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DEMOCRACI

A RACIAL
A ideologia, o pacto e o
mito
Raça e Imigração em São Paulo
Imigração europeia

■ Os fazendeiros brasileiros pretendiam utilizar a


mão de obra estrangeiro como um meio de
diminuir o poder de barganha dos trabalhadores
brasileiros.
■ Por outro lado, faziam o discurso de que
trabalhadores eram melhor preparados do que os
brasileiros negros e mulatos.
■ 2 milhões de imigrantes vêm para Brasil.
■ As questão racial marcam as relação entre negros e
imigrantes em SP.
Repensando o lugar da
população negra na história
■ O historiador George Andrews, mobilizando o
argumentos de historiadores, demonstra que os
negros não produziam menos que os imigrantes
■ Grande parte dos imigrantes vinham de áreas
rurais e não tinham experiência de trabalho na
indústria.
■ As famílias negras não eram desestruturadas, se
comparada às famílias de imigrantes.
■ As lideranças do operariado na cidade, por exemplo,
tentam superar os antagonismos, mas sem sucesso.
■ Se há na imprensa operária textos dedicados a unir
trabalhadores, há também elementos racistas que
justificam a inferioridades dos trabalhadores nacionais
não brancos.
■ O trabalho doméstico foi o refúgio dos trabalhadores
negros, concentrando sobretudo as mulheres.
■ Os homens fizeram trabalhos braçais fora da indústria,
como carregadores na estação de trem.
■ A modernização, seguindo rigidamente as referências
europeias, principalmente as francesas, varreram a
população negras da região central.
Identidade Nacional

■ As culturas nacionais são compostas não apenas por instituições culturais, mas também
de símbolos e representações. Uma cultura nacional é um discurso – um modo de
construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que
temos de nós mesmo.
■ As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nação, sentidos com o quais
podemos nos identificar, constroem identidades. Esses sentidos são contidos nas
histórias que são contadas sobre a nação... (Stuart Hall)
Von Martius
■ Uma das primeiras atividades do IHGB foi a realização de um concurso para avaliar a
melhor proposta de pesquisa e divulgação da história do Brasil, quando saiu vitorioso o
opúsculo Como se deve escrever a história do Brasil, redigido por Carl Friedrich Philippe
von Martius.
■ O ponto de vista do autor era absolutamente claro em frisar a ligação entre historiadores,
historiografia e Estado. Para ele, o historiador deveria estar a serviço da pátria, e, em termos
de Brasil, isso significava escrever a história como um "historiador monárquico-
constitucional", evitando tanto uma "história-crônica", composta por uma multidão de fatos
estéreis, quanto uma história por demais "erudita". Afinal, o objetivo da história era atingir o
"povo", com uma linguagem "popular" e "nobre".
■ Além dessas prescrições, von Martius salientou que o traço realmente distintivo do
Brasil era o encontro de três raças (africanos, europeus e ameríndios).  A história
brasileira deveria ser a história desse encontro, do processo de formação de uma
população mestiça e do aperfeiçoamento dessa gente por meio da liderança civilizadora
do branco.
Discurso da ■ Em meio ao processo de abolição da
escravatura, abolicionistas como Joaquim

harmonia Nabuco, e alguns intelectuais, reforçavam


o caráter fraterno das relações raciais no
Brasil em comparação com os Estados
racial no Unidos. A Guerra Civil (1861) foi
consequência de posições diferentes em
abolicionismo torno da escravidão no país.
Discurso da Harmonia Racial

■ A escravidão não há de ser suprimida no Brasil por uma guerra servil, muito menos por
insurreições ou atentados locais. Não deve sê-lo, tampouco, por uma guerra civil,
como o foi nos Estados Unidos. Ela poderia desaparecer, talvez, depois de uma
revolução, como aconteceu na França, sendo essa revolução obra exclusiva da
população
livre. É no Parlamento e não em fazendas ou quilombos do interior, nem nas ruas e
praças das cidades, que se há de ganhar, ou perder, a causa da liberdade.

■ NABUCO, J. O abolicionismo (1883). Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 


São Paulo: Publifolha, 2000 (adaptado).
Democracia racial e ativismo negro

■ É justamente em torno da utopia de uma segunda Abolição, na qual se


realizaria plenamente a democracia racial, que se dá a mobilização política
dos negros. É preciso que se note no emprego desse termo, especialmente
por parte dos negros, a ambigüidade de um valor adjetivado: falar em
democracia racial significava o direito pleno a algo não materializado.
■ Por um lado, o valor declarado significava um direito que se poderia reivindicar
a todo momento, e nisso residia seu lado progressista; por outro, o não estar
materializado poderia ser interpretado como opinião subjetiva e não como
fato, e nisso esteve sempre o seu aspecto conservador. Portanto, ao lado do
consenso sobre a democracia racial havia diferenças entre a intelectualidade
negra rebelde e o establishment cultural da Segunda República.
BRASIL NA VISÃO DOS NORTE-
AMERICANOS

Consolidação ■ Em 1923, o jornalista Robert Abbott
visitou o Brasil para testemunhar as

do Brasil relações raciais harmoniosas do país. Para


ele, assim como boa parte da militância
afro-americana, a ausência da segregação
enquanto racial já era suficiente para demonstrar a
singularidade da sociedade brasileira.
Paraiso Racial ■ O jornal editado por Abbott, o Chicago
no exterior Defender, difundiu o Brasil durante a
década de 1930 como um paraíso racial
na América Latina.
PRESIDENTE
NEGRO
Nilo peçanha foi retratado como o primeiro
president negro do Brasil nos Estados Unidos,
principalmente no jornal Chicago Defender de
Robert Abbott
Ascensão de uma Raça Cósmica na
América Latina
■ José Vasconcelos, aos longo da década de 1920, criou a teoria de que a América Latina
surgiria uma quinta raça proveniente de quatro já existentes (Vermelha, Amarela, Negra
e Branca).
■ O intelectual mexicano questionava a forte presença norte-americana na América
Central e ideia de supremacia branca nos EUA.
Casa Grande & Senzala – Gilberto Freyre
Ideias de
■ Um dos primeiros pensadores latino americanos
a romper com as noções evolucionistas e racistas,
que foram predominantes em toda a América
Freyre Latina no século XIX, foi o pernambucano
Gilberto Freyre, que dará em suas obras um novo
enfoque à questão da miscigenação.
■ Rompendo com a noção de raça, Freyre buscará
uma visão positiva, trabalhando com o conceito
de mestiçagem. Dentro da perspectiva de Freyre,
na formação da cultura nacional brasileira índios,
negros e brancos tiveram uma participação
igualitária no processo histórico de criação da
nação.
Freyre nos
Estados Unidos

■ No Texas Freyre vivenciou algumas


experiências que marcaram as opções
teóricas e seu caminho intelectual no futuro.
O sul dos Estados Unidos era e ainda é uma
região marcada por conflitos raciais.
■ Na volta de uma viagem de estudos a Dallas,
ao passar por uma pequena cidade Freyre
presenciou o linchamento de um negro,
conforme ele relata em seu diário de
mocidade
Democracia Racial enquanto pacto
político
■ Entre 1930 e 1964, vigeu no Brasil o que os cientistas políticos chamam
de "pacto populista" ou "pacto nacional-desenvolvimentista", sob o qual os
negros brasileiros foram inteiramente integrados à nação brasileira, em
termos simbólicos, por meio da adoção de uma cultura nacional mestiça ou
sincrética, e em termos materiais, pelo menos parcialmente, por meio da
regulamentação do mercado de trabalho e da seguridade social urbanos,
revertendo o quadro de exclusão e descompromisso patrocinado pela
Primeira República.
■ Nesse período o movimento negro organizado concentrou-se na luta contra o preconceito
racial, mediante uma política eminentemente universalista de integração social do negro à
sociedade moderna, que
tinha a "democracia racial" brasileira como um ideal a ser atingido
Cultura Negra incorporada à
Identidade Nacional
■ Com a ascensão de Getúlio Vargas, surge um
projeto nacional distinto de propostas anteriores de
embranquecimento e europeização da sociedade
brasileira.
■ Parte da reconstrução da identidade nacional tem
influencia de correntes do modernismo brasileiro
que procuraram inspiração na cultura popular
brasileira para forjar um caráter nacional
brasileiro, grande parte dele de origem africana.
Mãe menininha teve papel importante na valorização do
candomblé,
contribuindo para a ascensão do religião afro-brasileira como
elemento
da cultura nacional.
Nacionalização e
institucionalização da cultura
negra
■ As escolas de samba do Rio de Janeiro se transformarão,
nesse contexto, em meios difusores da cultura nacional a
partir da exploração de temas variados da cultura brasileira.
Este é o momento de institucionalização do carnaval,
com investimento público nas principais organizações
carnavalescas.
■ Em Salvador há a preocupação de políticos locais de
transformar e “adestrar” a cultura negra para criação de uma
agenda turística para a cidade.
■ As duas cidades se transformaram em espaços privilegiados
de representação da identidade nacional brasileira.
FUTEBOL E
IDENTIDAD
E
■ Depois de se tornar campeão
mundial, o Brasil passou a se
apresentar como o país do
futebol, depois de reiventá-lo
através das habilidades
individuais de seus jogadores.
A “subversão” brasileira foi
representada como produto da
miscigenação brasileira.
Democracia racial enquanto ideologia
■ "Nós brasileiros, dizia-nos um branco, temos preconceito de não ter
preconceito. E esse simples fato basta para mostrar a que ponto está
arraigado no nosso meio racial". Muitas respostas negativas explicam-se por esse
preconceito de ausência de preconceito, por essa fidelidade
do Brasil ao seu ideal de democracia racial (Florestan Fernandes)
Mudanças na década de 1970

■ [Abdias] não fala mais em uma "segunda Abolição" e situa os


segmentos negros e mulatos da população brasileira como estoques
africanos com tradições culturais e um destino histórico peculiares.
■ Em suma, pela primeira vez surge a idéia do que deve ser uma
sociedade plurirracial como democracia: ou ela é democrática para
todas as raças e lhes confere igualdade econômica, social e cultural,
ou não existe uma sociedade plurirracial democrática
Os limites da democracia racial

■ Na segunda metade da década de 1970, organizações negras, ainda sob o Regime


Militar, se reorganizam com uma nova agenda.
■ Enquanto africanos e afro-americanos lutavam contra o imperialismo e a supremacia
racial nos Estados Unidos, os negros no Brasil, formados por um grupo de ascendentes
(classe média), passam a questionar os limites da Democracia Racial Brasileira.
Centenário da Abolição

■ Em 1988, com a celebração do centenário da


Abolição, militantes negros reforçam o
questionamento da vocação do Brasil para acomodar
harmonicamente diferentes “grupos raciais”. A
Democracia Racial, ao invés de promover igualdade,
tinha um caráter conservador de desmobilização da
ativismo negro.
■ A imagem da Princesa Isabel enquanto libertadora foi
questionada, alguns apontaram o “abandono” da
população negra no período pós-abolição e aposta na
política de imigração como fracasso do Brasil na
inclusão dos negros.
Democracia Racial enquanto mito

■ ... nem por isso precisamos descartar a "democracia racial" como


ideologia falsa. Como mito, no sentido em que os antropólogos empregam o
termo, é um conjunto de idéias e valores poderosos que fazem
com que o Brasil seja o Brasil, para aproveitar a expressão de Roberto
DaMatta
■ ... tomando os termos de Lévi-Strauss, poderíamos dizer que o mito se
"extenua sem por isso desaparecer". Ou seja, a oportunidade do mito se
mantém para além de sua desconstrução racional, o que faz com que,
mesmo reconhecendo a existência do preconceito, no Brasil, a idéia de
harmonia racial se imponha aos dados e à própria consciência da
discriminação
Democracia racial enquanto mito

■ Antropólogos, como Peter Fry e Lilia Schwarcz, reforçam que a Democracia Racial não
é um mero discurso ideológico de falseamento da realidade, mas um conjunto de
valores antirracistas que orientam a sociedade brasileira.
■ Apesar da hierarquia racial e da violência, a crença em na vocação do Brasil para uma
fraternidade racial, em muitas situações, desestrutura as tensões raciais. O Brasil vive as
contradições entre a circulação de ideias e práticas que sustentam hierarquias raciais e
um imaginário antirracista.
Fernando Ortiz

■ Fernando Ortiz Fernandes nasceu em 16 de julho de


1881, na cidade de Havana, filho de pai espanhol e
mãe cubana, cresceu entre Cuba e Espanha.
■ Viveu o momento histórico do fim do século em dois
lugares com crises paralelas: Cuba, em processo de
independência e, posteriormente jovem república pós-
colonial e a Espanha, em processo de declínio de seu
poderoso império colonial. A guerra de libertação
nacional no final do século XIX gerou um sonho: a
criação da nação cubana.
Eventos que influenciaram a
trajetória de Ortiz
■ Formação da nação Cubana (1898)
■ Contato pessoal com Cesare Lombroso
■ Presença dos Estados Unidos em Cuba (1902)
■ Conflito racial em o Partido del Color (1912)
■ Leitura da obra de Franz Boas
Mudanças no pensamento de Ortiz


A segunda fase da produção intelectual de Fernando Ortiz vai de
1913 até 1940, esse período apresentou uma profunda mudança de
orientação teórica em seus trabalhos sendo de relevo a influência
da sociologia estadunidense e em especial a dos antropólogos
Bronislaw Malinowski e de Franz Boas.
Esses pensadores produziram uma renovação teórica nos estudos
antropológicos do início do século XX, em toda a América Latina
em Ortiz. Como de resto toda a intelectualidade latino-americana
do período buscava nessas referências a “autoridade” que iria
conferir caráter científico para seus trabalhos.
A incorporação do negro à
identidade cubana e construção de
uma cidadania negra
■ Nesse sentido, Ortiz buscou estudar os elementos
da cultura dos negros a partir da vida e do
cotidiano dos negros cubanos, elementos que
anteriormente haviam sido desprezados pela
historiografia e pelos pensadores, agora eram
discutidos e estudados, por que esses elementos
permitiriam entender a identidade cubana. Nesse
projeto de interpretação e investigação da cultura
cubana o negro passa a ser integrado a cultura
nacional

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