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Psicologia e

Compromisso Social
Articulações com áreas afins
Regulamentação da profissão

 Lei nº 4119/62: Dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta


a profissão de psicólogo no Brasil;

 “A psicologia tem um longo passado, mas uma curta história” (Hermann


Ebbinghaus): o surgimento desta disciplina data do século XIX (Ferreira, 2003) 
em 1879, tem-se a fundação do primeiro Laboratório de Psicologia
Experimental, em Leipzig;

 A modernidade (a partir do século XVI) modificou as relações interpessoais e do


sujeito consigo próprio, abrindo espaço para reflexões, experiências e práticas
que viriam a configurar o campo de saber psicológico;
Compromisso com as elites

 A medicina social (através da política de higienização da população) tratava


os problemas sociais a partir da lógica da moralidade;

 As práticas psicológicas eram (e ainda são) fortemente utilizadas para


categorizar, hierarquizar e diferenciar os indivíduos: normatização x exclusão;
 Art. 13. (Lei nº 4119/62)
 § 1º Constitui função privativa do Psicólogo e utilização de métodos e técnicas
psicológicas com os seguintes objetivos:
a) diagnóstico psicológico;
b) orientação e seleção profissional;
c) orientação psicopedagógica;
d) solução de problemas de ajustamento.
(Bock, 2003)
Compromisso com as elites
 Neste sentido, a Psicologia se institui na sociedade brasileira como uma
profissão corretiva, estando associada a patologias, desvios, desajustes,
conflitos, e não à promoção de saúde e qualidade de vida (Bock, 2003);

 Ainda, uma perspectiva naturalizante do desenvolvimento humano e psíquico


afastou a psicologia das preocupações sociais e de um projeto transformação
social (Bock, 2003);

 Nessa dicotomização com o social, houve um processo de despolitização das


práticas psicológicas, a partir da ideia de que psicologia e política não se
misturam (Benevides, 2000):

 Toma-se o sujeito então como abstrato e alienado de seu contexto social


Compromisso com as elites
 Diferenciação entre mundo subjetivo e mundo objetivo:

 Ideia de sujeito universal, em que as etapas do desenvolvimento biológico e


psíquico seriam também universais e teriam um caminho normal a ser seguido

 Concepção de sujeitos responsáveis por seu próprio desenvolvimento

 Isenção de responsabilidade das instituições sociais sobre os modos de produção de


subjetividades, de sobrevivência e de sofrimento psíquico (Bock, 2003)

 A subjetividade não é indiferente às contingências da vida, ou seja, ao mundo


real, objetivo.

 A cultura influencia as formas de pensar, sentir e agir (Chaves, 2000)

 Os processos cognitivos são frutos de interações sociais (Toren, 2012)


Compromisso social
 Há aproximadamente 20 anos alguns psicólogos vem questionando suas práticas
e defendendo a necessidade do compromisso social da Psicologia (Bock, 2003)

 Mudança no perfil de trabalho dos psicólogos, devido à abertura de novos locais de


atuação, principalmente no campo das políticas pública (saúde, assistência social,
jurídica, bem-estar social etc.) (Yamamoto, 2003)

 Inserção social da profissão = compromisso social?

 Se pensarmos que a inserção nestes novos campos está ligada a uma conjuntura
histórica específica – de fortalecimento da cidadania a partir da garantia dos
direitos básicos assegurados pela Constituição Federal – será que teríamos
repensado e modificado nossas práticas se a conjuntura política tivesse se
mantido neoliberal, com um Estado mínimo?
Articulação com áreas afins: saúde

 No plano da saúde, como romper com essa tradição da psicologia assentada


na dicotomia subjetivo x político?

 Separação também no plano da clínica: individual x das populações, e da


saúde: clínica particular x saúde coletiva;

 Assim, como fortalecer práticas profissionais que se co-responsabilizem com a


saúde de cada um e com a saúde de todos, sem separá-las?

 Dimensão da experiência coletiva como gestora dos processos singulares 


nosso modo de fazer política (de saúde) pode nos adoecer ou nos fortalecer

(Benevides, 2005)
Articulação com áreas afins: saúde

 Neste sentido, o SUS, além de ser uma nova política de saúde, é também um
novo modo de a saúde produzir subjetividades;

 O conceito de saúde é algo forjado e maleável, estando intimamente ligado


aos processos históricos e políticos  exemplo: no início do século XIX, o
conceito de saúde não estava ligado à ausência de doença, mas ao controle
das populações sobre as questões sanitárias

(Guareschi et al, 2005)


Articulação com áreas afins: saúde

 Art. 13. (Lei nº 4119/62)

 § 2º É da competência do Psicólogo a colaboração em assuntos psicológicos ligados


a outras ciências.

 As áreas do conhecimento sobre o comportamento são complementares. A


pesquisa psicológica deve recorrer a outras áreas para estabelecer seu objeto
de estudo (Chaves, 2000);

 Assim, a psicologia recorre a conhecimentos da antropologia, da sociologia,


da história, da linguística, sem se reduzir a nenhum deles  arbitrariedade
dos limites divisórios das áreas do conhecimento (Chaves, 2000)
Compromisso social e
Formação profissional
 A questão do compromisso social não reside em com quem se está trabalhando,
mas na forma deste compromisso  exemplo: a psicoterapia;

 Desafio: ampliar os limites da dimensão política de atuação profissional


(Yamamoto, 2003);

 O psicólogo, então, é o elemento principal da discussão do compromisso social,


visto que é ele quem tanto produz quanto aplica os conhecimentos produzidos
em sua atuação (Martinez, 2003);
Compromisso social e
Formação profissional
 Assim, é importante atentar não só para a formação profissional do psicólogo,
mas também para sua formação pessoal;

 Nossa formação, ainda é essencialmente conteudista e centrada na


transmissão do conhecimento, com pouco desenvolvimento de habilidades
necessárias à profissão;

 Necessitamos de uma formação que favoreça a capacidade de reflexão e


problematização personalizadas, olhar crítico e reflexivo sobre a realidade
social.
(Martinez, 2003)
Referências
BENEVIDES, R. A Psicologia e o Sistema Único de Saude: quais interfaces?
Psicologia & Sociedade; 17 (2): 21-25; mai/ago.2005.
BOCK, A. (org.) Psicologia e Compromisso Social. São Paulo: Cortez, 2003.
CHAVES, A. O fenômeno psicológico como objeto de estudo transdisciplinar
Psicol. Reflex. Crit. V. 13 n.1 Porto Alegre 2000. COELHO, MT. & ALMEIDA-
FILHO, N. Conceitos de saúde em discursos contemporâneos de referência
cientifica. História, Ciências e Saúde, Marnguinhos: Rio de Janeiro. Vol.9 (2):315-
33, maio-ago,2002.
JACO-VILELA, A FERREIRA, A.; PORTUGAL. F. (org.) Historia da Psicologia: rumos e
percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2008
MEDEIROS, P; BERNADES, A. GUARESCHI, N. O conceito de saúde e suas
implicações nas práticas psicológicas. Psicologia: Teoria e Pesquisa. V. 21, n.3.
BRASILIA, SET/DEZ, 2005.
TOREN, Christina. Antropologia e Psicologia. Traduzido por Andre Villalobos. Ver.
Brás. Ci. Soc. [online]. 2012, vol.27, n.80, PP.21-36. ISSN 0102-6909.

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