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ECOLOGIA HUMANA

Discente: Vinícius do Couto Carvalho


Orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio Leite Fontes
Recorte Temático do Seminário
• Introdução

• Objetivo

• Abordagens da Ecologia Humana


- Ecologia Evolutiva
- Etnociências
- Ecologia Aplicada
- Ecologia Urbana
• Metodologias

• Considerações Finais

• Referências
ECOLOGIA HUMANA

integra o estudo do comportamento de uma


população humana com o sistema ecológico
no qual esta população se encontra (Morán,
1990).

A ecologia humana é o estudo das relações entre


indivíduos ou comunidades humanas com seu
ambiente, seja este fisiográfico, ecológico ou social
(ACIESP, 1997).
ECOLOGIA HUMANA

Difere-se da ecologia geral ao


dar maior enfoque no papel do
homem como fator ecológico;

Difere-se também da antropologia, ao enfocar o


homem não só como entidade social e cultural,
mas também valorizando as interações entre
homem e ambiente.
Se existe uma ecologia dos peixes ou uma ecologia das aves, por
que não pode existir também uma ecologia humana?

Ecologia Humana parece ser simples!

Mas o problema é que o ser humano pertence a uma espécie


biológica bastante particular: é pouco dotada, rigorosamente
heterotrófica, capaz de comunicar com grande eficácia, capaz de
criar transcendendo os parâmetros etológicos, capaz de modificar
o ambiente natural e de criar um ambiente construído, e este com
elementos muito diversos.
Quando na ecologia humana nossa espécie coloca-se à parte, ela
converte-se em um “grupo de referência”.

ecologia antropocêntrica

Esta espécie animal particular que é o homo sapiens tem ainda


uma outra característica, a sua grande mobilidade, com presença
em todas as altitudes e todas as latitudes, destruindo, por vezes,
os ecossistemas naturais.
Estudar a "relação do homem com o ambiente" inclui fatores
econômicos, sociais, fisiológicos, psicológicos, entre outros.

Para alguns autores, a ecologia humana tem objetivos e


metodologias específicas e que incluem entender o
comportamento humano sob variáveis ambientais.

Para estes, generalizar acerca da ecologia humana implica em


perda de precisão.
Segundo Bruhn (1974), áreas como a sociologia, antropologia,
geografia e psicologia apresentam desenvolvimentos próprios de
Ecologia Humana.
O objetivo deste seminário é apresentar
algumas abordagens da Ecologia Humana
acerca de áreas de estudos das relações
homens e ambientes, encarando o ser
humano do ponto de vista social, biológico e
ecológico, como uma espécie animal
adaptada para viver nos mais diversos
ambientes.
ECOLOGIA EVOLUTIVA

O estudo da Adaptação ou Adaptabilidade Humana enfatiza a


plasticidade das respostas humanas ao ambiente (MORAN, 1994;
KORMONDY; BROWN, 2002).
Termos fisiológicos e socioculturais
Conforme Kormondy e Brown (2002) as populações humanas
migram, mudam a qualidade e o tipo de itens que compõe a dieta
ou mudam a maneira pela qual obtêm recursos para poder lidar
com as flutuações sazonais do macroambiente com os
correspondentes ajustes no microambiente e isso tem
implicações na maneira como se organizam socialmente.
De acordo com Schutkowski (2006) o uso de recursos não é
somente determinado por características físicas e biológicas de
determinado habitat, mas também pelo conhecimento individual
e coletivo, por decisões familiares, sociais, econômicas e
condições políticas.
A adaptação não se refere a uma acomodação ou submissão
passivas aos limites do ambiente (biológico e cultural), mas sim as
estratégias adotadas com relação à exploração de recursos
naturais, no esforço para a manutenção e reprodução da
população humana local.

Nem todo esforço adaptativo humano resulta numa interação


harmônica com o ambiente.
A interação da ecologia evolutiva com a etologia ajudou no
surgimento da sociobiologia.

E os modelos de subsistência usados em populações humanas,


bem como os de transmissão cultural (ou evolução cultural),
provém da mesma associação.
Sociobiologia

Hamilton (1964) e Wilson (1975) são os precursores da


sociobiologia. O primeiro ao desenvolver o conceito de aptidão
inclusiva e o segundo com os trabalhos sobre socialidade em
insetos e no homem.
Para Hamilton o conceito de aptidão inclusiva engloba o valor
adaptativo individual (prole) e a representação genética em
parentes próximos entre insetos sociais (abelhas, formigas,
vespas).

Wilson observou padrões comuns de comportamento humano


em distintos povos e culturas (Socialidade).
As formas de expressão de comportamento podem variar entre os
povos, mas o comportamento é o mesmo.

Povos com religiões diferentes acreditam em


deuses com formas e em número diferentes.
Entretanto, todos têm alguma forma de ritual
sacro.

Atos altruístas humanos são, a ajuda em momentos de perigo, a


divisão de comida, ajuda a doentes, crianças e idosos e a divisão de
conhecimento.
Modos de produção e Sistemas de subsistência

Esses tem papel de destaque na análise e entendimento das


escolhas, obtenção e usos de recursos do ambiente por
populações humanas (BEGOSSI, 2002).

Dessa forma, as sociedades podem ser classificadas de acordo


com a principal tecnologia de subsistência que utilizam.
Porém, o nível tecnológico, por sua vez, está estreitamente
associado ao volume de conhecimentos empregados pelas
sociedades para utilizar os recursos de seu ambiente (PERONI,
2004).

- o sistema de subsistência primário


- sociedades híbridas (pesca e agricultura)
Com base em indicadores de domínio tecnológico, as sociedades
serão classificadas, em termos do aporte de energia e
informação, desde níveis mais simples (caçadores e coletores),
até níveis mais complexos (sociedades industriais)
(LENSKI; LENSKI, 1982; NOLAN; LENSKI, 2006).
ETNOCIÊNCIAS

Estudos de Ecologia Humana também recorrem aos referenciais


teóricos, abordagens e metodologias das etnociências
(etnobiologia, etnoecologia e etnobotânica) dado que essas visam
o estudo do conhecimento e uso local de recursos naturais,
realizando, para tanto, estudos de percepção com populações
locais.
Entre os enfoques atuais das etnociências pode-se listar: aspectos
psicológicos e cognitivos na relação de pessoas com os recursos
naturais, a possibilidade de se encontrar novas espécies que
possam ser exploradas em termos agroindustriais ou
farmacêuticos, e ainda, o aspecto da conservação e uso de
recursos, em especial este, face as rápidas mudanças
socioeconômicas pelas quais passa a maioria das comunidades
locais (HANAZAKI, 2004).
A etnobiologia é o estudo do papel da natureza no sistema de
crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes,
buscando entender os processos de interação das populações
humanas com os recursos naturais, com especial atenção à
percepção, conhecimentos e usos (BEGOSSI et al., 2002).

A etnobiologia tem o objetivo de analisar a classificação das


comunidades humanas sobre a natureza, em particular sobre os
organismos, disciplinas como botânica, ecologia e zoologia são
fundamentais, caso não se tenha a intenção de ter apenas uma
abordagem êmica (BEGOSSI, 1993).
A etnoecologia compreende, entre outras coisas, os estudos dos
sistemas de classificação do mundo vivo por qualquer cultura, ou
seja, é o estudo do conhecimento e das conceituações
desenvolvidas por grupos sociais sobre os seres vivos e os
fenômenos biológicos (Albuquerque, 2002).

A etnoecologia permite a facilitação da aprendizagem dos termos


utilizados pela população estudada para os temas ecológicos,
facilitando a pesquisa ecológica. Permite também compreender
os processos de adaptação dessas comunidades ao meio em que
vivem.
Os estudos etnobotânicos permitem averiguar e compreender os
sistemas de classificação da vegetação com a qual uma população
humana interage (ALBUQUERQUE, 2002).

Etnobotânica qualitativa ou descritiva:


“Tem a finalidade de esclarecer como a cultura em questão
compreende o mundo vegetal, o interpreta, como se dá esse
relacionamento e a que níveis chegam”.
Etnobotânica quantitativa:
“As técnicas quantitativas permitem comparações e avaliações do
significado das plantas para determinado grupo, bem como
fornece dados para a conservação dos recursos naturais”.
Percepção Ambiental

A percepção pode ser descrita como um processo da sensação e


da cognição (percepções mentais), relacionados com experiências
individuais, associações conceituais e condicionamentos culturais
(RODAWAY, 1994; DEL RIO, 1999).
A percepção tanto emerge do relacionamento com o mundo
como interfere no relacionamento com ele e também no
processo de formulação de decisões a respeito desse mundo.

A compreensão sobre questões ambientais não é homogênea


sendo necessário o estudo das concepções sobre mundo natural
e a caracterização de distintas relações entre o ser humano e o
ambiente (HOEFFEL et al., 2004).
Nesse sentido, pode-se identificar como alterações no ambiente
(construções de rodovias, represas, criação de unidades de
conservação), fatores que afetam a vida local , a gestão ambiental
local e adequação às restrições legais.

Também se deve considerar de que modo transformações nos


usos da água e da terra estão afetando a identidade local, a noção
de territorialidade e a possibilidade de sobrevivência dessas
populações (FADINI; CARVALHO, 2004; HOEFFEL et al., 2004).
ECOLOGIA APLICADA

Nesta linha de pesquisa são estudados os aspectos


relacionados à ecologia de populações, em particular sobre a
relação das populações humanas (aspectos demográficos)
com a quantidade (escassez) e qualidade (poluentes) dos
recursos disponíveis.
Questões permanecem no debate sobre população e
disponibilidade de recursos:

a) quanto maior a população maiores são a demanda por recursos e


o "lixo" produzido por sua utilização? Ou seja, mesmo com
aumento da produção através de mudanças tecnológicas,
esbarra-se no limite ambiental?

b) se a pobreza é um dos fatores que contribui para o aumento


populacional, o crescimento populacional não será somente
resolvido com planejamentos familiares? Distribuição de recursos
é o fator fundamental?
ECOLOGIA URBANA

A ecologia urbana, estuda detalhes da vida humana nas cidades,


do ponto de vista ambiental, sua relação com os recursos
naturais, o ar, a água, a fauna e flora, bem como as relações entre
indivíduos.
Problemas sociais como o êxodo rural, o crescimento
descontrolado das cidades, infra-estrutura urbana, bem como
características das populações (taxa de crescimento, densidade,
índices de nascimento e mortalidade e idade média, doenças,
epidemias, problemas de saúde pública e de qualidade
ambiental) são abordados nesta especialidade.
Este ramo da ecologia, associado à conscientização e educação
ambiental, pode transformar as grandes cidades em locais mais
habitáveis e saudáveis, onde o uso dos recursos naturais será
racional e otimizado.
METODOLOGIAS

A escolha da metodologia a ser adotada deve ser definida caso a


caso, conforme o tema em questão se relacione com uma ou mais
áreas dentro da Ecologia Humana.

A coleta de dados pode envolver entrevistas (estruturadas, semi-


estruturadas e não estruturadas), discussões individuais ou em
grupos, observação participante ou pesquisa participante, entre
outros métodos.
Cabe ressaltar a interdisciplinaridade dos métodos, técnicas e
conceitos empregados em trabalhos relativos às etnociências:

- História oral (história);


- Observação participante (antropologia);
- Grupo focal (psicologia social);
- Pequisa-ação (sociologia);
- Paisagem (geografia);
- Diagramas de Venn (matemática);
- Teste projetivo (psicologia);
- Análise componencial (lingüística);
- Índices de diversidade (ecologia).

(MARQUES, 2002)
A Ecologia Histórica utiliza metodologias como:

- Lingüística histórica;
- Arqueologia;
- Paleontologia;
- História oral;
- Dendrocronologia;
- E interpretação de mapas e fotos.

(EGAN; HOWELL, 2001; BALÉE, 2006)


Os informantes devem ser considerados pelo pesquisador
como sendo especialistas locais;

Devem ser considerados como autoridades em sua área de


conhecimento. Além disso, nas entrevistas, esses informantes
devem conduzir os assuntos, dirigindo a conversa que deve
tanto quanto possível evitar perguntas, especialmente as que
contenham conceitos com significados dentro da cultura do
pesquisador e não necessariamente para o informante
(POSEY, 1986).
É preciso considerar também as diferenças de saberes entre
os habitantes locais, entre gêneros e idades. Algumas poucas
pessoas mais velhas podem ser elementos-chave na
preservação de conhecimentos locais, especialistas em um
dado assunto, e costumam ser reconhecidos e indicados pelos
habitantes locais (HANAZAKI, 2004; RODRIGUES, 2006).

A busca do saber, tal como compreendido e desenvolvido pela


cultura local, e não do ponto de vista do pesquisador é a
característica mais forte em estudos da Ecologia Humana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para entender a relação do homem com a natureza é necessário


conhecer os conceitos e modelos analíticos de diferentes áreas de
pesquisa a fim de contribuir para o entendimento da natureza e
da relação entre as populações humanas com essa.

Não há divergência entre as linhas apresentadas: ao contrário,


elas são complementares pois abordam perguntas diferentes e
têm metodologias próprias de trabalho. São faces diferentes de
uma mesma moeda.
No Brasil, estudos de ecologia humana sobre populações
indígenas ocorrem especialmente na Amazônia.

A etnobiologia é bem representada no Brasil, com estudos sobre


populações indígenas, sobre populações litorâneas, como as de
caiçaras (SE Brasil) e num contexto mais social, embora ambiental
e conservacionista, encontram-se estudos em Diegues & Sales.
REFERÊNCIAS

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