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CONCURSO PÚBLICO

DIREITO CONSTITUCIONAL
PROF. ANDRÉ ALMEIDA
1.Introdução
Noções. O Direito Constitucional é um ramo do Direito
Público, destacado por ser fundamental à organização e ao
funcionamento do Estado, à articulação dos elementos
primários do mesmo e ao estabelecimento das bases da
estrutura política; tem, pois, por objeto a constituição política
do Estado, no sentido de estabelecer sua estrutura, a
organização de suas instituições e órgãos, o modo de
aquisição e limitação do poder, através, inclusive, da previsão
de diversos direitos e garantias fundamentais.
Definição. O Direito Constitucional pode, em suma, ser
definido como o ordenamento supremo do Estado; funciona
como um tronco de uma árvore, de onde nascem os demais
ramos do direito positivo. Assim, é do texto constitucional que
brotam os demais ramos do Direito (Civil, Comercial, Penal
etc.), pois estes têm os seus princípios norteados na
Constituição.
2.Poder Constituinte
Surgimento. Surgiu com o abade francês Emmanuel Sieyès
( século XVIII ), que trazia a idéia de nação soberana ligada a
criação de um Estado. A idéia de que a Constituição é fruto
de um poder distinto dos que estabelece, a afirmação da
existência de um Poder Constituinte, fonte da Constituição e,
portanto, dos poderes constituídos ( dentre os quais o
Legislativo ) é contemporânea da de Constituição escrita. Na
verdade é no panfleto de Sieyès, Qu’est-ce que le tiers État ?
( O que é o terceiro Estado ? ), que isso se afirma
explicitamente pela primeira vez.
Conceito. É a manifestação soberana da suprema vontade
política de um povo, social e juridicamente organizado,
consistindo na positivação, como salientam Barthélemy e
Duez, do princípio democrático, ocorrida após a Revolução
Francesa de 1789.É o poder de elaborar uma Constituição.
Titularidade – O POVO.

Modernamente é predominante que a titularidade do


poder constituinte pertence ao povo, pois o Estado
decorre da soberania popular.

- Se o povo é o titular, quem é o exercente do Poder


Constituinte ?
R.:

Espécies

1 – Originário.
2 – Derivado, que por sua vez se divide em
reformador, decorrente e revisional/revisor.
Poder Constituinte Originário

É o que realmente faz jus ao nome, pois é ele que edita


uma nova Constituição ou dá organização a um novo
Estado, sendo que os outros poderes, também chamados
Constituintes, dele retiram a força que têm. É, pois, esse
Poder Constituinte, distinto, anterior e fonte da autoridade
dos poderes constituídos ( Legislativo, Executivo e
Judiciário ), com eles não se confundindo.
Formas de expressão do P.C.O.
1 – Outorga ou Movimento Revolucionário. É o
estabelecimento da Constituição por por declaração
unilateral do agente revolucionário.
2 - Assembléia Nacional Constituinte ou Convenção.
Nasce da deliberação da representação popular.
Características do Poder Constituinte Originário
Inicial: instaura uma nova ordem jurídica, rompendo, por
completo, com a ordem jurídica anterior. Não deriva de nenhum
outro, é dele que derivam os outros poderes.
Ilimitado juridicamente: no sentido de que não tem de respeitar
os limites postos pelo direito anterior. Quanto à área de atuação.
Há limites políticos, no tocante as idéias que serão utilizadas.
Autônomo: eis que a estruturação da nova constituição será
determinada, autonomamente, por quem exerce o poder
constituinte originário.
Incondicionado e soberano na tomada de suas decisões:
não se subordina a nenhuma condição para manifestar sua
vontade. Não tem que se submeter a qualquer forma prefixada
de manifestação.
Permanente: fica sempre pronto para ser utilizado, em estado
de latência. A qualquer tempo se pode exigir uma nova
constituição por causa dessa característica.
De fato.
Poder Constituinte Derivado
( instituído, constituído, secundário, de
segundo grau ).

Decorre da própria característica de


permanência do Poder Constituinte Originário,
uma vez que o P.C.O., além de possibilitar a
criação de novas constituições, também autoriza
correções, reformas, sendo estas a
manifestação do Poder Constituinte Derivado.
Características do Poder Constituinte
Derivado

Secundário ou derivado: retira sua força do


Originário. É criado e instituído pelo originário.
Limitado ou Subordinado: tem seus limites
definidos pelo Texto Constitucional. Por exemplo, as
Cláusulas Pétreas não podem ser objeto de reformas,
nem por meio de Emendas Constitucionais (art.60, §
4º CF). Deve obedecer ás regras colocadas e
impostas pelo originário.
Condicionado: o Congresso só pode proceder às
reformas dentro das normas fixadas no texto da
Constituição Federal.
Juridico.
Espécies de Poder Constituinte Derivado

Poder Constituinte Derivado Reformador – consiste


na possibilidade de se alterar o texto da Constituição,
através de um procedimento específico, estabelecido pelo
Originário. Se manifesta por meio de emendas
constitucionais. Seu exercente é o Congresso Nacional.
Por meio deste poder se elaboram as reformas
constitucionais. Não confundir com mutações
constitucionais definidas como o processo informal de
mudança da constituição, por meio do qual são atribuídos
novos sentidos, conteúdos até então não ressaltados à
letra da constituição, quer através da interpretação, em
suas diversas modalidades e métodos, quer por intermédio
da construção, bem como dos usos e dos costumes
constitucionais.
Poder Constituinte Derivado Decorrente – é o
Poder Constituinte dos Estados Membros da
Federação de elaborarem sua própria
constituição. Com fulcro no artigo 25, caput da
Constituição Federal. Exercente: Assembléia
Legislativa. Ver art. 11 e seu § único dos Atos das
Disposições Constitucionais Transitórias.
Em sua manifestação deve obedecer aos
princípios constitucionais sensíveis, estabelecidos
e extensíveis.
Poder Constituinte Derivado Revisional ou Revisor
– o art. 3º do ADCT estabeleceu que a revisão
constitucional seria realizada após cinco anos,
contados da promulgação da Constituição, pelo voto
da maioria absoluta dos membros do Congresso
Nacional, em sessão unicameral.
O que se percebeu foi o estabelecimento de uma
competência de revisão para “atualizar” e adequar a
Constituição às realidades que a sociedade apontasse
como necessárias.
Em se tratando de manifestação de um “ poder ”
derivado, os limites foram estabelecidos pelo Poder
Constituinte Originário.
3.Constituição

Conceito: é o conjunto de princípios e regras


concernentes à forma do Estado, à forma de Governo,
ao modo de aquisição e exercício do poder, a fixação
de seus órgãos e os limites de sua ação, divisão de
competências. É o conjunto das normas positivas que
regem a produção de direitos e o limite de atuação
estatal. É a Lei Fundamental do Estado. Traça as
suas regras político-estruturais.
Existem várias concepções a serem tomadas ao
definirmos o termo Constituição.
Sentido sociológico. Valendo-se desse sentido,
Ferdinand Lassale defendeu que uma Constituição só
seria legítima se representasse o efetivo poder social,
refletindo as forças sociais que contituem o poder. Do
contrário, seria considerada uma simples “folha de
papel” . Seria, então, a somatória dos fatores reais do
poder dentro de uma sociedade, ou seja, as forças
políticas presentes naquela sociedade, tais como
grupos religiosos, os trabalhadores, o empresariado,
os negros, as mulheres.
Sentido político. Na lição de Carl Schimitt, distingue,
nesta ótica, Constituição de lei constitucional.
Constituição só se refere à decisão política
fundamental. Leis constitucionais seriam os demais
dispositivos inseridos no texto do documento
constitucional .

Sentido Jurídico. Hans Kelsen considera a


Constituição como norma pura. O direito
constitucional, neste sentido, observa a Constituição
como uma norma superior de cumprimento
obrigatório, independente de seu conteúdo.
Aspectos conclusivos.
4.Classificação das constituições:

4.1.Quanto à forma
Escritas - quando as regras jurídico-constitucionais
estão codificadas, sistematizadas, reunidas em um único
texto.
Não Escritas, costumeiras ou consuetudinárias – são
aquelas formadas pela conjugação de textos esparsos
como Atos do Parlamento, decisões judiciais
(jurisprudência), usos e costumes. Exs. Constituições
Inglesa e Israelense.
4.2.Quanto ao modo de elaboração

Dogmática – são aquelas constituições fruto de


um momento único reflexivo, de um momento
apenas de pensamento e idéias. Como a
Constituição de 1988 formada ( concluída ) no dia
05 de outubro de 1.988.
Histórica – resultado da lenta e contínua síntese
da história. Com o passar do tempo ( décadas )
vai havendo a formação do texto constitucional.
Possui uma maior possibilidade de alcançar as
evoluções sociais, como, por exemplo, a
Constituição americana da 1.787.
4.3. Quanto à origem

Populares, promulgadas, democráticas ou votadas -


quando se originam de um Órgão Constituinte
composto por representantes do povo. Há no seu
processo de formação a participação popular.
Exemplo: Constituição Federal de 1988.
Outorgadas ou impostas- quando impostas por um
governante, seja ele imperador, rei ou ditador, ou
um grupo de governantes, como militares, sem a
participação popular. No Brasil são outorgadas as
Constituições de 1824, 1937 e 1967.
Dentro desta classificação importante mencionar as
Constituições cesarista e pactuada ou dualista.
4.4. Quanto ao conteúdo

Material – texto normativo que contiver tão-somente


regras materialmente constitucionais ( regras de direito
constitucional ), ou seja, normas que disponham sobre
fundamentais e estruturais do Estado, a organização de
seus órgãos, os direitos e garantias fundamentais, a
repartição de competências, direitos políticos,
nacionalidade, entre outros.
Formal – consiste no conjunto de regras inseridas no
texto unitário da constituição, independente de seu
conteúdo. Nesta hipótese as regras classificam-se como
constitucionais levando em consideração o fato de estarem
inseridas no texto da constituição ( forma de classificação,
daí o nome formal ), seja lá qual for o seu conteúdo, de
direito constitucional ou não.
4.5. Quanto à estabilidade ,mutabilidade, alterabilidade ou
consistência.

Rígidas - quando exigem para sua alteração processos formais


especiais, diferentes, mais difíceis, complexos que àqueles que
modificam as demais espécies legislativas, como as leis
ordinárias.
Flexíveis ou plásticas - quando podem ser modificadas pelo
legislador pelo mesmo processo utilizado para as leis não
constitucionais. Em decorrência desta afirmação, neste sistema,
não há controle de constitucionalidade, até porque as
constituições aqui não são hierarquicamente superiores.
Semi-rígidas ou semiflexíveis - quando existe processo especial
e solene apenas para a mudança de certos dispositivos,
permitindo que outra parte deles seja alterada pelo mesmo
processo da legislação não constitucional. Exemplo:
Constituição de 1824.
Há também as imutáveis, servindo apenas como relíquias
históricas.
4.6. Quanto à extensão

Sintéticas ou enxutas – prevêem somente os


princípios e as normas gerais de regência do
Estado. Trazem apenas as garantias asseguradas
aos cidadãos. Desta característica podem ser
extraídas as constituições tidas como garantia e
negativa.
Analíticas ou prolixas – não trazem apenas
princípios gerais. Tratam de assuntos de forma
pormenorizada que deveriam ser disciplinados
por leis infraconstitucionais.
Nossa atual constituição é – F.E.D./P.R.A. –
SIGLAS PARA MELHOR MEMORIZAÇÃO.
5. Nova constituição e ordem jurídica anterior

Recepção - fenômeno através do qual toda legislação


anterior e inferior compatível com a nova constituição
continua em pleno vigor. O que for materialmente
incompatível é tido por revogada. É a presevação do
ordenamento jurídico em vigor quando da entrada de uma
nova constituição, desde que haja sintonia entre seus
conteúdos ( compatibilidade material ). Não há
necessidadade em ocorrer compatibilidade formal.
Caso não haja identidade de conteúdo, a lei será
considerada não-recepcionada ou revogada. Não há
inconstitucionalidade superveniente, embora com a Lei
9.882/99 ( trouxe a Argüição de Descumprimento de
Preceito Fundamental ) há a possibilidade de se controlar a
constitucionalidade de leis ainda que anteriores à
Constituição ( analisaremos mais adiante ).
Repristinação - restauração da lei revogada por ter a lei
revogadora perdido a sua vigência. No âmbito
constitucional este fenômeno refere-se à nova
Constituição que revalidaria a legislação
infraconstitucional revogada pela Constituição que a
antecedeu. Não é admitido, nestes termos
contitucionais, no nosso ordenamento jurídico.
A Lei de Introdução ao Código Civil traz a possibilidade
de repristinação desde que expressa ( art. 2º, §3º).

Desconstitucionalização - fenômeno através do qual


as normas da Constituição anterior, desde que
compatíveis com a nova ordem, permaneceriam em
vigor mas com “status” infraconstitucional. Não existe no
Brasil, pois uma nova Constituição ab – roga a anterior,
de acordo com a doutrina e jurisprudência brasileiras.
6. Classificação das normas constitucionais
quanto ao seu grau de eficácia

As normas constitucionais têm diversidade em


sua eficácia, ou seja, quanto a sua aptidão para
produzirem efeitos a casos concretos. Podem
produzem efeitos plenos, plenos mas com
possibilidade de redução e, por fim, efeitos
mínimos.

Podem ser :
1)Norma Constitucional de Eficácia
Jurídica Plena.

É a norma eficaz a partir do seu nascedouro.


Produz todos os efeitos essenciais desde a
entrada em vigor da Constituição Federal, não
dependendo, para sua aplicabilidade, da
intermediação do legislador infraconstitucional.
Não há necessidade de lei regulamentadora. É,
portanto, de aplicabilidade imediata.
Exemplos: arts.: 1º e seu § único; 2º; 4º e
incisos; 5, inciso I; 14, § 2º; 17, § 4 º, todos da
Carta Magna.
2 ) Norma Constitucional de Eficácia Jurídica Limitada.

É a que conta com outra norma superveniente ou até


mesmo com ato de poder público de menor grau para ter
eficácia. Necessita de uma integração por parte do Poder
Público para a produção de efeitos. Possui eficácia
mínima, como regrar o sistema infraconstitucional, revogar
regras incompatíveis. São normas de aplicabilidade
mediata, diferida, indireta ou reduzida.
José Afonso da Silva a divide em duas espécies, quais
sejam, as definidoras de princípio institutivo ou
organizativo – são aquelas pelas quais o legislador
constituinte traça esquemas gerais de estruturação e
atribuição de órgãos, entidades ou instituições, para que o
legislador ordinário os estruture em definitivo, mediante lei;
e as definidoras de princípio programático – são
aquelas pelas quais o constituinte, em vez de
regular, direta e imediatamente, determinados
interesses, limitou-se a lhes traçar os princípios para
serem cumpridos pelos seus órgãos ( legislativo,
executivo e judiciário ), como programas das
respectivas atividades, visando às realizações dos
fins sociais do Estado. ( aqui incluem-se as
chamadas normas programáticas ).
Exemplos: arts. 7º, XI, XX e XXVII; 18, § 2º; 22, §
único; 25, § 3º; 33; 37, XI; 88; 196; 205; 215; 218;
227, dentre outras normas espalhadas pela
constituição.
Só terá eficácia depois que lei a infraconstitucional a
regulamentar, a integrar.
3)Norma Constitucional de Eficácia Jurídica
Contida (restringível ou redutível).

É a norma que nasce plena, que produz todos os


efeitos desejados pelo constituinte quando da sua
elaboração, mas pode ter o seu alcance reduzido pela
atividade discricionária do legislador infraconstitucional ou
por ações gerais trazidas em outras normas
constitucionais.
Entende a doutrina moderna que não precisa de uma
expressa previsão de lei na norma constitucional para ela
poder vir a ser reduzida, Ter seus efeitos contidos. Neste
caso ( ausência de lei ) poderiam ser utilizados os
princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Exemplos : art. 5º, inciso XIII - referente a
profissões - “é livre o exercício de qualquer trabalho,
ofício ou profissão, atendidas as qualificações que a
lei estabelecer. Até que a lei sobrevenha, a norma é
de eficácia plena. Outras hipóteses, artigos 5º,
VII,VIII,XV,XXIV,XXV; 15, IV; 37, I; 136, § 1º; 139,
entre outros.

DICAS : - única que não nasce plena é a norma de


eficácia limitada;
- em relação às contidas, normalmente
asserguram algo, garantem um direito, podendo
haver a sua restrição.
Dos Princípios Fundamentais

DOS FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA


FEDERATIVA DO BRASIL

I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Art. 1º - parágrafo único. Todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e


harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.
Princípio da Separação dos Poderes

OBJETIVOS FUNDAMENTAIS da República


Federativa do Brasil

Diferença entre objetivos e fundamentos


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
 III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
PRINCÍPIOS QUE REGEM O BRASIL EM
SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade;
X - concessão de asilo político.
Art. 4º - Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
buscará a integração econômica, política, social e cultural
dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.

Dos direitos e garantias fundamentais

- dos direitos e deveres indiduais e coletivos (art. 5º -


Constituição Federal)
Características dos direitos fundamentais
Destinatários (art. 5º - caput – CF)
Dos direitos e garantias trazidos no artigo 5º
CONCURSO PÚBLICO
DIREITO CONSTITUCIONAL
PROF. ANDRÉ ALMEIDA

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