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OS ÍMPIOS

TEXTO: Salmo 1.4-5


Introdução
Conforme já averiguamos, os v.1-3 do Salmo 1
apresenta o homem bem aventurado. O seu perfil é
completamente distinto do ímpio (v.1). Na verdade, o
seu maior deleite é a instrução de Javé, e nela ele
medita constantemente (v.2). A fonte de sua vida é o
próprio Javé, e por isso, sua vida é cheia de vigor,
estável, firme, e abundantemente abençoada (v.3).
Os v.4-5, aos quais nossos olhos se voltam nesse
momento, apresentam os ímpios. Eles são bem
diferentes da pessoa bem-aventurada.
Os ímpios
Como a Bíblia descreve os ímpios?
O ímpio é aquele que perturba a justiça na sociedade.
Ele ameaça a integridade física e emocional das
pessoas.
O ímpio levanta-se contra o justo e derrama sangue
inocente (Sl 94.21; Hc 1.4). Ele age com injustiça e
crueldade (Sl 71.4); ele é “o homem violento” (Sl
140.4); é soberbo (Sl 73.3; 94.2; 140.5) e atrevido (Is
13.11); ele é escarnecedor (Sl 1.1; Pv 9.7); é
transgressor (Sl 34.38; a palavra “transgressor”, do
hebraico pexa‘, procede de uma raiz que significa
“revelar, revoltar”, ou seja o perverso é rebelde e se
revolta contra Deus). O ímpio profere mentiras (Sl
58.3); ele age perfidamente, ou seja, uma de suas
marcas principais é deslealdade e o engano (Hc 1.13).
Ele nega a existência de Deus e do mundo espiritual
(Sl 14.1); ele odeia ao Senhor (2Cr 19.2), não quer
servi-Lo (Ml 3.18); não quer submeter-se ao senhorio
de Deus (cf. Sl 2.1-3). Ele comete injustiça (Ec 3.16),
violência contra os pobres e oprimidos (Is 58.4) e
fraudes nos negócios (Mq 6.10-11).
Vale à pena também notar como o apóstolo Paulo
apresenta os ímpios, em Romanos 1.18-31. Dentre as
várias descrições dos perversos, o apóstolo afirma
que “o próprio Deus os entregou a uma disposição
mental reprovável, para praticarem coisas
inconvenientes (v.28). Eles estão “cheios de toda
injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de
inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade;
sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de
Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores
de males, desobedientes aos pais, insensatos,
pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora,
conhecendo eles a sentença de Deus, de que são
passíveis de morte os que tais coisas praticam, não
somente as fazem, mas também aprovam os que
assim procedem” (Rm 1.29-32).
Infelizmente nosso país é dominado pelos ímpios. Há
muita gente roubando, violentando, matando,
oprimindo, e cometendo todo tipo de atrocidades.
Infelizmente a corrupção é uma realidade em nosso
pais. É difícil precisar o valor que anualmente é
desviado pelos corruptos, mas estima-se que sejam
centenas de bilhões de reais, variando entre 2% e
10% do PIB brasileiro”. Prejuízo causado: R$ 88,8
bilhões apenas na Petrobrás.[1] As cifras da
corrupção (envolvendo propinas, fraudes em
licitações, e lavagem de dinheiro) são astronômicas.
A impiedade também se manifesta de várias outras
formas, além da corrupção. Os governantes estão
mais preocupados com seus bolsos do que com a
condição da saúde, da educação e do ensino do nosso
país. Os presídios não são lugares em que os
criminosos são recuperados da criminalidade, com
vistas a serem reinseridos na sociedade, mas são
verdadeiras escolas do crime. Facções criminosas
dominam dos presídios. Há policiais corruptos.
Em meio a esse mundo em trevas, onde a impiedade
reina, precisamos entender o que a Bíblia diz acerca
do ímpio.
A instabilidade dos ímpios: v.4
O salmista apresenta uma comparação. Ele não
compara os ímpios com uma árvore cujas folhas
secam rapidamente. Antes, o poeta emprega outra
figura, muito mais marcante: o ímpio é como a “palha”.
O “vento”, aqui, é o vento do juízo de Deus (Sl68.2).
Pelo profeta Jeremias, Deus anunciou seu juízo,
dizendo: “Espalharei vocês como a palha levada pelo
vento do deserto” (Jr 13.24). Aqui no Salmo 1.4,
lemos a figura do joeirar: um homem lançando o trigo
debulhado ao vento; o vento leva embora a palha,
mas o grão de trigo permanece na peneira. Desse
modo, trigo e palha são separados (v.5). 
Diferentemente da árvore plantada junto à corrente
de águas (v.3), a palha não tem firmeza e estabilidade.
Ela é facilmente conduzida pelo vento. A vida do
ímpio é assim. É conduzida por qualquer vento.
Qualquer modismo, qualquer ideia que seja atraente
aos olhos humanos, qualquer vento de doutrina,
enfim, qualquer coisa, por mais fútil e infundada que
seja, é capaz de conduzir a vida do ímpio. Eis aqui um
alerta, para todos nós: se nossas vidas não estão
alicerçadas em Deus e em Sua Palavra, seremos
conduzidos por qualquer coisa.
Aqueles que pautam suas vidas não na vontade de
Deus, mas em seus próprios planos perversos e
malignos, são conduzidos por qualquer coisa, e por
fim, um dia serão conduzido pelo vento do juízo
divino.
Os ímpios um dia serão dispersados. Portanto, não
nos encantemos com a vida feliz que muitos deles
aparentemente levam. Certamente essa é a crise de
muitos piedosos: “Por que prospera o caminho dos
perversos, e vivem em paz todos os que procedem
perfidamente?” (Jr 12.1). Essa pergunta do profeta
Jeremias tem sido entoada por muitos santos ao
longo da história. O profeta Habacuque expressou
sua crise na forma de oração: “Até quando, SENHOR,
clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei:
Violência! E não salvarás?…Por esta causa, a lei se
afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o
perverso cerca o justo, a justiça é torcida.” (Hc 1.2,4).
No entanto, a vida do ímpio é uma ilusão. O ímpio e
suas obras passarão. O seu plano mal ético e seu
prazer são efêmeros.  No dizer de Asafe, Deus coloca
os ímpios em lugares escorregadios: Sl 73.18. Eles
estão nos rochedos altos. Mas não perceberam ainda
que o rochedo está molhado, e que no próximo passo
eles escorregarão e grande será a queda deles. Asafe
ainda compara a vida dos ímpios com um sonho: “São
como um sonho que se vai quando a gente acorda;
quando te levantares, Senhor, tu os farás
desaparecer” (Sl 73.20 – NVI).
A vida do ímpio é como um sonho que logo passa.
Portanto, o que se destaca nesse v.4 é a instabilidade
do ímpio (em contraste com a estabilidade da vida do
bem-aventurado, apresentada no v.3). A sua vida é
marcada pela falta de solidez e de firmeza.
O julgamento dos ímpios: v.5
O v.5 apresenta duas frases negativas:
Os ímpios não permanecerão  no julgamento,
    e (nem) os pecadores na congregação dos justos.
Na primeira frase do v.5, o “permanecer” traduz o
hebraicoqum, “levantar”, “ficar de pé”, “erguer”. Por
isso, a Bíblia de Jerusalém traduz: “Por isso os ímpios
não ficarão de pé no Julgamento”. Afirma-se, assim,
que no final, o justos permanecerão gloriosamente
diante Deus, mas os ímpios não.
De fato, todo o Salmo 1 acentua as diferenças entre
os ímpios e os justos. No v.1, o justo é alguém que
não compactua com os valores e com estilo de vida
dos ímpios. Há uma grande separação entre eles, pelo
modo como eles vivem. Embora eles ainda convivem
lado a lado, podendo em alguns momentos o ímpio
prevalecer sobre o justo (Hc 1.4), no entanto, “no
julgamento” de Javé, eles serão totalmente separados.
“Mudou-se a direção da negação: no v. 1 era o
honrado que evitava a sessão dos malvados, agora
são os malvados que não têm acesso à assembleia
dos justos. É tarde demais, não é hora de conversão,
mas de receber a sentença.”[2]
Conforme se nota, a punição aos ímpios é o
banimento à comunidade de Javé (cf. Sl 101.7-8). Isso,
no fundo, significa o banimento à adoração ao único
Deus. Os maus serão banidos para sempre da
presença do Senhor.
Como alguém já disse, o inferno não é a presença do
diabo, mas a ausência de Deus.

Conclusão e aplicações
Chegará o dia em que os ímpios serão dispersados
pelo vento do juízo de Deus. Eles serão para sempre
separados dos justos.
Mateus 13.47-40: “O Reino dos céus é ainda como
uma rede que é lançada ao mar e apanha toda sorte
de peixes. Quando está cheia, os pescadores a puxam
para a praia. Então se assentam e juntam os peixes
bons em cestos, mas jogam fora os ruins. Assim
acontecerá no fim desta era. Os anjos virão, separarão
os perversos dos justos e lançarão aqueles na
fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de
dentes”.
Considerando tudo o que Bíblia ensina sobre os
ímpios, qual deve ser a nossa postura em relação a
eles? Precisamos ter as seguintes atitudes:
1. Orar, para que Deus nos livre das mãos dos ímpios.
Precisamos repetir a oração do salmista: “Livra-me,
Deus meu, das mãos do ímpio, das garras do homem
injusto e cruel” (Sl 71.4).
2. Orar pelos governantes e por aqueles que
administram a justiça em nosso país. No Salmo
82.4, apresenta-se uma das funções dos reis de Israel:
“Julgue ele os aflitos do povo, salve os filhos dos
necessitados e esmague ao opressor”.
3. Orar para os ímpios, para que eles venham se
converter ao Senhor. O profeta Isaías estendeu o
seguinte convite para os ímpios: “Buscai o Senhor
enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está
perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os
seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se
compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus,
porque é rico em perdoar” (Is 57.7). Uma mulher
sábia declarou: “Mas Deus não tira a vida; pelo
contrário, cria meios para que o banido não
permaneça afastado dele” (2Sm 14.14b – NVI). Será
que não somos como Jonas? Este profeta, em seu
fervor religioso, almejava o juízo divino sobre os
impiedosos ninivitas. Quando eles se converteram, e
receberam o perdão de Deus, Jonas ficou muito irado
e desgostoso. A mentalidade de Jonas, que também
está impregnada na cabeça de muitos evangélicos,
dizia mais ou menos assim: “o que mais quero que é
eles vão para o inferno”. Diferente da mentalidade de
Jesus: “o que mais quero é que eles se arrependam, e
se voltem para Deus”. Qual das duas mentalidades
temos seguido?
4. Orar para Deus traga seu juízo sobre esse mundo
tenebroso, sem, contudo, alimentar ódio no
coração, e sem se vingar daqueles que praticam
maldades contra nossas vidas. Muitas pessoas tem
sede de justiça. Diante de tantas impunidades, nossa
sociedade clama por vingança. Queremos que o
político corrupto seja preso, que o criminoso pague
por suas criminalidades, que o assassino cumpra a
devida penalidade, que o pedófilo receba a devida
punição, que os violentos sejam combatidos e
reprimidos. Enfim, queremos que a justiça seja feita.
Isso é legítimo. Mas precisamos tomar muito cuidado
para não alimentar o ódio. Não podemos dar lugar à
vingança pessoal, mas precisamos orar para que o
Estado cumpra sua função de combater as impiedades
da sociedade (Rm 13.1-4), e também precisamos
esperar que o próprio Senhor execute sua vingança
contra os ímpios. “Não vos vingueis a vós mesmos,
amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A
mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz
o Senhor” (Rm 12.19).
Que a Igreja seja luz em meio a esse mundo de trevas,
até aquele Grande Dia, quando o Senhor, reto Juiz, se
manifestará em glória e trará a justiça eterna.  

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