Introdução À Biblia: A Biblioteca Divino-Humana: Inspiração Da Sagrada Escritura

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Introdução à Biblia: a

biblioteca divino-humana

Inspiração da
Sagrada Escritura
Na elaboraçao deste material seguimos diversos autores:

Michelangelo Tabet, Introduzione generale alla Bibbia, Ed. San Paolo,


Milano 1998

AAVV, La Bibbia di Navarra, Antico Testamento (I) – Pentateuco, Ed.


Ares, Pamplona 1997

Joseph Ratzinger Benedetto XVI, Gesù di Nazaret, Ed. Rizzoli, Milano 2007

F. Ocàriz – A. Blanco, Rivelazione, fede e credibilità, Ed. Università della


Santa Croce, Roma 2001

Rino Fisichella, La rivelazione: evento e credibilità, Ed EDB, Bologna 1985


• 1- A Dei Verbum e a inspiração
• 2- A autoria divina dos textos
• 3- O conceito de inspiração
• 4- Toda a Escritura é inspirada por
Deus.
• 5- Como acontece a inspiração?
• 6- O papel do hagiografo.
• 7- Quem participa do carisma da
inspiração?
• 8- Como saber se um livro é inspirado?
DEI VERBUM n.11
• “As coisas reveladas por Deus, contidas e manifestadas na Sagrada
Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo. Com efeito, a
santa mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como santos e
canónicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as
suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo (cfr. Jo.
20,31; 2 Tim. 3,16; 2 Ped. 1, 19-21; 3, 15-16), têm Deus por autor, e como
tais foram confiados à própria Igreja (1). Todavia, para escrever os livros
sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas
faculdades e capacidades (2), para que, agindo Ele neles e por eles (3),
pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo
que Ele queria (4).
• E assim, como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos
deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve
acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem
erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada
nas sagradas Letras (5). Por isso, «toda a Escritura é divinamente inspirada
e útil para ensinar, para corrigir, para instruir na justiça: para que o
homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as obras boas»
(Tim. 3, 7-17 gr.)”.
Têm Deus por autor (1)
• Em algumas passagens do Antigo Testamento (Ex
24,12;31,18;32,16;34,28;Dt5,22;10,4) se diz que o
decálogo foi «escrito po Deus», ou «pelo dedo de
Deus» (Ex 31,18).

• Esta imagem, aplicada só aos dez mandamentos


dados a Moisés sobre o monte, estabelece uma
ligação direta e imediata entre a Palavra de Deus e o
texto sagrado, sem alguma mediação humana. Aos
olhos do moderno método histórico-crítico isto
aparece como um modelo excessivamente simplista.
Têm Deus por autor (2)
• Normalmente na tradição cristã e em
particulare no magistério católico, para
exprimir a relação de Deus com a escritura
inspirada, Deus é definido 'autor' da Bíblia.

• A imagem deve ser contextualizada quando


das heresias dualísticas (em particular o
Maniqueismo), para as quais o autor do
Antigo Testamento não é o mesmo do Novo
Testamento.
Têm Deus por autor (3)

Escreve Agostinho:
• « Como o único verdadeiro Deus é o criador
dos bens temporais e dos bens eternos, assim
Ele mesmo é o autor de ambos os
Testamentos, porque o Novo está figurado no
Antigo, e o Antigo está figurado no Novo»

(Contra o adversário da Lei e dos Profetas = Contra


adversarium Legis et Prophetarum 1,17,35; PL 42,623)
Têm Deus por autor (4)
• A imagem de Deus como autor da Bíblia foi
sucessivamente retomada pelos principais
concílios:
• “A Igreja confessa um só e idêntico Deus como
autor do Antigo e do Novo Testamento” (Conc. De
Florença, bula Cantate Domino – 4 de fev. 1442; DS 1334).

• “O sacrossanto concílio Tridentino [...] acolhe


e venera todos os livros, seja do Antigo como
do Novo Testamento, sendo Deus o autor de
ambos” (Conc. Trento, Decreto sobre as sagradas Escrituras - 8 de
abril 1546; DS 1501)
Têm Deus por autor (5)
• «Estes livros do Antigo e do Novo Testamento
[...] a Igreja os considera sagrados e
canônicos não porque, compostos por obra do
homem, foram depois aprovados pela sua
autoridade, e nem mesmo somente porque
contém sem erro a revelação, mas porque
escritos sob a inspiração do Espírito Santo,
têm Deus por autor e como tais foram
transmitidos à Igreja» (Conc. Vat. I, Constituição Dei Filius –
24 abril 1870; DS 3006)
Têm Deus por autor (6): perigo
• O perigo evidente deste modelo é de negar ou
minimizar o papel do autor humano. Por isso o
documento conciliar do Vaticano II, (Dei Verbum n.
11) reconfirma que Deus é o autor da Bíblia e
ACRESCENTA que os hagiógrafos são «Verdadeiros
autores»:
• “...Têm Deus por autor, e como tais foram confiados
à própria Igreja. Todavia, para escrever os livros
sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na
posse das suas faculdades e capacidades, para que,
agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito,
como verdadeiros autores, tudo aquilo e só
aquilo que Ele queria.
1- O conceito de inspiração
O termo clássico latino para Inspiração é “Inspirare”, que
significa “alentar em ou sobre alguém”. Refere-se também à
inalaçao ou recepção do “Vento/Espirito” (em hebraico existe
uma so palavra para dizer “vento” e “Espirito”.
O primitivo vocabulario cristão conhecia os termos “Affatus,
inflatus, instintus”, equivalentes ao termo inspiração.

Gradualmente os termos da série “inspirare”, se foram


reservando cada vez mais ao influxo mediante o qual Deus se
constitui em autor principial dos escritos sagrados.
O grego utiliza um conjunto de termos para referir-se à
inspiração. Quando se trata de um livro sagrado usa o adjetivo:
Theopneustos (= inspirado por Deus: θεόπνευστος): 2Tm 3,16.
Quando a inspiração se refere aos autores humanos da
escritura, se traduz Theophoretos (=guiados por Deus) e
Pneumathophoros (=guiados pelo Espírito).
O conceito de inspiração
A expressão “inspiratio” (em latim) tem muitos significados em
Santo Tomás. Um destes significados é aquele de toda moção
proveniente do exterior. O sopro do Espírito Santo pode atuar
sobre as mais diversas faculdades do homem.

Santo Tomás entendia assim a inspiração como elevação da


mente humana ao nível das percepções sobrenaturais
desprovidas de erro. A inspiração seria assim a elevação do
intelecto para alcançar tais verdades. Devemos ressaltar ainda o
sistema de causalidade aplicado à inspiração bíblica. Segundo tal
sistema, próprio da escolástica, Deus é a causa principal
(aquele que age por si mesmo) enquanto que o hagiógrafo é
causa instrumental (aquele que age movido por outrem).
• Inspiração é o processo pelo qual os
escritores humanos, sob a supervisão e
assistência do Espírito Santo, colocaram
em forma escrita o que Deus lhes
revelara.
• A inspiração completa o processo da
revelação.
• Deus operou na mente dos escritores
bíblicos a fim de estabelecer uma conexão
entre o que Ele havia revelado e o que foi
escrito por eles.
O que é inspiraçao?

A inspiração é
uma ponte
entre a
revelação e a
escritura.

O Espírito
Santo atuou no
homem
influenciando o
produto escrito
Se a revelação fosse o fim do processo,
seríamos forçados a questionar a
confiabilidade das Escrituras, pois não
haveria garantia de que as escrituras
descrevessem com precisão os
pensamentos e a vontade divina.
• Sem a inspiração o conteúdo da revelação
seria perdido na sua essência no processo
de transmissão.
• A revelação (diretamente) alcança poucas
pessoas, enquanto a inspiração abrange
várias pessoas, possibilitando a estas ter
acesso ao conteúdo da revelação.

• O Espírito Santo acompanhou diretamente


os escritores na produção escrita da Bíblia
• O lócus da inspiração, ou seja, o local em
que ela acontece, é na mente dos
profetas.
• 1º Os escritores eram o “lugar” onde o ato
da inspiração ocorria.
• 2º A mente dos escritores era o agente
(movido por Deus) que de fato estava no
controle da produção escrita das
Escrituras.
Perigo dos Extremos

• A visão clássica e evangélica fazem do


texto final o próprio lócus da inspiração,
ignoram o agente humano
• A visão moderna, em contraste, nega por
completo a intervenção divina no processo
da escrita – para eles a bíblia é um
produto meramente humano.
• 1ª Modo lingüístico
As Escrituras foram registradas em
linguagem humana, portanto tem todas as
suas características e limitações.

Deus atuou no processo da elaboração da


escrita para que os seus pensamentos
divinos fossem registrados.
• 2ª A Composição do Livro
os escritores humanos são os responsáveis
pela composição literária dos livros bíblicos.
Deus ordenou que seus servos simplesmente
escrevessem o que Ele já tinha revelado.

Eles puderam planejar e organizar o conteúdo


da revelação, aplicando seus talentos
literários dentro da suas individualidades,
para que a mensagem fosse a mais
apropriada para atingir seus destinatários.
• 3ª As Palavras
• Deus se comunicou (revelação) com os
autores bíblicos de maneira sobrenatural
(sonhos, visões), mas também de maneira
natural (eventos históricos).

• Os profetas por sua vez, se comunicavam


apenas com palavras (inspiração).
• A contribuição dos profetas foi também
comunicar as verdades da revelação
através de palavras que expressavam sua
capacidade lingüística e mentais (Ex 4,15-
16)

• As palavras dos profetas porém não


expressavam seus pontos de vista, mas os
de Deus.
• 4ª Formas Literárias

No processo da escrita, os autores bíblicos


expressaram diferentes formas e estilos
literários: códigos de leis, contratos legais,
alianças, enigmas, decretos reais, salmos,
orações, parábolas, figuras e literatura
apocalíptica.
• 5ª Trabalho Editorial

Os profetas e apóstolos editam os seus


trabalhos. (Jr 25,1-5 ; 36,2.4.23.28.32 –
Exemplo de Jeremias – teve que reescrever
o conteúdo da revelação, e neste processo
teve que recorrer a sua memória, portanto
algumas partes da segunda cópia não eram
exatamente iguais a primeira.
• 6ª Fontes Literárias

Fontes Literárias: fornecem as palavras


adequadas que auxiliam o escritor a
expressar o que Deus revelou por outros
meios (João cap. 1 – o apóstolo se apropria
de pensamentos literários correntes em sua
época para aplicar ao conceito e significado
a pessoa de Cristo – “Logos”)
1 – Permitiu que o homem escreva de
maneira criativa
2 - O Espírito Santo dirigiu o processo da
seleção das fontes, e estes por sua vez,
expressaram sua criatividade ao escreverem
o conteúdo da revelação.
3 – Deus supervisionou o processo da
inspiração.
4 – Deus atuou corrigindo e aprimorando
Deus atuava na mente dos profetas para
que eles tivessem discernimento na escolha
das fontes (Ef 3,3-4). As fontes
necessitavam ser filtradas a luz da revelação
anterior – elas não poderiam entrar em
contradição com o que fora anteriormente
apresentado na revelação.
2- Toda a Escritura é inspirada por Deus.
“Tu, porém permanece firme
Sao Paulo naquilo que aprendeste e aceitaste
a Timoteo como certo; tu sabes de quem o
aprendeste. Desde a tua infancia
conheces as Sagradas Letras: elas
têm o poder de comunicar-te a
sabedoria que conduz à salvaçao
pela fé em Cristo Jesus.
Toda Escritura é inspirada por
Deus (θεόπνευστος) e util para
instruir, para refutar, para corrigir,
para educar na justiça.”
(2Tm 3,14-16)
“Toda Escritura é inspirada por Deus”

Esta afirmação de Sao Paulo é preparada por uma


longa tradição biblica que encontra
particularmente nos profetas a sua expressão
mais significativa.
“Temos, também, por mais firme a palavra dos
prefetas, à qual fazeis bem em recorrer como a
uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie
o dia e surja a estrela d’alva em nossos
coraçoes. Antes de mais nada, sabei isto: que
nenhuma profecia da Escritura resulta de uma
interpretaçao particular, pois que a profecia
jamais veio por vontade humana, mas homens,
impelidos pelo Espirito Santo (pneumatos hagios
pheromenoi), falaram da parte de Deus” (1Pd
1,19-21)
Deus, inspirando os profetas, forma o seu
Povo

• na esperança da salvaçao [Cf Is 2,2-4 ] e


• Na espera de uma Aliança nova e eterna
destinada a tudos os homens, que será inscrita
nos coraçoes [Cf Jer 31,31-34; Hb 10,16 ]
• os profetas anunciaram uma radical redençao
do Povo de Deus, a purificaçao de todas as
suas infidelidades, [Cf Ez 36 ]
• uma salvaçao que incluirá todas as naçoes [Cf
Is 49,5-6; Is 53,11 ].
(CIC 64)
O Concilio Vaticano II recorda, a respeito, antes de
tudo, que Deus é o Autor da Sagrada Escritura:
«As coisas divinamente reveladas, que se
encerram por escrito e se manifestam na Sagrada
Escritura, foram consignadas sob a inspiraçao do
Espirito Santo.
A Santa Mae Igreja, segundo a fé apostolica, tem
como sagrados e canonicos os livros completos
tanto do Antigo como do Novo Testamento, com
todas as suas partes, porque, escritos sob a
inspiraçao do Espirito Santo (cf. Jo 20,31; 2Tim
3,16; 2Pd 1,19-21; 3,15-16), eles têm Deus como
autor e nesta sua qualidade foram confiados à
mesma Igreja»(Dei Verbum, 11).
[cf. Dei Filius, cap. 2; Dz 2180(3629)]
3- Como
acontece a
inspiração?
Na Sagrada Escritura se encontra
“tudo e somente aquilo que Deus
queria”
[“Providentissimus Deus”: Enciclica de
Leao XIII, 18/11/1893; cf. Dz
1952(3293)]
No processo inspirante Deus
age
Iluminando a inteligencia de
quem deve escrever e
Movendo docemente a
vontade para escrever…
e o assiste im todo o seu
trabalho.

A inspiraçao biblica torna capaz ao


hagiografo de uma obra que vai além da
sua propria capacidade natural.
4- O papel do hagiografo:
Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e
capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito,
como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria (Dei
Verbum n. 11).

Em quem escreve (hagiografo) se entrelaça a


sua propria capacidade (conhecimento, ímpeto,
imaginaçao, memória, dotes literários, personalidade,
etc.) com uma outra capacidade provinda do influxo
divino.
Estas duas capacidades (humana e
divina) se entrelaçam mutuamente,
até se constituirem como que uma
unica força.
A inspiraçao biblica

Os textos sagrados que resultam desta


colaboraçao inefável do homem com Deus se
devem atribuir inteiramente a Deus e
inteiramente ao hagiografo, porque ambos agem
como um único autor que elabora toda a obra.
Analogia com encarnação:
esta analogia estabelece uma semelhança em quatro
pontos:
•1- A encarnação do Verbo no qual coexiste as
naturezas humana e divina em uma única pessoa
divina.
•2- O Verbo encarnado é igual e perfeito, tanto em
divindade quanto em humanidade.
•3- No verbo encarnado a união das duas naturezas
em uma só pessoa não significa fusão nem confusão,
mas cada uma delas mantém sua identidade.
•4- No verbo encarnado cada natureza mantém sua
propriedade.
Analogia da Eucaristia:
o dogma da Eucaristia nos tem sido ensinado e transmitido sobre tudo
pelo Concílio de Trento. Comparando a doutrina tridentina sobre a Eucaristia
com o mistério das Escrituras por obra da inspiração, existe analogamente
uma transubstanciação de palavra humana em palavras propriamente divina.

1- Na Eucaristia, mediante a consagração se dá a


transubstanciação do pão em corpo de Cristo e do vinho no
sangue de Cristo.

2- Por obra da transubstanciação a Igreja afirma e declara a


presença eficaz de Cristo na Eucaristia, sem negar que há outras
multiformas da presença divina.

3- Em razão da presença divina na Eucaristia, o homem deve


atribuir-lhe culto de latria.
4- A Igreja recomenda que recebam, os freqüentemente a
Eucaristia.

5- A Eucaristia é chamada pelo Concílio de Trento como sinal de


unidade e vínculo de caridade.
5- Quem participa do carisma
da inspiraçao?

Na redaçao dos livros sagrados Deus


escolheu homens, dos quais se serviu
fazendo-os usar suas proprias faculdades e
capacidades, a fim de que, agindo Ele proprio
neles e por eles, escrevessem, como
verdadeiros autores, tudo e so aquilo que Ele
proprio quisesse. (Dei Verbum, 11).
Portanto, ja que tudo o que os autores
inspirados ou os hagiografos afirmam deve
ser tido como afirmado pelo Espirito Santo,
deve-se professar que os livros da Escritura
ensinam com certeza, fielmente e sem erro a
verdade que Deus em vista da nossa
salvaçao quis fosse consignada nas Sagradas
Escrituras. (Dei Verbum, 11).
A inspiraçao é um momento da divina revelaçao,
mediante o qual o homem é elevado a um nivel
superior por obra do Espirito Santo.

Mas, o carisma da inspiraçao é melhor nao


determina-lo ou esquematiza-lo em uma definiçao.

A inspiraçao é, antes, uma açao multiforme


mediante a qual o Espirito Santo “explica” a sua
funçao revelativa no interior da economia da
salvaçao.

Cfr. Rino Fisichella, La rivelazione: evento e credibilità, Ed EDB, Bologna


1985, pag 153.
A tendencia da teologia precedente ao Concilio
Vaticano II era caracterizada por um exagerado
papel passivo do hagiografo em relaçao à inspiraçao
(um bom secretario que fielmente estenografa a
comunicaçao divina recebida).

A nova pesquisa levou a descobrir o quanto é


determinante a pessoa do autor para a
compreensao da sua obra.

Cfr. Rino Fisichella, La rivelazione: evento e credibilità, Ed EDB, Bologna


1985, pag 153.
Poder-se-ía dizer que o hagiografo é aquele que
estuda, pesquisa, reflete, cumpre longas
investigaçoes para chegar à soluçao de um problema
que ele vê inserido na historia da salvaçao, mas que
sente, antes de tudo, como seu, vital para sua
existencia.
Está, portanto, plenamente inserido no seu tempo,
leva consigo os sinais evidentes da cultura que o
formou e dos estudos que o determinou, como das
experiencias e encontros que deram sentido à sua
vida.
É nesta experiencia que Deus se insere, fazendo-o
viver intensa e integramente a propria experienciaza.
Cfr. Rino Fisichella, La rivelazione: evento e credibilità, Ed EDB, Bologna
1985, pag 153-154.
Na Sagrada Escritura, resultado da
colaboraçao do homem com Deus,
se pode perceber os vestigios de
ambos autores: Deus e o homem.
Os textos sagrados mostram, assim, o
conhecimento do hagiografo, a sua cultura, a
sua capacidade literária, o seu estilo, o seu
modo de ser, etc.

De outra parte os textos sagrados, nao


obstante todas as contingencias humanas do
hagiografo, levam consigo, plenamente, o
sigilo determinante da sabedoria divina.
A inspiraçao biblica
É geralmente admitido que qualquer um que
tenha dado um contributo especifico ao texto
sagrado, participou do carisma da inspiraçao
na medida da sua colaboraçao:
Os autores dos acréscimos
Os amanuenses
(aqueles que escrevem – secretários – sob o ditado do
verdadeiro autor inspirado)

O redator
Portanto, nao se pode compreender com
plenitude o conteudo dos textos sagrados
nem medir com justiça a sua grandeza so
por meio de uma analise que leve em conta
somente a capacidade de conhecimento da
atividade do hagiografo.
6- Como saber se
um livro é
inspirado?
Inspiraçao nao é…

http://www.youtube.com/watch?v=KllWZWyWxQM
O Antigo Testamento NÃO fala explicitamente da
intervençao do Espirito para induzir a escrever;

Mas fala da intervençao do Espirito que faz com que


as palavras que Deus quer dizer sejam aquelas
do profeta.
Cfr. P. Benoit, Rivelazione e ispirazione, Brescia 1966
Os profetas tornam mais evidente esta condiçao de
serem inspirados pelo Espirito.

Por exemplo Jeremias é chamado à missao


profética desde o seio materno; ele tentará se
subtrair ao chamado, mas com um gesto simbolico
é confirmada e ratificada a presença do Espirito
sobre ele:
“Nao diga: sou apenas um jovem, mas vai onde eu
te inviarei e dirás aquilo que te ordenarei (…) O
Senhor estendeu a mao, me tocou a boca e o
Senhor me disse: «Eis que eu ponho minhas
palavras sobre a tua boca. ”
Cfr. Rino Fisichella, La rivelazione: evento e credibilità, Ed EDB, Bologna
1985, pag 136.
No Antigo Testamento NÃO existe um termo
especifico equivalente a Revelaçao, mas
existem os diversos modos concretos de
intervençao de Deus na historia humana.

Entre eles, aquele que representa mais


claramente uma revelaçao de Deus ao homem
é, sem duvida, o falar divino, vale dizer a
Palavra de Yahvé.

F. Ocàriz – A. Blanco, Rivelazione, fede e credibilità, Ed. Università della Santa Croce, Roma
2001
A Revelaçao divina é assim ligada no Antigo
Testamento à Palavra de Deus, que as outras
manifestaçoes divinas (teofanias, sonhos, etc.) sao
modos de transmitir a Palavra.
Vejamos por exemplo a teofania de Mambré (Gn 18,
1ss): [1]Depois o Senhor apareceu a ele (Abraao)
junto ao carvalho de Mambré, enquanto ele estava na
entrada da tenda na hora mais quente do dia. [2]Ele
levantou os olhos e viu que tres homens estavam de
pé perto dele.

F. Ocàriz – A. Blanco, Rivelazione, fede e credibilità, Ed. Università della Santa Croce, Roma
2001
Quando os viu, correu ao encontro deles à entrada
da tenda e se prostou por terra, [3]dizendo: «Meu
Senhor, se encontrei graça diante dos teus olhos,
nao passe adiante sem parar junto ao teu servo…

A revelaçao nao é propriamente a figura humana


sob a qual Deus aparece, mas as palavras que sao
ditas por Deus a Abraao (concebimento de Sara e
destruiçao de Sodoma).

[10] O hospede disse:Voltarei a ti no proximo ano;


entao tua mulher Sara terá um filho...
F. Ocàriz – A. Blanco, Rivelazione, fede e credibilità, Ed. Università della Santa Croce, Roma
2001
No Novo Testamento se pode pensar, por exemplo,
no evangelista Lucas.
No prologo do seu Evangelho ele diz como depois
de muita pesquisa decidiu de por por escrito a
mensagem de Jesus de Nazaré a qual ele conheceu
mediante outras pessoas.
Nós não sabemos se Lucas fosse consciente, neste
seu trabalho, de estar sendo inspirado, isto é,
guiado carismaticamente pelo Espirito.
Temos porém a certeza que ele cumpriu em sua
vida uma experiencia unica: aplicou-se ao estudo
de um acontecimento que havia subvertido a
historia.
Cfr. Rino Fisichella, La rivelazione: evento e credibilità, Ed EDB, Bologna
1985, pag 154-155.
Para Hegel e Feuerbach ao
invés, cada discurso sobre
Deus é simplesmente a
projeçao ideal de um
discurso humano.

Para Freud Deus é uma


projeçao do inconsciente ou
uma fuga da realidade
na qual se procura refugio
na onipotencia de Deus.
Giuseppe Tanzella-Nitti, Filosofia e Rivelazione, Ed.
San Paolo, Milano 2008, p.112 ss
Porém há um erro no ponto de partida deste
raciocinio.
Deus nao é um tapa buraco!
Nao pode ser reconhecido somente quando as
forças humanas faltam.
Deus nao é a força diante da falência humana;
Deus está no centro da vida.

Deus nao se coloca no limite, mas no centro; nao


em relaçao à morte e à culpa, mas em relaçao
com a vida e com o bem do ser humano.
D. Bonhoeffer, Resistenza e resa. Lettere e scritti dal carcere. Ed. Paoline, Cinisello Balsamo 1988,
citato da Giuseppe Tanzella-Nitti, Filosofia e Rivelazione, Ed. San Paolo, Milano 2008, p.118
Além disso, pensando Deus como projeçao
ideal do inconsciente humano ou como fuga da
realidade, nao podemos esquecer a luta dos
Padres contra as varias formas do pensamento
gnostico que queriam que a verdade revelada
fosse um conhecimento conquistado por um
grupo de iluminati que o assumiam como regra
de vida.

Giuseppe Tanzella-Nitti, Filosofia e Rivelazione, Ed. San Paolo, Milano 2008, p.120 ss
Para os Padres da
Igreja a Revelaçao nao
é um conhecimento;
Revelaçao é

a vida pessoal de
Deus mesmo que
se comunica ao
homem.

Giuseppe Tanzella-Nitti, Filosofia e Rivelazione,


Ed. San Paolo, Milano 2008, p.120 ss
Além disso, a pretençao
gnostica iria contra as
exigencias de
universalidadee de
comunicabilidade
que devem distinguir a
revelaçao que Deus
faz ao homem.

Giuseppe Tanzella-Nitti, Filosofia e Rivelazione, Ed.


San Paolo, Milano 2008, p.120 ss
isto, certamente o homem sem a graça poderia
cultar a Revelaçao mas nao recebe-la.

scuta nao supera a capacidade natural do homem:


Revelaçao Deus fala aos homens através de
avras humanas, nao necessariamente entendidas
mo sons exteriores.

ecepçao exige o estado de ser elevado à ordem


renatural mediante a graçia.

F. Ocàriz – A. Blanco, Rivelazione, fede e credibilità, Ed.


Università della Santa Croce, Roma 2001
A Palavra de Deus é dirigida ao homem para
suscitar uma resposta (dimensao dialogica).
Por isso a resposta do homem à Palavra divina
serve para compreender melhor o sentido e a
finalidade desta mesma Palavra, mesmo quando
uma tal resposta nao é aquela que Deus desejaria
da parte do homem..
F. Ocàriz – A. Blanco, Rivelazione, fede e credibilità, Ed. Università della Santa Croce, Roma 2001

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