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Qual o estatuto do
conhecimento científico?
O que é o conhecimento
científico?
Conhecimento
do senso comum e
conhecimento científico
Conhecimento do senso comum
Não há um grande Resulta da apreensão Resulta da apreensão Utiliza a linguagem Aquilo que é aceite como
aprofundamento dos imediata da realidade. sensorial da realidade. natural e não uma conhecimento não é
temas. linguagem técnica ou colocado em questão.
especializada, o que
gera ambiguidade.
Não decorre de É um conhecimento que é Resulta da experiência de Apesar de ter uma Baseia-se num conjunto
investigações aceite sem fundamentação cada ser humano e num função prática, muitas de pressupostos que
planificadas e apoiadas racional. contexto concreto. vezes baseia-se em nos permite, por
em testes ou resultados ideias erradas. exemplo, saber como
experimentais. nos devemos comportar
à mesa.
Conhecimento científico
«A ciência está longe de ser um instrumento de conhecimento perfeito. É apenas o melhor de que
dispomos. […] A maneira de pensar científica é a um tempo imaginativa e disciplinada. Isto é
fundamental para o seu êxito. A ciência convida-nos a aceitar os factos, mesmo quando estes não se
conformam com as nossas ideias preconcebidas. Aconselha-nos a pôr hipóteses alternativas e a ver qual
se adapta melhor aos factos. Incita-nos a um equilíbrio delicado entre a abertura a novas ideias, por
muito heréticas que sejam, e o exame mais rigoroso e mais cético de tudo – ideias novas e sabedoria
estabelecida. […]
Uma das razões do seu sucesso reside no facto de a ciência ter incorporada uma máquina corretora de
erros. Há quem possa considerar que isto é uma caracterização demasiado vasta, mas julgo que cada
vez que exercemos a autocrítica, cada vez que testamos as nossas ideias, contrapondo-as ao mundo
exterior, estamos a fazer ciência. Quando somos demasiado complacentes connosco mesmos e acríticos,
quando confundimos desejos e factos, deslizamos para a pseudociência e para a superstição.»
Carl Sagan, Um Mundo Infestado de Demónios, Lisboa, Gradiva, 2002, p. 42.
Conhecimento científico
Teórico e Unívoco Racional Crítico e
Mediato
Aprofundado revisível
Não se pretende uma resposta As explicações dadas Utiliza o rigor e a precisão da É uma interpretação O conhecimento é
imediata para um fenómeno, pela ciência baseiam-se linguagem matemática, racional dos dados constantemente revisto de
procura-se antes, esgotar em provas e evitando ambiguidades ou observados. modo a identificar falhas e
todas as possibilidade de demonstrações rigorosas. duplas interpretações. a ser corrigido e alterado.
explicação do mesmo.
Metódico e
Antidogmático Objetivo Preditivo Provisório
Sistemático
Nada é assumido como Tem em atenção os factos, Prevê a ocorrência de A teoria científica
É o resultado de uma
absoluto. evitando interpretações novos fenómenos. mantém-se até surgir
investigação metódica e
subjetivas. uma nova teoria mais
organizada.
eficaz e próxima da
verdade.
Senso comum e ciência: continuidade ou rutura?
Bachelard
O conhecimento do senso
comum é um ponto de partida
Problema ou um obstáculo ao
conhecimento?
Popper
Bachelard: a rutura com o senso comum
Perspetiva descontinuísta
Popper: a continuidade com o senso comum
«Toda a ciência e toda a filosofia são senso comum esclarecido. Deste modo começamos com
um ponto de partida vago e construímos sobre alicerces inseguros. Mas podemos progredir:
podemos às vezes, após alguma crítica, ver que estivemos errados; podemos aprender com os
nossos enganos, com a compreensão de que fizemos um erro […]. O nosso ponto de partida é
o senso comum e o nosso grande instrumento para progredir é a crítica.»
Karl Popper, Conhecimento Objetivo, Belo Horizonte, Itatiaia, 1975, pp. 42-43.
Popper: a continuidade com o senso comum
Perspetiva Continuísta
O problema do
método científico.
Indutivismo
Críticas ao indutivismo
Falsificacionismo
Críticas ao falsificacionismo
O método científico
Indutivismo
Em que consiste o
método científico?
Método hipotético-
-dedutivo
Problema
«Uma perspetiva simples, mas muito comum, do método científico é a seguinte: o cientista
começa por um vasto número de observações de certo aspeto do mundo: por exemplo, o
efeito de aquecer a água. Estas observações devem ser tão objetivas quanto possível: o
objetivo do cientista é ser imparcial e não ter preconceitos ao registar os dados. Uma vez
recolhida, pelo cientista, uma grande quantidade de dados baseados na observação, o
estádio seguinte é criar uma teoria que explique o padrão de resultados. Esta teoria, se for
boa, explicará simultaneamente o que estava a acontecer e irá prever o que é provável que
aconteça no futuro. Se os resultados futuros não se coadunarem completamente com estas
previsões, o cientista modificará a sua teoria para dar conta deles. Porque existe uma grande
regularidade na natureza, as previsões científicas podem ser extraordinariamente precisas .»
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Lisboa, Gradiva, 2007, pp. 180-181 .
Indutivismo Observação de fenómenos (pretende-se que os
registos desta observação sejam tão rigorosos e
imparciais quanto possível), o que lhe permite
levantar questões sobre o que foi observado.
Processo de descoberta
Processo de justificação
Resiste aos
testes:
corroborada
Resiste aos
testes:
corroborada
Exemplo: a experiência
A hipótese é confrontada com mostra que a mortalidade
Refutação potenciais casos que provem a dos peixes se mantém
sua falsidade. mesmo depois de removida
a planta aquática X.
Experimentação
A hipótese, depois de sujeita a
testes rigorosos, foi validada Exemplo: a experiência
pela experiência, sendo mostra que a remoção da
Corroboração considerada credível e planta aquática X evita a
reconhecida provisoriamente morte dos peixes no rio.
pela comunidade cientifica.
O objetivo da experimentação é mostrar que não ocorre aquilo que a hipótese prevê, propondo a sua falsificação.
Falsificacionismo de Popper: o método crítico
• Se a fábrica X está a poluir o rio, então há um aumento no número • Se a fábrica X está a poluir o rio, então há um aumento no número
de mortes de peixes. de mortes de peixes.
• As mortes de peixes aumentaram. • Não há um aumento no número de mortes de peixes.
• Logo, a fábrica X está a poluir o rio. • Logo, a fábrica X não está a poluir o rio.
(P → Q) (P → Q)
Q ¬Q
.·. P .·. ¬P
Exemplo:
“Todos os corvos são negros.”
Análise comparativa
O problema da evolução e da objetividade da ciência
Karl Popper
Há progresso em ciência?
Problema É a ciência objetiva?
Thomas Kuhn
O problema da evolução e da objetividade da ciência
Objetividade e
progresso científico
Perspetiva histórica e
Thomas Kuhn
sociológica da ciência.
A perspetiva
de Karl
Popper
Karl Popper: A ciência é objetiva?
P1 TT EE P2
Karl Popper: Há progresso na ciência?
«Já deve ser claro que a explicação deve, na análise final, ser
psicológica ou sociológica. Deve ser uma descrição de um sistema de
valores, uma ideologia, juntamente com uma análise das instituições
através das quais esse sistema é transmitido e reforçado. Sabendo o
que os cientistas valorizam, podemos esperar compreender que
problemas eles acentuarão e que escolhas farão em circunstâncias
particulares de conflito. Duvido que haja outro tipo de resposta a
encontrar.»
Thomas Kuhn, A Tensão Essencial, Lisboa, Edições 70, 2009.
O desenvolvimento da ciência
Comunidade
Dimensão prática: regras, metodologias, modelos de investigação
Paradigma e de pesquisa, procedimentos. científica
Ciência Normal
Pressupostos metafísicos e filosóficos em relação ao que existe
no mundo e ao modo de funcionamento da natureza e do Universo.
O desenvolvimento da ciência: o paradigma
Ciência
Atividade de resolução de enigmas.
normal
«Quando, devido a estas razões ou a outras como elas, se começa a pensar que uma
anomalia não é somente mais um enigma da ciência normal, dá-se início à transição
para a crise e para a ciência extraordinária. A própria anomalia começa a ser agora
identificada como tal pela profissão. Mais e mais atenção lhe é dedicada por um
número cada vez maior de homens eminentes da área respetiva. Se a anomalia
continuar a resistir, o que não é aliás comum, muitos desses homens podem passar a
olhar para a sua solução como o objeto de estudo da sua disciplina. […] Embora exista
ainda um paradigma, poucos praticantes são aqueles que concordam sobre o que ele é.
Mesmo soluções para problemas consolidados anteriormente começam a ser postas em
causa.»
Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2009, pp. 122-124.
O desenvolvimento da ciência: a ciência extraordinária
«A transição de um paradigma em crise para um novo paradigma do qual uma nova tradição de
ciência normal emergirá é tudo menos um processo cumulativo, um processo alcançado mediante
uma reorientação ou extensão do velho paradigma. Ao contrário disso, trata-se de uma reconstrução
do campo de estudos a partir de novos fundamentos, uma reconstrução que altera algumas das
mais elementares generalizações teóricas do campo, bem como muitos dos seus paradigmas ao nível
dos métodos e aplicações. […] Quando a transição se completa, os membros da profissão terão
alterado o seu conceito do campo de estudos, dos seus métodos e dos seus objetivos. […]».
Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2009, pp. 124-125.
Incomensurabilidade dos paradigmas
A incomensurabilidade de paradigmas é a
impossibilidade de os comparar objetivamente de
maneira a concluir que um é superior ao outro.
O desenvolvimento da ciência: fases
Crise e ciência Revolução Nova fase de
Pré-ciência Ciência normal
extraordinária científica ciência normal
• Uma teoria é • Uma teoria é tanto • Uma teoria é tanto • Uma teoria é tanto • Uma teoria é tanto
tanto melhor melhor quanto melhor quanto melhor quanto melhor quanto
quanto mais mais coerente e maior for a sua maior for a sua maior for a sua
exatas e precisas compatível for com capacidade de capacidade de capacidade para
forem as suas outras teorias explicar mais recorrer a meios desvendar novos
previsões e amplamente fenómenos. simples para a fenómenos ou
aplicações aceites. explicação dos relações entre
práticas. fenómenos. fenómenos.
Kuhn – Objetividade Científica
Apesar destes critérios objetivos, Kuhn considera que a aceitação de um novo paradigma não e
determinada por fatores estritamente racionais e objetivos. Diferentes cientistas podem interpretar de
modo diferente estes critérios e chegar a conclusões diferentes, o que significa que há também fatores
subjetivos na escolha do novo paradigma:
Prestígio pessoal
Experiência anterior
Personalidade
É a ciência objetiva?
comparativa Sim.
Há progresso em ciência, na medida em
Sim.
Existem padrões racionais, estabelecidos
que as novas teorias, sobrevivendo a no método científico, que permitem
testes rigorosos, eliminam os erros das comparar as teorias e determinar qual é
anteriores e, assim, se aproximam mais mais verosímil. A evolução da ciência é
Popper da verdade. A verosimilhança é o critério marcada pela atitude racional e crítica em
do progresso: as teorias mais relação às teorias: a nova teoria superou
verosímeis são as que explicam melhor os testes precisos e rigorosos e tem um
os factos e superam os testes em que conteúdo empírico corroborado por mais
as outras foram derrotadas. A verdade é factos.
a meta ideal da investigação científica.