Você está na página 1de 59

Teoria Lacaniana

Prof. Dr. Ricardo Baracho dos Anjos, Ph.D


1
Teoria Lacaniana
1901: Nasce em Paris, no dia 13 de
Abril, Jacques Marie Émile Lacan, filho
de uma próspera família católica.

1919: Matricula-se na faculdade de


medicina. Paralelamente, estuda
literatura e filosofia, aproximando-se
dos surrealistas.
1931: Após examinar Marguerite Pantaine, que havia
tentado assassinar a atriz Hulguette Dulfos, escreve sobre o
episódio (conhecido como “Caso Aimeé") uma monografia
que está na gênese de sua tese de doutorado.
2
Teoria Lacaniana
1932: Inicia sua análise com Rudolf
Loewenstein. Defende a sua tese de
doutorado, Da psicose paranóica em
suas relações com a personalidade.

1934: Casa-se com Marie-Louise Blondin,


com quem terá três filhos: Caroline
(1937), Thibault (1939) e Sybille (1940).

1938: Inicia relações com Sylvia Bataille.


Torna-se membro da Sociedade
Psicanalítica de Paris (SPP).
3
Teoria Lacaniana
1941: Separa-se de Marie-Louise. Nasce Judith Sophie, filha
de Lacan com Sylvia.

1953: Deixa a SPP junto com Daniel Lagache, Françoise


Dolto e outros quarenta analistas. Funda a Sociedade
Francesa de Psicanálise (SFP).

1963: A IPA admite a filiação da SFP. 4


Teoria Lacaniana
1964: Funda a Escola Freudiana de Paris (EFP) com alunos
como Françoise Dolto, Maud e Octave Mannoni, Serge
Leclaire, Moustapha Safouan e François Perrier.

1973: Publicação da transcrição do Seminário XI, Os


quatro conceitos fundamentais da psicanálise, realizado
em 1964. A partir daí, os seminários passam a ser
editados segundo esse procedimento. Caroline morre em
um acidente de automóvel.

1980: Anuncia a dissolução da EFP e funda em Outubro a


Escola da Causa Freudiana.

1981: Morre em Paris no dia 09 de Setembro decorrente


5
de um câncer no cólon.
Teoria Lacaniana
Seminário 1 - “Os escritos técnicos de Freud” (1953-54)
Seminário 2 - “O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise” (1954-55)
Seminário 3 - “As psicoses” (1955-56)
Seminário 4 - “A relação de objeto” (1956-57)
Seminário 5 - “As formações do inconsciente” (1957-58)
Seminário 6 - “Les désir et son interprétation” (1958-59)
Seminário 7 - “A ética da psicanálise” (1959-60)
Seminário 8 - “A transferência” (1960-61)
Seminário 9 - “L’identification” (1961-62)
Seminário 10 - “A Angústia” (1962-63)
Seminário 11 - “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise” (1963-64)
Seminário 12 - “Problèmes cruciaux pour la psychanalyse” (1964-65)
Seminário 13 - “L’objet de la psychanalyse” (1965-66)
Seminário 14 - “La logique du fantasme” (1966-67)
Seminário 15 - “L’acte psychanalytique” (1967-68)
Seminário 16 - “De um Outro ao outro” (1968-69)
Seminário 17 - “O avesso da psicanálise” (1969-70)
Seminário 18 - “D’un discours qui ne serait pás du semblant” (1970-71)
Seminário 19 - “...Ou pire” (1971-72)
Seminário 20 - “Mais, ainda” (1972-73)
Seminário 21 - “Les non-dupes errent” (1973-74)
Seminário 22 - “R.S.I.” (1974-75)
Seminário 23 - “O Sinthoma” (1975-76)
Seminário 24 - “L’insu que sait de l’une bévue s’aile à mourre” (1976-77)
Seminário 25 - “Le moment de conclure” (1977-78)
Seminário 26 - “La topologie et le temps” (1978-79) 6
Teoria Lacaniana
SEMINÁRIOS PUBLICADOS

O Seminário – Livro 1 – Os Escritos Técnicos de Freud. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,
1979
O Seminário – Livro 2 - O Eu na Teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise. Rio de Janeiro,
Jorge Zahar Editor, 1985.
O Seminário – Livro 3 - As Psicoses, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Edit. 1985.
O Seminário – Livro 4 - A Relação de Objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.
O Seminário – Livro 5 - As formações do inconsciente, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edit. 1999
O Seminário – Livro 7 - A ética da psicanálise, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Edit. 1991.
O Seminário – Livro 8 - A transferência, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Edit. 1992.
O Seminário - Livro 10 - A Angústia ,Rio de Janeiro, Jorge Zahar Edit., 2005
O Seminário – Livro 11 - Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise, São Paulo, Jorge
Zahar Editor, 1979.
O Seminário - Livro 16 - De um Outro ao outro, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Edit., 2008.
O Seminário – Livro 17 - O Avesso da Psicanálise, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1992.
O Seminário - Livro 18 - De um discurso que não fosse semblante, Jorge Zahar Edit., 2009.
O Seminário – Livro 20 - Mais, Ainda. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1982.
O Seminário - Livro 23 - O sinthoma. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 2007

7
Teoria Lacaniana
A LEI DO HOMEM É A LEI DA LINGUAGEM

Lacan teve contato com a Psicanálise a partir de 1951. E ele


afirma que os pós-freudianos tinham se desviado, e portanto,
faz um retorno a Freud. Mas o retorno a Freud não é usando
somente as fontes freudianas (física e biologia), mas também
na filosofia heideggeriana, adotando um questionamento
infinito sobre o estatuto da verdade, nos trabalhos da
lingüística saussuriana de onde extraiu sua concepção do
significante e de um inconsciente organizado com uma
linguagem, e nos pensamentos de Lévi-Strauss, donde
deduziu a noção de simbólico, que utilizou em uma tópica
(simbólico, imaginário, real: SIR).
8
Teoria Lacaniana

9
Teoria Lacaniana
Freud afirmou inúmeras vezes que ainda não há,
no ser humano quando nasce, uma unidade
comparável ao “eu”. O que há é um certo caos
resultante de um corpo ainda fragmentado e
descontínuo. É o momento dual mãe-bebê. O
bebê não fala, mas é falado. Para Freud, essa
unidade (EU) só pode ser apreendida a partir de
um esquema mental. Lacan, por sua vez,
afirmou que esse esquema mental é antecipado
para o bebê por um Outro antes mesmo de sua
capacidade motora se expressar.
Quem primeiro ocupa esse lugar de Outro, para
a criança, é aquele que exerce a função
10
materna.
Teoria Lacaniana
Segundo Lacan, animais
não têm inconsciente não
pelo fato de serem
irracionais e muito menos
porque estão privados de
afetos e emoções...

... Mas exclusivamente


porque não falam.

Para Lacan, há
inconsciente desde que
falamos com os outros 11
Teoria Lacaniana
A sexualidade humana não tem por objetivo natural um
único e estanque propósito de reprodução da espécie.
Tampouco se exerce de uma maneira padrão. Não há
portanto uma maneira única de satisfazer o desejo
(sempre sexual), o que confere ao humano a sina de estar
sempre insatisfeito frente a este.

O resultado da busca movida pela insatisfação, Lacan


nomeia gozo. O gozo é a busca pela plenitude, como se
fosse possível encontrarmo-nos com o objeto completo de
satisfação.

12
Teoria Lacaniana
No início da vida do bebê há esse tempo em que ele tem
suas necessidades todas satisfeitas pela mãe (Outro), e que
seria o retorno a essa experiência de satisfação que o
indivíduo buscaria pelo resto de sua vida, sem jamais
encontrar.

Essa busca pelo Outro, pela plenitude oferecida por ele,


gera o desejo que pressupõe a falta.

Para Lacan o desejo é a necessária relação do ser com a


falta. A falta move o sujeito, a falta é importante, pois gera
o desejo. Na clínica lacaniana trabalha-se para gerar o ser
desejante.
13
Teoria Lacaniana

O campo psicanalítico é o campo do desejo humano,


campo que a psicanálise cinde em três registros: real
(R) – simbólico (S) e imaginário (I). Então, o Édipo
como processo estruturante para o sujeito, deve ser
pensado nestes três registros

14
Teoria Lacaniana
O Imaginário aponta à ilusão de autonomia da
consciência. Na teoria freudiana corresponde ao plano
do narcisismo, compreendendo a etapa intermediária
entre o auto-erotismo e as relações objetais. É o
momento da cristalização da imagem do corpo. EGO.
O Simbólico tem na linguagem, sua expressão mais
concreta, regendo o sujeito do inconsciente. Ela é a
causa do efeito da cultura, onde a lei da palavra
interdita o incesto e nos torna diferentes dos
animais. SUPEREGO
O Real é a base pulsional do Isso (ou Id), em cima da qual
se organiza o aparelho psíquico. ID 15
SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE

Lacan, com base na afirmação de que o inconsciente é


estruturado como uma linguagem, descreveu que os
conceitos de signo, significante e significado são
emprestados do curso de linguística de Saussure.
Segundo Lacan, os signos são todas as coisas, os objetos,
são as referências do que nós temos em mente, por
exemplo, uma cadeira.

16
SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE

SIGNIFICADO: é um conceito, uma idéia referenciada à


palavra.

O significado é uma ideia, é aquilo que encontramos no


dicionário descrevendo o objeto, é para que serve o signo,
por exemplo o signo “cadeira” serve para que possamos
sentar.

17
SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE

SIGNIFICANTE: é uma realidade psíquica produzida por


uma imagem acústica. É a impressão psíquica do som, da
imagem. Determina os atos, as palavras e o destino do
sujeito.
É o que um objeto, por exemplo a cadeira, representa
para cada um de nós, o que vem na nossa mente, o que
nós imaginamos ao pensarmos em uma cadeira, alguns
irão imagina-la de madeira, outros de ferro ou de plástico,
com encosto ou sem, estofada ou não, enfim, para cada
um o significante será diferente.

Para Lacan o significante é mais importante do que o


significado 18
NÓ-BORROMEANO
Na teoria Lacaniana, o aparelho psíquico é
uma estrutura única composta pelo Real e
pelos registros do Imaginário e do Simbólico,
que se configuram em torno do furo inicial,
isto é, do objeto a.
O objeto a é o objeto ausente, a falta. E haverá
três maneiras de lidar com esse trauma. São
três defesas: neurose, psicose e perversão.
Embora esse nome seja conhecido tradicionalmente por
tecelões, marinheiros e escoteiros, seu nome deriva
do brasão que ornamentava o escudo de armas de
uma nobre família do norte da Itália (Milão), os
Borromeos. 19
Na fase do espelho (6 a 18 meses) Lacan entende ser a
fase onde a criança forma uma representação de sua
unidade corporal por identificação com a imagem do
Outro. O ser-humano se constitui na relação com o
outro através da linguagem. A fase do espelho, ou
estádio do espelho como formador da função do “eu”.

É através da linguagem que a criança ingressa na cultura,


na ordem das trocas simbólicas, rompendo a relação dual
que mantinha com a mãe. Momento que corresponde
também à entrada do pai em cena – constituição da
família – momento edípico.
20
PRIMEIRO TEMPO: PSICOSE

O termo Psicose foi introduzido em 1845 pelo


psiquiatra austríaco Ernst von Feuchtersleben
(1806-1849) para substituir o vocábulo loucura e
definir os doentes da alma numa perspectiva
psiquiátrica.

Designou inicialmente o conjunto das chamadas


doenças mentais, fossem elas orgânicas (como a
paralisia geral) ou mais especificamente mentais,
restringindo-se depois às três grandes formas
modernas da loucura: esquizofrenia, paranóia e
psicose maníaco-depressiva. 21
Retomado por Freud como um conceito em 1894, o
termo foi primeiramente empregado para designar
a reconstrução inconsciente, por parte do sujeito,
de uma realidade delirante ou alucinatória. Em
seguida, inscreveu-se no interior de uma estrutura
tripartite, na qual se diferencia da neurose, por um
lado, e da perversão, por outro.

Se o conceito de neurose é parte integrante do


vocabulário da psicanálise, o da psicose aparece, a
princípio, como um anexo proveniente do saber
psiquiátrico e adequado a uma medicina manicomial,
pautada numa concepção do sujeito que se organiza em
torno da idéia de alienação e perda da razão.

22
Foi nos anos 1909 a 1911 que foi melhor elaborada
a doutrina freudiana da psicose. Freud entendia
a psicose como uma dissociação da consciência
(à qual denominara clivagem do eu). A Psicose
seria um distúrbio entre o EU e o mundo
externo.

Como acontece essa formação psicótica no chamado


primeiro tempo do Édipo? O que faz surgir a chamada
realidade alternativa?

23
Nesse primeiro tempo (6 aos 18 meses) da relação
mãe-bebê acontece uma dupla ilusão, ou seja, a
ilusão narcísica de completude. A mãe se sente
completa com a presença do bebê e este também
se sente completo, mas como uma extensão da
mãe.

Nessa fase não há uma lei, mas sim um código materno, a


mãe interpreta o choro. É o momento onde opera o
chamado Véu da Alienação. Nesse tempo o bebê chora e a
mãe dá o leite. Esse gesto materno mantém a onipotência
do bebê. Mas isso não pode durar para sempre.
24
Com o tempo a mãe passa a não atender a todas as
exigências do bebê, pode considerar o choro
como birra, manipulação, etc. Mas isso acontece
visando “cortar” o bebê, tirá-lo do lugar de
objeto e colocando-o no lugar de sujeito.

Nessa caminhada rumo a subjetividade algumas


inscrições a partir do código materno devem ocorrer: a
separação e a queda da criança enquanto objeto para que
não haja alienação absoluta (psicose).

25
Ele vai construir uma realidade delirante, alternativa
justamente por não conseguir enfrentar a
realidade como é: a que exige sua subjetividade, o
seu fazer. Algo a que ele nunca foi acostumado.

O psicótico constrói uma realidade alucinatória na qual fica


unicamente voltado para si mesmo, numa situação sexual
auto-erótica. A psicose se apresenta como uma renegação
da castração.

26
SEGUNDO TEMPO: PERVERSÃO

Esse termo vem do latim PERVERTERE (Pere aversion),


termo da Psiquiatria que se refere as práticas sexuais
consideradas fora da norma. Em 1897, a palavra
perversão foi substituída, na terminologia psiquiátrica
mundial, por parafilia, que abrange práticas sexuais
nas quais o parceiro ora é um sujeito reduzido a um
fetiche (pedofilia, sadomasoquismo), ora o próprio
corpo de quem se entrega a parafilia, ora um animal
ou um objeto (zoofilia, exibicionismo).

27
Retomado por Freud em 1896 o termo
perversão foi definitivamente adotado
como conceito pela psicanálise, que assim
conservou a idéia de desvio sexual em
relação a uma norma. Nessa nova
acepção, o conceito se inscreve,
juntamente com a psicose e a neurose,
numa estrutura tripartite.

28
Foi sempre em referência a um processo de
negatividade e numa relação dialética com a
neurose que Freud definiu a perversão. Freud fez da
neurose o negativo da perversão. Negativo porque a
neurose segue a norma, e o pervertido não a segue.

Com isso sublinhou o caráter selvagem, bárbaro, polimorfo


e pulsional da sexualidade perversa: uma sexualidade
infantil em estado bruto. Ao contrário da sexualidade dos
neuróticos, essa sexualidade perversa não conhece nem a
proibição do incesto, nem o recalque, nem a sublimação.

O que importa é a satisfação do seu desejo pulsional.


29
Como surge a perversão no segundo tempo do Édipo?

No segundo tempo acontece a primeira separação


entre mãe e criança. Surge a figura paterna, a lei,
o limite fundador de um sujeito. É o momento da
castração imaginária do segundo tempo do
Édipo. O pai priva a mãe da criança e priva a
criança de ser o falo materno. Nessa hora, a
função da mãe é importante, pois ela funda o pai
(Lacan).

30
Se o pai não for bem apresentado, esse bebê vai
rejeitar o pai, vai rejeitar a castração e preferirá
viver essa sexualidade infantil da primeira fase.
O perverso é um sujeito, ele é desejante, mas quer seguir
as suas pulsões, ele não aceita a castração, o limite. Se a
psicose é a reconstrução de uma realidade alucinatória, a
perversão aparece como uma renegação ou um
desmentido da castração, com uma fixação na sexualidade
infantil (ID).
O perverso não entrega o prazer que vivia com a
mãe para o pai (lei). Ele se recusa a abrir mão do
seu prazer
31
O perverso é averso a lei (pere + aversion). Ele não
funciona numa estrutura onde se tenha um pai
instituído (igreja, família, exército). Ele quer
seguir o seu desejo e não medirá esforços para
obter o que deseja. O perverso é frio e ao mesmo
tempo sedutor. Está com as pessoas tão somente
pelo interesse. Não tem afeto.

32
E sabemos que a castração tem uma função
estruturante, no sentido de que funda o
sujeito psíquico enquanto tal, permitindo
o acesso ao simbólico (superego, lei) que
é o campo da neurose que veremos a
seguir.

33
TERCEIRO TEMPO: NEUROSE

Termo proposto em 1769 pelo médico escocês William


Cullen (1710-1790) para definir as doenças nervosas
que acarretavam distúrbios de personalidade. Foi
popularizado na França por Philippe Pinel (1745-1826)
em 1785. Retomado como conceito por Freud a partir
de 1893, o termo é empregado para designar uma
doença nervosa cujos sintomas simbolizam um
conflito psíquico recalcado, de origem infantil.

Com o desenvolvimento da psicanálise, o conceito


evoluiu, até finalmente encontrar lugar no interior de
uma estrutura tripartite, ao lado da psicose e da
perversão.
34
Freud começou a falar da Neurose a partir da Histeria. A
histeria foi considerada uma neurose por Freud. A histeria
passou a ser definida como uma doença nervosa na qual,
antes de mais nada, um trauma intervinha. A neurose
tornou-se uma afecção ligada a um conflito psíquico
inconsciente, de origem infantil e dotado de uma causa
sexual.

35
O neurótico passa pelo segundo tempo do ego, ou seja, recebe
a castração, a lei, mas as suas pulsões – aceitas pelo
perverso – continuam. O neurótico sofre justamente por
isso. O conflito do neurótico está em todo o tempo recalcar
as perturbações das suas exigências pulsionais. Na
neurose há um conflito entre o eu e o isso e a coabitação
de uma atitude que contraria a exigência pulsional.

Na neurose temos a instalação da figura paterna, a inibição


das pulsões, em oposição à sua desinibida colocação em
ato, uma tendência a encontrar mais prazer na fantasia do
que no contato sexual direto, uma recusa em ser a causa
do gozo do Outro. O mecanismo fundamental da neurose é
o recalcamento.
36
O neurótico passa a lâmina da castração em si mesmo o
tempo todo. É o tempo todo se policiando e
procurando evitar que o seu “eu de dentro” venha à
tona. O psicótico não tem esse eu, pois é fusionado
com a mãe. O perverso coloca esse “eu de dentro”
para fora tranquilamente, sem lei instituída. E o
neurótico sofre e fica mal em ver que tem esse lado
obscuro.

Recalque: processo que visa manter no inconsciente todas


as idéias e representações ligadas às pulsões e cuja
realização, produtora de prazer, afetaria o equilíbrio do
indivíduo, transformando-se em fonte de desprazer.
Mecanismo da neurose. 37
O neurótico obsessivo entende que a interdição
feita pelo pai através da mãe não foi bem feita,
e com isso ele passa a lâmina da castração nele
mesmo. Para mostrar que a castração do pai
deu certo, ele acaba se imferiorizando,
fracassando, diminui-se sabota-se. Com isso a
dúvida, a hesitação, sentimentos de
inferioridade colaboram para que não se corra
o risco de “ultrapassar o pai”.

38
Manifestações clínicas: ritos, ruminação mental
permanente, na qual intervém dúvidas e escrúpulos
que inibem o pensamento e a ação.

O neurótico (histeria, neurose obsessiva, de angústia, etc)


desgasta-se justamente em ter que manter o equilíbrio
das suas pulsões e as exigências sociais. O neurótico quer
estar bem com o pai e com a mãe.

39
PSICÓTICO
É um objeto, não deseja, rompe com a realidade, cria uma realidade
própria, regido pelo ID que em Lacan é o REAL. Fase ORAL.

PERVERSO
É um sujeito, deseja, não rompe com a realidade, mas
rejeita a castração, a lei, regido pelo ID e pelo EGO que em
Lacan é o REAL e o IMAGINÁRIO. Fase ANAL.

NEURÓTICO
É um sujeito, deseja, não rompe com a realidade, aceita a
castração, a lei, por isso entra em conflito (pulsão x lei),
esforça-se a ser regido pelo SUPEREGO que em Lacan é o
SIMBÓLICO. FASE FÁLICA. 40
ALGUMAS FRASES DE LACAN

“O desejo é a essência da realidade”

“O Real é o que responde ao acaso”

“O olhar é o avesso da consciência”

“A psicoterapia conduz ao pior”

“Penso onde não sou – sou onde não penso”

“O analista só se autoriza por ele mesmo” 41


A CLÍNICA LACANIANA

No consultório, o analista ocupa o lugar do SSS, o


Sujeito Suposto Saber. Ou seja, para o
analisando o analista possui um saber a ele
insabido. Esse SSS é o suporte da transferência.
Para Lacan não existe a chamada
Contratransferência, mas ele dizia que a
transferência é de mão dupla.
Atenção flutuante, escuta fundada no
inconsciente do analisando. Banda de Moébius.42
Vemos que o inconsciente surge a todo o
momento, basta ouvirmos bem. Entramos e
saímos dele sem percebermos e função do
analista é justamente ouvir esse inconsciente.

43
44
45
46
47
48
49
50
A clínica lacaniana visa que o analisando se aproprie do
saber inconsciente que se insinua em sua fala.

O analista lacaniano tem uma presença diferente no


atendimento. Diferente do freudiano que é silencioso. E
essa presença é marcada pela realização de sessões
curtas, o chamado “ tempo lógico ” . O psicanalista
interromperia seu paciente no meio de uma frase, no
início de um gesto, enfim, em cima de um silêncio

A ética de Lacan é criar um analista no analisando. Ou


seja, levar o analisando a se identificar com a tarefa
psíquica de investigação iniciada em sua análise.
51
A finalidade de uma análise lacaniana não é a
de que o sujeito saiba explicar melhor as
razões de seu sofrimento e sim que, menos
zeloso da integridade narcísica do “ eu ” ,
menos temeroso das manifestações do
inconsciente, possa levar menos a sério suas
pretensões e deixar de se torturar por seus
tropeços.
Função da análise é produzir um gozo sem trucidar o
corpo

52
Sintoma e Sinthoma – O sintoma é o que o
paciente leva ao consultório. É o fruto de não
conseguir manter juntos o Real, Simbólico e
Imaginário. O sintoma é o modo externo de lidar
com a falta.
O sinthoma é justamente o oposto. É o que permite
reparar a cadeia borromeana. Manter o Simbólico,
Imaginário e Real juntos, apesar da falta. Esse h não
possui som. É justamente isso, essa falta não possuir
aquele som que nos atrapalha tanto.

53
1ª Clínica de Lacan: retorno a Freud. Nessa clínica o
analisando aprendia a se conhecer e fazia análise para
conhecer-se melhor e agir com mais segurança. LACAN
FREUDIANO
2ª Clínica de Lacan: além de Freud. As relações sociais
deixaram de ser verticais e começaram a se horizontalizar.

A estrutura edípica começa a não responder com a mesma força e


exige uma psicanálise além do Édipo, além do pai, além da
identidade vertical. LACAN LACANIANO

54
Na primeira clínica: mais saber, mais ação justificada no
Outro. É a clínica do ÉDIPO.

Na segunda clínica: menos saber, mais ação apostada ou


arriscada. É a clínica do REAL onde o analisando vem a se
implicar

Nascemos na expectativa do Outro e fazemos análise para


sairmos da expectativa do Outro.

“A gente faz análise para ter honra” (Lacan, Seminário XVII).

55
A FORMAÇÃO DO ANALISTA

A formação implica uma espécie de ajuste de contas com


a educação recebida e uma relativa consciência da
alienação produzida em seu interior.

O psicanalista não se autoriza senão de si mesmo. Muita


polêmica se fez em torno dessa idéia, mas genericamente
ela sugere que tornar-se psicanalista é um ato ético do
sujeito, um ato que se realiza no interior da análise e que
procura restabelecer a idéia mesma de formação em toda a
sua radicalidade.

56
CONCLUSÃO

57
58
Contatos
psicobaracho@outlook.comw
ww.psicobaracho.com
(43) 99994-8568
Dr. Ricardo Baracho dos Anjos, Ph.D
Psicanalista SPP/PR-0136
Psicólogo CRP 08/12643
Coach – Personal & Professional Coaching - Sociedade Brasileira de Coaching
(SBC)
Pós-graduação em Administração e Marketing – ESAB (Escola Superior Aberta
do Brasil)
Pós-graduação em Teoria Psicanalítica pela Faculdade São Braz
MBA Executivo em Gestão Empresarial – FGV (Fundação Getúlio Vargas)
Doutor PhD em Psicologia pela Flórida Christian University – EUA
Curso de Clínica Psiquiátrica pela Manole/Medicina USP
Curso “Enfim, a Psicanálise no Divã” pelo IPLA (Instituto da Psicanálise
Lacaniana)
Curso Fundamental de Psicanálise pelo IPLA (Instituto da Psicanálise
Lacaniana)
Analista didata e docente da Sociedade Psicanalítica do Paraná (SPP)
Autor do livro: Terapia Psicanalítica Empreendedora – A reconstrução do crer,
no ser para o fazer. Editora Midiograf, 2013

Você também pode gostar