BELO HORIZONTE
2018
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BELO HORIZONTE
2018
3
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
Faced with so many different translations for the same texts of the New
Testament, a questioning becomes necessary: what is the origin of these
divergences? The present research proposes to investigate the backstage of
translations, from the adopted base text to the translation method used. The aim is to
find out whether the objective authority of the Scriptures has in any way been
attained. The research will be made from the publications of the scholars of the area
of textual criticism of the New Testament. The data analysis follows the standards of
scientific research, seeking to achieve results that can be submitted to the scrutiny of
the academic community.
Key words: New Testament. Scriptures. Textual criticism. Objective authority.
8
LISTA DE ABREVIAÇÕES
BJ Bíblia de Jerusalém
Jo Evangelho de João
Lc Evangelho de Lucas
Mc Evangelho de Marcos
Mt Evangelho de Mateus
TR Textus Receptus
LISTA DE SÍMBOLOS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
2 A TEORIA CRÍTICA DE WESTCOTT E HORT .................................................... 13
2.1 ANTECEDENTES E PRESSUPOSTOS BÁSICOS........................................... 14
2.1.1 Genealogia ..................................................................................................... 15
2.1.2 Conflação ....................................................................................................... 16
2.1.3 Leituras sírias antes de Crisóstomo ............................................................ 16
2.1.4 Evidências internas ...................................................................................... 17
2.1.5 Recenção luciânica e a Peshitta ................................................................. 18
3 CONTRARRAZÕES............................................................................................... 21
3.1 ANTECEDENTES E PRESSUPOSTOS BÁSICOS........................................... 21
3.1.1 Genealogia ..................................................................................................... 22
3.1.2 Conflação ....................................................................................................... 23
3.1.3 Leituras sírias antes de Crisóstomo ............................................................ 26
3.1.4 Evidências internas ...................................................................................... 30
3.1.5 Recenção luciânica e a Peshitta ................................................................. 32
4 A INFLUÊNCIA DA TEORIA DE WESTCOTT E HORT NAS EDIÇÕES DO
TEXTO GREGO DO NOVO TESTAMENTO ............................................................ 35
5 OS IMPACTOS DO USO DO TEXTO CRÍTICO NAS TRADUÇÕES EM LÍNGUA
PORTUGUESA ........................................................................................................ 46
5.1 ARA .................................................................................................................. 47
5.2 NVI ................................................................................................................... 48
5.3 NTLH ................................................................................................................ 50
5.4 DIFERÊNÇAS OBSERVADAS ENTRE AS TRADUÇÕES BASEADAS NO
TEXTUS RECEPTUS E AS BASEADAS NO TEXTO CRÍTICO .............................. 51
6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 64
REFERÊNCIAS WEBGRÁFICAS ............................................................................ 67
ANEXO 1 – FAC-SÍMILE DO CODEX SINAÍTICUS ( )אE CODEX VATICANUS (B)
.................................................................................................................................. 68
ANEXO 2 – MAPA DOS AUTÓGRAFOS ................................................................ 70
11
1 INTRODUÇÃO
6
Textos originais como escrito pelos autores inspirados.
13
7
O presente trabalho segue a sequência adotada por Pickering (2014), com raras exceções.
8
Texto baseado na edição de Erasmo e sustentado por aproximadamente 97% dos manuscritos
gregos conhecidos.
9
Nomeadamente: Eberhad e Erwin Nestle, Eugene Nida, Bruce Metzger, Bart Erhman, Kurt e
Barbara Aland, Carlo Maria Martini, Matthew Black, Allen P. Wikgren, Robert Bratcher e Johannes
Karavidopoulos .
10
Toda a massa de manuscritos egípcios não totalizam 3% do total de manuscritos existentes.
11
Frase de Leônidas, herói espartano, durante as Guerras Pérsicas, quando soube em um
desfiladeiro da Termópilas, que as flechas lançadas pelos inimigos cobriam até a luz do sol.
14
Em 1851, aos 23 anos de idade, Hort escreveu a um amigo: “Eu não tinha
nenhuma ideia, até as últimas poucas semanas, da importância dos textos, tendo
lido tão pouco o Testamento Grego [sic] me arrastando com o vil Textus Receptus”
(HORT, 1896, p. 211). E ainda: “Pense naquele vil Textus Receptus, se apoiando
inteiramente em MSS 12 recentes; é uma bênção que haja MSS tão antigos” (HORT,
1896, p. 211). A sua aversão ao TR é, portanto, anterior a qualquer pesquisa
científica. Colwell (1969 apud PICKERING, 2014, p. 18) observa: “Hort organizou
seu argumento inteiro para depor o Textus Receptus.”
Para W-H o texto do Novo Testamento poderia ser tratado como qualquer
outro livro: “Os princípios de crítica valem para todos os textos antigos, preservados
em uma pluralidade de documentos. Ao lidar com o texto do Novo Testamento,
12
Abreviação para manuscritos, pode também ser encontrada no singular (MS).
15
2.1.1 Genealogia
O método genealógico é determinante para a teoria de W-H, uma vez que ele
reduz a quantidade de manuscritos agrupando-os, e a contagem agora se faz por
quantidade de grupos e não mais por quantidade de manuscritos. A aplicação do
método lhe habilitava a reduzir toda a massa de testemunhas de manuscritos a
apenas quatro vozes: “Neutra”, “Alexandrina”, “Ocidental” e “Síria”14. O passo
seguinte seria determinar qual dessas vozes representaria o texto mais próximo dos
Autógrafos. Colwell (1947 apud PICKERING, 2014, p. 19) diz a respeito do método:
13
Palavras diferentes para o mesmo texto grego em diferentes manuscritos.
14
O tipo de texto “Sírio” é a base do TR. Por texto “Neutro” não se conhece efetivamente testemunha
alguma, o texto “Alexandrino” são os textos egípcios e o “Ocidental”, se refere ao texto latino.
16
2.1.2 Conflação15
Outro ponto fundamental para se provar que o TR era posterior aos demais
tipos de textos são as citações dos Pais da Igreja, e os Lecionários17 escritos antes
do Concílio de Nicéia.
15
Em crítica textual, conflar (do latim conflare: fundir, ajuntar por fusão), significa a mistura ou a
combinação das leituras de dois ou mais documentos formando uma nova leitura.
16
Marcos 6:33, 8:26, 9:38, 9:49. Lucas 9:10, 11:54, 12:18, 24:53.
17
Estudos bíblicos em grego de grandes porções do Novo Testamento.
17
W-H alegam que João Crisóstomo foi o primeiro Pai da Igreja a utilizar o TR.
Lembrando que Crisóstomo morreu em 407 d. C.. F. G. Kenyon (1964 apud
PICKERING, 2014, p. 21) considerou esse argumento decisivo para a aceitação da
teoria de W-H:
A alegação de Hort, que foi a pedra de esquina da sua teoria, foi que leituras
características do Textus Receptus nunca são encontradas nas citações dos
escritores cristãos anteriores a cerca de 350 DC. Antes daquela data
encontramos leituras caracteristicamente “Neutras” e “Ocidentais”, mas nunca
“Sírias”. Este argumento é, de fato, decisivo...
18
Refere-se a características estilísticas do autor presentes em todos os seus textos.
19
Refere-se a erros evidentes cometidos por copistas, que podem ser identificados no texto.
20
Por cânone devemos entender uma norma, um padrão de medição.
18
Mesmo com todas essas evidências apresentados por W-H contra o TR, eles
ainda precisavam explicar a origem do texto. E, sobretudo, como esse texto passou
a dominar o cenário a partir do quinto século, de maneira tal que os tipos de texto
“Neutro”, “Alexandrino” e “Ocidental” não foram copiados. Uma revisão do texto do
Novo Testamento, feita em Antioquia por volta do ano 300 d. C., e imposta sobre
toda a igreja, foi a solução encontrada pela dupla para resolver a questão.
Westcott e Hort (1882, p. 133) dizem: “O texto ‘Sírio’ tem, de fato, de ser o
resultado de uma ‘recensão’ no sentido próprio da palavra, uma tentativa de
criticismo, deliberadamente realizada por redatores e não meramente por escribas.”
E eles continuam: “O fato de haver três tipos de texto circulando conflitantes entre si
na mesma região, levou os estudiosos de Antioquia a promoverem uma
harmonização dos textos, originando a redação do texto Sírio” (WESTCOTT; HORT,
1882, p. 133). Luciano, que morreu em 311 d. C. foi apontado por eles como o
patrono dessa revisão, e a erudição subsequente tornou isso dogmático.
21
Em crítica textual recensão (do latim recension: enumeração, revisão), é o resultado de um trabalho
de revisão feito deliberadamente por redatores.
22
Versão para o siríaco do Novo Testamento.
19
Essas são as bases da teoria de W-H. Pickering (2014, p. 24) assim define:
“Embora homens como Tischendorf, Treguelles e Alford tivessem feito muito para
minar a posição do Textus Receptus, Westcott e Hort geralmente são creditados
como tendo desferido o golpe mortal, iniciando uma nova era23.” Esta é a conclusão
a que tem chegado eruditos como Colwell (1967 apud PICKERING, 2014, p. 24),
que encerra assim a questão:
A mão morta de Fenton John Anthony Hort repousa pesadamente sobre nós.
Nos primeiros anos deste século [xx], Kirsopp Lake descreveu o trabalho de
Hort como um fracasso, embora glorioso. Mas Hort não deixou de alcançar
seu objetivo principal. Ele destronou o Textus Receptus. Depois de Hort, esta
Vulgata Grega do final da Idade Média não [mais] foi usada por estudiosos
sérios, e o texto sustentado pelas testemunhas mais antigas se tornou o texto
padrão. Este foi uma conquista sensacional, um sucesso impressionante. O
sucesso de Hort nesta tarefa, e a coerência da sua teoria fortemente
fundamentada, moldaram, e ainda moldam, o pensamento daqueles que se
aproximam da crítica textual do Novo Testamento através da língua inglesa.
forte evidência interna seja encontrada ao contrário, e que nenhuma leitura de אe
de B pode ser rejeitada de forma absoluta seguramente.” Está explicada então a
grande diferença entre as versões modernas24 em língua portuguesa, todas elas
baseadas na teoria e no texto de W-H com pouca variação, e a Almeida Corrigida
Fiel (ACF), editada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (SBTB), a única
Bíblia em língua portuguesa baseada essencialmente no TR.
23
O fim do século XIX marca o início de uma nova fase para a crítica textual do Novo Testamento.
24
ARA, NVI, NTLH, NAA, BLH, TEB, BJ e a TNM, entre outras.
25
Frederick Scrivener, John William Burgon, Edward Miller, H. C. Hoskier, Edward F. Hills e Wilbur
Pickering.
20
3 CONTRARRAZÕES
O Novo Testamento pode ser tratado como qualquer outro livro? As mesmas
técnicas aplicadas às obras de Aristóteles e Platão são eficientes também Na
recuperação dos textos das Escrituras? Nos clássicos, a percentagem de variantes
devidos a erros involuntários dos copistas é grande, mas, como poderá ser
comprovado logo à frente, boa parte das variantes encontradas no Novo
Testamento, foram produzidas deliberadamente com propósito dogmático. Matthew
Black é enfático:
introduzidas pelos hereges.” John Burgon também escreveu sobre eles: “Gaio, um
Pai muito antigo, escreveu contra Teódoto, Asclepíades, Hermódoto e Apollonides,
hereges que negavam a divindade de Cristo, e que prepararam cópias corrompidas
das Escrituras e tinham discípulos que multiplicaram essas cópias” (BURGON, 1883,
p. 323).
A maioria dos manuais produzidos atualmente, lhe dirá que essas variações
foram fruto de tratamento descuidado [dos copistas] o que só foi possível
porque os livros do Novo Testamento ainda não haviam atingido uma posição
forte de Bíblia. O caso foi o inverso. Foi porque eram o tesouro religioso da
igreja que eles foram alterados.
Esta inconveniência é fatal para a teoria de W-H da maneira como ela foi
formulada, uma vez que ela é semelhante a um prédio de vários andares onde um
se apoia sobre o outro. Todo o seu argumento se apoia inteiramente no fato de que
o texto, em nenhum momento, sofreu modificações intencionais com propósito
doutrinário. O alicerce de todo o prédio, que começa a desmoronar, é a posição de
W-H de que o Novo Testamento foi um livro comum que gozou de uma transmissão
comum. (PICKERING, 2014).
3.1.1 Genealogia
logrou fazer uso dela. Como então W-H conseguiram traçar a descendência
genealógica dos manuscritos existentes? Parvis (1962 apud PICKERING, 2014, p.
32) responde: “Westcott e Hort nunca aplicaram o método genealógico aos
manuscritos do Novo Testamento.” E também Fee (1978 apud PICKERING, 2014, p.
32):
O próprio Aland (1965 apud PICKERING, 2014, p. 33) diz sobre o método
genealógico: “Não pode ser aplicado ao Novo Testamento.” A conclusão óbvia é que
W-H nunca aplicaram o método aos manuscritos do Novo Testamento. Pickering
(2014, p. 34) diz:
Uma vez que o método genealógico não foi aplicado aos MSS do Novo
Testamento, não pode ser usado como parte integral de uma teoria da crítica
neotestamentária. Se foi o método genealógico de Hort que aniquilou o
“Textus Receptus”, então ele ainda permanece são e salvo.
O fato concreto é que o método genealógico não foi utilizado por W-H. E, se
não foi utilizado, tem, impreterivelmente, que ser descartado como base de uma
teoria envolvendo o texto do Novo Testamento. A arma nunca foi usada, mas era tão
assustadora, e W-H falaram dos resultados com tanta segurança, que eles
ganharam a parada sem precisar lutar. (PICKERING, 2014).
3.1.2 Conflação
1. Mateus 3:12 αὐτοῦ εἰς τὴν ἀποθήκην (autou eis ten apoteken) TR
εἰς τὴν ἀποθήκην αὐτοῦ (eis ten apoteken autou) L
αὐτοῦ εἰς τὴν ἀποθήκην αὐτοῦ (autou eis ten apoteken autou) B, W
27
Todas os exemplos são dados por Pickering (2014).
28
Versão latina.
25
Nos tempos de W-H, isto poderia ser interpretado como uma conflação do TR,
mas agora, o Papiro P66 leva a leitura síria de volta ao segundo século.
9. Apocalipse 6:5 καὶ ἰδε καὶ ἰδοὺ (kai idê kai idou) Mª
καὶ εἶδον καὶ ἰδοὺ (kai eidon kai idou) M, C e A
καὶ ἰδε καὶ εἶδον καὶ ἰδοὺ (kai idê kai eidon kai idou) א
10. 1 Coríntios 7:34 ἡ ἄγαμος καὶ ἡ παρθένος (hê ágamos kai hê partenos) P15
καὶ ἡ παρθένος ἡ ἄγαμος (kai hê partenos hê
ágamos) TR
29
Manuscritos em letras minúsculas que passam a substituir os uncais a partir do século IX d. C..
26
Esta é uma das leituras onde o TR poderia ser acusado de conflação, mas
agora, com a descoberta dos papiros, fica provado por P66 que a redação do TR
retrocede ao segundo século. Voltando ao que foi dito por W-H a respeito de
inversão: “No melhor das nossas crenças, as relações assim traçadas
provisoriamente nunca são invertidas. Não sabemos de nenhum lugar onde um
grupo de documentos “Alexandrinos” ou “Neutros” contenham leituras misturadas
entre um deles e o TR” (WESTCOTT; HORT, 1982, p. 106). Fica agora provado que
o uso desse argumento para caracterizar o TR como um texto misturado, portanto
tardio, é totalmente inválido, uma vez que, todos os demais tipos de textos as
contém, sendo um erro bastante comum entre copistas.
Aqui está uma questão óbvia. Se puder ser demonstrado que as leituras que
Hort chama “Sírias” existiram antes do final do quarto século, a pedra angular
seria arrancada da base da sua teoria; e desde que ele não produziu
nenhuma estatística que provasse sua afirmação, seus oponentes estavam
perfeitamente livres para desafiá-la.
Edward Miller, que foi o editor da obra de John Burgon, e após sua morte, fez
uso do índice feito por este, de 86.489 citações patrísticas do Novo Testamento,
afirma:
seus desejos. [...] Mas há realmente uma carência dessas leituras nas obras
dos primeiros Pais, como se supõe? (MILLER, 1886, p. 53).
Quando Miller toma apenas os Pais gregos e latinos, sem contar os sírios,
que morreram antes de 400 DC., suas citações apoiam o TR em 2.630 instâncias, e
o texto Alexandrino em 1.753. Se somente os Pais mais antigos forem tomados, de
Clemente de Roma até Irineu e Hipólito, a proporção a favor do TR é de 151 contra
84. Se forem considerados somente os escritores ocidentais há igualdade de votos.
Mas quando Miller usa uma lista seleta de trinta passagens importantes para exame
detalhado, a evidência patrística em favor do TR sobe para 530 contra 170 (MILLER,
1896, p. 99-101). Kenyon concorda com reservas com as conclusões de Miller:
Precisa ser admitido que o Sr. Miller não se esquivou do teste. Uma parte
considerável do seu trabalho como editor dos trabalhos do Deão Burgon
tomou a forma de uma classificação de citações patrísticas, baseadas sobre
os grandes índices que o Deão deixou para traz, como eles testemunhavam a
favor ou contra o Texto Tradicional dos Evangelhos. [...] agora está claro que,
se estes números fossem confiáveis haveria um final para a teoria de Hort,
pois suas premissas seriam completamente infundadas. (KENYON, 1912, p.
321-22).
Precisa ser lembrado aqui que Sir Frederic Kenyon é defensor da teoria de W-
H, e ele prossegue:
Um exame deles, no entanto, mostra que eles não podem ser aceitos como
de qualquer forma representando o verdadeiro estado do caso. Em primeiro
lugar, é bastante certo que edições críticas dos vários Pais, se existissem,
mostrariam que, em muitos casos, as citações foram assimiladas em MSS
posteriores ao Textus Receptus, enquanto no anterior elas concordariam
mais com as testemunhas “Alexandrinas” ou “Ocidentais”. (KENYON, 1912, p.
322). [grifo do autor].
É difícil acreditar que Kenyon foi exatamente imparcial aqui. Ele obviamente
leu o trabalho de Miller com cuidado. Porque ele não disse nada sobre “ao
arrependimento” em Mt 9:13 e Mc 2:1730, ou “vinagre” em Mt 27:3431,[...] ou
“os profetas” em Mc 1:232, [...] ou a oração do Senhor por seus assassinos em
33
Lc 23:34 ? (PICKERING, 2014 p. 59-60).
Com relação aos Pais antes de 400 DC, a questão pode ser agora formulada
e respondida. Eles testemunham do Textus Receptus como existindo desde o
início, ou não? Os resultados da evidência, tanto no que diz respeito à
quantidade quanto à qualidade do depoimento, nos permitem responder não
apenas que o Textus Receptus existia, mas que era predominante, durante o
período em análise. Que qualquer um que discuta esta conclusão, faça para o
texto “Ocidental” ou para o texto “Alexandrino”, um caso de evidência dos
primeiros Pais que possa igualar ou superar esse que agora é colocado
diante do leitor. (MILLER, 1896, p. 116).
Não é preciso dizer que ninguém jamais aceitou o desafio de Miller. Mas, e os
antigos Papiros, de que lado estão? Cada um dos primeiros Papiros dá testemunho
de leituras do TR. Depois de exaustivo estudo em P46 G. Zuntz (1953 apud
PICKERING, 2014, p. 68), conclui: “Resumindo: várias leituras Bizantinas (Sírias), a
maioria delas genuína, que previamente foram descartadas como ‘posteriores’, são
antecipadas por P46.” Hills (2000), diz que os Papiros Chester Beatty vindicam 26
leituras Sírias nos Evangelhos, 8 em Atos e 31 nas Epístolas de Paulo. Em
referência a P66 ele diz:
Para ser preciso, o Papiro Bodmer II [P66] contém treze por cento de todas as
leituras alegadamente tardias do Textus Receptus na área que ele cobre (18
de 138). Treze por cento das leituras “Sírias” que a maioria dos críticos têm
considerado como posteriores têm sido provados agora pelo Papiro Bodmer
II, serem leituras iniciais. [...] Certamente o fato do Papiro Bodmer II
concordar com o texto “Sírio”, como também os Papiros Chester Beatty,
30
Estas passagens têm sustentação por Epístola de Barnabé, Justino Martir ( Apologia i v. 15), Ireneu
( Contra as Heresias, III v. 2), Orígenes (Comentários sobre João xxviii v. 16), Eusébio (Comentário
sobre Salmo cxlvi) Hilário (Comentário sobre Mateus ad loc) e Basílio (De Poenitent. 3)
31
Sustentada pelo Evangelho de Pedro, Barnabé, Ireneu, Tertuliano, Celso, Orígenes e Atanásio.
32
Sustentado por Ireneu, Orígenes, Porfírio e Eusébio.
33
Sustentado por Marcião, Justino Mártir, Ireneu, Hipólito, Orígenes, Eusébio, Hilário e Atanásio.
29
De acordo com os números de Epp, a qual tipo de texto P45 deve ser
atribuído? Já P66 e P75 têm sido sempre apontados como ancestrais para o texto
“Alexandrino” de W-H. Pickering (2014, p. 44), utilizando o trabalho de Klinj em 8
instâncias em que, אe B discordam e onde pelo menos um dos Papiros se junta a
eles, e em 43 locais onde os dois papiros se alinham com אou com B, e faz uma
com TR 33 vezes. P75 concorda com א9 vezes, com B 33 vezes, com TR 29 vezes.
Nos outros 8 locais: P66 concorda com א2 vezes, com B 3 vezes, com TR 5 vezes.
P75 concorda com א2 vezes, com B 3 vezes, com TR 4 vezes. Cada um dos três
Papiros também têm outras leituras. Pickering (2014, p. 45), conclui:
34
A introdução do livro de Burgon foi redigida pelo Dr. Edward F. Hills.
30
Outro ponto levantado por W-H é: “a leitura mais curta seja a preferida”
levando em conta a propensão dos escribas a alongarem os textos ao copiarem. W-
H ainda argumentam que “a leitura mais difícil seja a preferida”. O que daria base
para isso é uma alegada inclinação dos copistas a harmonização, eliminando
possíveis dificuldades. Esses argumentos são subjetivos e não condizem com a
pesquisa acadêmica séria, contudo, uma vez que a evidência interna precisa ser
considerada é necessário que se faça, em alguma medida, uma avaliação das duas
principais testemunhas do Texto Crítico, os Códices אe B.
que os Códices B e אdiscordam entre si mais de 3.000 vezes apenas nos quatro
Evangelhos, sem incluir erros de grafia e nem sinônimos.
35
Colacionar (do latim collationare: combinar, comparar), em crítica textual significa tomar duas
cópias em grego de um mesmo trecho, e compará-las, confrontá-las, conferi-las, cotejá-las.
36
Manuscritos grafados em letras maiúsculas.
Codex א, A, B, C e D.
37
31
“É nossa crença que as leituras de אe de B devem ser aceitas como a verdadeira
leitura [original] até que forte evidência interna seja encontrada ao contrário”
(WESTCOTT; HORT, 1882, p. 225). Então, para o bem da verdade, esses dois
manuscritos deveriam ser desconsiderados pela moderna crítica textual como
38
Pai da Igreja anterior a Atanásio.
32
refletindo o texto original do Novo Testamento, uma vez que eles juntos contêm mais
de 3.000 erros somente nos Evangelhos.
39
Tertuliano usa aqui a palavra latina “autenticae”, o que leva alguns intérpretes a entender que ele
se referia aos próprios autógrafos ou a cópias totalmente fiés, seladas pelas autoridades dessas
igrejas. A segunda interpretação parece ser a correta.
34
encontram Corinto. Já que não estão longe da Macedônia, vocês têm Filipos
e também os Tessalonicenses, dai vocês podem cruzar para a Ásia onde está
Éfeso. Visto que, além disso, vocês estão próximos da Itália, vocês têm
Roma, da qual vem às nossas mãos a própria autoridade (dos apóstolos).
(ROBERTS; DONALDSON, 1918, p. 260).
40
Texto amplamente citado pelos Pais da igreja e base das grandes traduções após o advento da
imprensa como citado na página 18.
41
Pastor batista regular em Grand Rapids, Michigan, doutor em divindade pelo Seminário Teológico
de Dallas.
42
Informação colhida no site da Deutsche Bibelgesellschaft.
36
Aland e Aland (1989) ainda citam outras edições não baseadas na teoria de
W-H com pouca apreciação. Um bom exemplo é a sua avaliação da obra “The New
Testament According To Majoritary Text”, de Arthur L. Farstad e Zane C. Hodges. “O
título revela claramente a intenção da edição: oferece o Textus Receptus, e é
dificilmente uma edição crítica no sentido estrito” (ALAND; ALAND, 1989, p. 223).
1. Apenas uma leitura pode ser a original, embora leituras variantes possam
existir.
2. Somente a leitura que melhor atenda aos requisitos dos critérios externos e
internos pode ser original.
3. A crítica do texto deve começar a partir da evidência da tradição manuscrita.
4. Critérios internos nunca podem ser a única base para a decisão crítica.
43
Informação colhida no site da Sociedade Bíblica do Brasil.
44
Kurt Aland, Barbara Aland, Bruce M. Metzger, Johannes Karavidopoulos e Carlo Maria Martini.
45
Traduz-se as palavras de maneira literal, seguindo a base da língua mãe.
37
46
As palavras que aparecem em grego junto com a referência bíblica são sempre as contidas no TR.
39
Marcos 1:2 – “ἐν τοῖς προφήταις” (en tóis profetais) – “nos profetas”.
Marcos 6:22 – “αὐτῆς τῆς ρῳδιάδος” (autês tês Herodíados), “[a filha] ela
própria de Herodias”.
Lucas 3:33 – “τοῦ μιναδάβ, τοῦ ράμ” (tou Amindabe, tou Aram), “de
Aminadable, de Arão”.
47
Quando os percentuais não fecham os 100% é porque existem manuscritos com outras leituras.
41
de P66 e P75, ambos com a variante ‘θεὸς’, a evidência externa fortalece a leitura. A
Comissão rejeitou a leitura ‘ μονογενὴς Υἱὸς’ por ela ser uma assimilação de João
3:16” (METZGER, 1971, p. 198). Problema: A palavra “μονογενὴς”, literalmente,
“único gerado” não pode ser usada para se referir a Deus senão ao Filho.
Essa passagem está tratando da encarnação, pois Deus, o Filho, tem existido
eternamente. A natureza e o corpo humanos de Jesus foram literalmente
gerados em Maria através do Espírito Santo. Se Jesus recebeu sua
Divindade através do processo de geração, então ele não pode ser a
eternamente preexistente Segunda Pessoa da Trindade. (PICKERING, 2014,
p. 328).
A adição de “εἰς ἐμὲ” como o objeto direto do verbo crer, foi natural e
inevitável. A coisa surpreendente é que muitos copistas resistiram à
tentação. Se as palavras estavam presentes no texto original, nenhuma boa
razão pode ser sugerida para sua omissão. (METZGER, 1971, p. 214) [grifo
do autor].
Não dá para saber qual dos cânones estabelecidos pela própria Comissão é
seguido nesse caso. Problema: a rejeição pela Comissão do testemunho dos
42
48
Contra as Heresias.
49
Harmonia dos Evangelhos escrita por Taciano entre 160 – 175 d. C..
43
início de Lucas parecia ter sido escrita por uma mão diferente e com tinta diferente
do restante do manuscrito.” Burgon (1871, p. 79), aponta que o copista do Códice א
também omitiu o final do Evangelho de João, terminando o livro no versículo 24. De
qualquer forma, um exame detalhado no fac-símile do Códice א, mesmo quando
feito por um leigo, revela que, a folha dobrada que traz o final do Evangelho de
Marcos e o início do Evangelho de Lucas, é, sem sombra de dúvida, uma
falsificação.
É dever do marido perdoar o que ele sabe que o Senhor dos dois perdoou, e
que ele não deve agora chamá-la de adúltera, cujo pecado ele acredita ter
sido erradicado pela misericórdia de Deus. No entanto, a mente pagã
obviamente se esquiva dessa comparação, de modo que alguns homens de
fé fraca, ou melhor, alguns hostis à verdadeira fé, temendo, como acredito,
que a liberdade para pecar com impunidade seja concedida a suas esposas,
removeram de suas escrituras o relato do perdão do Senhor sobre a mulher
adúltera. Como se o que Ele disse: De agora em diante, não peque mais,
concedesse permissão para pecar. Ou como se a mulher não devesse ser
curada pelo médico divino pela remissão daquele pecado, de modo a não
agregar a outros que são igualmente impuros. (AUGUSTINE, 1955, p. 70).
dizer qual parte é a Palavra e qual não é. Esse é o problema de se usar cânones
subjetivos em detrimento da evidência escriturística.
Torna-se cada vez mais evidente que o uso dos critérios estabelecidos pela
própria Comissão para as escolhas das variantes não são sempre seguidos. A
manipulação do texto bíblico pelos editores da UBS e do Nestle-Aland é nítida
nesses poucos casos. Dessa maneira, jamais haverá segurança quanto à exata
redação do texto original. No próximo capítulo, serão analisados os reflexos dessas
edições do texto grego do Novo Testamento, nas traduções mais importantes em
língua portuguesa.
46
Até meados do século XX, o Brasil esteve a salvo do Texto Crítico, que só foi
ter alguma penetração por aqui após o lançamento da 13ª edição do Nestle, editada
por Erwin Nestle em 1927. A influência dessa edição se fez sentir no nosso país em
1940, numa reunião da Imprensa Bíblica Brasileira, quando foi tomada a decisão de
se fazer uma profunda revisão no texto da tradução de João Ferreira de Almeida.
Em 1949 apareceu uma edição especial do Novo Testamento, mas a versão final só
viria em 1967, como o título de Versão Revisada, baseada no Texto Crítico.
(PAROSCHI, 1999).
A Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) ainda não havia sido criada, o que só
aconteceu em 1948. A revisão do Novo Testamento ficou pronta em 1951 e foi
publicada em 1952 com o título de Almeida Revista e Corrigida. “Do texto usado por
João Ferreira de Almeida, o TR, para a 16ª edição de Nestle, a diferença é
considerável” (PAROSCHI, 1999, p. 135). A Almeida Revista e Atualizada
(doravante ARA), foi lançada em 1959, e em 1993 foi publicada a segunda edição.
50
Traduz-se a ideia central da passagem, o que dá um pouco mais de liberdade com as palavras.
Esse método tem como pressuposto a não inspiração verbal das Escrituras, mas que Deus inspirou
somente as ideias.
47
tradução, aos avisos quanto às variações no texto e à sua fidelidade ao texto grego
que abraça.
5.1 ARA
O grande destaque desta Bíblia fica por conta do uso de colchetes separando
passagens, indicando que a passagem em questão não é confiável por não estar
presente nos originais. Alguns bons exemplos são: a perícope da mulher adúltera,
em João 7:53 até 8:11 e também o final do Evangelho Segundo Marcos (16:9-20),
passagens que se encontram entre colchetes na ARA, o que indica para o leitor que
a passagem foi incluída no texto sagrado posteriormente. (ALMEIDA, 2009, p. 1)
51
Livro I (1-41), Livro II (42-72), Livro III (73-89), Livro IV (90-106) e o Livro V (107-150).
48
5.2 NVI
O texto base é o Texto Crítico, editado pela UBS, mas a avaliação não é
acrítica, ou seja, em alguns casos ela pode não acompanhar as conclusões da
Comissão da UBS. O método de tradução é por Equivalência Dinâmica 52 como os
próprios editores definem: “[...] alguns trechos bíblicos foram traduzidos com maior
ou menor grau de literalidade, levando sempre em conta e compreensão do leitor”
(BÍBLIA DE ESTUDO, 2012, p. 11). A NVI ainda traz como novidade a tradução dos
pesos e medidas para o nosso equivalente contemporâneo. Outra contribuição é a
formatação do texto, que é dividido por parágrafos.
Mas a principal característica desta versão são as notas de rodapé. Elas são
frequentes na NVI, e tratam de questões relacionadas à crítica textual, leituras
alternativas, e oferecem explicações entre outras coisas. Parece ser uma versão
mais apropriada para pastores, pregadores e estudantes da Bíblia já com algum
senso crítico. Há muitos questionamentos sobre a utilização das notas de rodapé
devido ao grande número de erros e contradições do Texto Crítico utilizado como
base para a tradução, que demandam em alguma medida, uma apreciação mais
criteriosa do seu uso. Segue-se uma avaliação de passagens importantes para a
crítica textual do Novo Testamento, que é o foco da análise.
Mateus 21:44
A NVI traz em nota de rodapé: “Muitos manuscritos não trazem o verso 44”.
99,9% dos manuscritos gregos conhecidos do Evangelho Segundo Mateus trazem o
52
Traduz-se a ideia central da passagem, o que dá um pouco mais de liberdade com as palavras.
Esse método tem como pressuposto a não inspiração verbal das Escrituras, mas que Deus inspirou
somente as ideias.
49
versículo, apenas o Códice D não o traz. (PICKERING, 2015). A nota da NVI usa a
palavra “muitos” para se referir a 0,01% dos manuscritos, ou seja, um único
manuscrito em meio a aproximadamente 1.700. (PICKERING, 2015, p. 61).
Marcos 10:24
NVI: “Outros manuscritos dizem: é difícil para aqueles que confiam nas
riquezas”. “Outros” se referem aqui a 92% dos manuscritos gregos conhecidos do
Evangelho Segundo Marcos. (PICKERING, 2015, p. 131). Até aqui é coisa pouca. A
seguir, algumas notas de rodapé que podem trazer consequências mais sérias.
Marcos 1:1
NVI: “Alguns manuscritos não trazem ‘O Filho de Deus’”. Por “Alguns” leia-se
0,8% dos manuscritos gregos conhecidos do Evangelho Segundo Marcos, outros
98,4% dos manuscritos trazem corretamente ‘O Filho de Deus’. (PICKERING, 2015,
p. 89).
Marcos 16:9-20
Kurt Aland confirma que somente os Códices אe B não trazem o final de
Marcos e apenas o manuscrito K (304) traz um final diferente, mais curto. (ALAND;
ALAND, 1989, p. 292). Todos os Evangelhos apresentam relatos da ressurreição,
porque somente Marcos não traria? Será mesmo que o evangelista terminaria o seu
relato da ressurreição com as palavras “porque temiam”, se referindo às mulheres
quando encontraram o túmulo vazio? Evidentemente que não, pois, o clímax dos
Evangelhos é justamente o relato da ressurreição, que aponta para a grande vitória
de Jesus Cristo sobre a morte. Nem Marcos, nem nenhum outro evangelista,
terminaria seu livro com a derrota de Jesus na cruz, e a consequente decepção dos
seus seguidores.
50
João 7:8
1 Timóteo 3:16
NVI: “Muitos manuscritos dizem ‘aquele [ἐκεῖνος] que’.” A NVI usa o termo
“muitos” para se referir a 0 (zero) manuscrito grego conhecido até o momento. O
Códice אtraz “Ὃς” (quem), e o Códice D traz “Ὃ” (quê), todos os demais
manuscritos gregos conhecidos da Primeira Carta de Paulo a Timóteo trazem
corretamente “Θεὸς” (Deus). (PICKERING, 2014, p. 330).
5.3 NTLH
Lançada no ano 2000 pela SBB, A NTLH se propõe a ser uma Bíblia com
uma linguagem moderna, de fácil entendimento para o homem moderno. Muitas
notas de rodapé usadas pela BLH foram banidas nessa nova versão. A NTLH, assim
como a ARA, tem como característica os colchetes para indicar que o texto em
questão não se encontra nos manuscritos mais antigos, sendo, portanto, uma adição
posterior. (AZEVEDO, 2016, p. 1).
A NTLH traz notas explicativas de algo que não esteja claro no texto. As notas
são indicadas no texto por uma letra minúscula. As referências indicam outros
lugares no texto onde a mesma ideia é expressa. São indicadas no texto por um
51
A NTLH prima ainda pela tradução por equivalência dinâmica, ainda que no
seu prefácio afirme fazer a tradução por Equivalência Formal. O texto base é o texto
da UBS, usado em todas as traduções da SBB. No todo se caracteriza pelo
ecletismo, acompanhando a ARA nos textos já analisados, diferindo apenas no
modelo de tradução. A NTLH usa, em João 6:68, 69, a palavra “senhor” com “s”
minúsculo referindo-se a Jesus Cristo.
Mateus 9:13
ACF - “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício.
Porque eu não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento.” (96%
dos manuscritos53).
ARA - “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos;
pois não vim chamar justos, e sim pecadores [ao arrependimento].
NVI - “Vão aprender o que significa isto: desejo misericórdia, não sacrifícios. Pois eu
não vim chamar justos, mas pecadores.”
53
Todos os percentuais são de Pickering (2015).
52
NTLH - “Vão e procurem entender o que quer dizer este trecho das Escrituras
Sagradas: Eu quero que as pessoas sejam bondosas e não que me ofereçam
sacrifícios de animais. Porque eu vim para chamar os pecadores e não os bons.”
NAA - “Vão e aprendam o que significa: Quero misericórdia, e não sacrifício. Pois eu
não vim chamar justos, e sim pecadores.”
Mateus 17:21
ACF - “Mas esta casta não se expulsa senão por oração e jejum.” (99,4% dos
manuscritos).
ARA - “[Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum.]”
NVI - “Mas esta espécie só sai pela oração e pelo jejum.” (nota de rodapé: “Vários
manuscritos não trazem o versículo 21.”)
NTLH - “[Mas esse tipo de demônio só pode ser expulso com oração e jejum.]”
NAA - “[Mas esse tipo de demônio só pode ser expulso por meio de oração e jejum.]”
Mateus 18:11
ACF - “Porque o Filho do Homem veio salvar o que se tinha perdido.” (98,5% dos
manuscritos).
Marcos 1:1
NTLH - “A boa notícia que fala a respeito de Jesus Cristo, Filho de Deus, começou a
ser dada.”
Marcos 11:26
ACF - “Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não
perdoará as vossas ofensas.” (96% dos manuscritos).
ARA - “[Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos perdoará as
vossas ofensas.]”
NVI - “Mas se vocês não perdoarem, também os eu Pai que está nos céus não
perdoará os seus pecados.” (nota de rodapé: “Muitos manuscritos antigos não
trazem o versículo 26”.)
NTLH - “[Se não perdoarem os outros, o Pai de vocês, que está no céu, também não
perdoará as ofensas de vocês.]”
54
NAA - “[Mas, se vocês não perdoarem, também o Pai de vocês, que está nos céus,
não perdoará as ofensas de vocês.]”
Esse ensino de Jesus faz parte da oração que ele ensinou aos seus
discípulos. Mas nesta passagem, é um critério para que as orações sejam
atendidas. Em que pese estar presente em 96% dos manuscritos, as traduções para
o português lançam dúvidas sobre sua autenticidade.
Lucas 4:4
ACF - “E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o
homem, mas de toda a palavra de Deus.” (90,7% dos manuscritos).
ARA - “Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem.”
NTLH - “Jesus respondeu: As Escrituras Sagradas afirmam que o ser humano não
vive só de pão.”
NAA - “Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: o ser humano não viverá só de pão.”
Agora um caso mais sério. Jesus está citando Deuteronômio 8:3 contra
Satanás, que lhe oferece comida em um momento de fome intensa, uma tentação
clara. E segundo o Texto Crítico, Jesus para no meio do versículo 3, omitindo a
parte mais importante, aquela que vai determinar a derrota de Satanás, a palavra de
Deus. O texto do TR aqui é sustentado por 90,7% dos manuscritos gregos
conhecidos do Evangelho de Lucas.
Lucas 11:2
ACF - “E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai Nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na
terra como no céu.” (99% dos manuscritos).
ARA - “Então, ele os ensinou: quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu
nome; venha o teu reino.”
NVI - “Ele lhes disse: Quando vocês orarem, digam: Pai, santificado seja o teu
nome. Venha o teu Reino.”
55
NTLH - “Jesus respondeu: Quando vocês orarem, digam: Pai, que todos
reconheçam que o teu nome é santo. Venha o teu Reino.”
NAA - “Então Jesus disse: Quando vocês orarem, digam: Pai, santificado seja o teu
nome; venha o teu Reino.”
Lucas 23:34
ACF - “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E,
repartindo as suas vestes, lançaram sortes.” (99,2% dos manuscritos).
ARA - “Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes.”
NVI - “Jesus disse: Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que estão fazendo.
Então eles dividiram as roupas dele, tirando sortes.” (nota de rodapé: “Alguns
manuscritos não trazem a sentença”.)
NTLH - “[Então Jesus disse: Pai, perdoa essa gente! Eles não sabem o que estão
fazendo.]”
NAA - “Mas Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Então,
para repartir as roupas dele, lançaram sortes.”
João 1:27
ACF - “Este é aquele que vem após mim, que é antes de mim, do qual eu não sou
digno de desatar a correia da sandália.” (99% dos manuscritos).
56
ARA - “O qual vem depois de mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias
das sandálias.”
NVI - “Ele é aquele que vem depois de mim, e não sou digno de desamarrar as
correias de suas sandálias.
NTLH - “Ele vem depois de mim, mas eu não mereço a honra de desamarrar as
correias da sandálias dele.”
NAA - “Ele vem depois de mim, mas não sou digno de desamarrar as correias das
suas sandálias.
João 3:13
ACF - “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem,
que está no céu.” (98% dos manuscritos).
ARA - “Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho
do Homem [que está no céu].”
NVI - “Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser aquele que veio do céu: o Filho do
homem.”
NTLH - “Ninguém subiu ao céu, a não ser o Filho do homem, que desceu do céu.”
NAA - “Ora, ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que de lá desceu, o Filho do
Homem.”
João 6:47
ACF - “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida
eterna.” (99,5% dos manuscritos).
ARA - “Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê em mim tem a vida eterna.”
NTLH - “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem crê tem a vida eterna.”
NAA - “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.”
A expressão grega “εἰς ἐμὲ” (eis emé), literalmente “para dentro de mim”, não
tem tradução em língua portuguesa. O que mais se aproxima é “em mim”, o que em
grego seria “ὴν ἐμὲ” (en emé), o que não é o caso. O fato é que o ser humano está do
lado de fora de Jesus, e a única maneira de ser salvo é passar para o lado de dentro
dele, é esta a ideia que Jesus parece querer passar. A atestação de 99,5% dos
mansucritos gregos conhecidos do Evangelho de João é o testemunho fiel que o
termo é original, sem dúvida. Tanto é assim, que os tradutores da ARA e da NAA
ficaram contra os 0,5% de manuscritos do Texto Crítico dessa vez. Quando um
termo importante não existe em uma língua, ele precisa de ser criado, se disso
depender o correto entendimento. Isso se chama neologismo e é perfeitamente
normal e nesse caso, é necessário. (PICKERING, 2014).
João 6:69
ACF - “E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.”
(99% dos manuscritos).
NTLH - “E nós cremos e sabemos que o senhor é o Santo que Deus enviou.”
João 9:4
ACF - “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia, a
noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” (99,3% dos manuscritos).
ARA - “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia;
a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.”
NVI - “Enquanto é dia, precisamos realizar a obra daquele que me enviou. A noite se
aproxima, quando ninguém pode trabalhar.”
NTLH - “Precisamos trabalhar enquanto é dia, para fazer as obras daquele que me
enviou. Pois está chegando a noite, quando ninguém pode trabalhar.”
NAA - “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia;
a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.”
Romanos 1:16
NTLH - “Eu não me envergonho do evangelho, pois ele é o poder de Deus para
salvar todos os que creem, primeiro os judeus e também os não judeus.”
Romanos 8:1
ACF - “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus,
que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (94% dos manuscritos).
ARA - “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”
NVI - “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus.”
NTLH - “Agora já não existe nenhuma condenação para as pessoas que estão
unidas com Cristo Jesus.”
NAA - “Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo
Jesus.”
Basta dizer que o versículo 2 desse capítulo, sem a parte omitida pelo 6% que
compoêm a redação o Texto Critico, quebra a força do argumento de Paulo. E pode
dar base para um crente viver segundo a carne. Porque para os que afirmam estar
60
1Coríntios 9:18
NVI - “Qual é, pois, a minha recompensa? Apenas esta: que, pregando o evangelho,
eu o apresente gratuitamente, não usando, assim, dos meus direitos ao pregá-lo.”
Filipenses 4:13
ACF - “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” (98% dos manuscritos).
NTLH - "Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação.”
Hebreus 7:21
ACF - “Mas este com juramento por aquele que lhe disse: Jurou o Senhor, e não se
arrependerá; tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque.”
(97,9% dos manuscritos).
ARA - “Mas este, com juramento, por aquele que lhe disse: O Senhor jurou e não se
arrependerá: Tu és sacerdote para sempre.”
NVI - “Mas ele se tornou sacerdote com juramento, quando Deus lhe disse: ‘O
Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre.”
NTLH - "Porém houve juramento quando Jesus se tornou sacerdote, pois Deus lhe
disse: O Senhor jurou e não voltará atrás. Ele disse: Você será sacerdote para
sempre.”
NAA - "Mas este foi feito sacerdote com juramento, por aquele que lhe disse: O
Senhor jurou e não se arrependerá: Você é sacerdote para sempre.”
6 CONCLUSÃO
Que diferênça faz? Essa pode ser a pergunta a ser feita agora. Por que se
preocupar com isso, se essas mudanças não alteram nenhuma das doutrinas
bíblicas consideradas basilares? Se a aceitação dessa teoria já é consenso entre os
estudiosos e, mesmo as igrejas evangélicas mais conservadoras têm aprovado as
traduções modernas? Uma resposta é que o Texto Crítico contém erros de citações
vetero-testamentárias55, erros geográficos56, erros de concordância57, textos sem
sentido semântico58 e contradições de fato59. Fatos que já foram amplamente
comprovados no decorrer deste trabalho de pesquisa, e que anulam completamente
qualquer tentativa de se defender a inerrância, e particularmente, a doutrina da
inspiração divina do texto bíblico. A autoridade objetiva das Escrituras tem sido
enfraquecida de de tal modo, que ela não exige mais obediência imediata e sem
questionamentos. Por consequência, há um enfraquecimento generalizado da
dedicação dos crentes a Cristo e ao seu Reino.
54
Todos os manuscritos conhecidos do Novo Testamento grego podem ser acessados no site do
CSNTM (The Center For The Study Of New Testament Manuscripts).
55
Marcos 1:2 (uma parte da citação é do livro de Malaquias); Mateus 27:34 (em franca contradição
com Salmos 69:21).
56
Lucas 4:44 (está em contradição com Mateus 4:23 e Marcos 1:39), Lucas 9:10 (em contradição
com Lucas 9:12, com Mateus 14:13 e Marcos 6:31-32).
57
Atos 28:13, o verbo “periaipέw” (periaipéo) “tirar”, escolhido pela UBS, é transitivo, e não faz
nenhum sentido aqui. (PICKERING, 2014).
58
Atos 28:13 (literalmente: “tirando fora [alguma coisa] alcançamos Régio”), e 2 Pedro 3:10 (a terra
será achada).
59
Marcos 6:22 está em franca contradição com Mateus 14:6.
63
Que fazer? Se calar e desistir? De modo algum! “É melhor acender uma vela
do que amaldiçoar a escuridão”60. Pesquisar manuscritos é um trabalho maçante, ler
livros sobre crítica textual muito mais, mas, é necessário que tal se faça. Todos os
manuscritos conhecidos do Novo Testamento estão disponíveis hoje através de fac-
símiles na internet, basta ter coragem e dedicação. Ao examinar a evidência (MSS
gregos, citações patrísticas e versões antigas), tem-se uma base demonstrável para
defender a preservação, a inspiração e a inerrância do texto do Novo Testamento. E
também para refutar os contradizentes com uma boa e bem documentada
argumentação. O atual texto do TR é uma boa aproximação do original, isenta de
erros de fato e contradições aparentes já discutidos, ainda que preserve, em menor
ou maior grau, alguma deficiência própria da falibilidade humana.
60
Provérbio chinês, creditado a Confúcio.
64
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66
REFERÊNCIAS WEBGRÁFICAS
O Codex Sinaíticus ()א, é escrito em quatro colunas de texto, cada uma com
48 linhas, cada linha contém em média 13 letras, exceto a coluna final de Marcos,
que tem uma média de 11 letras por linha.
61
Pickering (2018).