Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ÉTICO-ESTÉTICO-POLÍTICA.
(Leonardo Boff)
Introdução
Na história da psicologia, parece superada a questão se a subjetividade
é constituída individual e/ou socialmente. No entanto, às vezes, ainda nos
deparamos com representações teórico-metodológicas que tratam de restringir
o individual ao biológico, o biológico ao fisiológico e o social ao cultural,
negando todo o histórico-cultural da evolução da espécie humana e do
desenvolvimento ontológico do sujeito.
Para contribuir com a noção de subjetividade como socius, retomamos,
do enfoque histórico-cultural em psicologia, a parte menos explorada pelos
seguidores de L. S. Vygotsky (1896 - 1934), qual seja: a constituição da
subjetividade. Para Vygotsky todo o social é histórico e todo o psicológico é
social e histórico; esta tese parte da concepção materialista histórico-dialética
de que nós fazemos culturalmente a historia e, ao mesmo tempo, somos feitos
pela historia dada as condições sociais, econômicas e políticas em que nos
tocam viver.
Desde esse enfoque, concebemos a formação e desenvolvimento das
funções psicológicas como processos complexos condicionados pela mediação
do outro aprendentes e ensinantes e das vivências. As vivências são as
experiências afetivo-cognitivas marcadas pela emoção e a situação social de
desenvolvimento. Esta, nós a definimos como a relação singular e única que
cada ser estabelece com seu entorno e consigo mesmo em um dado contexto
e em cada período de idade e fase da vida (VYGOTSKY citado por FÉLIX-
SILVA, 2005). Ontologicamente, a mediação é feita estabelecendo-se vínculos
de uns com os outros, por meio de artefatos culturais e dos processos
psicológicos mais complexos, tais como a unidade do sistema de consciência:
percepção, memória, emoções; significados, representações e significações
inconscientes, em outras palavras: produção de sentidos polifônicos.
Como exemplo, pesemos com Vygotsky a questão do gesto indicador
como a primeira inscrição da criança. Este gesto de escrita no ar é um gesto
indicador para o outro, pois, a primeira vez que a criança aponta para um
objeto, quem atribui sentido a esse gesto é o outro, este sentido dado ao
significante pode marcar o corpo da criança em dada situação social de
desenvolvimento; de maneira que a criança pode começar a balbuciar gestos
de fala, tentado imitar o outro, depois imitando e repetindo a fala do outro par
a
nomear os signos lingüísticos; até que, mediada pelas vivências experiências
afetivas ela aprenda a falar e/ou a saber caso dos surdos que o gesto
indicador é um gesto indicador também para si (Vygotsky, citado por FÉLIX-
SILVA, 2005)
A constituição da subjetividade como socius (DELEUZE e GUATARRI,
1995) vai adquirindo sentidos na convivência e coexistência de uns com os
outros, pela mediação da experiência de vida, das vivências e dos vínculos
afetivo-cognitivos estabelecidos por meio de artefatos culturais: linguagem,
escrita, cálculo, trabalho, tecnologias do conhecimento e da informação,
multimídias, arte e instituições.
2 http://www.paralerepensar.com.br/coracoralina.htm#TODAS_AS_VIDAS
3 http://letras.terra.com.br/elza-soares/476981/
4 http://www.eurooscar.com/poesoutros/mario_quintana1.htm
5 CARPINEJAR, Terceira sede: elegias - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
O termo devir é relativo à economia desejante:
Assim, um indivíduo, atropologicamente etiquetado de
masculino, pode estar atravessado de múltiplos devires,
em aparência, contraditórios: devir feminino coexistindo
com um devir criança, um devir animal, um devir invisível
etc. (GUATTARI, 1995, p. 202).
Bibliografia:
BARROS, Regina Benevides de, Entrada grupal: uma escolha ético-estético-
política (317 - In: Grupo: a afirmação de um simulacro. Porto Alegre: Sulina
Editora da UFRGS, 2007.
SANT ANNA, Afonso Romano de. Maio de 68. In: Correio brasiliense
caderno C, p. 8 Brasília, domingo, 6 de abril de 2008. Disponível em
<cultura@correioweb.com.br>, acessado em abril de 2008.