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Alberto Caeiro

O guardador de rebanhos
Poema IX
«Sou um guardador
de rebanhos»
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Claude Monet, Lírios de água (1915).


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Sou um guardador de rebanhos.


O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la


E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor


Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
Paul Cézanne, Natureza morta
E fecho os olhos quentes, com maçãs (1890).

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,


Sei a verdade e sou feliz.
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I. Pensar com os sentidos «Sou um guardador de rebanhos.


O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.»

Metáfora
O poeta junta impressões da realidade

«Penso com os olhos e com os ouvidos


E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.»

Sentir = Pensar
 SENSAÇÕES
Objetivo: substituir =
o pensamento (reflexão/razão) forma de percecionar
pela perceção sensorial e conhecer o mundo
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II. Uma filosofia de vida «Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.»

Assente na rejeição
da preponderância Felicidade = comunhão
do pensamento plena/harmonia
e da racionalização com a Natureza

A sensação como caminho
para a felicidade

Pensamento = doença = infelicidade


(tema recorrente na produção poética
do ortónimo e nos outros heterónimos)

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