se das
multidões. Ele não queria que os curiosos estivessem com Ele. Ele não se
interessava por grandes multidões, mas apenas por aqueles que O
buscavam sinceramente.

B. Um Escriba Veio para Seguir o Rei


Nos versículos 18 a 22 vemos a maneira de seguir o Rei celestial. A
maneira é revelada por intermédio do caso dos dois que vieram ao Rei. O
primeiro, um escriba, disse-Lhe: “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que
fores”. Ao dizer isso, ele não considerou o custo. Por isso, o Rei respondeu
no versículo 20 de modo a levá-lo a considerar o custo.

C. o Rei Desvenda ao Escriba que Não Tem Onde


Descansar
No versículo 20 o Senhor disse ao escriba que queria segui-Lo: “As
214
raposas têm covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não
tem onde reclinar a cabeça”. Aqui o Senhor referiu-se a Si mesmo como o
Filho do Homem. O novo Rei em Seu ministério real toma continuamente
a posição de Filho do homem até 16:13-17. O Rei do reino não tem nem
mesmo um lugar de descanso, como as raposas e as aves têm. Isso prova
que o reino que Ele estava estabelecendo não possuía material de
natureza terrena, mas espiritual, de natureza celestial. O Senhor parecia
estar dizendo ao escriba: “Você quer seguir-Me? Você subestimou o
preço. Você, um escriba, uma pessoa instruída com uma elevada posição
na sociedade deve perceber que Eu não sou nada e que não tenho nada.
Possuo até mesmo menos do que os pássaros e as raposas, porque não
tenho onde descansar a cabeça”. Creio que o escriba ficou desapontado e
não O seguiu. O princípio de seguir o Senhor é o mesmo hoje. Devemos
considerar o custo. Ao seguir esse Rei, não há desfrute material.

D. Outro Discípulo Pede Permissão para Primeiro


Sepultar Seu Pai
O versículo 21 diz: “E outro dos discípulos Lhe disse: Senhor,
permite-me ir primeiro sepultar meu pai”. Ao dizer isso, esse discípulo,
que não era um escriba, superestimou o preço de seguir o Rei do reino
celestial. Esse discípulo, aparentemente prevenido pelo primeiro caso,
superestimou o preço. Ele parecia dizer ao Senhor: “Eu Te seguirei, mas
meu pai morreu. Deixe-me primeiro voltar para enterrá-lo, e, então,
voltarei para seguir-Te'.

E. O Rei Diz ao Discípulo para Segui-Lo e Deixar os


Mortos para os Mortos
Porque esse discípulo superestimou o preço de seguir o Rei, este
responde-lhe de modo a encorajá-lo a segui-Lo e desistir de considerar o
custo, deixando o enterro de seu pai para outros. O Senhor disse: “Segue-
Me, e deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos”. Quão
maravilhoso é o Senhor Jesus! Ele propositadamente desapontou o
primeiro e deliberadamente encorajou o segundo. O Senhor era muito
sábio ao lidar com as pessoas. Se eu fosse o Senhor Jesus, teria ficado
empolgado em ouvir que um escriba queria seguir-me, e o teria
encorajado a fazê-lo. O Senhor, entretanto, foi frio com ele e não o
encorajou. Antes, Ele parecia dizer: “Você me seguirá? Você tem uma boa
cama, um lugar confortável para repousar a cabeça. Mas se você Me
seguir, não terá nem lugar para descansar a cabeça. Tenho até mesmo
menos do que as aves e as raposas têm”. Assim, Ele desencorajou essa
pessoa da alta classe. Mas ao discípulo que foi advertido por esse caso de
não seguir o Senhor de uma maneira leve ou desleixada, o Senhor deu
uma palavra de encorajamento. A palavra do Senhor encorajou-o a
esquecer de todas as preparações que estava fazendo, para deixar os
mortos enterrarem os mortos, e segui- Lo.
Por esses dois casos vemos que não é fácil contatar as pessoas.
215
Como trataria com esses dois se eles viessem a você hoje? Provavelmente
aceitaria a ambos. Entretanto, o Senhor fez distinção entre eles,
desencorajando um e encorajando outro.
Nesses dois casos vemos a maneira de seguir o Rei celestial.
Primeiro, quando O seguimos, não devemos esperar ter qualquer desfrute
material. Segundo, para segui-Lo, devemos ignorar as exigências dos
mortos. O Senhor disse aos discípulos para “deixar os mortos sepultar os
seus próprios mortos”. O primeiro morto refere-se às pessoas
espiritualmente mortas, como mencionado em Efésios 2:1-5; o segundo
refere-se ao pai fisicamente morto do discípulo. Finalmente, aqueles que
são espiritualmente mortos cumprirão a tarefa de enterrar os
fisicamente mortos. Por meio dessa experiência aprendemos que não
devemos voltar para realizar a tarefa pelos mortos. Deixe os mortos
fazerem essas tarefas em benefício dos mortos. Somos os vivos e devemos
continuar a seguir o Rei. Mas não espere qualquer desfrute material,
porque você poderá não ter nenhum ninho, nenhum abrigo, nenhum
lugar para descansar a cabeça. Se não esperar qualquer desfrute material
e se deixar a tarefa dos mortos para os mortos, você poderá continuar a
segui-Lo.

MENSAGEM 26

A CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO DO REI (2)

III. A AUTORIDADE DO REI


Em 8:23-9:8 vemos a autoridade do Rei. A seqüência de Mateus é
maravilhosa. Após o Rei ter revelado que nada possuía, nem mesmo um
lar ou um lugar para descansar, e de não permitir a Seus seguidores
realizar as obrigações dos mortos, o registro de Mateus revela a
autoridade desse Rei. Embora nada tivesse, Ele tinha autoridade. Em
8:23- 9:8 essa autoridade tem três aspectos: a autoridade sobre o vento e
o mar (8:23-27), sobre os demônios (8:28-34) e a autoridade para
perdoar pecados (9:1- 8).

A. Sobre o Vento e o Mar


A autoridade do Senhor foi manifestada sobre o vento e o mar. Essa
não é uma autoridade comum; antes, deve ser considerada como uma
autoridade extraordinária. O Senhor e Seus discípulos estavam em um
barco, e “eis que se levantou no mar uma grande tempestade, de sorte que
o barco era encoberto pelas ondas” (v. 24). Quando os discípulos,
temendo perecer, foram acordar o Senhor (v. 25), Ele disse: “Por que sois
covardes, homens de pouca fé?” (v. 26). A fé vem da palavra do Senhor e
216
está baseada nessa palavra (Rm 10:17). O Senhor deu a eles a palavra no
versículo 18 ordenando “passar para a outra margem”. Se tivessem crido
naquela palavra, não haveria necessidade de orar como fizeram no
versículo 25. A percepção deles da palavra do Senhor não foi completa;
assim eles eram os de pouca fé.
O versículo 26 diz: “Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o
mar; e fez-se grande bonança”. Enquanto o Senhor e os discípulos
estavam navegando pelo mar para expulsar os demônios, alguma coisa no
ar e sob o mar começou a causar-lhes dificuldade. No ar havia os anjos
caídos, e na água havia os demônios. Assim, a ordem do Senhor não foi, na
verdade, dada ao vento ou ao mar, mas aos anjos caídos no ar e aos
demônios debaixo da água. Uma repreensão nunca é dada a coisas sem
vida, mas a coisas com personalidade. O Rei repreendeu os ventos e o mar
porque no vento estão os anjos caí6:12), e no mar estão os demônios (Mt
8:32). Os anjos caídos no are os demônios na água cooperaram para
impedir o Rei de ir ao outro lado do mar, porque eles sabiam que lá Ele
expulsaria os demônios (vs. 28-32). Tão logo o Rei ordenou aos anjos
caídos e aos demônios que parassem, eles imediatamente obedeceram, e
houve grande bonança. A grande bonança era um contraste à medida da fé
deles, que era pouca (v. 26).
O versículo 27 diz: “E maravilharam-se os homens, dizendo: Quem
é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?” Na verdade, não era o
vento e o mar, mas os anjos caídos no céu e os demônios sob o mar que
obedeceram à autoridade do Rei. Portanto, nos versículos 23 a 27 vemos
uma manifestação da autoridade sobrenatural do Rei. Ele não tinha ninho
nem covil nem lugar para descansar a cabeça; entretanto, Ele tinha a
autoridade sobrenatural sobre o ambiente natural. Ele está inteiramente
qualificado para ser o Rei celestial do reino celestial. Além Dele, jamais
houve na terra um Rei com tal autoridade extraordinária.

B. Sobre os Demônios
Quando o Senhor Jesus veio à terra dos gadarenos, vieram-Lhe ao
encontro dois deles que estavam possuídos por demônios. Ao
encontrarem o Senhor Jesus, gritaram dizendo: “Que temos nós Contigo,
Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (v. 29). O
Rei chamou a Si mesmo de Filho do Homem (v. 20), mas os demônios O
chamaram Filho de Deus, tentando-O a apartar-se da Sua posição de
Filho do Homem. Os demônios perguntaram-Lhe se tinha vindo
atormentá-los antes do tempo. As palavras “antes do tempo”
implicam que Deus havia determinado um tempo para que os demônios
fossem atormentados e que os demônios conheciam esse tempo. Será
após o milênio e pela eternidade 1.
Os demônios, não querendo ser atormentados antes do tempo,
rogaram ao Senhor Jesus, dizendo: “Se nos expulsas, manda-nos para a
manada dos porcos” (v. 31). O fato de os demônios rogarem-Lhe indica
217
que eles estavam sob o poder e autoridade do Rei. O versículo 32 diz: “Ide,
disse-lhes Jesus. E eles, saindo, entraram nos porcos; e eis que toda a
manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, e nas
águas pereceram”. A palavra “ide” era uma ordem oficial do Rei, e os
demônios a obedeceram. O Rei aceitou o clamor dos demônios para
entrar nos porcos, porque os porcos são impuros aos olhos de Deus (L v
11:7). Incapazes de tolerar ser possuídos pelos demônios, os porcos
lançaram-se ao mar. Os demônios concordaram com isso, porque a água
é o lugar de habitação deles (12:43-44).
'Ver Estudo-Vida de Apocalipse, mensagem 57. (N. T) A intenção do
Senhor ao permitir que os demônios entrassem nos porcos, não era
prejudicar o trabalho dos seus criadores. Os porcos são sujos aos olhos de
Deus, por isso o Senhor Jesus destruiu a ocupação impura deles na
expectativa de que os que se ocupavam com isso fossem salvos e
voltassem a Ele. Os porcos, sendo impuros e condenados por Deus, não
deveriam estar presentes.
Quando a notícia sobre os porcos chegou aos seus proprietários,
eles ficaram ofendidos. O versículo 34 diz: “E eis que a cidade toda saiu
para encontrar-se com Jesus; e, vendo-O, rogaram-Lhe que se retirasse
das suas fronteiras”. Eles rogaram ao Senhor Jesus para se retirar, e
Ele partiu (9:1). O povo da cidade, tendo perdido os seus porcos,
rejeitou o Rei. Eles queriam os seus porcos impuros, mas não o Rei do
reino celestial. Provavelmente fossem gentios (Gadara ficava às margens
do mar da Galiléia, do lado oposto à Galiléia dos gentios-4:15). Eles
rejeitaram o Rei celestial por causa da maneira impura deles de ganhar a
vida.
A vinda do Rei a essa região pôs tudo em ordem. Não apenas os
demônios foram expulsos dos dois homens, mas os porcos foram
afogados. Conseqüentemente, toda a região foi purificada e os demônios
retomaram ao seu lugar de habitação. Essa foi uma exibição da autoridade
do Senhor

C. Perdoar Pecados
Em 9:1-8 vemos a autoridade do Rei para perdoar pecados. Após o
Senhor ter chegado à Sua cidade, Cafarnaum, onde Ele agora habitava
(4:13), um paralítico foi levado a Ele. O versículo 2 diz: “E eis que Lhe
trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé, Jesus disse
ao paralítico: Tem ânimo, filho; perdoados são os teus pecados”. Os
homens que trouxeram o paralítico ao Senhor Jesus descobriram o
telhado sobre o lugar onde o Senhor estava e fizeram uma abertura (Me
2:4). Por meio disso o Senhor viu a fé deles. A menção de pecados no
versículo 2 indica que o paralítico estava doente por causa dos seus
pecados.
O versículo 3 diz: “Mas alguns escribas diziam consigo: Este
blasfema”. Os escribas, supondo que conheciam as Escrituras, pensavam
218
que apenas Deus tinha autoridade para perdoar pecados, e que Jesus,
que aos olhos deles era apenas um homem,
blasfemava contra Deus quando dizia “estão
perdoados os teus pecados”. Isso indica que eles não perceberam que o
Senhor era Deus. Ao proferir tal palavra, eles rejeitaram o Rei do reino
celestial. Essa foi a primeira rejeição dos líderes da religião judaica. De
acordo com os escribas, o Senhor Jesus estava arrogando-se ser
Deus e blasfemando contra Ele. Mas o SenhorJesus, é
claro, absolutamente não blasfemava, porque Ele é Deus. Como Deus,
Ele não apenas tem autoridade sobre o ambiente natural e sobre
os demônios; Ele também tem toda a
autoridade para perdoar as pessoas dos seus pecados. O Senhor percebeu
em Seu espírito (Me 2:8) o arrazoamento dos escribas. Os versículos 4 e 5
dizem: “E Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Porque
cogitais coisas malignas em vossos corações? Pois qual é mais fácil,
dizer: Perdoados são os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?” A
expressão grega aqui traduzida para “pensamentos” também significa
cogitações, suspeitas maldosas com sentimentos
fortes ou passionais. Os escribas não precisaram expressar seus
pensamentos porque o Senhor Jesus, pela percepção do Seu espírito, foi
capaz de discernir os pensamentos no interior do coração deles, e
interrogou-os acerca disso. A percepção do Senhor dos
pensamentos dos escribas indica que verdadeiramente Ele é Deus. Se Ele
não fosse Deus, como poderia ter conhecimento dessas coisas? Note que o
Senhor não disse “Que é mais difícil?”, porque para Ele nada é difícil.
Para Ele, dizer “Perdoados são os teus pecados” era mais fácil do que
dizer “Levanta-te e anda”, porque ninguém sabe se os pecados de alguém
estão perdoados ou não. Portanto, é fácil dizer isso. O levantar e andar do
paralítico provam que seus pecados foram perdoados.
A salvação do Senhor não apenas perdoa nossos pecados, mas
também nos faz levantar e andar. Não é levantar e andar primeiro e,
então, ser perdoado de nossos pecados; isso seria por obras. Antes, é ser
primeiro perdoado de nossos pecados e, então, levantar e andar; isso é
pela graça.
O versículo 6 diz: “Mas para que saibais que o Filho do Homem tem
sobre a terra autoridade para perdoar pecados disse então ao paralítico:
Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa”. Perdoar pecados é uma
questão de autoridade na terra. Apenas esse Salvador real, que foi
autorizado por Deus e que morreu para redimir os pecados, tem tal
autoridad5:31; 10:43; 13:38). Essa autoridade era para o estabelecimento
do reino dos céus (Mt 16:19).
O Senhor capacitou o paralítico não apenas a andar, mas também a
pegar o seu leito e andar.
Outrora o leito o carregou; agora ele carrega o leito. Esse é o
poder da salvação do Senhor. Esse paralítico foi trazido ao Senhor pelos
outros, mas foi para casa por si mesmo. Isso indica que por si mesmo o
pecador não consegue ir ao Senhor, mas que mediante a salvação do

219
Senhor o pecador pode partir por si mesmo.
O versículo 7 diz: “E, levantando-se, foi para sua casa”. O fato de o
paralítico levantar-se e partir provou que ele foi curado, e a sua cura
provou que seus pecados foram perdoados. Essa era uma prova forte de
que o Senhor Jesus tinha a autoridade para perdoar os pecados do povo.
O que esses casos revelam a nós não é o poder de Cristo, mas a autoridade
do Rei celestial. A autoridade, é claro, é sustentada pelo poder.
Entretanto, a autoridade é mais elevada que o poder. Alguns podem ter
poder, mas sem autoridade. Para que Jesus, o Senhor, fosse vindicado
como o Rei celestial, havia necessidade de que Ele mostrasse a Seus
seguidores Sua autoridade. Essa autoridade é para lidar com as coisas
negativas, o ambiente de oposição instigado pelos espíritos malignos, os
demônios e os pecados que corrompem. Cristo, como o Rei celestial, tem
toda a autoridade para lidar com tudo isso, e todos são subjugados sob a
Sua autoridade. Isso traz o estabelecimento do Seu reino celestial na terra.
Se reunirmos esses casos registrados em 8:1-9:8, vemos uma clara
figura de quem é esse Rei celestial. Ele é o Salvador dos judeus e
também dos gentios. Ele será o Salvador dos judeus arrependidos e
também será Aquele que restaurará toda a terra no milênio. Ele tem
autoridade sobre o vento, o mar e os demônios. Ele também tem
autoridade para perdoar às pessoas seus pecados e fazer essas pessoas
levantar e andar. Se quisermos seguir esse Rei celestial, não devemos
esperar qualquer desfrute material, e também precisamos ignorar as
obrigações dos mortos e suas tarefas. A visão panorâmica dessa porção da
Palavra fornece um retrato vívido de quem é o Rei celestial.

220
MENSAGEM 27

A CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO DO REI (3)

IV. BANQUETEIA COM OS PECADORES


Em 9:9-17 chegamos a uma bela, doce e íntima porção do
Evangelho de Mateus. Depois que o Rei decretou a constituição do reino
dos céus e manifestou a Sua autoridade como o Rei em muitas situações,
em 9:9-13 nós O vemos banqueteando com pecadores.

A. O Chamamento de Mateus
Em 9:9 temos o chamamento de Mateus. Este versículo diz:
“Partindo Jesus dali, viu um homem, chamado Mateus, sentado na
coletoria, e disse-lhe: Segue-Me! Ele se levantou e O seguiu”. Mateus era
também chamado de Levi (Me 2:14; Lc 5:27). Ele era um coletor de
impostos que se tornou um apóstolo pela graça de Deus (Mt 10:2-3; At
1:13, 26). Ele foi o escritor desse Evangelho.
O chamamento de Mateus foi um pouco diferente do chamamento
de Pedra, André, Tiago e João. Quando Pedro e André foram chamados,
eles estavam lançando redes ao mar; e quando Tiago e João foram
chamados, eles estavam remendando suas redes. O Senhor os chamou,
eles deixaram seu trabalho e seguiram-N o. Quando o Senhor Jesus estava
passando pela coletoria, onde os coletores de impostos ficavam, Ele viu
Mateus e o chamou, e Mateus seguiu-O. De acordo com o registro em 9:9
parece que aquela era a primeira vez que o Senhor encontrava
Mateus. Deve ter havido algum poder de atração no Senhor ou em Sua
palavra ou aparência que fizesse com que Mateus O seguisse.
Seguir o Senhor inclui crer Nele. Ninguém O segue a menos que
creia Nele. Crer no Senhor é ser salvo (At 16:31), e segui-Lo é entrar pela
porta estreita e andar no caminho apertado para parti7:13- 14).

B. Uma Festa Preparada para o Rei


O versículo 10 diz: “E sucedeu que, estando Ele reclinado à mesa na
casa, eis que muitos cobradores de impostos e pecadores vieram e
reclinaram-se com Jesus e Seus discípulos”. A casa mencionada nesse
versículo era a casa de Mateus (Lc 5:29; Me 2:15). Como o escritor desse
Evangelho, Mateus propositadamente não registrou que aquela era a sua
casa e que foi ele quem fez um grande banquete para o Senhor. Com isso
ele demonstrou sua humildade. Mas Lucas 5:29 disse claramente que
Levi, isto é, Mateus, “Lhe ofereceu (...) um grande banquete em sua casa”.
Portanto, Mateus abriu sua casa e preparou uma grande festa para o
Senhor e Seus discípulos.

C. Muitos Cobradores de Impostos e Pecadores


221
Participaram do Banquete com o
Rei e Seus Discípulos
O versículo 10 diz que “muitos cobradores de impostos e pecadores
vieram e reclinaram-se com Jesus e Seus discípulos”. Isso revela que tipo
de pessoa Mateus era. Ele era um pecador, um coletor de impostos
desprezado, que tinha muitos pecadores como seus amigos. Se ele não
fosse essa pessoa vulgar, por que haveria somente coletores de impostos e
pecadores e não os da alta sociedade banqueteando na casa de Mateus
com o Senhor Jesus? Embora Mateus fosse tal pessoa vulgar, ele tomou-
se não apenas um discípulo, mas um dos doze apóstolos.
Um coletor de impostos era uma pessoa desprezada. Quase todos os
coletores de impostos abusavam da sua posição para exigir mais do que
poderiam por meio de falsas acusações (Lc 3:12-13; 19:2, 8). Pagar
impostos aos romanos era muito doloroso para os judeus. Aqueles
contratados para cobrá-los eram desprezados pelo povo e considerados
indignos de respeito (Lc 18:9-1 O). Conseqüentemente, eles eram inclui
dos entre os pecadores (Mt 9:10-11). Como devemos adorar o Senhor
porque mesmo uma pessoa de tão pouca dignidade como Mateus, debaixo
da misericórdia de Deus e pela Sua graça, pôde tomar-se um apóstolo!
Após ser salvo, Mateus ficou tão grato ao Senhor que abriu sua casa e
preparou uma festa para Ele e Seus discípulos. Assim, essa seção da
Palavra inicia de tal maneira doce e íntima.

D. Os Fariseus Condenam o Rei por Comer com


Cobradores de Impostos e Pecadores
O versículo 11 diz: “Vendo isso os fariseus, perguntavam aos
discípulos Dele: Por que come o vosso Mestre com os cobradores de
impostos e pecadores?” Os fariseus, a seita religiosa mais rigorosa dos
judeus, se orgulhavam da sua santidade de vida superior, devoção a Deus
e conhecimento das Escrituras. Enquanto o Senhor Jesus estava
desfrutando o banquete com todos os cobradores de impostos e
pecadores, os fariseus criticavam e condenavam-No, e perguntavam aos
discípulos por que o mestre deles comia com tais pessoas. Essa questão
indica que os fariseus que se consideravam justos não conheciam a graça
de Deus. Eles supunham que Deus lida com o homem apenas segundo a
justiça. Ao perguntar isso, eles foram expostos como dissidentes do Rei
celestial, rejeitando-O assim. Essa é uma continuação da rejeição do Rei
celestial iniciada no versículo 3 pelos lideres da religião judaica.

E. O Senhor Revelou-se como o Médico


e como Aquele que Veio Chamar Pecadores
O Senhor aproveitou a oportunidade propiciada pela pergunta dos
fariseus para dar uma revelação muito doce de Si mesmo como o Médico.
No versículo 12 vemos a resposta do Senhor à pergunta dos fariseus: “Os
222
sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes”. O Senhor estava
mostrando aos fariseus que esses publicanos e pecadores eram os
pacientes, os doentes, e que para eles o Senhor não era um juiz, mas um
médico, Aquele que cura. Ao chamar as pessoas para segui-Lo por causa
do reino, o Rei do reino celestial ministrou como um médico, não como
um juiz. O julgamento do juiz é conforme a justiça, enquanto a cura do
médico é segundo a misericórdia e graça. Aqueles a quem Ele tomou
pessoas do Seu reino celestial eram leprosos (8:2-4), paralíticos (8:5- 13;
9:2-8), febris (8:14-15), endemoninhados (8:16, 28-32), afligidos com toda
espécie de enfermidade (8:16), publicanos desprezados e pecadores (9:9-
11).
Se Ele tivesse visitado essas pessoas miseráveis como um juiz, todos
teriam sido condenados e reeitados, e ninguém teria sido qualificado,
escolhido e chamado para ser o povo do Seu reino celestial. Mas Ele
veio para ministrar como ummédico, para curar, restaurar,
avivar e salvar as pessoas, de tal modo que possam ser reconstituídas
para serem Seus novos e celestiais cidadãos, com quem Ele
poderia estabelecer Seu reino celestial nesta terra corrupta. A
palavra do Senhor aqui implica que os fariseus que se consideram
justos não reconheciam que necessitavam
Dele como um médico. Eles consideravam-se sãos;
assim, cegados pela sua justiça
própria, eles não sabiam que estavam doentes. Os fariseus que
se consideravam justos criticavam o Senhor Jesus e
condenavam todas aquelas pessoas impuras. Mas o Senhor parecia dizer:
“Essas pessoas não são impuras; são enfermas. Eu não vim como um juiz
para condená-las, mas como um médico, como Aquele amável, querido e
intimo que cura”. Quando o Senhor Jesus estava falando essas palavras,
Ele estava certamente indicando que os fariseus, que se consideravam
justos, eram, na verdade, doentes tanto quanto os
outros.
O Senhor Jesus deu uma palavra adicional no versículo 13: “Ide,
porém, e aprendei o que significa: “Misericórdia quero, e não sacrifício”;
pois não vim chamar justos, e, sim, pecadores”. Os fariseus que se
consideravam justos pensavam que conheciam tudo com respeito aDeus.
A fim de humilhá-los, o Senhor disse-lhes para aprenderem mais.
Misericórdia é uma parte da graça e é algo que o homem recebe de
Deus. Mas a justiça própria do homem não gosta de receber
misericórdia ou graça de Deus; prefere oferecer sacrifícios a Deus, dar
algo a Deus. Isso contradiz a maneira de Deus em Sua economia. Assim
como Deus deseja mostrar misericórdia aos pecadores miseráveis, assim
Ele quer também mostrar misericórdia a outros em amor (Mq 6:6-8; Me
12:33).
O Senhor diz aqui que Ele não veio chamar justos, mas pecadores.
Na verdade, não há justo, nem sequer um (Rm 3:10). Todos os justos
justificam-se como os fariseus (Lc 18:9). O Salvador real não veio chamá-
los, mas aos pecadores. Os fariseus se orgulhavam do seu conhecimento
223
das Escrituras, e achavam que conheciam a Bíblia muito bem. Mas aqui o
Senhor Jesus disse-lhes para ir e aprender algo, aprender o significado da
palavra “Misericórdia quero, e não sacrifício”. O Senhor parecia estar
dizendo aos fariseus: “Vocês, fariseus, que se consideram justos,
condenam essas pessoas sem misericórdia. Mas Deus deseja
misericórdia. Agora é a hora para Eu exercitar a misericórdia de Deus
sobre esse povo miserável, sendo um médico para eles. Eu não estou aqui
como um juiz. Estou aqui como um médico amável para cuidar dos seus
problemas, e agora Eu os estou curando”.
Você é justo? Se disser: “Não, eu não sou justo”, você é bem-
aventurado. Bem-aventurados são os que não se consideram justos, mas
que reconhecem que são pecadores. A razão para isso é que o Senhor não
veio chamar os justos, mas os pecadores. O Senhor podia dizer aos que se
consideram justos: “Se você se considera justo, minha vinda não é para
você, porque Eu vim para os pecadores. Não se considere justo. Antes,
você deve perceber quão pecador é. Se você se considera um pecador,
então está preparado para Minha vinda”.
Sem o ambiente retratado nesses versículos, o Senhor Jesus não
teria tido a oportunidade para revelar-se como o Médico. O Senhor não
disse simplesmente aos Seus discípulos: “Você deve saber que Eu não vim
como um juiz, mas como um médico”. Isso teria sido meramente uma
doutrina. Enquanto o Senhor estava banqueteando com todos aqueles
enfermos, Ele revelou-se como o Médico. Aqueles publicanos e pecadores
não eram fisicamente doentes; eram espiritualmente doentes. Enquanto
o Senhor Jesus estava banqueteando com eles, Ele os estava curando. O
Senhor estava falando aos fariseus: “Fariseus, vocês são os juízes, mas Eu
sou o Médico. Como um Médico, posso curar apenas os doentes. Se acham
que não estão doentes, então nada tenho a ver com vocês, Eu não posso
curá-los. Eu vim aqui para chamar os pecadores, os doentes, não os
justos, os sadios. De qual lado vocês estão do lado dos justos ou do lado
dos pecadores? Se tomar o lado dos pecadores, então Eu estou aqui para
ser seu Médico”.
Mateus revela mais de trinta e três aspectos de Cristo, um dos quais
é Cristo como o Médico. Ele não é apenas nosso Rei, nosso Salvador e
nossa vida; Ele é também nosso Médico. Se ti vermos essa visão, teremos
fé Nele e confiaremos Nele sempre que estivermos doentes fisicamente,
espiritualmente ou mentalmente. Precisamos confiar Nele como nosso
Médico.
O Evangelho de Mateus é um livro do reino; contudo, é também
um livro cheio das riquezas do Rei celestial. Esse Rei celestial é
nosso Médico com autoridade de curar. Sua cura não é simplesmente
uma questão de poder, é uma questão de autoridade. Para curar-nos Ele
não precisa tocar-nos diretamente. Ele precisa apenas
falar uma palavra e Sua autoridade virá
com a Sua palavra. Lembre-se do caso da cura do servo do centurião. O
centurião disse ao Senhor: “Apenas dize uma palavra, e o meu criado será
curado” (8:8). Além disso, o centurião podia dizer: “Eu sou
também um homem sujeito à autoridade
224
e muitos outros
estão sob minha autoridade. Simplesmente falo uma
palavra, e eles obedecem, porque na minha palavra há autoridade.
Senhor, Tu não precisas vir à
minha casa. Simplesmente dize uma palavra, e a
Tua autoridade virá com a Tua palavra”. A palavra do Senhor nos cura
não com poder, mas com autoridade. Muitos cristãos pensam que o
Senhor nos cura porque Ele é capaz de curar. Esse é um conceito natural.
A cura do Senhor não é uma questão da Sua habilidade de curar; Sua
cura é uma questão de autoridade. Ele simplesmente precisa
dizer: “Enfermidades, vão embora”.
Isso é autoridade. Com essa mesma autoridade Ele é também
inteiramente capaz de ordenar às doenças mentais que desapareçam.
Assim, Ele nos cura com autoridade. Porque os fariseus eram religiosos
e se consideravam justos, o Senhor lidou com eles. Os fariseus
pensavam que os publicanos e pecadores eram rejeitados. Esse era o
conceito religioso deles. O Senhor aproveitou-se da expressão dos
conceitos religiosos dos fariseus para revelar-se como o Médico. Ele
parecia dizer: “Vocês, fariseus, vocês, povo religioso, estão errados. Não
estou aqui como um juiz condenando o povo. Estou aqui como um
Médico para curá-los. E gostaria de curá-los também, se estivessem
dispostos a ser curados”. Quão doce e íntima é essa porção da Palavra!

V. BANQUETEAR COM O NOIVO

A. Os Discípulos de João e os Fariseus


Como um livro de doutrina, Mateus nos apresenta um outro
casoem9:14-17: ocaso de banquetear sem o Noivo. O versículo 14 diz:
“Então chegaram-se a Ele os discípulos de João, perguntando: Por que
jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, mas os Teus discípulos não
jejuam?” Os versículos 10 a 13 registram o tratamento do Senhor na
questão dos fariseus, que estavam na velha religião. Agora nos versículos
14 a 17 o Senhor trata o problema dos discípulos de João que estavam na
nova religião. João Batista renunciou à velha religião e começou seu
ministério no deserto, fora da religião. Entretanto, após curto tempo, seus
discípulos formaram uma nova religião para frustrar o homem de
desfrutar Cristo, assim como fizeram os fariseus na velha religião. O
ministério de João Batista era apresentar o homem a Cristo para que Ele
pudesse tornar-se o Redentor, a vida e tudo para eles. Entretanto,
alguns dos seus discípulos se desviaram do seu alvo, Cristo, para algumas
das práticas de João, e fizeram daquelas práticas uma religião. Ser
religioso significa fazer algo para Deus sem Cristo. Fazer alguma coisa
sem a presença de Cristo, ainda que isso seja escritural e essencial, é
religioso. Tanto os discípulos de João, os da nova religião, como os
fariseus, os da velha religião, jejuavam muito, todavia sem Cristo. Eles
não confessavam Cristo como o Noivo, mas faziam do jejum uma
225
questão de religião. Entretanto, eles condenavam os discípulos de Cristo
que não jejuavam, mas que tinham Cristo com eles e viviam em Sua
presença.
João Batista nasceu sacerdote, mas depois abandonou totalmente
todas as coisas religiosas. Contudo, em menos de três anos depois de ter
sido posto na prisão, seus discípulos formaram uma nova religião, Ter
uma religião é adorar a Deus, servir a Deus e fazer coisas para agradar a
Deus; todavia, sem Cristo. Uma religião é algo que você faz para Deus sem
o Espírito, sem Cristo. Os fariseus fizeram muitas coisas para Deus, mas
Cristo não estava neles. Eles faziam muitas coisas para servir a Deus, mas
sem o Espírito. Agora os discípulos de João Batista estavam jejuando sem
Cristo, sem o Espírito. No entanto, esse jejum era para Deus. Portanto,
eles formavam uma outra religião. Assim, no versículo 14 temos a velha
religião, a religião dos fariseus, e a nova religião, a religião dos discípulos
de João.
Como é fácil ter uma religião! Não pense que você pode ficar livre
da religião simplesmente renunciando à velha maneira e se apegando a
outra maneira. Não importa se a maneira é velha ou nova, é uma religião
uma vez que não tem Cristo e o Espírito nela. Sua nova maneira pode
simplesmente ser sua nova religião. Lembre-se o que é religião: é fazer
coisas para agradar a Deus sem Cristo e o Espírito.
Os fariseus que se consideravam justos, os da velha religião,
ficaram incomodados pelo fato de Cristo fazer-se um companheiro dos
publicanos e pecadores, que eram condenados por eles (v. 11). Eles O
condenavam por comer com os pecadores. Os discípulos jejuadores de
João, os da nova religião, foram perturbados pelo banquete de Cristo e
Seus discípulos (v. 10) e condenaram-nos por não jejuarem. A situação de
hoje é semelhante. Por todos os lados os religiosos nos condenam. Que,
então, devemos fazer? Devemos ficar com o Médico.

B. Não Jejuar com o Noivo


No caso da nova religião, o Senhor não é apenas o Médico, mas
também o Noivo. No versículo 15 o Senhor Jesus disse a eles: “Podem
acaso prantear os companheiros do noivo enquanto o Noivo está com
eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o Noivo, e então
jejuarão”. O Médico e o Noivo são agradáveis. Aprecio a sabedoria do
Senhor. No caso dos fariseus, Ele comparou-se a um médico. Agora no
caso dos discípulos de João, Ele compara-se a um noivo numa festa de
casamento. O Senhor perguntou se os convidados do casamento podem
prantear enquanto o noivo está com eles. Esse é um tempo alegre com o
Noivo. Mas quando o Noivo vai embora, eles podem jejuar.
A frase “companheiros do noivo” refere-se aos discípulos do
Senhor. No período transitório do ministério do Senhor na terra, Seus
discípulos eram os convidados para o casamento. Mais tarde eles se
tomarão a Noiva (103:29; Ap 19:7). O Noivo foi tirado dos convidados
quando o Salvador real ascendeu aos céus à vista dos discípulos (At 1:11).
Depois disso, eles jejuaram (At 13:2-3; 14:23).
226
Ao tratar com os dissensores fariseus da velha religião, e que se
consideravam justos, o Salvador real indicou que Ele era um Médico para
curar os doentes (v. 12). Ao tratar o jejum e a discordância dos discípulos
de João que tinham formado a nova religião, Ele revelou-se como
um Noivo para receber a Noiva. João Batista disse a Seus discípulos que
Cristo era o Noivo para receber a Noiva (Jo 3:25-29). Agora Cristo, o
Salvador real, lembrou alguns deles disso. O Salvador real
primeiramente curou Seus seguidores, então fê-los convidados para o
casamento. Finalmente, Ele fará deles a Sua Noiva. Eles devem
apropriar-se Dele não apenas como Médico para a recuperação da vida
deles, mas também como Noivo para um viver de desfrute em Sua
presença. Eles estavam numa alegre festa de casamento com Ele, não
num triste funeral sem Ele. Como, então,
poderiam jejuar e não festejar diante Dele? Essa pergunta discordante
indica que alguns dos discípulos de João
caíram numa nova religião e também rejeitaram o Salvador
real.
A pergunta dos discípulos de João parecia ser sobre doutrina. Mas
o Senhor não respondeu com uma doutrina, mas com uma Pessoa, a
Pessoa mais amável, o Noivo. As pessoas religiosas sempre se preocupam
com sua doutrina, com seus raciocínios doutrinários. Mas Cristo se
importa apenas com Ele mesmo. O viver e andar dos Seus seguidores
deviam ser regulados e dirigidos apenas por Sua Pessoa e Sua presença,
não por qualquer doutrina.
Seria ridículo para alguém jejuar no casamento. Além do mais,
jejuar enquanto outros estão desfrutando na festa de casamento seria um
insulto para o noivo. Aqui vemos a sabedoria do Senhor. Ele não os
acusou, mas certamente condenou os religiosos. O Senhor parecia estar
dizendo: “Vocês, pessoas religiosas, perderam o alvo. Não percebem que
Eu sou o Noivo e que todos os Meus discípulos à Minha volta são os
convidados do casamento? Eles não deveriam estar em jejum. Eles
devem banquetear Comigo”. Sem esses dois casos, o Senhor Jesus nunca
poderia ter sido revelado como o Médico e o Noivo. Devemos agradecer ao
Senhor pelos fariseus e pelos discípulos de João. Devemos até mesmo
agradecer ao Senhor por todas as religiões, pois sem as ocasiões
oferecidas pela religião o Senhor não poderia ser revelado em tantos
diferentes aspectos. É o mesmo hoje.

227
MENSAGEM 28

A CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO DO REI (4)


Esta mensagem é a continuação da anterior, no trecho de 9:9-17.

C. Não Pôr Remendo de Pano Novo em V este Velha


Em 9:16 o Senhor continua com algo ainda mais belo, doce
e íntimo. Ele disse: “Ninguém põe remendo
de pano novo em veste velha, porque o remendo tira parte da veste, e
fica pior a rotura”. A palavra grega traduzida para “novo” é
agnaphos, formado por um a, que dá um sentido de negação, e gnapto,
que significa cardar ou pentear a lã, portanto, preparar, encolher o pano.
Assim, a palavra significa nãocardado, não-franzido, sem
acabamento, não- encolhido, nãotratado. O
tecido novo representa Cristo desde a Sua encarnação até
a Sua crucificação como um pedaço de pano novo, não-tratado, cru,
enquanto a nova veste em Lucas 5:36 significa Cristo após ser tratado em
Sua crucificação como uma nova veste (a palavra grega para “novo” em
Lucas 5:36 é kainos, o mesmoque a palavra para “novo” em
Mateus 9:17). Cristo era primeiramente o tecido cru para fazer uma
nova veste, e, então, por Sua morte e ressurreição, Ele foi feito uma nova
veste para cobrir- nos como nossa justiça diante de Deus a fim de que
possamos ser justificados por Deus e aceitos por Ele (Lc 15:22; GI3:3:9).
Um pedaço de pano cru posto em uma veste velha tira parte do vestido
pela sua força de encolhimento, fazendo, assim, a rotura. Fazer isso
significa imitar o que Cristo fez em Sua vida humana na terra. Isso é o que
os modernistas hoje estão fazendo. Eles apenas imitam os feitos humanos
de Jesus para melhorar o comportamento deles; eles não crêem no Jesus
crucificado como seu Redentor ou no Cristo ressurreto como a nova veste
deles, para cobri-los como a justiça deles diante de Deus.
A veste velha no versículo 16 significa o bom comportamento do
homem, os feitos bons e as práticas religiosas por sua velha vida natural.
O Senhor Jesus era muito sábio. No versículo 16 Ele não disse: “Vocês,
discípulos de João, devem perceber que suas vestes estão rotas e cheias
de buracos. Ao jejuar vocês estão, na verdade, cortando um pedaço de
veste nova e usando-a para remendar os buracos em suas vestes”. Em vez
de dizer isso diretamente, o Senhor Jesus indicou aos discípulos de João
que eles não tinham uma veste perfeita. Ele indicou que as vestes deles
tinham buracos e que, ao jej uar, eles estavam tentando remendar os
buracos. Nenhum ser humano poderia proferir tal palavra como essa
falada pelo Senhor Jesus no versículo 16. Sua palavra de sabedoria é cheia
de significado, exortação, revelação e instrução. O Senhor estava dizendo
aos discípulos: “Por que vocês perguntam- Me sobre o jejum? O jejum de
vocês é uma maneira de remendar sua veste rota. Pelos jej uns, vocês
mostram que percebem que há buracos em suas vestes que precisam ser
remendados. O mestre de vocês, João, apresentou-os a Mim. Agora estão
228
Me utilizando para remendar seus buracos. Isso significa que estão
cortando um pedaço do Meu tecido cru para remendar os buracos em
suas vestes. Mas Meu tecido está cheio de força de encolhimento. Não
ponha qualquer parte dele em sua velha veste rota. Se o fizer, o buraco se
tornará maior”.
A narrativa em Lucas 5:36 é um tanto diferente da de Mateus 9:16.
Lucas 5:36diz: “Ninguém rasga um retalho de veste nova e o põe em veste
velha”. Note que Mateus diz “pano” e Lucas, “veste”. O Senhor Jesus
assemelhou-se a um pedaço de tecido cru. Isso aponta para o que Ele era
entre Sua encarnação e crucificação. Nesse período Ele era um tecido cru,
novo, que nunca tinha sido enrugado ou tratado. Por meio de Sua morte e
ressurreição esse novo tecido foi tratado e tornou-se uma nova veste. A
intenção do Senhor era dar-se a nós não como um pedaço de pano cru,
mas como uma veste terminada, concluída, que podemos vestir como
nossa justiça para sermos justificados diante de Deus. Após Sua morte e
ressurreição, Ele tornou-se a veste pronta para vestirmos, a fim de que
possamos estar presentes na Sua festa de casamento.
Por que o Senhor Jesus, após dizer-nos que Ele é o Noivo, continuou
falando do tecido novo, da veste nova? Devemos olhar mais
profundamente para discernir seu significado. O Senhor nos disse que o
Noivo está conosco. Mas olhe para si mesmo-você é digno da Sua
presença? Você acha que a sua verdadeira condição aos olhos de Deus é
digna da presença do Noivo? Devemos todos responder “Não”. Tudo o que
temos e tudo o que somos não é digno da presença do Senhor. Para
desfrutar a presença do Senhor precisamos de certas qualificações;
precisamos estar em certa condição e em certa situação. O que somos por
nascimento, o que somos naturalmente, tudo o que podemos fazer e tudo o
que temos, não nos qualifica a estar na presença do Noivo.
O Noivo é Cristo e Cristo é o próprio Deus. Suponha que Deus apareça
a você hoje. Você poderia realmente estar lá? Ele é o Deus santo, o Deus
justo, e como tal é o Noivo. Lembre-se da história do filho pródigo em
Lucas 15. O filho pródigo voltou para casa. O pai, sem dúvida, amava-o
profundamente, mas a condição do filho era absolutamente imprópria
para a presença do pai. Por isso, o pai imediatamente disse a seus servos
para pegar a melhor veste e pôr nele, tomando-o, assim, digno da sua
presença. Nosso Noivo é o próprio Deus. Como podemos nós, pobres
pecadores, desfrutar a presença do Rei celestial? Devemos lembrar o
contexto desses versículos em Mateus 9: O Senhor Jesus estava comendo
com os publicanos e pecadores. Somos “publicanos” e pecadores. Não
estamos qualificados; precisamos de algo para cobrir-nos a fim de que
possamos estar na presença do Senhor. Por isso, após o Senhor ter falado
de Si mesmo como o Noivo, Ele disse que precisamos estar vestidos de
uma nova veste. Quando vestimos a nova veste, somos dignos da Sua
presença. Quando o filho pródigo foi vestido com a melhor roupa, ele
pôde imediatamente ficar na presença do seu honrado pai. A melhor
roupa qualificou-o a desfrutar a presença do pai. Como pecadores e
“publicanos” precisamos estar vestidos com uma nova veste para que

229
possamos ser dignos da presença do Noivo.
Não gosto de apresentar meros ensinamentos e doutrinas-prefiro a
prática, a experiência. Deixem- me conferir com vocês: uma vez que
Cristo tomou-se a nova veste após a Sua ressurreição, como, então,
podemos vesti-Lo? Gálatas 3:27 diz: “Porque todos quantos fostes
batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes”. Devemos revestir-nos
de Cristo, e a maneira de fazê-lo é ser batizado
para dentro Dele. Agora devemos ver como podemos ser batizados para
dentro de Cristo. Vimos que após a Sua ressurreição Cristotornou-se
uma nova veste, mas a Bíblia
também nos diz que após a Sua ressurreição Ele tornou-se um Espírito
que dá vida (1Co 15:45). Se Cristo não fosse o Espírito, como poderíamos
ser batizados para dentro Dele? Ao
ser crucificado, sepultado e ressuscitado,
Cristo tomou-se um pneuma que dá vida,
um sopro que dá vida, o ar que vive. Como o sopro, é tão fácil Ele
entrar em nós, e como o ar, é tão fácil nós entrarmos Nele. Cristo em
ressurreição tomou-se um Espírito. Esse Espírito que dá vida é o Todo-
inclusivo. Nesse Espírito está tudo o que Cristo é e tudo o que Ele
realizou. Esse Espírito todo-inclusivo é o próprio Cristo todo-inclusivo, e
esse Cristo como o Espírito é a nova veste para vestirmos.
Portanto, a veste é o Espírito.
Fomos batizados para dentro de Cristo como o Espírito-é assim que
vestimos Cristo. Cristo é o pneuma, o Espírito todo-inclusivo. Quando
somos batizados para dentro Dele, nós O vestimos. Imediatamente Ele,
como o Espírito, torna-se nossa roupa, nossa cobertura, e somos
qualificados. Portanto, a nova veste que devemos vestir é o próprio
Cristo como o Espírito todo-inclusivo.
Esse é o significado da palavra do Senhor em Mateus 28:19: “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os no nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo”. A realidade do nome está no Espírito.
Batizar as pessoas para dentro do nome significa batizá-las para dentro do
Espírito, que é Cristo como o pneuma todo-inclusivo. Cristo encarnou-se,
viveu na terra, foi crucificado e realizou a redenção, e foi ressuscitado.
Depois de tudo concluído, Ele tomou-se o pneuma todo-inclusivo em Sua
ressurreição. A encarnação está incluída nesse pneuma; a crucificação e
redenção estão incluídas nesse pneuma; a ressurreição, o poder da Sua
ressurreição e a vida de ressurreição estão todos incluídos nesse pneuma.
Quando fomos batizados Nele, fomos batizados para dentro desse
pneuma. Quando fomos batizados Nele, nós O vestimos. Devemos vestir
Cristo como a nova veste, e essa nova veste é o Espírito todo-inclusi vo.
Cristo não é mais o tecido cru. Ele é agora a veste terminada. Nessa veste
terminada temos a redenção, o poder de ressurreição e todos os
elementos da Pessoa divina. Essa nova veste não é apenas um pedaço de
pano, mas o pneuma divino, o Espírito todo-inclusivo, incluindo a
encarnação de Cristo, Sua crucificação, Sua obra redentora, Sua
ressurreição e Seu poder de ressurreição. Agora Ele é a veste concluída
para vestirmos. Aleluia! podemos vestir tal Cristo!
230
D. Não Pôr Vinho Novo em Odres Velhos
Mateus 9:17 diz: “Nem se põe vinho novo em odres velhos; do
contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem.
Mas, põe- se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam”. A
palavra grega traduzida para “novo” nesse versículo é neos, que significa
novo em tempo, recente, jovem. O vinho novo aqui representa Cristo como
a nova vida, plena de vigor, que empolga as pessoas. O vinho novo é a vida
encorajadora de Cristo. A vida divina é comparada ao vinho que tem poder
animador. Quando recebemos Sua vida, ela opera dentro de nós o dia
todo para nos animar e empolgar. Esse vinho novo fortalece-nos, energiza-
nos e nos faz muito felizes. O Salvador real não é apenas o Noivo para o
desfrute do povo do reino, é também a nova veste para equipá-los e
qualificá-los externamente a fim de participarem da festa de casamento.
Ainda mais, Ele é também a nova vida para animá-los interiormente para o
desfrute Dele como o Noivo. Ele, como o Rei celestial, é o Noivo para o
desfrute das pessoas do reino, e o Seu reino celestial é a festa de casamento
(22:2) para que possamos desfrutá-Lo. Para desfrutá-Lo como o Noivo na
festa do reino, eles precisam Dele como a nova veste exterior e o vinho
novo interior.
Considere novamente o exemplo do filho pródigo. Após vestir a
melhor roupa, o filho pródigo ainda poderia dizer: “Ó pai, a melhor roupa
satisfaz a ti, mas não a mim. Eu ainda estou faminto e preciso ser
satisfeito”. Imediatamente o pai ordenou ao servo para matar o novilho
cevado e disse: “Comamos e regozijemo-nos”. Assim, a provisão do pai
não é apenas para algo exterior, mas também para algo interior.
Precisamos de algo para nos cobrir, e também precisamos de algo para
nos preencher. Somos tão pobres exteriormente e tão vazios
interiormente. Precisamos da veste sobre nós por causa do Pai e do novo
vinho dentro de nós por nossa própria causa. Precisamos tanto da nova
veste como do vinho novo. O Senhor é a nova veste para nós, e Ele é
também o novo vinho. Ele é nossa cobertura e também nosso conteúdo.
Ele não apenas nos qualifica, Ele também nos satisfaz. Portanto, Ele é
nossa qualificação e nossa satisfação, a provisão para nossa necessidade
exterior e para toda nossa fome e sede interiores.
No versículo 17 o Senhor disse que não deveríamos colocar o vinho
novo em odres velhos. “Odres velhos” significam práticas religiosas, tal
como o jejum defendido pelos fariseus na velha religião e pelos discípulos
de João na nova religião. Todas as religiões são odres velhos. Vinho novo
colocado em odres velhos arrebenta os odres pelo seu poder fermentador.
Pôr vinho novo em odres velhos é pôr Cristo como a vida estimulante
dentro de algum tipo de religião. Isso é o que os assim chamados
fundamentalistas e pentecostais estão praticando hoje. Eles tentam
colocar Cristo dentro das suas diferentes práticas de rituais e
formalidades religiosas. O povo do reino nunca deve fazer isso. Eles
devem pôr vinho novo em odres novos.
O vinho novo necessita de um odre, um recipiente. Porque o vinho
novo é cheio de poder fermentador, se você colocá-lo num odre velho, o
231
poder fermentador do vinho novo romperá o odre velho. Toda
prática religiosa é um odre velho. Nesse versículo Cristo parece estar
dizendo aos fariseus e aos discípulos de João: “Jejuar é um odre velho.
Não tente colocar o vinho novo da Minha vida dentro do odre das suas
velhas práticas religiosas. O vinho romperá suas práticas religiosas. O
vinho novo da Minha vida requer um odre novo”.
Alguns, de fato, receberam o vinho novo, mas tentaram tomara
vinho novo de volta e derramá-la num odre velho. Tenho visto esse tipo de
tolice por mais de quarenta anos. Muitas pessoas vieram à igreja em sua
expressão local e provaram o vinho novo. Eles disseram: “Isso é
realmente maravilhoso. É disso que a 'minha igreja' precisa”. Então eles
tentaram levar de volta esse vinho novo para aquele odre velho. Sabe que
aconteceu? O odre velho rompeu-se e o vinho novo foi derramado.
Entretanto, se você colocar o vinho novo num odre novo, ambos serão
preservados.
Temos visto que o vinho novo pertence ao odre novo. Mas hoje o
assim chamado movimento carismático foi trazido ao velho odre católico.
Mesmo algumas igrejas católicas têm missas carismáticas. As coisas
carismáticas foram misturadas com a missa e com a adoração a Maria. Que
confusão! Isso é o fermento misturado com a fina flor de farinha (13:33).
Em outras palavras, é o vinho novo colocado dentro do odre velho.
Desconfio que esse vinho não seja mais o vinho novo, porque ele parece
não ter mais poder fermentador. Se ti vesse, o odre velho romperia. Se o
movimento carismático fosse o genuíno vinho novo cheio do poder
fermentador, romperia aquele velho odre católico.

E. Pôr o Vinho Novo em Odres Novos


No versículo 17 o Senhor também disse: “Mas, põe-se vinho novo
em odres novos, e ambos se conservam”. A palavra grega para “novo” é
kainos que significa novo em natureza, qualidade ou forma; sem hábito,
sem uso; portanto, novo. O odre novo representa a vida da igreja na base
da localidade como o recipiente do vinho novo, que é o próprio Cristo
como a vida estimulante. O povo do reino está edificado na igreja (16:18),
e a igreja é expressa na base da localidade na qual eles vivem (18:15-20).
Eles são pessoas regeneradas constituindo o Corpo de Cristo para ser a
igreja (Rm 12:5; Ef 1:22-23). Esse Corpo de Cristo como a Sua plenitude
é também chamado “O Cristo” (1Co 12:12, lit. ), o Cristo corporativo.
O Cristo individual é o vinho novo, a vida que estimula interiormente, e o
Cristo corporativo é o odre novo, o recipiente para reter o vinho novo
exteriormente. Ser o povo do reino não é uma questão de jejuar ou de
qualquer outra prática religiosa, mas é uma questão da vida da igreja com
Cristo como seu conteúdo. Cristo veio não para estabelecer uma religião
com rituais terrenos, mas uma celestial vida do reino, não com algumas
práticas religiosas mortas, mas Consigo mesmo, a Pessoa viva, como o
Médico, o Noivo, o tecido cru e o vinho novo para ser o desfrute dos Seus
seguidores, e eles, o odre novo para contê-Lo e tomarem-se os
constituintes do Seu reino.
232
Vimos, então, que o odre novo é a vida da igreja. A igreja é, na
verdade, a expansão de Cristo. O Cristo individual é o vinho dentro de
nós. Quando esse Cristo individual é expandido e se toma um Cristo
corporativo, isto é a igreja. Esse Cristo corporativo é o odre, o recipiente
para conter o Cristo individual como nosso vinho. Nunca considere a
igreja uma religião; a igreja é uma entidade corporativa cheia de Cristo,
porque a igreja é Cristo expandido.
Cristo não é apenas nossa veste nova e vinho novo, mas sendo
expandido, Ele é também nosso odre novo para conter o vinho. Ele é
nossa qualificação exterior, Ele é nossa satisfação interior e Ele é, de uma
maneira corporativa, a igreja, o Corpo (1Co 12:12), capaz de reter o vinho.
Cristo é tudo. Ele é o Noivo, a veste nova, o vinho novo e também o
vaso corporativo para conter o que desfrutamos Dele. O significado aqui é
muito profundo.
Precisamos ver algo mais com respeito a Cristo corno o odre novo.
A Primeira Epístola aos Coríntios 12:12 diz: “Porque, assim corno o
corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo
muitos, são um só corpo assim é Cristo também” (VRC). Lemos neste
versículo não apenas que os membros compostos juntos são o único
Corpo, mas que esse Corpo é Cristo. Ternos sempre considerado
Cristo corno o Cabeça, mas ternos considerado pouco, se é que o
ternos, que Cristo é também o Corpo. Corno, falando de maneira
prática, Cristo é o Corpo? Ele é o Corpo porque o Corpo é composto de
muitos membros que estão preenchidos com Cristo. Cristo está em
você, Cristo está em mim e Cristo está em cada um de nós. Todos
ternos Cristo dentro de nós. Em 1 Coríntios 1 Paulo disse que Cristo
não está dividido. O Cristo em você é um com o Cristo em mim
e o Cristo em nós é um com o Cristo em todos os outros cristãos.
Portanto, Cristo é o Corpo composto de muitos membros que são
preenchidos com Ele. Esse é o odre novo, que é a vida da igreja para
conter Cristo corno o vinho novo.
Sem o odre, corno poderíamos guardar avinha? Não considere que
você, por si mesmo, corno um indivíduo é o vaso. Não, você é apenas urna
parte do vaso. Corno pode um copo conter água se ele está partido em
pedaços? Corno podem os pedaços conter a água? É impossível. Não
considere que você seja alguém. Você não é ninguém. Você é apenas um
membro do Corpo, urna minúscula parte do Corpo. É certo que alguma
quantidade de sangue está em meu dedo mínimo, mas esse dedo mínimo
é apenas urna parte do meu corpo. Se separá-la do corpo, a corrente
sangüínea nele imediatamente cessará. Em vez de conter o sangue, o
dedo perderá o sangue. No dia em que deixar a vida da igreja, você
233
começará a perder Cristo; o vinho novo começará a escorrer. Nada senão
a vida da igreja pode conter o próprio Cristo que desfrutamos. Nunca
considere a igreja como urna questão insignificante.
Devemos também perceber que o odre não é apenas o recipiente do
vinho, mas também o meio para bebermos o vinho. Muitos de nós podem
testificar que sempre que chegamos à reunião da igreja, descobrimos que
ali é, de fato, o lugar onde podemos beber Cristo. É aqui que bebemos o
Senhor corno nunca antes. A vida da igreja não é meramente um
recipiente, mas um vaso no qual podemos beber. Precisamos de Cristo
corno a nova veste, precisamos de Cristo corno o vinho novo e também
precisamos de Cristo de urna maneira corporativa corno o odre novo.
Precisamos da vida da igreja. Não nos importamos com a religião, formas
ou rituais. Importamo-nos apenas com Cristo em você e com Cristo em
mim. Esse é o odre novo.
Nesse ponto, gostaria de dizer urna palavra aos jovens. Os jovens
podem dizer: “Se ficarmos com os mais velhos, estaremos na religião.
Porém se escaparmos deles, não seremos religiosos”. Esse conceito está
errado. Tudo depende de a igreja ser ou não a expansão de Cristo. Não é
urna questão de idade. Mesmo se todos os bebês se reunissem, eles ainda
poderiam estar na religião, porque não têm Cristo corno seu conteúdo. Se
os mais velhos estão cheios de Cristo e saturados Dele, eles são a igreja,
não importa quão velhos possam ser. Lembre-se que religião é alguma
coisa para Deus, sem Cristo. Mas a igreja é Cristo expandido, é a expansão
de Cristo. E o odre novo é Cristo expandido numa expressão corporativa.
Isso é a igreja. A igreja não é algo para Deus sem Cristo e sem o Espírito.
A igreja é urna entidade que é a expansão de Cristo e que é cheia de
Cristo. A igreja é enchida com Cristo e constituída com Cristo. Não
importa qual seja nossa idade, devemos ser preenchidos com Cristo.
Então quando nos reunirmos, seremos a expressão local da igreja. Isso é o
odre. Não importa quanto poder fermentador haja na vida divina de
Cristo, ele nunca poderá arrebentar a igreja.
Hoje há quatro tipos de cristãos. O primeiro tipo são os chamados
cristãos, mas que não são verdadeiramente cristãos. Eles são os
modernistas, os assim chamados cristãos modernistas. Eles apenas
tomam Cristo como a nova veste. Eles dizem: “Vejam como Jesus viveu.
Ele foi tão pleno de amor e sacrifício. Devemos imitá-Lo e segui-Lo”. Mas
fazer isso é apenas tirar um pedaço de tecido novo e remendar uma veste
velha. Os modernistas estão tentando tomar o tecido cru do viver humano
do Senhor e usá-lo para remendar os buracos no comportamento deles.
Mas esse tecido cru encolhe e torna maior os buracos. Os modernistas não
crêem que Cristo morreu pelos pecados deles na cruz, não crêem que
Cristo seja Deus e não crêem em Sua ressurreição. Eles simplesmente
crêem que devem imitar o viver humano de Jesus.
Os fundamentalistas são o segundo tipo de cristãos. Eles crêem que
Cristo é Deus, que Cristo é o Redentor deles, que Cristo morreu na cruz
pelos seus pecados e que Ele ressuscitou. Os fundamentalistas recebem e
aceitam o Cristo ressurreto como sua justiça. Eles tomam Cristo, não
como um pedaço de tecido novo, mas como a veste nova, concluída.
234
Entretanto, eles sabem pouco da vida interior, o vinho interior. Eles
vestem Cristo como a veste exterior, mas não O bebem como o vinho
interior.
O terceiro tipo de cristãos pode ser chamado cristãos da vida
interior. Eles não apenas vestem Cristo como sua nova veste, mas também
O conhecem como sua vida interior. De fato, eles dão muita ênfase à vida
interior. Os cristãos da vida interior são um progresso em relação aos dois
grupos anteriores. Entretanto, apesar de serem bons, falta- lhes uma
coisa: falta o odre, a vida da igreja. O quarto tipo é o povo da igreja. O
povo da igreja não é modernista. Além disso, eles não são meramente
fundamentalistas nem o povo da vida interior. Eles estão “igrejando”,
porque têm o odre novo.
Nos últimos dias o Senhor está restaurando não apenas a veste
nova-isso Ele restaurou por intermédio de Martinho Lutero na questão
da justificação pela fé. Tampouco está apenas recuperando a vida interior-
isso Ele restaurou por intermédio de alguns, tal como Madame Guyon,
William Law, Andrew Murray e Jessie Penn-Lewis. Agradecemos ao
Senhor por todos esses itens que foram restaurados. Todavia, no final
desta era o Senhor está restaurando o último e máximo item, a vida da
igreja. Os que desfrutam a vida da igreja são o povo da igreja. Entre o
povo da igreja a nova veste,
o novo vinho e o odre novo todos têm sido restaurados. Temos Cristo de
uma maneira corporativa como nossa vida da igreja. O Senhor não parou
com a nova veste ou com o vinho novo. Ele prosseguiu do Noivo para o
tecido novo, do tecido novo para a veste nova, da veste nova para o vinho
novo e do vinho novo para o odre novo. Depois do odre, a igreja, não
há nada mais. A igreja é o objetivo máximo de Deus. Quando chegamos na
igreja, estamos na consumação máxima do propósito de Deus. Assim,
após o odre, o Senhor não mencionou nada além.
Louvado seja o Senhor por ser Ele o nosso
Médico! Depois que Ele nos cura, Ele se torna o nosso Noivo. Ele
é também nossa veste para qualificar-nos e
nosso vinho novo para estimular-nos. Quando vejo o rosto dos irmãos e
irmãs nas reuniões, posso dizer que eles foram estimulados pelo vinho
novo. Como louvamos ao Senhor por esse vinho novo estar em Sua
expansão, o odre novo. Cristo é tudo para nós! Precisamos conhecer
nosso Senhor a tal ponto. Ele não é apenas nosso Rei, nosso Salvador e
nossa vida. Ele é também nosso Médico, e esse
querido Médico é nosso Noivo amado. E esse Noivo tornou-se nossa
veste, nosso vinho novo e, finalmente, o odre.
Estamos agora no odre, na vida da igreja, desfrutando-O em tal alta
medida. Aleluia por Cristo e a Igreja!

235
MENSAGEM 29

A CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO DO REI (5)

E A EXPANSÃO DO MINISTÉRIO DO REI (1)

A CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO DO REI (5)

Em Mateus 9 Cristo é revelado como o Médico, o Noivo e mesmo


como o pano novo, o vinho novo e o odre novo. A seguir, é necessária uma
revelação adicional de Cristo. Essa revelação requer certo ambiente que
capacitará Cristo a ser revelado num outro aspecto. Ter Cristo revelado a
nós não é uma questão de doutrina. Para que Cristo seja revelado, há
sempre a necessidade de um ambiente especial. No capítulo 9 Cristo é
revelado em tantos aspectos doces, amáveis e agradáveis. O ambiente
necessário para a revelação de Cristo no capítulo 9 foi produzido pelo Seu
ministério. Para que Cristo seja revelado a nós, deve haver certo ambiente
e esse ambiente sempre resulta do ministério de Cristo.
Cristocomeçouaministrarnocapítul04. Após chamar os primeiros quatro
discípulos e atrair grandes multidões, Ele subiu ao monte e lá decretou a
constituição do reino dos céus. Depois que desceu do monte, Ele
continuou Seu ministério. Antes de dar a constituição no monte o
ministério de Cristo foi útil para a constituição, mas não foi suficiente
para a revelação adicional de quem Ele é e do que Ele é. A fim de que Ele
fosse revelado como os itens amáveis encontrados no capítulo nove, havia
a necessidade da continuação do Seu ministério. Esse ministério adicional
criou o ambiente para que Ele fosse revelado não apenas como o Rei, mas
também como o Médico, o Noivo, o pano novo, o vinho novo e o odre
novo. Se você não vir esse ministério de tal maneira, se não vir o ambiente
criado por esse ministério para a revelação de Cristo, e não vir todos os
itens do que Cristo é, você poderá ler o Evangelho de Mateus umas cem
vezes e não ganhar nada. Ele poderá parecer a você um livro de histórias
ou de doutrinas. Mas nunca receberá alguma vida desse livro. Se quiser
ver a luz do Evangelho de Mateus, você deve primeiro ver o Rei celestial.
Depois que foi ungido e testado, Ele iniciou Seu ministério. O ministério
Dele é crucial, porque é absolutamente necessário para Sua revelação.
Cristo gostaria de dizer-nos não apenas que Ele éo Médico, o Noivo, o
236
pano novo, o vinho novo e o odre novo. Isso seria como ensinamento dado
em seminário. Quão pobre seria simplesmente reunir um grupo de
pessoas e meramente dizer a elas o que Cristo é. Repito, para receber a
revelação de Cristo, é necessário o ambiente criado pelo Seu ministério.
Na continuação do Seu ministério o Rei fez muitos sinais. Ele curou
o leproso, curou o servo de um centurião romano e curou a sogra de
Pedro. Depois disso, Ele curou muitas outras pessoas. Esse era o Seu
ministério. A continuação do ministério do Rei foi diferente do início do
Seu ministério, porque no início não havia sinais dispensacionais. Antes,
Ele contatou pessoas, atraiu-as e capturou-as. Porque uma grande
multidão O seguiu, Ele pôde promulgar o decreto da constituição do
reino dos céus.
Embora Mateus seja um livro sobre o reino, é também uma
revelação de Cristo. Um dia Cristo levou Seus discípulos à Cesaréia
de Filipe e lhes perguntou: “Quem dizem os homens ser o Filho do
Homem?” (16:13). Depois que deram algumas respostas, Ele
perguntou-lhes: “Mas vós (...) quem dizeis que Eu sou?” (v. 15). Isso
indica que o livro do reino revela quem Cristo é. Que bênção é ver as
revelações de Cristo neste livro! A genealogia de Cristo no capítulo
um é uma revelação de Cristo. Ela revela que Cristo é o Filho de Davi,
o Filho de Abraão, e o resultado de um casamento que uniu as duas
linhagens dos descendentes de Davi. De acordo com Mateus capítulo
1, Jesus não é alguém tão comum. Ele é Jeová, o Salvador, e
Emanuel, Deus conosco. Cristo é o Filho de Davi, o Filho de Abraão, a
semente da mulher, Jeová o Salvador, e Emanuel, Deus conosco. No
capítulo 2 Ele é visitado como um rei. Assim, o capítulo 2 revela que
Ele é o Rei. No capítulo 3 esse Rei é designado e ungido, e no
capítulo 4 Ele é testado, qualificado e aprovado. Então, após Seu teste,
esse Rei foi introduzido em Seu ministério. Por meio do Seu
ministério Ele atraiu multidões. Após dar a constituição do reino dos
céus, Ele continuou Seu ministério fazendo alguns sinais com um
significado dispensacional. Esses milagres significam que Ele veio
com a salvação primeiramente para os judeus e, então, se voltou dos
judeus para os gentios. Esses sinais também significam que após a
plenitude da salvação dos gentios, Cristo trará de volta Sua salvação
para os judeus. Então ocorrerá a restauração de toda a terra durante o
milênio. Naquele tempo todas as doenças serão curadas. Por meio
dessa continuação do ministério do Rei, um ambiente-uma festa foi
preparado. Essa festa resultou do ministério de Cristo. Por intermédio
do Seu ministério, o Senhor conquistou um pecador, um cobrador de
impostos chamado Mateus, que preparou uma grande festa para o
Senhor e Seus discípulos. Para essa festa Mateus também convidou
muitos dos seus amigos, que também eram pecadores e cobradores de
impostos. Há um provérbio que diz que olhando para seus amigos
sabemos que tipo de pessoa você é. Mateus, um cobrador de impostos,
tinha amigos que eram cobradores de impostos e pecadores. A festa
preparada por Mateus era o ambiente exato para o Senhor revelar-se
como o Médico, o Noivo, o pano novo para cobrir-nos, o vinho novo
237
para encher-nos, e o odre novo para preservar o vinho que temos
recebido. Cristo foi revelado em todos esses aspectos por intermédio
do ambiente gerado por Seu ministério.
A situação é a mesma hoje. Sem o ministério, nada de Cristo e nada
da igreja poderia ser revelado. Não posso simplesmente reunir algumas
pessoas e liberar uma conferência. Nesse tipo de ambiente eu
simplesmente nada tenho a dizer. Mas no ambiente adequado posso dizer
a vocês um item de Cristo após outro. Que Cristo temos nós! Precisamos
agradecer ao Senhor pelo Seu ministério e pelo ambiente que Ele cria por
meio do Seu ministério. Mesmo os fariseus da velha religião e os
discípulos de João da nova religião foram usados pelo Senhor. A velha
religião deu ao Senhor Jesus a oportunidade para revelar-se como o
Médico, e a nova religião deu-Lhe a oportunidade para revelar-se como o
Noivo, o pano novo, o vinho novo e o odre novo. Precisamos dizer:
“Obrigado a vocês, fariseus, e obrigado a vocês, discípulos de João.
Sem vocês jamais teríamos tal visão de Cristo. Nunca saberíamos que
nosso Rei celestial é o Médico, o Noivo, o pano novo, o vinho novo e o
odre novo”.
Quando jovem, li Mateus capítulos 8 e 9 sem ver nada. Li sobre o
pano novo, o vinho novo e sobre o odre novo, mas nenhuma dessas coisas
causou alguma impressão em mim. Mais tarde, no ambiente adequado,
meus olhos foram abertos para ver quão doce e agradável o Senhor Jesus
é. Oh! Ele é o nosso Noivo! Que agradável! Ele é o pano novo, nossa
cobertura, e o vinho novo para saturar-nos. E Ele é também o odre novo, o
recipiente. Também vim a perceber os quatro tipos de cristãos
representados por esses itens: os modernistas, os fundamentalistas, os da
vida interior e os da igreja. Estou alegre de estar entre os da igreja.
Alegro-me por estar no odre novo. Estou coberto pela nova veste, estou
bebendo o vinho novo, e estou no odre novo desfrutando a presença do
Noivo. Que maravilhoso! Esse é o nosso Cristo! Hoje sabemos o que a
igreja é. Estamos igrejando Cristo! Na restauração do Senhor, Cristo é
nosso Noivo, nossa veste nova, nosso vinho novo e nosso odre novo.
Portanto, podemos inventar uma nova frase: estamos “igrejando Cristo”.

VI. SINAIS COM SIGNIFICADO


DISPENSACIONAL REPETIDO
Em 9:18-34 temos a repetição de sinais com significado
dispensacional. Esses versículos dão uma breve figura desta era e da
vindoura. Portanto, esse registro possui também significado
dispensacional, assim como 8:1-17. A filha do chefe da sinagoga
representa os judeus e a mulher com hemorragia representa os gentios.
Quando a filha morreu, a mulher foi curada. Depois que a mulher foi
curada, a filha ressuscitou. Após isso, dois cegos e um mudo foram
curados. Isso é uma figura, mostrando que quando os judeus são
cortados, os gentios são salvos e que após a plenitude da salvação dos
gentios, os judeus serão salvos (Rm 11:15, 17, 19, 23-26). Depois disso,
começará o milênio, e naquele tempo todos os cegos e os mudos serão
238
curados (Is 35:5-6).

A. A Morte da Filha do Chefe da Sinagoga


O versículo 18 do capítulo 9 diz: “Enquanto lhes dizia essas coisas,
eis que chegou um chefe e O adorou, dizendo: Minha filha faleceu agora
mesmo; mas vem, impõe a Tua mão sobre ela, e ela viverá”. O chefe aqui
era o chefe da sinagoga (Me 5:22; Lc 8:41) chamado Jairo, que significa
“ele iluminará” ou “iluminado”, indicando que o Senhor iluminará os
gentios, e eles serão iluminados (At 13:46-48). De acordo com o registro
em Marcos e Lucas, essa filha do chefe tinha doze anos. Esse chefe estava
interessado no Rei celestial, mas ele não tinha tanta fé como o
centurião. O centurião disse ao Senhor Jesus que Ele não precisava ir à
sua casa. Bastava- Lhe apenas falar uma palavra. Se esse chefe da
sinagoga ti vesse essa fé, sua filha teria sido curada. Entretanto, ele pediu
ao Senhor para ir à sua casa e impor a mão sobre a sua filha. A sua fé pôde
chegar até esse ponto, não mais. Compadecendo-se dele, o Senhor Jesus
levantou-se e o seguiu.

B. A Cura de uma Mulher com Hemorragia


Enquanto o Senhor estava a caminho da casa do chefe, uma mulher
que sofria de hemorragia por doze anos “veio por trás dele e lhe tocou
na orla da veste”. Essa mulher sofria de um fluxo de sangue, um
derramamento ou uma perda de sangue (Lv 15:25). A vida da carne
está no sangue (Lv 17:11). Portanto, essa doença representa a vida
que não pode ser contida. A mulher estava enferma por doze anos, a
idade da filha do chefe (Lc 8:42). Essa mulher aproximou-se do
Senhor por detrás e tocou a orla da Sua veste, dizendo para si mesma:
“Se eu apenas Lhe tocar a veste, serei curada”. A mulher aqui e o
centurião em 8:5-1 0, ambos representando os gentios, vieram
contatar o Senhor da mesma maneira, com fé. Ela foi curada
enquanto o Senhor estava a caminho da casa do chefe. Isso significa
que os gentios são sal vos enquanto Cristo está a caminho da casa de
Israel.
A veste do Senhor representa os feitos justos de Cristo, e a orla, o
governo celestial. De acordo com Números 15:38-40, os israelitas do
sexo masculino tinham de ter uma orla azul nas suas vestes, uma tira de
cor azul. Isso significava que o vi ver e o andar deles eram
restringidos pela limitação celestial.
Quando o Senhor Jesus estava na terra,
provavelmente Ele vestia-se dessa maneira. As vestes representam virtude
no comportamento humano. Na virtude humana do Senhor Jesus havia
poder de cura. Portanto, quando a mulher enferma tocou a orla da veste
Dele, o poder da Sua virtude alcançou-a e ela foi curada. Dos atos de
Cristo, celestialmente regidos, saíram as virtudes que se tornaram o
poder de cura (Mt 14:36).
A cura da mulher com hemorragia indica que o Senhor foi
239
encontrado e capturado pelos gentios
enquanto Ele estava a caminho dos judeus. De acordo com a história, os
gentios estão enfermos, e os judeus estão crescendo para morrer. Em
outras palavras, os gentios estão doentes e os judeus estão morrendo. A
menina judia tinha doze anos, e a mulher esteve doente por doze anos.
Por doze anos a mulher sofreu do fluxo de sangue, e por doze anos a
menina estava crescendo para morrer. Isso significa que enquanto os
gentios estão doentes de coisas pecaminosas, os judeus estão crescendo a
fim de morrer. Depois que a mulher foi curada, o Senhor Jesus chegou na
casa do chefe judeu, significando que quando a salvação dos gentios
estiver completa, Cristo alcançará a casa de Israel.

C. A Cura da Filha do Chefe da Sinagoga


Nos versículos 23 a 26 temos a cura da filha do chefe da sinagoga. A
filha aqui e a sogra de Pedro em 8:14-15, ambas representando os judeus
no final desta era, foram curadas em uma casa pela vinda do Senhor e
por Seu toque direto. Isso indica que no final desta era todo o
remanescente dos judeus será salvo na casa de Israel pela vinda do
Senhor e por Seu toque direto (Rm 11:25-26; Zc 12:10). Quando Jesus
veio para a casa do chefe e viu os tocadores de flauta e o povo em
alvoroço, disse: “Tendo Jesus chegado à casa do chefe, e vendo os
tocadores de flauta e o povo em alvoroço, disse: Retirai-vos, porque não
morreu a menina, mas dorme. E riam-se Dele” (vs. 23-24). Em Seu
ministério, o Senhor nunca se importou com qualquer multidão. O
versículo 25 diz: “Mas, posto o povo para fora, entrou Jesus, tomou a
menina pela mão, e ela se levantou”. Aqui vemos que o Senhor Jesus
pretendia levantar os judeus, mas eles não tinham fé. Isso deu uma
excelente oportunidade aos gentios para contatar o Senhor a fim de
receberem salvação. Após a plenitude da salvação dos gentios, o Senhor
Jesus alcançará a casa de Israel, e todos os judeus mortos serão curados.

D. A Cura do Cego e do Mudo


Imediatamente após se ter levantado a filha do chefe, dois cegos e
um mudo foram levados ao Senhor (vs. 27-33).

1. A Cura dos Dois Cegos


Nos versículos 27 a 31 temos a cura dos dois cegos.
Enquanto o Senhor Jesus passava, “seguiram-No dois cegos,
clamando: Tem misericórdia de nós, Filho de Davi 1” Cegueira significa
falta de visão para ver Deus e as coisas relacionadas a Ele (2C04:4;
A3:18). Esses dois cegos chamaram o Senhor de Filho de Davi. No reino
milenar, o qual será o tabernáculo restaurado de Davi (At 15:16), o reino
Messiânico, os judeus reconhecerão Cristo como o Filho de Davi, e a
cegueira deles será curada. Isso é prefigurado pelos dois cegos
reconhecendo Cristo dessa maneira. Os dois cegos foram curados na
240
casa pelo toque direto do Senhor (v. 29), como foram a filha do chefe (v.
25) e a sogra de Pedro (8:14-15). Abrir os olhos do cego significa a
restauração da visão interior para ver Deus e as 9:17-18; 26:18; Ef 1:18; Ap
3:18).

2. A Cura do Mudo Endemoninhado


Nos versículos 32 e 33 vemos a cura do mudo endemoninhado.
Mudez por possessão demoníaca significa a inabilidade de falar por
Deus (Is 56:10) e louvar a Deus (Is 35:6) devido a adoração a ídolos
mudos (1Co 12:2). O falar de um mudo significa a restauração da
capacidade de falar e louvar por ser enchi do com o Senhor no espírito
(Ef 5:18-19).

3. Uma Sombra do Milênio


Acura docego e do mudo representa a
restauração das pessoas na terra durante o milênio. Assim, essas curas
são uma sombra do milênio. No milênio todos os cegos verão e a boca
dos mudos se abrirá. Isaías 35:5 e 6 diz: “Então se abrirão os olhos dos
cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como
cervos, e a língua dos mudos cantará”. Os cegos verão a glória de Deus e
os mudos falarão da glóriade Deus. Eles O
louvarão continuamente. O milênio, portanto, será uma época de
restauração, um tempo de reavivamento. Sempre que há reavivamento
entre os cristãos hoje, os olhos dos cegos são abertos e a boca dos
mudos também. Antes de tal reavivamento, tantos cristãos estão cegos,
incapazes de ver a Deus ou as coisas de Deus, e mudos, incapazes de falar
uma palavra para Deus. Se pedirmos para os que se reúnem nas
denominações que façam uma oração, muitos são incapazes de fazê- lo e
responderão: “Essa não é minha função, minha profissão. Peça ao
pastor para orar.” Isso indica que eles estão possuídospor um
demônio mudo. A Primeira Epístola aos Coríntios capítulo 12
revela que não estamos servindo a ídolos
mudos. Assim, devemos estar falando, borbulhando. Nossos
olhos são abertos para ver as coisas de Deus, e nossa boca é aberta
para louvá-Lo e testificar Dele. Todos devemos ser
esse tipo de pessoa. Essa cura é uma sombra, uma miniatura, do
milênio vindouro.

4. A Rejeição dos Fariseus ao Rei


O versículo 34 diz: “Mas os fariseus diziam: É pelo príncipe dos
demônios que Ele expulsa os demônios”. O príncipe dos demônios é o
diabo, que é chamado Belzebu (12:24). Essa blasfêmia dos fariseus é uma
continuação mais forte da rejeição do Rei celestial pelos líderes do
judaísmo.

241
A EXPANSÃO DO MINISTÉRIO DO REI (1)
Agora chegamos à expansão do ministério do Rei (9:3510:15).

I. A NECESSIDADE DE PASTOREAR E CEIFAR


A continuação do ministério do Rei no capítulo 9 produziu outra
situação que permitiu ao Senhor se revelar. Após a cura da mulher com o
fluxo de sangue, o ressuscitar da menina, e a cura dos dois cegos e do
mudo, o Senhor é revelado como o Pastor e como o Senhor da colheita.

A. O Rei Percorre Todas as Cidades e Vilas, Ensinando,


Pregando e Curando
O versículo 35 diz: “E percorria Jesus todas as cidades e aldeias,
ensinando nas sinagogas deles, pregando o evangelho do reino e curando
toda sorte de doença e toda sorte de enfermidade”. Todas as
doenças e enfermidades nesse versículo significam um mal espiritual.
B. O Rei é Movido de Compaixão pelo Povo porque Eram
como Ovelhas sem Pastor
O versículo 36 diz: “Vendo Ele as multidões, compadeceu-se delas,
porque estavam aflitas e errantes como ovelhas que não têm pastor”. Isso
indica que o Rei celestial considerava os israelitas como ovelhas e a Si
mesmo como o Pastor. Quando Cristo veio para os judeus a primeira vez,
eles eram como leprosos, paralíticos, endemoninhados e todo tipo de
pessoas deploráveis, porque não tinham pastor para cuidar deles. Agora
em Seu ministério real para o estabelecimento do Seu reino celestial, Ele
ministrou-lhes não apenas como Médico, mas também como Pastor,
como profetizado em Isaías 53:6 e40:11.
No meio da situação retratada no versículo 36 o Senhor revelou-se
como o Pastor. Essa é uma revelação mais além. Ele não é apenas o
Médico e o Noivo, mas também o Pastor. Sem a continuação adicional do
Seu ministério, esse ambiente não teria sido produzido. Portanto, vemos
mais uma vez que para ter Cristo revelado em nós, devemos ter o
ministério de produzir certo ambiente. A grande festa freqüentada por
cobradores de impostos e pecadores foi uma excelente oportunidade para
o Senhor revelar-se como o Médico. Além do mais, o ambiente em que
tantos regozijaram-se e festejaram juntos deu ao Senhor a oportunidade
para revelar-se como o Noivo, o pano novo, o vinho novo e o odre novo.
Então, no versículo 36, quando o Senhor foi movido de compaixão por ter
visto o povo cansado e abandonado como ovelhas que não têm pastor, Ele
pôde revelar-se como o Pastor.
C. A Seara é Grande, mas os Trabalhadores São Poucos
No versículo 37 o Senhor disse a Seus discípulos: “A seara é grande,
mas os trabalhadores são poucos”. O Rei celestial considerava o povo não
apenas como ovelhas, mas também como a seara. As ovelhas precisavam
242
ser pastoreadas e a seara precisava ser colhida. Embora os líderes da
nação de Israel rejeitassem o Rei celestial, havia ainda um bom número
dentre o povo que precisava ser colhido.

D. Rogar ao Senhor da Seara que Mande


Trabalhadores para a Sua Seara
O Rei do reino celestial considerava-se não apenas o Pastor das
ovelhas, mas também o Senhor da seara. Seu reino é estabelecido com
coisas de vida que possam crescer e se multiplicar. Ele é o Senhor a quem
pertence essa colheita. Somos ambos, o rebanho e a colheita. O rebanho é
composto de animais e a colheita de vegetais, todos seres vivos. Na mão
do Senhor Jesus, nada é sem vida. Ele não se importa com coisas sem
vida, mas com coisas que são vivas. Todas as coisas sob o cuidado do Rei
celestial são vivas.
Todos precisamos ter uma visão do Senhor Jesus como o Senhor da
seara. No versículo 38 o Senhor nos disse para rogar ao Senhor da seara
que envie trabalhadores para Sua seara. Primeiramente, em Sua
economia, Deus tem um plano a cumprir. Então, Sua economia requer
que Seu povo rogue, ore por isso. Respondendo à oração deles, Ele
realizará o que eles oraram com respeito a Seu plano. Muitas vezes
quando sentimos que precisamos de trabalhadores, pedimos socorro.
Mas de agora em diante, sempre que você sentir necessidade de
trabalhadores, deve primeiramente orar ao Senhor da seara, dizendo:
“Senhor, aqui está a Tua seara. Tu és o Senhor da seara. Invocamos a Ti
para enviar alguns ceifeiros. Senhor, envie alguns ceifeiros para a Tua
seara”. Orações como essa farão diferença. Orar assim significa que
tivemos a visão de que nosso Cristo, o Majestoso, o Pastor, é o Senhor da
seara. Sempre que orar para que o Senhor envie ceifeiros para a Sua
seara, você O honrará muito. Quão diferente é de convidar pessoas para
ajudá-lo em sua obra! Quando faz isso, você não honra Cristo como o
Senhor da seara. Antes, é uma questão da sua obra, não da colheita Dele.
Você torna-se o dono daquela obra e Ele não é mais considerado como o
Senhor da seara. Portanto, precisamos invocá-Lo e dizer: “Senhor, Tu és
o Senhor da seara. Tua é a obra desse campo, e essa seara é a Tua
colheita. Clamamos a Ti pela Tua colheita. Senhor, envia os Teus
ceifeiros”.
Recentemente, um irmão contou-me que a vida da igreja em sua
cidade estava maravilhosa e que eu deveria ir lá para uma visita. Embora
o falar desse irmão fosse bom, era, no entanto, natural. Não tinha
qualquer visão. Em vez de convidar-me, esse irmão deveria ter orado:
“Senhor, a igreja em minha cidade é a seara do Rei celestial. Senhor da
seara, clamo a Ti para enviar ceifeiros”. A igreja em sua cidade é sua seara
ou seara Dele? Uma vez que é a seara do Senhor, você não tem o direito
de convidar os outros para ir lá trabalhar. Fazer isso é violar a honra do
Senhor. Ao fazer isso você deixa de reconhecer que você não é o Senhor.
Ele é o Senhor da seara. A única coisa que você pode fazer é pedir a
Ele para enviar ceifeiros. Precisamos de uma revelação adicional com
243
respeito a esse aspecto do Senhor. Creio que os doze discípulos
oraram segundo a palavra do
Senhor. Embora a Bíblia não nos diga isso, creio que eles oraram. É
um princípio na Bíblia que, sempre que você orar ao Senhor por algo,
o Senhor o enviará a realizar aquilopelo qual tem orado.
Os doze discípulos oraram ao Senhor da seara para enviar
ceifeiros, e o Senhor respondeu à oração enviando-os. Todo aquele que
ora será um enviado. Por exemplo, você pode orar ao
Senhor quanto à falta de presbíteros. (Todavia,
não ore segundo a sua ambição, senão o Senhor não responde. ) Pode
simplesmente orar: “Senhor, há necessidade de presbíteros”. Após
certo período, o Senhor pode dizer: “E quanto a você?” Esse é o princípio.
Os doze oraram e por fim os doze foram enviados.

II. A ESCOLHA DOS DOZE APÓSTOLOS


Em 10:1-4 temos a escolha dos doze apóstolos. Antes do capítulo
dez o Senhor levou a cabo sozinho o Seu ministério. A partir desse
capítulo os doze apóstolos foram acrescentados para a expansão, o
espalhar, do ministério.

A. Deu-lhes Autoridade para Expulsar Demônios e


Curar Doenças
O versículo 1 diz: “Tendo chamado a Si os Seus doze discípulos,
deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expulsar e
para curar toda sorte de doença e enfermidade”. A autoridade aqui para
expulsar espíritos imundos e curar enfermidades é uma antecipação do
poder da era vindoura (Hb 6:5), isto é, do milênio, no qual todos os
demônios serão expulsos e todas as doenças curadas (Is 35:5-6).

B. Uniu-os Dois a Dois


Nos versículos 2 a 4 são dados os nomes dos doze apóstolos. Um
apóstolo é um enviado. Agora os doze discípulos (v. 1) foram enviados,
tomando-se, assim, os doze apóstolos. Ao enviar os doze apóstolos, o
Senhor arranjou-os em pares: Simão Pedro e André, Tiago e João, Filipe
e Bartolomeu, Tomé e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu, Simão o
Zelote e Judas Iscariotes. Precisamos ser impressionados com esse
princípio. Todos devemos andar aos pares. Nenhum de nós,
especialmente os jovens, deveriam ir a qualquer
lugar sozinhos. Precisamos de outra pessoa conosco. Olhe para
seus olhos,ouvidos, narinas, lábios, ombros, braços, mãos,
pernas e pés: seu corpo está organizado aos pares. Sempre que o Senhor
te der um encargo de ir a certo lugar, não vá sozinho. Antes, vá
aos pares. Se não tem um outro companheiro,
você perderá a bênção. Para receber a bênção, você deve ter um par.
Essa não é minha opinião, é a economia do Senhor. Portanto, todos
244
devemos aprender a lição de sermos emparelhados, estar unidos com os
outros.
Marcos e Lucas citam Mateus antes de Tomé (Me 3:18; Lc 6:15),
mas Mateus, o autor desse livro, coloca-se depois de Tomé. Isso mostra
sua humildade. No versículo 3 Mateus especificamente aponta ele mesmo
como o cobrador de impostos, lembrando de sua salvação, talvez com
gratidão. Mesmo um cobrador de impostos e pecador desprezado pôde
tomar-se um apóstolo do Rei do reino celestial. Que salvação!
Simão o Zelote (Cananita) era par de Judas Iscariotes, aquele que
traiu o Senhor. “Cananita” vem do hebraico kanna, zeloso, referindo-se a
uma seita galiléia conhecida como os Zelotes e não à terra de Canaã (ver Lc
6:15; At 1:13). Iscariotes é uma palavra grega, provavelmente do hebraico,
que significa um homem de Queriote. Queriote fica em Judá (Js 15:25).
Assim, Judas era o único apóstolo da Judéia; todos os restantes eram
galileus.

III. A MANEIRA DE ESPALHAR O EVANGELHO


DO REINO PARA A CASA DE
ISRAEL

A. O Rei Enviou os Doze Apóstolos Apenas para a Casa de


Israel
Em 10:5-15 temos a maneira de espalhar o evangelho do reino para a
casa de Israel. Nos versículos 5 e 6 vemos que o Senhor Jesus recomendou
os doze apóstolos a não se dirigirem para os gentios ou para a cidade de
samaritanos, mas apenas procurar as ovelhas perdidas da casa de Israel.
As nações eram os gentios, e os samaritanos, uma mistura de gent4:10;
J04:9).
Os doze apóstolos foram enviados para a casa de Israel e foram
instruídos a não irem para os gentios nem aos samaritanos. Os que são
enviados pelo Senhor têm a autoridade do Senhor. Quando o Senhor
enviou os doze, Ele deu-lhes autoridade. Sempre que somos enviados
devemos crer que a autoridade do Senhor está conosco.

B. Pregar que o Reino do Céu Está Próximo


O versículo 7 diz: “E, à medida que seguirdes, proclamai, dizendo:
Está próximo o reino dos céus”. Naquele tempo o reino dos céus não tinha
chegado, mas apenas estava próximo.

C. Exercer a Autoridade do Reino


Uma vez que foram enviados para pregar o reino dos céus, os
apóstolos estavam autorizados a curar os doentes, ressuscitar os mortos,
purificar os leprosos e expulsar os demônios (v. 8). Eles deveriam
exercer tal autoridade na comissão deles.

245
D. Digno é o Trabalhador do Seu Alimento
Nos versículos 9 e 10 o Senhor disse: “Não vos provereis de ouro,
nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o
caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão: porque
digno é o trabalhador do seu alimento”. Os doze apóstolos (enviados para
a casa de Israel, não para os gentios), como trabalhadores dignos do seu
alimento, não precisavam carregar suas necessidades vitais com eles.
(Entretanto, os trabalhadores do Senhor enviados para os gentios não
deveriam receber nada dos gentios-3 João 7). Esse princípio foi mudado
quando o Senhor foi totalmente rejeitado pela casa de Israel (Lc 22:35-
38).

E. Trazer Paz à Casa Onde Estão


Os versículos 12 e 13 dizem: “Ao entrardes na casa, saudai-a; se a
casa for digna, venha sobre ela a vossa paz; se, porém, não for digna,
torne para vós a vossa paz”. Quando o Senhor nos envia, temos a
presença, a paz. Sempre que somos enviados, a autoridade, a presença
do Senhor e a paz nos seguem. É por isso que o Senhor disse aos apóstolos
para procurar alguém digno da paz deles. Ele parecia estar dizendo: “Veja
quem é digno de sua paz. Se eles não os receberem, sua paz irá com
vocês quando forem”. Isso é de grande significado. Receber os enviados
do Senhor, os apóstolos, significa receber a presença do Senhor e a paz.
Rejeitá-los significa rejeitar a presença do Senhor e a paz. Não é uma
questão insignificante ser enviado pelo Senhor, porque como enviados
tomamo-nos os representantes do Senhor. Temos Sua autoridade, Sua
presença e Sua paz. Aonde quer que vamos, levamos essas coisas
conosco. Quem quer que nos receba terá a presença e a bênção do Senhor.
É dessa maneira que o ministério do Rei é propagado.

F. O Julgamento sobre os que Rejeitam


Nos versículos 14 e 15 o Senhor disse: “Se alguém não vos acolher,
nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou cidade, sacudi o
pó dos vossos pés. Em verdade vos digo: No dia do juízo haverá menos
rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade”. Isso
indica que a punição do julgamento de Deus varia de intensidade. Rejeitar
os apóstolos do Senhor e suas palavras trará maior punição que o pecado
de Sodoma e Gomorra.
Essa é a maneira de expandir o ministério do Rei. Ele expandiu-se
da viagem de um para a viagem dos doze. Essa expansão do ministério
produzirá outro ambiente para uma revelação adicional do Rei celestial.
Veremos esse ambiente e essa revelação nos capítulos 10 e 12.
246
Agradecemos ao Senhor pelo Seu ministério, pela continuação do Seu
ministério e especialmente pela expansão do Seu ministério. É por meio
do ministério que o ambiente é produzido para a revelação do Cristo real.

247
MENSAGEM 30

A EXPANSÃO DO MINISTÉRIO DO REI (2)


A palavra do Senhor em Mateus 10 é uma palavra dita aos
enviados. Em 10:16-11:1 muitas coisas são trazidas à superfície. Ao vê-las,
podemos entender a situação na qual nos encontramos hoje.

IV. A PERSEGUIÇÃO E A MANEIRA DE ENCONTRÁ-


LA
Nos versículos 16e 17 o Senhor previu a perseguição que viria do
judaísmo sobre Seus apóstolos. A profecia do Rei celestial aqui, a respeito
da perseguição aos Seus apóstolos pelo judaísmo, indicava que o reino
que Ele estava estabelecendo por intermédio da pregação dos Seus
apóstolos seria rejeitado pelo judaísmo. Isso também prova que Seu reino
não é terreno, mas celestial.

A. Os Apóstolos Enviados como Ovelhas para o Meio de


Lobos
O versículo 16 diz: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de
lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as
pombas”. Os apóstolos do Senhor, como ovelhas e não como serpentes no
meio de lobos, precisam ser prudentes como serpentes a fim de escapar
dos ataques dos lobos, mas símplices como pombas para não ferir outros.

B. Entregues ao Sinédrio e Açoitados nas Sinagogas


A palavra do Senhor revela que o mundo todo está sob a mão
usurpadora do inimigo, e, portanto se opõe à economia de Deus. a
mundo todo, quero mundo judeu ou o gentio, opõe-se ao reino de
Deus. a versículo 17 diz: “Acautelai-vos, dos homens; porque eles vos
entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas”. Esse
versículo indica que até mesmo a nação judaica foi tomada pelo
inimigo de Deus. Quando o Senhor Jesus estava na terra, essa nação
pertencia a Deus em nome, mas não em realidade. Portanto, no
versículo 17, o Senhor falou de perseguição vinda do sinédrio e das
sinagogas. O sinédrio era o mais elevado conselho entre os filhos de
Israel. A sua função era ver se os judeus estavam seguindo alei do
Antigo Testamento. A sinagoga era uni lugar onde a Palavra de Deus
era ensinada aos filhos de Israel. É muito significativo que o Senhor
tenha exposto o sinédrio e as sinagogas como sendo contrários à
economia de Deus. Ele disse que Seus apóstolos, Seus enviados,
seriam entregues aos sinédrios e açoitados nas sinagogas. Uma
sinagoga obviamente não é um teatro, cassino ou templo de ídolos. De
certo modo, ela era um lugar santo, um lugar onde a santa Palavra de
Deus era ensinada ao povo de Deus. Todavia o Senhor disse que os
248
apóstolos do Rei dos céus seriam açoitados até mesmo nas sinagogas.
Por aqui vemos que coisa maligna as sinagogas se tornaram. Embora
os judeus fossem lá para aprender a Palavra de Deus, os das sinagogas
perseguiam os apóstolos do Rei celestial. E mais, o sinédrio,
organizado com a intenção de supervisionar os filhos de Israel na
questão de guardar as Escrituras, era um lugar que também se
opunha aos apostólos do Rei celestial.
A situação é a mesma hoje. Se o antigo sinédrio e as sinagogas se
opunham aos enviados do Rei, que dizer do sistema religioso atual? Se
somos de fato os enviados do Rei celestial, sofreremos oposição das
organizações religiosas de hoje, assim como os apóstolos sofreram
oposição por parte do judaísmo. Nos tempos antigos os apóstolos
eram perseguidos primeiramente não pelos gentios, mas pelo assim
chamado povo santo no sinédrio e nas sinagogas. Em nossa
experiência por esses anos, quase todas as perseguições, rumores,
oposições e ataques vieram das organizações religiosas, não dos
gentios.
De acordo com o versículo 16, o Senhor Jesus comparou os do
sinédrio e das sinagogas a lobos, dizendo que estava enviando Seus
apóstolos “como ovelhas no meio de lobos”. Você acredita que os do
sinédrio e das sinagogas, que expunham e ensinavam a santa Palavra de
Deus e exortavam os outros a obedecê-la, eram lobos? Se o próprio
Senhor Jesus não tivesse dito isso, eu certamente não creria nisso. Antes
diria: “Os do sinédrio e das sinagogas podem ter cometido alguns erros,
mas eles certamente são o povo de Deus, porque diariamente falam das
Escrituras e ensinam o povo a temer a Deus, a adorar a Deus, a honrar a
Deus e a glorificar a Deus. Eles não são tão maus. Como você pode dizer
que são lobos?” Mas o Senhor Jesus chamou-os de lobos. N aquele tempo,
os lobos, mencionados no versículo 16, eram os do sinédrio e das
sinagogas, mencionados no versículo 17.
Saulo de Tarso estudou aos pés de Gamaliel, um grande mestre da
Bíblia, “mestre da lei, acatado por todo o povo” (At 22:3; 5:34). Gamaliel
era um dos líderes no sinédrio. Gamaliel era por Deus? Sim, era. Ele
temia a Deus e era por Deus, mas estava num ambiente que era
absolutamente contrário à economia de Deus. Ele fazia parte de um
sistema, o sinédrio, que se opunha a Deus. Tem sido essa a situação por
séculos até hoje. Não importa o quanto determinadas pessoas são para
Deus, elas estão num sistema, numa organização que é contra a economia
de Deus. Em Apocalipse 2:9 e 3:9 o Senhor Jesus falou da “sinagoga de
Satanás”. Em Mateus 10 o Senhor indicou que havia lobos nas sinagogas,
e em Apocalipse Ele falou da sinagoga de Satanás. Isso indica que as
sinagogas se tomaram satânicas.
O Senhor Jesus não veio primeiramente para o mundo gentio. Ele
veio para uma nação que se supunha ser o povo de Deus. Essa nação tinha
249
as santas Escrituras, a cidade santa, o templo santo, o sacerdócio santo e
os sacrifícios santos. Ele veio para essa nação com o propósito de
estabelecer o reino dos céus. Parece que não haveria qualquer
dificuldade. Mas quando esse Rei celestial estava enviando Seus apóstolos
para a expansão do Seu ministério, Ele os advertiu que os estava enviando
como ovelhas para o meio de lobos. O Senhor parecia estar dizendo: “Os
do sinédrio, os que se importam com as santas Escrituras, perseguirão
vocês, e os das sinagogas, os que ensinam a Palavra de Deus, os açoitarão.
Cuidem-se! Eles não são o povo de Deus- são lobos. Eles não são para
Deus-são contra Ele”. Suponha que você estivesse entre os judeus
enviados pelo Rei celestial e ouvisse que os do sinédrio e das sinagogas
eram lobos. Não ficaria chocado? Entretanto é exatamente isso que o
Senhor estava dizendo aqui. O Senhor não disse que os soldados do
exército romano eram lobos, mas que os do sinédrio e das sinagogas,
aqueles que manejavam a Palavra de Deus e a ensinavam ao povo de
Deus, eram lobos. Em princípio, por séculos a situação tem sido a mesma.
Em 9:36 o Senhor comparou o povo a ovelhas. Entre o povo de
Israel, havia ovelhas e lobos. Esses lobos estavam no sinédrio e nas
sinagogas. Eram cultos, civilizados e religiosos. Aqueles lobos conheciam
a Bíblia muito bem. Embora pudessem citar versículos e adorar a Deus
segundo as Escrituras, o Senhor Jesus não os considerou como ovelhas,
mas como lobos. Portanto, na época de Mateus 10 havia uma situação
complicada entre os filhos de Israel, porque as ovelhas e os lobos estavam
misturados. Não haveria problema uma vez que as ovelhas
acompanhassem os lobos. Entretanto, o Pastor veio e enviou os co-
pastores para reunir as ovelhas. Se lermos cuidadosamente esses
capítulos veremos que a reunião das ovelhas é o ceifar da colheita. Todas
as ovelhas, a colheita, estavam espalhadas entre os lobos e misturadas
com os lobos. Quando as ovelhas desejassem ir com os co-pastores
enviados pelo Pastor, os lobos se levantariam e diriam: “Quê”! Isso é
proselitismo. Vocês estão incitando as ovelhas!” Assim a natureza de lobo
é exposta e os lobos atacam os co-pastores. Portanto o Senhor disse que,
como ovelhas no meio de lobos, Seus enviados devem ser prudentes como
as serpentes e símplices como as pombas. Quando os lobos atacam, os
enviados devem ser prudentes como as serpentes para escapar. Ao mesmo
tempo, eles devem também ser inofensivos como as pombas.

C. Levados à Presença de Governadores e Reis como um


Testemunho por causa do Rei
Celestial
O versículo 18 diz: “Por Minha causa, também sereis levados à
presença de governadores e reis, para lhes servir de testemunho, a eles e
aos gentios”. Sem dúvida isso se refere aos gentios. Assim o Senhor
indicou que o reino de Deus sofreria oposição por parte não apenas do
mundo religioso judeu, mas também pelo mundo secular gentio. Por fim,
os apóstolos foram levados à presença de governadores romanos e reis.
Eles foram perseguidos e se tomaram um testemunho. Isso revela que
250
tanto o mundo religioso como o político concordam ao se opor ao reino
dos céus, porque ambos estão sob a mão usurpadora do inimigo de Deus.
A intenção do Rei celestial é estabelecer Seu reino na terra dentro do
território da religião e da política. Isso certamente levantará oposição e
perseguição.
Nos versículos 19 e 20 o Senhor disse: “Mas, quando vos
entregarem, não vos preocupeis em como ou o que haveis de falar,
porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de falar; porque
não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala
em vós”. Os apóstolos têmnão apenas
autoridade do Rei celestial (v. 1), mas também o Espírito do seu Pai
celestial. A autoridade do Rei trata com os espíritos imundos e
enfermidades; o Espírito do Pai trata da perseguição dos opositores. O
Senhor estava encarregando Seus enviados anão falar por si mesmos
sempre que encontrassem perseguição. Ele parecia estar dizendo: “Não
fiquem ansiosos e não falem por si mesmos. O Espírito do Pai está com
vocês”. Se temos o Espírito do Senhor, temos a
presença do Senhor. A presença do Senhor aqui é o Espírito para falar.
Devemos aprender a enfrentar a perseguição não em nós mesmos, mas
aprender a voltar ao nosso espírito e confiar no Espírito que habita
interiormente. Devemos crer que o Espírito do Pai está conosco e que Ele
tratará com os opositores e perseguidores. Isso não é algo fácil de
aprender. Devemos enfrentar oposição e ataque, não em nós mesmos, mas
voltando-nos ao nosso espírito onde o Espírito de Deus habita. Devemos
confiar Nele, deixá-Lo guiar-nos e deixá-Lo falar.

D. Odiados pelos Parentes


O Senhor também disse aos Seus enviados que seriam odiados
pelos seus parentes. O versículo 21 diz: “Um irmão entregará à morte
outro irmão, e o pai ao filho; filhos se levantarão contra os pais e os farão
morrer”. Para serem apóstolos do Rei celestial para a pregação do
evangelho do reino, os enviados devem suportar os rompimentos dos
laços humanos mais íntimos.
No versículo 22 o Senhor continuou: “Sereis odiados de todos por
causa do Meu nome; aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será
salvo”. Ser salvo aqui não significa ser salvo do inferno. Pode incluir ser
salvo daqueles que odeiam, mas por fim significa ser salvo para dentro
da manifestação do reino dos céus, uma recompensa para os crentes
vencedores. Significa ser salvo da punição dispensacional durante o
milênio. Isso difere da salvação eterna revelada em Efésios 2:8.

E. Fugir de Cidade em Cidade


O versículo 23 diz: “Quando, porém, vos perseguirem nesta cidade,
fugi para outra; porque em verdade vos digo: De modo algum
acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o Filho do
Homem”. Essa palavra não foi cumprida pela pregação dos doze apóstolos
251
antes da crucificação de Cristo. Ela não será cumprida até a grande
tribulação (24:21). O que é pregado nos versículos 17 a 23 é muito
parecido com 24:9-13. Aqui o Rei celestial enviou os apóstolos para pregar
o evangelho do reino aos judeus. Após Sua ressurreição, Ele enviou Seus
apóstolos para pregar o evangelho aos gentios. Após a plenitude da
salvação dos gentios, Ele enviará Seus apóstolos para pregar novamente o
evangelho do reino aos judeus. Naquele tempo essa palavra será cumprida
e Ele virá.

F. Não Acima do Seu Mestre


No versículo 24 o Rei disse aos Seus enviados: “O discípulo não
está acima do seu mestre, nem o servo acima do seu senhor”. De acordo
com o contexto, a palavra aqui significa que ao sofrer perseguição Seus
apóstolos não podem estar acima Dele, porque a Sua perseguição foi a
maior de todas.
O versículo 25 diz: “Basta ao discípulo tornar-se como o seu
mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao Dono da
casa, quanto mais aos de Sua casa?” Belzebu significa “o senhor
das moscas”, o nome do deus dos ecromitas (2Rs 1:2). Por
desprezo foi mudado pelos judeus para Baalzebel, que significasenhor
da esterqueira, termo usado para o maioral dos demônios
(12:24, 27; Me 3:22; Lc 11:15, 18-19). Os fariseus, os líderes
da religião judaica, insultaram o Rei celestial dizendo que Ele
expulsava demônios pelo maioral dosdemônios (9:34).
Esse nome mais blasfemo expressou o forte desprezo e rejeição deles.

G.Não Temer os Perseguidores, mas do Eirado Pregar


a Mensagem do Rei Celestial
Nos versículos 26 e 27 o Rei disse aos Seus enviados para
não temer os perseguidores, antes falar a plena luz e
proclamar dos eirados. No versículo 28 Ele disse: “Não
temais os que matam o corpo mas não podem matar a alma; temei,
antes, Aquele que pode destruir na Geena tanto a alma como o corpo”.
Deus é o único capaz de fazer perecer no inferno tanto a alma como o
corpo. Essa palavra implica que se os apóstolos enviados pelo Senhor
fracassarem ao sofrer perseguição, eles serão disciplinados por
Deus. Isso ocorrerá na era vindoura, após o julgamento, no trono de
julgamento de Cristo, quando os crentes receberão galardão ou punição
(2Co 5:10; Ap 22:12).
Nos versículos 32 e 33 o Senhor disse: “Portanto, todo aquele que,
em Mim, Me confessar diante dos homens, também Eu, nele, o
confessarei diante de Meu Pai que está nos céus. Mas aquele que Me 1
anegar diante dos homens, também Eu o negarei diante de Meu Pai que
está nos céus”. Essa palavra foi dita pelo Rei celestial a Seus apóstolos
que foram enviados por Ele para pregar o evangelho do reino. O Senhor
predisse que eles seriam perseguidos (vs. 17, 21-23). Se qualquer pessoa
252
que sofre perseguição O nega, Ele o negará. Isso ocorrerá na Sua vinda
(16:27). Ele negar ou confessar Seus apóstolos naquele tempo determina
se eles são ou não dignos de entrar no reino dos céus na era vindoura
como recompensa. Aqui o Rei parecia estar dizendo: “Se você temer essa
perseguição e não confessar Meu nome diante dos perseguidores, Eu não
confessarei seu nome diante do Pai quando voltar e o milênio começar”.
Isso quer dizer que tal pessoa será colocada nas trevas exteriores (25:30) e
não participará na manifestação do reino.

V. OS TRANSTORNOS CAUSADOS PELO REI E O CAMINHO


DA CRUZ PARA SEGUI-LO

A. O Rei Celestial Veio não para Trazer Paz, mas Espada


No versículo 34 o Senhor disse: “Não penseis que vim trazer paz à
terra; não vim trazer paz, mas espada”. Toda terra está sob a usurpação de
Satanás (1 J05:19). O Rei celestial veio chamar alguns para fora dessa
usurpação. Isso certamente despertou a oposição de Satanás. Satanás
instigou as pessoas usurpadas por ele, para lutar contra os chamados do
Rei celestial. Portanto a vinda do Rei não trouxe paz, mas espada. Para o
reino dos céus ser estabelecido, deve haver um confronto entre o reino
dos céus e o reino do mundo. Esses dois reinos não podem coexistir.
Porque o Rei celestial está estabelecendo Seu reino na terra, o combate
entre esses dois reinos é inevitável. Nos versículos 35 e 36 o Senhor disse:
“Pois vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, a filha contra sua
mãe e a nora contra sua sogra; e os inimigos do homem serão os da sua
própria casa”. A luta instigada pelo Satanás usurpador contra os
chamados do Rei celestial é travada até mesmo na própria casa deles. Os
celestialmente chamados são atacados em seus lares, por seus familiares
que permanecem sob a mão usurpadora do maligno. Quando alguns são
atraídos e capturados pelo Rei celestial e decidem segui-Lo, alguns
de sua família podem ser instigados por Satanás contra eles, até mesmo
para matá-los.
Deixe-me falar de um irmão que foi perseguido pela esposa
incrédula. Esse homem tinha um excelente emprego nos escritórios
alfandegários do governo, e era muito rico. Depois que foi trazido ao
Senhor, sua esposa começou a persegui-lo. Uma noite, esse irmão
convidou vários de nós para ir à sua casa jantar. Sempre que ele
convidava colegas de trabalho para jantar, a esposa ficava muito feliz e
preparava a melhor comida. Mas agora como um crente ele havia
convidado algumas pessoas da igreja para ir a casa deles. Na noite em que
nos convidou, ela propositadamente não fez comida. Antes, pôs sobras de
comida fria na mesa. O irmão olhou para nós com lágrimas nos olhos.
Olhamos para ele e dissemos: “Louvado seja o Senhor! Esse jantar está
delicioso. Vamos todos comê-lo”, Então comemos todas aquelas sobras.
Esse foi um exemplo da perseguição da esposa.
Os enviados do Senhor devem perceber que a perseguição os
espera. O Senhor Jesus não nos deixa em trevas. Antes, Ele torna todas as
253
situações muito claras. A nação judaica está cheia de opositores, e
mesmo os parentes dos enviados se levantarão para se opor; eles até
mesmo matarão os seguidores do Rei celestial.

B. A Maneira de Seguir o Rei Celestial


1. Não Amar aos Parentes mais do que a Ele
Nos versículos 37 a 39 temos a maneira de seguir o Rei celestial. No
versículo 37 o Senhor disse: “Quem ama pai ou mãe mais do que a
Mim, não é digno de Mim; quem ama filho ou filha mais do que a Mim,
não é digno de Mim”. Nosso amor pelo Senhor deve ser absoluto. Nada
deve estar acima Dele. Ele é Aquele absolutamente digno do nosso amor e
devemos ser dignos Dele.
2. Tomar a Cruz e Seguir após Ele
O versículo 38 continua: “E quem não toma a sua cruz e segue após
Mim, não é digno de Mim”. Cristo foi crucificado tomando a vontade do
Pai (26:39, 42). Ao ser batizado, Ele foi considerado como crucificado, e
desde então carregou Sua cruz para fazer a vontade de Deus. Seus
chamados foram identificados com Ele. Elepediu-lhes que tomassem sua
cruz e seguissem-No, isto é, que tomassem a vontade de Deus pondo a si
mesmos de lado. Isso exigia que eles, a qualquer custo, dessem seu
primeiro amor a Ele para que fossem dignos Dele.
3. Perder a Vida da Alma por causa Dele
O versículo 39 diz: “Quem acha a sua vida da alma, perdê-la-á; e
quem perde a vida da alma por Minha causa, achá-la-á”. Achar a vida da
alma é permitir que a alma tenha desfrute e não sofra. Perder a vida da
alma é fazê-la perder seu desfrute. Se os seguidores do Rei celestial
permitem que a alma tenha desfrute nesta era, eles farão com que ela
perca o desfrute na era vindoura do reino. Se eles permitirem que a alma
sofra a perda do desfrute nesta era por causa do Rei, sua alma terá
desfrute na era vindoura do reino, isto é, compartilhará a alegria do Rei,
governando sobre a terra (25:21, 23).

VI. IDENTIFICAÇÃO COM O REI


A. Quem Recebe os Apóstolos do Rei Celestial
O Recebe
Em 10:40-11:1 temos a questão de identificação com o Rei
celestial. O versículo 40 diz: “Quem vos acolhe, a Mim Me acolhe; e
quem Me acolhe, acolhe Aquele que Me enviou”. Os apóstolos enviados
pelo Rei celestial, que foram outorgados com Sua
autoridade (v. 1) e paz (v. 13) e que receberam o Espírito do Pai (v. 20) e
foram identificados com o Rei em Seu sofrimento (vs. 22, 24-25) e morte
254
(vs. 21, 34-39), eram um com Ele. Assim, quem os recebe, recebe a
Ele. Para participarmos em tal identificação com o Rei celestial temos de
amá-Lo acima de tudo a qualquer preço, e segui-Lo
tomando o caminho estreito da cruz, como revelado nos
versículos 37 a 39. Os enviados não apenas têm a autoridade e a paz do
Rei e o Espírito do Pai, mas eles são também um com o Rei e são
identificados com Ele. Receber os enviados do
Rei significa receber opróprio Rei, porque os enviados estão
identificados com o Rei. Isso é um encorajamento para os que são
enviados. Na restauração do Senhor temos a autoridade, a paz, o Espírito
e a identificação com o nosso Rei. Somos um com Ele. Todo aquele
que nos recebe, recebe o Rei e todo aquele que nos rejeita, rejeita o
Rei. Isso não é algo insignificante. É muito sério. Todos
precisamos ter a certeza de que temos a autoridade, a paz, o Espírito e a
identificação. Tudo isso é para a expansão do ministério do Rei. O Rei
ainda está expandindo Seu ministério hoje, e nós somos os Seus enviados
com a autoridade, a paz, o Espírito e a identificação.

B. O Galardão de Acolher um Profeta ou um Justo


O versículo 41 diz: “Quem acolhe um profeta na qualidade de
profeta, receberá galardão de profeta; quem acolhe um justo na qualidade
de justo, receberá galardão de justo”. Um profeta é alguém que fala por
Deus e fala Deus. Um justo é alguém que busca a justiça, que pratica a
justiça e que é perseguido por causa da justiça a favor do reino (5:6, 10,
20; 6:1). O Rei celestial era tal Profeta enviado por Deus (Dt 18:15) e
tal homem justo (At 3:14). Seus apóstolos, enviados por Ele, estando
identificados com Ele, eram também tais profetas e justos. Portanto, todo
aquele que os acolhe, receberá um galardão. Quem acolher um profeta
está ligado a palavra do profeta, e aquele que acolhe um justo une- se à
justiça e ao justo. Então, tal pessoa receberá um galardão assim como o
profeta e o justo.
Os enviados do Rei sairão como profetas e como justos. O profeta
sempre vem com a palavra de Deus e o justo sempre vem com a justiça.
Se você recebe o profeta, receberá a palavra de Deus; e se recebe o justo
receberá a sua justiça. Quão bom é ter a palavra de Deus e a justiça! Isso
nos ajudará a ser introduzidos na realidade do reino hoje e também na
manifestação do reino no futuro.

C. O Galardão por Dar um Copo de Água Fria a um Pequeno


Discípulo
O versículo 42 diz: “E qualquer que der a beber, ainda que seja um
copo de água fria, a um destes pequeninos na qualidade de discípulo, em
verdade vos digo, de modo algum perderá o seu galardão”. Esse galardão
será dado na era vindoura (Lc 14:14).

255
VII. O REI CELESTIAL ENSINA E PREGA NAS
CIDADES
Mateus 11:1 diz: “E sucedeu que, quando Jesus acabou de dar
instruções a Seus doze discípulos, partiu dali a ensinar e a pregar nas
cidades deles”. Depois que o Senhor designou os doze e enviou-os a
espalhar a pregação do reino, Ele mesmo prosseguiu em Seu ministério
ensinando e pregando nas cidades.
MENSAGEM 31

O RESULTADO DO MINISTÉRIO DO REI


Em Mateus 11 vemos o resultado do ministério do Rei. O
registro do capítulo 10 indica que tanto o ministério do Rei como a
expansão desse ministério pelos doze apóstolos foram rejeitados. No
capítulo 10, o Senhordisse aos apóstolos que eles
seriam perseguidos e odiados, até mesmo pelo assim
chamado povo santo no sinédrio e nas sinagogas. Ele preveniu-os de que
seriam perseguidos pelos seus parentes. No capítulo 11 vemos que três
ministérios são rejeitados: o ministério de João
Batista, o ministério do Rei e o ministério dos enviados do Rei,
os doze apóstolos. João foi rejeitado, o Senhor Jesus foi rejeitado, e de
acordo com Sua instrução aos doze apóstolos, o ministério deles também
seria rejeitado. No capítulo 11 vemos como o Rei lida com essa rejeição.
O ponto principal nesse capítulo é como devemos enfrentar a rejeição.

I. FORTALECER SEU PRECURSOR


APRISIONADO

A. O Precursor Aprisionado Envia Seus Discípulos


para Provocar o Rei
Nos versículos 2 e 3 vemos que a paciência de João Batista, o
precursor do Rei rejeitado, estava esgotada. Assim, João “mandou por
seus discípulos perguntar-Lhe: És Tu Aquele que havia de vir ou devemos
esperar outro?” A palavra de João Batista aqui não significa que ele estava
em dúvida com respeito a Cristo. Ele indagou Cristo dessa maneira a

256
fim de provocá-Lo para que Ele o libertasse. Ele sabia que Cristo era
Aquele que havia de vir e enfaticamente O apresentou ao povo (Jo 1:26-
36). Em seguida ele foi colocado na prisão (Mt 4:12) e esperou, contando
que Cristo faria algo para livrá-lo. Embora Cristo tenha feito muito para
ajudar outras pessoas, Ele nada fez por ele. Por essa razão, João estava em
perigo de tropeçar (v. 6). Por isso ele enviou seus discípulos a Cristo com
tal pergunta provocadora. No pensamento de João não havia dúvida de
que Cristo era o Messias. Ele não enviou seus discípulos para perguntar ao
Senhor se Ele era ou não o Messias. Ele estava tentando provocar Cristo
para tirá-lo da prisão. Mas é muito difícil provocar o Senhor Jesus.
Quanto mais você tenta provocá-Lo, mais Ele se torna indiferente a você.
Você nunca O moverá provocando-O. Se tentar fazer isso, Ele ficará
menos disposto a fazer algo por você.

B. A Resposta do Rei Celestial


Nos versículos 4 a 6 temos a resposta do Senhor a João. Os
versículos 4 e 5 dizem: “Ide anunciar a João o que estais ouvindo e
vendo: os cegos vêem e os coxos andam; os leprosos são purificados e os
surdos ouvem; os mortos são ressuscitados e aos pobres está sendo
anunciado o evangelho”. O Senhor mencionou primeiro o cego recebendo
a visão, porque não houve tal milagre no Antigo Testamento. Com isso,
Ele deu uma clara evidência a João que nenhum outro poderia ter feito tal
milagre senão o Messias (Is 35:5). No sentido espiritual, o cego receber
visão também vem primeiro. Na salvação do Senhor, Ele primeiramente
abre nossos olhos (At 26:18); então podemos recebê-Lo e andar para
segui-Lo. O coxo significa aqueles que não podem andar no caminho de
Deus. Após serem salvos eles podem andar pela nova vida (9:5-6; Jo 5:8-
9). O leproso purificado significa aqueles que foram salvos da sua
rebelião (lepra) para tornarem-se o povo do reino. O surdo significa
aqueles que não podem ouvir a Deus. Após serem salvos eles podem
ouvir a voz do Senhor (Jo 10:27). Os mortos significam aqueles que
estão mort2:1, 5), incapazes de contatar a
Deus. Após serem regenerados, com seu espírito regenerado eles
podem ter comunhão com Deus. Os
pobres significam todos os sem Cristo, sem Deus, que não têm
esperança no mundo (Ef 2:12). Ao receber o evangelho eles se tornam
ricos em Cristo (2Co 8:9; Ef3:8). O versículo 6 diz:
“E bem-aventurado é aquele que não achar em Mim
motivo de tropeço”. Essa palavra indica que João Batista estava
correndo risco de tropeçar no Senhor, porque o Senhor não agiu em seu
benefício conforme sua maneira. Aqui o Senhor encorajou-o a tomar o
caminho que Ele havia lhe ordenado para que fosse abençoado. Essa
bênção tem muito a ver com a participação no reino dos céus.
Nesses versículos o Senhor parecia estar dizendo a João: “Não há
dúvida de que sou o Messias. Eu ser o Messias ou não, não depende de
Eu fazer algo por você ou não. Curei o cego, o surdo e o enfermo. Também
ressuscitei o morto. Mas não quero fazer nada por você. Não espere algo
257
de Mim. Deixarei você na prisão até que seja decapitado. Bem-
aventurado é aquele que não achar em Mim motivo de tropeço”. Na
restauração do Senhor precisamos aprender essa lição. Sempre que o
Senhor faz algo positivo por nós, ficamos empolgados. Mas muitas vezes
o Senhor não fará nada por nós. A razão por que Ele nada fez para
libertar João da prisão era que se João tivesse sido libertado, o seu
ministério estaria competindo com o ministério do Senhor Jesus. o
aprisionamento de João foi soberanamente arranjado pelo Senhor para
terminar seu ministério, que era um ministério de apresentação. Após a
obra de apresentação ter sido realizada, o ministério dele deveria ter
terminado. Assim, Deus soberanamente terminou o ministério de João,
aprisionando-o.

II. AVALIA SEU PRECURSOR


As perguntas dos discípulos de João ao Senhor podem ter dado aos
apóstolos do Senhor uma impressão negativa de João. Por isso nos
versículos 7 a 15 o Senhor publicamente avaliou Seu precursor. Oculta na
resposta do Senhor a João havia uma indicação da fraqueza dele.
Entretanto, Suas palavras à multidão testificaram publicamente por João.
Lembre-se que os primeiros quatro discípulos foram introduzidos por
intermédio do ministério de apresentação de João. João declarou: “Eis o
Cordeiro de Deus”, e João e André seguiram o Senhor Jesus. Por fim eles
trouxeram Tiago e Pedro ao Senhor. Assim, os primeiros quatro discípulos
foram trazidos a Cristo por intermédio do ministério de João Batista.

A. Não um Caniço no Deserto Agitado pelo Vento ou um


Homem Vestido de Roupas
Delicadas
Em Sua avaliação pública de João Batista o Senhor Jesus vindicou-
o. No versículo 7 o Senhor disse: “Que saístes a ver no deserto? um caniço
agitado pelo vento?” Um caniço significa uma pessoa frágil e fraca
(12:20; 1Rs 14:15). Quando João Batista estava testificando por Cristo no
deserto, ele não era como um caniço, uma pessoa fraca. Entretanto agora
na prisão ele era como um caniço agitado pelo vento. O Senhor Jesus é
sábio, 1 amável e misericordioso. Se fôssemos o Senhor teríamos sido
ofendidos por João. Porque o Senhor sabia que João estava um tanto
fraco, Ele o encorajou. Ele parecia estar dizendo: “João, cuidado. Parece
que você está um tanto enfraquecido a Meu respeito”. Esse foi o
significado da palavra do Senhor a João. Mas quando falou às multidões e
aos outros discípulos, Ele vindicou João, indicando que ele não era uma
pessoa fraca, uma pessoa tímida, mas uma testemunha forte. No versículo
8 o Senhor perguntou: “Mas que saístes a ver? um homem vestido de
roupas delicadas? Eis que os que vestem roupas delicadas estão nas casas
dos reis”. Após testificar ousadamente por Cristo no deserto, João Batista
tomou-se fraco quando foi aprisionado por um tempo. Alguns podem
pensar que ele desejaria vestir-sede roupas finas nos palácios reais. Mas
258
o Senhor testificou que ele não era um caniço agitado pelo vento nem um
homem vestido de roupas finas.

B. Muito Mais que um Profeta


O versículo 5 diz: “Mas porque saístes? Para ver um profeta? Sim,
Eu vos digo, e muito mais que profeta”. O Senhor testificou que João foi
muito mais que um profeta. Ele foi um grande profeta, maior do que
todos os outros que foram antes dele.

C. Ser Um Mensageiro Diante da Face do Rei Celestial, para


Preparar-Lhe o Caminho
João foi enviado por Deus como um mensageiro diante de Cristo
para preparar-Lhe o caminho (11:10) a fim de que o povo pudesse voltar a
Deus e receber o Rei celestial e o reino celestial. O ministério dele era o
de pavimentar o caminho para o reino.

D. Maior do que Todos os que Nasceram Antes do


Reino dos Céus, mas Menor que
Aqueles que Estão no Reino dos Céus
No versículo 11 o Senhor diz: “Em verdade vos digo: Entre os
nascidos de mulher, não se levantou nenhum maior do que João Batista;
mas o menor no reino dos céus é maior do que ele”. Embora João fosse
maior do que todos os profetas, ele não estava no reino dos céus.
Comparado aos profetas do Antigo Testamento João era maior; mas
comparado ao povo do Novo Testamento ele era menor. João estava num
período transitório, era maior que os que o precederam, mas menor que
os que viriam depois dele. Todos os profetas do Antigo Testamento antes
de João profetizaram apenas que Cristo estava para vir, mas João
testificou que Cristo tinha vindo. Os profetas estavam procurando Cristo,
mas João viu Cristo. Portanto, João era maior do que todos os profetas.
Embora João tenha visto o Cristo encarnado e apresentado-O ao povo,
ele não tinha o Cristo ressurreto habitando nele. Mas o povo do reino
tinha. João apenas poderia dizer: “Aqui está Cristo”, mas o povo do reino
pode dizer: “Para mim o viver é Cristo” (Fp 1:21). Por isso o menor no
reino dos céus é maior que ele. Se alguém é maior ou menor depende do
seu relacionamento com Cristo. Cristo é o fator decisivo. Quanto mais
próximo alguém está de Cristo, maior ele é.
Os profetas profetizaram com respeito à vinda de Cristo e João
introduziu o Cristo que viera. Os profetas disseram que Cristo estava
vindo e João disse que Cristo estava lá. Embora João Batista estivesse
próximo a Cristo, ele não estava tão próximo a Ele como nós estamos,
porque temos Cristo dentro de nós. Cristo está em nós e nós estamos
Nele. Porque Cristo está mesclado conosco, nosso relacionamento com
Ele é o mais íntimo. Estamos em Cristo, Cristo está em nós, e estamos

259
mesclados com Ele, até mesmo unidos a Ele. A Primeira Epístola aos
Coríntios 6:17 diz: “Aquele que se une ao Senhor é um espírito com
ele”. Que pode ser mais íntimo do que isso? Esse relacionamento íntimo
com Cristo nos faz maiores do que todos os que nos precederam. Que
grande bênção isso é!
Precisamos perceber em que era estamos vi vendo. Pedro, João e
mesmo Paulo estavam no princípio da era do reino, mas nós estamos no
encerramento desta era. Onde você preferiria estar no início, no meio
ou na conclusão? Martinho Lutero estava no meio, mas não estamos nem
no princípio nem no meio, estamos no final. Grandes homens como
Martinho Lutero estiveram nos ombros dos primeiros apóstolos, mas
agora estamos nos ombros de Martinho Lutero e de outros notáveis.
Portanto, estamos acima de todos eles. Mesmo o menor entre nós é capaz
de dar um forte testemunho de sermos justificados pela fé objetivamente
e subjetivamente. Não considere esses dias como dias insignificantes.
Quando estava buscando o Senhor há cinqüenta anos, a situação
era muito pobre. Gastávamos muito dinheiro em livros e viajávamos para
ver certas pessoas. Não há comparação com a situação de hoje.
Hoje todos vocês estão cheios de riquezas. Minha única preocupação é
que vocês não têm o apetite adequado. Estamos banqueteando todos os
dias. Não estamos no período transitório, não estamos no princípio nem
no meio da era do Novo Testamento; estamos na conclusão desta era. Na
conclusão tudo é melhor, mais elevado e mais rico. Louvamos ao Senhor
que estamos tão próximos a Cristo! Muitas. das mensagens que ouviram
sobre Cristo não foram ouvidas por outros no passado. Muitos de vocês
estiveram no cristianismo por anos. Foi-lhes dito algo do Cristo todo-
inclusivo? Ouviram acerca de comer Jesus? Mas agora estamos comendo-
O e desfrutando-O. Assim, somos maiores. Você ousa dizer que é maior?
De acordo com o princípio na Bíblia, o último é sempre o maior. Os
últimos serão os primeiros. Porque somos os últimos somos os maiores.

E. Ser Elias
o versículo 14 diz: “E, se o quereis aceitar, ele é o Elias que há de
vir”. Malaquias 4:5 profetizou que Elias viria. Quando João Batista foi
concebido, foi dito que ele iria adiante do Senhor no espírito e poder de
Elias (Lc 1:17). Portanto, de certo modo, João pôde ser considerado o
Elias que estava por vir (Mt 17:1O-l3). Entretanto, a profecia de
Malaquias 4:5 será verdadeiramente cumprida na grande tribulação,
quando o verdadeiro Elias, uma das duas testemunhas, virá para
fortalecer o povo de Deus (Ap 11:3-12).

F. Os Profetas e a Lei Profetizaram até João


O versículo l3 diz: “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até
João”. Isso prova que a dispensação do Antigo Testamento terminou com
a vinda de João.

260
G. Desde os Dias de João até Agora o Reino dos Céus é
Tomado por Violência
O versículo 12 diz: “Desde os dias de João Batista até agora, o reino
dos céus é tomado por violência, e os violentos se apoderam dele”. Dos
dias de João Batista até agora, os fariseus violentamente têm tentado
impedir as pessoas de entrar no reino dos céus. Assim, os que desejam
entrar, devem fazê-lo por violência.

H. A Necessidade de Ouvidos para Ouvir


A palavra de Cristo com respeito ao Seu precursor João Batista
relacionava-se profundamente a Ele próprio e ao
reino celestial. Era diferente de qualquer dos ensinamentos velhos e
tradicionais. Portanto, havia necessidade de ouvidos para ouvir (1l:15).

III. REPROVA A GERAÇÃO OBSTINADA


Após o Senhor ter elogiado João, Ele voltou-se para a geração que o
rejeitou e reprovou-a. Seu elogio lembrou-os de que João fora rejeitado. A
despeito de quão grande fosse João, ele estava na prisão, por causa da
rejeição daquela geração.

A. A Geração Não Reagiu à Pregação do Precursor


nem à do Rei Celestial
Nos versículos 16 e 17 o Senhor disse: “Mas a que compararei esta
geração? É semelhante a crianças sentadas nas praças, que chamam
pelas outras, dizendo: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes;
entoamos lamentações, e não pranteastes”, Cristo e João Batista
“tocaram flauta” pregando o evangelho do reino, mas os judaizantes
“não dançaram” regozijando-se com a salvação. João e Cristo
“entoaram lamentações” pregando o arrependimento, mas os
judaizantes “não prantearam” como resultado de tristeza pelo pecado.
A justiça de Deus exigia-lhes arrependimento, mas eles não quiseram
obedecer. A graça de Deus provia-lhes salvação, mas não quiseram
recebê-la.
Os versículos 18 e 19 dizem: “Pois veio João, que não comia nem
bebia, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do Homem, que come e bebe,
e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de
impostos e de pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas obras”.
João, que veio para levar os homens ao arrependimento (Me 1:4) e fazê-
los entristecer-se pelo pecado, não comia nem bebia (Lc 1:15-17);
enquanto Cristo, que veio para trazer salvação aos pecadores e levá-los a
se regozijar nela, alegrou-se ao beber e comer com eles (Mt 9:10-11). O
povo do reino, sem regulamentos, segue a sabedoria divina, concentrando
sua atenção no Cristo que habita interiormente o qual é a sabedoria deles
261
(1Co 1:30), e não na sua maneira de vida exterior.
Porque João Batista viveu de maneira estranha e peculiar, não
comendo e bebendo de maneira normal, os opositores diziam: “Tem
demônio”-ele é endemoninhado. Mas eles chamaram Cristo de glutão e
bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores. Cristo
não é apenas o Salvador, mas também o amigo de pecadores,
compadecendo- se de seus problemas e entendendo sua tristeza.
No versículo 19 o Senhor disse: “Mas a sabedoria é justificada por
suas obras”. A sabedoria é Cristo (1Co 1:24, 30). Tudo o que Cristo fez foi
pela sabedoria de Deus, que é Ele próprio. Essa sabedoria foi justificada,
vindicada, pelas Suas obras sábias, Seus feitos sábios. Nesse versículo
algumas autoridades lêem “filhos” em vez de “obras”. O povo do reino são
os filhos da sabedoria, os que justificam Cristo e Seus feitos e seguem-No
como a sabedoria deles. Cristo é justificado pelo povo do reino, que sabe
quando comer e quando não comer e que reconhece o tocar da flauta e o
entoar das lamentações, sabendo quando se regozijar e quando se
arrepender. Nós, o povo do reino, os filhos da sabedoria, temos a
sabedoria para discernir quando nos arrepender e quando nos regozijar.
Mas a geração que rejeita é absolutamente tola. Se você tocar uma
canção, eles não respondem. Se cantar uma lamentação por
arrependimento, eles não reagem a isso também. Eles são obstinados e
tolos, são carentes de sabedoria.

B. As Cidades Não se Arrependeram


O versículo 20 diz: “Começou, então, a increpar as cidades nas
quais se operara a maior parte de Seus milagres, pelo fato de não se terem
arrependido”. O Senhor prosseguiu: “Ai de ti, Corazim! ai de ti,
Betsaida!”, porque de modo geral todas elas O rejeitaram. Quanto a
Cafamaum Ele disse: “Até o Hades serás abatida”. Hades, assim como
([Seol] sepultura, sepulcro-JFA) no Antigo Testamento (Gn 37:35, Sl 6:5),
é o lugar onde a alma e o espírito dos mortos estão guardados (Lc
16:22-23; At 2:27). Ele também disse de Cafamaum: “No dia do juízo
haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti” (v. 24). Isso
indica que Cafamaum era pior que Sodoma.

IV. RECONHECER A VONTADE DO PAI COM LOUVOR

A. Responde ao Pai em Sua Comunhão com Ele quando Ia


Repreender a Geração
Obstinada
O versículo 25 começa com as palavras: “Naquele tempo”. Isso se
refere ao tempo que o Senhor estava repreendendo as cidades. O versículo
25 diz: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Eu Te enalteço, ó
Pai, Senhor do céu e da terra”. A palavra “respondendo” é muito
significativa. A quem o Senhor respondeu? Ele respondeu ao Pai.
262
Enquanto o Senhor estava repreendendo as cidades, Ele teve comunhão
com o Pai. Naquele tempo, respondendo ao Pai, Ele proferiu-Lhe
louvores. Enquanto o Senhor estava repreendendo as cidades, um terceiro
partido estava presente. O Senhor era o primeiro partido, as cidades eram
o segundo, e o Pai, que estava com Ele, era o terceiro. Enquanto o Senhor
estava repreendendo Corazim, Betsaida e Cafamaum, o Pai Lhe pode ter
perguntado: “Você está feliz por isso?” Então o Senhor respondeu e disse:
“Eu Te enalteço, ó Pai”. O Pai pode ter dito ao Filho: “Estás repreendendo
essas cidades porque elas Lhe rejeitaram. Sente-se bem com isso?” O
Senhor imediatamente respondeu e louvou ao Pai, o Senhor do céu e da
terra.
Às vezes um terceiro partido está presente enquanto você está
falando com sua esposa. Você é o primeiro partido, sua esposa é o
segundo, e o Senhor é o terceiro. Talvez diga à sua esposa: “Ontem você
não me tratou muito bem, seu comportamento foi medíocre”. Enquanto
está dizendo essas palavras, o terceiro partido ao seu lado pode perguntar:
“Que tal isso? Você gosta? Sim, sua esposa não foi tão bem ontem”. Nessa
hora você poderia dizer: “Eu te enalteço, ó Pai”. Isso não é algo fácil de
fazer. Mas o Senhor Jesus pôde fazê-lo, dizendo: “Graças te dou, ó Pai,
Senhor do céu e da terra. Reconheço a Tua autoridade. Se isso não
procedesse de Ti, nenhuma dessas cidades Me rejeitariam. Mesmo essa
rejeição procede de Ti. Pai, Eu fico do Teu lado. Essa situação é muito boa.
Eu Te digo que Me sinto bem a esse respeito e posso louvar-Te por isso”.

B. Reconhece a Vontade do Pai com Louvor


A palavra grega traduzida para “enaltecer” no versículo 25 significa
fazer confissão com louvor . O Senhor reconheceu com louvor a maneira
do Pai realizar a Sua economia. Embora o povo, em vez de responder ao
Seu ministério, O tenha difamado (vs. 16-19), e as cidades principais O
tenham rejeitado (vs. 20-24), Ele louvou ao Pai, reconhecendo a Sua
vontade. Ele não buscou prosperidade em Sua obra, mas empenhou-se na
vontade do Pai. Ele desejava estar satisfeito e descansado, não segundo o
entendimento e bem-estar do homem, mas segundo a compreensão do Pai
(vs. 26-27). Cristo creu que a rejeição Dele pelas cidades provinha do Pai.
E quanto à nossa situação hoje? Quando somos rejeitados, resistidos,
criticados, atacados e condenados, podemos louvar o Pai? Você alguma
vez disse: “Pai, louvo a Ti pela rejeição e oposição de meus pais e amigos”?
Precisamos reconhecer que tal rejeição soberanamente provém do Senhor
e louvá-Lo por isso.
No louvor do Senhor, “Pai” refere-se ao relacionamento do Pai com
Ele, o Filho; enquanto “Senhor do céu e da terra” refere-se ao
relacionamento de Deus com o universo. Quando o povo de Deus era
derrotado por Seu inimigo, Ele era chamado o Deus dos céus (Ed 5:11-12;
Dn 2:18, 37). Mas quando havia um homem na terra posicionando-se por
Deus, Ele era chamado o Possuidor dos céus e da terra (Gn 14:19, 22).
Agora, o Senhor, como o Filho do homem, também chamou o Pai de

263
“Senhor dos céus e da terra”, indicando que Ele estava na terra pelos
interesses de Deus.

1. O Pai Ocultou dos Sábios e Entendidos o Conhecimento


do Filho e do Pai
O versículo 25 também diz que o Pai ocultou “essas coisas aos
sábios e entendidos”. “Essas coisas” referem-se às coisas com respeito ao
conhecimento do Filho e do Pai (v. 27). Os “sábios e entendidos” referem-
se às pessoas das três cidades condenadas nos versículos 20 a 24, que
eram sábias e entendidas aos seus próprios olhos. A vontade do Pai era
ocultar de tais pessoas o conhecimento do Filho e do Pai.

2. O Pai Revelou Essas Coisas aos


Pequeninos
O Senhor louvou ao Pai por ter revelado essas coisas aos
pequeninos. A palavra “pequeninos” refere-se aos discípulos, que eram
os filhos da sabedoria. O Pai se agradou de revelar o Filho e o Pai a eles.
Conhecer o Filho e o Pai é totalmente uma questão da soberania do Pai.
Em 16:17, após Pedro ter recebido a revelação que Jesus era o Cristo, o
Filho do Deus vivo, Jesus disse-lhe: “Bem- aventurado és, Simão
Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas Meu Pai
que está nos céus”. Assim, conhecer o Filho é uma questão da revelação
do Pai.

3. Agradável ao Pai
O versículo 26 diz: “Sim, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado”.
Era do agrado do Pai que o Filho fosse rejeitado. O Pai agradava-se de ver
a rejeição do Filho. É muito difícil crermos nisso. Se seus pais e parentes
quisessem ser um com você na restauração do Senhor, você ficaria
empolgado e louvaria ao Senhor. Mas você deve louvar ao Senhor pela sua
experiência de rejeição, dizendo: “Louvo-Te, ó Pai, porque Tu és o Senhor
dos céus e da terra. Todas as coisas provêm de Ti, e eu Te louvo por essa
situação”.

4. Todos os Restantes Foram Entregues ao Filho pelo Pai


O versículo 27 diz: “Tudo Me foi entregue por Meu Pai”. “Tudo” se
refere ao restante, a quem o Pai deu ao Filho (J03:27; 6:37, 44, 65; 18:9).
Essa palavra implica que os sábios e entendidos rejeitaram o Filho,
porque o Pai não se agradou em dá-los ao Filho. Entretanto, todos os
restantes foram entregues ao Filho pelo Pai. Pedro, João, Tiago e André
eram alguns daqueles que foram dados ao Filho pelo Pai. O Senhor Jesus
disse: “Todo aquele que o Pai Me dá, virá a Mim; e o que vem a Mim, de
modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6:37). O fato de estarmos na
restauração do Senhor é absolutamente uma questão da soberana
264
misericórdia de Deus. Precisamos adorar ao Senhor por isso. Dentre
tantos cristãos no mundo, nós estamos na restauração. Tenho o profundo
sentimento interior de que nesses anos que a restauração do Senhor tem
estado neste país, Ele tem ceifado uma colheita. Ele tem ajuntado um
remanescente entre os cristãos. Nos anos em que estivemos no salão da
rua Elden em Los Angeles, o Senhor estava ajuntando seus
remanescentes. Mês após mês, o Senhor trouxe seus remanescentes de
várias cidades, estados e países. Aquele era um verdadeiro ajuntamento
de remanescentes. Todos os que foram ajuntados podem testificar que
fomos libertados pelo Pai. A restauração do Senhor não é uma obra cristã
comum; é o ajuntamento dos remanescentes do Senhor para restaurar o
reino de Deus na vida da igreja. O Senhor ainda está fazendo a obra de
reunir Seus remanescentes hoje.

5. Ninguém Conhece o Filho senão o Pai e Ninguém


Conhece o Pai senão o Filho e Aquele que Recebe a
Revelação do Filho
No versículo 27 o Senhor disse: “Ninguém conhece plenamente o
Filho senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai senão o Filho, e
aquele a quem o Filho O quiser revelar”. A palavra grega traduzida para
“conhece” neste versículo significa pleno conhecimento, não mero
entendimento objetivo. No que diz respeito ao Filho, apenas o Pai tem tal
conhecimento; e no que se refere ao Pai, apenas o Filho tem tal
conhecimento. Portanto, para conhecer o Filho temos de ter a revelação
do Pai (16:17), e para conhecer o Pai é necessário a revelação do Filho (Jo
17:6, 26). A palavra grega traduzida para “quiser” significa exercitar
intencionalmente a vontade por meio de decisão. “Essas coisas”
mencionadas no versículo 25 são difíceis para o homem natural entender.
A restauração do Senhor é absolutamente contra o reino das trevas do
inimigo. Sem dúvida, o maligno não está disposto a permitir que as
pessoas conheçam as coisas do Pai, do Filho e da restauração do Senhor.
Por isso, há a necessidade da misericórdia soberana do Pai. É soberania
do Senhor que vimos certas coisas e fomos levados a elas. Embora outros
as condenem, temos gozo porque as vimos. Nosso ver não é devido à
nossa inteligência, mas pela misericórdia do Pai. O Pai mostrou-nos todas
essas coisas.

V. CHAMA OS SOBRECARREGADOS A DESCANSAR E


INDICA O MODO DE FAZÊ-LO

A. o Chamamento
No versículo 28 o Senhor fez um chamamento: “Vinde a Mim todos
os que labutais e estais sobrecarregados, e Eu vos darei descanso”. O
Senhor parecia dizer: “Todos os que labutam e estão sobrecarregados,
venham a Mim e descansem. Todos os religiosos e todos vocês, pessoas do
265
mundo, que labutam e estão sobrecarregados, venham a Mim e Eu
lhes darei descanso”. Que palavra graciosa! O cansaço mencionado no
versículo 28 refere-se não apenas ao esforço de guardar os mandamentos
da lei e os regulamentos religiosos, mas também o empenho de ser
bem sucedido em toda obra. Os que assim fazem estão sempre
excessivamente sobrecarregados. Após o Senhor ter louvado o Pai,
confessando a Sua vontade e declarando a economia divina, Ele chamou
essas pessoas para ir a Ele e descansar. Descansar não se refere apenas a
estar livre do cansaço e de sob a carga da lei e da religião ou de
qualquer obra e responsabilidade, mas também à perfeita paz e total
satisfação.

B. O Caminho
1. Tomar o Jugo do Rei Celestial
Nos versículos 29 e 30 temos o caminho para descansar: “Tomai
sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de
coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é
suave e o Meu fardo é leve”. Tomar o jugo do Senhor é tomar a vontade do
Pai. Não é ser regulado ou controlado por qualquer obrigação da lei ou da
religião, nem ser escravizado por qualquer obra, mas ser constrangido pela
vontade do Pai. O Senhor viveu tal vida, não se importando com nada
senão coma vontade de Seu Pai (104:34; 5:30; 6:38). Ele se submeteu
totalmente à vontade do Pai (26:39, 42). Por isso Ele nos pede para
aprender Dele. A vontade de Deus é o nosso jugo. Assim, não estamos
livres para fazer o que nos agrada; antes estamos sob jugo. Jovens, não
pensem que são tão livres ou liberados. Na restauração do Senhor todos
fomos subjugados. Quão bom é ser subjugado! O jugo do Senhor é suave e
Seu fardo é leve. O jugo do Senhor é a vontade do Pai, e Seu fardo é
realizar a vontade do Pai. Tal jugo é suave, não penoso, e o Seu fardo é
leve e não pesado.
A palavra grega traduzida para “suave” significa própria para uso;
conseqüentemente, boa, amável, branda, delicada, confortável, agradável,
em contraste ao que é difícil, desagradável, brusco e penoso.

2. Aprender Dele
No versículo 29 o Senhor nos fala de aprender Dele. Ele é manso e
humilde de coração. Ser manso significa não resistir a qualquer oposição,
e ser humilde significa não se considerar em alta conta. Em toda
oposição o Senhor era manso e em toda rejeição Ele era humilde de
coração. Ele submetia-se totalmente à vontade do Pai, não pretendendo
fazer algo por Si nem esperando obter algo para Si. Por isso, apesar da
situação, Ele tinha descanso no coração. Ele estava totalmente satisfeito
com a vontade do Pai.
O Senhor disse que se tomarmos sobre nós o Seu jugo e
aprendermos Dele, encontraremos descanso para nossa alma. O
266
descanso que achamos tomando o jugo do Senhor e aprendendo Dele é
para a nossa alma. É um descanso interior; não algo meramente exterior.
Se quando ministramos sofremos oposição, e resistimos, não
teremos paz. Mas se em vez de resistir, submetemo-nos à vontade do Pai,
testificando que a oposição procede Dele, teremos descanso em nossa
alma. João Batista não considerou seu aprisionamento como proveniente
do Pai; por isso, ele não teve descanso. Se tivesse percebido que sua
prisão procedia da vontade do Pai, ele estaria descansando, ainda que na
prisão. Cristo, o Rei celestial, sempre se submeteu à vontade do Pai,
tomando a vontade de Deus como Sua porção e não resistindo a coisa
alguma. Assim, Ele descansava todo o tempo. Devemos aprender Dele e
também ganhar essa visão. Se o fizermos teremos descanso em nossa
alma.

267
MENSAGEM 32

A OFICIALIZAÇÃO DA REJEIÇÃO AO REI (1)


Nesta mensagem chegamos à oficialização da rejeição ao Rei (12:1-
50).

I. A RAZÃO DA REJEIÇÃOA QUEBRA DO SÁBADO


A razão da rejeição ao Senhor foi a quebra do sábado (12:1-14).

A. Colher e Comer as Espigas nas Searas, no Sábado


1. O Rei Celestial e Seus Discípulos Passaram pelos Campos
de Trigo no Sábado e os
Discípulos Colheram Espigas para Comer
Mateus 12:1 diz: “Por aquele tempo, em dia de sábado, passou Jesus
pelas searas. Ora, os Seus discípulos estavam com fome, e começaram a
colher espigas e a comer”. “Por aquele tempo” une o capítulo 12 ao 11. No
tempo que o Senhor chamou as pessoas para descansar do esforço de
guardar a lei e os regulamentos religiosos, Ele passou pelos campos de
trigo no sábado, e Seus discípulos começaram a colher espigas e a comer,
aparentemente quebrando o sábado. Lembre-se que Mateus une
determinados fatos para apresentar uma doutrina em seus registros. O
relato nos outros Evangelhos não é exatamente igual ao daqui. A frase “por
aquele tempo” é muito importante. Ela se refere ao tempo do chamamento
das pessoas para o Seu descanso. Por aquele tempo todos os Seus
discípulos estavam famintos. Sempre
que estamos famintos não temos descanso. Descanso inclui satisfação.
Quando você está satisfeito, você está no descanso. Mas se não tem
satisfação, você não tem descanso.
Quando o Senhor chamou as pessoas ao descanso, Seus discípulos
estavam famintos. Por essa razão, Ele os levou às searas, lavouras de trigo.
Sem dúvida, eles sabiam que esses campos estavam maduros, cheios de
espigas boas para comer. O Senhor Jesus fez isso propositadamente.
Percebendo que Seus discípulos estavam famintos, Ele os levou às searas
para descansar. Isso é um sinal. O chamamento do capítulo 11 para vir a
Ele e descansar foi feito no dia de sábado. Isso é provado pelas palavras
“por aquele tempo” que começa no capítulo
12. O sábado era um dia de descanso. No dia de descanso o Senhor
chamou o povo para descansar. Ele parecia dizer: “Vocês estão guardando
o sábado, todavia ainda estão labutando e esforçando-se para guardar a
lei. Vocês estão sobrecarregados com todas as leis, rituais, formas e
regulamentos. Embora estejam guardando o sábado exteriormente, de
fato, vocês não têm nenhum descanso. Vocês precisam vir a Mim. Vocês
laboram e se sobrecarregam com guardar a lei. Venham a Mim e acharão
268
descanso”. Pedro e João talvez tenham dito: “Estamos famintos e não
podemos descansar. Precisamos de algo para comer”. Mas aquele di a era
sábado e todas as atividades tinham cessado. Por isso era difícil aos
discípulos encontrar algo para comer. Sabendo disso, o Senhor Jesus
levou-os às searas. Anos atrás não podia entender por que o Senhor Jesus
fez isso. Agora entendo que Ele o fez porque tinha chamado as
pessoas ao Seu descanso, no sábado. Ele sabia que Seus discípulos
estavam famintos e que, porque era sábado, era difícil achar algo para
comer. Eles não poderiam comprar nada, fazer qualquer coisa ou ir a
qualquer lugar. Os discípulos poderiam ter dito: “Senhor Jesus, que
faremos? Tu nos chamastes para vir a Ti e descansar; mas estamos
famintos e parece que não há maneira de arranjarmos algo para comer.
Como podemos descansar com tamanha fome?” Eles estavam sob a carga
de guardar os regulamentos do sábado. Esses regulamentos se tomaram
uma carga pesada para os discípulos famintos. Assim, o Senhor Jesus
tomou a iniciativa de não guardar esses regulamentos, conduzindo Seus
discípulos de uma situação de guardar regulamentos para uma seara. A
intenção do Senhor ao fazer isso era liberá-los dos regulamentos de
guardar o sábado. Quando entraram nas searas, todos foram libertados
dessa carga e ficaram satisfeitos. Todos entraram no descanso. Esse é o
pano de fundo da rejeição ao Senhor no capítulo 12. Os discípulos
deveriam ficar com fome e guardar o sábado ou esquecer o sábado e
encontrar algo para comer e satisfazer sua fome? O Senhor tomou a
iniciativa de levar Seus discípulos famintos à seara onde eles achariam
algo para comer.

2. Os Fariseus Viram e Condenaram


O versículo 2 diz: “Os fariseus, porém, vendo isso, disseram-Lhe:
Eis que os Teus discípulos fazem o que não é lícito fazerem dia de
sábado”. Os fariseus, “a patrulha do sábado”, pegaram o Senhor Jesus e os
Seus discípulos. Eles deviam estar vigiando o Senhor. Caso contrário,
porque estariam nas searas no sábado? Os fariseus deviam estar
deliberadamente seguindo o Senhor e espionando-O. Os fariseus
condenaram o que os discípulos do Senhor estavam fazendo, dizendo que
não era lícito fazê-lo no sábado. O sábado era para os judeus lembrarem a
conclusão da criação de Deus (Gn 2:2), para guardar o sinal da aliança de
Deus com eles (Ez 20:12), e lembrar a redenção de Deus para eles (Dt
5:15). Portanto profanar o sábado era uma questão séria aos olhos dos
fariseus religiosos. Para eles não era lícito, não era bíblico. Mas eles não
tinham o conhecimento adequado das Escrituras. De acordo com seu
pobre conhecimento, eles se importavam com o ritual de guardar o
sábado e não com a fome das pessoas. Que insensatez observar um ritual
vazio!

3. A Defesa do Rei
Esse ambiente proporcionou ao Senhor Jesus a oportunidade de
269
revelar-Se mais. Para os fariseus, Jesus tinha sido pego. Mas para o
Senhor Jesus aquela foi uma oportunidade de revelar a eles e aos
discípulos quem Ele era. Até aqui, Ele tinha sido revelado como o Médico,
o Noivo, o Pastor e o Senhor da seara. Após ser pego pelos fariseus, o
Senhor revelou-se em pelo menos cinco outros aspectos principais.

a. Davi e Seus Homens Entraram na Casa de Deus e


Comeram o Pão da Proposição
De acordo com os versículos 3 e 4, o Senhor perguntou aos
discípulos: “Mas Ele lhes disse: Não lestes o que fez Davi quando teve
fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, e
comeram os pães da proposição, os quais não lhe era lícito comer, nem a
ele nem aos que com ele estavam, senão só aos sacerdotes?” Os fariseus
disseram que não era lícito que os discípulos do Senhor colhessem as
espigas nas searas e as comessem, condenando-os por agirem contrário às
Escrituras. Mas o Senhor respondeu: “Não lestes”, enfatizando outro
aspecto das Escrituras que O justificava e a Seus discípulos. Isso
condenou os fariseus, por carecerem do conhecimento adequado das
Escrituras. O Senhor Jesus parecia dizer: “Vocês vieram aqui para me
pegar segundo as Escrituras. Não pensem que conhecem tanto a Bíblia.
Vocês a conhecem apenas em parte, de modo muito superficial. Vocês
nunca tocaram as profundezas das Escrituras. Podem tê-la lido, mas não a
entendem. Leiam sobre o que fez Davi quando e1e e aqueles que com ele
estavam sentiram fome. Eles comeram algo, o pão da proposição no
templo, o qual, de acordo com os regulamentos levíticos, não deveriam ter
comido. Vocês fariseus pensam que Eu fiz algo ilegal. Mas não leram que
Davi e seus seguidores fizeram o mesmo?” Devemos admirar o
conhecimento do Senhor da Bíblia.
A palavra do Senhor aqui implica que Ele era o verdadeiro Davi.
Nos tempos antigos, Davi e seus seguidores, quando rejeitados, entraram
na casa de Deus e comeram o pão da proposição, aparentemente
quebrando a lei levítica. Agora o verdadeiro Davi e Seus seguidores foram
também rejeitados e tomaram a iniciativa de comer, aparentemente,
contra o regulamento sabático. Assim como Davi e seus seguidores não
foram culpados, também Cristo e Seus seguidores não deveriam ser
condenados. Ambos os casos estavam relacionados ao comer. O rei Davi
era uma prefiguração de Cristo, o verdadeiro Davi. Davi tinha
seguidores, e Cristo, o verdadeiro Davi, também tinha discípulos como
Seus seguidores. O rei Davi e seus seguidores foram rejeitados pelo povo,
e o verdadeiro Davi e Seus seguidores foram rejeitados também. Assim
como Davi e seus seguidores estavam famintos, Cristo e Seus discípulos
tiveram fome também. Além disso, nem Davi e seus seguidores nem
Cristo e os seguidores Dele tinham algo para comer, mas existia um lugar
onde havia algo para comer. Para Davi era a casa de Deus e para Cristo
era a seara. Tudo isso significa que Davi e seus seguidores eram uma
prefiguração, uma sombra, de Cristo e Seus discípulos.
Além disso, a palavra do Senhor aqui também implica na mudança
270
dispensacional do sacerdócio para a realeza. Nos tempos antigos, a
vinda de Davi mudou a dispensação da era dos sacerdotes para a era
dos reis, na qual os reis estavam acima dos sacerdotes. Na era dos
sacerdotes, o líder do povo deveria ouvir o sacerdote (Nm 27:21-22). Mas
na era dos reis, o sacerdote deveria submeter-se ao rei (1Sm 2:35-36).
Assim, o que o rei Davi fez com os seus seguidores não foi ilegal. Agora
com a vinda de Cristo, a dispensação também foi mudada, dessa vez da era
da lei para a era da graça, na qual Cristo estava acima de tudo. O que quer
que Ele fizesse era correto. A questão de guardar o
sábado pertencia à velha
dispensação da lei. Mas na era da graça, Cristo tem a palavra final. Não é
uma questão da lei, mas de Cristo. Por isso o Senhor parecia dizer aos
fariseus: “Vocês não devem condenar-me ou aos Meus discípulos. Não é
mais a lei que dá a palavra final, mas Eu, o Cristo, Eu dou a vocês a
palavra final. Eu sou o verdadeiro Rei, o verdadeiro Davi. Eu sou
também o Cristo que trouxe a dispensação da graça. Assim, tudo o que
digo ou faço é a decisão final”. Supostamente os fariseus conheciam a
Bíblia, mas aqui eles perderam a questão completamente. Quão forte foi a
defesa do Senhor!

b. Os Sacerdotes Profanam o Descanso no Sábado no


Templo
No versículo 5, O Senhor disse aos fariseus: “Ou não lestes na lei
que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem
culpa?” O Senhor atraiu a atenção dos fariseus a um outro caso nas
Escrituras para provar-lhes quão pouco realmente conheciam a Bíblia. Ele
mostrou que o que quer que os sacerdotes fizessem no templo no sábado,
não os tornava culpados.

c. O Rei Celestial é Maior que o Templo


Então, no versículo 6, o Senhor declarou: “Aqui está algo maior do
que o templo”. Que ousadia o Senhor tinha! Ele era um Nazareno, mas
diante dos fariseus Ele parecia dizer: “Olhem para Mim. Eu sou maior que
o templo”. Os fariseus devem ter ficado tão chocados que não puderam
dizer nada.
A revelação do Senhor aos fariseus de que Ele era maior que o
templo, era outra mudança, uma mudança no cumprimento da tipologia,
do templo para uma Pessoa. No caso de Davi, foi uma mudança de uma
era para outra. Neste caso que diz respeito aos sacerdotes, foi uma
mudança do templo para uma Pessoa que é maior que o templo. Já
que os sacerdotes eram inocentes ao fazer coisas no sábado, no templo,
como poderiam os discípulos do Senhor serem culpados ao fazer coisas
no sábado, Nele que é maior que o templo? No primeiro caso era o rei
quebrando o regulamento levítico; no segundo, eram os sacerdotes
quebrando o regulamento sabático. Na Bíblia, nenhum dos dois eram
culpados. Portanto o que o Senhor fez aqui era biblicamente correto.
Aparentemente, os sacerdotes estavam profanando o sábado, mas,
271
de fato, não estavam, porque estavam no templo. Naquela esfera todos os
dias e todas as coisas eram santas. Fora do templo tudo era comum. Mas
uma vez que algo era trazido ao templo, era santificado pelo templo.
Semelhante mente, cada dia era santificado pelo templo. Fora do templo
havia dias comuns e dias santos, mas dentro do templo não havia tal
distinção. Todas as coisas, todos os dias, todos os assuntos e todos no
templo eram santos. O templo, todavia, era uma sombra, não uma
realidade. A realidade é Cristo, o templo maior. O Senhor parecia estar
dizendo: “Eu sou o templo maior, o verdadeiro. Em Mim, Pedro, João,
e todos os pescadores galileus são santificados, são santos. Em Mim todo
dia é dia santo. Se os sacerdotes eram livres para agir e se ocupar em
várias atividades no sábado, no templo, então quanto mais podem esses
amados fazer coisas livremente em Mim? O templo protegia os
sacerdotes, e Eu, o templo maior, protejo todos os Meus discípulos.
Fariseus, não me incomodem. Deixem Meus discípulos em paz, porque
eles estão todos no templo maior”. Essa era uma mudança do tipo para a
realidade. A defesa do Senhor era muito profunda para os fariseus
discutirem com Ele. Eles nada tinham para contestar à defesa do Senhor.
Por isso, ficaram em silêncio.
d. Deus Prefere Misericórdia a Sacrifício
Depois disso o Senhor disse: “Mas se vós soubésseis o que significa:
“Misericórdia quero, e não sacrifício”, não teríeis condenado a inocentes”
e v. 7). Com isso o Senhor mostrou-lhes que o que os fariseus faziam não
estava de acordo com o coração de Deus. Eles eram rigorosos nos
regulamentos, mas negligenciavam a misericórdia de Deus. Mas Deus
prefere misericórdia a sacrifício.

e. O Filho do Homem é Senhor do Sábado


Por fim, no versículo 8, o Senhor disse: “Porque o Filho do Homem
é Senhor do sábado”. Quão ousado era o Senhor Jesus! Ele ganhou a
causa e os fariseus, que ficaram chocados e temerosos, se calaram. Eles
nada tinham a dizer. O falar do Senhor aos fariseus dizendo que Ele era
Senhor do sábado era como alguém hoje dizer a um policial rodoviário
que ele é o senhor da rodovia. Suponha que um guarda rodoviário ordene
que você pare. Então, você lhe diz: “Não me aborreça, eu sou o senhor da
rodovia, e ela pertence amimo Você é simplesmente um policial
contratado por mim. Como o senhor da rodovia posso mudar todos os
regulamentos. Sim, dei a você algumas instruções quanto à estrada, mas
agora estou mudando-as. Porque sou o senhor da rodovia, não preciso
notificá-lo acerca disso”.
No versículo 8 o Senhor indicou uma terceira mudança, uma
declaração de mudança do sábado para o Senhor do sábado. Como o
Senhor do sábado, Ele tinha o direito de mudar os regulamentos no que
diz respeito ao sábado. Por isso, o Senhor deu aos fariseus condenadores
uma tripla sentença. Ele era o verdadeiro Davi, o templo maior e o
Senhor do sábado. Portanto, Ele poderia fazer tudo o que quisesse no

272
sábado, e tudo o que fizesse seria justificado por Ele mesmo. Ele estava
acima de todos os rituais e regulamentos. Porque Ele estava ali, nenhuma
atenção deveria ser dada aos rituais e regulamentos.

B. Curar uma Mão Ressequida na Sinagoga, no Sábado


1. O Rei Celestial Entra na Sinagoga
O versículo 9 diz: “Tendo Jesus partido dali, entrou na sinagoga
deles”. Após ganhar a causa dos fariseus, o Senhor Jesus entrou na
sinagoga deles. Isso ocorreu num outro sábado (Lc 6:6). O Senhor Jesus
certamente era um “encrenqueiro”. Após causar problemas nas searas,
derrotando a “patrulha do sábado”, conforme o relato de Mateus, Ele foi
com os Seus discípulos à sinagoga para causar ainda mais problemas.

2. Um Homem de Mão Ressequida


Na sinagoga havia um homem de mão ressequida. Quando os
fariseus perguntaram ao Senhor Jesus se era lícito curar no sábado, Ele
lhes disse: “Qual dentre vós será o homem que, . tendo uma ovelha, e se,
num sábado, esta cair numa cova, não irá tomá-la e tirá-la dali? Ora,
quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Logo, é lícito fazer o bem
aos sábados” (vs. 11-12). Aqui vemos a sabedoria do Senhor. Dessa vez Ele
não citou nenhum versículo, mas referiu-se à prática deles. Em outras
palavras, no primeiro caso o Senhor citou a Bíblia, e no segundo, Ele
apelou para a história. Uma vez mais a boca dos fariseus foi fechada.

3. A Mão Ressequida Foi Restaurada


o versículo 13 diz: “Então disse ao homem: Estende a tua mão. Ele a
estendeu, e ela foi restabelecida, e ficou sã como a outra”. O Senhor disse
ao homem uma palavra: “Estende a tua mão”. Na palavra do Senhor
estava a vida que vivifica. Ao estender a mão o homem tomou a palavra do
Senhor que dá vida, e sua mão ressequida foi restaurada pela vida nessa
palavra.
Levar os discípulos às searas indica que o Senhor se importa
Consigo mesmo como a Cabeça do Corpo. Como a Cabeça Ele é tudo-o
verdadeiro Davi, o templo maior e o Senhor do sábado. Restaurar a mão
ressequida significa que Ele se importa com Seus membros. Ele curou um
homem de mão ressequida, comparando-o a uma ovelha. A mão é um
membro do corpo e a ovelha é um membro do rebanho. O Senhor faria
qualquer coisa para a cura dos Seus membros, para o resgate das Suas
ovelhas caídas. Sábado ou não, o Senhor está interessado em curar os
membros mortos do Seu Corpo. Regulamentos não importam, mas
resgatar Suas ovelhas caídas é tudo para Ele.
Em vez de ler Mateus como um livro de história ou meramente como
um livro de doutrina, devemos entrar nas profundezas deste livro.
Reunindo esses dois casos, vemos que no primeiro caso Cristo cuidou de Si
mesmo como a Cabeça e, no segundo, Ele cuidou dos membros do Seu
273
Corpo. A mão é um membro do corpo, e a ovelha é uma parte do rebanho,
que também se refere ao Corpo. No primeiro caso o Senhor Jesus
cuidou do Seu senhorio, do Seu encabeçamento. No segundo Ele cuidou de
um de Seus membros fraco e doente. Ele não se importava com o sábado.
Importava-se apenas com Seu encabeçamento e com os membros do Seu
Corpo. Portanto devemos concluir que o Senhor se importa apenas com
Cristo e a igreja. O Senhor poderia dizer: “O sábado nada significa. Não Me
importo com isso. Eu Me interesso com o Meu encabeçamento e com os
membros do Meu Corpo. Porque sou a Cabeça, o Senhor, tudo o que Eu
digo está certo. Eu Me interesso com o Meu encabeçamento. E também Me
importo com os Meus membros. Eu quero vivificar os Meus membros.
Quero resgatá-los, erguê-los e curá- los. Não Me importo com todas essas
práticas religiosas e doutrinárias. Interesso-Me apenas que os Meus
membros sejam fortes e vivos”. No coração desse Rei celestial não estava o
sábado, nem qualquer tipo de doutrina ou regulamento. Antes, no Seu
coração estava o Seu senhorio. Devemos ver que Ele é o Senhor e que Ele
está acima do sábado. O sábado é meramente um instrumento usado por
Ele, mas Ele mesmo é o Senhor do sábado. O Senhor também cuida dos
Seus membros incluindo todo membro do Seu Corpo que está doente,
fraco ou em situação difícil Ele fará algo por aquele membro para resgatá-
lo, curá-lo e vivificá-lo. Espero no Senhor que todos vejamos isso.
O princípio é o mesmo hoje. Se somos por Cristo e pela igreja com
todos os membros, tudo está correto. Não há fardo ou regulamento. No
sábado os doze apóstolos estavam satisfeitos e descansando, e no sábado
o homem com a mão ressequida também descansou. Estes foram
verdadeiros sábados para os discípulos e para o homem de mão
ressequida, porque eles receberam a alimentação e a cura de Cristo. Tudo
o que precisavam eles receberam Dele. Hoje ocorre o mesmo.

4. A Conspiração dos Fariseus para Tirar a Vida do Rei


Celestial
O versículo 14 diz: “Saindo, porém, os fariseus, deliberaram em
conselho contra Ele, sobre como O destruiriam”. Aos olhos dos fariseus
religiosos, ao quebrar o sábado, o Senhor estava destruindo a aliança de
Deus com a nação de Israel, isto é, destruindo o relacionamento entre
Deus e Israel. Por isso, conspiraram contra Ele em como tirar-Lhe a vida.
Quebrar o sábado levou os judeus religiosos a rejeitar o Rei celestial. Os
fariseus, os bíblicos, maquinaram matar Jesus para Deus! É difícil de
acreditar. Mas eles estavam cegos por sua religião. Não podiam ver nem
Cristo nem a igreja nem a Cabeça nem os membros. Estavam
absolutamente cegos, velados, cobertos pela religião. De acordo com o
entendimento deles, o Senhor Jesus tinha de ser morto e conspiraram
juntos para esse exato propósito. Por fim crucificaram Cristo; entretanto,
eles o fizeram segundo a soberania de Deus.
Nesse ponto, 12:14, a rejeição de Cristo pela religião alcança seu
ápice. A religião rejeitou totalmente o Rei celestial e maquinou destruí-Lo.

274
II. A REJEIÇÃO CAUSOU O VOLTAR-SE AOS GENTIOS
A. O Rei Afastou-se dos que O Rejeitavam
Essa rejeição fez com que o Rei com Sua salvação real se voltasse dos
judeus para os gentios (12:15-21). O versículo 15 diz: “Mas Jesus,
sabendo disso, retirou-se dali”.

B. O Rei Cura Todos os Doentes


O versículo 15 também diz que muitos O seguiram e que Ele a todos
curou. De acordo com o versículo 16, Ele advertiu-os “que não O
tornassem conhecido”. Ele os advertiu a esse respeito porque os fariseus
estavam maquinando destruí-Lo. Por isso, a partir desse acontecimento, o
Senhor Jesus procurou ao máximo ocultar-se,

C. A Profecia de Isaías com Respeito ao Voltar-se do


Rei às Nações
Os versículos 17 e 18 dizem: “Para se a cumprir o que foi dito por
intermédio do profeta Isaías: “Eis aqui o Meu Servo, a quem escolhi, o
Meu Amado, em quem a Minha alma se compraz. Porei sobre Ele o Meu
Espírito, e Ele anunciará a justiça aos gentios”. Isso indica claramente que
devido à rejeição dos judeus, o Rei celestial com Seu reino celestial voltar-
se-á às nações, os gentios, e os gentios O receberão e confiarão Nele (v.
21).

1. Não Contender nem Gritar


O versículo 19, também uma citação de Isaías diz: “Não
contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a Sua voz”. Isso
indica que Ele já não era livre para ministrar abertamente. Antes, Ele
tinha de ocultar-se. A razão para a rejeição e a causa de o Senhor precisar
esconder-se foi a quebra dos regulamentos . religiosos. Isso foi devido ao
cuidado com o Seu encabeçamento e com os membros do Seu Corpo. Por
esse motivo, a rejeição atingiu o máximo. É o mesmo princípio hoje.
Quanto menos nos preocupamos com os regulamentos religiosos e mais
com Cristo e Seu Corpo, mais intensa será a oposição.

2. Não Quebrar a Cana Rachada e Não Apagar a


Mecha que Fumega
O versículo 20, uma citação adicional de Isaías, diz: “Não quebrará
a cana rachada, nem apagará a mecha que fumega, até que faça triunfar a
justiça”. Como o Ungido com o Espírito, Cristo não apenas não
gritará nas praças, mas Ele não quebrará a cana rachada nem apagará a
mecha que fumega. Isso indica que enquanto estava sendo rejeitado e
resistido, Ele ainda era cheio de misericórdia. Os judeus que estavam se
275
opondo a Ele eram como canas rachadas e mechas fumegantes. Os
judeus costumavam fazer flautas ou canas. Quando uma cana rachava,
eles a quebravam. Também faziam tochas com linho para queimar o óleo.
Quando o óleo acabava e a mecha fumegava, eles a apagavam. Alguns
dentre o povo de Deus são como a cana rachada que não podem emitir
um som musical; outros são como a mecha que fumega que não podem
produzir uma luz resplandecente. Contudo, o Senhor não quebrará a cana
rachada ou apagará a mecha que fumega. Embora o Senhor tenha sido
rejeitado, Ele ainda era misericordioso. Mesmo aos que se tomaram cana
rachada Ele não quebraria, e aos que se tomaram mecha fumegante, Ele
não apagaria. Antes, Ele ainda mantinha aberta as portas da misericórdia
e da graça para todos eles. Hoje entre Seus seguidores e crentes, muitos
se têm tomado cana rachada que não pode mais emitir uma canção.
Normalmente, essas canas rachadas deveriam ser quebradas e lançadas
fora. Mas Cristo não fará isso. Além disso, muitos dos Seus crentes não
mais queimam como luz que brilha. Via de regra, Ele deveria apagá-los e
lançá-los fora. Mas não fará isso também. Antes, Ele é misericordioso.
Não importa quanto haja de oposição, perseguição e ataque, esse Rei
celestial é sempre misericordioso. Ele é um Salvador real, misericordioso.
Você pode rejeitá-Lo hoje, mas Ele ainda será misericordioso com você. Se
disser amanhã: “Senhor Jesus, eu me arrependo”, Ele será amoroso com
você. Que Salvador misericordioso Ele é! Nunca quebrará uma cana
rachada ou apagará uma mecha que fumega. Antes, Ele o espera para que
receba Sua misericórdia e graça.

D. Os Gentios Esperam em Seu Nome


O versículo 21 diz: “E no Seu nome esperarão os gentios”. Por causa
da rejeição dos judeus religiosos, o Rei celestial com a Sua salvação
voltou-se para os gentios. Agora os gentios põem a esperança no Seu
nome, crendo Nele e O recebendo como seu Salvador real.
Essa porção da Palavra revela que, por um lado, o Senhor é
ousado, e que por outro, Ele é misericordioso. Por um lado Ele é forte; por
outro, é misericordioso e manso. Esse é o Rei que estabeleceu o reino dos
céus, e essa é a maneira de Ele estabelecer Seu reino. Não pense que no
capítulo 12 o Senhor foi derrotado. Esse é um conceito errôneo. Ele
não foi derrotado; Ele estava estabelecendo Seu reino. O mesmo ocorre
conosco. Não diga: “Há tanto ataque e oposição. Muitos rumores estão
sendo espalhados contra nós. Quão difícil isso é para a restauração do
Senhor. A restauração será derrotada”. Isso está errado.
Embora sejamos ainda tão pequenos, parece que
todos do cristianismo estão se levantando contra nós. Mas, na verdade,
não estamos errados. Quem ama a Bíblia e a conhece mais do que nós?
Não vivemos na presença de Deus e amamos o Senhor Jesus? Não O
tomamos como nossa vida dia após dia? Então por que tantos
queridos cristãos se nos opõem e não a outros? O mesmo que ocorre
conosco acontecia com o Senhor Jesus quando estava na terra. Embora
Ele fosse um pequeno homem, o inimigo de Deus sabia que Ele era
276
Aquele que o derrotaria e estabeleceria
o reino dos céus. O princípio hoje é
o mesmo. O inimigo sabe que essa é a restauração do
Senhor e que a restauração o
derrotará e estabelecerá o reino dos céus. Nunca considere a
restauração do Senhor como uma obra cristã comum. Quanto mais
oposição, perseguição, críticas e ataques houver, mais seremos
confirmados. Não espere que a oposição diminua. Se ninguém se
opusesse a nós, seria um sinal de
que estamos errados e perdemos o testemunho. Mas
uma vez que estamos sofrendo oposição e ataques esse é um sinal de
que estamos certos. Em vez de perder por sermos atacados, estamos
ganhando. Essa é a maneira de o reino dos céus ser edificado. Ele é
edificado mediante ataques, perseguições e críticas. Em Mateus capítulo
12 o Senhor Jesus não estava perdendo a batalha estava ganhando. O
mesmo ocorre hoje. Louvado seja o Senhor porque não lutamos a batalha
de maneira humana, mas à maneira do Senhor Jesus. Enquanto estava
sendo atacado, Ele estava obtendo vitória. Semelhantemente, quanto
mais a restauração é atacada, mais o reino dos céus está sendo
estabelecido. Sem dúvida, ele está sendo estabelecido entre nós na
restauração do Senhor! Louvado seja Ele!

277
MENSAGEM 33

A OFICIALIZAÇÃO DA REJEIÇÃO AO REI (2)


Vimos que Mateus é um livro com respeito à doutrina do reino.
Mateus, em seu Evangelho, não dá um relato histórico; ele toma os fatos
da história e os coloca juntos para revelar a doutrina do reino. Até aqui
vimos que Cristo nasceu, foi ungido, testado, iniciou Seu ministério,
atraiu uma multidão, decretou a constituição celestial e continuou Seu
ministério. O Seu ministério produziu o ambiente que O capacitou a
revelar-Se em muitos aspectos. E mais, Seu ministério fez com que Ele
fosse totalmente rejeitado por aquela geração maligna. Vimos também
que o Senhor chamou os que labutam e estão sobrecarregados para vir a
Ele e descansar. Ele mostrou-lhes que o caminho para descansar é
quebrar os regulamentos da religião e se importar com o Cabeça e
com os membros do Corpo. É por intermédio de todas essas coisas que o
reino dos céus é estabelecido na terra entre os homens. Todos precisamos
ser impressionados com tal visão clara.
Agora devemos ver que para o reino dos céus ser estabelecido há a
necessidade de uma batalha espiritual, de um combate espiritual. Essa
luta está implícita em 12:22-37. Enquanto o reino é estabelecido, uma luta
está sendo travada. Embora tenhamos tratado de muitas coisas, ainda não
vimos que o estabelecimento do reino requer um combate espiritual.
Enquanto Cristo, oRei celestial, estava estabelecendo o reino celestial
entre os homens na terra, Ele estava combatendo. As pessoas, entretanto,
não viam essa batalha. Elas viam o que Ele fazia
exteriormente, mas não percebiam o que estava acontecendo
interiormente. Por isso Mateus escolheu um outro fato histórico para
salientar a luta que estava ocorrendo enquanto o Rei estabelecia o reino
celestial.

III. O CLÍMAX DA REJEIÇÃO


Em 12:22-37 o ministério do Senhor já não era tão público. Em vez
de cumprir Seu ministério publicamente, Ele o fazia de uma maneira
cuidadosa, calma. Todavia, o que o Senhor fez no versículo 22, ao curar
um homem endemoninhado, foi um fato da história e não podia ser
encoberto.

A. Um Endemoninhado Foi Levado ao Rei Celestial e Ele


278
o Curou
O versículo 22 diz: “Trouxeram-Lhe então um endemoninhado,
cego e mudo; e Ele o curou, de modo que o mudo falava e via”. Uma
pessoa cega e muda é aquela que não consegue ver Deus e as coisas
espirituais; assim ele é incapaz de louvar a Deus e falar por Deus. Essa é a
verdadeira condição do homem caído. Tal pessoa foi trazida ao Rei que
expulsou o demônio, e o homem foi capaz de ver e falar. Ele expressou o
que viu. Isso sem dúvida foi um milagre e um sinal. No Antigo
Testamento não há relato de um cego milagrosamente receber a visão.
Um homem cego receber a visão é um grande sinal.

B. Todas as Multidões se Admiravam e se Perguntavam


se o Rei

Era o Filho de Davi


o versículo 23 diz: “E todas as multidões estavam pasmadas e
diziam: Não será este o Filho de Davi?” O milagre realizado ao curar a
pessoa cega e muda surpreendeu as multidões, e eles diziam: “Não será
este o Filho de Davi?” Ao dizer isso, eles estavam reconhecendo Cristo
como Messias e Rei.

C. Os Fariseus Disseram que o Rei Expulsa os Demônios por


Belzebu – o Príncipe dos
Demônios
Embora a multidão se tenha maravilhado, os fariseus se ofenderam,
incapazes de tolerar o fato de que, por meio de um milagre extraordinário,
o Senhor Jesus conquistou toda a multidão. Por isso, esses fariseus
tinham de dizer algo para lidar com a situação. De acordo com o versículo
24, disseram: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe
dos demônios”. Essa foi a maior de todas as blasfêmias dirigidas pelos
opositores fariseus ao Rei celestial. Belzebu significa o senhor das moscas.
Foi mudado em desacato pelos judeus para Baalzebel, que significa o
senhor da esterqueira, e foi usado para o maioral dos demônios (Mc
3:22; Lc 11:15, 18- 19). O rei da esterqueira, o lugar mais sujo, cheio de
moscas, era Satanás. Portanto aos olhos dos anciãos judeus, Belzebu
referia-se a Satanás como o rei dos demônios e como o rei das moscas
sujas na esterqueira. Dizer que Cristo expulsa os demônios por Belzebu
significa que Ele os expulsa por Satanás. Que blasfêmia era acusar o Rei
celestial disso!

D. A Resposta do Rei Celestial


A acusação dos fariseus proporcionou a Cristo a
oportunidade de revelar algo mais. Uma vez mais Seu ministério produziu
uma situação que O capacitou a revelar algo que de outra forma seria
279
impossível ver. Aparentemente o Senhor tinha expulsado um demônio.
Na verdade, aquilo não era uma expulsão de demônio; era uma luta.

1. O Reino de Satanás É Incapaz de Subsistir se Satanás


Expulsa Satanás
Os versículos 25 e 26 dizem: “Jesus, porém, conhecendo-lhes os
pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mesmo ficará desolado,
e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma, não subsistirá. Se
Satanás expulsa a Satanás, dividido está contra si mesmo; como, pois,
subsistirá o seu reino?” O Senhor parecia estar dizendo aos fariseus:
“Como posso expulsar um demônio por Satanás? Se fizesse isso, então
Satanás estaria lutando contra Satanás e seu reino não poderia subsistir”.
O versículo 26 é único em toda a Bíblia, na qual nenhum outro desvenda
o segredo de que Satanás tem seu reino. Satanás é o príncipe deste mundo
(Jo 12:31) e o príncipe das potestades do ar (Ef 2:2). Ele tem sua
autoridade (At 26:18) e seus anjos (Mt 25:41), que são seus subordinados
como principados, poderes e os dominadores deste mundo tenebroso
(Ef 6:12). Portanto ele tem seu reino, a autoridade das trevas (Cl 1:13-
lit. ). O reino de Satanás é edificado na terra e entre os homens. Mas o Rei
celestial veio para estabelecer um reino celestial também entre os homens
na terra. Portanto, esses dois reinos estão em conflito. O reino de Satanás é
o velho reino, mas o Rei celestial está prestes a estabelecer um novo reino,
o reino dos céus. Por isso vemos que uma batalha está sendo travada.

2. Os Filhos dos Fariseus Expulsam Demônios


por Belzebu
No versículo 27 o Senhor falou aos fariseus: “E, se Eu expulso os
demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso eles
mesmos serão os vossos juízes”. De fato, não era o Senhor Jesus, mas os
filhos dos fariseus que expulsavam demônios por Belzebu. Essa palavra
do Senhor indica que os fariseus eram um com Satanás, o maioral dos
demônios.

3. O Rei Expulsa os Demônios pelo Espírito de Deus para


que o Reino de Deus Venha
O versículo 28 diz: “Se, porém, eu expulso os demônios, pelo
Espírito de Deus, então é chegado o reino de Deus sobre vós”. O Espírito
de Deus é o poder do reino de Deus. Onde o Espírito de Deus está em
poder, lá está o reino de Deus, e lá os demônios não têm lugar. Pela
palavra do Senhor aqui vemos que a batalha pelo reino não é lutada pelo
próprio homem, mas por um homem com o Espírito de Deus. No
versículo 28 o Senhor disse que Ele expulsa os demônios pelo Espírito de
Deus e que essa é a chegada do reino de Deus. Onde quer que o Espírito
de Deus exerça Sua autoridade sobre a situação de oposição, isso é o reino
de Deus. o Senhor é sempre cuidadoso com Suas palavras. No
280
versículo 28 Ele fala do reino de Deus, não do reino dos céus. Mesmo
naquela época o reino dos céus não havia chegado. O reino de Deus,
entretanto, já estava lá.

4. Amarrar o Homem Forte, Entrar na Casa


Dele e Saquear-lhe os Bens
O versículo 29 revela que antes de o Senhor expulsar os demônios,
Ele primeiramente lutou contra Satanás. Esse versículo diz: “Ou como
pode alguém entrar na casa do homem forte e saquear-lhe os bens se
primeiro não amarrar o homem forte? e então lhe saqueará
completamente a casa”. “Casa” aqui significa o reino de Satanás e o
“homem forte” é Satanás, o maligno. A palavra grega traduzida para
“bens” também significa instrumentos, vasos; daí, bens, pertences. O povo
caído sob a usurpação de Satanás são bens dele, instrumentos para seu
uso. Eles são seus pertences guardados na sua casa, seu reino. A palavra
sobre amarrar o homem forte indica que quando o Senhor expulsou os
demônios, Ele primeiramente amarrou Satanás. As pessoas viram apenas
a expulsão do demônio. Elas não viram Satanás, o homem forte, sendo
amarrado. Assim, o Senhor aproveitou a oportunidade que Lhe fora
proporcionada, pela acusação dos fariseus, para revelar o segredo da
batalha espiritual. Aparentemente, o Senhor estava apenas expulsando
o demônio; na verdade, Ele estava combatendo, amarrando o homem
forte. Isso mostra que se quisermos edificar o reino hoje, devemos
primeiro amarrar o homem forte.
A maneira de amarrar o homem forte é orar. Quando chegamos ao
capítulo 17, vemos que todos os discípulos vieram ao Senhor e
perguntaram-Lhe por que Ele pôde expulsar os demônios e eles não. Em
17:21 o Senhor disse aos discípulos: “Mas esta casta não sai senão por
meio de oração e jejum”. Se não orar e jejuar, você simplesmente não
pode expulsar esse tipo de demônio. A palavra do Senhor aos discípulos
indica que, antes de expulsar um demônio, Ele certamente jejuava e
orava. Para amarrar o homem forte devemos orar e jejuar. O Senhor
jejuou e orou secretamente. Os discípulos não viram isso. Devemos
aprender com o Senhor a jejuar e orar em secreto. Creio que quando o
Senhor Jesus estava na terra, Ele freqüentemente jejuava e orava para
lutar a batalha e amarrar o homem forte. Todos devemos estar no mesmo
espírito hoje. Cada dia nosso espírito deve ser um espírito de jejum e
oração a fim de que possamos diariamente amarrar o homem forte, que é
Satanás, o rei do reino das trevas.
Satanás tem um reino de trevas na terra, e toda a terra está sob a
sua usurpação. É difícil tirar alguém das mãos de Satanás. Toda pessoa
caída é um vaso na mão de Satanás. A casa de Satanás é seu reino e em
sua casa há muitos vasos, as muitas pessoas caídas. Para tirar uma pessoa
caída das mãos de Satanás, devemos amarrar o homem forte orando e
jejuando. Esse é o combate da batalha espiritual para o estabelecimento
do reino dos céus.

281
O capítulo 12 de Mateus ocupa um lugar especial no Novo
Testamento porque revela que Satanás tem um reino, que Satanás é o
homem forte que usurpa todas as pessoas criadas por Deus, e que para
tirar as pessoas da sua mão usurpadora há a necessidade de amarrá-lo. A
maneira de amarrar o homem forte é orando e jejuando. A batalha
desvendada no capítulo 12 não é vista nos onze capítulos anteriores.
Naqueles capítulos vemos o descanso e a quebra dos regulamentos por
causa do Cabeça e dos membros do Corpo. Mas não vemos o reino das
trevas. Há dois reinos na terra: um é o reino das trevas e o outro é o
reino dos céus na luz. Esses dois reinos estão agora enfrentando um ao
outro na terra. Por isso há a necessidade de lutar a batalha. Todos
devemos orar e jejuar para amarrar o homem forte. Então seremos
capazes de saquear sua casa.
Isso é uma verdadeira revelação. Muitos cristãos não lêem Mateus
12 dessa maneira porque não vêem o reino. Para eles, o reino é
simplesmente um termo doutrinário ou algo suspenso para um tempo
futuro. Mas percebemos que tudo o que o Senhor está fazendo conosco
hoje é para o estabelecimento do reino dos céus. Somos o povo do reino.
Hoje uma batalha está sendo travada entre dois reinos. A continuação do
ministério do Senhor produziu a oportunidade para essa revelação
adicional.

5. Quem Não é pelo Rei é contra o Rei e quem com Ele Não
Ajunta, Espalha
No versículo 30 o Senhor diz: “Quem não é Comigo, é contra Mim;
e quem Comigo não ajunta, espalha”. Naquele tempo os fariseus não eram
um com o Rei celestial, então eles eram contra Ele. Eles não estavam
ajuntando com Ele, mas espalhando. Portanto, estavam absolutamente
separados Dele e unidos a Seu inimigo, Satanás.

6. A Blasfêmia contra o Espírito não É Perdoada


No versículo 31 o Senhor disse aos fariseus: “Todo pecado e
blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito
não será perdoada”. A blasfêmia contra o Espírito difere de ultraje ao
Espírito (Hb 10:29). Ultrajar o Espírito é desobedecê-Lo
intencionalmente. Muitos crentes fazem isso. Se eles confessam esse
pecado, serão perdoados e purificados pelo sangue do Senhor (1Jo 1:7, 9).
Mas blasfemar contra o Espírito é difamá-Lo, como os fariseus fizeram no
versículo 24. Era pelo Espírito que o Senhor expulsava um demônio. Mas
os fariseus, vendo isso, disseram que o Senhor expulsava os demônios
por Belzebu, o maioral dos demônios. Essa era uma blasfêmia contra o
Espírito. Com tal blasfêmia, a rejeição dos fariseus ao Rei celestial
alcançou o clímax.
O Senhor parecia estar dizendo aos fariseus: “A blasfêmia de vocês é
282
imperdoável. Eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, mas vocês
dizem que expulso por Satanás, o rei dos demônios. Foram longe demais
ao dizer isso. Vocês disseram uma blasfêmia que é imperdoável. Não
apenas insultaram ou desobedeceram o Espírito, mas blasfemaram contra
o Espírito. Ele é o Espírito de Deus, até mesmo o próprio Deus. Eu
expulso os demônios pelo próprio Deus como o Espírito; contudo vocês
dizem que isso é Satanás, o rei dos demônios e o rei das moscas imundas
da esterqueira. Ao dizer isso cometeram um pecado imperdoável”.

7. Falar contra o Espírito Santo não É Perdoado Nesta


Era nem na Era Vindoura
No versículo 32 o Senhor continuou: “Ao que disser uma palavra
contra o Filho do Homem, ser- lhe-á isso perdoado; mas ao que falar
contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste século nem
no vindouro”. Na economia do Deus Triúno, o Pai concebeu o plano de
redenção (Ef 1:5, 9), o Filho aplicou a redenção de acordo com o plano do
Pai (1Pe 2:24; Gl 1:4); e o Espírito alcança os pecadores para aplicar a
redenção realizada pelo Filho (1Co 6:11; 1Pe 1:2). Se os pecadores
blasfemam contra o Filho como Saulo de Tarso fez, o Espírito ainda tem
base para trabalhar nele e levá-lo a se arrepender e crer no Filho a fim de
que possa ser perdoado (ver 1Tm 1:13-16). Mas se os pecadores
blasfemarem contra o Espírito, o Espírito não terá base para trabalhar
neles e nada será deixado para fazê-los arrepender-se e crer. Por isso, é
impossível que tal pessoa seja perdoada. Isso não é apenas lógico,
segundo a razão, mas governamental segundo o princípio administrativo
de Deus, como revelado aqui pela palavra do Senhor.
Na administração governamental de Deus, Seu perdão é
dispensacional. Por causa da Sua administração, Ele planejou diferentes
eras. O período da primeira vinda de Cristo até a eternidade é dividido
dispensacionalmente em três eras: esta era, a era presente, da primeira
vinda de Cristo à Sua segunda vinda; a era vindoura, o milênio, os mil anos
para restauração e para o reino celestial, da segunda vinda ao final do
velho céu e velha terra; e a eternidade, a era eterna do novo céu e nova
terra. O perdão de Deus nesta era é para a salvação eterna dos pecadores.
Esse perdão é dado para os pecadores e crentes. O perdão de Deus na era
vindoura está relacionado ao galardão dispensacional dos crentes. Se um
crente após ser salvo, cometer algum pecado, mas não quiser limpar-se
confessando e se purificando com o sangue do Senhor (1Jo 1:7, 9) antes
que ele morra ou que o Senhor volte, esse pecado não será perdoado nesta
era, mas permanecerá para ser julgado no tribunal de Cristo (2
C05:10). Ele não será recompensado com o reino para participar na glória
e desfrute com Cristo na manifestação do reino dos céus, mas será
disciplinado para fazer uma limpeza desse pecado e será perdoado na era
vindoura (Mt 18:23-35). Esse tipo de perdão garantirá sua salvação eterna,
mas não o qualificará a participar na glória e desfrute do reino vindouro.

283
8. A Árvore é Conhecida pelos Frutos
No versículo 33 O Senhor disse: “Ou fazei a árvore boa e o seu fruto
bom, ou fazei a árvore corrupta e o seu fruto corrupto; porque pelo fruto
se conhece a árvore”. Uma árvore é conhecida pelo seu fruto. A
malignidade dos fariseus foi exposta pelos seus feitos maus.

9. A Boca Fala do que Está Cheio o Coração


Os versículos 34 e 35 dizem: “Raça de víboras, como podeis falar
coisas boas sendo maus? Porque da abundância do coração fala a boca.
O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas; e o homem mau, do
seu mau tesouro, tira coisas más”. Os fariseus estavam com o coração
cheio de maldade. Assim, seus lábios expressavam a maldade do seu
coração.

10. Toda Palavra Ociosa Será Julgada no Dia do Juizo


O versículo 36 diz: “Digo-vos que de toda palavra ociosa que
falarem os homens, dela darão conta no dia do juízo”. A palavra grega
traduzida para ociosa é argos, composta de duas palavras: a significa não
e ergon, trabalho. Uma palavra ociosa é uma palavra que não trabalha,
uma palavra inoperante, que não tem função positiva, inútil, não
proveitosa, infrutífera e estéril. No dia do juízo, os que falam tais palavras
terão de prestar contas de cada uma delas. Sendo assim, quanto mais
devem os homens prestar contas de cada palavra pecaminosa! o Senhor
parecia estar dizendo aos opositores: “Cuidado com o falar. Cada palavra
frívola, cada palavra inoportuna será julgada. Haverá um dia de
julgamento e tudo o que você disser será julgado naquele tempo”. Essa é
uma questão muito séria.

11. Pelas Palavras Seremos Justificados ou Condenados


No versículo 37 o Senhor conclui: “Porque pelas tuas palavras serás
justificado, e pelas tuas palavras serás condenado”. Que advertência!
Devemos aprender a controlar e restringir o nosso falar.
Os fariseus opositores não foram apenas derrotados, mas também
subjugados. Eles não tinham mais nenhuma pergunta. Uma vez que o
Senhor dá a resposta, não há mais argumento.

284
MENSAGEM 34

A OFICIALIZAÇÃO DA REJEIÇÃO AO REI (3)


Nesta mensagem consideraremos Mateus 12:38-
50.

IV. O SINAL PARA A GERAÇÃO QUE REJEITOU


O REI

A. A Geração que Rejeitou o Rei Espera Ver um Sinal


Uma vez que os fariseus não puderam argumentar com o Senhor,
eles mudaram aparentemente a questão do aspecto negativo para o
positivo. O versículo 38 diz: “Então alguns dos escribas e fariseus
replicaram-Lhe: Mestre, queremos ver de Tua parte algum sinal”. Porque
não puderam derrotar o Senhor Jesus por meio de argumentações, para
salvar as aparências, eles mudaram o assunto; eles pediram ao Senhor um
sinal. Essa foi uma proposta sutil. Um sinal é um milagre com algum
significado espiritual. Os judeus sempre buscam sinais (1Co 1:22). Mais
uma vez isso deu ao Senhor a oportunidade de revelar a todo o universo
algo mais sobre Si mesmo.

B. Nenhum Sinal É-lhes Dado senão o Sinal da Morte do


Rei
O versículo 39 diz: “Ele, porém, lhes respondeu: Uma geração
maligna e adúltera busca um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado,
senão o sinal do profeta Jonas”. Se você fosse um daqueles fariseus, não
se teria aborrecido com a resposta do Senhor? Os fariseus pareciam
estar dizendo: “Queremos que nos mostre um sinal, e você nos chama de
geração maligna e adúltera. Antes nos chamou de raça de víboras.
Reconhecemos que você é um bom mestre. Mestre, mostra-nos um sinal.
Mostra-nos um milagre com algum significado”. O Senhor Jesus parecia
dizer: “Sim, vocês verão um sinal. Embora não sejam uma geração nem
honesta nem pura, mas maligna e adúltera, há um sinal para vocês-o sinal
de Jonas”.
O Senhor Jesus prosseguiu mostrando-lhes o significado do sinal de
Jonas. No versículo 40 Ele disse: “Porque assim como esteve Jonas três
dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem
estará três dias e três noites no coração da terra”. Isso seria um sinal
muito significativo para eles. “O coração da terra” é chamado de as regiões
inferiores da terra (Ef 4:9) e Hades (At 2:27-VRC), onde o Senhor foi após
Sua morte. O Hades, o mesmo que Seol no Antigo Testamento, tem duas
seções: a seção de sofrimento e a seção de descanso (Lc 16:23-26). A
seção de descanso é o paraíso, onde o Senhor foi com o malfeitor após a
morte (Lc 23:43). Assim, o coração da terra, as regiões inferiores da terra,
285
o Hades e o paraíso são sinônimos, referindo- se a um único lugar onde o
Senhor esteve três dias e três noites após Sua morte e antes da Sua
ressurreição.
No versículo 41 o Senhor continuou: “Varões ninivitas se levantarão
no juízo com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com
a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas”. A
palavra grega traduzida para “maior” nos versículos 41 e 42 é pleion, que
significa maior em qualidade e quantidade; portanto, maior. Difere de
meizon, a palavra para maior no versículo 6, que significa maior em
tamanho ou em medida. Cristo, corno o profeta enviado por Deus para
Seu povo (Dt 18:15, 18), é maior do que Jonas, o profeta. Jonas era o
profeta que se voltou de Israel para os gentios e foi colocado no ventre do
grande peixe. Após ter permanecido ali por três dias, ele saiu para tornar-
se um sinal para aquela geração, a fim de que se arrependessem (Jn 1:2,
17; 3:2-10). Isso era uma prefiguração de Cristo que se voltaria de Israel
para os gentios e que seria enterrado no coração da terra por três dias, e,
então, seria ressuscitado, tornando- se para essa geração um sinal para
salvação.
No versículo 41 o Senhor parecia estar dizendo: “Os ninivitas se
arrependeram por causa do sinal de Jonas. No entanto vocês, uma
geração adúltera e maligna, que verão tal sinal como o do Filho do
homem enterrado no coração da terra por três dias e três noites, não se
arrependerão”. A palavra do Senhor nos versículos 40 e 41 não foi uma
palavra comum; foi uma predição. Antes de ser enterrado no coração da
terra, Ele profetizou dessa maneira, dizendo que estaria três dias e três
noites no coração da terra. Creio que foi por misericórdia que o Senhor
Jesus lhes disse isso. Ele parecia estar dizendo: “Fiz a vocês uma predição
da Minha morte e sepultamento. Isso lhes será um sinal, tal como Jonas
foi um sinal aos ninivitas que fez com que todos se arrependessem.
Predigo isso agora a fim de que vendo, vocês possam se arrepender”.
Entretanto, eles não se arrependeram. Assim vemos quão obstinada era
essa geração.

C. o Rei como o Salomão Maior em


Ressurreição
Na conversação do Senhor com os fariseus
inesperadamente um outro sinal apareceu: o sinal de Salomão.
Oversícul042diz: “A rainha do Sul se
levantará no juízo com esta geração e a condenará, porque veio dos
confins da terra para ouvir a sabedoria de
Salomão. E eis aqui algo mais do que Salomão”. Cristo, como o Filho de
Davi para ser o Rei, é maior do que Salomão, o rei. Salomão edificou o
templo de Deus e falou a palavra de sabedoria, e a rainha gentia veio
a ele (1Rs 6:2; 10:18). Isso também é um tipo de Cristo que está
edificando a igreja para ser o templo de Deus e fala a palavra de
sabedoria, e a Ele vem os gentios sequiosos.

286
Esses tipos indicam que Cristo, quer como o Profeta enviado por
Deus, quer como o Rei ungido por Deus, se voltaria de Israel para os
gentios, como profetizado nos versículos 18 e 21.
De acordo com a história, o rei Salomão precedeu Jonas, o profeta.
Mas de acordo com o significado espiritual, Jonas veio primeiro, como
registrado em Mateus. Isso também prova que o relato de Mateus não
está de acordo com a seqüência histórica, mas com a seqüência
doutrinária. De acordo com a doutrina, Cristo deve primeiro morrer e ser
ressuscitado; então Ele edifica a igreja e fala a palavra de sabedoria. Esse é
o verdadeiro sinal para esta geração, tanto para os judeus como para os
gentios (1Co 1:22, 24).
Pela Sua palavra nos versículos 40 a 42 o Senhor profetizou
detalhadamente com respeito a Sua morte, sepultamento e ressurreição.
Jonas era uma prefiguração de Cristo em Sua morte e sepultamento, e
Salomão era um tipo de Cristo em Sua ressurreição. Se os fariseus não
fossem obstinados teriam percebido que tais palavras não foram faladas
levianamente. Antes, as palavras do Senhor eram muito graves,
importantes e significativas. Os fariseus não deveriam tê-las considerado
sem importância. Se estivéssemos lá e ouvíssemos essas palavras,
certamente as teríamos considerado sérias, pesadas e cheias de
significado. Se os fariseus tivessem recebido a palavra do Senhor, teriam
se arrependido e crido após o Senhor ser crucificado, sepultado e
ressuscitado. Em Sua resposta aos fariseus o Senhor foi misericordioso.
Embora pareça que Ele os estava repreendendo, Ele foi muito mais
misericordioso que reprovador. Deu-lhes os sinais de Jonas e de Salomão,
indicando que Ele estava para ser morto, sepultado e ressuscitado. Sua
morte e ressurreição seria o único sinal para esta era e para aquela
geração. Isso é também verdade hoje, no século XX. A morte e a
ressurreição de Cristo são ainda os únicos sinais para esta era. Sua morte
é verdadeiramente significativa e Sua ressurreição é cheia de significado.
Todavia, os fariseus obstinados, representando aquela geração maligna e
adúltera, não se importaram.
A palavra do Senhor com respeito a Jonas e Salomão também
indicava que daquele momento em diante Ele não faria nenhum milagre
para o povo judeu. Até que morresse e fosse sepultado, Ele não lhes daria
nenhum sinal. Sua morte e ressurreição tomou-se o verdadeiro sinal para
todos os judeus obstinados. Eles foram os únicos sinais para aquela
geração.
V. A GERAÇÃO QUE REJEITOU O REI TORNA-SE
PIOR
Os versículos 43 a 45 indicam que a geração que rejeitou o Rei
tomou-se pior. O versículo 43 diz: “Quando o espírito imundo sai do
homem, anda por lugares áridos, procurando repouso, e não o encontra”.
O espírito imundo, um demônio (v. 22), busca descanso, mas não pode
encontrá-lo em lugares áridos, porque o lugar de habitação dos
demônios, após o julgamento de Deus pela água em Gênesis 1:2, é o mar.
Uma vez que o demônio não pode achar descanso em lugares secos, ele
287
retoma ao corpo do homem que originalmente o possuiu e faz ali sua
morada (vs. 44-45).
Os versículos 44 e 45 continuam: “Então diz: Voltarei para minha
casa donde saí. E, chegando, a encontra desocupada, varrida e
ornamentada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos, mais
malignos do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele
homem toma-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta
geração maligna”. Doutrinariamente o versículo 43 é uma continuação do
versículo 22. Entre eles há um relato da rejeição dos judeus a Cristo e do
abandono de Cristo em relação a eles. Aqui o Senhor comparou a geração
maligna dos judeus que O rejeitaram a homens possessos. Aos olhos do
Senhor, os judeus que O rejeitaram eram como endemoninhados. Os
dois sinais, o de Jonas e o de Salomão indicavam que os gentios se
arrependeriam, mas o caso do homem possesso indicava que os judeus
não se arrependeriam. Eles apenas removeriam a sujeira e adicionariam
algumas coisas agradáveis para embelezarem-se, mas não receberiam
Cristo para enchê-los. Antes eles permaneceram vazios e desocupados.
Essa é a condição dos judeus hoje. Próximo ao fim desta era se tomarão
sete vezes mais endemoninhados, e o estado deles se tomará pior do que
antes.
O Senhor Jesus comparou aquela geração
maligna a uma pessoa de quem o demônio tinha saído. Porque aquela
pessoa não quis se arrepender e aceitar Cristo, ela
permaneceu vazia. Embora o demônio tenha sido expulso,
Cristo não pôde entrar. Portanto aquela pessoa era como uma casa
vazia. O Senhor Jesus disse que esta geração era como tal pessoa.
O Senhor descreve essa casa com três
palavras: vazia, varrida e ornamentada. Essa palavra era também uma
profecia que foi cumprida; contudo ainda está para ser cumprida.
Os judeusque retomaram para formar a nação
de Israel são varridos, ornamentados e vazios. Toda a
nação de Israel hoje tem sido limpa e muitas coisas foram expulsas. Além
disso, eles têm sido ornamentados com várias coisas boas; os judeus se
sobressaem na ciência e em outras áreas. Entretanto, a nação de Israel
permanece vazia. A palavra do Senhor nesses versículos é uma predição
da atual geração obstinada.
Amo Israel, mas devo falar segundo a revelação de Deus. Em
recente visita a Israel, vimos que os judeus estão varridos, limpos e
ornamentados, mas estão vazios. Estou de acordo com a palavra do
Senhor. Quando o demônio percebeu que a pessoa estava vazia, ele levou
outros sete espíritos mais malignos que ele, e agora todos eles vieram
ocupar a vaga. Isso indica que ano após ano a nação de Israel se tornará
mais demoníaca. Mais e mais coisas
demoníacas serão encontradas lá. Os judeus são como uma casa limpa,
mas eles não aceitam Cristo e não O recebem. Antes, permanecem vazios.
Considere a nação de Israel hoje. Qual é a meta dos judeus? Muitos
diriam que eles não têm outro objetivo senão o de manter a existência da

288
sua nação. Mas esse não deve ser o objetivo deles. Se a nação de Israel
existe ou não, não depende do esforço dos judeus; depende da
misericórdia de Deus. Não estou preocupado com a existência da nação de
Israel. Deus a restaurou e ninguém pode revogá-la. Tudo o que os árabes
estão fazendo é em vão, porque a restauração da nação de Israel é obra de
Deus. Entretanto, a nação de Israel hoje não tem uma meta;
conseqüentemente, ela está vazia.
Ti ve clareza quanto a essa porção sobre Israel há mais de quarenta
e cinco anos. Naquele tempo, é claro, não pude ver a restauração de Israel
ou o retomo de Jerusalém. Nunca esquecerei o dia quando li, no jornal,
em Xangai, sobre a restauração de Israel; nem esquecerei o dia, em 1967,
quando ouvi que Jerusalém retornara para Israel. Sem dúvida Israel
existirá como nação até a volta do Senhor. Minha preocupação é que
Israel permaneça vazio. Por que os judeus não aceitam o Messias deles?
Por que eles não querem permitir que Cristo os ocupe? Hoje eles
permanecem vazios e sua situação se tornará cada vez pior.

VI. A REJEIÇÃO RESULTOU NO ABANDONO DO REI


CELESTIAL
Depois disso, enquanto o Senhor Jesus estava falando às multidões,
Sua mãe e Seus irmãos estavam do lado de fora, procurando falar-Lhe,
e alguém disse-Lhe: “Eis que Tua mãe e Teus irmãos estão lá fora e
procuram falar-Te” (vs. 46-47). Esse também foi um ambiente que
proporcionou ao Senhor a oportunidade de revelar algo. O Senhor disse:
Quem é Minha mãe e quem são Meus irmãos? E, estendendo a mão para
os Seus discípulos, disse: Eis Minha mãe e Meus irmãos! Porque qualquer
que fizer a vontade de Meu Pai que está nos céus, esse é Meu irmão, irmã
e mãe” (vs. 48-50). Isso indica que o Rei celestial abandonou Seu
relacionamento com os judeus na carne. Nesse capítulo, a rejeição dos
judeus a Cristo, tendo alcançado seu clímax, resultou no abandono total
de Cristo a eles. Nesse ponto, o rompimento entre eles e Cristo começou,
e eles foram separados de Cristo (Rm 11:17, 19-20). Após o rompimento
com os judeus, Cristo se voltou aos gentios. Então Seu relacionamento
com Seus seguidores não era mais na carne, mas no espírito. Todo aquele
que faz a vontade de Seu Pai é Seu irmão para ajudar, Sua irmã para
compadecer-se e Sua mãe para amar ternamente. Nos versículos 46 a 50
vemos uma grande virada, até mesmo uma virada dispensacional. Daí em
diante, o relacionamento de Jesus com as pessoas já não é baseado no
nascimento natural, mas no nascimento espiritual. Todo aquele que faz a
vontade do Pai que está nos céus é um parente de Jesus. Em outras
palavras, no final do capítulo 12, o Senhor indicou fortemente que Ele
tinha abandonado toda a raça de Israel. Após isso, Seu relacionamento
comas pessoas deveria ser baseado em algo espiritual. Todos aqueles que
fazem a vontade do Pai são Seus parentes. Aleluia! somos não apenas
parentes de Cristo, mas Seus membros! Somos Seus membros não pelo
sangue ou

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nascimento naturais, mas pelo nascimento espiritual em nosso espírito.
Aquele que se une ao Senhor é um espírito com Ele (1Co 6:17). Agora
somos não apenas Seus irmãos e irmãs; somos um espírito com Ele, um
só Corpo Nele e um novo homem Nele.
No final do capítulo 12 o Senhor Jesus fez uma clara declaração a
todo o universo que Ele desistiu de Israel segundo o sangue natural.
Assim, Romanos 11 diz que Israel foi cortado. Esse corte ocorreu no final
de Mateus 12. Romanos 11 também diz que os gentios foram enxertados.
Isso também ocorreu no final de Mateus 12. Na próxima mensagem
veremos os mistérios do reino. Naquele capítulo não mais vemos Israel,
mas os gentios que foram enxertados como a igreja.

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