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A mensagem

Fernando Pessoa

Constança Felgar nº6, Catarina Brito º5


01 O Infante 02 Horizonte
O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma

E a orla branca foi de ilha em continente,


Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.


Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
“ O Infante “, é o primeiro poema da segunda
parte da Mensagem, é como uma “semente” do
que se seguirá, o que faz todo o sentido se
tivermos em conta que o Infante D. Henrique foi
o impulsionador dos Descobrimentos.
Embora nele se refira a aventura marítima levada
a cabo pelos portugueses, foi o Infante quem
desempenhou um papel crucial nessa aventura, o
de protagonista, de impulsionador, o de símbolo
do início da construção do império. Daí que lhe
caiba o papel de protagonista da «Possessio
Maris» (Posse do Mar)
WHAT IS THIS TOPIC
ABOUT?
Primeira parte
É constituída apenas pelo primeiro verso, que contém uma afirmação
tripartida de tipo axiomático, : “Deus quer, o homem sonha, a obra
nasce”.

Existe uma gradação na medida em que há uma sequencia que vai de


um objetivo ate a sua concretização, Assim, “Deus quer” remete para a
intenção divina de pôr talentos portugueses em prática, “ o homem
sonha” leva-nos a pensar nos descobridores que o Infante Henrique
escolheu e organizou para a “empresa” de descobrir um caminho
marítimo até a India. “a obra nasce” é o culminar dessa gradação, pois
os portugueses conseguiram descobrir o caminho marítimo para o
Oriente.
Segunda Parte
A segunda parte é dividida em 3 momentos:

Primeiro momento
Deus quis que a terra fosse toda uma, Que o mar unisse, já não separasse.

Terra unida pela descoberta dos continentes Deus quis a unidade da terra (isto é, que fosse toda
(América, África, Europa e Ásia). conhecida), através do mar, de forma a servir de elemento de
• Perífrase: “a terra fosse toda uma” = (formação união entre os continentes e os povos.
• “Que o mar unisse” = oração subordinada adjectiva
do) Império
• “Deus quer”(v.1) no Presente do Indicativo por relativa explicativa (entre vírgulas) – consiste numa
oposição a “Deus quis” (v.2) no Pretério Perfeito explicação do verso anterior (desempenhando a função
do Indicativo. sintática de modificador apositivo do nome).
• Anáfora: Repetição da palavra “Deus” no início • Assíndeto
• Antítese: ideia de oposição entre “unisse” e “separasse” –
do 1º e 2º versos“Deus quer (…) / Deus quis”
relação de contraste.
• Aliteração: repetição do “s” (“unisse” e “separasse”)
Continuação do primeiro momento

Que o mar unisse, já não separasse.

Deus quis a unidade da terra (isto é, que fosse toda


conhecida), através do mar, de forma a servir de elemento
de união entre os continentes e os povos.
• “Que o mar unisse” = oração subordinada adjectiva
relativa explicativa (entre vírgulas) – consiste numa
explicação do verso anterior (desempenhando a função
sintática de modificador apositivo do nome).
• Assíndeto
• Antítese: ideia de oposição entre “unisse” e “separasse”
– relação de contraste.
• Aliteração: repetição do “s” (“unisse” e “separasse”)
Segundo momento
Sagrou-te, […]
Infante é "sagrado" para a missão divina, predestinado para
iniciar os Descobrimentos, é o escolhido por Deus para a
execução da obra desejada.
• Aspeto perfetivo: a ação é apresentada como concluída

Terceiro momento

[…] e foste desvendando a espuma.


O Infante é o escolhido por Deus para concretizar o seu
projeto - é aquele que sonha, que tem a visão e finalmente
foi “desvendando a espuma”, ou seja realizou a obra.

• Metáfora: “desvendando a espuma”= desfazer o mistério


ao descobrir os continentes e ilhas incógnitas.
Continuação do terceiro momento
E a orla branca foi de ilha em continente,

Referência à descoberta das ilhas da Madeira e dos Açores até à costa Africana.
• Sinédoque: toma-se a parte pelo todo - “a orla branca” = rasto de espuma (esteira) dos barcos que partiram nos
Descobrimentos » simboliza as caravelas e naus
• Personificação: "E a orla branca foi de ilha em continente" - personificação da "orla branca" que nos sugere a
rapidez imparável das descobertas.

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

Referência à passagem do Cabo das Tormentas: «até ao fim do


mundo» para chegar à Índia.
• “correndo” forma verbal no gerúndio dando a ideia de
continuidade.
Continuação do terceiro momento
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Esta visão da terra sugere a ideia de que a obra dos portugueses é o realizar de um plano divino.
O redondo, a esfera, é o símbolo da perfeição cósmica, da unidade, da totalidade, da obra completa e perfeita que Deus
quis.

• Gradação crescente: começou por desvendar «ilha(s)» e «continente(s)», chegando ao «fim do mundo» e dando
assim a conhecer «a terra inteira»;
• Aliteração do “rr”: “correndo/terra/repente/redonda
• Há no texto vários elementos que transmitem a ideia de revelação:
• a concretização da união da terra: “E viu-se a terra inteira”;
• sair das sombras (sair da ignorância e atingir o conhecimento): “orla branca” “clareou”;
• o seu carácter súbito: "de repente";
• o aparecimento: "Surgir";
• a ideia de origem, profundidade: "o azul profundo”(do mar imenso, do fundo do mistério).
Terceira Parte
Quem te sagrou criou-te português.

• Deus sagrou o Infante e criou-o português, sendo assim símbolo do povo Português, o que significa
que também ele foi assinalado, predestinado, escolhido por Deus para desvendar o mar
desconhecido.
• O sujeito poético dirige-se ao Infante na segunda pessoa do singular ("Sagrou-te, e foste…" ‑ v. 4);
"Quem te sagrou criou-te" ‑ v. 9; "Do mar e nós em ti…" ‑ v. 10), o que traduz uma relação de
proximidade e de cumplicidade.

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Através do Infante Dom Henrique Deus revelou a sua vontade de os Portugueses partirem à Descoberta
pelo mar.

• Hipérbato: alteração da ordem natural das palavras na frase – ordem canónica: “e em ti nos deu sinal
do mar (para) nós”
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

• Novo esquema: o sonho cumpriu-se (tese), desfez-se (antítese) e deu lugar a um novo sonho
(síntese). Teríamos assim uma nova vontade divina, um novo sonho e uma nova ação.
• “O Império se desfez” = queda do Império com a independência dos territórios do Brasil e da
Índia.
• A utilização das maiúsculas (Mar, Império) procura chamar a atenção para a riqueza
significativa das palavras.

Senhor, falta cumprir-se Portugal

Apelo ao cumprimento do destino mítico de Portugal: uma nova e espiritual missão – o V


Império (império imaterial e civilizacional), visto que a dimensão material do império já foi
conseguida (na época do Descobrimentos), ou seja, falta que Portugal se cumpra como pátria e
entidade nacional
Frase exclamativa e em forma de vocativo “Senhor, falta cumprir-se Portugal!”
• Apóstrofe: invocação de um interlocutor (“Senhor”=Deus)
• Há um diálogo implícito entre o sujeito poético e Deus, o que acentua o carácter misterioso
do poema.
• Uso do presente do indicativo na forma verbal “falta” para exprimir urgência
“Horizont
e”
Análise formal do poema

O sonho é ver as formas invisíveis


Ó mar anterior a nós, teus medos a Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Tinham coral e praias e arvoredos. a Movimentos da esp’rança e da vontade,
Desvendadas a noite e a cerração, b Buscar na linha fria do horizonte
As tormentas passadas e o mistério, c A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte –
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério c Os beijos merecidos da Verdade.
‘Splendia sobre as naus da iniciação. b

Linha severa da longínqua costa –


Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha.
Referência às naus
Mar anterior a nós, teus medos portuguesas que,
Tinham coral e praias e arvoredos. impulsionadas pelos
Desvendadas a noite e a cerração, ventos do "sonho", da
As tormentas passadas e o mistério, "esperança" e da
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério "vontade", abriram novos
'Splendia sobre as naus da iniciação. caminhos.

Na 1ª estrofe, o poeta descreve o encanto dos navegadores ao


observarem o concreto para lá do horizonte, que antes era
abstrato.
Linha severa da longínqua costa -
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha.
.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.

Os portugueses foram dignos de receber


a verdade, conhecimento oculto e de
conhecer o “Horizonte”

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