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DISPUTA DE GUARDA E

PARENTALIDADE Luisa Villela Soares


Psicóloga

RESPONSIVA
“Toda criança cresce com a cabeça cheia de histórias. E as histórias em
que acreditamos sobre nós mesmos são poderosas, moldam o jeito que
vivemos, as escolhas que fazemos e, ao final, a história que acabamos
escrevendo para nós mesmos”.

Instituto Fazendo História


Vídeo – Construir as
Competências dos Adultos para
Melhorar o Desempenho das
Crianças
DESENVOLVIMENTO HUMANO E A
CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
Existem várias teorias sobre o desenvolvimento infantil. E vários autores que se dedicaram a
estudar a infância, dentre eles podemos citar:
Freud (1856-1939), Erikson (1902-1994), Piaget (1896-1980), Wallon (1879-1962), Vygotsky
(1896-1934), Bronfenbrenner (1917-2005), Winnicott (1896-1971), Gesell (1880-1961), Klein
(1882-1960), Anna Freud (1895-1982), Bowlby (1907-1990), Dolto (1908-1988), Spitz (1887-
1974).

Independente de qual autor, todos eles irão compreender que o desenvolvimento (motor,
cognitivo e emocional) é influenciado por fatores genéticos, culturais e ambientais.

Os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para estabelecer as bases das suas
aquisições ao longo da vida.
Esse processo se organiza através dos vínculos iniciais e das relações
interpessoais precoces.

Os adultos guardiões de crianças são responsáveis pelo seu


desenvolvimento até que este possa se tornar sujeito de si mesmo. Nós
devemos possibilitar o processo de individuação e autonomia, assim
como o senso de respeito ao outro e a si mesmo.
A FORMA COMO OS VÍNCULOS IRÃO SE ESTABELECER NA
VIDA DE UMA CRIANÇA, MODELA COMO ESTA IRÁ SE
COMPORTAR. DESDE BEBÊ O SER HUMANO APREENDE O
MUNDO POR MEIO DA INTERAÇÃO QUE TEM COM ELE,
DESDE AS RELAÇÕES MAIS SIMPLES: COMO UM OLHAR
NOS OLHOS; ATÉ UMA MAIS COMPLEXA: COMPREENSÃO
DO QUE SÃO OS LIMITES.
ETAPAS DO
DESENVOLVIMENTO
ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO
DESENVOLVIMENTO HUMANO
 Nascimento:

Rompimento do Nasce-se para


Emancipação
cordão nutriente um vínculo com
biológica
com a mãe os pais
Adolescência:

Rompimento do
Adolesce-se para
Emancipação cordão
um vínculo com o
Social dependente com
mundo
os pais
CARACTERÍSTICAS PRIMEIRA
INFÂNCIA
 Primeira infância é caracterizada pelo período que perpassa do 0 aos 3 anos;

 O desenvolvimento de uma criança não acontece de forma linear, as mudanças que vão se
produzindo ocorrem de forma gradual, são períodos contínuos que vão se sucedendo e se
superpondo;
 Durante a evolução a criança experimenta avanços e retrocessos, vivendo seu
desenvolvimento de modo particular;
 Independentemente de qual autor, todos eles irão compreender que o desenvolvimento (motor,
cognitivo e emocional) é influenciado por fatores genéticos, culturais e ambientais;
 Os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para estabelecer as bases das suas
aquisições ao longo da vida;
 O bebê se desenvolve com por meio do brincar.
ESQUEMA INTERACIONAL
DA APRENDIZAGEM
Estrutura
neurobiológic
a

Estimulação
Afeto
adequada

FONTE: LIVRO PROGRAMA NOTA 10 PRIMEIRA INFÂNCIA: 0 A 3 ANOS


INFÂNCIA – 3 A 6 ANOS
 Sucede o período da primeira infância e vai até a entrada na fase escolar;
 É caracterizada pelo pensamento fantástico e por volta dos 4 anos inicia a transição do
pensamento mágico para o lógico;
 Nesta idade a criança passa da dependência absoluta da mãe para a dependência relativa, e
passar a eleger, experimentar e explorar o ambiente (o que pode vir a ser um entrave na
relação familiar);
 O desafio familiar: mãe que fazia tudo para suprir os filhos deve agora frustrar
reivindicações para inserí-los no princípio da realidade* e ajudá-los a se desenvolverem e
se inserirem na sociedade.
 Os avanços no desenvolvimento são marcantes e geram a crise de oposição X autonomia - para explorar o ambiente há
uma discrepância entre necessidade e a capacidade da criança, que se deparar com limites tanto do ambiente quanto dos
cuidadores e isso faz com que haja tensão e frustração, surgindo em alguns casos a agressividade, birra como forma de
manifestar o que se sente.
INFÂNCIA – 6 AOS 10 ANOS
 Início do estágio social - entrada na escola representa atividades intelectuais e recreativas
com regras, deveres e hábitos novos.
 Os comportamentos se tornam mais refletidos e brandos, havendo uma redução dos
conflitos e uma ampliação da socialização.
 As crianças nessa fase apresentam muita vitalidade, interesse por tudo, humor instável,
afeto variado ao extremo
 Desafio para os adultos: Estabelecer regras e conseguir mantê-las, dar orientações claras e
coesas. É uma fase de muita argumentação, onde a crianças por meio do teste passa a
experimentar as relações sociais e desenvolver um conceito de si mesma (autoconceito),
que também é formado pelo que dizem a seu respeito.

 A escola passa a ser um fator fundamental para construção da identidade!!!


ADOLESCÊNCIA
 OMS (Organização Mundial da Saúde) considera como constituída por duas fases: A primeira: 10-
16 anos. A segunda: 16-20 anos. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) considera que essa
etapa vai dos 12 aos 18 anos.
 Mudanças Biológicas:
 Surgimento de caracteres secundários: Nos homens, a presença de massa muscular, ombros largos (tórax e espáduas),
pelos no corpo e no rosto, mandibular grandes, voz grave, pomo-de-adão, acne.
 Nas mulheres, o crescimento dos seios, presença de pelos pubianos e axilares, alargamento da bacia, menstruação, acne,
acúmulo de tecido adiposo.

 Mudanças Sociais:
 Saída do núcleo familiar para o social.

 Mudanças Psicológicas:
 Processo de luto referente à perda da infância.
 Aceitação da definição sexual: Período de consolidação da identidade sexual, escolha do objeto amoroso, e de
experiências sexuais.
 Aumento do nível de independência.
DESAFIOS DA ADOLESCÊNCIA
 Para o pediatra Ronald Pagnocelli de Souza (1987):
 Estabelecer uma identidade estável.
 Aceitar sua sexualidade e se ajustar gradativamente ao papel sexual adulto.
 Tornar-se independente dos pais.
 Fazer a escolha de uma carreira ou encontrar uma vocação.

Para a Associação Psiquiátrica Americana (USA, 1968):


 Separação e individuação dos pais.
 Estabelecimento da identidade sexual.
 Aceitação do trabalho como parte integrante do cotidiano de vida.
 Construção de um sistema pessoal de valores morais.
ESTILOS PARENTAIS
PAIS AUTORITÁRIOS - apresentam valores reduzidos de afetividade e elevados
níveis de controle e restrições. Exercem um controle psicológico rígido,
desencorajam a independência e individualidade da criança e a comunicação aberta
entre eles.

Tentam influenciar, controlar e avaliar o comportamento e atitudes dos filhos de


acordo com um padrão rígido, valorizam a obediência e favorecem a punição, e
tentam incutir à criança valores tradicionais como o respeito pela autoridade, o
trabalho, tradição e preservação da ordem (Baumrind, 1966, 1967, 1971).
ESTILOS PARENTAIS
PAIS COM AUTORIDADE - exercem um controle firme e são afetuosos, calorosos e
responsivos às necessidades das crianças. Encorajam a comunicação aberta e as trocas verbais
entre si e os seus filhos, e promovem a sua autonomia e individualidade.

Partilham as razões das decisões tomadas, reconhecem os seus direitos e os direitos da criança,
tentam orientar as suas atividades de modo racional e têm uma atitude de confronto face às
divergências, sem exagerar nas restrições.

Afirmam os seus valores de modo claro, esperando das crianças que cumpram as normas que
lhes dizem respeito e partilham com elas as razões das decisões. Estes pais têm níveis elevados
de exigência mas também de afetividade e promovem um ambiente intelectualmente
estimulante para os seus filhos. Os pais autorizantes estão altamente comprometidos e
investem bastante na educação dos seus filhos (Baumrind, 1967, 1971, 1993).
ESTILOS PARENTAIS
PAIS PERMISSIVOS - têm uma atitude tolerante e de aceitação face aos impulsos,
desejos e ações da criança e evitam tomar posições de autoridade e impor controle ou
restrições aos seus filhos.

São pais pouco punitivos, permitem às crianças regular o seu próprio comportamento
e tomar as suas próprias decisões sempre que possível, e exigem poucas regras de
rotina (Baumrind, 1967, 1971).

Tanto os pais com um estilo permissivo como os pais com um estilo autoritário fazem
poucas exigências de maturidade e comunicam de modo ineficaz (Baumrind, 1967).
 Os estilos parentais refletem diretamente no vínculo!

 Quanto maior a criança mais afetada será pelo estilo parental

 O vínculo irá pressupor a capacidade de executar as funções parentais de


maneira adequada!
FUNÇÃO PARENTAL -
MATERNA
Um dos principais vínculos que o bebê necessita para seu desenvolvimento é o
materno. Não pelo motivo de ser a mãe, mas pela função que é pressuposta a esse
papel.
A função materna pode ser exercida por uma pessoa independentemente de ter dado à
luz. Pode ser homem ou mulher, desde que tenha condição de maternagem.

 A maternagem pressupõe afeto em relação ao bebê, desejo de que ele sobreviva e


se desenvolva, prazer mútuo de tê-lo, de cuidá-lo, e uma experiência amorosa de
acolhimento, que prioriza aquele pequeno ser em seu universo emocional,
“inundando-o” de afeto, de bem querer. Isso significa conferir-lhe a importância de
ser único e indispensável em seu existir.
Nesse vínculo, o adulto na função de cuidado com o bebê, transmite os
limites e a proteção, oferecendo-lhe o máximo de conforto possível no novo
ambiente extrauterino, que, por ser desconhecido, pode ser sentido por ele
como hostil ou até mesmo agressivo.

Essa é a função humanizante do vínculo mãe/bebê. Trata-se de um conjunto


de sensações, sentimentos, atitudes etc. que propiciam a formação do
psiquismo da criança e que vai além dos cuidados com sua sobrevivência
física: amamentação, alimentação, higiene etc. (embora seja importante que
estejam presentes em todas estas atividades).
Segundo Bowlby (2006) a privação do amor materno (maternagem) na
primeira infância tem efeitos duradouros na saúde mental e no
desenvolvimento da personalidade.

Para o autor, quando uma criança é privada dos cuidados maternos, seu
desenvolvimento pode acabar sendo retardado - Física, intelectual e
socialmente – podendo aparecer sintomas de doença física e mental.

Não se sabe claramente o porquê algumas crianças são mais afetadas pela
privação do que outras, mas compreende-se que a idade, a duração e o grau
de privação, são fatores de forte influência.
FUNÇÃO PARENTAL -
PATERNA
A função paterna, assim como a função materna, tem um papel central no
desenvolvimento e estruturação do psiquismo da criança e na formação da
personalidade do adulto. O exercício da função paterna pressupõe muito mais do que
a simples presença masculina na relação com o bebê.

Quando se fala do pai, não se trata do pai como simples agente de paternidade
biológica, mas como o operador simbólico.

É na dinâmica da dialética edipiana que ocorre a construção desse pai simbólico a


partir do pai real e que a função paterna vai exercer influência na estruturação
psíquica da criança.
 O pai, como função simbólica, é estruturante, de forma que o exercício de sua
função impacta na estruturação psíquica da criança e no seu processo de
desenvolvimento.

 Nos casos de pais separados ou ausentes, alguém precisa exercer a função


simbólica de separação mãe-bebê, bem como assumir a função de retaguarda e
acolhimento da mãe, para que ela possa exercer a função materna no período inicial
de fusão com a criança. 

 Espera-se que o pai ensine o filho a existir em sociedade, assim como a mãe o
ensinou a existir em seu próprio corpo.
 No desempenho da função materna e da função paterna, entram em jogo
características pessoais do pai e da mãe:
 Condições emocionais de cada um que se referem às suas vivências na infância
 A suas capacidades de elaboração de vivências de frustração, de separação e do complexo
edípico.

 O exercício da função materna, tanto quanto o da função paterna, requer uma série de
atributos, aptidões e tarefas, que vão se modificando de acordo com o desenvolvimento
da criança.

 A ausência do pai, não apenas física, mas, sobretudo, a ausência psicológica, mostra-
se como uma dimensão bastante importante na gênese dos comportamentos de risco,
como, por exemplo, a adição às drogas, tanto na infância como na adolescência.
PSICOPATOLOGIA E
PARENTALIDADE
 Patologias: Narcisismo, transtornos de conduta e os transtornos depressivos
 São patologias que se configuram pela presença de quadros narcisistas, são da ordem da
ação e não do pensamento.
 São patologias que se apresentam como uma forma fragilizada de configuração subjetiva
caracterizada principalmente pelo desamparo e pela ausência de um ego solidamente
constituído e pelo vazio representacional.

Essas patologias destacam-se tanto pela sua intensidade quanto pela sua quantidade, na
sociedade atual. Não são patologias recentes, uma vez que já existiam desde a época de
Freud. No entanto, possivelmente, destacam-se porque a cultura da sociedade
contemporânea fertiliza o aparecimento dessas sintomatologias tão presentes no cotidiano
clínico
PSICOPATOLOGIA E O
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
 Complexo da mãe morta – Andre Green - O complexo da mãe morta consiste numa metáfora
utilizada para referir-se ao desinvestimento central por parte do objeto primário (Green, 1980).

 As características mais proeminentes desse desinvestimento são o abandono, a ausência ou


simplesmente a distância afetiva decorrentes não da morte real da mãe, posto que ela
permaneça viva, mas da mãe que parece morta psiquicamente aos olhos da criança em
consequência de uma depressão que ela própria atravessa, de uma tristeza ou mesmo de uma
diminuição do seu interesse pela criança.

 Esse esfriamento materno é vivenciado pela criança como uma catástrofe, um trauma
narcísico, dada a desilusão antecipada que demarca para ela a perda de amor e igualmente de
sentido uma vez que ela não dispõe de recursos para explicar o que ocorreu.
INÍCIO SÁBADO!
PARENTALIDADE RESPONSIVA
Parentalidade responsiva - Significa estar atento às necessidades do bebê e ou da criança,
respondendo de forma afetiva, efetiva e consciente às suas necessidades – físicas e mentais.

 A parentalidade positiva vem sendo discutida como uma estratégia de promoção do


desenvolvimento das crianças e de prevenção de comportamentos antissociais e ligados ao crime.

A promoção de uma infância feliz não mais se esgota no seio da família biológica, mas estende-
se para outras redes de afetos. Assim, todas as pessoas que se preocupem com o bem-estar das
crianças, a sua estimulação e desenvolvimento, desde os avós, a família alargada, os amigos da
família, os vizinhos, os professores, a comunidade, até aos médicos e às enfermeiras, podem ser
incluídas no processo de parentalidade. Nesse sentido, “[...] a parentalidade é transportada para
o domínio público: abandona a esfera privada da família face aos valores mais elevados de
proteção e promoção dos direitos das crianças e das famílias” (GASPAR, 2012).
A PARENTALIDADE COMO ESTRATÉGIA PARA UMA SOCIEDADE
SAUDÁVEL

Hoghughi - fala-nos da importância da proteção e do suporte dos pais, nos primeiros cinco
anos de vida das crianças, na construção do autoconceito e desenvolvimento de
sentimentos básicos de amor e segurança.
A presença do apoio ou falta dele influenciará a sua saúde mental e autoestima,
determinando o resto da sua infância e grande parte da vida adulta.

No texto são enumeradas 3 componentes básicos da parentalidade positiva:


1) Amor, Cuidado e Compromisso – as crianças precisam de sentir que são amadas
incondicionalmente, resultando este amor no estabelecimento de uma relação de
vinculação. Caso a criança seja privada de todo o carinho que necessita, poderá
desenvolver um tipo de psicopatia em que é incapaz de sentir ou dar amor a alguém.
Consequentemente repercutir-se-á na sua vida ao nível das relações interpessoais;
2) Controle e estabelecimento de limites – o desenvolvimento do autocontrole
nas crianças é importante para as ajudar a lidar com as situações do mundo
exterior. O estabelecimento de limites pretende mostrar-lhes que tipos de
comportamentos são aceitáveis ou não. As diretrizes devem ser dadas às
crianças com base no amor e não na reprovação, para que estas as aceitem e
as coloquem em ações;

3) Facilitar o desenvolvimento – as crianças devem ser estimuladas a fim de


se desenvolverem 6 todas as suas potencialidades. Good enough care implica
que se criem ambientes estimulantes, desde a infância, passando pela
adolescência até a idade adulta.
Práticas parentais pobres podem provocar danos ao nível do desenvolvimento.
Hoghugui descreve-as em 3 tipos, a saber:

tipo A - a falta de amor e de compromisso para com a criança constitui uma barreira no
desenvolvimento da mesma, que pode levar a problemas, tais como: personalidade
insegura, baixa autoestima, problemas nas relações com os pares, ao nível do casamento e
da parentalidade, vários tipos de desordem da personalidade e em casos mais extremos,
uma psicopatia em que a criança é incapaz de sentir ou dar amor a alguém;

tipo B - as crianças com falta de autocontrole podem desenvolver problemas de desordem


de conduta, comportamentos delinquentes e associados ao crime;

tipo C - as crianças negligenciadas no que diz respeito à estimulação das suas capacidades,
poderão apresentar problemas de aprendizagem na escola e desenvolver handicap’s sociais.
CONJUGALIDADE,
PARENTALIDADE E
DIVÓRCIO
TENSÕES ENTRE INDIVIDUALIDADE E
CONJUGALIDADE NO CASAMENTO CONTEMPORÂNEO

 Ideais de relação conjugal – A autonomia e a satisfação de cada cônjuge


prevalece sobre os laços de dependência.

 Constituir um casal demanda a criação de uma zona comum de interação: uma


identidade conjugal.

 Casal confrontado com duas forças paradoxais: individualidade e


conjugalidade. Ideais individualistas estimulam a autonomia dos cônjuges, Mas
surge a necessidade de vivenciar a conjugalidade, a realidade comum do casal, os
desejos e projetos conjugais.
Singly (1993) - características individualistas da família e do casal
contemporâneos. A relação conjugal se mantém enquanto é prazerosa e "útil" para
os cônjuges.

 Valorizar espaços individuais fragiliza os espaços conjugais  Fortalecer a


conjugalidade demanda ceder diante das individualidades.

 A família é importante, porque ajuda cada um a constituir-se como indivíduo


autônomo.
Contradições internas: os laços de dependência são necessários, mas são negados.
No laço conjugal, assim como na família, a necessidade de interdependência e a
negação desta necessidade criam tensões internas.
TRÊS GRANDES ÁREAS DO
RELACIONAMENTO CONJUGAL -
DICKS (1967)
1) Expectativas mútuas, conscientes, quanto àquilo que o relacionamento
conjugal deve prover

2) Extensão em que tais expectativas permitem a integração do casal ao seu


meio cultural

3) Ativação inconsciente de relações patogênicas passadas, internalizadas por


cada cônjuge, levando à complementariedade de papéis que se estabelece
entre eles.
COLUSÃO
Segundo Willi (1985) a colusão é um jogo inconsciente estabelecido entre os cônjuges,
que se desenvolve desde a eleição do(a) parceiro(a) e que se aprofunda na relação
conjugal, e no qual os conflitos são constantemente repetidos, imobilizando o outro na
situação neurótica.

O casal em formação pode encontrar no outro as próprias dificuldades. As fantasias e


idealizações baseadas na repressão e, portanto, inconscientes, emergentes do encontro
do casal, constituem a predisposição para a formação de um inconsciente comum.

Ambos depositam no outro a esperança de serem curados das próprias lesões e


frustrações da primeira infância e, assim, libertados dos temores e culpas que provêm
das relações anteriores.
COLUSÃO NARCISISTA
 O amor como ser um só: A eleição do parceiro ocorre segundo suas características de
personalidade narcísica já tão sobejamente descritas na literatura psicanalítica, e a busca se
concentra em encontrar alguém que não tenha aspirações próprias, que o adore e o idealize.

 O consorte que atende a essas expectativas do parceiro encaixa-se facilmente no modelo, uma
vez que, em função de um ego muito diferente, renuncia à aspiração de uma identidade própria,
idealizando ser absorvido "misticamente" pelo outro. O narcisista complementar encontra,
portanto, no narcisista idealizado sua própria identificação.

 Tanto o pólo narcísico como o pólo complementar da relação se acham presos um ao outro, pois
um é a possibilidade de existir idealizadamente do outro, num jogo de projeção e introjeção.
Acham-se presos a uma armadilha em que ao sujeito narcisista só seria possível uma relação
superficial e o sujeito complementar só admire uma relação simbiótica absoluta.
COLUSÃO ORAL
 O amor como preocupação de um pelo outro: Na eleição do parceiro, o cônjuge na
posição de "filho-lactente" adotivo tem expectativas de satisfação de suas necessidades
orais.

 Em função de seus problemas da primeira infância, oriundos de uma mãe com


dificuldade de lidar com a fase oral do bebê (talvez em função das próprias dificuldades
que possa ter tido nesta fase), gostaria de colocar-se numa posição regressiva-passiva e
resgatar a satisfação de sua oralidade.

 Recusa-se a tomar qualquer posição progressiva, na posição mãe, temendo repetir aí a


mãe má, internalizada, como objeto mau. Essas funções maternas são então transferidas ao
parceiro, de forma idealizada, que seria visto como uma mãe ideal.
COLUSÃO ANAL-SÁDICA
 O amor como pertencer-se um ao outro: "Esta forma de colusão advém do jogo conjunto de um
caráter anal ativo com outro passivo" (Will, 1985, p.121). Neste tipo de colusão, cada um dos
cônjuges introjeta uma padrão de relação que fará parte importante numa relação matrimonial.

 Quem não deseja ser dominado terá de dominar o outro, seja pela sedução carinhosa e
obediente, seja pela confrontação direta, levando o outro à exasperação e à impotência.

 Dominante ativo - No casamento e na família, ele exige adesão incondicional como expressão
de seu conflito. Essa adesão visa atenuar o medo da separação e do abandono. Em contrapartida, o
sujeito passivo da relação aceita aparentemente todas as imposições da outra parte, feliz por não
precisar se posicionar ou assumir qualquer responsabilidade direta em relação ao casamento e até
à própria vida. Porém, essa posição é apenas aparente, uma vez que, por trás dessa docilidade e
submissão, há a intenção de manter o poder e o controle da relação pela obediência e tolerância.
COLUSÃO FÁLICO-EDIPAL
 O amor como afirmação masculina: Nesse tipo de colusão, o amor é visto como
afirmação masculina.

 Diante do contexto biopsicossocial das relações, ocorre aqui uma construção de


estereótipos dos papéis masculino e feminino na sociedade, em que se esperam
determinadas tarefas e comportamentos, que são tanto mais cristalizados quanto mais
neuróticas forem as relações.

 Baseia-se na dificuldade em se identificar com as figuras parentais (muito fracas


ou muito poderosas) e com as quais os cônjuges não conseguem rivalizar e dissociar-
se.
Não se pode pretender que o conceito de colusão abarque definitivamente todas as
explicações a respeito das relações conjugais.

O que se estabelece aqui é a construção de um modelo teórico que busca entender o


que acontece por trás dos litígios trazidos ao Judiciário.

Deve-se observar que, em muitos casos, as pessoas utilizam o próprio Judiciário


como elemento de manutenção do vínculo neurótico colusivo.
 
O conceito de colusão, embora não tenha nenhuma pretensão classificatória, permite
que tenhamos uma visão sistêmica, circular, das relações, evitando uma leitura de
causalidade linear, em que haja, como na leitura jurídica, um culpado e um inocente
no casal e no ex-casal.
SEPARAÇÃO CONJUGAL: A
DISSOLUÇÃO DA
CONJUGALIDADE
Na sociedade contemporânea os indivíduos se divorciam porque a importância do
casamento é tão grande que os cônjuges não aceitam que ele não corresponda às suas
expectativas.

É a dificuldade desta exigência que o divórcio reflete, e quase sempre, os divorciados


buscam o recasamento!

 Estados Unidos - 50% dos que se casam pela primeira vez se divorciam e 60% que se casam
pela segunda vez também (Gottman, 1974; Rasmussen e Ferraro, 1991).

 Brasil - aproximadamente um divórcio para cada quatro casamentos.


A grande demanda de separação é feminina.
Jablonski (1991) - livro Até que a vida nos separe, Formula o conceito de
“fam-ilha”, versão contemporânea da família tradicional, ou seja, uma ilha
regida pela ideologia individualista, onde vigoram concomitantemente
demandas paradoxais. A vida a dois é descrita por ele "quase como
impossível", tendo em vista as contradições presentes no casamento
contemporâneo:

Como conciliar monogamia e permissividade, permanência e apelo ao novo,


vida familiar e realização pessoal ?
 Pesquisa num grupo de 20 casais da classe média carioca. Mulheres
definiram casamento como “relação amorosa”, homens definiram casamento
como “constituição de família”.

 Para as mulheres, quando a relação conjugal não vai bem, sobretudo na sua
vertente amorosa - admiração, intimidade e relacionamento sexual - a
separação conjugal parece inevitável.

 O casamento é "relação de amor". Para os homens, a relação amorosa não


estar bem não é suficiente para justificar o fim do casamento.
 Caruso (1968) - A separação dos amantes: estudar a separação amorosa significa
estudar a presença da morte na vida.

 Na separação há uma sentença de morte recíproca: O outro morre em vida dentro de


mim e eu também morro na consciência do outro.

 O divórcio é sempre vivenciado como uma situação extremamente dolorosa e


estressante. A separação sentimentos de fracasso, impotência e perda, havendo um luto a
ser elaborado.

 O tempo de elaboração do luto pela separação é quase sempre maior do que aquele do
luto por morte.
LITÍGIO COMO FORMA DE
VÍNCULO
 Um casal, embora física e legalmente separado, muitas vezes continua a se desentender em função de
conflitos não resolvidos, cujas motivações psicológicas situam-se, quase sempre, em níveis emocionais
profundos, nem sempre acessíveis ao nível da consciência.

 Isso pode determinar a manutenção repetitiva - de caráter francamente neurótico - de constantes


enfrentamentos de um e outro, sem que se consiga uma solução satisfatória.

 O vínculo conjugal pode ser desfeito, mas não o vínculo parental. O que se observa, porém, é que os filhos,
que deveriam ser o único vínculo entre os ex-cônjuges, costumam ser relegadas a segundo plano.

 O vínculo principal passa a ser o processo judicial, onde as partes depositam suas frustrações, mágoas e
ressentimentos, e os filhos se tornam um mero objeto desta disputa – na qual não há vencidos nem
vencedores, somente um grande desgaste emocional.
INTERFERÊNCIAS DA
CONSULGALIDADE NA
PARENTALIDADE
Como dito anteriormente com a separação ou o divórcio, extingue-se a conjugalidade,
e não a parentalidade.

Os filhos, em qualquer idade, precisam sentir-se seguros, protegidos e amados por


ambos os pais, juntos ou separados, a fim de que se prossiga a identificação parental
que, segundo Dolto (1989), ocorre de duas maneiras, sob o ponto de vista
psicanalítico: uma de forma consciente, por exemplo, quando o filho, voluntariamente
imita os comportamentos e valores do(a) genitor(a) com quem se identifica, tornando-
o(a) seu ídolo; outra de forma inconsciente, quando são captadas atitudes espontâneas,
emoções, sentimentos e desejos ocultos, tomando-os para si. Ambas as identificações
são importantes para a formação do ego do filho, e por isso devem ser preservadas,
mesmo com a separação dos pais!
SEPARAÇÃO CONJUGAL: FILHOS
 Raiva, medo, tristeza ou culpa dos filhos na separação.

 Os filhos precisam ficar fora do conflito conjugal.

 O casal parental continuará para sempre com as funções de cuidar, proteger e prover
as necessidades materiais e afetivas dos filhos.

 O pior conflito que os filhos podem vivenciar é o conflito de lealdade exclusiva a


um dos pais (próxima aula – alienação parental)
SEPARAÇÃO CONJUGAL: FILHOS
 A capacidade da criança e do adolescente de lidar com a crise que a separação
deflagra vai depender sobretudo da relação que se estabelece entre os pais e da
capacidade destes de distinguir, com clareza, a função conjugal da função parental.
 Esta é a relevância da relação conjugal para o desenvolvimento emocional dos filhos!

 Na grande maioria dos casos em que crianças apresentam problemas


emocionais, é suficiente tratar os pais para que haja remissão dos sintomas
infantis.
HIPÓTESE CLÍNICA SOBRE OS PAIS:

Os litígios relacionam-se a problemas que os ex-cônjuges não conseguiram


elaborar após a separação. (hp 1)

Existência de uma perda narcísica na desilusão amorosa. (hp 2)

Existência de uma forma sintomática de lidar com tal perda. (hp 3)

A atribuição de culpa ao outro isenta o reconhecimento da própria


responsabilidade.
E o desejo das crianças? Envolvidos nestes jogos parentais, as crianças
começam a ter problemas na escola, nos relacionamentos com seus
amigos e parentes. Entram em um conflito de lealdade com os pais, não
sabem como responder as suas demandas.
Este sujeito ainda emaranhado na teia fantasmática familiar sofre
por não saber dizer sobre este imaginário que não permite que ele se
coloque como sujeito, restando-lhe apenas a vertente do assujeitado.
Em alguns casos, quando os pais não se dispõem a nenhum trabalho de
elaboração subjetiva porque o sintoma não permite nenhuma abertura,
um trabalho com as crianças consegue fazer efeito.

Elas começam a contestar as demandas parentais e tentam não


participar do jogo litigioso no qual são as maiores prejudicadas.
Infelizmente, estes casos são raros.
DISCRIMINANDO OS
ELEMENTOS DO ENQUADRE
 Observações clínicas das crianças:

 As crianças começam a ter problemas na escola. [Índice diagnóstico 1]

 Problemas nos relacionamentos com amigos e parentes. [Id 2]

 Entram em um conflito de lealdade com os pais. [Id 3]

 Não sabem como responder as suas demandas.


HIPÓTESES CLÍNICAS (DIAGNÓSTICO):

 A criança sofre por conta da dinâmica familiar (teia

fantasmática familiar).

 Ela não compreende seu lugar discriminado-se do(s) outro(s)

(pais).

 Encontra-se alienado (assujeitado).


PROPOSTA DE INTERVENÇÃO:

Trabalho de elaboração subjetiva com os pais. [O quê]

Ou trabalho com as crianças. [O quê]

Critério de eficácia: [funcionou ou não]

[O litígio processual termina].

As crianças começam a contestar as demandas parentais. [Como?]

Tentam não participar do jogo litigioso. [O quê]


FILME
TAREFA - RESENHA FILME
A. Estrutura/dinâmica familiar e conjugal
B. Dificuldades encontradas na dinâmica familiar e nos subsistemas
C. Possibilidades de intervenção psicossocial

Enviar por email até dia 30/11


OBRIGADA!!!! Luisa.villela@gmail.co
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