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Julho, 2006
Índice
Páginas
Parte I
1. Introdução --------------------------------------------------------------------- 3
Parte II
Factores da Fonte de Persuasão ------------------------------------------------ 4
1. Similaridade entre a fonte e o emissor ------------------------------------- 6
A democracia dos blogues ---------------------------------------------- 7
2. Credibilidade da fonte ------------------------------------------------------- 8
a) Expertise ------------------------------------------------------------------- 10
Blogues: um mundo de peritos ------------------------------------------ 11
b) Fidedignidade -------------------------------------------------------------- 12
Confiança: factor de sobrevivência na blogosfera ------------------- 14
Parte III
1. Conclusão ---------------------------------------------------------------------- 15
Bibliografia ---------------------------------------------------------------------------- 17
- Parte I -
1. Introdução
- Parte II -
De seguida irei abordar cada um dos mecanismos através dos quais a influência
da fonte de informação pode surtir efeito, aplicando a teoria à realidade da blogosfera
internacional recorrendo a exemplos práticos. Tendo em conta as especificidades do
meio de comunicação que é a Internet, considero não se aplicarem questões como o
poder e atractividade física da fonte já que se trata de um meio despersonalizado,
onde as relações hierárquicas se tendem a esbater – embora seja possível estes dois
elementos influírem no processo apenas no caso de existir uma qualquer relação entre
emissor e receptor fora do âmbito da relação online; tais situações são no entanto
demasiado específicas e saem do objectivo geral deste trabalho que se refere ao poder
de influência que os blogues detêm sobre a globalidade dos seus leitores e os
processos inerentes.
Posto isto, serão abordadas questões como a similaridade percebida entre
bloguers e seus leitores, e a credibilidade dos primeiros como fontes emissores de
informação quer em termos de expertise quer em termos de fidedignidade.
“Gostamos de pessoas que são similares a nós” (Byrne, 1971; cit in Perloff,
2003, p. 150). Este facto é tanto verdade seja a similaridade percebida em termos de
aparência, opiniões, estilo de vida ou mesmo na partilha de datas de aniversário
(Cialdini, 2001; Perloff, 2003; Petty e Cacioppo, 1996). Esta tendência para gostarmos
daqueles que são similares a nós leva-nos a ‘conceder’ a estas pessoas um tratamento
mais favorável, inclinando-nos mais para entrarmos em acordo com elas.
Num contexto de persuasão, esta similaridade percebida actua como uma pista
periférica no sentido de tornar mais atraentes e aceitáveis os argumentos
apresentados pelo emissor (Cialdini & Trost, 1998; Petty & Cacioppo, 1996; Perloff,
2003). Brock (1965; in Petty & Cacioppo, 1996) conduziu um estudo acerca da
influência que um vendedor de uma loja teria sobre os seus clientes que aí se
deslocavam para comprar tinta, sugerindo a compra de uma outra marca de tinta que
poderia ser mais cara ou mais barata do que aquela que os clientes estariam dispostos
Jay Rosen (cit in Gilmor, 2005, p. 46) descreveu os blogues como sendo uma
“forma extremamente democrática de fazer jornalismo”, devido à simplicidade
inerente à criação e manutenção de um: de acordo com os dados mais recentes é
criado um blog por segundo em todo o mundo (Hirschberg, 2006). Os blogues são
mantidos por pessoas comuns que procuram uma forma de expressar as suas
experiências pessoais (PEW/Internet, 2006); são por isso descritos, enquanto
Mas tal tipo de influência é ainda mais visível entre bloggers. Num estudo sobre
hábitos de bloggers realizado em conjunto pela empresa de relações públicas Edelman
e pela empresa online dedicada ao fenómeno dos blogues Technorati (2006), 66% dos
inquiridos responderam que confiavam mais em outros bloggers para obter
informação acerca de um dado produto. Uma vez mais, podemos verificar o princípio
de similaridade da fonte, no caso presente em termos ainda mais específicos do que a
relação bloger-consumidor, a funcionar como validação da fonte de emissão da
mensagem.
2. Credibilidade da fonte
1984; in Cialdini & Trost, 1998) que se refere aos acidentes aéreos ocorridos devido a
erros do capitão, erros esses que poderiam ser corrigidos pelos restantes membros da
tripulação que no entanto, e mesmo tendo em conta a relevância pessoal do facto,
preferiram não o fazer. Esta situação é explicada pelo facto de os membros da
tripulação activarem uma heurística de autoridade que os leva a aceitar as opiniões do
capitão, mesmo quando erradas (Harper et al., 1971; in Cialdini & Trost, 1998). Não é
evidente se este aceitar dos ‘erros’ do capitão se deve apenas à autoridade que este
detém, ou também devido ao facto de este ser um expert no assunto em questão.
Os estudos a respeito do impacto da credibilidade da fonte na persuasão
indicaram não se tratar este de um conceito unitário (Perloff, 2003). Um comunicador
para ser considerado como credível deve possuir determinadas características sendo
as principais expertise e fidedignidade – boa vontade é um outro atributo importante,
no entanto tem-se mostrado menos regular (McCroskey & Teven, 1999; cit in Perloff,
2003).
De seguida irei abordar expertise e fidedignidade aplicados à blogosfera.
a) Expertise
figuras conhecidas para o desempenho desse papel. Convém realçar que para falar de
expertise neste último caso terá de haver alguma relação lógica entre a celebridade e o
produto que anuncia (Oskamp & Schultz, 1998), como é o caso de um atleta promover
um artigo desportivo.
A expertise da fonte funciona como uma pista periférica de persuasão, sendo
especialmente eficaz em situações de menor envolvimento ou de menor
disponibilidade ou predisposição para o escrutínio dos argumentos da mensagem
(Petty & Cacioppo, 1996; 1998). Quando a mensagem é pouco envolvente do ponto de
vista pessoal, os argumentos veiculados por uma fonte com elevada expertise são
aceites recorrendo a um menor esforço cognitivo do que quando são propostos por
uma fonte de baixa expertise. Num estudo de Cook (1969; in Petty & Cacioppo, 1996)
foi pedido a sujeitos que lessem mensagens contra-atitudinais relativamente a alguns
truísmos culturais, sendo que essas mensagens eram atribuídas a uma fonte com
elevada expertise, a um fonte com reduzida expertise, ou a fonte não era especificada.
Os resultados demonstraram que as mensagens produziam menor número de contra-
argumentação quando a fonte possuía elevada expertise, demonstrando que neste
caso os argumentos, mesmo indo contra a atitude dos sujeitos, eram aceites com
menor resistência e recorrendo a um menor esforço cognitivo de processamento da
informação.
Por outro lado, este efeito de menor produção de argumentos quando a
mensagem é postulada por um expert, leva a que o impacto persuasivo destes seja
inferior no caso de mensagens que advoguem posições previamente defendidas pelos
sujeitos (Petty & Cacioppo, 1996). Isto foi verificado num estudo realizado por
Sternthal et al. (1978: in Petty & Cacioppo, 1996) que verificaram que quando a
mensagem advogada por uma fonte com elevada expertise era contra-atitudinal
tendiam a elicitar maior concordância e menor contra-argumentação em comparação
com uma fonte de moderada expertise; no entanto, quando a mensagem era pró-
atitudinal a fonte com elevada expertise levava a uma menor produção de argumentos
favoráveis e uma menor concordância do que a fonte de moderada expertise.
Os efeitos da expertise parecem ser maiores nas situações em que a distracção
é elevada, quando o conhecimento do tópico em discussão é reduzido, na presença de
Apesar de a grande maioria dos blogues ser criada e dinamizada por ‘pessoas
comuns’, a verdade é que muitos dos blogues que surgem nos topos dos rankings
dedicados ao fenómeno pertencem a indivíduos que possuem um estatuto de experts
no assunto sobre o qual blogam. De facto, 34% dos inquiridos num estudo (Edelman &
Technorati, 2006) referem que utilizam o seu blog para se afirmarem como uma
autoridade no seu campo de especialização.
A confirmar o estatuto de autoridade dos bloggers nos seus campos de
interesse encontra-se a constatação de muitos serem hoje em dia citados por
publicações internacionais de grande difusão e respeitabilidade (e.g., The Washington
Post, The Herald Tribune), assim como são convidados para falarem em conferências e
eventos públicos (Hischberger, 2006).
Recorrendo novamente a exemplos da blogosfera portuguesa, os blogues Tao
of the Mac e Blasfémias são modelos deste processo de expertise atestada pelos seus
leitores. O primeiro dedicado a tecnologia é mantido por Engenheiro Informático;
enquanto que o segundo, dedicado a questões político-económicas, é sobretudo
mantido por especialistas na área da política económica. Este último caso é ainda
exemplo do processo de validação pelos grandes meios de comunicação social, já que
alguns dos seus autores passaram a colaborar com o suplemento económico Dia D do
jornal Público.
Mas se muitos procuram os blogues para se afirmarem, outros usam-nos como
mais uma extensão de comunicação. É exemplo disso o Abrupto, blog mantido pelo
eurodeputado José Pacheco Pereira (e provavelmente o caso mais mediático da
blogosfera portuguesa), no qual o autor vai dando a sua opinião acerca de questões
políticas, sociais ou culturais. O mesmo autor possui um outro blog, Estudos Sobre o
b) Fidedignidade
pessoal era elevado, a tendência para mudar as atitudes por parte dos sujeitos era
inibida.
- Parte III -
Conclusão
Número de Posts
1400 1290
1200
1000
400
campanha presidencial oferecendo as 200
199 152
mesma se processou, dos candidatos e Figura B – Comparação do nº de posts sobre candidatos presidenciais
durante e após a campanha.
das propostas avançadas por estes. Na
figura B podemos verificar uma comparação entre o número de posts dedicados aos
principais candidatos no decorrer da campanha em comparação com o número de
posts para um período posterior a esta nos blogues portugueses. Uma situação similar
verificou-se nos Estados Unidos durante as primárias do Partido Democrata quando o
senador Howard Dean utilizou o seu blog de campanha para se tornar um dos mais
sérios candidatos à vitória.
Recorrendo aos estudos em influência social facilmente se percebe os motivos
por detrás do fascínio e interesse nos blogues. Numa sociedade cada vez mais
mediatizada e em que o tempo passado a navegar na Internet tem tendência a
aumentar nas próximas gerações, estas ferramentas online apresentam um potencial
persuasor e influenciador extremamente elevado sendo cada vez maior a tendência
para marcas e indivíduos apostarem nelas como meio de propagação das suas
mensagens na procura de mudar as atitudes dos receptores; sejam atitudes de
consumo, políticas, ecológicas ou relativas a uma miríade de assuntos.
Nas palavras de Cornfield et al. (2005, p. 31) os blogues são um meio que
favorecem “transparência sobre opacidade, conversação sobre apresentação,
pequenas peças sobre grandes trabalhos, um estado incompleto sobre um conclusivo,
documentação sobre descrição e, paradoxalmente, individualização sobre
Bibliografia
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