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Filosofia Cristã

Santo Agostinho
Vida
- Nasceu em 354 d.C. em Tagaste (Norte da África)
- Morreu em 430 d.C. em Hipona (Norte da África)
- Filiação: Patrício – Pagão – É batizado em 371
Mônica – Cristã
- Dois períodos: Antes da Conversão (Retórica e Filosofia)
Depois da Conversão (Sagrada Escritura e Teologia)
- Estudos: Tagaste (estritamente humanística: Gramática e Retórica)
Cartago: Interessa-se por filosofia após a leitura de Hortênsio de
Cícero – Filosofia predominante Maniqueísta
Roma – 383 – Abandona o Maniqueísmo e adere o Cepticismo
Acadêmico
Milão – De Céptico torna-se neoplatônico
- Batizado em 387 por Ambrósio (Bispo de Milão) logo volta para África (sua
mãe falece em Óstia, antes do embarque)
- Ordenado Sacerdote em 391 pelo Bispo de Hipona
- É eleito Bispo de Hipona
Vida
- Atividade Episcopal: Caracterizou-se pela luta constante para
preservar a pureza da doutrina católica. Combateu os maniqueístas,
donatistas e pelagianos.

Obras de maior interesse filosófico


- Antes da Conversão: Contra academicos (Contra acadêmicos –
sobre a lógica), De vita beata (A vida feliz – Ética), De ordine (A
ordem – Metafísica).
- Depois da Conversão: De immortalitate animar (Sobre a
imortalidade da alma), Confessionum libri XIII (Treze livros das
confissões), De libero arbítrio (Sobre o livre-arbítrio), De civitate
Dei (Sobre a cidade de Deus), De Trinitate (Sobre a Trindade), De
magistro (Sobre o mestre), De vera religione (Sobre a verdadeira
religião).
Conhecimento humano e verdades eternas
- Problema Filosófico após conversão: Conhecimento
- Se conhecemos a verdade;
Crítica ao cepticismo. O Homem conhece algumas verdades, como o
princípio de não-contradição e a sua existência. Ninguém pode duvidar da
própria existência porque, neste caso, a dúvida é prova da existência: si
fallor, sum (se me engano, existo)
- Como a conhecemos;
Distinção entre três operações: dos sentidos, da razão inferior e da razão
superior; e três grupos de objetos: as qualidades dos corpos, as leis da
natureza e as verdades eternas.
Dos Sentidos – As qualidades dos corpos: Conhecimentos sensitivos, dos
odores etc. obtém-se pelos sentidos, os quais não são, contudo, a sua causa
principal, porque sentire non est corporis, sed animae per corpus (o sentir
não é do corpo, mas da alma por meio do corpo). Segundo Agostinho, os
corpos não são conhecidos imediatamente, mas mediatamente. “De todos
os objetos sensíveis a alma recebe a imagem, não a eles mesmos’’.
Conhecimento humano e verdades eternas
Da razão inferior – Leis da natureza: O conhecimento científico.
Ocupa-se do mundo corpóreo e procura descobrir as leis universais
pelo processo de abstração.
Da razão superior – Verdades eternas: O conhecimento das verdades
eternas obtém-se por meio da iluminação divina. A iluminação é
quaedam lux sui generis incorporea (uma luz especial incorpórea), que
nos torna visíveis e compreensíveis as “verdades eternas”: uma luz
mediante a qual Deus irradia na mente humana as verdades absolutas,
imutáveis.

Valor da Linguagem
- A linguagem tem função exclusivamente instrumental: a palavra
serve para a comunicação das ideias. Mas quando se trata de
conhecimento revelado, as ideias provêm do Magister Interior (do
Mestre Interior), isto é, de Cristo.
Deus
- Para estudar tanto a natureza, quanto a existência de Deus
Agostinho parte do próprio homem.
- O bispo de Hipona também, como Platão e Aristóteles, acha que
pode chegar a Deus mediante os indícios cosmológicos, por
exemplo, através da ordem do universo e da contingência das coisas.
Mas ele encontra indícios sugestivos da realidade divina mais no
homem do que no mundo. Na mente humana estão presentes
verdades eternas, absolutas, necessárias, que a mente, contingente e
mutável, não pode produzir. Logo, existe Deus, razão suficiente
destas verdades.
- Também a natureza una e trina de Deus, Agostinho a estuda partindo
do homem. A razão pode encontrar nas criaturas, especialmente no
homem, vestígios e imagens da Trindade, os quais podem servir de
analogias para penetrar um pouco no mistério profundíssimo da
trindade de pessoas na única natureza de Deus.
O mundo e o tempo
- Antes da conversão Agostinho concebia o mundo como emanação
de Deus, fragmento de Deus, frustum de illo corpore (pedaço
daquele corpo)
- Depois da conversão, encontrou na Revelação a explicação da
origem do mundo. Interpretando as palavras “in principio” (no
princípio) e julgando que elas significam “no Logos”, deduz que
Deus criou o mundo do nada.
- Segundo Agostinho Deus criou o mundo porque Ele não queria que
uma criação boa permanecesse no nada.
- Logo, o mundo teve origem por criação.
- O tempo, para o bispo de Hipona, é a duração de uma natureza finita
que não pode ser toda simultaneamente, tendo por isso necessidade
de fases sucessivas e contínuas para realizar-se completamente. As
fases do tempo são o passado, o presente e o futuro.
O mundo e o tempo
- O tempo é um nunc transiens (um agora que passa). A eternidade é um
presente que não passa, um nunc stans (um agora permanente).
- O tempo não existe fora de nós. Não existem, fora de nós, nem o
passado nem o futuro.
- “Existem, pois, na minha mente esses três tempos que não vejo em
outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das
coisas presentes e esperança presente das coisas futuras”.
- Segundo Agostinho, medimos o tempo na alma, na qual ele deixa uma
impressão enquanto passa.
- Em conclusão, sendo o tempo o modo de ser característico da natureza
finita, e sendo o universo inteiro de natureza finita, segue-se que o
mundo teve origem no tempo e não na eternidade.
- Porém, Deus criou tudo no mundo desde o começo, ou seja, deu ao
mundo razões seminais.
- “O mundo é como uma mulher grávida: traz em si causa das coisas que
virão à luz no futuro. Assim, todas as coisas (de todos os tempos) foram
criadas por Deus”.
O mundo e o tempo
- O desenvolvimento das razões seminais se deve à atividade das
criaturas: as razões seminais desenvolvem-se e dão origem aos novos
corpos quando são despertadas e excitadas pela ação das criaturas.

Mal e liberdade
- Afirma que Deus não é a causa do mal.
- Plotino diz que mal é ausência, falta do bem, mas identifica esta
falta e privação do bem como matéria.
- Do exame das coisas que o homem denomina más, Agostinho
chega à conclusão de que o mal não pode estar só, não pode
subsistir, mas deve existir em uma substância que, em si mesma, é
boa. O mal é privação de uma perfeição que a substância deveria
ter. Por isso, o mal não é realidade positiva, mas privação de
realidade. Pode-se afirmar, pois definir o mal como privado boni
(privação de [algum] bem).
Mal e liberdade
- “Como poderia, com efeito, aquele que é a causa do ser de todas as
coisas ser a causa do não ser?” Logo, a causa do não ser não é Deus.
- Duas formas principais sob as quais o mal se manifesta: o sofrimento
e a culpa. Elas estão em estreita relação entre si: a causa do
sofrimento é a culpa. Ora o responsável pela culpa é o homem. O
mal tem, pois, como causa última o homem.
- Submeter-se a razão humana à paixão, em desobedecer às leis
divinas, em afastar-se do bem supremo.
- O mal consiste em cair, em voltar as costas (aversio, aversão) ao
bem superior, ao bem imutável.
- Da liberdade: male facimus ex libero voluntais arbítrio (fazemos o
mal pelo livre arbítrio da vontade)
- A liberdade é de bem da maior importância, porque é a condição da
moralidade.
- Só onde há liberdade que se pode falar do bem (e de mal)
Mal e liberdade
- “Nem o pecado nem os pecadores são necessário à perfeição, mas as
almas enquanto são almas, enquanto são tais que, se querem, pecam;
e se pecam tornam-se infelizes”.
- O sofrimento é a consequência da culpa. Depois da culpa, o homem
está cheio de temores, de desejos, de ansiedade.
- O pecado de Adão, embora não tivesse corrompido a natureza, tinha
consequências gravíssimas que nenhum homem poderia expiar. Os
homens foram libertados desta triste condição por Jesus Cristo.
- Luta contra o Pelagianismo
- Sem a graça, “as virtudes dos pagãos não são mais do que vícios
dissimulados”.
Espiritualidade e imortalidade da alma
- Agostinho define o homem como “alma racional que se serve de
corpo mortal, terrestre”. Para ele, como para Platão, o homem é
sobretudo alma.
- A espiritualidade da alma é, pois, confirmada pelo que ela conhece
de si mesma. Quando a alma conhece a si mesma, descobre que é
substância que vive, que recorda, que quer etc., e isto não tem nada
que ver com o que é corpóreo.
- A alma acha-se em contínua relação com a verdade.
- Agostinho mostra-se perplexo a respeito da criação das outras almas.
- Esta dificuldade estaria superada se pudesse admitir que as almas
passam de pais a filhos pela geração (traducianismo)
- Agostinho conclui que, em certas questões, o homem não deve
envergonhar-se de se mostrar ignorante.
A teologia da história
- A exposição da doutrina agostiniana sobre a teologia da história
encontra-se no De civitae Dei (A cidade de Deus).
- A história divide-se em três grandes períodos a origem, o passado e o
futuro. Agostinho indica como cada um desses períodos foi
iluminado pela luz de algum dos grandes mistérios do cristianismo.
- A origem da humanidade explica-se pela Revelação que que o
homem foi criado por Deus e elevado por ele à ordem sobrenatural.
- O passado, tão cheio de males físicos e morais, de guerras e de ódios
explica-se pela Revelação com a queda original e a redenção.
- O futuro da humanidade ilumina-se pela Revelação, a qual mostra
que o futuro terá fim, que a estrada do tempo terá termo e que então
o Messias retornará para julgar todos os homens num juízo moral
absoluto, infalível, imutável.
- A visão agostiniana da História concebe-a como um caminho em
linha reta que sobe da terra para o céu.
A teologia da História
- No De civitate Dei Agostinho trata, além do problema geral da
história, também do problema mais particular das relações entre a
Igreja e mundo, entre cidade celeste e cidade terrena.
- A dialética tempestuosa das duas cidades e dos dois amores não
cristaliza a humanidade em situações imutáveis, mas a guia, através
de amadurecimento doloroso, para a idade perfeita do espírito, para
Cristo, na plenitude dos tempos.

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