CLUBE DE REVISTAS

por dentro

Edição 456 • outubro 2023

do órion
O laboratório brasileiro
de segurança máxima será o
1o conectado a um acelerador
de partículas. Entenda. p. 32

r$ 25,00

Você já teve a sensação

de que está cada vez
mais difícil manter
o foco? Vivemos
mergulhados num
mar de estímulos
– e isso tem efeitos
mensuráveis sobre o
cérebro. Veja quais são
eles, e saiba a real sobre
a moda que tomou as
redes sociais: o jejum
de dopamina. p. 20
POR BRUNO GARATTONI
E MAURÍCIO BRUM

p. 08 p. 54 p. 48 p. 42
semana de a obra e instrumentos a verdade
quatro dias: a vida de musicais: 60 mil sobre o
chegou a hora? nikola tesla. anos de história. glutamato.
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CARDÁPIO outubro dE 2023

20 Capa

A MORTE DA ATENÇÃO
O TikTok acabou com o seu foco? Enten-
da como a enxurrada de estímulos das
redes sociais prejudica a saúde mental
– e veja como se proteger das armadilhas
que minam o poder de concentração.

32 Por dentro do Órion

Visitamos o primeiro laboratório de
segurança máxima do Brasil, construído
no mesmo complexo do Sirius, o acelera-
dor de partículas.

40 Dieta carnívora
O Brasil é o 5º maior devorador per capita
de carne bovina. Saiba como é o consumo
de proteína animal ao redor do mundo.

42 Minha fama de mau

Entenda de uma vez se o glutamato mo-
nossódico (presente em ultraprocessados
e na culinária chinesa) é nocivo à saúde.

48 Família Dó Ré Mi
Da flauta neandertal ao sintetizador,
um infográfico com a árvore genealógica
de cada tipo de instrumento musical.
Órion: o Brasil na
vanguarda dos 54 A eletrizante vida de Tesla
estudos com vírus. Saiba como o trabalho e as ideias do
P. 32 inventor sérvio foram decisivas para ligar
o mundo na tomada.

5 carta ao leitor 12 mestres do sabor 65 manual

Empresa edita o DNA de Como começar
número
verdura para deixá-la menos
amarga – e mais gostosa. incrível ORÁCULO a aprender Libras.

ESSENCIAL 60 engoliu?
Do que são feitas as cápsulas
6 uma imagem... de remédios em pílula?
Juízes vestem perucas e
togas do século 17 durante
cerimônia em Londres.

16 i want my mtv
O Assassino, de David Fincher,
estreia em outubro. Veja
como ele e outros cineastas
8 ... uma opinião começaram dirigindo clipes.
61 pá pum
Estamos prontos
18 oi, sumido 63 só acredito vendo
para a semana de
quatro dias úteis. A nova versão do minicom- 64 conexões
putador Raspberry Pi, que 64 lost in translation
esteve em falta na pandemia.
44
SUPERNOVAS 12 enquanto isso... segundos. É o

10 modo reverso 14 3 notícias sobre

tempo mÉdio de
atenção para
cada janel a
ÚLTIMA PÁGINA
“Vacina invertida” pode 16 pérolas do streaming que você abre 66 carinha feliz
ajudar o corpo contra no navegador 64 santo holerite Veja quais são os emojis
doenças autoimunes. 19 você decide do pc. p.20 Qual é o salário do Papa? mais utilizados no mundo.

Capa | Ilustração Matheus Kubs


CARTA AO LEITOR
Uma breve história
da Terra Santa
“Palestina” vem de “Filístia”
– terra dos filisteus, um povo que se
estabeleceu por volta de 1100 a.C.
na costa leste do Mediterrâneo, on-
de hoje fica o litoral de Israel e a
Faixa de Gaza. Quem batizou foram
historiadores da Grécia Antiga.
“Israel” é um nome que vem da Bí-
blia. De acordo com o Velho Testa-
mento, trata-se da alcunha que Jacó,
um dos patriarcas do Livro Sagrado,
recebeu após ter lutado contra um
anjo, e prevalecido. Significa “aquele
que luta [isra] com Deus [el]”.
Também por volta de 1100 a.C., tri-
bos de pastores que viviam onde hoje
fica o interior de Israel e a Cisjordânia
desenvolveram uma cultura unifica-
da, que daria origem ao judaísmo.
Uma cultura forjada pelos conflitos
territoriais da Idade do Ferro, em
grande parte contra os filisteus.
Golias, o gigante armado até a
medula que o menino Davi derrota
com uma pedrada na mitologia bí-
blica, é filisteu. Os captores de San-
são, uma espécie de Incrível Hulk
bíblico, também, como diz Juízes
16:21: “Os filisteus furaram seus
olhos. Então o levaram para Gaza e
o prenderam com correntes de
bronze. E o puseram para trabalhar
na prisão, virando um moinho”.
Pela cronologia bíblica, a cultura
israelita viveu seu auge entre 1020
a.C. e 930 a.C., quando todas as tri-
bos que se consideravam descen-
dentes de Jacó formaram o Reino de
Israel. Depois disso, veio uma cisão:
a parte sul do território, centraliza-
da na cidade mais importante, Jeru-
salém, tornou-se independente,
dando origem ao Reino de Judá –
daí o nome da religião.
Em 722 a.C., a parte norte foi ar-
rasada pelo Império Assírio. Em
586 a.C., Judá caiu nas mãos de ou-
tro império, o Babilônio – mesmo
destino dos filisteus. A cultura da
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Editorial
Filístia deixou de existir aí. A da Ju-
deia, não: algumas décadas depois
da invasão, os judeus foram autori-
zados a retomar o controle de Jeru-
salém. E por lá ficaram até o século
2. Mas aí o império da vez, o Roma-
no, decidiu expulsá-los definitiva-
mente – além de renomear Judeia e
arredores com o nome grego, Pales-
tina, para cortar o vínculo entre o
lugar e a população judaica.
Com o fim de Roma, no século 5, a
região ficou nas mãos dos herdeiros
dos césares, os bizantinos. Mas por
pouco tempo. Em 637, os árabes to-
maram o controle da Palestina. O is-
lamismo ainda estava em seus
primeiros dias – Maomé tinha morri-
do apenas cinco anos antes. Por fazer
parte da infância do islã, Jerusalém se
tornaria uma cidade sagrada também
para os muçulmanos.
A Palestina chegaria ao século 20
sob controle islâmico – como parte
do Império Otomano. O lugar se tor-
naria uma colônia britânica após a
Primeira Guerra. Com o crescimento
do antissemitismo na Europa (que
culminaria no Holocausto), comuni-
dades judaicas foram estabelecendo-
-se em sua terra santa. E em 1947
fundaram o Estado de Israel. Faltava
combinar com os árabes, que forma-
vam 70% da população.
E ainda falta. O plano original, da
ONU, era que os árabes também ti-
vessem seu país ali, a Palestina. Isso
nunca aconteceu. E agora, com a es-
calada do terrorismo do Hamas, a so-
lução de dois Estados parece ainda
menos viável. Mesmo assim, ela ain-
da é a única com potencial para tra-
zer uma paz duradoura. Que venha
algum dia.
Alexandre Versignassi
di r etor de r edação
AlexAndre.VersignAssi@Abril.com.br
Fundada em 1950
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(1907-1990) (1936-2013)
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ESSENCIAL uma imagEm...

Foto Dan Kitwood / Getty Images

6 super outubro 2023
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outubro 2023 super 7

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ESSENCIAL ...uma opinião

na página anterior: no último dia 2 de outubro, juízes britânicos puseram suas peru-
cas e togas típicas do século 17 e caminharam do local onde costumava ficar a entrada
cerimonial da cidade de Londres, chamado Temple Bar, para uma missa na Abadia de
Westminster. Essa cerimônia centenária marca o fim das férias (o Judiciário britânico
descansa em agosto e setembro) e dá início ao chamado legal year – "ano legal". No dia
a dia da corte, eles usam perucas menores e práticas. As compridas são só cerimoniais.

Finais de semana
mais longos – que

Já estamos
estão chegando
a 21 empresas
brasileiras como
um experimento –

prontos para parecem utópicos.

Mas a verdade
é que, ao longo
do século 20, a

semanas de carga de trabalho

da humanidade
saiu de compasso

quatro dias
com o tempo que
passamos no
escritório. É hora
de ajustar.

POR bruno vaiano

F
Foram os judeus, no primeiro milênio antes de Cristo, que
determinaram um dia de descanso, o shabat – sábado –, a cada seis
dias de trabalho. Esse esboço pioneiro de CLT, talhado à imagem
e semelhança do expediente de Deus no Gênesis, foi o pontapé
inicial da semana de sete dias que seguimos até hoje.
Já o final de semana de dois dias é uma invenção bem mais recente
(e nem de longe universal). Começou em 1870, com um early saturday
na Inglaterra: o pessoal podia sair na hora do almoço aos sábados.
Melhor que deixar só o domingo para beber – e aí tolerar a ressaca
coletiva na segunda. Depois, em 1908, um moinho de algodão na
Nova Inglaterra (EUA) instituiu a primeira semana de trabalho de
cinco dias para que tanto funcionários judeus como cristãos – que
descansam no domingo, é claro – pudessem repousar.
Um ponto pivotal foi quando Henry Ford adotou o fim de semana

8 super outubro 2023


de dois dias em 1926. “Pessoas que têm
mais lazer precisam ter mais roupas.
Elas comem uma variedade maior de
alimentos. Elas requerem mais veícu-
los para se transportar.” Os empresários
precisavam desovar bens de consumo,
e a massa operária ansiava por tempo
livre para o american way of life.
Em 1930, o economista John Maynard
Keynes previu que, no século 21, a tec-
nologia teria avançado o suficiente para
garantir semanas de trabalho de apenas
dois dias (15 h) nos países desenvolvi-
dos, sem mexer com a remuneração e
a produtividade dos empregados. Ele
acertou: os EUA atingiram um grau de
inovação no ambiente de trabalho que
permite a utopia keynesiana, em tese.
Um empregado americano médio, hoje,
demora 15 minutos para realizar o que
um brasileiro faz em uma hora.
Só não rolou a semana de 15 h mesmo.
Por quê? A explicação intuitiva é que
nenhuma empresa mantém três empre-
gados de 15 h se dá para manter um só
em regime de 45 h. Desde o movimento
ludista do século 19 há o medo de que a
automação seja sinônimo de demissão,
jamais de folga. O problema desse ar-
gumento é que ele não tem respaldo na
realidade. Não há desemprego em massa.
Países com grau altíssimo de automação,
como Japão e os próprios EUA, estão em
estado de pleno emprego. É que novos
cargos surgiram para substituir profis-
sões canceladas. O Fórum Econômico
Mundial (WEF) calcula que, até 2025,
o avanço tecnológico criará 12 milhões
de vagas a mais do que vai destruir. Um
saldo final positivo.
Que vagas são essas? Algumas respos-
tas são óbvias: tecnologia da informa-
ção (TI) e desenvolvimento de softwa-
re, por exemplo, são áreas que crescem
rápido. Nem todo mundo, porém, está
preenchendo espaços que precisam ser
preenchidos. Nas cidades mais ricas, a
massa de operários deu lugar a cargos
de escritório que o antropólogo David
Graeber apelidou de bullshit jobs (“em-
pregos papo furado”).
Graeber define bullshit jobs como car-
gos cuja existência os próprios ocupan-
tes não são capazes de justificar, porque
passam a maior parte do expediente sem
fazer nada de útil para a empresa ou para
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91% das firmas britânicas que testaram
semanas de quatro dias em 2022 vão
mantê-las para sempre sem prejuízo na
produtividade. É só racionalizar a rotina.
o mundo. A maior parte das profissões
que conhecemos não é assim, claro: pro-
fessores, motoristas, garçons, lixeiros,
bombeiros e até deputados têm impor-
tância óbvia. E soa ilógico imaginar que
o setor privado pagaria salários à toa.
Mas não é o que mostram os dados.
Em 2016, o trabalhador médio dos EUA
passava só 39% de seu expediente rea-
lizando a tarefa que foi contratado para
fazer, e outros 11% em reuniões produ-
tivas. Os 50% restantes eram desper-
diçados com a caixa de e-mail inchada,
reuniões que poderiam ser um e-mail,
preenchimento de formulários inúteis,
interrupções feitas pelos supervisores
para cobrar tarefas não essenciais etc.
O índice de desalento com a vida pro-
fissional é igualmente alto: a empresa de
pesquisa de mercado YouGov no Reino
Unido descobriu que 37% dos britâni-
cos acreditam que seu trabalho não faz
diferença alguma para o mundo.
Para entender quem são e o que fazem
essas pessoas, Graeber foi além dos nú-
meros. Ele analisou 124 relatos de pesso-
as que reclamaram, na internet, de terem
trabalhos inúteis – e pediu testemunhos
a 250 bullshit workers assumidos de vários
países (inclusive o Brasil). São recepcio-
nistas que atendem uma ligação por dia e
enchem um pote de balas, ascensoristas,
vendedores de call center que fazem liga-
ções indesejadas, assistentes de RH que
trabalham uma hora por dia, autores de
relatórios que ninguém lê, preenchedores
de papéis e planilhas que não precisariam
existir, gestores de pessoas que não exi-
gem gestão etc. Só 6% dessas pessoas se
dizem felizes em ganhar dinheiro “fácil”.
Casos extremos podem ser exceções.
Mas os dados já citados mostram que
metade de um expediente comum é gasto
em bobagens – mesmo em cargos que
precisam existir. Sinal de que Keynes es-
tava certo: há muita gente que poderia
trabalhar menos sem perder produtivi-
dade. Basta racionalizar a rotina.
É por isso que, entre novembro de
2023 e abril de 2024, 21 empresas bra-
sileiras vão adotar experimentalmente
um regime de trabalho de quatro dias
semanais. A iniciativa partiu da ONG
britânica 4 Day Week, que já fez algo si-
milar no Reino Unido: ao longo de 2022,
61 empresas deram finais de semana de
três dias para 2.900 funcionários.
91% das firmas que participaram resol-
veram manter a semana de quatro dias,
e 4% vão considerar seriamente implan-
tá-la. Só 4% disseram “não” em definiti-
vo. A receita dessas empresas subiu, em
média, 35% em relação a 2021 – um da-
do que teve um empurrão da reabertura
econômica pós-pandemia, mas excelente
de qualquer forma. A nota média dos
gestores para a experiência foi 8,5 de 10.
43% dos funcionários declaram melho-
ra na saúde mental; 40% na insônia, e
o tempo médio passado com os filhos,
naturalmente, aumentou. 57% menos
funcionários pediram demissão, e 15%
falaram que não aceitariam um emprego
de 40 h semanais por um salário maior.
Por fim: quase todos os envolvidos
conseguiram manter ou aumentar a
produtividade dos funcionários. Graeber
morreu em 2020 sem ver esses resul-
tados. Mas ele já imaginava: “Talvez o
foco devesse ser na nefasta organização
interna nas empresas”, disse em 2018 ao
El País. “Diante da pressão de criar mais
empregos, todas tendem a aumentar sua
equipe com postos desnecessários.”
Se há cada vez menos trabalho na hu-
manidade, ótimo: não vamos inventar
mais. Não há nada de intrinsecamente
moral em se trancar no escritório por
um tempo predeterminado; mesmo os
servos medievais trabalhavam para com-
pletar tarefas de plantio e colheita – não
enrolavam quando não havia o que fazer.
Tempo livre não é algo que se deveria
conquistar, nem motivo para vergonha:
é só o estado básico de cada animal que
existiu na Terra antes de nós. S
outubro 2023 super 9

supernovas
ILUSTRAÇÃO Matheus kubs DESIGN juliana krauss & caroline aranha
“Vacina invertida" freia o sistema imunológico
Ela foi inventada por biólogos da Universida-
de de Chicago, e faz o contrário de uma vacina co-
mum: em vez de ensinar o organismo a combater
alguma ameaça (como um vírus), serve para que o
corpo deixe de atacar determinada coisa – o que é
feito apagando a memória imunológica associada a
ela. A ideia é usar essa técnica para tratar doenças
autoimunes: os cientistas pretendem começar pela
esclerose múltipla (em que o sistema imunológico
destrói a bainha de mielina, um revestimento que
10 super outubro 2023
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protege os neurônios). A vacina invertida, que foi
testada com sucesso em ratos e macacos1, é feita
combinando a molécula que você quer proteger
com N-acetilgalactosamina (pGal), um açúcar que
é produzido naturalmente pelo organismo – e
serve para identificar substâncias “amigas", que
o corpo não deve atacar. “Nós podemos conectar
qualquer molécula à pGal, e isso vai ensinar o
sistema imunológico a tolerá-la", disse o químico
Jeffrey Hubbell, líder do estudo. (Bruno Garattoni)
A
 CLUBE DE REVISTAS
sn. EDIÇÃO bruno garattoni

9%,
apenas, das pesso-
as com alzheimer
são elegíveis para
tomar aducanumab
(Aduhelm), um re-
médio recém-apro-
vado pela FDA para
tratar a doença. No
caso do lecanemab
(Lequembi), outro
medicamento novo,
só 17%. A conclusão
é de cientistas da
Mayo Clinic, nos
EUA, que publica-
ram um estudo2
a respeito. Isso
acontece devido
às características
dessas drogas, que
só são indicadas
para casos leves
– e têm efeitos co- B
laterais sérios. (BG)

ia aprende "junk Food" deixa bactérias do corpo coM FoMe

Com poucas fibras, ela é digerida rápido – e sem a concorrência do microbioma.
a compactar
carboidratos, proteínas e gorduras (o cardápio
arquivos Quando comemos alimentos industria-
lizados, o corpo os digere de uma maneira foi cuidadosamente calibrado para isso).
o chinchilla, um diferente – e absorve uma parte maior das Resultado: quando os voluntários estavam
robô de conversação calorias contidas neles. Essa é a conclusão de se alimentando de junk food, o corpo absorvia
criado pela empresa um estudo feito pela Universidade do Arizo- mais calorias (o que foi calculado medindo a
inglesa DeepMind na4 . Na primeira fase, os voluntários comiam quantidade residual de energia nas fezes). Isso
(que pertence ao salgadinhos, bolachas, carnes processadas, su- acontece porque esses alimentos têm molé-
Google), também cos artificiais e outras coisas pouco saudáveis culas fáceis de quebrar, e a energia deles é ab-
tem outra habilidade: (a ideia era reproduzir a dieta do americano sorvida rápido, ainda no começo do intestino.
compactar imagens médio). Já na segunda etapa, o cardápio passou Já os alimentos integrais são ricos em fibras,
e áudios. Em testes3 a privilegiar feijões, lentilhas e outros grãos difíceis de decompor. Por isso, só são digeridos
da DeepMind, que integrais. Em ambas as fases, as pessoas con- no fim do intestino – onde há mais bactérias,
ensinou o algoritmo sumiram exatamente a mesma quantidade de que “roubam" para si parte das calorias (no
a fazer isso, o bot calorias por dia (2.000), e níveis similares de estudo, em média 116 kcal por dia). (BG)
conseguiu reduzir o
tamanho de arquivos
de imagem em 56%,
e de áudio em 83%,
sem afetar seu conte- “A obra é essa, eu peguei o dinheiro deles",
údo. Ele superou com
folga os formatos de disse o artista dinamarquês jens haaning, que foi condenado na Justiça a devolver 500 mil coroas (US$ 70
compressão PNG e mil) recebidas para financiar sua exposição "Pegue o Dinheiro e Corra", em 2021 – ele entregou duas telas
FLAC, hoje usados totalmente em branco. Segundo Haaning, a proposta das obras, que foram expostas num museu em Aalborg,
para fazer isso. (BG) no norte do país, era debater a má remuneração dos artistas. Ele diz que não vai devolver o dinheiro. (BG)

Ilustrações A Matheus Kubs. B Caroline Aranha e Luana Pillmann. Fontes (1) Synthetically glycosylated antigens for the antigen-specific suppression of established immune
responses. J Hubbell e outros, 2023. (2) Eligibility for Anti-Amyloid Treatment in a Population-Based Study of Cognitive Aging. R Pittock e outros, 2023. (3) Language Modeling is
Compression. G Delétang e outros, 2023. (4) Host-diet-gut microbiome interactions influence human energy balance: a randomized clinical trial. S Smith e outros, 2023. outubro 2023 super 11

sn.
A cantora Luísa Sonza
anunciou seu término
com Chico Moedas
durante o programa
"Mais Você".
ENQUANTO
ISSO...
Texto Leo Caparroz
Ilustração Luana Pillmann
Cientistas descobriram que
girinos podem escurecer ou
clarear o corpo para se camuflar
no ambiente A.
Um estudo genético indicou
que a família das frutas cítri-
cas surgiu no sul da China B.
Pesquisadores identificaram os
três genes que regulam o nível
de caroteno, e a cor laranja,
das cenouras C.
Troncos de 500 mil anos encon-
trados na Zâmbia podem ser
indícios da primeira construção
humana feita com madeira D.
Fontes A CSIC (Espanha). B National
Laboratory for Germoplasm (China).
C North Carolina State University.
D Universidade de Liverpool.
12 super outubro 2023
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eMpresa altera dna de verdura para deixá-la Mais gostosa
Técnica muda o sabor da mostarda-castanha – que é nutritiva, mas amarga.
Nos EUA, a folha de mostarda-castanha
é considerada uma “superfood”: termo
comercial inventado para designar ali-
mentos de alto valor nutricional. Apesar
dos benefícios à saúde, nem todo mundo
inclui esse vegetal cru na salada: culpa do
seu sabor bastante amargo e pungente.
Mas a empresa americana Pairwise usou
a técnica de edição CRISPR (principal
ferramenta da genética moderna) para
modificar o sabor da folha e torná-la
mais palatável. A Super conversou com
o químico Haven Baker, cofundador da
companhia, para entender a novidade.
Qual é a diferença entre um alimento
editado com CRISPR e um transgênico?
Os alimentos transgênicos geralmente têm
DNA de outro organismo introduzido. Já a
técnica CRISPR é usada para fazer edições
pequenas e precisas na sequência genética
que já está presente. Podemos alterar traços
para tornar o produto mais gostoso, con-
veniente e desejável, sem comprometer a
nutrição. Estamos mudando o DNA que já
existe nas plantas. É basicamente acelerar
o que a natureza já consegue fazer sozinha,
uma seleção para aumentar traços desejá-
veis e reduzir os indesejáveis.
Quais genes vocês modificaram?
Nós “desligamos” os genes responsáveis
pelo sabor desagradável, que codificam
uma enzima chamada tioglucosidase.
Esse processo [a inativação da enzima] já
ocorre naturalmente em algumas varia-
ções da mostarda-castanha, ou quando
ela é cozida [o que reduz a quantidade de
nutrientes]. O resultado é uma folha pa-
latável, e com o dobro de nutrientes da
alface – como vitamina C, vitamina E,
cálcio e vitamina B6. Tirando o gosto,
essas mudanças não impactam outros
atributos do vegetal.
Quando a mostarda modificada deve
chegar ao mercado? E quais outras
comidas editadas com CRISPR vocês
pretendem desenvolver no futuro?
Recebemos a autorização do Departamen-
to de Agricultura dos Estados Unidos
em abril de 2020. Devemos começar as
vendas no final deste ano, com preço
semelhante ao da mostarda orgânica. A
nossa ideia é pegar produtos saudáveis,
e eliminar as barreiras que dificultam o
consumo deles. Isso inclui criar amoras
e framboesas sem sementes, e desenvol-
ver frutas sem caroço que possam ser
comidas em uma mordida só. No futuro,
também esperamos conseguir aumentar o
prazo de validade [dos alimentos] e acelerar
a adaptação das plantações às mudanças
climáticas. (Maria Clara Rossini)
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Corpo humano tem 36 trilhões de células

Cientistas uniram dados de 1.500 estudos – para criar o primeiro atlas celular humano.

CÉLULAS MAIS NUMEROSAS: NÚMERO DE CÉLULAS POR ÓRGÃO*:

córtex cerebral
cerebelo 80 bi**
86 bilhões**
olhos
Fibroblastos resto do cérebro 1,2 bi
(colágeno e elastina) endoteliais
(revestimento de veias
gametas 8,4 bi** língua
1,2 bi
e artérias)
glândulas salivares
laringe
células-tronco Querati- 52 bi
nócitos
4,2 bi
Neutrófilos
tireoide pulmões
3,8 bi 230 bi
Plasma
seio
coração (cada um)
Linfócitos T 56 bi 57 bi
Mielócitos
(sistema
imunológico) epiteliais estômago
Fígado
Hepatócitos 28 bi
390 bi
Macrófagos
glóbulos pâncreas
Enterócitos rins 90 bi
brancos 110 bi
intestino
grosso
Metamielócitos intestino
140 bi
delgado
720 bi bexiga
gliais 6,5 bi
Linfócitos B CD4 e glóbulos (cérebro) próstata
(sistema CD8 Útero
imunológico)
vermelhos 5,1 bi
23 bi

adipócitos tecido
(gordura) adiposo ovários
320 bi 2,9 bi
miócitos osteoides
(músculos) pele
(tecido ósseo) ossos
610 bi
90 bi

músculos
tota l cartilagem
580 bi
15 bi

36 TRILHÕES de células
*Em uma pessoa de 70 kg. **O número inclui neurônios e outros tipos de célula, como as gliais.

Fonte The human cell count size and distribution. I Hatton e outros, 2023. ícone Getty Images

54%
é a redução nas emissões de co2 de uma pessoa quando ela trabalha em home office
cinco dias por semana. A conclusão é de pesquisadores da Universidade Cornell e da
Microsoft, que publicaram um estudo5 a respeito. O principal fator é a economia
de eletricidade no escritório (a supressão do deslocamento dos funcionários vem
em segundo lugar). Para quem trabalha em home office quatro dias por semana, o
benefício ambiental já é bem menor, com 29% de redução no CO2 – porque a empresa
tem de manter uma estrutura fixa para receber as pessoas, o que gera emissões. (BG)

Ilustração Caroline Aranha. Fonte (5) Climate mitigation potentials of teleworking are sensitive to changes in lifestyle and workplace rather than ICT usage. Y Tao e outros, 2023. outubro 2023 super 13
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sn.

3 notícias sobre
Golpe
lava
O lado B da Tesla dinhei-
ela domina o mercado de carros elétricos. Mas também se envolve em outras coisas. ro no
Spotify
Grupos criminosos
da Suécia têm
pagado "fazendas
de cliques", com
grande quantida-
de de computa-
dores e celulares,
para tocar certas
músicas no
Spotify – gravadas
por artistas man-
comunados com
eles. Dessa forma,
é possível lavar
dinheiro, fazendo
parecer que ele
foi ganho legal-
mente pelos mú-

1.
executivos terão de de-
volver us$ 700 milhões
Diretores fizeram um acordo,
na Justiça dos EUA, para resti-
tuir esse valor ao caixa da Tesla:
eles eram acusados de lesar os
acionistas, dando a si mesmos
bônus altos demais. Mas, agora,
os escritórios de advocacia
que entraram com o processo
querem receber pelo serviço – e
pedem que a empresa pague
US$ 229 milhões, ou US$ 10 mil
por hora de trabalho de cada
advogado envolvido. (BG)
2.
Fábrica tinha pichações
racistas, diz governo
A US Equal Employment Com-
mission afirmou que a fábrica
da empresa em Fremont, na
Califórnia, tinha desenhos de
forcas, suásticas e xingamentos
contra negros em banheiros,
elevadores e até recados deixa-
dos dentro de veículos na linha
de produção. Segundo a EEOC,
que vai processar a empresa, os
funcionários que se queixavam
eram punidos com transferên-
cias ou demissão. (BG)
3.
empresa vai construir
sicos (na Suécia,
país-sede do Spo-
tify, cada 1 milhão
de execuções de
drive-in com cinema uma música rende
O complexo, anunciado por o equivalente a
Elon Musk em 2018, finalmente até US$ 5 mil). A
começou a ser erguido em alegação é do jor-
Santa Monica, na Califórnia.
Terá arquitetura retrofuturista, nal sueco Svenska
com elementos dos drive-ins Dagbladet, que
dos anos 1950, cinema ao ar livre entrevistou quatro
e 29 carregadores elétricos de envolvidos.
alta velocidade. Kimbal Musk, O Spotify disse
executivo da Tesla e irmão de
Elon, pode estar por trás do que não tem
projeto: ele é dono de uma rede conhecimento
de restaurantes nos EUA. (BG) da prática. (BG)

Projeto quer 1 Captação

A água é capturada 3 extração
buscar água por tubos insta- Um motor bombeia
lados a 400 m de
doce no mar profundidade.
a água para cima.
Mas a pressão do mar
Nova tecnologia para faz parte do trabalho,
dessalinizar água
2 FIltraGem empurrando a água
Os tubos possuem pelos tubos e filtros
promete consumir 40% filtros que retêm o sal.
menos energia que os – e a economia de
A água se torna doce, energia vem disso.
métodos tradicionais. própria para consumo.

Fonte OceanWell
14 super outubro 2023
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NÃO É BEM
ASSIM...
Notícias que
bombaram por
aí – mas não
são verdade

a notícia
chatGPT tem
viés de esquer-
da, diz estudo
o que ela dizia
O robô de conversação
dá respostas alinhadas
a políticas econômicas
e sociais de esquerda.
É o que afirma um
estudo publicado por
três pesquisadores

eua barraM a volta de reMédio do espaço da Fundação Getúlio

Vargas e da University
of East Anglia
Ele foi produzido na órbita terrestre – mas não teve permissão para regressar. (Reino Unido).

Em 12 de junho, a empresa americana Var- a empresa, deu certo: os cristais se formaram a verdade
da Space Industries fez sua primeira missão: como previsto. Porém, os EUA vetaram a O estudo7 afirma
enviou ao espaço, a bordo de um foguete volta da cápsula: a Varda queria aterrissá-la que o ChatGPT tem
da SpaceX, uma cápsula que pesa 120 kg e numa base militar em Utah, em setembro, "viés político favorá-
vel aos Democratas
contém um minilaboratório farmacêutico. o que não foi aceito (a Força Aérea ameri-
nos EUA, a Lula no
A ideia é produzir medicamentos no espa- cana alegou questões de segurança). Até a Brasil, e ao Partido
ço, cuja microgravidade supostamente traz conclusão desta edição, a cápsula com rito- Trabalhista no Reino
benefícios (as reações químicas formam cris- navir espacial continuava em órbita. Antes Unido". Os autores
tais maiores e com menos defeitos). Na pri- do bloqueio, a Varda pretendia iniciar sua dizem que isso foi
medido fazendo
meira missão, a Varda enviou ingredientes produção de remédios em escala comercial,
62 perguntas sobre
para fazer ritonavir, um medicamento hoje com cápsulas indo ao espaço e voltando à política e economia
usado para tratar infecção por HIV. Segundo Terra todos os meses, em 2026. (BG) ao robô, e repetindo
cada uma 100 vezes.
Mas parece haver
algo errado. Dois

terapia genética cura alcoolismo em macacos cientistas da Univer-

sidade de Princeton
tentaram reproduzir
os resultados,
O �ra�amen�o, inventado por cientistas dos EUA, usa o vírus adeno-associado 2 (AAV2), que infecta
fazendo as mesmas
humanos e outros primatas. Ele foi modificado para carregar um gene chamado GDNF, e injetado na perguntas8 – e o
área tegmental ventral do cérebro de quatro macacos alcoólatras. Outros quatro animais, igualmente ChatGPT se recusou a
dependentes, receberam placebo. Nos macacos tratados com o vírus6, o consumo de álcool caiu 90%. responder 53% delas.
Motivo: o gene GDNF gera uma proteína que aumenta a produção de dopamina (neurotransmissor O ChatGPT Plus (que
roda o algoritmo GPT-
relacionado ao prazer, e estimulado pelo álcool). Uma técnica similar, também usando o AAV2, já está
4, mais avançado)
sendo testada em humanos. O objetivo é tratar o Parkinson, causado pela falta de dopamina. (BG) rejeitou 84%. (BG)

Ilustrações Caroline Aranha. Fontes (6) GDNF gene therapy for alcohol use disorder in male non-human primates. K Grant e outros, 2023. (7) More human than
human: measuring ChatGPT political bias. F Motoki e outros, 2023. (8) Does ChatGPT have a liberal bias? A Narayanan e S Kapoor, 2023. outubro 2023 super 15
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sn. playlist

Da MTV Em 26 de outubro, David Fincher lança O Assassino, com Michael

Fassbender. O diretor de Se7en, Clube da Luta e A Rede Social
começou sua carreira no mundo dos videoclipes – e não foi o único.
para o cinema Texto Rafael Battaglia • Design Luana Pillmann

david Fincher spike jonze

Entrou no show-biz em 1983, produzindo Fã de esportes radicais, o diretor
efeitos visuais com George Lucas. Em de Ela (2013) passou a adolescência
1984, dirigiu um comercial antitabagista fotografando ciclistas de BMX. Em 1991,
e seu primeiro videoclipe ("Dance This lançou Video Days, curta que registra
World Away", de Rick Springfield). E manobras de cinco skatistas. O projeto
aí deslanchou no formato curto: em (que virou referência no mundo do
1990, a Propaganda Films, produtora skate) chamou a atenção de bandas
que cofundou, era responsável por um como Sonic Youth, The Breeders e
terço dos vídeos musicais feitos nos Weezer, que o chamaram para dirigir
EUA. Fincher, ao todo, fez 55 clipes. clipes de suas músicas.

assista: "Vogue", da Madonna,

assista: "Sabotage" (Beastie Boys)
eleito o 3º melhor clipe da história
e "Weapon of Choice" (Fatboy Slim).
pela Rolling Stone.

michael bay
michel gondry
Começou na Propaganda Films, produto-
ra de Fincher. O clipe de "I’d Do Anything O francês começou dirigindo vídeos da
For Love", do cantor Meat Loaf, é um banda Oui Oui, da qual era baterista.
épico de sete minutos que sintetiza o A cantora Björk virou fã: oito de seus
estilo do diretor de Transformers: tem clipes tiveram o toque do diretor, que
helicópteros, perseguições de moto – e já trabalhou com Rolling Stones, Ra-
um castelo mal-assombrado. O vídeo diohead e Paul McCartney. "Everlong"
fez o produtor Jerry Bruckheimer o (1997), do Foo Fighters, traz a mesma
chamar para dirigir Bad Boys (1994), atmosfera onírica de Brilho Eterno de
seu primeiro longa. Uma Mente Sem Lembranças (2004),
seu filme mais famoso.

assista: "Falling In Love (Is Hard assista: "Around The World" (Daft
On The Knees)" (Aerosmith) e "You Punk) e "Fell In Love With A Girl"
Won't See Me Cry" (Wilson Philips). (The White Stripes).

filme filme
A Incrível História de Como Enlouquecer
Henry Sugar (2023) seu Chefe (1999) Star+
Netflix A empresa onde Peter trabalha
Henry nasceu rico e leva uma tem processos absurdos, super-
PÉROLAS DO vida blasé. Até que adquire
uma habilidade paranormal,
visores tiranos, gente encostada,
as mazelas típicas de escritório.
STREAMING e se torna o homem mais rico
do mundo. Junto, vem um dom
Contratam um consultor para
arrumar a casa: e isso, claro, só
ainda mais poderoso: saber o piora tudo. Peter decide ligar
que fazer com a grana. Curta- o f*da-se. E aí as coisas viram,
-metragem baseado em um de forma espetacular. Filme
conto do britânico Ronald Dahl, escrito e dirigido por Mike Judge,
dirigido por Wes Anderson. (BG) do clássico Idiocracy. (BG)

16 super outubro 2023 Imagens Reprodução/Divulgação.

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EDIÇÃO bruno garattoni

“Eles con-
seguiram
curá-lo, mas
as mutações
afetaram o
lobo frontal
medial.
O garoto se
Três homens-aranha tornou psicó-
No novo game da franquia, você assume dois papéis: é Peter Parker,
o herói clássico, e Miles Morales – o adolescente filho de imigrantes
tico e matou
criado pela Marvel em 2011 como segundo Spider-Man. Eles enfrentam

um gênio um terceiro aracnídeo: Venom, uma variação maligna de Parker. O jogo

se passa em Nova York (agora incluindo também o Brooklyn e o Queens)
e promete ação intensa, explorando o poder do PlayStation 5. (BG)
os dois",
escreve o americano
Blake Crouch (autor

invisívEl Spider-Man 2. Lançamento dia 20/10, para PS5. R$ 350. do best seller Matéria
Escura) nesta ficção
científica, em que mo-
A energia solar é uma dificações genéticas se
grande esperança contra
o aquecimento global.
INIMIGO ÍNTIMO tornam uma prática
corriqueira da medici-
Mas você sabe quem a Alan Wake, lançado em 2010 na, que com isso cura
"inventou"? Foi Augustin pelo estúdio finlandês Remedy, se doenças – e gera conse-
Mouchot, um professor de destacou pelo enredo elaborado quências monstruosas.
matemática que no século e maduro. Seu protagonista, um
19 criou a primeira máquina escritor, era assombrado por Upgrade. R$ 58.
alimentada pelos raios do
fenômenos paranormais que na
sol (ele achava que o carvão,
verdade resultavam, em boa parte,
combustível da Segunda
do alcoolismo. Após uma década
Revolução Industrial, iria
acabar). Mas Mouchot não
sumido, Alan reaparece: em Bright
Falls, cidadezinha em Washington
O truque
escreveu o nome na histó-
ria, devido a um equívoco
inacreditável – que este livro
assolada por uma série de assassi-
natos misteriosos. (BG)
dos
conta qual foi. (BG) Alan Wake 2. Lançamento dia
27/10, para PlayStation, Xbox e
opioides
O Inventor. R$ 38. PC. US$ 50.
A indústria farmacêu-
tica enganou os médicos:
manipulou dados para
fazer parecer que os
documentário documentário analgésicos opioides
O Túnel de Crack: Cocaína, não eram perigosos ou
Pombos (2023) Corrupção e viciantes. Neste livro a
Apple TV+ Conspiração (2021) psiquiatra Anna Lembke,
David Cornwell era agente Netflix da Universidade Stanford,
do MI6, o serviço secreto Nos anos 1980, a CIA mon- conta como isso acon-
britânico. Nas horas de tou uma operação secreta teceu – e desencadeou
folga, começou a escrever para derrubar o governo da uma epidemia de vício e
romances baseados em sua Nicarágua. O caso, que ficou overdoses, que mata 80
vida de espião – e assiná-los conhecido como "Irã-Contras", mil pessoas por ano nos
com um pseudônimo, John le provocou uma enxurrada de Estados Unidos. (BG)
Carré. Virou best seller global, cocaína barata nas ruas dos
com mais de 60 milhões de EUA – o que acabou resultando Nação Tarja Preta.
cópias vendidas. (BG) na invenção do crack. (BG) R$ 50.

outubro 2023 super 17

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sn. tech

para câmera

A volta do Ele esteve em falta por muito tempo. Mas a Raspberry

Pi Foundation, sua fabricante, conseguiu resolver

Raspberry Pi isso – e aproveitou para lançar uma nova versão.

Texto Bruno Garattoni • Design Cristielle Luise

Memória RAM

HAT (porta
de expansão)

CPU Chip RP1

Entrada USB-C
(somente energia)

Saídas micro
HDMI (vídeo)

Entrada
Entradas USB
(duas USB 2.0
e duas USB 3.0)
Entrada de rede

Framboesa rasPberry Pi 5 rasPberry Pi 4

apimentada cPu
ARM Cortex A76,
quatro núcleos a 2,4 GHz
ARM Cortex A72,
quatro núcleos a 1,8 GHz
Raspberry Pi 5 vem com nova
CPU – e promete o triplo da gPu VideoCore VII, 800 MHz VideoCore VI, 500 MHz
performance do antecessor. ram 4 ou 8 GB, DDR4X 4 ou 8 GB, DDR4
armaze- cartão microSD ou SSD
cartão microSD
namento NVMe (com adaptador)

A pandemia atrapalhou a fabricação de todos os ele-
trônicos, e o minicomputador Raspberry Pi demorou
para se recuperar: até a metade deste ano, continuava
difícil conseguir um. Os preços dispararam (no Brasil,
ele chegou a custar mais de R$ 1.500), e a tecnologia
estagnou – o Pi seguia na versão 4, lançada em 2019.
Agora, ele finalmente ganha uma atualização. A principal
novidade é a CPU, três vezes mais potente que a ante-
rior. Isso significa que a emulação de games antigos, um
dos usos clássicos do Raspberry Pi, evoluiu: agora, ele
consegue rodar jogos do Nintendo 64, do Sega Dreamcast e
até do PlayStation 2. Graças ao novo chip RP1, que controla
o fluxo de dados, agora o Raspberry Pi também aceita a
conexão de um SSD de verdade (muito mais rápido que
os tradicionais cartões microSD). Isso melhora o uso do Pi
como computador de mesa – inclusive porque ele permite
plugar dois monitores, e já vem com Wi-Fi e Bluetooth.
É uma resposta à altura do concorrente Orange Pi, que
vinha ganhando mercado. Vai custar US$ 60, na versão
com 4 GB de memória RAM, ou US$ 80 na versão de 8 GB.

18 super outubro 2023 Fotos Reprodução/Divulgação


LIXEIRA POR
ASSINATURA
Você já separa o seu lixo
reciclável. Mas e o orgânico,
o que fazer com ele? A Mill
Kitchen Bin propõe uma
solução ecológica. Ela tem
um mecanismo que seca,
tritura e comprime o lixo, e
um filtro que retém o odor.
Quando está ficando cheia
(cabe até 1 mês de material
orgânico compactado), ela
avisa o fabricante – que vai
buscar os resíduos na sua
casa e leva para uma fábrica
onde eles são esterilizados,
processados e viram ração
para frangos. A lixeira é grá-
tis: você paga é pelo serviço
de coleta, que custa US$ 33
mensais nos EUA.
CLUBE DE REVISTAS
EDIÇÃO bruno garattoni
Suspensão ativa
Nos anos 1990, a Fórmula 1 usava essa tecnologia, VOCÊ DECIDE
que levanta e abaixa o carro para compensar as Os projetos mais
imperfeições da pista. Acabou banida, pois era cara e
complexa demais. Agora está presente no toca-discos
interessantes
New Reference, da marca suíça Thorens. Ele detecta do mundo do
as mínimas vibrações do ambiente e faz o movimento crowdfunding
contrário, para anulá-las. O amortecimento é 100x
maior que o de uma suspensão comum – por isso, o
toca-discos promete um som mais puro. Seu preço
também é digno de F1: US$ 250 mil.
Depois da academia
indiegogo.com
Projeto Move Plus Pro
o que é Um gadget que
promete eliminar dores nas
articulações – incluindo
aquelas que aparecem depois
de fazer musculação, pedalar
42 horas sem derreter ou correr. Basta colocá-lo na
área afetada (ele tem uma fita
O cooler EverFrost, da marca Anker, promete manter bebidas que se ajusta a qualquer parte
e alimentos bem gelados por quase dois dias. O segredo está na do corpo), apertar um botão
refrigeração ativa: ele é uma geladeirinha, alimentada por uma e o aparelho dispara 18 feixes
bateria de lítio com capacidade de 299 watts-hora (equivalente a sete de laser infravermelho que pe-
baterias de notebook). Também vem com uma placa solar dobrável, netram nos músculos e juntas,
que você pode usar para recarregá-lo e estender a autonomia. Ele reduzindo a inflamação. Se-
tem 33 litros de capacidade e pesa 22 kg – é bastante, mas o cooler gundo o fabricante, bastam 15
tem alça e rodinhas. Custa US$ 800. minutos de uso para suprimir
totalmente a dor.
quanto já arrecadou
US$ 1,4 milhão
chance de rolar bbbb
Gás infinito
indiegogo.com
Projeto NitroPress DS
o que é Uma máquina para ga-
seificar bebidas que não precisa
de cartuchos. As máquinas tra-
dicionais, como a SodaStream,
uma roupa para games
usam refis de CO2, que custam
caro. Esta é diferente: em vez de
CO2, ela usa nitrogênio, que ex-
O colete OWO Vest (499 euros) tem dez atuadores internos, que trai do próprio ar. Ao ser injetado
prometem simular 30 sensações – como a de levar um tiro, esbarrar (em café, água, sucos, drinques
numa pessoa ou sentir o sopro do vento. O gadget faz isso emitindo etc.), o nitrogênio forma bolhas
pulsos elétricos, que a sua pele e músculos interpretam gerando menores que as do CO2, deixan-
essas sensações. A ideia é que a tecnologia seja adotada em games, do a bebida cremosa.
reproduzindo no seu corpo o que acontece na tela. Segundo a empresa quanto já arrecadou
espanhola OWO, que desenvolveu o colete, ele já é compatível com US$ 330 mil
25 jogos de PC, incluindo Fortnite, Valorant e Assassin’s Creed: Mirage. chance bbbb
outubro 2023 super 19
 CLUBE DE REVISTAS
capa

A
morte

A EN
da

20 super outubro 2023

 CLUBE DE REVISTAS

Texto Bruno Garattoni e Maurício Brum

(colaboraram Fernanda Simoneto e Valentina Bressan)

Design Luana Pillmann Ilustração Luiz Mello

NÇ Ã Você já teve a sensação de que está cada vez mais

difícil manter o foco? Vivemos mergulhados numa
chuva de estímulos – e isso tem efeitos mensurá-
veis sobre o cérebro. Veja quais são eles,
e entenda a real sobre a moda que tomou
as redes sociais: o jejum de dopamina.

outubro 2023 super 21

 CLUBE DE REVISTAS

E
Em 9 dE janEiro de 2007, às 10h da um estudo da Microsoft, havia regre-
manhã, um Steve Jobs saudável subiu dido para míseros oito segundos – um
ao palco do Moscone Center, espaço a menos do que o peixe-dourado, uma
de eventos que a Apple alugava em São espécie ornamental de aquário, que é
Francisco. “Vamos fazer história hoje”, capaz de focar num estímulo visual
disse. O iPhone não nasceu bem (dois por nove segundos. Essa informação,
meses após o lançamento, a Apple teve de 2017, correu o mundo: saiu no New
de cortar seu preço em 30%), mas acabou York Times, no Guardian, nas revistas Ti-
decolando. Vieram os aplicativos, redes me e New Scientist, entre outros grandes
sociais, o Android, a massificação. Hoje, Durante a veículos de imprensa. E foi replicada em
6,4 bilhões de pessoas têm um smartpho- maior parte milhões de páginas da internet.
da história,
ne – superando com folga o saneamento era preciso Só havia um problema: o tal estudo
básico, que chega a 4,4 bilhões. É bizarro, ir atrás de (que não era da Microsoft) não apre-
mas até que tem seu nexo: o instinto coisas inte- sentava nenhuma prova. Os autores
humano de encontrar algo interessan- ressantes, não haviam feito nenhuma experiên-
te, e prestar atenção àquilo, é tão primal dignas de cia concreta – fosse com humanos ou
atenção.
quanto as necessidades fisiológicas. A Mas o mun- peixes –, e citavam números de origem
internet móvel saciou, finalmente, esse do moderno indefinida, impossíveis de comprovar(1).
desejo. Passamos a ter, pela primeira vez inverteu A notícia era claramente absurda. Mas
na história, acesso a um fluxo constante essa lógica. isso não impediu que se espalhasse,
e quase infinito de informações novas. inquestionada, por todos os cantos.
Ao mesmo tempo, foram aparecen- Simplesmente porque ninguém havia
do sinais de que algo não andava bem. se dado ao trabalho de prestar atenção
A média de atenção humana, segundo ao que estava lendo.

Fontes (1) Busting the attention span myth. BBC, 2017. (2) The Spatial Attention
Network Interacts with Limbic and Monoaminergic Systems to Modulate Motiva-
22 super outubro 2023 tion-Induced Attention Shifts. A Mohanty e outros, 2008.

O papo de oito segundos é um mito,
mas a atenção humana está caindo, sim.
Há dados comprovando o fenômeno
[veja no quadro da pág. 25], que você
já deve ter visto e sentido na pele.
O ritmo acelerado do TikTok conquis-
tou 1,6 bilhão de usuários – e todas
as outras redes copiaram o formato,
com vídeos verticais curtíssimos. No
WhatsApp, virou hábito ouvir os áu-
dios em velocidade acelerada, 1,5x ou
mais. Assistimos a filmes e maratona-
mos séries, mas quase sempre com o
celular ao alcance da mão, desviando
periodicamente o foco da história.
Em vez de caçar coisas interessan-
tes, hoje temos é que nos defender
da chuva de estímulos que disputam
nossa atenção. Há cada vez mais ser-
viços de streaming, podcasts, filmes,
vídeos, livros, jogos, notícias... todas
as formas possíveis de informação e
entretenimento. Isso é ótimo, mas tam-
bém tem consequências ruins. Está ca-
da vez mais difícil focar em algo. Qual
foi a última coisa que chamou a sua
atenção na internet hoje? Você lembra?
É bem possível que não: olhou aquilo
por tão pouco tempo que o seu cérebro
CLUBE DE REVISTAS
nem chegou a formar uma memória.
Nos Estados Unidos, os casos de
TDAH (transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade) dobraram na última
década. E essa condição, até então res-
trita a crianças, alcançou também jovens
adultos – que hoje enchem o TikTok de
a aTENção é vídeos sobre ela e os remédios que to-
mam para tentar contê-la. O mais usado,
uMa VaNTagEM que se chama Venvanse, desde 2022
EVoLuTiVa Cru� está em falta nas farmácias dos EUA e
do Brasil. A demanda é tão alta que o
CiaL – PorQuE fabricante, o laboratório japonês Takeda,
PErMiTE DirECio� simplesmente não consegue atendê-la.
A capacidade humana de prestar
Nar a CaPaCiDaDE atenção parece estar desaparecendo.
CogNiTiVa, uM E as redes sociais foram tomadas por
uma moda, o chamado “jejum de do-
rECurso fiNiTo, pamina”, que promete reverter esse
ao QuE Mais processo. Ele não é bem o que parece,
mas pode trazer benefícios. Antes de
iMPorTa. entrar neles, é preciso responder uma
pergunta que só parece simples: o que
é, exatamente, a atenção?
A gênese da atenção
Um dia qualquer, 4 bilhões de anos
atrás, algo extraordinário aconteceu:
o que era morto, inanimado, ganhou
vida. O carbono e os gases da atmos-
fera formaram moléculas capazes de se
autorreplicar – e disso surgiu a primei-
ra, até hoje desconhecida, forma de vida.
Dela vieram bactérias, arqueias, fungos,
plantas, animais. Estes, com uma habili-
dade revolucionária: o poder de decidir
sua reação a estímulos externos. Ficar
ou fugir, afagar ou atacar, ignorar ou
observar. Direcionar o olhar, e os pen-
samentos, ao que realmente interessa.
Ou seja, prestar atenção.
Ela é uma vantagem evolutiva e tanto,
pois permite que o animal concentre
sua capacidade cognitiva (um recurso fi-
nito e sempre escasso) em determinada
coisa, e a partir daí tente entendê-la –
podendo se antecipar, ou reagir melhor,
a ela. Preste atenção a seus predadores,
ou a suas presas, e você terá mais chance
de comer e não ser comido. Atenção é
útil para todo animal. Tanto é assim
que ela emana do sistema límbico(2): a
parte mais interna e antiga do cérebro,
que o Homo sapiens compartilha com
diversas espécies, e também controla
funções como a memória e o medo.
outubro 2023 super 23
 CLUBE DE REVISTAS

A atenção é um instinto nato, a força ao celular, do WhatsApp ao Instagram,

que alimenta a curiosidade das crianças do Instagram ao TikTok, e assim por
e estrutura o raciocínio dos adultos. Ela diante, ficando pouco tempo em cada
permite priorizar tarefas, estabelecer coisa. Outras formas de mídia, como
metas, controlar impulsos. filmes e séries, também exploram isso.
Mas não é infinita. Porque também “Cada tomada [de câmera] é curta, dura
depende de outro elemento cerebral: a quatro segundos em média. Então nossa
“rede executiva central”, que é forma- o CoNsuMo DE atenção visual ainda muda rapidamente,
da por um conjunto de áreas, como o mesmo que a história seja longa”, expli-
córtex pré-frontal dorsolateral e o cór-
iNforMaçÕEs ca Mark. Trata-se de um apelo à nossa
tex lateral posterior. São regiões mais uLTrafragMEN� atenção cinética – que é menos profun-
externas e desenvolvidas do cérebro, da, e requer menor esforço cognitivo.
responsáveis por funções avançadas, TaDas ProVoCa “Em si mesma, a atenção cinética não
como o raciocínio. E elas podem fi- a LiBEração DE é boa nem ruim. Mas minha pesquisa
car exaustas. No ano passado, um também mostrou que, na maior parte
grupo de cientistas da Universidade DoPaMiNa: uM do tempo, nós não somos muito bons
Sorbonne e de outras instituições NEuroTraNsMis� em utilizá-la”, diz a psicóloga. Ela atra-
francesas conseguiu demonstrar que palha muito no trabalho, por exemplo.
o cansaço mental não é meramente psi- sor rELaCioNaDo Estudos feitos por Mark e outros pes-
cológico: ele é desencadeado por uma
alteração física no cérebro(3).
ao PrazEr quisadores revelaram que as pessoas
não são capazes de completar as tarefas
Os pesquisadores monitoraram a – E ao VíCio. de uma só vez: acabam mudando o foco,
atividade cerebral de 40 voluntários pegando outras tarefas para fazer (ou
enquanto eles faziam testes de lógica. aproveitando para dar só uma olhadi-
Descobriram que, conforme as pesso- nha no smartphone), o que desperdiça
as iam resolvendo os testes, seu córtex tempo e esforço. E quanto mais você é
pré-frontal acumulava um neurotrans- interrompido por estímulos externos,
missor, o glutamato (parêntese: ele não maior é a chance de que se distraia
tem nada a ver com o glutamato monos- também com estímulos internos, da
sódico, um tempero polêmico sobre o
qual falamos na reportagem da pág. 42).
Quando as conexões entre os neurô-
nios ficavam saturadas de glutamato,
a performance dos voluntários caía, e
eles se sentiam mentalmente cansados.
Essa experiência avaliou o raciocínio,
não a atenção em si. Mas é provável que
algo semelhante aconteça com ela. Afi-
nal, nossa capacidade de foco também
vai se esgotando durante o dia, tornando
mais difícil resistir às distrações. Quan-
do isso acontece, o cérebro vai perden-
do a capacidade de manter a “atenção
sustentada”, e vai sendo dominado por
outro tipo: a chamada “atenção cinética”.
O termo foi cunhado por Gloria Mark,
psicóloga da Universidade da Califór-
nia (Irvine). Ela é autora de dezenas de
estudos sobre atenção e também de um
novo livro, Attention Span (“Dimensão da
Atenção”, ainda não lançado no Brasil),
no qual resume alguns deles.
A atenção cinética tem esse nome
porque é caracterizada pelo “movimento
mental”: nesse estado de atenção (ou
desatenção?), estamos constantemente
trocando de foco, indo do computador

24 super outubro 2023

 CLUBE DE REVISTAS

A ACELERAÇÃO VIDA
Buscamos, e recebemos, mais estímulos.
da

E dedicamos menos tempo a cada um.

olhamos menos para cada coisa...

160 150
140 Tempo médio de atenção
por janela, no PC
120

sEguNDos
100
80 75 65
60
50
40 44
20 48 47
0
2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022

...e mudamos o Foco muitas vezes durante o dia.

Duração média: 10min 21s

TarEfa TarEfa TarEfa T. TarEfa

a b c d a

Duração Ao interromper a tarefa inicial, as

média: pessoas executam 2,26 outras,
25min 26s em média, antes de voltar a ela

tambÉm Fazemos isso durante o lazer:

consumimos mais conteúdo, que é renovado mais
depressa e formatado em pedaços menores.

2,5
Vida média Duração média
2,0 de uma 16 das tomadas de
hashtag 14 câmera (cenas):
1,5 no Twitter: 12
Dias

sEguNDos

10
1,0 8
6
0,5 4 Filmes
2 Televisão
0
2013 2014 2015 2016 1920 2010

Fontes Stress and Human-Computer Interaction at the Workplace. F Akbar, 2021. The rhythm of attention and
online activity in the workplace. G Mark e outros, 2014. An in situ study of online multitasking in the workplace.
G Mark e outros, 2016. The work life of developers. A Meyer e outros, 2017. Accelerating dynamics of collective
attention. S Lehmann e outros, 2019. Quicker, faster, darker: changes in Hollywood film over 75 years. JE Cutting
e outros, 2011. Statistical analysis of television style. J Butler, 2014.

Fontes (3) A neuro-metabolic account of why daylong cognitive work alters

the control of economic decisions. A Wiehler e outros, 2022.
outubro 2023 super 25

própria mente – e comece a devanear
sobre mil coisas, nenhuma das quais
tem relação com o que estava fazendo.
Isso é normal. Num estudo que se
tornaria clássico(4), o psicólogo Jona-
than Schooler, da Universidade da Ca-
lifórnia (Santa Bárbara), pediu a um
grupo de voluntários que se sentassem
para ler Guerra e Paz, o longuíssimo
romance histórico de Tolstói sobre
as guerras napoleônicas na Rússia.
O ano era 2004, antes dos smartphones
e das redes sociais como as conhece-
mos hoje, e os participantes tinham
apenas o livro e um botão – que deviam
apertar quando sentissem que haviam
se distraído da leitura.
O que Schooler descobriu, e outros
testes confirmaram depois, é que mes-
mo nesse contexto de imersão absoluta,
sem nenhuma distração disponível, a
atenção desviava regularmente. “Você
provavelmente está prestando um pouco
de atenção, pelo menos, às palavras que
está lendo. Mas depois de uma ou duas
páginas, há uma possibilidade, senão
uma probabilidade, de que a sua aten-
ção se distraia”, escreve Schooler. “Os
seus olhos continuarão se movendo pela
página, as palavras soando na sua cabeça,
mas a sua mente estará em outro lugar.”
É verdade. Já deve ter acontecido,
26 super outubro 2023
CLUBE DE REVISTAS
inclusive, enquanto você lia este tex-
to. O cérebro não é uma máquina, e
algum grau de desatenção é natural e
desejável – isso é uma das forças que
compõem a criatividade, aliás. O que
não é natural é a escala em que o mundo
moderno tem explorado, e disputado,
o foco das pessoas. Ele se tornou um
negócio bilionário, que mobiliza as
maiores empresas de tecnologia: a in-
dústria da atenção.
Não há O valor da atenção
nada de Quando você usa o Google, uma rede
errado com social ou qualquer outro serviço online
a atenção gratuito, “paga” por ele com os dados
cinética. O
problema
e a atenção que fornece. 80% da re-
está na ceita do Google, 90% do faturamento
superesti- da Meta e 100% da renda do TikTok
mulação vêm das propagandas colocadas junto
dela – que aos posts (nossos dados servem para
afoga a
atenção
personalizar os anúncios, escolhendo
sustentada. coisas que supostamente poderão nos
interessar). As grandes empresas de
tecnologia existem para conquistar o
seu foco – e vendê-lo.
Esse é o cerne da “economia da aten-
ção”, um conceito proposto na década de
1960 por Herbert Simon, um cientista
político da Universidade de Chicago que
mais tarde ganharia o Prêmio Nobel. Ele
foi o primeiro a encarar o foco como um

AS ATENÇÕES duas
atenção
sustentada
produto, estudá-lo aplicando conceitos
de mercado. E postulou o seguinte: “ri-
queza de informação cria pobreza de
atenção”. No futuro, com cada vez mais
informações disponíveis, Simon previu
que a atenção humana se tornaria um
recurso escasso. E, portanto, valioso.
Na virada do século, conforme a in-
ternet começava a absorver a atenção
humana, e todo um setor econômico
se formava em volta disso, houve até
uma tentativa de regular a prática.
Em 2002, o cientista da computação
Scott Fahlman, da IBM, propôs(5) o que
Fontes (4) Zoning out while reading: evidence for dissociations between experience
and metaconsciousness. JW Schooler e outros, 2004. (5) Selling interrupt
rights: A way to control unwanted e-mail and telephone calls. S Fahlman, 2002.
CLUBE DE REVISTAS
Ela se manifesta de duas formas – que, em certos
aspectos, são quase opostas entre si.
Características: É quando você foca Características: É quando você olha
em alguma coisa por um período
atenção alguma coisa, mas não foca nela, e
razoável, de minutos a horas. Requer cinÉtica se deixa levar por outra informação.
esforço cognitivo, mas pode avançar Dura poucos segundos, e demanda bem
para o estado de “flow” – em que menos esforço cognitivo – mas pode
você nem sente o tempo passar. causar exaustão se for acionada demais.
Onde aparece: Ver filmes, ler livros, Onde aparece: Navegar nas redes
fazer tarefas complexas. sociais, ler notícias, fazer reuniões.
chamou de “direitos de interrupção”. Se
alguma empresa quisesse a sua atenção,
deveria pagar por ela. Você criaria uma
lista de pessoas liberadas, que pode-
a aTENção sus� riam contatá-lo a qualquer momento
(amigos, colegas, parentes etc.). Mas,
TENTaDa TEM a caso o remetente não estivesse nessa
VEr CoM TarEfas lista, uma taxa seria cobrada dele a
cada email ou ligação telefônica – e,
MENTais Mais se o contato se revelasse inútil, você
ExigENTEs. poderia resgatar o dinheiro.
Isso não foi adiante, claro, e as em-
ELa é frágiL, presas de internet passaram a explorar
vorazmente a atenção. Nesse mercado,
iNTrosPECTiVa. há dois níveis de concorrência. Primeiro,
E ViVE soB o aTa� as plataformas competem entre si para
capturar mais usuários, e usam todo um
QuE DE uMa irMã arsenal: notificações constantes, recom-
iNQuiETa. pensas pelo uso dos apps, personalização
de conteúdo e outros truques.
Nos últimos 10 anos, com o acirra-
mento da competição entre as platafor-
mas online – e consequente aumento no
valor da atenção –, elas começaram até
a usar técnicas emprestadas dos cassi-
nos, que exploram fraquezas clássicas da
psicologia humana [veja quadro na pág.
28]. E o scroll infinito, em que o conte-
údo nunca termina, se tornou o padrão.
O programador americano Aza Raskin,
que mais tarde se tornaria o desenvol-
vedor-chefe do navegador Firefox, foi
quem inventou a rolagem infinita, em
2006. Hoje, ele se arrepende: estima que
outubro 2023 super 27
 CLUBE DE REVISTAS

os
GATILHOS os aplicativos usam armadilhas para capturar a sua atenção
– com direito a artimanhas psicológicas dignas de cassino.

1 2 3 Feed algorítmico
Um robô escolhe o que você vai ver,
seguindo critérios que você não conhe-
ce – e que em certos casos, como o do
TikTok, mudam segundo a segundo. Ao
notar que você parou em certo vídeo,
o software imediatamente passa a
mostrar outros parecidos.

a tecnologia faça o usuário passar 50%

mais tempo em um site como o Twitter,
recompensa variável
O programador Sean Parker, um dos
fundadores do Facebook, revelou que
a plataforma copiou um princípio das
máquinas caça-níqueis: o feed mescla
coisas relevantes com outras mais
genéricas. É que, se você “ganhar”
sempre, acabará ficando entediado.
scroll inFinito
Houve um tempo em que as páginas
tinham fim. Hoje, elas adotam esse
formato, em que o conteúdo nunca
termina. Em 2019, o Congresso dos
EUA estudou proibir o scroll infinito
e o autoplay de vídeos, considerados
viciantes, mas a lei não foi aprovada.

disputando nosso olhar, acabamos não

atentando a nenhum deles – e isso abala
por exemplo. “Nós estamos perdendo o diretamente a publicidade, que paga a
controle das ferramentas que criamos”, conta da internet. “Quando surgiram,
declarou em 2019. em 1994, os primeiros banners de
O próximo passo foi criar bolhas, anúncios tinham um índice de cli-
em que os algoritmos mostram a ca- ques de 44%”, escreve o engenheiro
da pessoa exatamente o que ela deseja
a iNDÚsTria Da Tim Hwang, ex-pesquisador de IA do
ver – ainda que isso envolva informa- aTENção sE Tor� Google, em seu livro Subprime Atten-
ções falsas ou perigosas. “O modelo de tion Crisis: Advertising and the Time Bomb
negócios das plataformas, baseado no Nou uM sETor at the Heart of the Internet (“Crise da
engajamento, estimula a circulação de ECoNÔMiCo BiLio� atenção: propaganda e a bomba-relógio
conteúdos nocivos, como desinformação no coração da internet”, não lançado
e discurso de ódio, que captam e mobi- Nário – EM QuE no Brasil). Hoje, 0,4% das pessoas que
lizam a atenção das pessoas”, afirma a as gigaNTEs Da veem um anúncio clicam nele – e o
psicóloga Anna Bentes, pesquisadora da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) e au- TECNoLogia TEN�
tora do livro Quase um tique: economia TaM CaPTurar,
da atenção, vigilância e espetáculo (2021).
A atenção se tornou tão rentável que E rEVENDEr,
ganhou até versão sintética, com bots
criados para consumir conteúdo em
o sEu foCo.
aplicativos, como se fossem gente – e
gerar receita publicitária, com a exibição
de banners, a partir disso. Um relatório
da Universidade de Baltimore e da em-
presa de analytics CHEQ estima que
os anunciantes percam US$ 35 bilhões
anuais para esse tipo de fraude.
A economia da atenção também está
em crise por outro motivo: a superex-
ploração. Com cada vez mais conteúdos

28 super outubro 2023


número real pode ser menor ainda.
“Em dispositivos móveis, quase metade
dos cliques é acidental, a pessoa tocou
sem querer na tela”, afirma Hwang.
O efeito da publicidade, claro, nem sem-
pre requer que você clique nela; basta
que a marca ou produto fique na sua
cabeça. Só que muitas vezes nem isso
acontece: você se lembra da última pro-
paganda que viu online? Nos tornamos
experts em ignorar o bombardeio de
anúncios que permeia a vida online.
Para Hwang, a indústria da aten-
ção está prestes a enfrentar uma
crise parecida com a do subprime: a
onda insustentável de empréstimos
imobiliários nos EUA que resultou
no crash econômico global de 2008.
Segundo ele, as empresas que anun-
ciam nas plataformas digitais acaba-
rão percebendo que não têm retorno
compatível com o investimento, e re-
duzirão drasticamente as campanhas
publicitárias – o que abalará direta-
mente a principal (ou única) fonte
de financiamento de vários gigantes
da tecnologia. “Há boas razões para
acreditar que as fundações financei-
ras da web são mais frágeis do que
imaginamos”, afirma.
O TikTok tentou dar um passo atrás,
e reverter o picotamento da atenção
que ele mesmo estimulou. No ano pas-
sado, passou a aceitar vídeos longos,
Fontes (6) Viewing personalized video clips recommended by TikTok activates
default mode network and ventral tegmental area. C Su e outros, 2021.
CLUBE DE REVISTAS
de até 10 minutos (se gravados dentro
do próprio app, 3 minutos). Em 2022, a
revista Wired teve acesso a documen-
tos internos do TikTok que revelam o
motivo disso: a empresa chinesa queria
vídeos mais longos porque eles pren-
diam a atenção, e era mais fácil inse-
rir anúncios no meio. Não deu muito
certo, e o ritmo seguiu frenético. Os
mesmos documentos internos apon-
tavam que 50% dos usuários do app
consideram “estressantes” conteúdos
A explo- com mais de 1 minuto, e 30% assis-
ração tem a vídeos online na velocidade 2x.
desenfreada O estrago estava feito.
pode acabar
dizimando a
atenção – e
A química da atenção
abalar, ou O consumo ultrafragmentado de in-
matar, as formação provavelmente tem efeitos
empresas sobre o cérebro. Eles ainda não são
que hoje plenamente compreendidos, mas já co-
ganham
dinheiro
meçam a surgir as primeiras pistas. Em
com ela. 2021, pesquisadores da Universidade
de Zhejiang, na China, monitoraram(6)
o cérebro de 30 voluntários enquanto
eles usavam o Douyin (a versão chine-
sa do TikTok). No estudo, as pessoas
foram expostas a dois tipos de vídeo:
alguns escolhidos com precisão pelo
algoritmo do app, e outros mais ge-
néricos (como os clipes que aparecem
quando você entra no TikTok pela pri-
meira vez, e ele ainda sabe pouco a
seu respeito).
outubro 2023 super 29

Os dois tipos de vídeo reduziram
a atividade de algumas regiões cere-
brais, como o córtex cingulado dor-
sal (dACC), que está relacionado ao
autocontrole, e o córtex orbitofrontal
(BA11), ligado à tomada de decisões e
à formação de memórias. Além dis-
so, quando os vídeos eram altamente
personalizados, havia maior ativação
de nove regiões cerebrais – incluindo
a área tegmental ventral (VTA), que
controla a liberação de dopamina.
Esse neurotransmissor está relacio-
nado a sensações prazerosas, como
comer doces, fazer sexo ou encontrar
alguma informação interessante – e
também pode ser estimulado pelo uso
de drogas e substâncias viciantes. Elas
provocam uma liberação de dopamina
muito maior, óbvio, do que o TikTok.
Sem comparação. Mas um ponto é
igual: a pessoa viciada sempre acha
que está no controle, e consegue de-
terminar quando e por quanto tempo
irá usar aquilo. Você consegue fazer
isso com o seu smartphone?
É difícil, justamente porque os apps
e as redes sociais tentam estimular a
liberação de dopamina. Seus criado-
res buscam isso de forma consciente.
30 super outubro 2023
CLUBE DE REVISTAS
O programador Sean Parker, um dos
fundadores e primeiro presidente do
Facebook, cometeu uma inconfidência
em 2017. Ele, que já estava afastado da
empresa, afirmou que a criação do site
foi guiada por uma pergunta: “Como
consumir o máximo do seu tempo e
atenção?”. Para atingir esse objetivo,
disse Parker, era preciso dar “dar um
pequeno disparo de dopamina” ao usu-
ário de vez em quando. Isso é feito
alternando, no feed, conteúdos que o
O termo
algoritmo considera extremamente
“jejum” é relevantes com outros ligeiramente
mera força mais genéricos. Isso porque, como
de expres- vários estudos comprovaram, “ganhar”
são. Porque sempre acaba se tornando entediante.
a falta de
dopamina
A emoção, e a dopamina, são maiores
causa quando há surpresa.
doenças Na tentativa de frear esse vício,
neurológi- surgiu uma nova moda nas redes: o
cas, como o dopamine fasting, ou jejum de dopami-
Parkinson.
na. A tese foi proposta pelo psiquiatra
Cameron Sepah, da Universidade da
Califórnia (São Francisco), e propunha
um jeito de reduzir a dependência de
certas atividades. Não é nem um pou-
co extrema: a sugestão é programar
“fugas” do celular, suspendendo o uso
por um tempo limitado – durante a
Fontes (7) Progression of Myopia in School-Aged Children After COVID-19
Home Confinement. J Wang e outros, 2021. (8) More Than Fifty Percent of the
World Population Will Be Myopic by 2050. A Nouraeinejad, 2021.

noite ou num final de semana, por
exemplo. Mas Sepah usou o termo
“jejum” como força de expressão: na
verdade, você não está privando o
cérebro desse neurotransmissor.
“A dopamina não é nossa inimiga.
Pelo contrário, precisamos dela para so-
breviver”, esclarece Anna Lembke, psi-
quiatra da Universidade Stanford, auto-
ra de Nação Dopamina (2021) e do novo
Nação Tarja Preta [leia mais na pág. 17].
De fato: a escassez de dopamina está
relacionada a doenças neurológicas
graves, como Parkinson. O “jejum” de
dopamina, diz ela, pode até funcionar
para reequilibrar o sistema, mas é só o
começo de um processo de mudança
de hábitos. Eis aí, afinal, o verdadei-
ro poder do método. Se você incluir
na rotina pausas, nas quais deixa de
encharcar o cérebro com mil e um es-
tímulos, logo se sentirá mais calmo e
focado. Faça o teste.
Mas outros autores, como o escritor
inglês Johann Hari, que investigou as
pesquisas da área em seu livro Stolen
Focus (“Foco Roubado”, 2022), apon-
tam um problema: essa estratégia é
individual. E talvez não seja mais pos-
sível falar em autocontrole quando
CLUBE DE REVISTAS
do outro lado das telas há bilhões de
dólares, e um exército de programa-
dores e engenheiros, forjando novas
maneiras de sequestrar a atenção. Por
essa linha de raciocínio, seria preciso
fazer uma mudança estrutural, com
leis regulamentando os apps e as
o “jEjuM DE DoPa� redes sociais.
Não vai acontecer. Pelo menos não
MiNa” Não rEDuz, em um futuro próximo. A indústria da
DE forMa sigNifi� atenção continuará a explorá-la como
se não houvesse amanhã – indiferente,
CaTiVa, a QuaNTi� como outras indústrias, às consequên-
DaDE DELa No Cé� cias disso. Mas há uma diferença. Ao
contrário dos outros recursos naturais,
rEBro. Mas PoDE a atenção não pertence ao ambiente: ela
TrazEr BENEfíCios emana de dentro de nós. Então pode-
mos defendê-la diretamente.
PsiCoLógiCos. O problema, como muita coisa que
envolve o corpo humano, está no ex-
cesso. Por exemplo: olhar para telas
por muito tempo acaba alongando os
globos oculares(7), uma das causas da
miopia. O efeito é tão nítido (desculpe
o trocadilho) que o problema explodiu.
Nos EUA, a porcentagem de míopes
quase dobrou nos últimos 40 anos, e na
China a maioria das crianças e adoles-
centes do país agora é míope. Estima-
se que(8), se o ritmo atual continuar,
52% da população mundial será míope
em 2050 (contra 27% hoje). Deixar as
telas de lado por um tempo, e olhar
para longe algumas vezes durante o
dia, ajuda a prevenir a deformação do
globo ocular.
Com a atenção, é a mesma coisa.
Tudo bem rolar pelo TikTok, fofocar
no WhatsApp, dar uma espiada nas
notícias, pular alegremente de um app
para outro sem focar em nada. Desde
que, além de consumir esse conteúdo
ultrafragmentado, você também tenha
o hábito de exercitar a atenção sus-
tentada. Vale qualquer atividade que
possa prendê-la por mais de alguns
minutos – inclusive ler textos mais
longos, como este (aliás, quantas vezes
você parou para olhar o celular antes
de chegar até aqui?).
Acima de tudo, é preciso descansar
a mente. Ficar partes do dia sem con-
sumir nenhuma informação, entretido
apenas pelas próprias ideias. Além de
entregar sua atenção à chuva de infor-
mações do mundo, prestá-la ao que re-
almente importa: você. S
outubro 2023 super 31
 CLUBE DE REVISTAS
ciência

laboratório DE
O maior acelerador de partículas

O do hemisfério sul – cujos feixes de

luz permitem determinar a estrutura
de um vírus átomo por átomo – vai

SEGURANÇA
ganhar um anexo: o Órion, primeiro
laboratório do Brasil com nível de
biossegurança 4, o maior possível.
Entenda essa combinação inédita,
que põe nosso País na vanguarda
das pesquisas com patógenos
ainda mais perigosos que a Covid.

MÁXIMA DO brasil Texto Bruno Vaiano

Design Caroline Aranha
Edição Alexandre Versignassi

32 super outubro 2023 Fotos: CNPEM/Divulgação e Maria Clara Rossini


O vírus mais perigoso já encon-
O
trado no Brasil fez sua primeira vítima
em 1990 no Jardim Sabiá – um pe-
queno bairro do município de Cotia,
nos arredores da capital paulista, às
margens da Rodovia Raposo Tavares.
A vítima, uma engenheira agrônoma
de 25 anos, passou 12 dias em casa
com sintomas similares aos de dengue:
dores na cabeça e no corpo, enjoo e
fraqueza. Foi internada e morreu no
hospital quatro dias depois, com sono-
lência, tremores, convulsões e sangra-
mentos espontâneos em vários órgãos.
O Instituto Adolfo Lutz analisou o
patógeno e o enviou à Universidade
Yale, nos EUA, que confirmou se tratar
de uma espécie inédita de arenavírus –
família que inclui os causadores de ou-
tras quatro febres hemorrágicas letais:
os vírus Junin, Machupo, Guanarito
(todos sul-americanos) e Lassa (africa-
no). Em referência ao bairro, batizaram
o dito-cujo de vírus Sabiá, sigla SABV.
CLUBE DE REVISTAS
Em sua turnê por institutos de pes-
quisa, o Sabiá fez mais estrago. No Bra-
sil, em 1992, um técnico de laboratório
se infectou, mas recebeu tratamento
médico imediatamente e sobreviveu.
Em 1994, já em sua passagem por Yale,
o vírus se espalhou por acidente em
uma centrífuga (equipamento típico
de laboratórios) e contagiou um pes-
quisador americano de 46 anos – que
acabou internado, mas se recuperou
com auxílio de um remédio antiviral.
O SABV fez três vítimas fatais – além
do caso de Cotia, houve uma morte em
1999 e outra em 2019, ambas no Brasil
também. Todas contraí-
ram o vírus em regiões
rurais ou de mata nativa,
já que, na natureza, ele se
hospeda em roedores sil-
vestres. O mais provável
é que o Sabiá se transmita
a bordo de aerossóis, par-
tículas de material sólido
ou líquido tão leves que
flutuam no ar. O roedor
faz xixi no chão e o líqui-
do infectado se mistura
ao pó. Depois, é só bater
um vento e alguém res-
pirar na hora errada. A
transmissão de humano
para humano é possível,
mas nunca ocorreu. →
outubro 2023 super 33
 CLUBE DE REVISTAS
O Brasil não tem, hoje, nenhum labo-
ratório com o grau de contenção neces-
sário para lidar com o Sabiá ou outras
pestinhas de periculosidade similar.
Nossas melhores instalações obedecem
ao chamado nível de biossegurança 3
(NB-3). É suficiente para mexer com o
coronavírus. Mas alguns patógenos exi-
gem ambientes NB-4: o próximo nível
de segurança, e o mais alto que existe.
Agora, um projeto desse calibre final-
mente vai sair do papel. O Centro Nacio-
nal de Pesquisa em Energia e Materiais
(CNPEM), em Campinas (SP), deu início
às obras do Órion, um complexo que
conterá o primeiro ambiente NB-4 do
país. O prédio de 20 mil m², programado
para 2026, custará R$ 1 bi do Ministé-
rio da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI) e terá também laboratórios com
níveis de contenção mais baixos, bem
como um biotério e escritórios.
O Órion não é especial apenas por
ser a primeira instalação do tipo no
Brasil. O bacana mesmo é que esse
será o único laboratório de seguran-
ça máxima do mundo acoplado a um
acelerador de partículas, o Sirius, que
também pertence ao CNPEM e é o
projeto mais ambicioso da história da
ciência nacional.
O Sirius é uma fábrica de luz. Seu
objetivo é produzir feixes de radiação
eletromagnética muito intensos e com um deles, entre na fila – li-
aplicações ultraespecíficas. Eles per- teralmente: há um gargalo
mitem tanto determinar a estrutura enorme na oferta de labo-
de um vírus átomo por átomo como ratórios NB-4. Há apenas
fazer tomografias de altíssima definição descobertas úteis para 60 deles pelo mundo.
que mostram a atuação do patógeno pesquisas aplicadas na Além de patógenos
em várias escalas: dá para “flagrar” um área de biotecnologia). que nem descobrimos,
Sars-CoV-2 invadindo uma célula, es- Mas, se algo perigoso há uma porção de vírus
piar a dengue se hospedando em um aparece, “você não tem e bactérias latinos, cari-
Aedes ou acompanhar o passo a passo
de uma doença com um zoom menor,
de olho nos danos aos órgãos e tecidos
de uma cobaia animal. Vamos entender
como nas próximas páginas.
alternativa a não ser sus-
pender a sua pesquisa ou
enviar essa amostra para
um laboratório em outro
país. A maioria deles está
600
mil. É a
benhos, africanos e asi-
áticos já conhecidos que
acabam deixados de lado
pela ciência mainstream
praticada na Europa e
estimativa
no hemisfério norte”, diz do número
nos EUA. Nenhum pes-
Favores gringos o virologista Rafael Elias de vírus quisador gringo, em sã
Ter um NB-4 em território nacional Marques, do CNPEM. ainda consciência, diria que os
é uma questão de soberania. Somos o “Não podemos responder desconhe- micróbios hermanos no
país mais biodiverso do mundo. O que a nossas perguntas por cidos que lado sul do mapa mere-
existem no
significa, é claro, que nossa microbiota falta de infraestrutura.” Brasil.
cem menos atenção. Mas
é tão vasta quanto a fauna e a flora. Calcula-se que haja é fato que, no cômputo
A maior parte da vida microscópica é entre 500 mil e 600 mil final, a grana dedicada a
inofensiva (e, com frequência, rende vírus desconhecidos no doenças como dengue,
Brasil. Se quiser usar zika ou febre amarela
instalações estrangeiras é menor, simplesmente
para investigar qualquer porque os países mais

34 super outubro 2023

 CLUBE DE REVISTAS
afetados não têm tantos recursos para
pesquisá-las. A OMS lista, ao todo, 20
doenças que considera negligenciadas.
O Brasil pode não ser um gigante da
ciência mundial, mas tampouco somos
cafés com leite: temos a 14ª maior pro-
dução de artigos científicos do mundo,
logo atrás da Coreia do Sul, e nossos
ecossistemas são uma caixa-preta de
vida microscópica. Além disso, embora
o Órion seja complexo, não é um desa-
fio de engenharia tão grande quanto o
Sirius em si. O que leva à pergunta: por
que ainda não havia um NB-4 por aqui?
Resumindo, a explicação é burocracia
demais e interesse político de menos.
“Isso entrou em pauta no Brasil pela
primeira vez há décadas, motivado por
vários setores da sociedade: acadêmicos,
militares, agropecurária”, explica Antonio
José Roque da Silva, diretor do CNPEM.
“E o agro chegou a construir o equiva-
lente ao nível máximo de segurança bio-
lógico para animais, por causa da febre
aftosa [doença viral transmitida por água e
alimento que ataca bois e porcos].” Ou seja:
No quando um setor central para a economia
se viu acuado por um vírus, a vontade
laBoraTórIo política apareceu. Para José Roque, a
Covid foi um susto equivalente, e deu
NB-4, a prEssão
Do ar É maIs BaIxa
quE Do laDo DE fora,
o quE maNTÉm os
vírus prEsos
lá DENTro.
o empurrão que faltava para convencer
as autoridades a tirar o NB-4 do papel.
Se a pandemia forneceu o pretexto, o
CNPEM deu as condições administra-
tivas. Ele tem vantagens em relação às
universidades públicas por se tratar de
uma organização social (OS). Uma OS é
uma empresa privada sem fins lucrati-
vos que recebe dinheiro do Estado para
realizar atividades de interesse públi-
co. Elas podem empregar funcionários
pelas regras da CLT em vez de realizar
concursos públicos, e o processo equi-
valente a uma licitação para comprar
equipamentos é mais simples.
Essa flexibilidade permitiu tirar pro-
jetos como o Sirius do papel, e já deu
frutos em outros órgãos. Por exemplo:
o mais próximo que o Brasil tem de um
prêmio Nobel é uma medalha Fields, a
honraria mais alta da matemática. E o
medalhista saiu justamente do Instituto
de Matemática Pura e Aplicada (IMPA),
que se tornou referência mundial em
matemática – sob o regime de OS.
Como funciona um NB-4
Explicada a burocracia, vamos à enge-
nharia. Como, exatamente, se constrói
um ambiente tão seguro – e como os 60
NB-4s do mundo fazem para evitar que
um Last of Us da vida se transforme em
realidade? A explicação começa pelo ar.
Volta e meia a previsão do tempo
fala em áreas de alta ou baixa pressão
atmosférica. As áreas de baixa pressão
têm mais espaço para as moléculas de
nitrogênio e oxigênio do ar flutuarem
por aí. As de alta pressão, por sua vez, são
o contrário: o ar fica mais apertadinho.
Do mesmo jeito que os passageiros de
um ônibus sempre fluem da área cheia
para a vazia (até que a lotação se distribua
de maneira uniforme pelo coletivo), o
vento “venta” das áreas de pressão mais
alta para as de pressão baixa.
Os vírus não têm asas: vão aonde o ar
levá-los. É por isso que um laboratório
NB-4 – e, em menor grau, um NB-3 – é
organizado em uma sequência de salas
que formam um degradê de pressão
atmosférica. Quanto maior o risco em
um ambiente, menor a pressão lá dentro;
um sistema de ar-condicionado e ven-
tilação mantém esse gradiente. Mesmo →
outubro 2023 super 35
 CLUBE DE REVISTAS

ESCRITO NAS ESTRELAS

como funcionará o laboratório de biosse-
gurança máxima (NB-4) do complexo órion
– cujo nome é uma brincadeira com o céu.

sirius

órion
órion

sirius

a faNTásTIca fáBrIca DE luz

O Sirius é um anel de 518 metros de circunferência em que elétrons dão 580 mil voltas por segundo. Ao longo
do trajeto, há 38 pontos em que ímãs forçam essas partículas a fazer curvas. Nas curvas, eles liberam um
tipo especial de radiação eletromagnética – a luz que é usada em experimentos científicos. Na planta, vista
de cima, vê-se que o Órion ficará acoplado ao Sirius e ligado a 3 dos 38 “canos” que fornecem luz. O nome do
laboratório é uma referência à proximidade das Três Marias, as estrelas do Cinturão de Órion, à estrela Sirius.

1 suBsolo 2 TÉrrEo 3 1º aNDar 4 2º aNDar

Esta é uma visão lateral do
Órion. Todo prédio com um
NB-4 precisa ser dividido
em quatro pisos. No sub-
solo, fica o sistema de tra-
tamento de líquidos (que
passam por dois rounds
de descontaminação: um
químico, outro térmico).
Toda a atividade científica
de um NB-4 ocorre no nível
do chão. Ainda não há uma
planta exata do Órion, mas
existe um padrão para os
procedimentos de entrada
e saída de um NB-4 e as
salas necessárias para
realizá-los (veja ao lado).
Os pesquisadores andam
dentro do laboratório em
trajes isolados. O oxigênio
vem de tubos flexíveis que
se conectam ao teto e dão
no 1º andar, onde há filtros
separados: um para o ar
dos ambientes, outro para
o interior dos trajes.
Aqui ficam o exaustor que
expele o ar já filtrado para
fora e a estrutura que
capta ar fresco e o traz
para dentro. Por precau-
ção, toda filtragem ocorre
duas vezes, com filtros
especiais conhecidos pela
sigla HEPA.
 CLUBE DE REVISTAS
E O VENTO LEVOU
Em um laboratório NB-4, quanto mais perigosa a sala, menor é a pressão
atmosférica. assim, há sempre uma corrente de ar puxando de fora para
dentro. os patógenos não têm como remar contra essa maré gasosa.
prEssão
árEa ExTErNa
O complexo Órion terá
áreas com laboratórios de
risco menor, escritórios etc.
A pressão do ar sempre
será mais alta nessas áreas
que no local NB-4.
acEsso
O NB-4 terá uma antessala
segura, onde se pode tra-
balhar de roupa normal.
Mas a pressão, aqui, já deve
ser um pouco menor que
no resto do prédio.
vEsTIárIo 1
Para acessar a área restrita,
o primeiro passo é tirar as
roupas comuns e guardá-
-las aqui. O pesquisador
veste uma roupa hospitalar
por baixo do traje.
cHuvEIro comum
Ao entrar, o pesquisador
não passa aqui. Na saída,
porém, ele precisa tomar
um banho de água e sabão
depois de tirar o traje, mas
antes de pôr a roupa.
vEsTIárIo 2
Aqui o pesquisador põe e
tira o traje especial, que
é isolado do ambiente
externo: todo o ar vem de
tubos conectados a dutos
no teto.
cHuvEIro químIco
Na saída do laboratório,
ainda dentro do traje, o
pesquisador toma um
banho automático de 3 min
com um agente desinfetan-
te e enxágua com água.
laBoraTórIo
É a área de trabalho, onde
ficam os patógenos. A
pressão do ar, aqui, é a mais
baixa do prédio. Isso impe-
de que qualquer partícula
saia quando a porta abre.
Tubos de fornecimento de ar.
que algum desavisado
abra uma porta na hora
errada, sempre haverá
uma corrente que puxa
o ar de fora para dentro.
Assim, a principal pro-
teção em instalações des-
se tipo não é a borracha
nas portas ou as roupas
herméticas usadas pelos
pesquisadores – o único
acesso ao ambiente exter-
no é a luz que entra pela
viseira transparente no
capacete –, e sim essa
barreira invisível, que
mantém as partículas
virais sempre com uma
passagem só de volta para
dentro do laboratório.
Falando na roupa, ela é
um pouco como um esca-
fandro do século 19. Um
tubo flexível, conectado
a uma central no andar
de cima, bombeia ar para
dentro do traje o tempo
todo. Esse tubo permane-
ce sempre conectado ao
teto, da mesma forma que
um trólebus com o fio de
alimentação elétrica.
O lookinho da Nasa
segue a mesma lógica das
salas. A pressão é mais
alta lá dentro do que no
ambiente. Isso ajuda caso
o traje fure. Enquanto o
tubo estiver bombeando
ar limpo lá dentro – co-
mo você pode imaginar,
o pesquisador parece
um bonecão inflável da
Michelin –, o ar vai sair
pelo buraco, e nenhum
patógeno será capaz de
entrar remando contra
essa maré gasosa.
Tirar a roupa é uma
dor de cabeça. Primeiro,
o pesquisador entra de
traje e tudo embaixo de
um chuveiro químico,
que tem uma ducha no
topo e jatos auxiliares →
outubro 2023 super 37

disparando das laterais. O banho con-
siste em uns 3 minutos de higienização
com um agente desinfetante, seguido
de 4 minutos de água para enxaguar (o
tempo exato varia conforme o protocolo
usado). Note que a pressão na área do
chuveiro já é um pouquinho mais alta
que a pressão dentro do laboratório.
O pesquisador sai da área das du-
chas, fecha a porta, tira a roupa espe-
cial (a praxe é vestir algo como um
camisolão hospitalar por baixo) e segue
para a próxima sala – onde se toma
um banho comum, com água e sabão.
Depois, ele segue para um vestiário e
põe sua roupa regular. Só então ele
está autorizado a sair para a área de
acesso do laboratório. A primeira sala,
onde a pressão é a mais alta de todas.
Explicamos tudo no infográfico da
página 37, que detalha também outra
particularidade de um NB-4: ele preci-
sa obrigatoriamente ter quatro andares,
um subterrâneo e três acima do solo. No
subsolo, fica o maquinário de tratamento
de resíduos líquidos, que descontamina
todo o esgoto do laboratório. O térreo
abriga o laboratório em si. Os andares
superiores, por sua vez, contêm a in-
fraestrutura que filtra o ar e mantém o
arco-íris de pressões sob controle.
Seguir os protocolos de segurança
exige prática, e é por isso que o CNPEM
contará com duas instalações de treina-
mento. Uma delas não ficará no Órion
em si (até porque o prédio ainda não
existe, e é preciso treinar os pesquisa-
dores desde já, de modo que eles sai-
bam o que fazer quando tudo estiver
pronto). Trata-se de uma “maquete” em
tamanho real de um laboratório NB-
4, instalada no prédio do Laboratório
Nacional de Biociências (LNBio) – a um
estacionamento de distância do Sirius,
o acelerador de partículas, no mesmo
campus. Ela já está em um estágio
avançado de construção.
Onde entra o Sirius
O Sirius tem forma e tamanho de um
estádio e é o que os físicos denominam
“fonte de luz síncrotron”. O que essas
engenhocas fazem é acelerar elétrons
38 super outubro 2023
CLUBE DE REVISTAS
– as mesmas partículas
que orbitam os átomos e
chacoalham na fiação da
sua casa – até uma veloci-
dade próxima à da luz. No
ponto mais rápido desse
autorama subatômico,
eles dão 580 mil voltas
por segundo em um anel
de 518 metros de circun-
ferência, isolado detrás de
um paredão de concreto
de 1,5 m.
Ao longo do circuito,
há dezenas de ímãs mui-
to potentes, e é o campo
magnético deles que força
os elétrons a permanece-
rem no trajeto curvo. Cada
vez que fazem uma curva,
eles perdem um pouco de
energia, liberada na forma
de radiação eletromagné-
tica, ou seja: luz. Luz de
altíssima energia, invisível acIma,
aos olhos humanos, como
raios X. Há 38 curvas ao o saguão Do
longo do trajeto, o que
significa 38 torneiras de sIrIus. aBaIxo,
radiação – as chamadas um DETalHE Dos
linhas de luz – onde se
podem instalar estações sENsorEs No local
de trabalho.
Em quE uma amosTra
É aTINgIDa
pEla luz.
 CLUBE DE REVISTAS

todos cópias exatas de um único anti-

No limite do didatismo, isso signi-
fica que o Sirius é uma máquina de
tomografia gigante, capaz de dar um
zoom brutal em vírus minúsculos e
gerar visualizações tridimensionais de
as proteínas que ele usa
para invadi-la. Esse co-
nhecimento dá um belo
adianto, por exemplo, na
hora de desenvolver va-
cinas e remédios de van-
guarda, conhecidos como
anticorpos monoclonais.
Anticorpos são molé-
culas que nossos glóbulos
corpo que já se sabe ser eficaz, eles são
denominados monoclonais. Conhecer
bem o vírus que você quer algemar ace-
lera as pesquisas pré-clínicas (a fase de
desenvolvimento de uma terapia, antes
dos testes em humanos) e é uma forma
de torná-las mais econômicas.
Um segundo nível de zoom – que
será permitido por uma outra linha de
luz, a Timbó – consiste em aproximar
coisas muito pequenas, mas já visíveis
a olho nu. Um exemplo é pegar uma
amostra de tecido de um órgão e avaliar
de perto como o vírus o afetou. Outra é
observar um mosquito Aedes aegypti no
momento em que ele está carregando o
vírus da dengue, para descobrir como
o patógeno se porta lá dentro. E, quem
sabe, pensar em novas maneiras de mi-
tigar sua transmissão para humanos.
A terceira linha, chamada Hibisco,
tem um grau de ampliação menor. O
objetivo é acompanhar a evolução de
doenças no organismo como um to-
do. Nela será possível, por exemplo, ver
detalhes dos órgãos de um mamífero
infectado com um vírus como o Sa-
biá – e então manter a cobaia viva para
gerar outras imagens depois, quando
a infecção piorar. Acompanhar o bi-
chinho vivo ao longo de dias é muito
importante para esse tipo de estudo, e
o Órion facilitará muito a tarefa.
Esse é um avanço que só foi possível
porque o Brasil continua formando pes-
quisadores apesar dos cortes constantes
do investimento em ciência básica desde

altíssima definição de qualquer coisa
(como os poros de rochas no oceano,
algo que a ajuda a Petrobras a explorar
petróleo). Uma tomografia do tipo que
é feita lá, em um hospital, demora até
48 h. No UVX, um acelerador de elé-
trons menor, construído em 1998, são
40 minutos. No Sirius, segundos, pois
muito mais partículas de luz, os fótons,
atingem a amostra.
Três linhas de luz do Sirius vão sair
do prédio principal (o que tem forma
de estádio) e entrar nas dependências
do Órion. Elas vão fornecer resoluções
para todos os gostos. A primeira linha
de luz, chamada Sibipiruna, vai dispa-
rar feixes tão intensos que permitirão
dar um close em uma célula infecta-
da por um vírus e entender melhor
60
brancos produzem sob 2016. Projetos assim derrubam o pre-
medida para se encaixar conceito de que um doutorado em uma
em alguma proteína do área como física de partículas é “só” um
patógeno e “algemá-lo”. exercício intelectual incompreensível.
laborató- Hoje, já existe tecnologia “Às vezes a gente pensa que existe
rios NB-4 para encontrar um anti- uma dicotomia entre ciência de ponta,
existem corpo bom no combate a reescrever os livros, e a parte sanitá-
no mundo. um certo micróbio e então ria, a de desenvolver tratamentos para
Há demanda fabricá-lo artificialmente. infecções”, diz a farmacologista Maria
por muito
mais, prin- Essa terapia dá resultado Augusta Arruda, diretora do LNBio. “O
cipalmente mais rápido do que espe- Órion diminui esse vão. Pesquisa básica
após a rar o sistema imunológico e aplicada andam juntas. É só pensar em
covid-19. de cada paciente customi- vacinas de RNA. Pareciam ficção cien-
zar as próprias moléculas. tífica, mas nos possibilitaram ter um
Como esses anticorpos imunizante contra a Covid em meses.”
criados “em cativeiro” são Quando a próxima pandemia vier – e
ela virá –, o Brasil pode se orgulhar: te-
remos uma estrutura única no mundo
para fazer nossa parte. S

Agradecemos pelas entrevistas de Tatiana Ometto, James Citadini e Lucas Sanfelici,

bem como a Reberson Ricci Ius e Matheus de Matos Ferreira, todos do CNPEM. outubro 2023 super 39
 CLUBE DE REVISTAS
sociedade

OVelhas e

TiPos
BOVINa suÍNa caBras

proteÍna Edição Alexandre Versignassi

MaiorEs CoNsuMiDorEs
1º argentina
46,9 kg
1º Hong kong
55,2 kg
1º Mongólia
66,3 kg

D E P r o T E í N a P E r C a P i Ta
2º Zimbábue 2º Polônia 2º Islândia
42,3 kg 55 kg 21,8 kg

(e M k g /a n O)
3º estados unidos 3º espanha 3º Bahrein
37,9 kg 52,6 kg 21,4 kg

4º austrália 4º Lituânia 4º Turcomenistão

37 kg 50,7 kg 20,8 kg

5º Brasil 5º croácia 5º chade

Design Caroline Aranha

35,4 kg 49,6 kg 17,9 kg

BrasIl
Ilustração Felipe Mayerele

proteínas mais
consumidas:
Frango
48,4 kg per capita
bovina
35,4 kg per capita
suína
da

14,2 kg per capita

peixe e Frutos
do mar
8,1 kg per capita
O MAPA

ovelha e outros
Texto Maria Clara Rossini e Rafael Battaglia

1,2 kg per capita

O brasileiro come em
ZIMBáBue
média 40 frangos por O país africano é
ano – e é o quinto o segundo maior
consumidor de
maior consumidor carne bovina,
de carne bovina do perdendo apenas
para a argentina.
mundo. Veja qual é a a criação de
carne favorita de cada gado é tradição
país e quantos quilos no Zimbábue:
responde por 35%
de proteína animal do PIB de lá.
vão para o prato.

40 super outubro 2023

 CLUBE DE REVISTAS

fraNGO PeIxes e fru- OuTrOs

(e OuTras aVes) TOs dO Mar
(cOelhO, caValO, top 10 consuMidores
carNes de caça)
Mundiais de carne
1º S.Vicente e Granadinas 1º Islândia 1º Papua Nova-Guiné (qualquEr tipo)
74,7 kg 90,6 kg 46,3 kg CoNSuMo
P e r C A P I TA
2º Israel 2º Maldivas 2º Mongólia (e M KG/A N o)
68,9 kg 83,1 kg 15,1 kg
3º Samoa 3º Macau 3º Gabão
202,1
65,7 kg 73,2 kg 13,7 kg kg hong kong
4º Trindade e Tobago 4º Kiribati 4º Botsuana
63,1 kg 73,2 kg 11,9 kg

5º Antígua e Barbuda 5º Hong Kong 5º Congo

61,8 kg 65,8 kg 7,8 kg 180,9
kg islândia

176,9
kg macau

156,2
MONGólIa kg nauru
A herança nacional
marcada por pas-
tores faz com que
151,4 estados
a Mongólia seja o kg
principal consu- unidos
midor de carne de
ovelha do mundo.
o país também é 150,2
um dos maiores kg portugal
apreciadores de
carne de cavalo.

hONG KONG 145,6

kg austrália
o maior consu-
midor de carne
suína do mundo
(e de carnes
em geral) come
142,7
kg espanha
a cada ano o
equivalente a um
PaPua
porco, 46 fran- NOVa-GuINé
gos, 10 salmões o país da oceania 136,2 antígua e
e 15% de um boi é o maior produtor kg
por pessoa. de carne selva- barbuda
gem. Boa parte da
população rural
e indígena 135,9
depende da caça, kg samoa
principalmente
cervos e javalis.

Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, 2021 outubro 2023 super 41
 CLUBE DE REVISTAS
saúde

a v E rda dE sobrE o

GLUTAMATO

ele não é inerte. mas também não é o vilão que se imagina.

veja o que a ciência tem a dizer sobre esse composto, que é
usado como tempero na cozinha chinesa – e um ingrediente
bem comum nos alimentos industrializados.

42 super outubro 2023

CLUBE DE REVISTAS

Texto
Bettina Gehm,
Sílvia Lisboa
& Bruno Garattoni

Ilustração
Felipe Del Rio

Design
Luana Pillmann

outubro 2023 super 43


“Tenho experimenTado
uma síndrome estranha
sempre que vou a um
restaurante chinês, espe-
cialmente os que servem
comida do norte da Chi-
na. Geralmente começa
15 a 20 minutos após o
primeiro prato, e dura
cerca de duas horas. Os
sintomas mais evidentes
são dormência na parte
de trás do pescoço, que
se irradia para os braços,
fraqueza e palpitações
cardíacas", dizia a carta es-
crita por Robert Ho Man
Kwok, cientista da Natio-
nal Biomedical Research
Foundation, e publicada
na edição de 4 de abril
de 1968 do New England
Journal of Medicine.
A causa, segundo ele,
poderia ser “o tempero
de glutamato monossó-
dico usado nos restau-
rantes chineses". Vários
médicos enviaram cartas
comentando o caso e re-
latando sintomas simila-
res. Nascia ali a chamada
“síndrome do restaurante
chinês", condição de saúde
causada pelo glutamato.
Em 2017, a pesquisa-
dora americana Jennifer
Lin, que é de origem asi-
ática, resolveu investigar
o caso, que lhe pareceu
um caso de sinofobia.
Encontrou uma história
e tanto: Robert Kwok te-
ria sido um pseudônimo
inventado por Howard
Steel, cirurgião ortopédi-
co e professor da Temple
University (Filadélfia).
44 super outubro 2023
CLUBE DE REVISTAS
O suposto objetivo era negativas. Mas só em si-
ganhar uma aposta – pa- tuações altamente especí-
ra provocá-lo, um amigo ficas – que não têm nada
havia dito que a ortopedia a ver com o uso alimentar
era banal, e Steel jamais pela maioria das pessoas.
emplacaria um texto no
prestigioso New England. Injetar não é comer
Emplacou. Em 2017, Steel Os primeiros estudos
confirmou tudo. Disse que com o GMS, feitos em
tentou alertar a New En- ratos de laboratório,
gland sobre a brincadeira apontaram efeitos noci-
na época, mas não conse- vos: altas doses do com-
guiu. Ou seja, o glutamato posto, aplicadas direto
era inocente. A polêmica na corrente sanguínea
em torno dele não passava dos animais, causavam
de um trote. Mas ainda ha- sequelas variadas. Em
veria mais uma reviravolta. 1969, um cientista da
Steel morreu em 2019, Universidade de Washin-
aos 97 anos. Alguns me- gton publicou os resulta-
ses depois, um podcast dos de uma experiência
da National Public Radio na qual injetou gluta-
(NPR) americana desco- mato (1) em ratos recém- glutamato
briu que, na verdade, ele -nascidos: eles ficaram monossódico (gms)
é que estava mentindo. com o esqueleto atro-
Robert Kwok existiu, fiado e desenvolveram Produzido a partir da fermenta-
trabalhou na National obesidade quando adul- ção de beterraba, mandioca ou
Biomedical Research tos. Em outro teste (2) , algas, é quimicamente idêntico
Foundation – e segundo realizado pela Univer- ao natural.
sua filha e um colega de sidade de Illinois em
trabalho dele, entrevista- 1977, o GMS provocou
dos pela emissora, real-
mente escreveu a tal car-
ta, da qual se orgulhava.
Ela foi o pontapé ini-
cial, o marco zero da
controvérsia envolvendo
o glutamato monossódi-
co (GMS). Muita gente
acredita que a substân-
cia, usada como tempero
na culinária chinesa e em
alimentos industrializa-
dos (como salgadinhos,
bolachas, sopas e macar-
rão instantâneo), faz mal.
Dizem que pode até viciar,
agindo nos neurônios pa-
ra fazer você comer mais
– nas redes sociais, há
diversos vídeos especu-
lando que isso acontece
porque a substância imita
a função do glutamato na-
tural, presente no cérebro.
Mas não é isso o que
a ciência mostra. Há
estudos apontando que
o GMS não é inerte, e
pode ter consequências
Fontes (1) Brain Lesions, Obesity, and Other Disturbances in Mice Treated with Monosodium Glutamate. J Olney, 1969. (2) Monosodium Glutamate Administration to the Newborn
Reduces Reproductive Ability in Female and Male Mice. W Pizzi e J Barnhart, 1977. (3) Monosodium Glutamate in the Diet Does Not Raise Brain Glutamate Concentrations or Disrupt
Brain Functions. J Fernstrom, 2018. (4) Monosodium Glutamate - A Safety Assessment. Food Standards Australia, 2003.
 CLUBE DE REVISTAS
consultora da Ajinomo- O glutamato
glutamato to, a maior fabricante de alimentar,
glutamato monossódico.
natural Mas o que ela está dizen- seja natural
está presente em alimentos
do foi comprovado por ou artificial,
estudos independentes.
como carnes, cogumelos, ervi- Um deles, publicado em
não tem
lhas, tomate e queijos. 2018 pela Universidade relação com
de Pittsburgh, revelou o glutamato
que mesmo após con-
sumir muito glutamato neurotrans-
monossódico (100 mg missor,
por kg de peso corporal, que age
o equivalente a 6 gramas
para uma pessoa de 60 no cérebro.
kg), os níveis da subs-
tância praticamente não substância sobre o corpo
se alteram (3). “A inges- humano – e nunca deram
tão de GMS não produz resultados parecidos com
aumentos apreciáveis na aqueles obtidos em ratos.
concentração de glutama- Em 1995, a FDA publicou
to no sangue", concluíram uma análise (6) de todas
os autores. as pesquisas sobre o te-
Tanto é assim que a ma realizadas até então.
OMS não estipula um Concluiu que, tirando ca-
nível máximo diário para sos de alergia ao GMS, a
o consumo de glutamato substância não fazia mal.
monossódico. Já a Auto- Era segura.
ridade Europeia de Segu- Mas a polêmica per-
rança Alimentar (EFSA), sistiu, e com ela vieram
distúrbios reproduti- mais cautelosa, estabelece mais análises. Na China,
vos em camundongos um: 30 mg por kg de peso cientistas mergulharam
machos e fêmeas. Esses corporal. Isso equivale a 1,8 nos dados de uma gran-
estudos tinham duas grama, ou meia colher de de pesquisa, a Jiangsu
coisas em comum: eles chá, para uma pessoa de 60 Nutrition Study (JIN),
foram publicados nu- kg. Em geral, os alimentos para verificar a saúde de
ma revista importante, contêm quantidades bem pessoas que consumiam
a Science, e seu método pequenas de glutamato altas doses de GMS.
estava errado – ou, no monossódico. O shoyu (4), Após comparar dados
mínimo, levava a con- um dos campeões, tem 0,1 nutricionais de 2002 e
clusões equivocadas. grama de GMS a cada 10 ml de 2007 de um grupo de
Porque injetar glutamato (uma colher de sobremesa). 1,2 mil voluntários, os
monossódico no sangue As sopas industrializadas cientistas notaram uma
é completamente dife- também são ricas nessa associação entre o GMS
rente de ingeri-lo com substância – mesmo assim, e hipertensão arterial,
a comida. após tomar um pratão de principalmente em mu-
“Quando o ingerimos, 300 ml, você terá ingerido lheres e em quem tomava
ele passa pelo estôma- apenas 0,8 grama dela (5). remédios para controlar
go e pelo intestino, que Segundo a Food & Drug essa doença (7). Mas uma
utiliza o glutamato para Administration (equiva- revisão (8) feita em 2013
gerar energia para suas lente americano da Anvi- confrontou esses resul-
próprias células”, diz a sa), as pessoas ingerem em tados com os de outras
bioquímica Hellen Ma- média 0,5 g de glutamato pesquisas, que também
luly, que é doutora em ci- monossódico por dia. Bem incluíram “grupos de
ência dos alimentos pela abaixo, portanto, do nível
Unicamp. Segundo ela, a máximo recomendado.
quantidade de GMS que Ao longo dos anos,
cai na corrente sanguínea muitos estudos testa-
é muito baixa. Maluly é ram os efeitos dessa

Fontes (5) Estimativa do teor de fenilalanina em sopas desidratadas instantâneas. CP Guimarães e outros, 2005. (6) Executive Summary from the Report: Analysis of Adverse
Reactions to Monosodium Glutamate (MSG). D Raiten e outros, 1995. (7) Monosodium glutamate is related to a higher increase in blood pressure over 5 years: findings from the outubro 2023 super 45
Jiangsu Nutrition Study of Chinese adults. Z Shi e outros, 2011. (8) Epidemiological Studies of Monosodium Glutamate and Health. A Wakita e outros, 2013.

Muitos
estudos
procuraram,
e não acha-
ram, efeitos
nocivos do
glutamato.
Mas crianças
pequenas
devem
evitá-lo.
controle", ou seja, pes-
soas que não consumiam
GMS. A conclusão foi
que, na verdade, ele não
afeta a pressão arterial.
O aditivo, que é usado
para realçar o sabor de
alimentos salgados, tem
13,6% de sódio. Bem me-
nos que os 40% presentes
no sal de cozinha – este,
sim, um inimigo decla-
rado da pressão.
Sete anos depois, mais
uma vez, cientistas volta-
ram a revisar os estudos
já feitos sobre o GMS e
seus supostos malefícios.
O trabalho (9) demonstrou
que os problemas de saúde
desenvolvidos por ratos
de laboratório expostos ao
glutamato não podiam ser
transpostos a humanos.
Houve até investigações
sobre supostos efeitos
cognitivos, pois existia
a crença que o GMS pu-
desse ser viciante ou fa-
zer a pessoa comer mais.
Não encontraram nada do
tipo. Pelo contrário, até: em
2018, um estudo publicado
pela Universidade Harvard
observou que o GMS ti-
nha efeito positivo sobre
o controle do apetite 10 .
Os pesquisadores ser-
viram canja de galinha
a 30 mulheres, em dois
dias. No primeiro, a so-
pa veio temperada com
46 super outubro 2023
CLUBE DE REVISTAS
GMS; no outro, não. O glutamato
Após cada uma dessas no corpo dentro
O glutamato monossódico
refeições, as voluntárias
tiveram a atividade cere- é um composto produzido do limite
bral monitorada enquan- industrialmente, através
to escolhiam, numa tela, da fermentação de algas, O glutamato, assim
como outras substân-
alimentos que gostariam beterraba, cana--de-açúcar cias gastronômicas, tem
de comer. Resultado: após ou mandioca. Mas tam- um nível máximo reco-
tomar a sopa com gluta- bém existe o glutamato mendado de ingestão
mato, houve maior ativa- natural, que está presen- diária. Veja qual.
ção do córtex pré-frontal te em alimentos proteicos
esquerdo, uma área do como carnes, cogumelos, Fontes OMS, FDA e EFSA.
cérebro associada ao auto- tomates, ervilhas e queijos
controle, e as voluntárias maturados. Lembra daque-
optaram por pratos mais la estimativa da FDA, de
leves (do que após tomar que cada pessoa consome
a sopa sem GMS). E esse em média 0,5 grama de
efeito moderador foi es- glutamato monossódico
pecialmente intenso nas por dia? A agência tam-
voluntárias mais compul- bém calculou o consumo
sivas – aquelas que, sem de glutamato natural, e
o GMS, selecionavam os ele é exponencialmente
alimentos mais calóricos. maior: 13 gramas diários.
Os cientistas ainda não
sabem explicar os resul-
tados, já que o glutamato
ingerido nos alimentos (e
a quantidade ínfima que
cai na corrente sanguínea)
não é capaz de penetrar sal
no cérebro 11 – pois não
5 g/dia
atravessa a barreira hema-
toencefálica, que envolve
e protege o órgão. Como
ele poderia influir, então,
no apetite? Para os autores
do estudo, uma hipótese é
que a presença de gluta-
mato no sistema digestivo
seja detectada pelo nervo
vago, que vai do intesti-
no até o cérebro. Talvez o adoçante
glutamato faça com que 3 g/dia**
esse nervo envie um sinal
específico (ou mais inten-
so) ao cérebro, brecando a
vontade de comer.
Foi um estudo peque-
no, com 30 pessoas; mas
seus resultados ajudaram
a afastar mais um pou-
co a suposta vilania do
GMS. Inclusive porque
o glutamato também
está presente, de forma
natural e em quantidade
bem maior, em alimentos
comuns, como tomate,
carnes e ervilhas.
Fontes (9) A review of the alleged health hazards of monosodium glutamate. A Zanfirescu e outros, 2019. 10 Neurocognitive effects of umami: association with eating behavior
and food choice. M Alonso-Alonso e outros, 2018. 11 Monosodium Glutamate in the Diet Does Not Raise Brain Glutamate Concentrations or Disrupt Brain Functions. J Fernstrom,
2018. 12 Questions and Answers on Monosodium glutamate (MSG). FDA, 2012.
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realizado com glúten), entre os recém-nascidos.
fez uma reação química Isso acontece porque,
com água e chegou ao sal em algumas das etapas
glutâmico, ou glutamato de desenvolvimento do
monossódico. Esse pro- sistema nervoso cen-
cesso se chama hidróli- tral, o cérebro fica mais
se – e é similar ao que sensível a esse tipo de
acontece no nosso corpo substância”, diz Cristina
quando comemos um ali- Nogueira, bioquímica da
glutamato mento naturalmente rico Universidade Federal de
em glutamato. Santa Maria (UFSM) e au-
1,8 g/dia*
“O ácido do estôma- tora de estudos sobre o
go quebra as proteínas glutamato monossódico
e libera peptídeos e em animais. O curioso é
aminoácidos, incluindo que o leite materno é rico
o glutamato”, explica em glutamato natural –
Maluly. O GMS e o glu- mas numa concentração
tamato natural são qui- segura para as crianças
micamente idênticos 12 . em fase de amamentação.
A diferença é que, ao Em suma: o glutamato
açÚcar comer a versão artificial, monossódico não é ino-
50 g/dia você está ingerindo o glu- fensivo, mas também não
tamato já hidrolisado. é o vilão que dizem por
Em 1909, Ikeda mon- aí. Ele é um ingrediente
tou uma empresa para comum em alimentos
fabricar e vender GMS, industrializados, nada
como tempero. Ele a saudáveis; mas também
batizou de Aji-no-moto está presente em comi-
(“essência do sabor", em das naturais e receitas
japonês). No começo, o sofisticadas (como no
O glutamato, seja natu- processo usava algas. De- restaurante novaiorqui-
ral ou artificial, provoca pois, o glutamato passou no Bonnie's, que está no
uma sensação de gosto a ser extraído do glúten Guia Michelin, e usa GMS
específico: o umami, ter- e, na década de 1950, a em praticamente todos
mo cunhado pelo quími- partir da fermentação de os pratos).
co japonês Kikunae Ikeda cana, mandioca e beterra- O paladar humano é
que significa “saboroso e ba. A primeira fábrica no muito sensível ao sa-
agradável”. Mas a histó- Brasil foi inaugurada em bor umami: nossa lín-
ria do GMS começou um 1977 em Limeira, SP. Atu- gua tem quatro tipos
pouco antes dele. almente, os países asiá- diferentes de receptor
Foi em 1866, quando o ticos importam grande para as moléculas de
químico alemão Karl Rit- parte do glutamato que glutamato. Isso signi-
thausen misturou glúten consomem, e um dos fica que os alimentos
de trigo com ácido sulfú- principais exportadores ricos nele são impor-
rico, e obteve glutamato. é o Brasil. tantes para o organismo.
Em 1907 Ikeda começou O c érebro produ z Não é o fim do mundo
a pesquisar, na Universi- seu próprio glutama- consumir um pouqui-
dade de Tóquio, qual era to – e não deixa entrar nho disso em versão
a substância responsável o que vem de fora, por artificial. Desde que
pelo sabor único das so- meio dos alimentos e do acompanhado de ou-
pas japonesas. Descobriu GMS. Com uma exceção: tros dois temperos, os
que o motivo eram as al- crianças de até dois anos. mais importantes que
gas: elas continham aque- Nelas a barreira hemato- existem: moderação e
le mesmo aminoácido, o encefálica ainda não es- bom senso. S
glutamato, encontrado tá totalmente formada,
anos antes por Ritthau- e não é bom consumir
sen. Ikeda extraiu gluta- glutamato monossódico.
mato puro de algas (assim “Em roedores, a neuroto-
como Ritthausen havia xicidade do GMS é maior

*Valor calculado para uma pessoa de 60 kg, usando a ingestão diária máxima aconselhada pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (30 mg por kg de peso corporal);
**Aspartame. Valor calculado para uma pessoa de 60 kg, usando o nível máximo aconselhado pela FDA (50 mg por kg de peso corporal). outubro 2023 super 47
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Música

60
anos de
Texto Bruno Vaiano Ilustração Raul Aguiar Design Krauss

música
Não se sabe quando ou por que o ser humano
cantou pela primeira vez. Mas há evidências
de que os neandertais, antes de nós, já

mil
tinham flautas. Desde então, nossa espécie
se dedicou a criar uma miríade de objetos
para manipular ondas sonoras. Nesta linha
do tempo, saiba de onde vieram os instru-
mentos que você conhece – e descubra alguns
que você nem imaginava que existiam.

O som é produzido pela vibração

O sistema Hornbostel-Sachs, de 1914, clas-
TAXONOMIA de uma coluna
sifica instrumentosdoem
conforme o mecanismo
de ar no
cinco tipos básicos,
instrumento.Itius,
de produção do
quodiat aruptaspisSe
interior
sapid
molecus

MUSICAL som. Seguimos essasedio.Ellanientur?

classificação (e algumas
subdivisõesaute vendit
dela)
Obit et ut
que ne cones nus
no gráfico.
peditaquia simi, cus dollorerum
1. vent apis aped magnihi ciandit
iossitOsparchil isintur solorest
instrumentos
idiOfOnes
11. Percutidos 12. beliscados 13. Friccionados
2.
alitEbit
omnimos
veresti
estão te pore velliquo
distribuídos
dolessum
na linha do tempo exerum
conforme a evidência
AEROFONES
O som é produzido
MeMbrAnOfOnes arqueológica ou pela vibração de
21. Percutidos 23. Friccionados histórica mais antiga uma coluna de ar
24. mirlitões ou kazoos de sua existência. no interior do ins- Flautas
3. Quando data e trumento. Família
cOrdOfOnes local não constam gigante, inclui de
31. cítaras 321. Alaúdes 322. Harpas claramente da flautas a sanfonas.
4. literatura consultada,
a Flauta de divje
AerOfOnes mencionamos local e
Eslovênia, 58 mil a.C.
421. Flautas 422. com palheta 423. metais
época aproximados.
A abreviação “c.” é do
5. latim circa e significa
eLeTrOfOnes “por volta de”.

48 super outubro 2023

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IDIOFONES
O som é produzido pelo
percutidos

próprio corpo do instru-

mento vibrando. Não
dá para saber qual foi a beliscados
primeira vez que alguém
bateu palmas ou usou sino
pedras para marcar um China, c. 3 mil a.C.
ritmo, mas esses foram mbira
os primeiros idiofones. África, c. 1000 a.C.
Com os dedões da Friccionados
mão, o músico puxa
as barrinhas de metal
para baixo e solta para
MEMBRANOFONES
O som é produzido
vibrá-las.
cuíca
Neolítico, local incerto
por uma membrana
esticada por cima de uma percutidos
armação. O tambor mais
antigo do registro arque-
ológico tem 8 mil anos, e
eles provavelmente são tambor
mais velhos do que isso. Morávia, 8 mil a.C.

harpas

CORDOFONES
Surgiram do uso musical harpas e liras de ur
do arco e flecha na pré- Suméria, c. 2500 a.C.
-história. Utilizando uma cítaras
cabaça oca (ou a boca)
como caixa de ressonân-
cia, nasce o berimbau.
Há três categorias
básicas de instrumentos arco berimbau
de corda: cítaras, harpas África, neolítico África, neolítico
alaÚdes
e alaúdes. Entenda-os
nas próximas páginas.

alaÚde
Suméria, c. 3 mil a.C.

metais
flautas
Os instrumentos mais antigos
A flauta de Divje, encontrada em Nem todo instrumento da classe
conhecidos são tubos de osso
1995, é um osso de 11 cm com quatro dos metais é de metal. O que delimi-
com buracos. Ao tapá-los,
buracos. Se for mesmo um instrumento ta o grupo dos trompetes, trombones
muda-se a nota emitida. Depois,
– alguns arqueólogos questionam –, é a etc. é que o músico precisa vibrar os
surgiram as flautas de pã: uma
prova de que neandertais faziam música. lábios no bocal para tocar, enquanto
coleção de tubos de vários
as flautas são apenas sopradas.
tamanhos, cada um responsável
por emitir uma nota. Um órgão
é como uma flauta de pã gigante.
Cada tecla libera um sopro de
ar para o tubo que gera a nota
correspondente. Já os aerofones
com palheta são outra história,
que você entende na próxima
Flautas de Flauta de pã página. Siga a linha.
com palheta
C. geissenklösterle Turquia, 6 mil a.C.
Alemanha, 42 mil a.C. Surgiu de forma indepen-
São os instrumentos mais dente na América do Sul.
antigos feitos pelo sapiens.
aulos
Grécia, antiguidade

Fontes: consultamos principalmente o livro Instrumentos musicais, 9ª edição, de Luís L. Henrique, a Enciclopédia Britânica
e o site da Biblioteca Sinfônica de Viena, bem como os museus que guardam alguns dos artefatos (como os trompetes de
Tutancâmon ou as liras e harpas de Ur, na Suméria). Para uma lista completa de links, veja a matéria no site da Super.
outubro 2023 super 49
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percutidos

IDIOFONES
beliscados

chocalho TEMPLE BLOCKS pratos ou

Turquia, 2200 a.C. ou muyu címbalos
Essa é só a primeira China, 2000 a.C. berimbau de boca indonésia, 800 a.C.
evidência; provavelmente Jogo de peças de madei-
é mais antigo. Sibéria, 1700 a.C.
ra ocas.
Uma lingueta de metal
vibra e ressoa na boca.

MEMBRA- percurtidos

NOFONES
atabaques
Oeste da África, data incerta
Chegaram ao Brasil com os
escravizados, junto do agogô.
tímpanos caixa
Oriente Médio, c. 1100 Europa, Idade Média
Um pedal muda a tensão Percussão militar, hoje
da pele (e a nota emitida). usada por todo baterista.

cítaras

CORDO saltÉrio dulcimer

cítaras
FONES Oriente Médio,
Antiguidade
Oriente Médio,
Antiguidade Elas não têm braço: as cordas
são esticadas sobre a caixa de
alaÚdes ressonância. Cada corda emite
uma nota só. O saltério era
palhetado ou dedilhado. Já o
dulcimer se toca percutindo as
cordas com martelinhos.

metais

AERO trompete trompa de chiFre animal

FONES Egito, c. 1400 a.C.
Encontradas na tumba
Europa, c. 1200 a.C. órgãos

do faraó Tutancâmon.

Flautas

órgão hidráulico órgão de tubos

Grécia, c. 300 a.C. Roma, c. 200 a.C.

com palheta

sheng chi
China, c. 1100 a.C. China, c. 900 a.C.
O “avô” da sanfona. Mais antiga flauta transver-
sal conhecida, de bambu.

50 super outubro 2023

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marimba xiloFone gongo triÂngulo agogÔ

África, antiguidade Sudeste asiático, antiguidade China, c. 500 europa, c. 1000 oeste da África, data incerta
Um xilofone É provável que xilofones e ma- Sua distribuição geográfica
grande e grave. rimbas tenham origem comum. corresponde à do atabaque.

Alaúdes Teclados
Instrumentos de corda com bra- O cravo é como um saltério com te-
ço – chamados genericamente clas. Cada tecla aciona uma palheta
de alaúdes – existem desde a Su- que belisca a corda correspondente.
méria. Os violões atuais vêm dos Já no clavicórdio as cordas são
ouds islâmicos, que chegaram à percutidas por pecinhas metálicas.
Europa medieval via Espanha,
nas mãos de invasores árabes.

cravo clavicórdio
Europa, c. 1300 Europa, c. 1300
dedilhados

Friccionados

oud alaÚde
oriente médio,
renascentista
entre 800 e 1200
rebab rabeca Europa, c. 1400
oriente médio, europa,
entre 800 e 1200 Idade média

corneto
Europa, c. 1400
Parece flauta, mas
é assoparado como
Palhetas um dos metais.

Existem aerofones em que o

sopro do músico vibra um filete
de madeira finíssimo chamado
palheta. São diferentes dos me-
tais (em que os próprios lábios
do músico vibram) e das flautas
(que são apenas sopradas).

Flauta doce
gaita de Foles de dordrecht
Egito, c. 400 Alemanha, c. 800
Não é criação escocesa. A flauta escolar atual.

outubro 2023 super 51

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percutidos

IDIOFONES
beliscados
glockenspiel ou
metaloFone
europa, Idade média
Friccionados

mirlitões ou kazoos
harmÔnica de vidro violino de prego clavicilindro
EUA, 1716 alemanha, 1740 Alemanha, 1799

MEMBRA- percurtidos

NOFONES mirlitão
França, c. 1600
O clavicilindro e a harmônica de
vidro tinham som similar ao de taças
Uma membrana de cristal. Junto ao violino de pregos,
vibra para distorcer a são símbolos de uma época fascinada
voz humana. com timbres fantasmagóricos.

cítaras

piano
dedilhados
Itália, c. 1700

CORDO alaÚdes

FONES Friccionados
cavaquinho
Portugal, 1700
sitar
Índia, 1700

viola de mão bandolim

ou VIHUELA Itália, c. 1500 o naipe de cordas da orquestra con-
Espanha e Portugal, c. 1500 violino temporânea é feito, essencialmente, de
e Família quatro violinos de tamanhos diferentes:
Itália, c. 1550 violino, viola, violoncelo e contrabaixo.

metais

AERO Flautas
sacabuxa serpentão
FONES França, 1500
O “pai” do trombone.
França, 1590
Ancestral da tuba.
com palheta

em alGuNS INStrumeNtoS, como

clarinete, fagote e oboé, uma só pa-

ELETROFONES
Alguns autores põem aqui
lheta vibra e o músico seleciona a nota
usando buracos ao longo do tubo. Já o
sheng, a gaita e o acordeon têm várias
chalumeau
França, 1630
Fagote e oboÉ
França, c. 1650
clarinete
França, 1698
versões elétricas de instru- palhetas afinadas, uma para cada nota. Ancestral Os sopros de madeira Lula Molusco toca um
mentos acústicos (como a do clarinete. mais graves da orquestra. em Bob Esponja.
guitarra). Outros preferem
mantê-los em suas caracte-
rísticas típicas – e reservar
a definição a instrumentos
que geram som de modo
exclusivamente eletrônico.
Foi o que fizemos aqui.

52 super outubro 2023

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pianos Wurlitzer
e rhodes
tambor de aço celesta eua, c. 1950
São pianos elétricos
Trindade e Tobago, c. 1800 França, 1886 o tambor De aço caribenho é um analógicos em que as
É uma espécie de
panelão de fundo côncavo que se toca kalimba teclas martelam peças
metalofone acopla-
com duas baquetas. Cada região no Inglaterra, 1950 metálicas afinadas para
do a um teclado.
interior da panela é amassada para A versão indus- emitir uma nota. A
emitir uma nota diferente. Permite solos trializada da mbira vibração interfere com
africana. o campo magnético de
muito rápidos. ímãs chamados cap-
tadores, que mandam
um sinal elétrico para o
amplificador. De Marvin
Gaye a Erasmo Carlos,
todo mundo usava.

kazoo
eua, c. 1800
Descendente do bongÔ bateria surdo
mirlitão, fabricado Brasil, 1928
Cuba, c. 1800 eua, c. 1800
em massa. Invenção do carioca Bide do Estácio.

clavinete
Alemanha, 1964
O instrumento em
que Stevie Wonder
gravou Superstition
violão de nylon ukulele guitarra baixo é a versão contem-
Espanha, 1800 havaí, 1879 elÉtrica elÉtrico porânea de um
Nosso violão descende de O cavaquinho português EUA, 1931 EUA, 1936 clavicórdio do século
uma longa linhagem de chegou ao Pacífico com 14 – equipado com
instrumentos ibéricos. imigrantes lusitanos. captadores similares
aos de uma guitarra.
a lINha evolutIva dos violões e gui-
tarras atuais é difícil de traçar: passa por
vários instrumentos de cordas com corpo
em forma de oito, criados em Portugal e
na Espanha, e que dão também na nossa
viola caipira (“filha” das vihuelas).

trompa tuba
Alemanha, 1818 Alemanha, 1835

Flauta de boehm
Alemanha, 1847
o ruSSo lev theremIN criou tanto a pri- A primeira flauta trans-
meira drum machine (as baterias sintetizadas versal com o design usado
do pop oitentista) como o instrumento que acordeon gaita saxoFone hoje em orquestras.
leva seu nome: uma engenhoca de som etéreo Alemanha e Rússia, c. 1820 Alemanha, 1821 Bélgica, 1846
e belo, que o músico toca movendo a mão no
ar – sem encostar. Até os Mutantes usaram.

theremin drum machine órgão hammond sintetizador

Rússia, 1928 Rússia, 1931 EUA, 1935 EUA, 1955

outubro 2023 super 53

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perFil

nikola
Edição Alexandre Versignassi
Tesla Texto Rafael Battaglia

Ilustração Vini Capiotti

Design Caroline Aranha

uma vida Em alta voltagEm

Do rádio à distribuição de energia elétrica, ele registrou mais de
300 patentes – e se tornou um dos criadores do mundo moderno.
Veja como – e entenda suas criações.

54 super outubro 2023

CLUBE DE REVISTAS

e
Em 1898, Nikola Tesla preparou
uma apresentação para a Electrical
Exhibition, uma feira de invenções
em Nova York. Numa piscina, o cien-
tista colocou um barquinho de aço com
1,2 metro de comprimento – e que, de
repente, começou a se mover sozinho.
A plateia, impressionada, perguntou
qual era o segredo por trás da enge-
nhoca. Tesla deu uma resposta vaga.
Disse que havia equipado a miniatura
com um “sistema inteligente”, capaz de
obedecer, inclusive, a comandos de voz.
As pessoas, então, gritaram para que
o barco navegasse para frente, para o
lado, para trás... E assim foi. Não que
o barco estivesse ouvindo qualquer
coisa, como se fosse uma Alexa do
século 19. Tesla mesmo guiava o brin-
quedo, usando um controle remoto.
Mas a mágica era justamente essa. A
invenção, batizada de teleautômato, era
o primeiro sistema de controle remoto
sem fio, via ondas de rádio.
Naquela época, quase ninguém co-
nhecia as propriedades dessas ondas
– apenas um ano antes, em 1897, o ita-
liano Guglielmo Marconi havia feito a
primeira transmissão de rádio em mar
aberto, na Inglaterra. Tesla, assim como
Marconi, foi um dos precursores desse
campo de estudo.
Não só: com quase 300 patentes
registradas, ele foi um dos inventores
mais prolíficos da virada do século 19
para o século 20, e teve um papel de-
cisivo no sistema de transmissão de
energia elétrica via corrente alterna-
da (já falaremos mais sobre isso), que
facilitou a distribuição de eletricidade
em longas distâncias. Ficou famoso e
enriqueceu com o seu trabalho. Mas
uma série de problemas o levaram a
morrer sozinho – e falido.
Vamos entender sua história.

Criança-prodígio
Tesla nasceu em 10 de julho de 1856 em
Smiljan, um pequeno vilarejo sérvio

outubro 2023 super 55


que, na época, fazia parte
do Império Austro-Hún-
garo (hoje, esse território
pertence à Croácia). A
casa da família ficava ao
lado de uma igreja cristã
ortodoxa comandada pe-
lo reverendo Milutin, pai
de Nikola – um homem
culto, que escrevia poe-
sias, artigos e mantinha
uma vasta biblioteca, com
obras em diversos idio-
mas (e que o garoto virava
as noites lendo).
Mas o DNA de inven-
tor veio da mãe, Djouka
– que, mesmo sem ter
frequentado a escola,
construiu uma porção
de engenhocas agrícolas
e domésticas.
Aos 16 anos, Tesla saiu
da casa dos pais para fazer
faculdade de engenharia
elétrica na cidade de Graz,
Áustria. Era um aluno
exemplar – mas mergu-
lhou num vício em jogos
de azar que o fez abando-
nar a faculdade depois de
três anos. Em 1881, arran-
jou emprego na Hungria,
numa companhia telegrá-
fica de Budapeste. Longe
das salas de aula, limpo
das apostas e com a mão
na massa, ele finalmente
deslanchou: aperfeiçoou
os equipamentos da cen-
tral da empresa e foi pro-
movido a eletricista-chefe.
No ano seguinte, mu-
dou-se para Paris – um
colega o indicou para
trabalhar na Continental
Edison, empresa criada
pelo americano Thomas
Edison para comerciali-
zar suas lâmpadas incan-
descentes e o seu sistema
de iluminação elétrica,
que já estava em imple-
mentação nos EUA.
Tesla começou ins-
talando lâmpadas pela
cidade, mas logo de-
monstrou talento para
criar novos motores
56 super outubro 2023
CLUBE DE REVISTAS
elétricos e dínamos (apa-
relhos que usam o movi-
mento de ímãs para gerar
corrente). Ele passou os
dois anos seguintes via-
jando pela Europa para
resolver problemas nas
instalações de Edison.
O processo criativo de
Tesla era peculiar. O cien-
tista era capaz de conce-
ber todas as etapas de
uma invenção na cabeça,
sem esboços nem testes
preliminares. “Quando
tenho uma ideia, co-
meço imediatamente a
construí-la na minha
imaginação”, disse certa
vez. “Mudo a construção,
faço melhorias e opero o
aparelho mentalmente.”
Era uma vez
na América
Em 1884, Tesla foi convi-
dado para trabalhar numa
divisão das empresas de
Edison em Nova York.
Começou construindo ge- o fluxo de elétrons é como um rio: se-
radores e um novo siste- gue apenas uma direção. É o tipo de
ma de iluminação pública corrente das pilhas e baterias, em que
– que nunca saiu do papel: as cargas saem do polo negativo para o
Tesla pediu demissão ape- positivo. Na alternada, o campo elétrico
nas seis meses depois de muda de direção constantemente. Os
conseguir o emprego. elétrons chacoalham de um lado para
O motivo de sua saída o outro. E essa dança é a responsável
nunca ficou totalmente pela transferência de energia.
claro. Acredita-se que te- Para entender melhor a CC e a CA,
nha a ver com um bônus vale revisitar os conceitos básicos da
que ele nunca recebeu: eletricidade. Imagine uma mangueira
US$ 50 mil (US$ 1,6 mi- conectada a uma caixa d’água. Quanto
a mente fér- lhão de hoje) pela cons- mais alta a caixa estiver, maior será a
til de tesla trução de 24 máquinas. A pressão que vai empurrar a água pa-
também se promessa teria sido feita ra baixo. Na torneira, você controla a
manifestava por um gerente – ou pelo vazão: a quantidade de água que flui a
involunta- próprio Edison, numa das cada segundo.
riamente,
na forma de
poucas vezes em que os Em eletricidade, a tensão (em volts)
alucinações dois se encontraram. é a “pressão” que empurra os elétrons.
visuais, que Seja como for, Tesla e Já a corrente (em ampères) é a vazão:
o acom- o patrão divergiam num quanto mais elétrons passarem por
panharam ponto crucial: qual era a um certo ponto (na direção que for),
durante
toda a vida.
melhor forma de trans- maior a corrente. A potência (em
mitir energia elétrica? watts) é a grandeza física que calcula
Edison usava corrente a quantidade de energia de fato. Você
contínua (CC), enquanto obtém a potência pela multiplicação
Nikola era um defensor da tensão X corrente.
corrente alternada (CA). Toda transmissão perde um pouco
Na corrente contínua, de energia por conta da resistência dos
 CLUBE DE REVISTAS
fios. Quanto maior a corrente, mais o fio
esquenta – e a energia elétrica se dissipa
em energia térmica. Mas dá para mini-
mizar isso. Como? Com transformadores
– aparelhos que aumentam a tensão de
uma rede. Isso permite correntes mais
suaves, sem perda de potência.
Os transformadores também fazem o
oposto: diminuir a tensão elétrica, para
que ela não chegue muito alta na sua
casa (e queime tudo).
O problema: transformadores não
funcionam em corrente contínua, e os
métodos que existiam na época para
aumentar a tensão nesse sistema ainda
eram experimentais. Edison precisava
operar em baixa voltagem o tempo todo.
Por conta disso, suas linhas de trans-
missão tinham, no máximo, 2 km de
comprimento. A corrente alternada, fa-
vorita de Tesla, não tinha essa limitação:
os transformadores são parte integrante
desse sistema. Logo, a CA pode sair da
usina com tensões na casa dos milhares
de volts e corrente baixa. Isso permite
fios mais finos, pois a corrente mansa
os esquenta menos, e mais extensos, já
que a tensão pesada garante o empurrão
por longas distâncias. E aí os transfor-
madores entram no jogo para reduzir
a voltagem no last mile, o momento da
distribuição pelas casas.
Edison, porém, nunca apostou na CA
– e detinha todas as patentes da CC. Mas
houve quem apostasse. Um deles foi o
magnata George Westinghouse, inventor
dos freios a ar comprimido para trens. Ele
montou um sistema de transmissão em
corrente alternada. Mas faltava a cereja
do bolo: um motor elétrico eficiente, ca-
paz de operar em CA para ser usado em
fábricas (nesse quesito, Edison, com seus
motores em CC, ainda levava vantagem).
O que nos leva de volta a Tesla. De-
pois de pedir as contas, ele procurou
financiamento para suas invenções. Os
primeiros investidores pularam fora e
edison usava ele ficou sem dinheiro. Precisou fazer
bicos de manutenção elétrica (além de
cavar valas) para pagar as contas. No final
corrente contínua. de 1886, arranjou quem bancasse sua
criação mais importante: um motor de
Tesla, seu ex-fun- indução em corrente alternada. O apa-
relho gerava um campo elétrico numa
bobina – que induzia a criação de um
cionário, defendia a campo magnético rotativo (que, por sua
vez, fazia um rotor girar).
O motor chamou a atenção de
corrente alternada. Westinghouse. O equipamento de Tesla

outubro 2023 super 57

 CLUBE DE REVISTAS
exigia menos manutenção comparado
aos motores disponíveis no mercado
A última obsessão
(que funcionavam por corrente contí-
nua), além de ser facilmente adaptável
às necessidades de várias indústrias.
de Tesla foi tentar
Era a peça que faltava para que o seu
sistema deslanchasse. transmitir energia
A guerra das correntes
Em 1888, Westinghouse licenciou pa-
elétrica sem fio.
tentes que Tesla tinha registrado: do
motor de indução e de alguns trans-
formadores. Além disso, contratou o
cientista como consultor. Ele passou
a receber o equivalente a US$ 65 mil
de hoje por mês, além de royalties
sobre o uso das patentes.
Ameaçado, Edison trabalhou para
descreditar o sistema de Tesla. Fez
pressão no Congresso pela criação de
leis mais rígidas sobre o uso de corrente
alternada – e eletrocutou animais para
mostrar os perigos da alta voltagem em
apresentações amplamente cobertas pe-
la imprensa. O lobby de Edison, diga-se,
acabaria influenciando na criação da
cadeira elétrica.
Westinghouse, porém, seguiu ga-
nhando terreno. Em 1893, ele venceu
Edison na licitação para prover energia
para a Feira Mundial de Chicago, que
recebeu 27 milhões de visitantes ao lon-
go de seis meses. Durante a exposição,
Tesla demonstrou o funcionamento do
motor de indução com um experimento
chamado “Ovo de Colombo”, um campo
magnético que fazia um ovo de metal
rodar sem parar – uma analogia aos
rotores que geravam movimento dentro
de sua invenção.
Naquele mesmo ano, Westinghou-
se firmou um contrato para instalar
geradores nas Cataratas do Niágara.
Tesla ficou responsável pela planta da
hidrelétrica, inaugurada em 1895. Vi-
tória da corrente alternada (hoje, vale
dizer, corrente contínua – de alta tensão
– complementa a alternada nas trans-
missões em longas distâncias).
Westinghouse apostou no cavalo cer-
to, mas anos investindo pesado na pro-
moção de seu sistema elétrico deixaram
a empresa à beira da falência, com uma
dívida de US$ 370 milhões em dinheiro
de hoje. O empresário pediu a Tesla que
diminuísse a fração que recebia pelas
patentes. A negociação terminou com
o inventor vendendo-as para a Wes-
tinghouse por US$ 216 mil – US$ 6

58 super outubro 2023


milhões, grana que usou
para abrir seu laboratório
em Nova York.
O laboratório de
Dexter Tesla
A guerra das correntes
transformou Tesla em
celebridade. Foi capa de
revista, deu palestras em
universidades prestigiadas
e fazia demonstrações pú-
blicas das suas invenções.
Não raro, recebia visitas de
famosos, como o escritor
(e amigo) Mark Twain.
Tesla era um workaho-
lic cheio de manias. Dor-
mia apenas duas horas
por noite, caminhava
16 quilômetros todos os
dias e comia sempre no
mesmo lugar e horário.
Seus relatos sugerem que
ele sofria de transtorno
obsessivo-compulsivo
(TOC)(1). Tinha fobia de
germes, lavava as mãos
excessivamente e usava
exatos 18 guardanapos
por refeição. Além dis-
so, era obcecado pelo
número 3.
CLUBE DE REVISTAS
No laboratório, Tesla atirava para to- progredir na transmissão
dos os lados: estudou raios-X, criou um elétrica. No campo do rá-
protótipo de luz neon e a famosa bobina dio, andava mais devagar
de Tesla – um dispositivo capaz de pro- que Marconi, que come-
duzir altas tensões (na casa de milhões çou a receber mais atenção
de volts) em correntes de alta frequência. (e investimentos). Isso foi
Também se debruçou sobre a co- ceifando suas finanças –
municação sem fio. Em 1895, tinha se e sua mente, que já era
preparado para emitir um sinal de rádio frágil. O sérvio precisou
a 80 km de distância, mas um incêndio hipotecar o laboratório
no laboratório destruiu vários de seus de Wardenclyffe e teve
trabalhos – e atrasou sua pesquisa. um colapso nervoso. Em
Em 1900, ele conseguiu registrar 1915, Tesla perdeu a pro-
patentes de aparelhos de rádio. Mas, priedade; a torre foi demo-
àquela altura, havia ficado para trás na lida dois anos depois.
corrida com Guglielmo Marconi (que Nikola passou as últi-
usou tecnologia de Tesla em seus ex- mas décadas de vida mais
perimentos). Em 1901, o inventor ita- recluso, morando em
liano transmitiu a primeira mensagem hotéis. A saúde mental
de rádio através do Atlântico. piorou, com episódios
Marconi tentou registrar suas pa- de depressão e indícios
tentes nos EUA, mas o governo as de transtorno bipolar.
considerou semelhantes às invenções Tesla morreu aos 86
de Tesla. O italiano seguiu fazendo anos, no dia 7 de janeiro
sucesso (e dinheiro) na Europa. Com o de 1943, em um quarto
tempo, atraiu investidores americanos do Hotel New Yorker,
(dentre eles, Edison), que fizeram lobby onde morou por nove
para que sua empresa se instalasse no anos (a Westinghouse
país. Em 1904, o governo cedeu – e ele Company pagava o seu
conseguiu as patentes (anos mais tarde, aluguel). Nunca casou
Tesla o processaria para tentar reavê-las). nem teve filhos.
Marconi acabaria levando o Nobel Décadas depois de sua
em 1911. Tesla nunca ganhou o prêmio. morte, a comunicação ins-
tantânea virou realidade.
A utopia wireless Só não deu para colocar
No século 20, Tesla ficou obcecado em a eletricidade wireless
transmitir energia elétrica sem fio (al- em prática. O problema:
go que ele já fazia em pequena escala, a tensão é tão alta que
energizando lâmpadas com os raios que as partículas de ar ficam
saíam de sua bobina). Com o patrocínio carregadas – e perde-se
do banqueiro J.P. Morgan (que também muita energia. Por ora, a
havia financiado Edison), o cientista única coisa viável são os
estima-se
construiu a Torre Wardenclyffe em Long que tesla carregadores de celular
Island, nos arredores de Nova York. Era perdeu por indução, que usam
uma estrutura de 57 m com um domo us$ 300 voltagens baixas a uma
de metal de 20 m de diâmetro no topo – milhões distância pequena.
uma versão tamanho-família da bobina. (em valores Talvez não passemos
de hoje) ao
O objetivo era construir uma torre abrir mão muito disso. Mas o fato
em Glasgow, na Escócia, para testar a dos royal- é que a grande criação
passagem de eletricidade e de ondas de ties das pa- de Tesla, o motor de
rádio pelo Atlântico. Tesla imaginava tentes que indução, foi o salto que
um planeta repleto de antenas do ti- vendeu para daria origem a algo que
Westing-
po. Seria possível energizar aparelhos house. está mudando o planeta
via terra ou ar. Qualquer um receberia neste momento: os carros
mensagens, áudios e fotos instantane- elétricos. Nada mais justo
amente, “em dispositivos não muito que o nome do inventor
maiores que um relógio”. Pois é: Tesla sérvio seja também o da
previu os smartphones. montadora que começou
O inventor, porém, não conseguiu essa revolução. S
Fonte: (1) Tesla: a vida e a loucura do gênio que iluminou o mundo, do jornalista Marko Perko e o
psiquiatra Stephen M. Stahl. agradecimentos: Cláudio Furukawa, professor de física da USP. outubro 2023 super 59
 CLUBE DE REVISTAS

oráculo
ILUSTRAÇÕES Paula aGuIar DESIGN crIsTIelle luIse
125
mil pessoas morrem por
ano nos EUA porque tomam
remédios sem respeitar as
1
instruções dos médicos.

do que são
Feitas as
Em geral, gela�ina – sem sabor, é claro.
Pura, em condições normais de pressão e
temperatura, ela é sólida e mantém a forma
de cápsula. Aquecida, se liquefaz. Misturada
com água, forma aquela coisa oscilante que

cápsulas
hospital serve na sobremesa (quanto mais
tempo você ferve, mais água ela perde e
mais firme fica o resultado). Gelatina é feita
de colágeno, uma das proteínas mais impor-
tantes dos mamíferos e de outros animais

de reMédios
de grande porte. Isso significa que as pílulas
não são vegetarianas ou veganas: a proteína
usada geralmente é suína ou bovina. Por
isso, hoje, existem alternativas vegetais,
como cápsulas de hidroxipropil metilce-

eM pÍlula?
Fernando-que-não-informou-sobrenome, Osasco (SP)
lulose (HPMC). Você não deve, porém, sair
trocando cápsulas sem orientação médica.
Existem drogas que devem ser liberadas
ainda no estômago, enquanto outras pre-
cisam ter um invólucro durável o suficiente
para chegar ao intestino.2
 CLUBE DE REVISTAS
EDIÇÃO bruno vaiano

como se confirma que o paciente

está sob efeito da anestesia geral?
@alexgomees, via Instagram

A coisa é engenhosa. O anestesista acompanha todo tipo de indicador fisiológico

(frequência cardíaca, espasmos musculares, resposta a estímulos auditivos etc.) ao
longo do procedimento. Desde 1994, há também um monitoramento chamado
índice bispectral – BIS, na sigla em inglês. Trata-se de uma máquina que acompanha
a atividade elétrica no cérebro do paciente ao longo da cirurgia e atribui uma “nota”
de 0 a 100 ao grau de falta de consciência. O ideal é manter a pessoa abaixo de 60
e acima de 40. Só uma em cada mil pessoas (0,1% do total) permanece parcial-
mente consciente sob efeito da anestesia geral – isso é mais comum em cirurgias
de emergência, quando a correria e a incerteza aumentam o risco de administrar
errado o anestésico. Nessas situações, alguns pacientes se sentem em um sonho;
outros lembram detalhes da cirurgia. Dor, praticamente nunca. 3

O Guia Michelin tem alguma coisa Há tratamento para uma criança

PÁ PUM
Dá para morrer de
tanto tomar café?
Sim. A quantidade letal
é de, em média, 180
mg/L de cafeína no
sangue (30 xícaras).
nÚmero incrível
a ver com a marca de pneus? diagnosticada com psicopatia?
Leonardo Caparroz, estagiário da @jukagoulart, via Instagram
Super
Só dá para diagnosticar o Transtorno de
Sim. O guia gastronômico mais famoso Personalidade Antissocial (TPA) – nome correto
do mundo foi criado em 1900 como uma da psicopatia – a partir dos 18 anos. É que esse é
estratégia de marketing da Michelin um problema multifatorial: depende de genética e
para incentivar o mercado nascente de criação. Não dá para bater o martelo, portanto, até o
automóveis na França – e, consequente- indivíduo alcançar a vida adulta. Quando uma crian-
mente, o de pneus. Naquele ano, havia ça exibe falta de remorso e empatia, baixa tolerância
4 cerca de 3 mil carros circulando no país. à frustração e violência contra pessoas ou animais,
Foi quando os irmãos Édouard e André há tratamentos profiláticos para tentar evitar que
Michelin tiveram a sacada: distribuir o menor de idade desenvolva TPA. O principal deles
gratuitamente um guia de viagens com é a terapia cognitivo-comportamental (TCC), com
informações sobre hotéis, restaurantes, um psicólogo, que pode ou não vir acompanhada

31
Foi o número de es-
postos de gasolina e oficinas mecânicas.
Em 1931 criaram o sistema de estrelas.
Uma significa, de acordo com a Michelin,
que o restaurante “usa ingredientes de
primeira linha e pratos com sabores
de remédios. Só algo entre 25% e 40% das crian-
ças propensas acabam manifestando o problema.
“Em alguns casos, a predisposição é mais forte,
mas o tratamento pode evitar que a criança ou o
adulto não tenha comportamentos tão nocivos”,
trelas Michelin do chef
francês Joël Robuchon marcantes”; duas, que, além disso, “o diz Roberta Salvador, doutora em psicologia pela
(1945 - 2018). talento do chef fica evidente”; três, que PUC-RS. “Mesmo que a empatia esteja prejudicada,
“a cozinha do estabelecimento foi elevada o tratamento ajuda o indivíduo a perceber que há
outro dado a uma forma de arte”. 6 um prejuízo para ele próprio.”
relevante sem
nenhuma ligação

31%
o que significa o “Sé” A palavra “sé” tem a mesma origem e significado de “sede”. Funciona
em Praça da Sé? assim: uma igreja tem uma área de atuação, que é sua paróquia. Um con-
Rafael Battaglia, re- junto de paróquias (que têm o tamanho de bairros) forma uma diocese. A
pórter da Super sede de uma diocese é a sé ou catedral – em referência à cátedra, ou cadeira,
Foi a queda no desma- do bispo que está no comando. A Praça da Sé, portanto, é a praça onde
tamento da Amazônia fica a sede da Igreja em São Paulo. Catedral da Sé é um pleonasmo, já que
no primeiro semestre as palavras são sinônimos. É que o termo “sé” acabou sendo usado para
de 2023 em relação
batizar o bairro paulistano em que fica a catedral (a Sé). Ou seja: ao pé da
a 2022. 5 letra, o nome significa “catedral do bairro da catedral”. 7
reportagem Bruno Vaiano, Caio César Pereira, Leonardo Caparroz, Maria Clara Rossini e Rafael Battaglia. Fontes (1) artigo “Medication adherence: helping patients take their me-
dicines as directed”; (2) Gelita AG; artigo “Are your capsules vegetarian or nonvegetarian: An ethical and scientific justification”; (3) Renato Lucas, anestesiologista; “The incidence of
awareness during anesthesia: a multicenter US study” e “Awareness during anesthesia: how sure can we be that the patient is sleeping indeed?”; (4) Considerando 100 mg de cafeína
por xícara; (5) EBC; (6) Guia Michelin, artigo “How much to dine out at a top Michelin-starred restaurant”, do Chef ‘s Pencil; (7) livro O nobre e antigo bairro da Sé, de Barros Ferreira. outubro 2023 super 61
 CLUBE DE REVISTAS
oráculo

coMo eu Me candidato para ser

voluntário de pesquisa cientÍFica?
@jukagoulart, via Instagram

Para experimentos em áreas como psicologia ou economia – em que qualquer

pessoa saudável é apta a participar –, o jeito é ficar de olho nos sites e redes de
universidades e institutos de pesquisa. Universitários têm mais chances, já que,
frequentemente, os pesquisadores procuram gente no próprio campus, com
cartazes ou e-mails de divulgação disparados para os alunos (este Oráculo, diga-se,
já foi recrutado assim). Já se o objetivo é testar um novo tratamento médico, os
candidatos precisam ser pacientes já diagnosticados com a doença em questão.
Quem não melhora com terapias existentes e quer usar uma experimental tem
ajuda dos médicos para descobrir se há algum ensaio clínico aceitando candidatos.
Por fim, há os testes com vacinas e drogas para problemas mais comuns, como
dores crônicas na cabeça ou lombar, colesterol alto, pressão alta, taquicardia,
covid etc. Para se voluntariar, você preenche uma ficha no site de alguma das
organizações representativas de pesquisa clínica (ORPCs). Esses são os laborató-
rios privados terceirizados que conduzem testes para farmacêuticas e centros de
pesquisa públicos. Ensaios clínicos ainda são raros no Brasil, algo que a Abracro
– associação que congrega as ORPCs – atribui à lentidão dos órgãos regulatórios.

Por que é comum grafar a primeira letra de uma A Terra tem

matéria da Super maior que o corpo do texto?
Luadson Carvalho, de Feira de Santana (BA), via e-mail
fases vista da Lua?
Gustavo Abreu, via
LISTA
As 5 profissões
e-mail
Essa letra gorducha se chama “capitular” e é uma das mais bem pagas
tradições mais antigas do que hoje se chama de design Sim. Existe Terra nova,
do Brasil
gráfico: surgiu na Europa na virada da Antiguidade para crescente, cheia e min-
a Idade Média, por volta do séc. 6. Antes disso, os textos guante. Os dois corpos
gregos e romanos eram uma confusão da perspectiva de celestes estão sempre em Em comparação, no ranking
um leitor atual. Não tinham parágrafos ou pontuação e fases opostas: quando a dos piores salários estão profes-
empregavam pouco ou nenhum espaço entre as palavras. Lua está cheia da nossa sores, astrônomos, assistentes
As capitulares ornamentadas apareceram com o objetivo perspectiva, a Terra está sociais e bibliotecários.2
de marcar o início de capítulos, parágrafos ou subseções nova da perspectiva da Lua,
nos livrões manuscritos medievais. Havia outras maneiras e vice-versa. Uma volta da MÉDICOS
1
de sinalizar o começo de um texto. Por exemplo: o tipó- Lua em torno de si mesma ESPECIALISTAS
grafo pode destacar as primeiras palavras de um capítulo Renda mensal média:
– um dia lunar – dura 29,5 R$ 18.475
usando uma variação da fonte chamada versalete (letras dias terrestres. De modo
com forma de maiúscula e tamanho de minúscula). A que eles têm dias e noites MATEMÁTICOS,
2
Super e outras revistas e livros usam esses recursos até de aproximadamente 15 ATUÁRIOS E
hoje (inclusive, há versaletes no começo desta resposta). dias cada um. Durante o ESTATÍSTICOS
R$ 16.568
dia, porém, o céu perma-
nece preto. É que lá não CLÍNICOS GERAIS
tem atmosfera para de- 3 R$ 11.022
compor a luz solar e deixar
pergunte tudo anil. Só se percebe o
4
GEÓLOGOS

ao oráculo dia por causa do calor e

da luz ofuscante refletida
E GEOFÍSICOS
R$ 10.011
Escreva para
bruno.vaiano@abril.com.br
pelo solo de rocha cinza- ENGENHEIROS
mencionando sua cidade e -clara (as pedras maiores 5
MECÂNICOS
estado – ou mande a pergunta fazem sombras de con- R$ 9.881
via direct no Instagram.
tornos nítidos). 1

62 super outubro 2023

 CLUBE DE REVISTAS

Em 2013, o projeto Pantheon, do MIT, desenvolveu

Qual é a pessoa
SÓ ACREDITO mais famosa de uma métrica para determinar fama, o Índice de
Popularidade Histórica (HPI). Ele considera dados
VENDO todos os tempos? como os números de views, traduções e edições das
páginas da Wikipedia de 70 mil famosos. Abaixo, os
dez homens e mulheres no top 10 do ranking em 2023.
nº de views na Wikipedia

mi mi mi mi i
5,2 3,6 4,3 3,3 5m
nos últimos 6 meses

1 2 3 4 5
MAOMÉ ISAAC NEWTON jesus gengis khan leonardo da vinci
98,95 98,35 96,89 96,66 96,48
HPI

mi mi mi mi mi
3,7 3,2 3,1 1,6 4,6
HOMENS

6 7 8 9 10
ARISTÓTELES platão beethoven marco polo alexandre, o grande
96,24 95,64 95,23 98,95 98,95

m i mi m i mi mi
1,8 4,1 12 37 2,5
MULHERES

1 2 3 4 5
MARIA, MÃE DE JESUS MARIE CURIE elizabeth 2ª cleópatra joana d'arc
91,17 90,71 90,46 89,95 89,59

mi mi mi mi mil
2,5 3,6 2,6 3,9 00
9

6 7 8 9 10
ELIZABETH 1ª Frida kahlo hurrem sultan rainha vitória neFertiti
87,64 86,54 85,98 85,8 85,45

É verdade que antigamente as mulheres urinavam

em cevada ou trigo como um teste de gravidez?
@marciomcpiaui, via Instagram

Sim. Um tratado médico egípcio de 1.350 a.C. recomenda urinar nos

grãos por alguns dias. Se eles brotarem, é porque a moça está grávida.
E o papiro vai além: “Se a cevada brotar, significa que é um menino.
Se o trigo brotar, é menina”. A parte dos sexos é crendice, mas o teste O 1° teste, de 1927, Era preciso sacrifi- Os testes atuais, de
tem um fundo de verdade. Em 1963, pesquisadores de Cambridge consistia em injetar car as ratas para saber farmácia, detectam a
descobriram que 70% dos grãos mergulhados no xixi de mulheres a urina da mulher em o resultado. Por isso, presença da proteína
uma cobaia de rato nos anos 1940, tro- hCG, cuja concentra-
grávidas crescem – algo que não acontece com urina de não gestan-
fêmea e ver se a dose caram-nas por sapos ção no sangue atinge
tes. É provável que isso seja culpa dos elevados níveis do hormônio alta de estrógeno es- fêmeas, que podem o pico entre a 8ª e a 10ª
estrógeno. Mas o mecanismo exato, até hoje, não está desvendado. 3 timulava a ovulação. fazer vários testes. semana de gestação.
Fontes: (1) UCSB ScienceLine; (2) FGV Ibre, 2º semestre de 2023; (3) artigos “The long gestation of the modern home pregnancy test”; “The
thin blue line: the history of the pregnancy test”; “On an ancient Egyptian method of diagnosing pregnancy and determining foetal sex”.
outubro 2023 super 63
 CLUBE DE REVISTAS
oráculo

Por que algumas gemas de Como se mede a

ovo são mais avermelhadas
do que outras?
Lionel Vieira, via e-mail
Alimentação. A cor das
gemas vem dos carotenoides,
uma classe de pigmentos ala-
ranjados. Eles dão cor a vegetais
como cenouras, abóboras e
pimentões. Um terço da gema
é gordura; é nela que os carote-
noides se acumulam. Rações de
milho geram gemas amarelas.
O trigo dá um resultado clari-
nho. E existem até dietas que
geram gemas esbranquiçadas,
como o fubá. Algumas granjas
põem páprica, cenoura ou mi-
lho vermelho na ração, como
corantes. E galinhas livres para
ciscar, com dieta variada, ten-
altura das ondas em
campeonatos de surf?
@fabythurback, via
Instagram
Usam boias coletoras de
dados, os ondógrafos. Eles têm
três acelerômetros embutidos.
Cada um mede o quanto a boia
se deslocou em um dos eixos
do plano cartesiano: para
cima e para baixo, para os
lados, para frente e para trás.
Os ondógrafos são precisos: se
água variar 1 cm, eles captam.
Mas os surfistas também usam
o olhômetro, como no método
de Bascom e no havaiano, que
são jeitos de estimar a altura
da onda a partir da praia, com-
parando-a com outros referen-

qual é o salário do papa?

@jukagoulart, via Instagram
dem a pôr ovos coloridos. Nada
disso, porém, afeta o valor
nutricional do ovo considera-
ciais. Existem até softwares
que estimam a altura a partir
de fotos e vídeos, usando o ta-
velmente. A única variável em manho da prancha como esca-
Nenhum. Em 2001, ainda no papado de João Paulo II, um
jogo, aqui, são os carotenoides, la. Cada atleta e campeonato
porta-voz do Vaticano declarou ao New York Times que o
essenciais para que o nosso têm suas preferências; não
pontífice “não recebe, e nunca recebeu, nenhum salário”. O
corpo produza vitamina A. 2 há consenso. 3
Papa Francisco, por sua vez, é um jesuíta – e o voto de pobreza
é um aspecto central da doutrina da Companhia de Jesus. Ele
não poderia aceitar salário nem que houvesse um. Em um
longo livro-entrevista, em que respondeu a 200 perguntas
de católicos do mundo todo, Jorge Bergoglio disse: “Não
ganho nada, nada de nada! Me dão de comer, e se eu precisar
de alguma coisa, eu peço”. É claro que os papas levam vidas
LOST IN
confortáveis: alimentação, habitações e viagens são todos TRANSLATION Kolay gelsin
(muito bem) pagos pelo Vaticano. Joseph Ratzinger, o Bento Origem Turquia
XVI, foi o primeiro papa a renunciar voluntariamente desde Que seja fácil para você.
1294. Por isso, não havia protocolo para lidar com a situação.
Ele manteve residência no Vaticano e foi sustentado pela Igreja
até sua morte, em 2022. O papa, aliás, recebe doações. Elas Esse é o jeito mais comum de cumprimentar alguém que está
formam uma poupança chamada Óbolo de São Pedro. Mas o em horário de trabalho na Turquia: desejar que o trabalho não
dinheiro não fica com o sumo pontífice, claro. Vai para pessoas dê tanto trabalho assim.
afetadas por desastres naturais e outros necessitados. 1

Chico Buarque Chico Anysio

CONEXÕES O seu primeiro álbum,
Chico Buarque de Hollanda,
Nos anos 1990, o
humorista realizou uma
De Chico
Buarque a foi lançado em 1966 pela RGE “cirurgia” espiritual na
Chico Moedas Discos, gravadora em que faringe – ele tinha um
trabalhou José Bonifácio de problema no órgão, e já
por Rafael Oliveira – o Boni, legendário havia passado por uma
Battaglia diretor da Globo, que ajudou a operação médica. No
criar vários programas de seu Brasil, o maior porta-voz
amigo e parceiro... do espiritismo foi…

64 super outubro 2023


MANUAL Como começar a aprender Língua
por Rafael
Brasileira de Sinais (Libras)?
Battaglia
3. NA PALMA DA MÃO
O alfabeto manual, que tem
um sinal para cada letra do
português, é usado para
s0letrar nomes, lugares e
outras coisas que ainda não
têm sinais específicos. Há
atalhos, como gestos para
sílabas, que encurtam o tra-
balho de soletração. Com
o tempo e a convivência, a
tendência é que seu nome
soletrado seja substituído
por um sinal só seu: seu
batismo em Libras.
para saber Mais
Como qualquer língua, a Libras
tem regionalismos: sinais dife-
rentes para um mesmo objeto,
lugar ou conceito. Até os números
variam de estado para estado.
Chico Xavier
Em 2017, Mauricio de Sousa
publicou um especial da Turma
da Mônica sobre o médium,
que escreveu mais de 450
livros e morreu em 2002. A
obra mistura alguns
ensinamentos do espiritismo
com histórias do Cebolinha,
Cascão, Magali e…
Fontes (1) nota “Vatican: denial on papal salary” no New York Times, livro Des pauvres au pape, du pape au monde; (2) Gedaias Freiria, gerente de
agribusiness da PepsiCo no Brasil; (3) César Barbedo Rocha, professor do Instituto de Oceanografia (IO) da USP. manual Sylvia Lia Grespan Neves,
professora de Libras da USP; Thyago De Souza Santos e Amanda Sis, intérpretes de Libras; agradecemos Heloísa Justo.
CLUBE DE REVISTAS
1. CADA UM NO 2. DE OLHO EM TUDO
SEU QUADRADO Em línguas orais, muda-
A Libras não é uma versão mos o tom de voz quando
do português – possui estamos tristes, com raiva,
estrutura gramatical ao fazer perguntas… Da
própria. As frases não mesma forma, em Libras,
OI
seguem a mesma ordem, APRENDER a comunicação leva em
nem há símbolos equiva- conta não só os sinais em si,
mas também a posição e
lentes a todas as palavras.
direção das mãos (longe ou
Exemplo: usamos três
perto do corpo, para frente
palavras para escrever
ou para trás e por aí vai) e,
“pintar o cabelo”– em claro, as expressões faciais.
Libras, basta um único Dê ênfase aos movimentos,
sinal, próximo à cabeça. eles são sua entonação.
4. PARA AULAS...
...procure professores
que tenham Libras como
primeira língua e turmas
pequenas, para que todos
NÚMERO 2 LETRA V
possam se ver enquanto ESTUDAR
sinalizam. Na internet,
influenciadores surdos
criam conteúdos com
legendas. É uma boa forma
de praticar e conhecer a
comunidade surda. Nós
sugerimos o canal Visurdo
no YouTube e @isflocos e
@leocastilho no Instagram.
Sinais, fortes sinais...
Há mais de 300 línguas de sinais Consulte o dicionário online em geral, você não escolhe como
no mundo. Para facilitar a integração do INES (Instituto Nacional de vai se chamar em Libras. Seu sinal
entre cidadãos de países diferentes, Educação de Surdos). E a USP surge naturalmente quando outros
há um conjunto de regras denomi- possui um curso de Libras online falantes notam um trejeito ou
nadas Sinais Internacionais (SI). – de graça. É só dar play. tique que você tem.
Chico Bento Chico Moedas
Em 2011, Rita Lee apareceu Apelido de Francisco Veiga,
num dos gibis do perso- que aparece nos vídeos do
nagem caipira. Em sua streamer Casimiro. “Chi-
autobiografia, Lee citou co”, música de Luísa em
a cantora Luísa Sonza ao sua homenagem, alcançou
falar da nova geração de o top 30 global do Spotify
artistas brasileiros. Recen- – e traz uma referência
temente, Sonza anunciou o à canção “Folhetim”, do
fim do namoro com… Chico buarque.
outubro 2023 super 65
 CLUBE DE REVISTAS
ÚLTIMA PÁGINA dEsculpa qualquEr coisa E até logo

Os emojis nascem na Unicode Consortium, uma ONG internacional que padroniza esse
“alfabeto”. Todos os anos chegam novos emojis ao teclado, que já soma 3.664 figurinhas.
Veja os mais utilizados ao redor do mundo. Infográfico Caroline Aranha e Maria Clara Rossini

1º 4º 5º 6º

2º
7º 9º 10º 11º

3º
8º
12º 13º 14º

15º

top 5 por categoria

PESSOAS COMIDAS VIAGEM ANIMAIS
EMOÇÕES ATIVIDADES OBJETOS BANDEIRAS SÍMBOLOS
E CORPO E BEBIDAS E LUGARES E NATUREZA

1° 4° 11° 25° 16° 46° 80° 212° 99°

2° 6° 19° 124° 75° 52° 88° 236° 105°

3° 18° 36° 140° 86° 78° 90° 377° 113°

5° 20° 48° 155° 104° 115° 162° 406° 114°

7° 27° 82° 165° 107° 125° 177° 439° 176°

Posição no ranking geral

Comédia e romance Tenha dó É do Brasil

O rosto chorando de rir é o emoji mais comum,
representando 5% de todo o uso. O coração
vermelho fica com a medalha de prata.
O terceiro lugar, curiosamente, representa
a mesma emoção do primeiro.
no ranking de 2019, o rostinho de olhos grandes
que parece implorar por algo estava em 97º lugar.
na lista atual (referente a 2021), ele já aparece
nos top 20. ele também é usado para demonstrar
emoção ou gratidão.
O ranking prova que os brasileiros adotam
largamente os emojis. Temos a segunda bandeira
de país mais usada no mundo, atrás apenas dos
eua. Já a bandeira no topo do ranking é uma “red
flag" – sinal para problemas em relacionamentos.

66 super outubro 2023 Fonte Unicode, 2021