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Caesalpinia ferrea 

C. Mart.
Pau-ferro

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Libidibia_ferrea
Caracterização botânica

• Subfamília Caesalpinioideae

• Família Fabaceae

• Caesalpinia ferrea C. Mart – sinônimo

• Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P. Queiroz var. ferrea

atual nome formal (não resolvido – The Plant List)

• Nomes populares: Pau-ferro, jucá (região amazônica)

• “Pau-ferro” alta densidade da madeira – ruído metálico ao ser cortada

• Jucá – Tupi “yuca“ – matar -> madeira usada para confeccionar tacape
(arma de ataque indígena)

(Nascimento et al., 1996; Machado,2018)


Caracterização botânica

• Árvore – altura – 5-20m

• Tronco cilíndrico, liso com casca acinzentada e


descamante - 50-80cm diâmetro

• Folhas compostas bipinadas (4 a 7 pinas),


folíolulos ovalados dispostos em até 6 pares –
verde escura

(Galdino et al., 2007; Medeiros et al., 2015; Machado, 2018; )


Caracterização botânica

• Inflorescências panícula – flores diclamídeas,


zigomorfas, hermafroditas, pétalas amarelas, formato
obovado e manchas avermelhadas

• Frutos – vagens achatadas – imaturas: cor verde e


maduras: coloração castanha

• Sementes – forma obovadas, padrão coloração


semelhantes aos frutos

• Floração – final novembro e se estende até janeiro

• Amadurecimento frutos compreende meses julho a


agosto

(Lorenzi, 2002; Zaia, 2004; Galdino et al., 2007; Bragante et al., 2018)
Distribuição geográfica

• Nativa do Brasil - Bolívia

• Região Nordeste, Norte, Sudeste e Centro-Oeste

• Domínios fitogeográficos – Cerrado, Caatinga e Mata


Atlântica

(http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/listaBrasil/ConsultaPublica)
Aspectos agronômicos

• Propagação – sementes

elevado grau dormência -> impermeabilidade do tegumento tecidual ->


necessários tratamentos de escarificação química (ácido sulfúrico) por
cerca de 10min para obter germinação

• Cultivo sol pleno; Porém, melhor desempenho quando cultivadas sob


50% de sombreamento (Lenhard et al., 2013)

• Irrigação diária 2x

• Exigente de água – mudas de C. ferrea em condições estresse hídrico:


redução significativa na altura e nº de folhas, indicando que restrição na
oferta de água prejudica desenvolvimento de suas características
morfológicas e fisiológicas (Lenhard et al., 2010; Ferreira et al., 2015)

(Lorenzi, 2002; Matos et al., 2015)


Aspectos agronômicos

• Inoculação de mudas com fungos micorrízicos


arbusculares (Claroideoglomus etunicatum)
aumentou a produção de ácido gálico (um dos
principais compostos) em folhas de Libidibia
ferrea em 21% comparadas ao grupo controle
Composição química

Ácido gálico, ácido elágico

(Macêdo et al., 2020)


Composição química

(Macêdo et al., 2020)


Indicações populares

• Cascas do caule – farmacógeno mais comum medicina tradicional: decocção, p/ xaropes e garrafadas tratamento:
gripes, tosses, inflamação renal e hepática, ansiolítico, reumatismo, diabetes, hemorragias, inflamações, infecções
e dores gerais
• Comunidades tradicionais norte (povos ribeirinhos e catadores de borracha na região amazônica) -> cascas –
combater os sintomas da malária
• Fruto (parte mais utilizada depois das cascas) – chás, garrafadas e macerados: diarreia, problemas hepáticos e
renais, dores (garganta, pernas, coluna e dente), inflamação uterina, anemia, gastrite e infecção urinária e
cicatrização
• Folhas – chás: tratamento vermífugo e infecções e inflamações em geral
• A casca (junto de raízes, folhas, frutos e sementes): sífilis, câncer, depurativo, gastrite, dor de estômago,
reumatismo, cicatrização, fraturas ósseas, dores de cabeça, distúrbios do sist. respiratório, febre, diarreia,
ansiolítico, problemas de visão, anti-inflamatórios, analgésicos, hematomas, anemia, cólicas, e agitação
• Chá de sementes – tratamento de gripes e tosses

(Macêdo et al., 2020)


Indicações populares

(Macêdo et al., 2020)


Indicações populares

(Macêdo et al., 2020)


Usos fármaco-terapêuticos comprovados

• Estudo pré-clínico em caprinos – investigar os efeitos

C. ferrea feridas cutâneas. Feridas tratadas com

pomada apresentaram cicatrização mais precoce e

menor crescimento bacteriano do que do grupo

controle.
Usos fármaco-terapêuticos comprovados
Usos fármaco-terapêuticos comprovados .

• Extrato aquoso (EACf) Avaliar atividade hipoglicêmica


infusão cascas do caule + em ratos com diabetes induzida
por estreptozocina
água destilada em ebulição

• Identificação dos Metabólitos Secundários


Cromatografia em camada delgada
• Secagem por atomização
• Quantificação principais constituintes
(MSD 1.0 Labmaq Spray Dryer)
Espectrometria no ultravioleta e
Extrato seco por spray (SDE) Cromatografia liquida de alta eficiência
Usos fármaco-terapêuticos comprovados

• Identificação química (Cromatografia


camada delgada)

taninos condensados – catequinas


e taninos hidrolisados – ac. gálico e elágico

• Principais marcadores fitoquímicos


(Espectrometria no ultravioleta e Cromatografia
liquida de alta eficiência)

ácido gálico, ácido elágico, catequina e


epicatequina
Usos fármaco-terapêuticos comprovados .

• Grupo 1 – Controle não diabéticos (NDC)


• Grupo 2 – Controle ratos diabéticos tratados com veiculo
(água) (DC)
• Indução de diabetes • Grupo 3 – ratos diabéticos tratados com metformina
experimental em ratos 500mg/kg/dia (MTD)
Estreptozotocina (STZ)
• Grupo 4 – ratos diabéticos tratados com EACf doses 300
mg/kg/dia(Cf300)

• Animais divididos • Grupo 5 – ratos diabéticos tratados EACf doses


aleatoriamente em 5 450mg/kg/dia (Cf450)
grupos (n=7)
• Tratamentos via oral diariamente - dose única - 4 semanas
• Registro jejum de glicose e peso corporal – semanalmente
• Registro Ingestão alimento (proteína e vitaminas) e água –
diariamente
Usos fármaco-terapêuticos comprovados

Efeito tratamento EACf sobre glicemia de jejum

• Administração EACf 300 e 450 mg/kg/dia


reduções significativas níveis de glicose sangue
em mais de 50% na 1º semana de tratamento
quando comparados com DC e MTD.
• final tratamento - redução de 70 e 79,5%,
respectivamente em relação ao DC
Usos fármaco-terapêuticos comprovados

Efeito tratamento com EACf ganho de massa corporal,


ingestão alimentar e hídrica
• Ao longo do estudo ganho de massa corporal
Cf450mg significativamente maior que o restante.
Cf300mg não apresentou diferença estatística

• Redução significativa ingestão de alimentos


Cf450mg - 1º semana até final tratamento quando
comparado com DC. Redução significativa em relação
MTD - 3º semana.
Cf300mg - redução da ingestão alimentar apenas 1º e
3º semanas quando comparado com DC.
Usos fármaco-terapêuticos comprovados

Polidipsia – Significativamente menor Cf450mg na 1º


semana tratamento em comparação com DC.
Semanas seguintes - redução também foi significativa
para MTD.
O grupo Cf300mg apresentou reduções significativas a
partir da 2º semana apenas em comparação com o DC.
.
Dose Cf450mg mais eficaz durante o tratamento
selecionada para estudos posteriores
Usos fármaco-terapêuticos comprovados

Teste tolerância a glicose Efeito do EACf na tolerância a glicose


• 25º dia tratamento - animais todos grupos • Cf450mg apresentou diminuição significativa
jejuaram 12h. glicemia 30 min após administração quando
• Glicemia de jejum medida e definida como tempo 0
comparada aos outros grupos
• Receberam tratamento via oral e após 30 min todos • Reduções de 70, 69, 76 e 80% foram observadas
receberam carga oral de d-glicose. nos níveis glicêmicos desse grupo em 30, 60, 120
• Níveis de glicose sangue medidos 30, 60, 120 e 150
e 150 min, quando comparados ao CD.
min após a administração de glicose.
Usos fármaco-terapêuticos comprovados

Principais compostos
EACf – taninos condensados ​(catequinas) e taninos
hidrolisáveis ​(ac. gálico e elágico)

Redução níveis de glicose sangue não pode ser


atribuída aos taninos hidrolisáveis:

Ueda et al. (2004) demonstraram que ac. elágico do


fruto da C. ferrea não reduz a glicemia de animais
diabéticos - apenas inibe a aldose redutase -
minimizando as complicações do diabetes

• Organismos não insulino-sensíveis – glicose metabolizada via


dos polióis em sorbitol -> aldose redutase
• acúmulo de sorbitol intracelular –> diminuição compensatória
de mioinositol -> neurônios ratos diabéticos a diminuição do
mioinositol associa-se a menor atividade da Na-K-Atpase
Ácido elágico (bomba de sódio e potássio) e diminuição da condução
nervosa
(Schimid, 2007)
Usos fármaco-terapêuticos
comprovados

Porém, catequinas presentes EA flor de Eugenia operculata


reduziram glicose de jejum em ratos diabéticos após 8
semanas de tratamento (Mai e Chuyen, 2007).

Catequinas e derivados – conhecidos por propriedades


hipoglicêmicas e atuam no controle do diabetes (Kao et al.,
2000).

Razoável inferir que catequinas poderiam ser responsáveis ​


efeito hipoglicemiante no estudo.

catequina
(Senger et al., 2010)
Usos fármaco-terapêuticos comprovados

• Objetivo entender como EACf exerce ação hipoglicêmica – investigaram


mecanismos moleculares envolvidos sinalização de Akt (proteína quinase
B), AMPK (proteína quinase ativada por adenosina monofosfato) e acetil-
CoA carboxilase (ACC)
• Após coleta sangue – animais sacrificados - Fígado, tecido adiposo
epididimal, músculo sóleo e extensor longo dos dedos removidos e
pesados individualmente e passados por método Western blot.
Usos fármaco-terapêuticos comprovados

Músculo sóleo ratos Cf450mg comparado a DC


• aumento 52% expressão P-Akt
• reduções 20% e 40% em P-AMPK e P-ACC

Fígado ratos Cf450mg comparado a DC.


Músculo • aumento 41% para P-Akt
• sem diferença estatística na expressão de P-AMPK, embora
tenha havido redução de 20% de P-ACC em relação a DC.
Ambos resultados sugerem aumento da captação de glicose.

Ativação Akt – proteína quinase B


necessária na captação da glicose e regulação síntese de glicogênio
em músculo, adipócitos, fígado e inibição da gliconeogênese.
Ativação provavelmente associada à presença de catequinas.

AMPK– proteína quinase ativada por adenosina monofosfato


Fígado Via para transporte de glicose independente da via Akt
Ela induz cascata de eventos intracelulares em resposta a mudança
de carga energética celular. Sua função no metabolismo é manter a
homeostasia energética.
Ou seja, visto que a Akt foi associada ao aumento da captação da
glicose nos ratos Cf450mg, baixa ocorrência da AMPK como
compensação
Usos fármaco-terapêuticos comprovados

Conclusão: Os resultados indicam que o extrato aquoso da casca


do caule de Caesalpinia ferrea possui propriedades
hipoglicemiantes e possivelmente atua regulando a captação de
glicose no fígado e músculos por meio da ativação da Akt,
restaurando o balanço energético intracelular confirmado pela
inibição da ativação da AMPK.
Considerações finais

• Em relação as catequinas – necessidade de estudos mais esclarecedores sobre os mecanismos de


ação, visto que de modo geral os artigos propõem sua provável relação com a atividade
hipoglecimiante
• Desafios – sistemática vegetal: autores não mencionam a variedade utilizada no estudo -
espécies diferentes?
Dados de distribuição diferem entre as variedades de Libidibia ferrea
• Amplo e antigo uso popular de diversas espécies medicinais no tratamento da diabetes, em
especial Brasil
Referências bibliográficas

• Bragante, R.B.; Hell, A.F.; Paulo, J.P.; Silva, N.D.C.; Centeno, R.D.C.L.; Figueiredo-Ribeiro, C.J.B. Physiological and metabolic responses of
immature and mature seeds of Libidibia ferrea ((Mart. ex Tul.) L.P Queiroz) under contrasting storage temperatures. Braz. J. Bot. 2018, 41,
43–55.
• Lenhard, N. R., Paiva Neto, V. B. D., Scalon, S. D. P. Q., & Alvarenga, A. A. D. (2013). Crescimento de mudas de pau-ferro sob diferentes níveis
de sombreamento. Pesquisa Agropecuária Tropical, 43, 178-186.
• Matos, A.C.B.; Ataíde, G.M.; Borges, E.E.L. Physiological, physical, and morpho-anatomical changes in Libidibia ferrea ((Mart. ex Tul.) L.P.
Queiroz) seeds after overcoming dormancy. J. Seed Sci. 2015, 37, 26–32.
• Medeiros, J.G.F.; Araújo-Neto, A.C.; Silva, E.C.; Huang, M.-F.N.; Nascimento, L.C. Qualidade Sanitária de Semente de Caesalpinia ferrea:
Incidência de Fungos, Controle e Efeitos na Qualidade Fisiológica com o Uso de Extratos Vegetais. Rev. Floresta 2015, 45, 163–174.
• Oliveira, F.G.; Fernando, E.M.P. 2020. Libidibia in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Available at:
<http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB109828>. Accessed on: 28 Apr. 2021
• Senger, A. E., Schwanke, C. H., & Gottlieb, M. G. (2010). Green tea (Camellia sinensis) and its functionals properties on transmissible chronic
diseases [Abstract in English]. Scientia Medica, 20(4), 292-300.
• Zaia, H.A.B.A. Desenvolvimento floral de C. echinata Lam, C. peltophoroides Benth e C. férrea Var. leyotachia Benth (Fabaceae/
Caesalpinoideae). 2004, 53 f. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz". Universidade de São Paulo,
Piracicaba, 2004.
Obrigada!

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