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MATHEUS HENRIQUE APOLINÁRIO

PAULO SÉRGIO ROMÃO PEREIRA

SERMÃO DE PROVA
SALMO 5

Trabalho apresentado atendendo às

exigências da matéria de Prática de

Pregação IV.

SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO


REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO
São Paulo - 2016
1

INTRODUÇÃO

O autor do salmo 5 é Davi, como informado na L2. Este salmo encontra-


se no primeiro de 5 livros. Ele é classificado como um lamento individual. O lamento era
um auxílio para demonstrar uma grande confiança em Deus, e era uma forma para o
salmista expressar diante do Senhor as suas lutas, sofrimentos e decepções.1
Neste salmo é identificado o uso de paralelismos, que são a
correspondência que ocorre entre as sentenças de uma linha poética2; é usado tanto uma
inversão de palavras, como uso de sinônimos para transmitir a mesma ideia. Na estrutura
do salmo 5, é identificado Imperativos, que são os lamentos do salmista, sempre
acompanhados de uma conjunção causal, que serve para ligar orações e demonstrar um
motivo.

COMENTÁRIO

SÚPLICA DO AFLITO
1. Para que Deus ouça sua oração.

Entre as L3-10 percebemos um paralelismo. Através da poesia hebraica o


salmista mostra a ideia central, encontrada na L3 (‫)אֲ מָ ַ ַ֖רי הַ אֲזִ֥ינָה׀ יְ ה ָ֗ ָוה‬, e nos versos seguintes,
apenas são acrescentados elementos que somam a ela. A ideia é de expressar sua súplica
aquele que pode ouvi-lo. Uma característica desta oração é a sua urgência3 expressa nos
imperativos4, a partir dos verbos que estão no tronco Hifil “dar ouvidos”, “acudir”,
“escutar”. Os verbos mostram que Davi não estava apenas passando apenas por uma
rotina de oração5, mas expressando a Deus sua profunda preocupação, expressando a
seriedade da sua súplica.

1
FEE, Gordon; STUART, Douglas. Entendes o que lês?: um guia para entender a Bíblia com auxílio da
exegese e da hermenêutica. Tradução de Gordon Chowne Jonas Madureira. 3 ed revisada e ampliada. São
Paulo: Vida Nova, 2011. p. 255
2
LONGMAN apud FUTATO (FUTATO. Mark D. Interpretação dos Salmos. Tradução Jonathan Hack.
São Paulo: Cultura Cristã, 2011. p. 23
3
WALTKE, Bruce K.; O’CONNOR, Michael. Introdução à sintaxe do hebraico bíblico. Tradução de
Fabiano Antônio Ferreira, Adelemir Garcia Esteves e Roberto Alves. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. P.
571.
4
Os verbos nos imperativos são: vs1 – “‫ ”הַ אֲזִ֥ינָה‬, “‫;”בינָה‬
ִּ֣ vs2 - “‫”הַ קְ ִׁ֤שיבָ ה‬,
5
BOICE, James Montgomery. Psalms: an exposicional commentary. Vo. 1. Psalms 1-41. Michihan: Baker
Books. P.45.
2

Algo de especial envolve os verbos iniciais das L3, 5, pois são verbos de
natureza causativa (são os verbos “Dá ouvidos” e “acode”). Seu uso, para o nativo da
língua, deixava na mente do leitor, e de quem fala, de que era necessária uma interferência
externa, requer uma ação de alguém ou algo. Ou seja, Davi clama para que alguém cause
em Deus a possibilidade de ouví-lo.
Davi suplica ao SENHOR, conforme a L3. Quando encontramos
SENHOR, em maiúscula, é a tradução do tetragrama hebraico6 para o nome pessoal de
Deus, o nome pelo qual Ele se relaciona intimamente com o seu povo. Era tido como o
mais sagrado e o mais característico nome de Deus. O nome indica a imutabilidade de
Deus referente a sua relação com o seu povo. Ele transmitia a segurança de que Deus
sempre será o mesmo em todas as gerações, ou seja, Deus sempre será fiel ao seu pacto.7
Este relacionamento é claro quando Deus se revelou a Moisés em Êx. 3.12-14.
Inicialmente Davi suplica para que O SENHOR use o ouvido8 para escutar
sua oração9 e que Ele considere10 e dê atenção ao seu gemido, ou sussurro. Usando uma
linguagem antropomórfica, o salmista tem a intenção e a certeza de que o Senhor
realmente ouvirá sua súplica. Nos Salmos o verbo hebraico traduzido como “gemido”
( ‫ הָ גִ יג‬- hagah) é encontrado apenas neste salmo e no 39.3. Ele é relacionado com o termo
murmurar ou meditar (SI 1.2; 2.1).11
Mas na L4 a sua ação se intensifica, pois, o sussurro se transforma em
grito, L5, para Deus prestar atenção a sua súplica. Como sinônimo de “ouvir”, Davi clama
para que alguém cause em Deus a possibilidade de escutá-lo.
Davi sendo rei suplica ao rei eterno. “O reino de Deus é visto no AT de
duas perspectivas. O primeiro, é a soberania de Yhwh sobre a criação, porque Ele é o
criador do Universo (SI 93; 103.19). O segundo, é a monarquia de Deus em virtude da
sua redenção, o resgate do seu povo da aliança.”12

6
ָ֗ ְ‫ – י‬Sua tradução é embasada em uma antiga tradução grega, que usa a palavra kurios (“senhor”).”
“‫הוה‬
FUTATO. Mark D. Interpretação dos Salmos. Traduzido por Jonathan Hack. São Paulo: Cultura Cristã,
2011. p. 133.
7
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Traduzido por Odayr Olivetti – 4ª ed. São Paulo: Cultura Cristã,
2012. P 48-49.
8
VanGemeren, Willem A. Novo dicionário internacional de teologia e exegese. V. 1. Traduzido por Equipe
de colaboradores da Editora Cultura Cristâ. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. P. 330.
9
Na última palavra da L7( ‫)אֶ ְתפ ַָּּֽלל׃‬, o Aparato Crítico indica a transposição dessa palavra para depois da
palavra - ‫ֹּ֭בקֶ ר‬
10
VanGemeren, Willem A. Novo dicionário internacional de teologia e exegese. V. 1. Traduzido por
Equipe de colaboradores da Editora Cultura Cristâ. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. P. 630.
11
HAMAN, Allan M. Comentário do Antigo Testamento. Tradução de Valter Graciano Martins. São Paulo:
Cultura Cristã, 2011. P 85.
12
W. White Jr, Rei, Monarquia. Enciclopédia da Bíblia. P 110.
3

Diferente da L3, agora ele suplica a Deus, na L6. O nome Deus13 mostra
sua força, poder e que Ele deve ser temido.14 Além disso, seu nome demonstra sua
transcendência, sendo um ser acima dos homens, pois Ele é o Deus do universo, o Deus
Criador de Gênesis 1.15 Davi não busca ajuda de um rei humano, mas daquele que tem o
seu reinado estabelecido eternamente.
Na L816, vemos a palavra “manhã” em destaque. Diferente do salmo 4,
onde ele fazia sua oração noturna, agora seu tempo de súplica é no início do dia. Essa
prática matinal do salmista pode ser uma menção aos sacrifícios matutinos. A ideia de
“apresentar a oração”, conforme a L9, aponta para linguagem sacrificial de colocar em
ordem a lenha ou a vítima do sacrifício, conforme Lv. 1. 7-8 e 6. 12.17 A expectativa do
salmista é verdadeira e intensa de que Deus responderá sua oração, segundo a L1018,
porque ele espera com absoluta certeza a resposta. Habacuque usou a mesma expressão
para demonstrar sua espera pela resposta na torre de vigia (Hc. 2:1).
Trabalhando em conjunto com os imperativos, mostrando o contraste que
o salmista traz, temos as conjunções (‫)כי׀‬,
ִׁ֤ na L1119, que demonstram o fato, o motivo do
que se declara na oração principal.20 21
Não é qualquer pessoa que tem a capacidade de
achegar-se a Deus e suplicar sua ajuda. O salmista relata sobre o Ser de Deus e àqueles
que não podem se aproximar dele. Temos, entre as L11-16, 3 afirmações negativas e 3
afirmações positivas descrevendo esse tipo de pessoa. Dentro da SÚPLICA DO AFLITO
para que Deus ouça sua oração, encontramos aqui ALGUMAS SUBDIVISÕES:

a) Pois Deus odeia o mal (Vs. 4-6)


A primeira negativa que o salmista apresenta encontra-se na L11, sendo
ela uma oração subordinada causativa, devido a conjunção inicial: “tu não és Deus que

13
“‫”אֱֹלהִ ים‬
14
“Na língua original Ele aparece no plural, mas seu entendimento deve ser visto como intensivo, indicando
plenitude e poder.” BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Traduzido por Odayr Olivetti – 4ª ed. São
Paulo: Cultura Cristã, 2012. P 48.
15
FUTATO. p. 133.
16
O Aparato Crítico indica que ‫ְ ְֽיה ָ֗ ָוה‬ tenha sido deletado, apagado por questões métricas.
17
HAMAN, Allan M. P 85.
18
O Aparato Crítico possivelmente insere - ‫ – לְְ֜ ָ֗ך‬ou ‫ ְ֜א ֶָ֗ליך‬ou ‫ֹּ֭ב ָ֗ך‬
19
O Aparato Crítico indica a omissão, a ausente em 2 manuscrito(s) hebraico(s) medieval(is) citado(s) nas
edições de B. 2 Kennicott, de G. B. de Rossi e de C. D. Ginsburg. da palavra ‫( ְֽאל‬Deus).
20
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 2ªed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985. P. 565, 573.
21
WALTKE define da seguinte forma as orações causais: “Se uma situação constitui a base para outra, essa
primeira ou situação causal pode ser representada [...] por uma dentre várias partículas. As mais comuns
são ‫כִ י‬...”p. 640.
4

se agrade com a iniquidade”. Deus não se delicia com a maldade, com aquele que é
mal. São pessoas que vivem em oposição aos que amam a Deus. Deus se enoja desses
homens. Em seguida, o salmista continua na L1222: “Contigo não subsiste o mal”, ou
seja, refere-se aquele que é desagradável, iníquo. Diz respeito a quão distante essa pessoa
vive daquilo que seria o desejado para ter uma vida plena. São homens bem
pecaminosos23. Ainda resta uma negativa presente na L13: “Os arrogantes não
permanecerão à tua vista” – Quem são esses arrogantes? São os orgulhos, soberbos,
aqueles que agem com arrogância contra Deus. O verbo “permanecer”, L13, está
refletindo a intensidade da atitude24 dos arrogantes, por estar no tronco Hitpael. Esse
verbo tem como sentido posicionar-se firme, resistir a presença de Deus25, mas eles não
conseguirão porque Deus não tem prazer no mal.
Qual a atitude de Deus para com os homens maus? Para com os homens
ímpios? Deus não tolera a presença dos ímpios.
Na L14 vemos o que Deus faz com esse tipo de pessoa, com os ímpios.
“Aborreces a todos os que praticam a iniquidade.” Por Deus não suportar o arrogante,
Ele os considera inimigos. Deus expressa seu desprezo por essas pessoas que praticam a
iniquidade. Estes são os que têm uma conduta ímpia e a origem dessa prática vem do
coração.26

22
O Aparato Crítico indica que poucos manuscritos hebraicos medievais (de 3 a 10 Mss;
de 3 a 6 Mss em 1 e 2Samuel). - Peshitta. - ‫( וְ ַ֖לא‬
23
Dicionário Internacional de Teologia e Exegese descreve da seguinte maneira o sentido da palavra
“‫”רע‬:
ַּ “O significado fundamental da raiz diz respeito a uma ação ou estado que se dá em detrimento da
vida ou sua plenitude. Ele e seu antônimo (ób, bom, estão associados com “morte” e
“vida” respectivamente (Dt 30.15). O detrimento pode ser morte física literal ou anormalidade
do corpo, ou ferida moral do espírito ou a um relacionamento. Ambos os aspectos dizem respeito ao
distanciamento do ideal e do desejado para a plenitude e gozo da vida.” David W. Baker. ‫רע‬.ַ Novo
dicionário internacional de teologia e exegese.
24
“Os verbos em Hitpael são intransitivos e frequentemente têm significado reflexivo ou recíproco em
relação às suas contrapartes ativas do Qal, Piel ou Hifil da mesma raiz. [...] é fazer algo para si mesmo, para
seu próprio benefício ou para seu próprio prejuízo” LAMBDIN, Thomas O. Gramática do Hebraico Bíblico.
Tradução de Walter Eduardo Lisboa. São Paulo: Paulus, 2003. P. 297.
25
É utilizado, também, no contexto militar, como por exemplo, na narrativa de Golias, em ISm 17.16; Jr
46.4. “A promessa de Deus para Israel, várias vezes repetida, é de que ninguém será capaz de posicionar-
se contra (‫ )יצב‬essa nação na guerra (Dt 7.24; 11.25; Js 1.5), promessa, essa, ilustrada historicamente na
experiência de Josafá (2Cr 20.17; cf. Ex 14.13).” ElmerA. Martens. ‫יצב‬. Novo dicionário internacional de
teologia e exegese.
26
VanGemeren, Willem A. Novo dicionário internacional de teologia e exegese. Volume 1. Traduzido por
Equipe de colaboradores da Editora Cultura Cristâ. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. P. 302
5

Os dois próximos verbos presentes nas L1527-16 expressam a ação


causadora28, ou seja, Deus causará um estado nos ímpios. O primeiro deles é: “Tu
destróis os que proferem mentira”. Deus causará a destruição daquele que não tem
compromisso com a verdade. Em seguida vemos: “O SENHOR abomina ao
sanguinário e fraudulento”. Deus abomina aquele que é violento e derrama sangue,
ocasionando quase sempre a morte29, ou seja, o agressor e o assassino. Não só este, mas
também o que é traiçoeiro com seu semelhante, aqueles que enganam o outro para se
beneficiarem. Para embasar ainda mais o caráter dessas pessoas que comentem essas
atitudes, o destruidor do povo de Deus é chamado de mestre do engano e de que comete
atos traiçoeiros (cf. Gn 3.13; Dn 8.25).30 Para Deus, pessoas que têm essas atitudes e
condutas são detestáveis. O caráter dessas delas é repugnante para Deus.
O salmista tinha a convicção de que Deus precisa punir o ímpio. E, de fato,
Deus leva muito a sério o pecado, pois é a transgressão da sua lei.31 Como consequência,
pode-se esperar a ira de Deus e sua ação de justiça e castigo disciplinar aqueles que
praticam o mal.
Na L17 há uma grande mudança32. Trazendo a ideia de contraste com o
que foi dito entra L11-16, Davi deixa de lado os ímpios para falar dele. Ao invés de Davi
clamar por causa da sua justiça própria, ele clama pela bondade de Deus. Ainda na
SÚPLICA DO AFLITO para que Deus ouça sua oração, é percebido que:

b) Há esperança da comunhão com Deus (vs. 7)


Por mais que foi descrito que pessoas ímpias estão distantes de Deus, o
salmista não será admitido em virtude de sua própria bondade. A possibilidade do
salmista entrar na casa de Deus seria apenas por causa da “riqueza da misericórdia do
SENHOR”, ou seja, a entrada é apenas pela graça e pelo amor a Sua aliança.33 Essa
bondade refere-se ao amor imutável de Deus e expressa, principalmente nos Salmos, a

27
O Aparato Crítico indica que no manuscrito(s) hebraico(s) medieval(is) citado(s) nas edições de B. 2
Kennicott, de G. B. de Rossi e de C. D. Ginsburg. - Septuaginta. – adicional"K;
28
“O Piel causa antes um estado do que uma ação.” WALTKE, Bruce K. P. 400
29
VanGemeren, Willem A. Novo dicionário internacional de teologia e exegese. Volume 1. Traduzido por
Equipe de colaboradores da Editora Cultura Cristâ. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. P 938.
30
Eugene Carpenter / Michael A. Grisanti. ‫מ ְרמָ ה‬. Novo dicionário internacional de teologia e exegese.
31
BERKHOF, Louis. P 237
32
‫ ַוא ֲָ֗ני‬- Juntamente com o pronome pessoal, há o Vav que, segundo WALTKE, “a oração que ele introduz
pode contrastar com a precedente” WALTKE, Bruce K.; P. 651.
33
TATE, Marvin E. Word Biblical Commentary : Psalms 51-100. Dallas, Texas, 1990. vl. 20.
6

atitude de Yhwh para com aquele que é fiel34, que é o seu povo. É por causa dela que o
salmista suplica a Deus, como também os pecadores buscam o perdão de Deus
fundamentado na Sua bondade. “Perdoa, pois, a iniquidade desse povo, segundo a
grandeza da tua misericórdia” (Nm 14.19).35
Os verbos nas L17 e 19, que mostram a atitude do salmista (entrarei /
curvarei), expressam sua intenção e determinação de realizar essas ações. 36
O salmista tinha a certeza que poderia entrar na casa de Deus, referindo-se
ao templo. O templo representava a presença e habitação contínua e visível de Deus em
Israel. Então, aqueles que buscavam a Deus podiam se aproximar dele para fazerem suas
súplicas.37
Diante do divino, reconhecendo sua autoridade, o salmista demonstra sua
submissão e adoração a Deus curvando-se ante a sua presença. O modo do verbo “curvar”,
L19, carrega uma dependência com outro fator que o acompanha. Era preciso entrar na
casa de Deus para depois curvar-se diante o santo templo.38
Poderia haver algum problema com essa afirmação do salmista já que o
Templo não estava construído na época de Davi. Mas tanto “templo” quanto “casa” são
usados para tabernáculo.
“Porém a cidade e tudo quanto havia nela, queimaram-no; tão-somente a
prata, o ouro e os utensílios de bronze e de ferro deram para o tesouro da Casa do
SENHOR.” (Js. 6:24) “...e tendo-se deitado também Samuel, no templo do SENHOR, em
que estava a arca, antes que a lâmpada de Deus se apagasse...” (1 Sm. 3:3)
Tudo que era consagrado a Deus devia ser considerado santo39 e o templo
era considerado.40 Com isso, fica bem visível porque os homens descritos acima não
podiam entrar no templo.

34
D. A. Baer e R. P. Gordon. ‫חסֶ ד‬.
ֶ ֶ֫ Novo dicionário internacional de teologia e exegese.
35
D. A. Baer e R. P. Gordon. ‫חסֶ ד‬.
ֶ ֶ֫ Novo dicionário internacional de teologia e exegese.
36
Os verbos imperfeitos “‫ ”אָ ִּ֣בֹוא‬e “‫שתַ חֲוֶ ִ֥ה‬ְ ֶ‫ ”א‬trazem o sentido coortativo. Segundo KELLEY, expressa
desejo, intenção, auto-encorajamento ou determinação do sujeito de realizar certa ação. Para reproduzir
adequadamente o coortativo usam-se formas do nodo subjuntivo, além de verbos auxiliares, em especial
“querer”. (p. 166). Embora não na forma, o coortativo encontra-se no significado dos verbos. KELLEY,
Page. P. 164.
37
VanGemeren, Willem A. Novo dicionário internacional de teologia e exegese. Volume 1. Traduzido por
Equipe de colaboradores da Editora Cultura Cristâ. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. P 1073-1074.
38
O verbo “‫ ”אֶ ְשתַּ חֲוֶ ֶ֥ה‬é um Hitpael imperfeito. Uma das opções de uso é para expressar ações dependentes
de outros fatores do contexto. Aqui se incluem os imperfeitos usados como jussivos ou coortativos e aqueles
cuja tradução requer o uso de um verbo auxiliar. KELLEY, Page. P. 164.
39
Jackie A. Naude. ‫קדֶ ׁש‬.ֶ֫ Novo dicionário internacional de teologia e exegese.
40
VanGemeren, Willem A. Novo dicionário internacional de teologia e exegese. Volume 1. Traduzido por
Equipe de colaboradores da Editora Cultura Cristâ. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. P 1005.
7

O salmista não recebe a ira de Deus, que seus inimigos mereciam, e


consegue entrar no templo do Senhor justamente por causa da bondade divina. Isso mostra
a auto avaliação que o salmista fez de si e o entendimento que ele tinha sobre o seu Deus.
O que percebemos é uma aliança íntima entre o temor do adorador por Deus e a bondade
de Deus para com o adorador.41

Em segundo lugar, é apresentado a SÚPLICA DO AFLITO


2. Para que Deus o guie em santidade.

Seguindo a estrutura de contraste, agora o salmista se volta novamente a


Deus clamando por orientação e como contraste o salmista mostra os males humanos da
língua. O salmista suplica para que Deus o conduza. Conduza de que forma? Conduza na
Sua justiça justamente por causa dos homens ímpios descritos acima. Assim, vemos a
primeira petição de Davi, e percebemos que mais da metade do salmo foi usado como
preparação para chegar ao pedido.42 O salmista clama para que Deus o guie de forma
segura entre as armadilhas dos ímpios e dê a ele uma rota de fuga, mesmo quando o
cenário for de cerco total. A justiça invocada por Davi aponta para a fidelidade e
misericórdia de Deus em defender seu povo.43
Na L2344 é apresentado um verbo de natureza causativa. Vemos a súplica
do salmista quando ele diz: “endireite diante de mim o teu caminho”, sendo totalmente
diferente da atitude dos homens que ele descreveu anteriormente. Davi tem o desejo de
andar pelo caminho correto, de estar na justiça de Deus. Ele buscava uma conduta correta
porque aquele que busca andar nos caminhos do Senhor, busca o perdão de seus pecados,
o cancelamento de culpa pelos seus erros, o empenho em viver corretamente, segundo a
justiça divina.45 O salmista clama pelo auxílio para viver em santidade, para andar em
retidão, como para não se assemelhar aos ímpios.

41
D. A. Baer e R. P. Gordon. ‫חסֶ ד‬. ֶ ֶ֫ Novo dicionário internacional de teologia e exegese.
42
BOICE, James Montgomery. P.48.
43
CALVINO, João. O livro dos Salmos. V. 1. Tradução de Valter Graciano Martins. São Paulo: Edições
Paracletos, 1999. P. 115
44
manuscrito(s) hebraico(s) medieval(is) citado(s) nas edições de B. 2 Kennicott, de G. B. de Rossi e de C.
D. Ginsburg. - Codex Vaticanus, datado do século IV dC; Codex Vaticanus, datada do século V dC; A
recensão de Luciano, presbítero de Antioquia, d. 312 (ver Wur, 60;. Também designado setembro ...
setembro ... foi utilizado em BHK para designar edição de Lagarde acredita ser luciânica, mas mostrado
por Rahlfs não luciânica; contendo Gen-Ruth, ver Wur,. 61 – Versão da Vulgata Latina - ^y , na apalavra
‫ ; לְ פָנַ ִּ֣י‬Versão da Vulgata Latina – sufixo – 1pessoa singular na palavra ‫דַ ְר ֶ ְֽכך‬
45
Hannes Olivier. ‫יׁשר‬. Novo dicionário internacional de teologia e exegese.
8

Trabalhando em conjunto com os imperativos, temos a conjunção “pois”,


na L24, que demonstram o motivo referente aquilo que ele declara na oração principal.
Por que Deus deveria causar no salmista o endireitar do seu caminho?
O foco do problema que o salmista apontará entra as L24-27 está na língua
desses homens. Eles não têm sinceridade nos seus lábios - O que sai da boca deles não é
firme, não há confiança. Esses homens são mentirosos! O íntimo deles é todo crimes - As
consequências daquilo que está em seu interior (pensamentos/desejos/coração) são atos
de devastação e destruição. A garganta é sepulcro aberto – Suas ações geram a morte,
pois são homens que tanto na sua fala quanto na sua atitude distribuem o mal. A língua
deles é escorregadia (língua lisonjeiam), bajulam sem compromisso com a verdade.
Vemos a epístola de Tiago, no capítulo 3, alertando sobre o domínio da
língua. Aquele que não tropeça no falar, é uma pessoa madura (vs.2), mas aquele que não
consegue controlá-la incendeia e contamina todo o corpo (vs. 6). O apóstolo Paulo utiliza
dessa passagem em Romanos 3: 14-15 para descrever o homem em sua condição
pecaminosa. O salmista não deseja ser como esses homens ímpios. Ele busca uma vida
correta diante do seu senhor.

Com isso, o salmista continua com sua súplica


3. Para que Deus julgue os inimigos.

Novamente são encontrados dois verbos de natureza causativa. Davi clama


para que, através de algo ou alguém, Deus possa declará-los culpados e rejeitá-los.
A súplica do salmista, para Deus declarar os ímpios culpados, L28, é com
base em tudo que já foi apontado sobre as atitudes que eles têm. Devido suas
transgressões, os ímpios são, essencialmente, culpados e merecem ser responsabilizados.
O transgressor merece receber o castigo ou penalidade por causa das transgressões
cometidas.46 Aqui é encontrado a segunda petição de Davi, como também a primeira
imprecação. Ou seja, essa é uma oração pedindo o julgamento dos ímpios.47
A imprecação é a verbalização da ira do homem sendo apresentada a
Deus48, para que Ele aja como juiz e seja o vingador do seu povo. A perspectiva nunca é

46
VanGemeren, Willem A. Novo dicionário internacional de teologia e exegese. Volume 1. Traduzido por
Equipe de colaboradores da Editora Cultura Cristâ. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. P. 540.
47
BOICE, James Montgomery. P.49.
48
FEE, Gordon D. P. 264.
9

do salmista. A inimizade existente não se restringe apenas ao salmista, mas a Deus, pois
os inimigos do salmista são inimigos de Deus também.49
Em seguida é descrito o efeito da súplica na L29. Que eles caiam em seus
próprios planos. A seguinte súplica “Rejeita-os por causa de suas muitas transgressões”,
L30, é entendida como expulsar os transgressores. A atitude desses homens é uma ofensa
a Deus. O tom de sua súplica não é com um sabor vingativo, mas por que eles têm sido
rebeldes contra Deus. Não é uma súplica para que eles sejam fulminados diante do
salmista, mas que eles mesmos recebam as consequências das suas próprias maldades.50
Na L3151 encontramos a conjunção “pois” mostrando o motivo do que se
declara na oração principal. Por que Deus deveria causar no culpa e expulsão? Devido
aos atributos destacados de Deus, devido as atitudes dos ímpios, o salmista suplica pela
justiça de Deus porque o ímpio é rebelde contra Ele. Davi não busca favorecimento
pessoal, não queria vingança pessoal, mas que Deus exerça seu juízo contra os ímpios.

O salmo não é todo aflição. Por último, é visto a SÚPLICA DO AFLITO


4. Para que se alegrem em Deus

Como a última parte na estrutura de um Salmo de Lamento, depois do


salmista dirigir-se a Deus, de entregar sua queixa, de clamar pela sua condução e justiça,
são encontrados os Votos de Louvor e o sentimento de alegria. Existem no saltério várias
exortações para que o povo se alegre em Deus, justamente por causa do refúgio divino.
Este refúgio é um lugar de paz, de tranquilidade, de abrigo e proteção contra inimigos,
contra os ímpios.
A confiança em Deus, na L32, mostra a insegurança e a incapacidade
humana diante da calamidade, como também a segurança que há em Deus e sua
habilidade para amparar e preservar aqueles que se encontram em angústia. Os benefícios
em buscar esse refúgio são totalmente superiores às aflições e dificuldades momentâneas
porque receber esse abrigo é ser abençoado por essa graça.52
“Folguem de júbilo para sempre”, L33, uma expressão intensa de alegria
pelo refúgio através de um grito extravasando a emoção. A fonte da verdadeira alegria

49
HAMAN, Allan M. P. 64.
50
TATE, Marvin E.. P. 71.
51
O Aparato Crítico indica que Septuaginta. – acrescenta – kurie, na palavra ‫ָ ְֽבְך‬

52
Andrew E. Hill. ‫חסה‬. Novo dicionário internacional de teologia e exegese
10

está exclusivamente na proteção divina. Essa reação é resultado da certeza de que é Deus
que o defende. O verbo também pode ser entendido como cobrir, proteger ou abrigar.53
O tempo que essa alegria durará não será momentânea, não será rápida. A promessa é que
a alegria vinda do SENHOR será perene!
Toda ocorrência do verbo “gloriar-se” é referente a um contexto de vitória
que Deus conquistou ou conquistará e, por isso, o seu povo poderá se alegrar, exultar. Por
exemplo, na história de Ana e o seu triunfo concedido por Deus sobre a esterilidade, em
ISm. 1. 9-17.54 O salmista tinha a certeza de que essa alegria não foi conquistada a partir
de sua força como pessoa ou como rei. O resultado jubiloso de sua súplica se dá,
exclusivamente, por causa da ação vitoriosa de Deus.
Aqui também há, na L37, a conjunção que demonstra o motivo do que se
declara na oração principal. Por que se alegrar em Deus? Porque o SENHOR abençoa o
justo! O verbo demonstra que a bênção de Deus é de forma intensa. Essa bênção é descrita
na L3855 através da proteção divina com um escudo! Davi, sendo guerreiro, entendia de
escudos. Era um escudo especial que protegeria o corpo inteiro. Não era uma
possibilidade de proteção, mas uma proteção total! A proteção abrange todo o justo, não
sobrando partes desprotegidas. Essa benevolência é a consequência àquele que faz a
vontade de Deus (Pv 12.2; 16.7).56

REFERÊNCIAS

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Paulo: Cultura Cristã, 2012.

BOICE, James Montgomery. Psalms: an exposicional commentary. Vo. 1. Psalms 1-


41. Michihan: Baker Books.

53
“O subs. mãsãk (de acordo com HALAT e BDB) pertence à raiz (skk), cuja intenção aqui não está clara.
A maior probabilidade é a de que a intenção tivesse sido usar skk I ( # 6114), mas, na ausência de uma
conclusão definitiva, o subs. será tratado separadamente, mãsãk (usado 25x ao todo) é encontrado
principalmente em Êxodo ( 16x) e Números (6x), referindo-se ao tabernáculo e, em particular, às cortinas
que serviam como portas ou divisórias simbólicas entre uma área e outra. W. R. Domeris. ‫סכך‬. Novo
dicionário internacional de teologia e exegese.
54
Michael A. Grisanti. ‫עלץ‬. Novo dicionário internacional de teologia e exegese.
55
O Aparato Critico, na ultima palavra, informa que poucos manuscritos hebraicos medievais (de 3 a 10
Mss; de 3 a 6 Mss em 1 e 2Samuel). – ‫; תַ עְ ְט‬Septuaginta. – sufixo – 1plural - Peshitta. – sufixo 1sing.
56
Terence E. Fretheim. ‫רצֹון‬.ָ Novo dicionário internacional de teologia e exegese.
11

CALVINO, João. O livro dos Salmos. V. 1. Tradução de Valter Graciano Martins. São
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contemporâneo. 2ªed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

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com auxílio da exegese e da hermenêutica. Tradução de Gordon Chowne Jonas
Madureira. 3 ed revisada e ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2011

FUTATO. Mark D. Interpretação dos Salmos. Traduzido por Jonathan Hack. São
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Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.

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Ann Wangen Krahn. São Leopoldo, 1998.

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Lisboa. São Paulo: Paulus, 2003.

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12

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Tradução de Fabiano Antônio Ferreira, Adelemir Garcia Esteves e Roberto Alves. São
Paulo: Cultura Cristã, 2006.

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