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TERRA

TERRA LIVRE
BOLETIM Nº2 NOVEMBRO DE 2008

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PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

Sopram bons ventos APRESE$TAÇÃO DA TEORIA

DO DECRESCIME$TO
O interesse de vários activistas da causa ambiental em aderir ao CAES- Colectivo Açoriano
de Ecologia Social quando este vier a ser constituído é sinal de que as pessoas estão despertas O decrescimento é um slogan. É também um
para participarem em algo de novo, sem estarem há espera de quaisquer benefícios pessoais, conceito que nos obriga a todos a tomar
a não ser a satisfação de estar a colaborar na construção de um mundo melhor. consciência dos limites físicos do planeta aos quais
nós nos confrontamos. Ele obriga-nos a pôr em
De salientar, ainda, o facto das pessoas em causa residirem em várias ilhas dos Açores, a causa a nossa noção de conforto, de necessidade.
maioria pertencer a diversas O$GAS já existentes, onde, com toda a certeza, irão manter-se
e ajudar a implementar projectos de sensibilização e consciencialização ambientais. O decrescimento não é uma ideologia, é uma
necessidade absoluta: depois de dois séculos, o
A recente denúncia feita por um animador do blogue Terra Livre relativa à plantação de colonialismo, a revolução industrial, o urbanismo,
espécies invasoras nas Portas do Mar, em Ponta Delgada, para além do eco que teve na o recurso às energias fosseis, o desenvolvimento
comunicação social açoriana, foi um autêntico ovo de Colombo. Com efeito, toda a gente frenético e a utilização da química, da física e da
sabia que aquelas plantas ali estavam, mas ninguém tomava a iniciativa de agir, esperando- biologia, aceleraram consideravelmente os danos
se que a prometida remoção se faça em breve. Além disso, também, surgiram em várias ilhas cometidos ao meio natural. Mas foi sobretudo
pessoas interessadas em denunciar situações análogas e sobretudo em voluntariar-se para depois da segunda guerra mundial que os
participarem em campanhas de remoção de invasoras. problemas de ordem ecológica tomam uma escala
planetária. A ajuda ao “desenvolvimento” dos
De entre as intenções manifestadas, uma já se concretizou: a criação, no passado dia 29 de países pobres vem justificar um crescimento
Outubro, da Liga de Amigos da Lagoa do Fogo que tem como propósito a salvaguarda da económico cada vez mais forte e faz nascer a
respectiva Reserva $atural e que tem como primeiros aderentes membros das mais diversas “sociedade de consumo”.
associações de São Miguel, embora a título individual.
Todo o acto de consumo é um acto de destruição: a
Por último, é com grande satisfação que se regista a crescente motivação do chamado extracção de energia e de matérias-primas, à
cidadão comum para colaborar com a campanha SOS Cagarro. partida; acumulação de lixo, à chegada. As contas
feitas à ecologia são catastróficas: mudanças
climáticas, desflorestação, desaparecimento das
águas doces, degradação dos solos, perda da
biodiversidade, poluição química, nuclear,
acumulação de resíduos, esgotamento dos recursos
não renováveis. O crescimento, indispensável à
sobrevivência do capitalismo, conduz-nos a um
impasse. Só o decrescimento, ou seja a adopção de
modos de vida, de habitação, de transporte, de
consumo muito mais económicos em recursos
naturais, podem abrir novas perspectivas.

Mas o decrescimento não se limita aos aspectos


ecológicos. É igualmente uma reflexão sobre o
aspecto económico e social da produção, do
consumo e da distribuição das riquezas, tal como
uma crítica da ideologia do progresso, da
industrialização das técnicas e do cientismo.

O decrescimento não será o «retorno à luz da


vela», esse bicho papão que alguns proclamam
para salvaguardar o lucro capitalista. Ele será, pelo
contrário, a ocasião de tomar consciência que a
felicidade não se mede por volume e produção, que
é a mudança dos valores humanos essenciais
(respeito, tolerância, solidariedade), a perda do
sentido (quer no trabalho quer na vida em geral)
que nos leva à bulimia do consumo de bens
materiais. Ele pode ser, para o homem, a
oportunidade a não perder de construir uma outra
sociedade, de desenvolver práticas e experiências
baseadas na autonomia, na criatividade, na
Contacto: terralivreacores@gmail.com solidariedade e na convivialidade.
UMA BELA EXÓTICA PODE ESCO$DER UM MO$STRO Cont. na pag. 2

APRESE$TAÇÃO DA TEORIA

DO DECRESCIME$TO

Cont. da pag.1

O decrescimento é também ir contra, desde hoje,


ao sistema capitalista, industrial e espectacular. É
um grão de areia na engrenagem da mega-
máquina. Um grão de areia entre tantos outros, de
forma a dar cabo deste sistema, minimizando a
violência. O decrescimento, não é apenas um
conceito, é também e sobretudo práticas a adoptar,
aqui e agora: viver de outra forma (squats,
ecoaldeias...), produzir de outra forma, consumir
de outra maneira, etc. O máximo de vias que
podemos seguir concretamente hoje sem chegar a
uma hipotética «greve geral». Mas atenção, em
separado, cada uma dessas práticas isoladas podem
ser recuperadas pelo sistema, tanto como o
isolamento destas experiências e alternativas
podem levar às rasteiras das comunidades sectárias
e utópicas. Para evitar esses perigos a crítica anti-
capitalista, anti-industrial e anti-autoritária como
do feudalismo é necessária.

Como o decrescimento é uma necessidade cada vez


mais urgente, a escolha não é entre o
decrescimento ou o crescimento, mas entre uma
sociedade libertária onde a população pratica em
harmonia o decrescimento ou uma sociedade onde
medidas draconianas serão impostas por governos
autoritários!

Construamos um outro presente!


Grupo Marée Noire

Texto extraído do Blog: http://aguaslimpas.blogspot.com/

MEMÓRIA ECOLÓGICA
O Penacho (Cordaderia selloana), erva vivaz de grande porte e grandes plumas branco-
prateadas, é uma espécie oriunda da parte Sul da América, Chile e Argentina que tem sido
introduzida noutras regiões com fins ornamentais.

O penacho, que é considerado como uma espécie invasora em várias zonas do mundo,
tendo já sido banido de outras, é plantado ao longo das estradas da ilha de São Miguel
pelos Serviços da Secretaria Regional da Habitação e Obras Públicas.

Tal como já ocorreu no passado, virão uns senhores sabichões com as suas manobras de
diversão dizer que tudo está controlado, esquecendo-se que o que está a ser feito é o
melhor modo de facilitar a dispersão, ao longo de corredores, e que erramos ao não falar
noutras espécies, e que há outros problemas ambientais mais graves…

Só que nunca denunciam o que é mais grave e nunca estão dispostos a dar o seu contributo,
a não ser tecer loas aos prevaricadores.
TB

“A utopia não consiste, hoje em dia, em preconizar o bem-estar mediante a redução e a Autocolante, com mais de 20 anos, da
autoria de Gerald Le Grand. Ele e
subversão do actual modo de vida, a utopia consiste em crer que o crescimento da Duarte Furtado foram os principais
animadores da Delegação dos Açores
produção social possa ainda trazer o bem-estar e ser materialmente possível” do Núcleo Português de Estudo e
Protecção da Vida Selvagem que
(Michel Bosquet) esteve em funcionamento entre 1982 e
1984.

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