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Ideias básicas

sobre a eutanásia
(Temas/problemas da cultura
científico-tecnológica)
Introdução ao problema
 O filme Mar Adentro é baseado na história real de Ramón Sampedro, um
tetraplégico que está preso a uma cama há trinta anos. A sua única janela para o mundo
é a do seu quarto, perto do mar, mar em que tanto viajou mas também onde teve o
acidente que lhe roubou a juventude e a vida. Desde então que Ramón luta pelo direito
a pôr termo à vida dignamente, luta pelo direito à eutanásia.
Introdução ao problema
No início deste filme Ramón explica à sua advogada Julia por que razão pretende que o
ajudem a morrer:

Julia: Ramón, porquê morrer?

Ramón: Bem, quero morrer porque a vida para mim neste estado, não vale a pena. Percebo que
outros tetraplégicos poderão sentir-se ofendidos quando digo que a vida assim não é digna. Mas eu
não julgo ninguém. Quem sou eu para julgar aqueles que querem viver? É por isso que peço para
não ser julgado nem a pessoa que me ajudar a morrer.

Julia: E crê que alguém te vai ajudar?


Introdução ao problema
(Continuação)

Ramón: Bem, isso dependerá dos que tomam as decisões. Se conseguirem conquistar os seus
receios. Não é muito difícil. A morte sempre existiu e sempre existirá. Afinal, toca-nos a todos. A
todos. Faz parte de nós. Por que ficam escandalizados quando eu digo que quero morrer? Como
se fosse contagioso…

Julia: Se finalmente formos a tribunal, irão te perguntar porque não procura alternativas para a
sua incapacidade. Por exemplo, por que rejeitas a cadeira de rodas?

Ramón: Porque aceitar a cadeira de rodas seria como aceitar migalhas do que foi a minha
liberdade. Veja isto... você está aí sentada, a menos de dois metros. O que são dois metros? Uma
viagem insignificante para qualquer ser humano. Bem, para mim, esses dois metros, necessários
para poder chegar até você e poder te tocar, é uma viagem impossível... uma quimera, é um
sonho. É por isso que quero morrer.
Atividade inicial

1. Ramón ao longo do filme apresenta algumas razões para que o ajudam a morrer
com dignidade. Consideras que essas são boas razões? Porquê?

2. Será que o suicídio assistido e a eutanásia são moralmente permissíveis e


devem ser legalizados? Porquê?
O problema moral da eutanásia
 Será moralmente permissível que os indivíduos, especificamente os doentes
terminais com dores e sofrimento (físico e emocional) insuportáveis, acabem com as
suas vidas?

 Se a resposta for positiva, será aceitável que o façam apenas recusando o


tratamento médico que sustenta as suas vidas ou tomando medidas ativas para se
matarem?

 Se for permissível tomarem medidas ativas para se matarem, será moralmente


aceitável pedirem a outros (por exemplo, aos médicos) para os auxiliarem na
concretização dessa ação?

 Será moralmente aceitável aceder a esse pedido?


Definição e delimitação do problema

O que é a eutanásia?
 Pode caracterizar-se a eutanásia dizendo que é o ato de matar ou de deixar morrer
que satisfaz simultaneamente duas condições:

1. O ato deve beneficiar ou ser bom para o indivíduo que morre.


2. O agente deve estar motivado a fazer aquilo que é bom para o indivíduo
em questão e deve ter a intenção de beneficiá-lo ao provocar a sua morte.
Tipos de eutanásia

Três tipos de eutanásia:

 Eutanásia voluntária: a pessoa pede para ser morta, consente em ser morta, ou ainda,
pede autorização para morrer, de maneira livre e autónoma, visando o seu próprio bem.

 Eutanásia não-voluntária: não é possível que o indivíduo que é morto, ou que é


autorizado a morrer, dê ou recuse o seu consentimento.

 Eutanásia involuntária: o indivíduo que é competente para dar ou para recusar o seu
consentimento é morto, ou é autorizado a morrer, de maneira contrária à sua vontade
expressa, ou sem que o seu consentimento tenha sido solicitado.
Tipos de eutanásia

Estes tipos de eutanásia pode ser realizado


de forma ativa ou passiva:

 Será eutanásia ativa caso se provoque a


morte, por exemplo através da administração de
substâncias letais.

 Será eutanásia passiva se o ato consistir em


deixar um indivíduo morrer, por exemplo através
da suspensão de tratamentos que prolongariam a
sua vida.
Argumentos a favor da eutanásia

Argumento do suicídio à eutanásia (McMahan)


(1) Se a dor e o sofrimento são maus em si mesmos, então uma vida que
contenha nada mais além de dor e sofrimento, e que não seja equilibrada
por bens compensatórios, não é digna de se viver.
(2) Se uma tal vida não é digna de se viver e se a morte de um tal
indivíduo não for pior para os demais, então pode ser racional e
moralmente permissível que ele cometa suicídio.
(3) Se for racional e moralmente permissível para um indivíduo cometer
suicídio, então o suicídio assistido é desejável.
(4) Há casos em que é racional e moralmente permissível para uma
pessoa cometer suicídio.
(5) Logo, há casos em que o suicídio assistido é desejável.
Argumentos a favor da eutanásia

Argumento do suicídio à eutanásia (McMahan)


(6) Se aceitarmos a permissibilidade do suicídio racional e se aceitarmos a
permissibilidade do suicídio assistido (em certas circunstâncias), então
estamos a reconhecer que as pessoas têm o direito de morrer quando a
vida se tiver tornado um fardo insuportável e quando a continuação da
vida não for exigida por consideração aos demais.
(7) Porém, se rejeitarmos que a eutanásia ativa é permissível, então
estamos, de facto, a negar esse direito de morrer àqueles que são tão
incapacitados que não podem pôr fim à vida, mesmo com alguma ajuda
de outras pessoas.
(8) Ora, uma tal atitude de negar direitos a esses indivíduos é absurda.
(9) Logo, a eutanásia ativa é permissível.
Argumentos a favor da eutanásia

Argumento da preferência da eutanásia ativa à passiva:

 A partir da distinção fazer/permitir, McMahan defende que beneficiar alguém de forma


ativa deve, em princípio, ser melhor do que apenas permitir que alguém seja beneficiado.

 Como nos casos de eutanásia o resultado é, em geral, benéfico e não prejudicial, e se é


melhor beneficiar um indivíduo do que permitir que seja beneficiado, então segue-se que a
eutanásia ativa é melhor do que a eutanásia passiva.
Argumentos contra da eutanásia

Argumento do direito inalienável à vida:

 Oderberg defende que o direito de um indivíduo à sua vida


particular é inalienável porque, se alienar esse seu direito, o indivíduo
não o poderá exercitar novamente, ou seja, tal alienação seria
permanente e o direito não poderia ser reassumido. Pelo contrário, o
direito a uma certa propriedade é alienável, pois é possível ao
indivíduo reaver ou substituir essa propriedade.

 Além disso, uma autonomia (corretamente entendida) não escolhe


a morte mas a vida.
Argumentos a favor da eutanásia

Argumento do declive escorregadio: se legalizarmos a eutanásia voluntária,


temos de legalizar a eutanásia involuntária.

(1) Se temos razões para legalizar a eutanásia voluntária e para rejeitar a eutanásia
involuntária, então as considerações sobre a autonomia (entendida como soberania da
vontade) são eticamente relevantes para o debate da eutanásia.

(2) Mas é falso que as considerações sobre a autonomia (entendida como soberania da
vontade) são eticamente relevantes para o debate da eutanásia.

(3) Logo, não temos razões para legalizar a eutanásia voluntária e para rejeitar a
eutanásia involuntária.

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