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LUIZ CLÁUDIO FRANCO

EXEGESE EM SALMOS – SALMO


1

Trabalho apresentado em cumprimento


Às exigências da matéria Exegese em
Salmos lecionada pelo Rev. Mauro
Meister
2

Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da


Conceição

São Paulo, 31 de Março de 2000


3

ÍNDICE

INTRODUÇÃO...........................................................................................................4
I. TEXTO E TRADUÇÃO..........................................................................................5
II. CONTEXTO LITERÁRIO DO SALMO..............................................................6
III. PALAVRAS CHAVES.........................................................................................9
IV. ASPECTOS GRAMATICAIS...........................................................................15
V. GÊNERO LITERÁRIO.......................................................................................17
VI. ESTRUTURA DO TEXTO................................................................................19
VII. MENSAGEM PARA A ÉPOCA DA ESCRITA............................................20
VIII. TEOLOGIA DO TEXTO..................................................................................22
CONCLUSÃO...........................................................................................................26
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................28
4

INTRODUÇÃO

Há alguma diferença entre aqueles que fazem a vontade de Deus daqueles que
não? Como é o caminho do justo e do ímpio? Qual o destino de cada um? Por que os
justos são considerados assim? Por que os justos são considerados "bem-
aventurados?

O nosso trabalho tem por objetivo responder as questões que foram


levantadas acima. Além disso, este estudo exegético proporcionará para nós uma
interpretação mais próxima e mais cuidadosa daquilo que o salmista realmente quis
dizer. Este trabalho mostra então, como nós podemos chegar mais próximo daquilo
que chamamos sentido do texto ou ensino das Escrituras.

Sendo assim, a exegese deste salmo servirá para mostrar a grande diferença
entre o justo e o ímpio, ou seja, quais as características do justo e quais as do ímpio,
de igual modo, qual o fim de cada um deles.
.
5

I. TEXTO E TRADUÇÃO

Salmo 1: 1-6

µy[iv;r] tx'[}B' Jl'h; al¿ rv,a} vyaih;Ayrev]a' 1


.bv;y: al¿ µyxile bv'/mb]W dm;[; al µyaiF;j'
Jr,d,b]W
.hl;yÒl;w: µm;/y hG²h]y< /tr;/tb]W /xp]j,
hw:hyÒ tr'/tB] µai yKi 2
µyIm; yg«l]P'Al[' lWtv; Å[eK] hy:h;wÒ 3
l/ByIAal¿ Whle[;wÒ /T[iB] ÷TeyI /yr]Pi rv,a}i
.j'ylix]y" hc,[}y"Arv,a} lkow]Ò
µy[iv;r]h; ÷keAal¿ 4
.j'Wr WNp,D]TiArv,a} ÅMoð'Aµai yKi
.µyqiyDix' td'[}B' µyaiF;j'wÒ fP;v]MiB' µy[iv;r]
Wmquy:Aal¿ ÷KeAl[' 5
.dbeaTo µy[iv;r] Jr,d,wÒ µyqiyDix' Jr,D, hw:hyÒ
['de/yAyKi 6

Tradução

v.1 Feliz é o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no
caminho dos pecadores, e não se assenta na roda dos escarnecedores.
v.2 Antes, o seu prazer está na Lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e
noite.
v.3 Ele será como uma árvore plantada sobre correntes de águas, que dá o seu
fruto no devido tempo, e cujas folhagens não caem, e tudo quanto ele fizer
prosperará.
v.4 Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento espalha.
6

v.5 Por isso, não prevalecerão os ímpios no juízo, nem os pecadores na


congregação dos justos.
v.6 Pois, o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios
perecerá.

II. CONTEXTO LITERÁRIO DO SALMO

Ainda que não saibamos quem escreveu este salmo e nem o seu contexto
histórico no qual estava inserido, percebemos que o autor procura fazer um contraste
entre o proceder dos justos e o proceder dos ímpios.

Calvino comentando este Salmo, nos diz que, “quem quer que tenha feito a
coletânea dos Salmos em um só volume, seja Esdras ou alguma pessoa, parece ter
colocado este Salmo no início à guisa de prefácio, no qual o autor inculca a todos os
piedosos o dever de se meditar na lei de Deus.” 1 Calvino ainda dirá que “a suma e
substância de todo o Salmo consistem em que são bem-aventurados os que aplicam
seus corações a buscar a sabedoria celestial; ao passo que, os profanos desprezadores
de Deus, ainda que por algum tempo se julguem felizes, por fim terão o mais
miserável fim.”2

Uma questão ainda de grande relevância a este Salmo é a possibilidade que é


levantada como sendo um Salmo introdutório para o livro dos Salmos, ainda que não
seja provada. A esse respeito, Derek comenta que “parece provável que este salmo
tenha sido especialmente composto como introdução ao Saltério inteiro.” 3 Deursen
faz a seguinte afirmação em seu comentário:
“Conhecemos um salmo que fora mais apropriado para abrir o livro dos Salmos? Que
salmo indica tão fortemente como o salmo 1, a grande linha de demarcação que cruza-
va através de Israel, e assim, a linha de fronteira entre justos e ímpios? E que salmo
caracteriza esta antítese tão claramente como, repito, o Salmo 1? Onde se tem tão cla-
ro em ambas partes e suas diferenças mais notáveis? O Senhor conhece o caminho dos
dos justos, pelo que o caminho dos ímpios perecerá (cf.Sal.1:6). Que salmo professa

1
,João Calvino. O Livro dos Salmos.( Trad.Valter Graciano Martins. São Paulo. Paracletos. Vol.I.
1999) p.49
2
Ibid. p.49
3
Derek Kidner. Salmos 1-72 Introdução e comentário.(trad.Gordon Chown. São Paulo. Vida Nova e
Mundo Cristão. 1992) p.62
7

esta esperança de fé tão breve e claramente como este Salmo 1?” 4

Ele ainda dirá com respeito a esta questão que, “este salmo com que nossa
coleção se abre, não é, pois um salmo qualquer. Ao contrário, este salmo forma a
chave de todo o seguinte livro da Bíblia; é o guia por todos os salmos e a introdução,
o Prólogo. A essência deste salmo é ao mesmo tempo, a essência de todo o livro dos
Salmos.”5

Não podemos deixar de mencionar que o contexto literário mais próximo


deste Salmo é o Salmo 2, onde os dois constituem um prefácio de todo o Saltério.
Esta idéia é mencionada na nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém; “Os Sl. 1 e 2 se
apresentam como o prefácio do Saltério, resumindo sua doutrina moral e idéias
messiânicas.”6 De igual forma, John Phillips comenta que “estes dois Salmos
formam a introdução do hinário hebraico e eles sumarizam para nós o conteúdo
inteiro.”7 Seguindo este raciocínio, Deursen dirá que “os Salmos 1 e 2 certamente
não estão por causalidade no princípio do livro dos Salmos. Quem passa por alto
nestes salmos, se priva do serviço de um guia estupendo que não só pode indicar o
caminho através dos salmos como livro da Bíblia, senão também como parte da
Bíblia.”8 Segundo ele, “existem realmente diversas razões que nos apóiam no
pensamento de que os Salmos 1 e 2 ocupam um lugar especial.” 9 Ele prossegue
dizendo que “segundo certos manuscritos, em Hch 13:33 se fala do Salmo 2 como
sendo ‘o Salmo primeiro”. Isto pode indicar, que não foi contado com o Salmo 1
como introdução do livro dos Salmos. Outros senão, que uma determinada tradição
judia considera os salmos 1 e 2 como um só salmo.”10

Sendo assim, o Salmo 1 em especial, torna-se de grande relevância para o


livro dos Salmos, pois, é ele quem abre o mesmo, com uma mensagem que servirá de
introdução para o Saltério todo. Segundo Derek, “fica aqui como um porteiro fiel,
confrontando aqueles que querem participar da ‘congregação dos justos’ (5) com a
única escolha básica que dá realidade à adoração; com a verdade divina (2) que
4
Frans Van Deursen. Salmos I. (Barcelona. Felire.1996) p.108
5
Frans Van Deursen. op.cit. p.108
6
Bíblia de Jerusalém. P.948
7
John Phillips. Exploring the Psalms. Vol.I. (Nem Jersey. Neptune. 1988) p.16
8
Frans Van Deursen. Op.cit. p.106
9
Frans Van Deursen. Ibid. P.107
10
Frans Van Deursen. Ibid. P.107
8

precisa instruí-la; e com o juízo final (5,6) que se avulta além.” 11 Artur Weiser
também comenta em seu comentário que, “pela forma clara e incisiva com que
convida à obediência e à esperança confiante em Deus, o salmo é sem dúvida,
apropriado para servir de título para todo o Saltério.”12

Podemos também dizer com toda a certeza que este Salmo não se restringe
apenas ao seu contexto próximo assim como a todo o Saltério, mas de igual modo, a
toda Bíblia. Diante de tal afirmação a que temos proposto, Derek irá nos dizer em seu
comentário que “a tonalidade e os temas deste salmo fazem lembrar os escritos da
Sabedoria, especialmente Provérbios, que se preocupam com a convivência que
homem cultiva, com os dois caminhos que ficam diante dele (cf., e.g. Pv 2:12ss.,
20ss.), e com tipos morais, notavelmente os zombadores;...”13

Apesar deste salmo não ter sido composto com uma finalidade de se tornar
prefácio do Saltério, Weiser comenta que “o compilador certamente o colocou neste
lugar propositadamente para convidar o leitor a obedecer à vontade de Deus e confiar
na sua ação.”14 Ele ainda comenta que “na sua forma e no conteúdo é dominado por
um tom pedagógico urgindo uma tomada de decisão.”15Sendo assim, ele diz: “Esta
característica há de ser o ponto de partida para a sua compreensão.”16

Percebemos então, que o Salmo 1 é de grande importância para o livro dos


Salmos, visto que ele traz uma mensagem que servirá de introdução para todo o
Saltério, sendo um portal para o mesmo.

11
Derek Kidner. Op.cit. p.62
12
Artur Weiser. O Salmo. (São Paulo. Paulus. 1994) p.73
13
Derek Kidner. Op.cit. p.62
14
Artur Weiser. Op.cit. p.69
15
Artur Weiser. Ibid. P.69
16
Artur Weiser. Ibid. p.69
9

III. PALAVRAS CHAVES

vyaihAyrev]a'– (Feliz é o homem)

Esta expressão dá um sentido positivo para o início do Salmo, visto que a

palavra yrev]a' segundo Artur Weiser, está "sob uma forma de 'bem-
aventurança', que lembra as bem-aventuranças de Mt.5,3ss, o autor louva a conduta
correta do justo, destancando o seu lado negativo no v.1 e o lado positivo no v.2."17

Segundo o comentário do Dicionário Internacional de Teologia do Antigo


Testamento, “para ser ‘abençoado’ o homem tem de fazer algo. Normalmente se trata
de algo feito de modo positivo. Um homem ‘abençoado’por exemplo é alguém que
confia em Deus inteiramente.”18 Boice, comentando esta palavra, dirá que “no
hebraico a palavra é atualmente um plural, que denota cada uma multiplicidade de
bênçãos ou uma intensificação delas.”19

Desta forma, podemos entender que o salmo trata da conduta do justo e este
se torna bem-aventurado quando trilha o verdadeiro caminho, ou melhor dizendo,
suas honradas ações.

µy[iv;r] tx'[}B' Jl'h; al – (não anda no conselho dos ímpios)

A idéia dessa expressão em relação ao homem justo, é que este não age

segundo o conselho dos ímpios. O sentido do verbo Jl'h aqui no texto, é de viver,
agir, comportar-se. Assim é o comentário do Theological Dictionary of the Old
Testament dizendo que "halak, tem um significado concreto espacial e também
17
Artur Weiser. Op.cit. p.70
18
R. Laird Harris; Gleason L. Archer, Jr; Bruce K. Waltke. Dicionário Internacional de Teologia do
Antigo Testamento. (São Paulo. Vida Nova. 1998) p.135
19
James Montgomery Boice. Psalms. (Michigan. Baker Books. Vol. I. 1994) p.15
10

metafórico no sentido de viver, agir, comporta-se, ir com alguém, acompanhá-lo,


falando de um deus, tem o significado de proteção divina, falando de um homem,
pode significar 'fazer um serviço'."20A expressão prossegue dizendo que este homem
não anda no conselho dos ímpios. Entendemos conselho como intenção e propósito.
Logo, o homem bem-aventurado não age e não vive nos planos e intenções dos
ímpios.

dm;[; al µyaiF;j' Jr,d,b] – (não se detém no caminho dos


pecadores)

O verbo dm;[; também pode ser traduzido por permanecer. Neste


sentido, fica claro entendemos a expressão do verso 1. Já o Dicionário Internacional
de Teologia do Antigo Testamento comenta que "o verbo 'amad' é usado tão
intensamente no A.T. para designar o ato físico de ficar de pé." 21 Contudo,
percebemos que o autor não usa seu significado literal, mas metafórico. O homem
justo não fica estagnado, estático, parado no caminho dos pecadores. Como caminho
podemos entender o modo, a conduta dos pecadores. O Thelogical Dictionary of the
Old Testament traz diversos sentidos e acrescenta o sentido teológico deste
substantivo. São eles: "(1) caminho, estrada; (2) trecho do caminho; (3) jornada,
aventura, negócios, campanha, peregrinação; (4) estilo, costume, conduta, 'modo de
morte'; (5) (pl) teológico: (a) conduta de Deus, limites; (b) conduta requerida por
Deus; (c) condição, situação; (d) firmeza, poder."22

Sendo assim, o homem justo não permanece, não fica estacionado no modo
de agir, na conduta e nos costumes dos pecadores.

bv;y: al¿ µyxile bv'/mb] – (Não se assenta na roda dos


escarnecedores)

20
G. Johanwes Botterwedk; Helmer Ringgren. Theological Dictionary of the Old Testament. (Grand
Rapids. William B. Eerdmans Publishing Company. Vol.I. 1979) p.388
21
R. Laird Harris; Gleason L. Archer, Jr; Bruce K. Waltke. Op.cit. p.128
22
G. Johanwes Botterwedk; Helmer Ringgren. Op.cit. p.270
11

Podemos dizer que o sentido do verbo bv;y: é de ficar, estar, persistir ou


demorar-se, ainda que tenha o significado de sentar sobre alguma coisa. Contudo,
no texto, o autor usa-o de forma metafórica e, sendo assim, podemos dizer que o
homem justo não se demora ou participa da roda dos escarnecedores. João Calvino
em seu comentário, dirá que após o autor usar as expressões antecedentes, "segue-se
uma desesperada obstinação, a qual o profeta expressa usando a figura do assentar-
se."23 Por roda dos escarnecedores, entendemos assembléia. Segundo Mitchel,24 o
substantivo significa local de moradia. Logo, concluimos que, o homem justo é
aquele que não participa da assembléia, da companhia dos escarnecedores, ou seja,
zombadores sem nenhum temor a Deus, tendo uma vida de perversidade sem
restrição alguma.

hG²h]y< - (Ele medita)

O Dicionário Internacional de Teologia do A.T. comenta que "talvez as


Escrituras fossem lidas a meia voz durante o processo de meditação. O sentido
básico de hagâ e seus cognatos é o de som baixo, característico de uma pomba...ou
de rugir de um leão depois de capturar sua presa."25 Mitchel26 o traduz como
murmurar, rosnar.

Segundo Craigie,27 este verbo implica algo mais do que simples meditação,
implica em algum modo de falar, assim como "murmurar" ou "cochichar". Delitzsch

comenta que "o imperfeito hG²h]y< ele continuamente está ocupado com o
feito."28 Deursen também com respeito a este verbo, dirá que "o Salmo 1 pinta o
retrato de um israelita justo como alguém que 'medita dia e noite' a Palavra de Deus.
Pelo que podemos também traduzir: que 'lê sussurando suavemente', que 'diz para si
23
João Calvino. Op.cit. p.52
24
Larry A. Mitchel. Estudos do Vocabulário do Antigo Testamento. (São Paulo. Vida nova. 1996)
p.74
25
G. Johanwes Botterwedk; Helmer Ringgren. Op.cit. p.337
26
Larry A. Mitchel. Op.cit. p.84
27
Peter Cragie. Word Biblical Commentary. Psalms 1-50. (Waco Book Publisher. 1983) p.58
28
Franz Delitzsch. A Commentary on the Book of Psalms. (New York. Funk & Wagnalls vol. I. )
p.112
12

mesmo' a Palavra de Deus."29 Ele continua dizendo que "não é uma pessoa que 'se
apressa em ler um pouco'; não, ela quer reter a leitura e, para gravar bem em sua
memória, lê para si mesma murmurando em meia voz."30

Podemos dizer que, meditar, tem o sentido de sussurar, procurando entender o


que está sendo lido para se guardar na memória, isto feito em meia voz, numa ação
sempre contínua.

hw:hyÒ tr'/t – (Lei do Senhor)

Bem, conforme Derek, "Lei (tôrâ) significa, basicamente, 'direção' ou


'instrução'; pode se confinar a um único mandamento, ou pode se estender às
Escrituras inteiras, como neste caso."31 Segundo Deursen, "neste salmo, a palavra 'lei'
não se refere em absoluto a algo árido e duro e irrealizável. Pois o israelita falava de
''Thorá', em que seus ouvidos soavam o mesmo que 'esperança' para ele." 32 Artur
Weiser diz que "a Lei não é considerada um jugo pesado, mas uma fonte de
alegria."33 Ele ainda irá dizer que "a Lei como expressão inteligível,
permanentemente válida da vontade de Deus, é a bússola segura da vida e ao mesmo
tempo um forte vínculo de confiança no domínio de Deus sobre a vida." 34No Antigo
Testamento, ela se refere diretamente ao Pentateuco ou, a Lei de Moisés. Na
Enciclopédia de Bíblia; Teologia e Filosofia, temos a seguinte afirmação: "A palavra
indica a totalidade de vontade revelada de Deus, com suas palavras, seus
mandamentos, seus julgamentos, seus caminhos, seus preceitos, etc."35Observamos
ainda que esta Lei está ligada intrínsecamente a seu autor, no caso aqui, Yahweh. O
autor do Salmo usa este nome para Deus não de forma fortuita, mas com um único
objetivo, de mencionar o Deus do Pacto. Isto implica na relação do Deus único, vivo
e verdadeiro com seu povo. Foi esta Lei que o Senhor deixou para que fosse uma
instrução para seu povo.
29
Frans Van Deursen. Op.cit. p.120
30
Frans Van Deursen. Ibid. P.120
31
Derek Kidner. Op.cit. p.63
32
Frans Van Deursen. Op.cit. p.118
33
Artur Weiser. Op.cit. p.71
34
Artur Weiser. Ibid. p.71
35
R. N. Champlin; J. M. Bentes. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. (São Paulo.
Candeia.v.3. 1997) p.770
13

Entendemos então, que a Lei do Senhor significa a Thorá que Deus deu ao
seu povo por intermédio de Moisés para ratificar a relação pactual entre Ele e o seu
povo escolhido. Esta Lei é vista pelo salmista como uma fonte de alegria e
esperança, e não como algo árido e duro, como vemos os fariseus apresentando nas
páginas no Novo Testamento.

µyqiyDix' – (justos)

Conforme Deursen, "os justos eram aqueles israelitas que não abandonaram o
fumdamento de vida do pacto de Deus em que havia colocado a Israel em Horeb.
Estes piedosos observaram o Pacto de Deus e suas ordenanças." 36Desta forma, justo
é aquele que pertence ao povo de Deus ligado pelo Aliança e que procura obeceder a
Lei do Senhor e toda a Sua vontade. Contudo, devemos entender que o homem não é
tornado justo ou justificado por suas obras, caso contrário, o salmista estaria
ensinando que os homens são justificados por suas obras, e assim contrariando a
doutrina da justiicação pela fé, mas, o homem justificado toma atitudes e percorre um
caminho inverso dos ímpios. Em Gn.15.6, as Escrituras nos relatam que Abraão creu
em Deus quando Este lhe prometeu sua posteridade, e isso lhe foi imputado para
justiça. Entretanto, a mesma Escritura que enobrece o justo, coloca-o numa situação
difícil, como vemos em Rm.3.10-18, em que Paulo citando o Salmo 14, irá dizer que
não há um justo sequer. É claro que neste caso, quando o texto se refere que não há
um justo sequer, o sentido é que não há ninguém que, com sua própria capacidade
física e mental, busque a Deus de forma viva e verdadeira. Devemos ainda entender
que, a doutrina da justificação pela fé no Velho Testamento é real e eficaz, contudo
não de forma completa, como vemos nas páginas do Novo Testamento, pois no
Velho Testamento, essa doutrina ainda não era vista de forma clara e transparente.

36
Frans Van Deursen. Op.cit. p.110
14

['de/y- (Conhece)

Mitchael37 diz que esta palavra aparece 924 vezes no Antigo Testamento e ele
traduz por: conhecer, saber, perceber.

Este verbo não pode ser entendido somente como um conhecimento


intelectual, mas como um relacionamento pessoal, enfatizando que Deus dirige a Sua
atenção para os justos. O Senhor conhece o caminho dos justos, num sentido de
dirigir, guiar, corrigir, estar por perto. Segundo Derek, conhecer "é muito mais do
que ter informações (como em 139:1-6): inclui preocupar-se com, como em 31:7
[heb.8], e possuir ou identificar-se com (cf. Pv 3:6)"38Deursen afirma que "na Bíblia,
a palavra 'conhecer' sente o calor do contato com o que ou com quem se conhece." 39
Ele também dirá que "o salmista queria dizer que o Senhor 'conhece' o caminho do
justos, e que sabe tudo a seu respeito, e vive com eles em íntima participação."40

Concluimos dizendo que, conhecer tem seu sentido de contato, de


participação, em que Deus tem um relacionamento com os justos, dando toda a
atenção aos mesmos, sabendo tudo a respeito deles.

37
Larry ª Mitchael. Op.cit. p.42
38
Derek Kidner. Op.cit. p.64
39
Frans Van Deursen. Op.cit. p.124
40
Frans Van Deursen. Ibid. Pp.124-125
15

IV. ASPECTOS GRAMATICAIS

bv;y: , dm;[;, Jl'h; - (andar, detém, assentar)

Estes verbos estão no Qal perfeito e dão uma idéia de forma concreta e
definida, mas ao mesmo tempo, refletem uma ação de continuidade, visto que, eles
podem ser traduzidos no presente, e este é o melhor modo de traduzi-los.

DbeaT WNp,D]Ti hc,[}y'' l/ByI ÷TeyI hy:h;


hG²h]y< - (medita, será, dá, caem, fizer, espalha, perecerá)

Estes verbos estão no Qal imperfeito e dão uma idéia de conseqüência futura
em relação ao sujeito. De igual forma, eles também dão uma idéia de uma ação
contínua e podem ser traduzidos no presente, como no caso do verbo meditar, ser,
dar, cair, fazer, espalhar. Já os verbos prevalecer e perecer são traduzidos no futuro.

µai yKi- (Antes, porém)

Estas conjunções no texto trazem uma idéia de contraste entre os versos. Elas
procuram enfatizar o contraste que há entre o proceder do justo nos vs.1 e 2 e
também nos vs.3 e 4, em relação ao modo de vida dos justos e de ímpios.

w- (e)
16

A conjunção vav aparece 8 vezes no texto. O salmista procura dar uma


seqüência de fatos, pois a função do vav é exatamente ligar orações. Desta forma,
esta conjunção simplesmente tem a tarefa de ligar os fatos anteriores com os que os
sucedem.

÷KeAl[- (Por isso)

O salmista usa dessa conjunção no v.5 para concluir o seu argumento a


respeito dos ímpios. Essa conjunção no texto, traz a idéia de conclusão,
consequência.

YKi- (Pois)

Essa é uma conjunção explicativa. No texto, em particular no v.6, o salmista a


usa para explicar o porquê da condenação dos ímpios, dita no v.5, em contraste com
o caminho dos justos.
17

V. GÊNERO LITERÁRIO

O Salmo 1 é classificado como uma poesia, visto que ele está inserido no
livro dos Salmos, ou Saltério, que juntamente com Jó, Provérbios, Eclesiastes e
Cânticos dos cânticos, formam os livros poéticos do Velho Testamento.

A característica primordial deste Salmo, assim como os demais salmos do


Saltério, é o uso constante de paralelismo. Derek comenta que:
“A característica fundamental destas poesias, no entanto, não era suas formas
ou seus ritmos externos, mas, sim, se modo de combinar ou ecoar um pensa-
mento com outro. Isto tem sido descrito como sendo rima de pensamento,
porém, mais freqüentemente, como ‘paralelismos’, um termo introduzido pe-
lo Bispo Rubert Owth no século dezoito.”41

O Salmo 1 é composto de três paralelismos da poesia hebraica, como o


próprio Williams42 classifica em seu comentário. Vejamos:-

Paralelismo Sinonímico

“Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios,


não se detém no caminho dos pecadores...”v.1

Paralelismo Antitético

41
Derek Kidner. Op.cit. p.12
42
Donald M. Williams. The Communicator’s Commentary Psalms. (Waco. Publisher. 1992) pp.20-21
18

“Pois o Senhor conhece o caminho dos justos,


mas o caminho dos ímpios perecerá”.v.6

Paralelismo Sintético

“Antes, o seu prazer está na Lei do Senhor,


e na sua lei medita dia e noite.”v.2
Também notamos uma outra característica neste salmo que são as figuras de
linguagem que o salmista usa para enfatizar o que ele está expondo. No caso, ele usa
a figura da árvore plantada junto aos ribeiros de água, que no devido tempo dá seu
fruto, e cujas folhas não caem, aplicando-a aos justos, e a palha que o vento espalha,
aos ímpios. Com estas figuras, o salmista procura deixar de modo simples e
inteligível os aspectos que ele quer mostrar no salmo, visto que estas figuras eram
bem conhecidas pelos leitores de sua época.
19

VI. ESTRUTURA DO TEXTO

I – O SÓLIDO FUNDAMENTO DO JUSTO

Ele não anda no conselho dos ímpios


Ele não se detém no caminho dos pecadores
A Ele não se assenta na roda dos escarnecedores
O seu desejo está na Lei do Senhor
Em Sua Lei medita dia e noite
Ele será como uma árvore
Plantada sobre correntes de águas
B Dá o seu fruto no devido tempo
Suas folhagens não caem
Tudo quanto ele fizer prosperará

II – A INSTABILIDADE DOS ÍMPIOS

NÃO SÃO ASSIM

OS ÍMPIOS SÃO COMO

A palha que o vento espalha


Não prevalecerão no juízo
Nem os pecadores na assembléia dos justos
III – CONTRASTE ENTRE O JUSTO E O ÍMPIO

Pois o Senhor conhece o caminho dos justos


O caminho dos ímpios perecerá
20

VII. MENSAGEM PARA A ÉPOCA DA ESCRITA

Diante do que já temos estudado, compreendemos que a grande mensagem


para época da escrita do salmista era de ensinar aos seus leitores, e aqui certamente
se referindo ao povo israelita, de modo geral e individual, a andar de forma correta e
digna nos desígnios do Senhor, em contraste com o mau procedimento e o caminho
que os ímpios percorrem, distantes de fazerem a vontade de Deus. O salmista procura
enfatizar as atitudes do justo e para isso, ele, de princípio, usa uma bem-aventurança,
que conforme Weiser nos comenta, “à sua entrada uma palavra de felicitação saúda o
justo.”43 Ele enfatiza para seus leitores que, quão feliz e bem-aventurado é o homem
que não se envolve com os procedimentos dos ímpios, não vivendo, não
permanecendo e não participando de suas más procedências, antes, é obediente e faz
o que é correto perante aos olhos do Senhor, conservando-se íntegro em suas ações,
deleitando-se em Sua Palavra, que para ele, é uma fonte de alegria e esperança, onde
o mesmo medita dia e noite, procurando reter a leitura para gravar em sua memória.

O salmista ainda reforça seu ensinamento usando algumas figuras de


linguagem como a da árvore, em que este homem é comparado a ela, uma árvore
bem firme, bem regada, produzindo bons frutos sempre na estação certa, cujas folhas
sempre estão vivas e não murcham, elemento este conhecido entre os palestinos.
Assim é o homem justo. Contudo, o salmista ainda comenta acerca dos ímpios, e irá
dizer que eles não são como os justos, mas, são como a palha que o vento espalha,
um outro elemento comum na cultura dos hebreus, trazendo a idéia de que os ímpios
43
Artur Weiser. Op.cit. p.69
21

são inconstantes e instáveis no modo de viverem e de agirem. Sendo assim, o


salmista exorta a seus leitores para a importância da obediência ao Senhor, a fim de
que usufruam das Suas bênçãos, pois, o desobeceder e os maus procedimentos
resultam em terríveis conseqüências. Os ímpios serão condenados, visto que não
prevalecerão no juízo e nem na congregação dos justos, contudo, os justos serão
abençoados, pois o Senhor os conhece, direciona-os e sempre está com eles.

O salmista usa de paralelismos para trazer o seu ensinamento ao seus leitores,


visto que essa é uma das características fundamentais da poesia hebraica. Com esses
paralelismos, o salmista procura contrastar fatos, e sincronizar fatos. Contudo, além
de usar esse recurso da literatura hebraica, o salmista usa, como já mencionamos, de
figuras de linguagens para reforçar seus ensinamentos e para se tornarem exemplos
conhecidos pelos seus leitores.
22

VIII. TEOLOGIA DO TEXTO

O Salmo 1 traz como ensinamento, o contraste de como é o caminho dos


justos e dos ímpios. O caminho do justo, ou como podemos também dizer, o seu
proceder, é trilhado em integridade, retidão e obediência à vontade de Deus, pois ele,
conforme o salmista procura mostrar, não compartilha das más atitudes dos ímpios,
não agindo segundo suas intenções, não permanecendo em sua conduta e não
participando de suas companhias. Os verbos andar, deter, assentar estão no perfeito
do Qal, dando a idéia de uma ação completa e ao mesmo tempo de continuidade, ou
seja, o homem justo não trilha o caminho dos ímpios e de contínuo, nunca trilhará,
ou melhor dizendo, significa a firmeza de caráter do justo, que nunca se deixou levar
pelo caminho dos ímpios. Neste sentido, Calvino nos diz que “os servos de Deus
devem diligenciar-se ao máximo por cultivar aversão pela vida dos ímpios.” 44 O
salmista ainda usa no v.1 de paralelismo sinonímico, mostrando a mesma idéia de
forma diferente.

Ainda mostrando com respeito ao procedimento do justo, o salmista no v.2,


irá usar de paralelismo sintético juntamente com a conjunção “antes”, para dizer
que, ao contrário de proceder como os ímpios, o homem justo tem prazer na Lei do
Senhor, visto que essa Lei é para ele uma fonte de alegria e esperança, e não algo
imposto para se fazer de forma obrigatória. Ele medita nessa Lei, ou seja, ele procura
reter a leitura que faz dela para guardar em seu coração, isso de forma sempre
contínua, visto que o verbo meditar está denotando uma idéia de continuidade futura.

44
João Calvino. Op.cit. p.51
23

Calvino comenta que o salmista “nos ensina quão impossível é para alguém aplicar
sua mente à meditação na lei de Deus, se antes não recuar e afastar-se da sociedade
dos ímpios.”45 Ele ainda irá nos dizer que “o salmista não declara simplesmente ser
bem-aventurado aquele que teme a Deus, como faz em outros passos, senão que
designa o estudo da lei como sendo a marca da piedade, nos ensinando que Deus só é
corretamente servido quando sua lei for obedecida.”46

Para reforçar seu ensinamento acerca da firmeza e obediência do justo, o


salmista usa uma figura de linguagem. Ele irá dizer que o justo é semelhante a uma
árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e
cuja folhagem não murcha. Com isso, o salmista mostra que o justo é firme, tem
vida, e dá frutos. Essa figura se refere, segundo Weiser mesmo comenta em seu
comentário, “ao sentido e ao valor que o justo tem pela sua vida de obediência a
Deus. Assim como a absorção de água, os frutos e as folhas verdes constituem a
essência e o valor da árvore, ...assim também a essência e o valor de uma vida justa
no cumprimento da vontade de Deus.”47 O salmista acrescenta que, tudo quanto ele
fizer, prosperará. A conseqüência de se viver em obediência a Deus, resulta numa
vida próspera, bem como diz Calvino: “Portanto, é tão-somente pela bênção divina
que alguém pode permanecer numa condição de prosperidade.”48

O salmista também mostra como é o caminho dos ímpios. Ele irá dizer que os
ímpios não são como os justos em seus procedimentos, mas, usando uma figura de
linguagem, dirá que são como a palha que o vento espalha. Em outras palavras, são
inconstantes, instáveis na maneira como agem. Weiser comenta que “tão vazia, sem
conteúdo e sem valor como a palha é aos olhos do salmista a vida sem Deus vivida
pelos ímpios.”49 O ímpio não tem a firmeza do justo, não tem a vida e não dá frutos a
exemplo do justo.

No v.5, o salmista inicia com a conjunção ÷KeAl[ para mostrar a


consequência futura dos ímpios, ou seja, o destino que eles terão. Ele usa o verbo

45
João Calvino. Ibid. p.50
46
João Calvino. Ibid. p.53
47
Artur Weiser. Op.cit. p.72
48
João Calvino. Op. Cit. P.54
49
Artur Weiser. Op.cit. p.72
24

"prevalecer" no imperfeito do Qal, ou seja, no futuro. Os ímpios não prevalecerão no


juízo, ou seja, não resistirão ao julgamento de Deus. Weiser comenta que, "para o
autor, segue com absoluta necessidade e consequência evidente que aquele que não
tem conteúdo de vida e força moral no presente, por ser ímpio, não poderá resistir
quando no juízo se vir sozinho diante de Deus." 50 Com isso, o salmista nos ensina
que haverá um julgamento futuro, e que Deus é o grande Juiz desse julgamento,
sendo que, a Sua justiça será feita, e não terá misericórdia daqueles que não
estiverem de acordo com a Sua vontade, no caso, os ímpios. O salmista ainda
comenta que, os pecadores não prevalecerão na congregação dos justos. Em outras
palavras, os ímpios não terão qualquer parte na assembléia dos justos. Weiser a esse
respeito, comenta que, a "visão do julgamento de Deus baseia-se, como toda a
estrutura do salmo, na idéia litúrgica da bênção e da maldição enquanto sentença
judicial de segregação e purificação da comunidade em relação aos elementos
ímpios."51 Calvino também comenta que, "visto, porém, que isso nem sempre se
concretiza em relação a todos os homens, no presente estado, devemos
pacientemente esperar o dia da revelação final, quando Cristo separará as ovelhas dos
cabritos."52Assim será o destino dos ímpios, não ficarão impunes à justiça de Deus e
nem participarão da congregação dos justos.

No último verso, o salmista usa a conjunção Yki para explicar o porquê da


condenação dos ímpios. O salmista dirá que o Senhor conhece o caminho dos justos,
mas o caminho dos ímpios perecerá. Os ímpios não prevalecerão no juízo e nem na
congregação dos justos por que o caminho deles perecerá, ou seja, seu caminho é um
caminho de miséria e ruína, cujo fim é a sua destruição. Contudo, com relação aos
justos, o salmista diz que o Senhor conhece seus caminhos. Em outras palavras, o
Senhor, nome que se refere ao Deus da Aliança, o Deus que tem um plano eterno
com seu povo, conhece-os, Ele participa na vida dos justos e vive numa relação
pessoal com eles, protegendo-os, dirigindo-os e dando toda a atenção, pois
pertencem a Ele. Weiser comenta que "na certeza da fé de que Deus se preocupa com
o caminho do justo, conhece a sua vida e assume amorosamente o seu destino
encontra-se a razão da esperança."53
50
Artur Weiser. Ibid. p.73
51
Artur Weiser. Ibid. p.73
52
João Cavino. Op.cit. p.57
53
Artur Weiser. Op.cit. p.73.
25

Entendemos que o salmista procura mostrar como é o caminho dos justos,


como consequência de uma vida em obediência, retidão e integridade na presença de
Deus. E sabemos que essa vida de obediência só é possível quando o próprio Deus
intervém na vida dos homens, tornando-os justos na Sua presença. O homem justo é
justo em princípio, porque Deus o justificou e, então, sendo justo mediante a graça de
Deus, ele pode mostrar frutos dessa justiça, que é exatamente o não agir segundo o
proceder dos ímpios, sendo firme contra o pecado, ainda que venha a pecar, contudo
ele não vive na prática do mesmo, e busca sempre a consagração na sua vida que é o
prazer que ele tem em meditar na Lei do Senhor, lei esta que pertence ao Senhor da
Aliança, e que tem uma aliança com Seu povo. É importante mencionarmos que,
assim como já mencionamos num tópico acima desse trabalho, a justificação pela fé
no Velho Testamento não era ainda clara e definida como vemos nas páginas do
Novo, contudo ela é visível a exemplo de Abraão que foi justificado por Deus por
crer na promessa que O mesmo havia feito a ele.
26

CONCLUSÃO

Concluimos este trabalho sabendo que é possível, graças a um plano eterno e


imutável de Deus, caminharmos segundo a Sua vontade, a exemplo do procedimento
do justo no Salmo.

O salmo nos ensina que há dois caminhos a serem trilhados. Primeiramente


um caminho de retidão, integridade e obediência na presença de Deus. O salmista
nos desafia a seguirmos o exemplo do justo, que não procede erroneamente em sua
vida, mas busca uma vida de retidão, integridade e obediência a Deus, procurando
sempre uma vida de santificação e consagração, pois além de não participar dos
maus hábitos dos ímpios, ele tem prazer na Palavra de Deus e nela, medita
constantemente. O justo é firme como uma árvore plantada junto à ribeiros de águas,
dá frutos em sua vida e sempre está vivo e nunca desfalece, sendo bem-sucedido em
tudo o que faz porque o Senhor o abençoa. Contudo, não são assim os ímpios, são
inconstantes e instáveis como a palha que o vento espalha e seu final será a
condenação.

O salmista também nos ensina que a Lei do Senhor é prazeirosa e agradável, e


não como um jugo pesado, imposto aos homens para que a cumpram
obrigatóriamente o que nela está contido, antes, é uma fonte de alegria e esperança.
Aprendemos ainda que essa lei é dada pelo Deus da Aliança, o Deus que fez a
aliança com Seu povo, dando a lei para servir de guia e instrução ao mesmo.
27

Aprendemos também acerca da justificação pela fé, em que os homens são


justificados por Deus para assim, andarem de acordo com Sua vontade. Os justos são
justos em princípio, não porque agem de acordo com vontade de Deus, mas porque
são justificados por Ele, e desta forma são capazes de ficarem firmes nos
procedimentos que agradam a Deus. Contudo, como percebemos, a justificação pela
fé estava clara e completa no Velho Testamento, embora encontremos passagens que
a ratifiquem, como no caso de Abraão quando foi imputado em justiça devido o
exercer de sua fé na promessa de Deus.

Aprendemos também que Deus é o grande Juiz, e Ele, somente Ele tem o
poder de julgar os homens e suas ações, abençoando-os ou condenando-os. E Sua
justiça será feita, executando Sua sentença sem piedade e misericórdia.

Somos ensinados ainda que Deus participa da vida dos justos, guiando-os e
protegendo-os. Ele cuida dos seus, convive com eles em uma relação pessoal e
íntima, manifestando o seu amor e misericórdia.

Podemos dizer então, que somos como aquela árvore descrita pelo salmita?
Ou nossos caminhos não estão muito diferentes dos caminhos dos ímpios? Sentimos
prazer na Lei de Yahweh?

Uma análise pessoal, nos levará a uma resposta à estas perguntas, e assim,
seremos desafiados a uma tomada de decisão, ou seja, se podemos ser considerados
como árvores plantadas junto a um ribeiro de águas ou como a palha que o vento
espalha. O juízo é inevitável, e quando ele vier, a palha será dispersa, perecerá,
enquanto os justos serão reunidos e estarão para sempre com o Senhor.
28

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