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FACULDADE DE ENGENHARIA

Departamento de Engenharia Geológica 


Curso de Licenciatura em Engenharia Geológica

GEOQUIMICA
AULA-4

GEOQUÍMICA EM PETROLOGIA ÍGNEA


Elementos Maiores, Menores e Traço
Dados geoquímicos

Como são obtidos ? → geoquímica analítica

Quais os tipos de dados ?


 elementos maiores
 elementos menores
 elementos (em) traços
 isótopos e razões isotópicas

Como são apresentados ?


 tabelas de dados
 parâmetros geoquímicos e diagramas específicos
 Através da composição química das rochas ígneas é possível decifrar os processos
que controlaram a génese e evolução dos magmas que lhes deram origem.

Como se referiu anteriormente, os elementos químicos podem ser subdivididos em três


grandes grupos de acordo com a sua abundância: elementos maiores, elementos
menores, elementos traço (elementos vestigiais).
Abundância dos elementos comuns na crosta terrestre

 Elementos maiores : em geral em quantidades superiores a 1%; são expressos


em óxidos, e.g.: SiO2, Al2O3, FeO*, MgO, CaO, Na2O, K2O
 Elementos menores : em geral em quantidades entre 0,1 e 1%; são também
expressos em óxidos, e.g.: TiO2 , MnO , P2O5
 Elementos traços : em geral em quantidades inferiores a 0,1 % ; são expressos
em ppm (partes por milhão → 1 % = 104 ppm), todos os demais, e.g.: Rb, Sr,
Ba, Ni, Cr, Zr, ETR (La-Lu), etc...

Isótopos : expressos em razões entre isótopos (razões isotópicas) e/ou parâmetros


específicos. Isótopos radiogênicos: 87Sr/86Sr; 143Nd/144Nd, etc...Isótopos
estáveis: δ18O, etc...
Apresentação de dados químicos em tabelas: exemplo para um granito anorogênico

Óxidos (% em peso) El. traços (ppm) Razões isotópicas  


Rb

SiO2 73,6 199 (87Sr/86Sr) 0 0,70655


TiO 2 0,33 Sr 105 (143Nd/144Nd) 0,51225
Al2O3 12,69 Ba 605    
Fe2O3 0,99 Pb 29    
FeO 1,72 Th 23    
MnO 0,06 Zr 342    
MgO 0,33 Nb 22    
CaO 1,09 Y 76    
Na2O 3,34 La 55    
K2O 4,51 Ce 134    
Análises químicas (elementos maiores e menores)representativas de algumas rochas ígneas
Óxidos Peridotito Basalto Andesito Riolito Fonolito
SiO2 42,26 49,2 57,94 72,82 56,19
TiO 2 0,63 1,84 0,87 0,28 0,62
Al2O3 4,23 15,74 17,02 13,27 19,04
Fe2O3 3,61 3,79 3,27 1,48 2,79
FeO 6,58 7,13 4,04 1,11 2,03
MnO 0,41 0,2 0,14 0,06 0,17
MgO 31,24 6,73 3,33 0,39 1,07
CaO 5,05 9,47 6,79 1,14 2,72
Na2O 0,49 2,91 3,48 3,55 7,79
K2O 0,34 1,1 1,62 4,3 5,24
H2O+ 3,91 0,95 0,83 1,1 1,57
Total 98,75 99,06 99,3 99,5 99,23
Classificação das rochas ígneas

 A classificação da IUGS : o diagrama TAS e outros


 Teor em SiO2: rochas ultrabásicas, básicas, intermediárias e ácidas
 Relações entre Al e metais alcalinos : o índice ISA (Shand) A = (Al2O3)mol C =
CaOmol N = Na2Omol K = K2Omol
Rochas metaluminosas : A/CNK < 1 (A/NK > 1)
Rochas peraluminosas : A/CNK > 1
Rochas peralcalinas : A/NK < 1
Tipos de séries magmáticas

1. As séries basálticas alcalina e subalcalina


2. As séries subalcalinas: séries calcio-alcalina e toleítica
Existem importantes diferenças entre estas séries em termos da sua relação com os principais
ambientes geotectónicos (Fig. 4.5).
1. Álcalis x Sílica: Alcalino x Subalcalino

2. Diagrama AFM: Toleítico x Calc-Alcalino


A norma CIPW

 Moda: quantidades volumétricas dos minerais presentes em uma determinada rocha


 Norma: quantidades calculadas, a partir de análises químicas de rochas, de minerais
teóricos “idealizados” em uma seqüência lógica
Minerais normativos principais (fêmicos e sálicos)

 Quartzo (qz,Q)→ SiO2  Diopsídio (di):


 Corindon (c,C) → Al2O3  Wollastonita (ws) → CaO.SiO2
 Zircão (zr) → ZrO2.SiO2  Enstatita (en) → MgO.SiO2
 Ortoclásio (or) → K2O.Al2O3.6SiO2  Ferrossilita (fs) → FeO.SiO2
 Albita (ab) → Na2O.Al2O3.6SiO2  Hiperstênio (hy):
 Anortita (an) → CaO.Al2O3.2SiO2  Enstatita (en) → MgO.SiO2
 Leucita (lc) → K2O.Al2O3.4SiO2  Ferrossilita (fs) → FeO.SiO2
 Nefelina (ne) → Na2O.Al2O3.2SiO2  Olivina (ol):
 Acmita (ac) → Na2O.Fe2O3.4SiO2  Faialita (fa) → 2FeO.SiO2
 Forsterita (fo) → 2MgO.SiO2
 Apatita (ap) → 3(3CaO.P2O5)
 Magnetita (mt) → FeO.Fe2O3
 Ilmenita (il) → FeO.TiO2
 Titanita (tn) → CaO.TiO2.SiO2
 Fluorita (fr) → CaF2
 Calcita (cc) → CaO.CO2
Procedimentos para cálculo de normas
Aplicações da norma CIPW 1: classificações

Saturação em sílica:

Rochas supersaturadas → apresentam qz (+ hy) normativo


Rochas saturadas → com hy normativo (sem qz, ol, ne)
Rochas insaturadas → apresentam ol e/ou ne normativas

Saturação em alumina:
Rochas metaluminosas → apresentam di normativo
Rochas peraluminosas → apresentam c normativo
Rochas peralcalinas → apresentam ac normativa
Aplicações da norma CIPW 2: diagramas de fase
Aspectos fundamentais 4: diagramas de variação e indicadores de diferenciação magmática
Índices de diferenciação magmática: significado e usos

A: índices químicos

SiO2 : rochas ultrabásicas, básicas, intermediárias e ácidas


MgO : aplicável para rochas básicas e ultrabásicas
mg# (100* Mg/(Mg+Fe)): troca Fe-Mg: minerais de alta T são mais ricos em Mg que o
magma)

B: índices normativos

qz+or+ab+ne+lc : (ID Thornton & Tuttle), uma medida da proximidade dos


eutéticos/mínimos nos sistemas residuais da
petrogênese)
An : (normativo): (plagioclásio de alta T é mais rico em Ca que o magma)
COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS MAIORES EM ROCHAS ÍGNEAS

Através da análise do comportamento dos elementos maiores em associações de rochas


ígneas é possível:

a) verificar se as rochas estão genéticamente relacionadas, i.e., se derivaram do mesmo


magma parental;
b) determinar os principais tipo de processos petrogenéticos envolvidos na diversificação
e evolução desses magmas;
c) classificar as rochas e identificar a associação magmática a que pertencem e;
d) caracterizar os magmas parentais e determinar a natureza das rochas-fonte.
DIAGRAMAS DE HARKER

 As análises químicas de rochas pertencentes a uma dada província magmática,


estrutura vulcânica ou complexo intrusivo mostram, em geral, uma variação
significativa nas concentrações de elementos maiores. Uma das maneiras de
representar este tipo de variações consiste em traçar DIAGRAMAS DE
VARIAÇÃO QUÍMICA.
 As mudanças composicionais observadas estão frequentemente relacionadas com
modificações progressivas da composição de um magma original (magma parental).
 Para analisar a sua evolução deve escolher-se como abcissa do diagramas
rectangular, um parâmetro que permita ordenar as rochas por grau de evolução e que
constitui por isso, um ÍNDICE DE DIFERENCIAÇÃO MAGMÁTICA.
Nos DIAGRAMAS DE HARKER, projectam-se os teores dos diferentes elementos contra a %
ponderal de SiO2 (que tende a aumentar dos termos mais primitivos para os termos mais
evoluídos) (Fig. 4.1)

Fig. 4.1 Diagramas de Harker


Nos diagramas de Harker da figura 4.1, verifica-se que:

a) os teores de TiO2, FeO*, MgO e CaO decrescem regularmente com o aumento de SiO2
b) as concentrações de K2O e Na2O aumentam com o aumento de SiO2
c) Os valores de Al2O3 e P2O5 começam por crescer até um dado valor de SiO2 e
decrescem a partir daí.

Nota-se, por outro lado, que o conjunto de rochas analisadas define tendências de
variação coerentes (alinhamentos) sugerindo que possam estar geneticamente
relacionadas, i.e. que tenham derivado do mesmo magma parental cuja composição
se foi modificando progressivamente.
Se assim for, pode dizer-se que esta associação de rochas constitui ou faz parte de
uma SÉRIE MAGMÁTICA.
Numa série magmática, as rochas com teores mais baixos de SiO2 serão aquelas cujas
composições se poderão aproximar mais da do magma parental.
Os mecanismos que podem ter levado um mesmo magma parental a transformar-se quimicamente
e gerar uma sucessão de rochas ígneas com composições distintas são conhecidos como
PROCESSOS DE DIFERENCIAÇÃO MAGMÁTICA

A utilização de diagramas de elementos maiores para efeitos de classificação tem particular


relevância no caso das rochas vulcânicas porque a sua classificação com base em critérios
mineralógicos é pouco exequível devido à textura afanítica e/ou vítrea que as caracteriza.

O diagrama TAS é um dos diagramas mais usados para classificar este tipo de rochas (Fig. 4.2).
Com base nos diagramas (Na2O+K2O) vs. SiO2 e AFM, é possível também identificar a série ou
série magmáticas em que se filiam conjuntos de rochas espacial e temporalmente associadas
(Figs. 4.2 e 4.3).
Fig. 4.3 – Diagrama AFM

Fig. 4.2– Diagrama TAS para uma série toleítica (círculos azuis),
uma série alcalina (círculos amarelos) e uma série peralcalina
(círculos encarnados).
A linha a tracejado separa o campo das rochas alcalinas do campo
das rochas subalcalinas.
COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS TRAÇOS EM ROCHAS ÍGNEAS

Elementos traços:

 Baixas concentrações (ppm, ppb)


 Variações de concentração não afetam as relações de estabilidade de fases no sistema
considerado
 Quando estão muito diluídos e satisfazem a Lei de Henry: os coeficientes de atividade
são diretamente proporcionais às suas concentrações
Entram na estrutura dos minerais através:
 Substituições catiônicas em sítios específicos
 Ocupando defeitos em estruturas cristalinas
 Oclusos
Caso especial : constituintes estruturais essenciais (Zr, P)
Distribuição dos elementos químicos: regras simples Goldschmidt

1) Dois iões com a mesma valência e o mesmo raio iônico trocam-se facilmente
nas estruturas cristalinas e entram em soluções sólidas em quantidades
proporcionais às suas atividades (concentrações); é a lei de ação de massa
2) Se dois iões têm raios iônicos similares e a mesma valência, o ião menor será
preferencialmente incorporado na fase cristalina em detrimento à fase líquida;
3) Se dois iões têm raios iônicos similares e valências diferentes o ião com a carga
maior será incorporado preferencialmente na fase cristalina.
Os elementos em traço cuja carga (valência) e/ou raio iónico não lhes permite ocupar com
facilidade os lugares vagos na estrutura cristalina dos minerais, tenderão a passar para o
“melt” durante os processos de fusão e permanecer no magma durante os processos de
cristalização.

Esses elementos são chamados elementos INCOMPATÍVEIS. Os elementos em traço que


são facilmente incorporados na estrutura cristalina dos minerais são conhecidos como
elementos COMPATÍVEIS.

Como é óbvio, um dado elemento traço pode ser compatível numa dada fase mineral e
incompatível noutra. Este comportamento é Definido pelo COEFICIENTE DE
PARTILHA de um elemento (KD) num mineral.
O coeficiente de distribuição de Nernst (KD)

A razão entre as concentrações de um elemento traço muito diluído em uma fase


cristalina (sólida, S ) e uma fusão (líquido, L) é uma constante de equilíbrio para
determinadas condições PTX: KD, ou seja: KD= CS/CL

A constante de equilíbrio KD, independe da


concentração
do elements traço, mas varia com:
 Temperatura
 Pressão
 Composição Dos Sólidos e Líquidos
Elementos traços compatíveis e incompatíveis
O coeficiente de partição (distribuição) total (D) (em rochas, com várias fases minerais
envolvidas)
Os elementos compatíveis (KD>1) nos minerais que ocorrem no manto (olivina,
ortopiroxena, clinopiroxena, granada, espinela) tendem a ficar no resíduo sólido
durante os processos de fusão parcial e os magmas produzidos pela fusão de rochas
mantélicas são empobrecidos nesses elementos (Cr, Co, Ni).

Em contrapartida, os elementos incompatíveis (KD<1) nos minerais mantélicos tendem a


concentrar-se nos magmas gerados pela fusão das rochas do manto.
São em geral, mais móveis sobretudo quando está envolvida uma fase fluida. K, Rb, Cs,
Ba, Pb2+, Sr, Eu2+
Os elementos incompatíveis são subdivididos em dois grandes grupos: HFS e LIL.
KD=1, o element é igualmente distribuido entre o mineral e a dusao;
KD>1, o element traco tem preferencia para fase mineral ( element compativel)
KD<1, o element traco tem preferencia para a fase de fusao ( element incompativel)

Variaveis que afectam o coficiente de particao

 Composição: o coeficiente aumenta com o teor de silica;


 Temperatura: o coeficiente aumenta com a temperatura;
 Pressão:o coeficiente aumenta com a temperatura;
TERRAS RARAS (REE)

Os elementos do grupo dos lantanídeos (terras raras) têm todos orbitais externas com
configurações semelhantes e carga iónica +3 (excepto o Ce e Eu que, em certas condições
podem ter valências +4 e +2, respectivamente).
Os seus raios iónicos contraiem-se sistemáticamente do La (a mais leve das terras raras) ao
Lu (a mais pesada das terras raras).
Como consequência, o seu comportamento varia de fortemente incompatível (La) a
ligeiramente incompatível (Lu)
Quando se analisam as concentrações dos diferentes elementos do grupo das REE,
verifica-se que as REE com nº atómico par são muito mais abundantes do que as REE
com nº atómico ímpar.
Este efeito é conhecido como efeito Oddo-Harkins e torna difícil a comparação dos seus
valores.
Para eliminar este efeito e representar as composições de REE de rochas (magmas),
normalizam-se as concentrações dos diferentes elementos em relação à sua abundância
nos meteoritos condríticos (Fig. 4.11 e 4.12).
Fig. 4.11 – Padrão de terras raras para um basalto alcalino de ilha oceânica (OIB) e para um
basalto toleítico de crista média (MORB) (Winter, 2001)
Fig. 4.12 – Coeficientes de partilha para as REE em
diferentes minerais
Compatibilidade Vs incompatibilidade dos elementos

Elementos incompatíveis:
1. Iões pequenos com carga grande (HFS: high
field strengh: Ti, REE, Th, U, Zr, Nb
2. Iões grandes, com carga pequena (LIL: large
ion lithophile, LFS: low field strengh: K, Rb,
Ba, Sr, são bem móveis, particularmente se há
envolvimento de fase fluida)
Relação entre coeficientes de partição e raios iônicos para augite e matriz de
um álcali-olivina basalto
DIAGRAMAS MULTIELEMENTARES (SPIDERDIAGRAMS)

Para analisar a variação dos teores de elementos traço numa rocha e comparar a sua composição
com a de outros materiais, podem traçar-se diagramas multielementares (Fig. 4.13).

Fig. 4.13– Spiderdiagrams para basaltos OIB e granitóides intraplaca, normalizados para
MORB
ELEMENTOS TRAÇO E PROCESSOS DE FUSÃO PARCIAL

Dependendo do grau de compatibilidade/incompatibilidade dos diferentes


elementos traço (KD) nos minerais que compõem rocha que está a fundir, os
magmas produzidos apresentarão empobrecimento nos elementos compatíveis e
enriquecimento nos incompatíveis relativamente à rocha fonte (Fig. 4.14 e 4.15)
Fig. 4.14 - Durante a fusão parcial do manto, os elementos compatíveis (Co e Ni) ficam no
resíduo, enquanto os incompatíveis (La, Nd, Sm, Rb e Sr) passam para o magma
ELEMENTOS TRAÇO E PROCESSOS DE CRISTALIZAÇÂO FRACCIONADA

 A evolução dos elementos traço com o aumento do grau de diferenciação


magmática dá-nos indicações importantes sobre a natureza das fases minerais que
fraccionaram durante os processos de cristalização fraccionada.
 Estas variações nos teores de elementos traço podem ser observadas em diagramas
de variação química, padrões de terras raras e spiderdiagrams (Fig. 4.17- 4.19

Fig. 4.17 – Variação no padrão de terras


raras com o evoluír da cristalização
Fig. 4.19 – Diagramas de variação química Ni vs. SiO2 e Zr vs SiO2 numa série
magmática. O forte empobrecimento de Ni no primeiro troço da sequência sugere
fraccionamento de olivina nos estádios iniciais de evolução magmática porque o Ni tem
KD>1 neste mineral. O crescimento gradual das concentrações de Zr com o aumento de
sílica indica, por outro lado, que não houve fraccionamento importante de nenhuma fase
mineral que incorpore este elemento (zircão).

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