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Parte integrante da revista nº 55 - Ano XV - Jun/Jul/Ago - 2011

Propriedade Privada e Responsabilidade


em Política Ambiental
José L. Carvalho
Professor Titular de Economia da Universidade Santa Úrsula e Vice-Presidente do Instituto Liberal.

Tudo que é raro é caro. A crescente preocupação com o ambiente, que emergiu a partir de meados dos
anos 1970, resulta da percepção de que um ambiente agradável e saudável está se tornando cada vez
mais raro. Apesar do fato de os economistas tratarem esse assunto de forma bastante abrangente por
mais de dois séculos, burocratas e românticos, por estarem organizados em grupos políticos, têm dominado
a cena. A mídia tem sido utilizada de maneira tão intensa que tem tornado difícil identificar se as
preocupações ambientais de hoje decorrem de uma autêntica percepção dos problemas ou resultam de
uma campanha publicitária desenvolvida por grupos de interesse em busca de ganhos (rent seeking). Isso
não significa que as pessoas são condicionadas em suas ações aos meios de comunicação e ao marketing.
Pessoas autônomas tomam decisões sujeitas às informações que elas têm. Como todos sabem, informações
têm um custo, bem como a verificação de sua qualidade. Com relação a bens e serviços, a qualidade da
informação que cada um de nós tem facilmente pode ser verificada pela aquisição do bem ou serviço. O
problema com as informações que têm sido divulgadas sobre o meio ambiente é que grupos querem nos
fazer crer que se não agirmos rápido, as perdas que poderíamos ter jamais seriam recuperadas.
Diferentemente da comercialização de mercadorias, a informação ambiental é de difícil compreensão,
apresenta argumentos pseudocientíficos e fatos alarmantes para impressionar as pessoas e tornar difícil a
verificação de sua qualidade.
Não estamos dizendo que não há problemas ambientais. Eles existem, e a ciência econômica tem muito
a dizer sobre eles. O que podemos destacar é o fato de que grupos estão a investir para fazer os problemas
parecem piores do que eles são, de modo a apadrinhar algumas soluções específicas, ditas urgentes, a
serem impostas pelo governo. Nesse particular, a burocracia torna-se um forte aliado. Os políticos são
atraídos pelo fato de questões ambientais estarem frequentemente nos meios de comunicação e pelo
crescente interesse que os eleitores têm demonstrado sobre o assunto. Uma vez que a solução do problema
ambiental há de vir do governo, o legislativo desempenha um papel importante. Leis e regulamentos são
exigidos para resolver os problemas ambientais. Para promover as soluções produzidas pela regulamentação,
agências governamentais têm que ser criadas, compensando, dessa forma, a burocracia pela perda de
poder decorrente das privatizações.
Agências de regulamentação ambiental estão, em toda parte, propondo todos os tipos de instrumentos
de controle de poluição, que vão desde o uso tradicional de impostos e subsídios à permissão para poluir
e controles diretos. A atividade governamental que está crescendo mais rápido, em todos os países, é a
regulamentação. A identificação dos problemas ambientais com as chamadas falhas de mercado dá a
impressão de que só a intervenção governamental pode resolver tais problemas e, principalmente, pela
regulamentação. Este documento destina-se a discutir como uma sociedade de homens livres, politicamente
organizada como uma democracia e sob o estado de direito pode gerenciar seus problemas ambientais,
levando em consideração o importante papel da caracterização e, proteção dos direitos de propriedade.
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INTRODUÇÃO teresse, o homem é forçado a agir criticar a economia de mercado:
economicamente. O balancea- o mercado livre iria destruir-se de-
eres vivos e as forças naturais mento de custos e benefícios, no vido ao desenvolvimento de uma
S estão, permanentemente, sentido mais amplo, é uma preo- competição predatória. Os críticos
transformando o ambiente. A ação cupação permanente no processo do mercado acabaram defen-
humana não afeta somente o am- decisório que o homem enfrenta dendo a intervenção governa-
biente físico. Ela tem transforma- continuamente. Uma questão im- mental, tanto para a produção de
do ambientes sociais e culturais portante se refere à avaliação alguns bens ditos essenciais, de
com consequências muito mais dos custos e dos benefícios. Se a modo a proteger o consumidor de
marcantes do que as transforma- decisão de um indivíduo gerar uma uma possível exploração, quanto
ções que ela tem produzido no ação que não produza nenhum para a regulação de atividades
ambiente físico. A sociedade mo- efeito sobre terceiros, ninguém econômicas, de modo a evitar a
derna é o resultado de séculos de concentração de poder econô-
transformações que surgiram com mico e para proteger os interesses
a descoberta de que o homem é dos produtores locais da competi-
“Que as atividades
livre por natureza. Essa descober- ção estrangeira. As evidências
ta foi possível por meio de uma econômicas empíricas são contrárias a essas
enorme mudança na configuração afetam o ambiente crenças. Se a organização institu-
cultural que resultou de uma nova ninguém duvida, cional é bem estabelecida, quanto
interpretação do Gênesis: de um mais livre o mercado maior é o
homem contemplativo para um
mas que o meio nível de prosperidade atingido
homem criativo. Criado imagem e ambiente e sua pela sociedade.
semelhança de Deus, o homem ti- qualidade afetam
nha de ser livre para cumprir seu
as atividades ECONOMIA E O AMBIENTE
destino como criador. Assim nas-
ceu o homem livre moderno, que econômicas, Que as atividades econômicas
teve de reconstruir o funcionamen- poucas pessoas afetam o ambiente ninguém du-
to de uma organização social que levam esse vida, mas que o meio ambiente e
sufocava sua criatividade. A essên- sua qualidade afetam as ativida-
cia da sociedade moderna, uma
fato em des econômicas, poucas pessoas
sociedade de indivíduos livres e au- consideração.” levam esse fato em consideração.
tônomos, reside em uma ordem so- É relativamente simples identificar
cial (um contrato social) que pre- os recursos naturais de uma re-
serva a individualidade e a liber- deve se preocupar com ela. O pro- gião, tais como depósitos minerais,
dade com responsabilidade. blema surge quando este não é o rios ou florestas naturais, com as
A prosperidade, em todos os caso. Uma função importante da atividades econômicas desenvolvi-
sentidos, vem se ampliando de ge- lei é evitar conflitos entre os indiví- das na região (mineração, rafting,
ração em geração. De modo a pro- duos. Uma dificuldade surgirá se exploração de madeira). Mas, as
mover e manter esse progresso o a lei, nesse momento, não puder transformações no ambiente tam-
homem vem lidando com proble- resolver o problema gerado pela bém produzem mudanças nas ati-
mas muito complicados. Um pro- ação do indivíduo. Várias pessoas, vidades econômicas. Com o au-
blema perene é o da escassez, ou incluindo pessoas influentes, acre- mento da poluição do ar, mora-
seja, os recursos produtivos, o co- ditam que, nessas circunstâncias, dores da área afetada estarão su-
nhecimento acumulado e a o homem moderno livre irá des- jeitos, com mais frequência e de
tecnologia nunca permitirão ao truir o ambiente. forma mais intensa, a processos
homem satisfazer todos os seus Este é o mesmo tipo de argu- alérgicos e doenças respiratórias.
desejos. Assim, no seu próprio in- mento usado no passado para A demanda por médicos espe-

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cializados nessas doenças aumen- definição dos direitos de proprie- do que poderíamos imaginar. In-
tará, provocando um aumento na dade ou de elevados custos para conveniências de vizinhos e polui-
remuneração desses profissionais sua garantia e proteção. Por con- ção são exemplos de tais bens, e
de modo a atrair novos médicos siderarmos questões relacionadas estaremos particularmente interes-
para a região. Parece que a polui- ao meio ambiente, nosso interes- sados neles.
ção é uma coisa boa: se principal se concentrará em si- Os recursos naturais vêm ocu-
a. ela resulta da venda de bens tuações que implicam exter- pando diferentes status ao longo
a preços mais baixos, pois evitar nalidades 1 . Essas situações do tempo. Na história da huma-
poluição aumentaria os custos de enfatizam o papel dos direitos de nidade, terra, água e ar foram por
produção; propriedade e dos custos de tran- muito tempo bens livres. Como
b. confrontado com os efeitos sação na busca por soluções que eles se tornaram escassos, seu pre-
negativos da poluição, o homem venham a promover o maior bem- ço passou a ser positivo. Eles tam-
aumenta a produção de bens e estar possível. bém se tornaram bens com preço
serviços para reduzir as emissões Os bens podem ser classifica- positivo devido às regulamenta-
de poluentes, bem como para tra- dos segundo seu preço de merca- ções governamentais. A escassez
tar seus efeitos negativos sobre a do, o qual pode ser zero (P = 0), de terra gerou uma inovação so-
saúde das pessoas. positivo (P > 0) ou negativo (P < cial, o reconhecimento dos direi-
Longe de implicar que a polui- 0). Bens adquiridos a um preço tos de propriedade privada sobre
ção é uma coisa boa, essas consi- zero são ditos bens livres, isto é, a terra, os quais, além de promo-
derações chamam nossa atenção as pessoas não precisam abrir verem a eficiência na sua utiliza-
para o fato de que a poluição re- mão de alguma outra coisa para ção, tiveram um impacto determi-
sulta de escolha e, por isso, temos ter este bem. Bens livres estão em nante sobre a prosperidade da so-
que saber do que devemos abrir extinção. Em geral, lidamos com ciedade2. Entretanto, ao longo dos
mão para evitar a poluição ou ate- produtos que têm um preço posi- anos e em várias sociedades a
nuar os seus efeitos negativos tivo, ou seja, temos de abrir mão apropriação de terras pelo gover-
sobre os seres humanos e outros de alguma coisa para ter o bem. no ou a regulamentação de seu
seres vivos. Bens com preços positivos são uso tem promovido o mau uso
Em uma sociedade de homens aqueles que nós temos que pagar da terra, o qual tem provocado
livres, para enfrentar o problema para tê-los. Por último, os produ- sua degradação, com impactos
da escassez as atividades econô- tos de preço negativo são aqueles negativos sobre o ambiente e a
micas são organizadas em um sis- que nós pagamos para não tê-los. produção.
tema de livre mercado. Preservan- Vai-se ao dentista para manter a Durante a época colonial todo
do a liberdade econômica sob o boa saúde ou para evitar dor de território brasileiro era proprieda-
estado de direito, o funcionamen- dente. Nós pagamos ao dentista de do rei de Portugal. Para explo-
to do sistema de mercado, sob al- para não ter dor. O serviço de den- rar a terra a coroa portuguesa
gumas condições específicas, irá tista é um bem de preço positivo, adotou vários procedimentos de
produzir, dada a disponibilidade de mas a dor de dente é um bem de concessão. Todos esses procedi-
recursos produtivos e a tecnologia, preço negativo. Congestionamen- mentos preservaram, como pro-
o bem-estar mais alto possível para to de tráfego também é bem de priedade da coroa, todos os
as pessoas. Uma condição sine preço negativo. Como podemos depósitos de ouro ou prata e toda
qua non para a existência de um pagar para não tê-lo? Há várias a madeira que pudesse ser extraí-
sistema de mercado é a adoção, maneiras, mas sob o controle in- da de florestas. A floresta brasilei-
pela sociedade, de um conjunto de dividual há pelo menos uma, a de ra ao longo da costa, Mata Atlân-
direitos de propriedade legalmen- comutar, a um custo, fora das ho- tica, foi quase completamente
te definidos e protegidos. A maio- ras de rush. Se olharmos ao nos- destruída sob o comando da co-
ria das chamadas falhas de mer- so redor vamos descobrir muito roa. Para reconstruir Lisboa, com-
cado resulta de impropriedades na mais bens com preços negativos pletamente destruída por um

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terremoto, madeira foi cortada da decorrência da poluição, situações ma eles têm de parar esse fluxo, a
floresta do litoral brasileiro, a um que ocorrem quando esse recurso um custo privado, por meio de re-
ritmo muito intenso e sem nenhu- é de propriedade comum.4 gistros. Em quarto lugar, os cam-
ma preocupação com a conserva- Apesar de que várias socieda- poneses têm poucas informações
ção da floresta, e transportada des tenham tido êxito na gerência sobre o efeito do excesso de água
para Portugal. Mais tarde, para de seus recursos hídricos sob o sobre a qualidade da terra.
promover a ocupação territorial, a regime de direitos de propriedade Ar é ainda hoje o exemplo mais
coroa favorecia as atividades agrí- privada, na maior parte das socie- intuitivo de um bem livre, embora
colas, promovendo a destruição dades o gerenciamento do abas- isso não seja estritamente correto.
da floresta sem limitações. O tecimento de água é feito pelo go- O ar que respiramos neste mo-
resultado surgiu claramente no Rio verno. No Brasil, a água é uma mento não nos custa nada. No
de Janeiro em meados do século propriedade do Estado (União, es- entanto, se vivemos em uma cida-
XIX. O desmatamento das nascen- tado ou município) e, portanto, é de grande e queremos ar não po-
tes de água gerou uma redução um bem de propriedade comum, luído teremos que gastar tempo e
substancial no fluxo de água dos sujeita a má utilização, excesso de recursos para nos deslocarmos
rios utilizados para abastecer a ci- exploração e poluição. Em várias para um lugar onde o ar seja mais
dade. A solução foi reflorestar a sociedades o governo tem poder puro. Além disso, se quisermos
área que hoje é o Parque Nacio- de monopólio na distribuição de usar o ar para outros fins vamos
nal da Floresta da Tijuca. A histó- água, bem como na gestão do sis- descobrir que os governos já se
ria brasileira do controle da terra tema de esgoto. Em geral isso pro- apropriaram dele. Isso é geral-
e da regulamentação de sua utili- duz desperdícios. mente verdadeiro, na maioria das
zação é rica de incentivos para a O Egito fornece um exemplo sociedades, para o transporte aé-
degradação da terra. Das favelas dramático de quão desastrosa reo e para serviços de radiodifu-
do Rio de Janeiro à floresta ama- pode ser a ausência de proprieda- são e comunicação. Alguém po-
zônica o governo promoveu a má de privada, combinada com inter- deria argumentar que é preciso al-
utilização de terras.3 venção governamental. Como to- guma ordem no uso do ar para
Água foi um bem livre por um dos sabem, o Egito está sujeito a evitar a exploração com conse-
longo período na história huma- um grave problema de escassez de quências desastrosas (especial-
na. Na medida em que as socie- água. Sua agricultura depende de mente com relação a transporte
dades reconheceram sua escassez, sistemas de irrigação geridos pelo aéreo). É verdade que algumas re-
restrições foram sendo impostas governo, que fornece água para os gras são necessárias para usar um
ao consumo de água. Quanto camponeses gratuitamente. Água bem de propriedade comum. Uma
maior a importância da água para é fornecida continuamente, por lei que discipline as atividades de
uma sociedade, mais fortes serão meio de dutos, irrigando em exces- transporte aéreo, serviços de ra-
as restrições impostas sobre o seu so a terra, lavando-a de seus nu- diodifusão e similares não neces-
uso. Se perguntarmos a alguém trientes. Esse excesso de abasteci- sariamente tem que reproduzir o
qual é o melhor whisky, a resposta mento de água tem provocado a modelo comum existente de inter-
será “aquele produzido na Escó- desertificação.5 Por que os cam- venção governamental, com
cia”. Como água é um insumo de- poneses não tomam medidas para excesso de burocracia e poder
terminante na qualidade de whisky, evitar esse excesso de água em discricionário.6
a sociedade escocesa caracteri- suas terras? Primeiro, porque eles Terra é o único dos recursos
zou, com sabedoria, já no século não possuem a terra. Segundo, a naturais sujeito a menores graus
XVIII, direitos de propriedade pri- água é para eles um bem livre, e de mau uso, degradação e polui-
vada para água, de modo a ga- eles não pagam pela água utiliza- ção. Em geral, sua má utilização
rantir que esse recurso escasso da ou não. Em terceiro lugar, como resulta de regulamentações, como
não seria mal utilizado, seja pelo o fornecimento de água flui conti- no caso das favelas do Rio de Ja-
excesso de exploração seja em nuamente, para prevenir o proble- neiro, enquanto sua degradação

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ocorre em terras públicas, como no
programa governamental para fi-
xar pessoas ao longo da rodovia
Trans-Amazônica. A razão é que
terra, já há bastante tempo, está
sujeita à proteção dos direitos de
propriedade privada. A ausência
de direitos de propriedade privada
para bens ambientais é a origem
dos problemas associados ao meio
ambiente enfrentados pelas socie-
dades. À medida que o ambiente
se torna degradado, as pessoas
começam a atribuir um valor mais
elevado a um ambiente mais sau-
dável e agradável. Isso resulta do
bem conhecido postulado da Eco-
nomia de que as pessoas valorizam Algumas ONGs se mobilizam para promover a proteção ao meio ambiente.
mais o que têm relativamente me-
nos, a preços de positivos. Desse cesso de exploração e poluição. palmente o causado por ativida-
modo, o processo de degradação Isso, na verdade, tem acontecido. des econômicas devido à ausên-
ambiental seria interrompido e A atividade humana tem afeta- cia de direitos de propriedade pri-
eventualmente revertido. Infeliz- do o ambiente tanto para melhorá- vada, torna-se um problema polí-
mente, a racionalidade das lo quanto para degradá-lo. À me- tico. Na arena política é comum o
pessoas, no contexto de utilização dida que a qualidade do ambiente uso de argumentos demagógicos,
de um recurso de propriedade co- se deteriora a ponto do indivíduo bem como informações distorcidas
mum, impedirá esse ajustamento comum perceber os custos impli- para explorar a simpatia das pes-
devido ao problema do carona cados por essa deterioração, o soas para com as gerações futu-
(free rider). comportamento do carona blo- ras em relação ao ambiente que
Nas condições acima, cada in- queia o desenvolvimento de uma elas herdarão de nós.
divíduo em uma sociedade desen- solução consensual. Em reação, As preocupações com as futu-
volverá os seguintes argumentos pessoas honestamente preocupa- ras gerações fizeram emergir uma
alternativos, com relação ao recur- das ou grupos de interesse, por questão ética que foi transforma-
so de propriedade comum, para vezes organizados em ONGs, se da em uma questão de direitos. A
justificar sua ação: mobilizam para promover a prote- questão ética evoluiu para o con-
a. se as pessoas estão agindo ção do ambiente. Campanhas ceito de desenvolvimento sustentá-
para conservar o recurso, eu pos- educativas, para conscientizar as vel, enquanto os direitos das futu-
so tomá-lo, ou usá-lo, tanto quan- pessoas dos riscos a que a vida na ras gerações provaram ser um
to eu deseje sem nenhum efeito terra está sujeita, tornam-se na beco sem saída7. Desenvolvimento
negativo sobre o ambiente ou, realidade propaganda – frequen- sustentável é uma expressão que
b. se as pessoas não estão temente com base em informações tem sido usada para todos os pro-
preocupadas em conservar o re- tendenciosas e fatos pseudocientí- pósitos e, por isso, tem sido muito
curso, devo tomá-lo, ou usá-lo, ficos – e um meio para promover, difícil identificar seu significado.
tanto quanto eu possa, enquanto pelo intensivo uso dos meios de No entanto, é fácil identificar os
ele está disponível. comunicação, grupos de interesse, fins aos quais esse conceito está
Como resultado, ocorrerá de- econômico ou político. O proble- servindo. Vamos considerar pri-
gradação ambiental devido ao ex- ma de saúde do ambiente, princi- meiro o conceito em si.

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Aparentemente, o desenvolvi- Como podemos inferir desses tautológicas. O elemento-chave é
mento sustentável é um tipo espe- dois conceitos, não é possível a sustentabilidade. Isso implica que
cial de desenvolvimento. Deixe-nos uma sociedade experimentar de- as gerações futuras deverão ter à
tomar de dois autores conhecidos senvolvimento sem liberdade de sua disposição um estoque de
o conceito de desenvolvimento: criar, inovar e produzir de modo a recursos produtivos não inferior ao
Schumpeter (1951): aumentar as liberdades dos cida- que a presente geração controla,
… Development in our sense dãos. Assim, não faz sentido qua- ou, alternativamente, o uso dos
is then defined by the carrying out lificar desenvolvimento com a pa- recursos hoje não deve diminuir a
of new combinations. lavra sustentável, uma vez que o renda real no futuro.
This concept covers the desenvolvimento não existirá se Se aceitarmos essa noção de
following cases: (1) the intro- não for sustentável. Mas pode-se sustentabilidade, precisaremos de
duction of a new good - … - or of argumentar que desenvolvimento um arranjo institucional social
a new quality of a good. (2) The sustentável reflete as preocupações para termos certeza de que a ge-
introduction of a new method of éticas relativas às gerações futuras. ração atual esteja agindo em con-
production, … (3) The opening of Uma vez que o desenvolvimento é formidade com as exigências de
a new market, … (4) The conquest um processo de transformação desenvolvimento sustentável. Isso
of a new source of supply of raw com impacto sobre eventos futu- implicará uma intervenção nas
material … (5) The carrying out ros, não há nenhuma maneira de decisões das pessoas hoje para a
of a new organization of any considerar desenvolvimento sem promoção de benefícios futuros
industry, … [p. 66]. considerar o futuro. Já que a pre- para as pessoas que estão por
The fundamental notion ferência temporal da atual geração nascer. A sugestão é que o gover-
that the essence of economic é importante para definir como o no seria responsável por orientar
development consist in a different futuro deve ser descontado, a geração atual por meio desse
employment of existing services of alguém poderia argumentar que conceito de desenvolvimento sus-
labor and land leads us to the considerações sobre o futuro, com tentável, usando seu poder regu-
statement that the carrying out base na preferência temporal da latório ou produzindo incentivos
new combinations takes place geração atual, necessariamente para as pessoas agirem conforme
through the withdrawal of services não levam em conta os interesses exigido para que as metas defini-
of labor and land from their das gerações futuras. das para a futura geração sejam
previous employments. [p.95]. Pearce-Markandya-Barbier atingidas.
Sen (1999): (1989) têm um anexo onde eles Esta é uma forma ímpar de
It is mainly an attempt to apresentam uma galeria de defini- olhar para a geração atual. Nós
see development as a process of ções para desenvolvimento susten- aceitamos que a atual geração
expanding the real freedoms that tável. De acordo com os autores, seja responsável por gerar a pró-
people enjoy. In this approach, de uma maneira ou de outra as xima geração, incluindo seu tama-
expansion of freedom is viewed as definições gravitam em torno de nho. Também aceitamos que cada
both (1) the primary end and (2) três conceitos-chave: ambiente indivíduo da geração atual seja
the principal means of deve- (natural e cultural), a futurologia responsável por seus atos. Assim,
lopment. They can be called (considera de 5 a 10 anos à fren- aceitamos que cada pessoa possa
respectively the “constitutive te) e a equidade (intergeracional). decidir consumir mais e investir
role” and the instrumental role” As definições são bastante diferen- menos, com um impacto na dis-
of freedom in development. … tes dos conceitos de desenvolvi- ponibilidade de recursos para a
Development, in this view, is a mento reproduzidos acima. Elas geração futura. Também aceita-
process of expanding human são, na verdade, uma lista de co- mos que a geração atual, por meio
freedoms, and the assessment of mandos que a sociedade deve se- do mercado, determine as taxas
development has to be informed guir para promover a susten- de juros atuais e futuras e os
by this consideration. [p.36]. tabilidade, ou são proposições preços, com impactos signifi-

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cativos sobre os recursos e a ri- tempo os governos dos países sub- regulamentação ambiental: a de
queza no futuro. Por que essa mes- desenvolvidos (como então eram comandos e controles e a de in-
ma geração não é confiável na chamados) deveriam planejar as centivos econômicos.
tomada de decisões sobre o uso atividades econômicas. O governo, A corrente de comando e con-
de bens ambientais? A imposição por meio de estímulos econômicos, trole dá ênfase a controles rigoro-
de restrições ao comportamento como impostos e subsídios, deve- sos com base em parâmetros téc-
de indivíduos pode garantir a ria orientar a alocação dos recur- nicos, que têm de ser observados
sustentabilidade para as gerações sos produtivos. O governo também por todos os agentes econômicos
futuras, mas ao fazê-lo reduzire- conduziria o processo, e deveria, em todas as circunstâncias. A pos-
mos a liberdade e o bem-estar da assumir as responsabilidades de tura aqui é semelhante à adotada
geração presente, sem enfrentar- investimentos em infraestrutura. por industrialistas que defendiam
mos a essência dos problemas Como, pela sua inoperância, o proteção industrial para promover
ambientais. sistema tributário era incapaz de a industrialização no mercado in-
A característica de propriedade gerar os necessários recursos, a terno dos países subdesenvolvi-
comum é a única razão para ter- inflação foi sugerida (e largamen- dos. O grau de industrialização no
mos preocupação especial com o te usada) como uma forma de pro- mercado interno era, e ainda o é,
ambiente. Desconsiderar essa ca- duzir poupança forçada para fi- medido por coeficientes de nacio-
racterística que distingue os recur- nanciar os investimentos necessá- nalização almejados por agências
sos ambientais é fugir do proble- rios. Os bons resultados aparece- governamentais de desenvolvi-
ma. De fato, poluição e exaustão ram no curto prazo, mas com o mento para cada indústria 9. A
assombram os recursos ambien- passar do tempo a artificialidade proteção promovia a industrializa-
tais. Devido à nossa ignorância do processo tornou-se evidente. ção mas a um custo muito alto
somos conduzidos por uma mão Alguns países ainda estão pagan- como os estudos indicam. Contro-
visível a tomar medidas imediatas do um alto custo por terem opta- les e comandos, se tomarmos o
para proteger o ambiente, uma vez do por esse atalho para o desen- caso dos EUA, melhoraram a qua-
que o dano feito pode não ser re- volvimento. lidade do ambiente, mas a um
vertido. Ansiedade ignorante, Desenvolvimento sustentável custo elevado e desnecessário.10
efeitos imediatos da poluição so- substitui o mercado devido à falha A conservação do meio am-
bre a saúde, intensa exploração do de mercado e os riscos de ocorrer biente, com base em incentivos,
assunto nos meios de comunica- uma perda ambiental irreversível. resulta da observação de que o
ção (enfatizando um futuro obscu- Tempo, mais uma vez é o elemento homem reage a estímulos. Dessa
ro para a humanidade) e a visão principal. Uma vez os direitos de forma, a proposição é mimetizar
negativa da indústria de filmes propriedade sejam bem definidos, os preços de mercado por meio
futuristas são alguns dos elemen- o uso e a exploração de bens de de instrumentos de política am-
tos mais importantes para explicar propriedade comum não apresen- biental onde a falha de mercado
por que a regulamentação am- tarão severos problemas. Mas, ino- estiver presente. O conceito bási-
biental tem crescido em todo o vações institucionais demandam co é o do preço correto para pro-
globo, sem muita consideração tempo, e a intervenção governa- dutos e serviços, o qual implica
para com seus custos.8 mental torna-se necessária para internalização das externa-
O desenvolvimento sustentável preservar a sustentabilidade. Além lidades. A abordagem justifica o
é uma nova versão do planeja- disso, o governo precisa agir para princípio do pagar para poluir, e,
mento econômico centralizado do evitar prejuízos ambientais não re- por conseguinte, a utilização de
final da década de 1950. O de- versíveis. Em todos os casos, a re- tributos sobre poluição ou permis-
senvolvimento econômico ocorre- gulamentação deve ser o instru- são para poluir como instrumen-
ria em um contexto de economia mento de intervenção governa- tos de política. Dado que o objeti-
de mercado, mas levaria um longo mental. Podemos identificar duas vo é internalizar as externalidades,
lapso de tempo. Para ganhar correntes de pensamento sobre a valorizar o ambiente torna-se uma

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condição muito importante para a propriedade comum, passando percentuais para os participantes
implementação de qualquer instru- por sua regulamentação estrita, que mais abusarem da regra de
mento de política11. Altamente téc- até a apropriação desses bens pelo compartilhamento da despesa.
nica, essa abordagem é semelhan- Estado. Cada participante sabe que gas-
te àquela sugerida por Oscar ABUSO tará muito mais do que esperava,
Lange para a alocação de recur- mesmo aqueles que acabam sen-
sos em um sistema de planejamen- Pelo menos uma vez cada um do os mais subvencionados. O
to central como uma alternativa de nós experimentou uma situação proprietário do restaurante, po-
melhor para os mercados. A críti- semelhante à de abuso de um re- rém, ficará muito feliz!
ca à proposição de Lange facilmen- curso de propriedade comum. Exceto pelo proprietário do res-
te pode ser ajustada para a con- Considere um grupo de amigos taurante, os participantes que de-
cepção de preço correto12. reunidos em um jantar em um res- cidiram por essa forma de entre-
taurante chique. O combinado é tenimento, após pagarem a con-
LIDANDO COM PROBLEMAS ta, terão certeza de que poderiam
AMBIENTAIS ter tido os mesmos momentos de
“O desenvolvimento prazer por muito menos dinheiro.
A principal dificuldade com o sustentável é uma E, na verdade, eles teriam tido,
meio ambiente é a inadequada nova versão do caso tivessem definido outra regra
caracterização ou falta de direitos planejamento para o pagamento do jantar do
de propriedade privada resultante grupo. Os participantes do jantar
econômico centra-
da natureza de propriedade co- pagaram um preço mais elevado
lizado do final da
mum dos recursos ambientais. devido ao arranjo que fizeram. En-
Devido a essa dificuldade, as au-
década de 1950. tretanto, somente eles incorreram
toridades públicas são tentadas a
O desenvolvimento nos custos de sua ação. Essencial-
contornar o problema por meio do econômico ocorreria mente, é isso que acontece com o
sistema político, ou seja, pelo sis- em um contexto uso ou a exploração de bens de
tema social responsável pela sua de economia de propriedade comum – pastos co-
proeminência. Soluções políticas mercado, mas muns, pesca em um lago, pesca
são forjadas em conformidade levaria um longo ao longo da costa ou em mar
com a oportunidade de ganhos lapso de tempo.” aberto. A diferença reside no fato
políticos e, em geral, não conduzem de que no caso de bens de propri-
ao uso econômico dos recursos. edade comum, nenhum partici-
Consideremos primeiro os proble- que a conta será dividida igual- pante paga a sua parte. Assim,
mas ambientais mais comuns na mente entre eles. Essa regra sim- não haverá nenhum incentivo
discussão de como a sociedade ples gera a possibilidade da ocor- para não abusar no uso ou na
pode gerenciá-los. Propriedade rência do fenômeno que os eco- exploração. A exploração contí-
comum é objeto de exploração e nomistas identificam como caro- nua de um bem de propriedade
ou degradação devido à elimina- na (free rider): qualquer um que comum ao longo do tempo terá
ção de resíduos. Se olharmos em comer e beber acima da despesa um efeito negativo sobre a ren-
volta, podemos encontrar vários média será subsidiado pelos de- da ou o fluxo de serviços que ele
casos para os quais a intervenção mais. Essa possibilidade está aber- produz. Se nada for feito para
governamental é a única opção ta a todos os participantes, e cada parar o processo de abuso na
usada. Essa intervenção pode va- um tem um incentivo para beber e exploração ou uso do bem de
riar da elaboração de arranjos comer acima da média atual de propriedade comum ele poderá
institucionais, para definir os direi- despesas. É fácil prever uma con- se tornar inútil.
tos de propriedade privada na uti- ta muito alta e, portanto, uma sub- Como no caso do jantar, uma
lização e exploração de bens de venção muito pequena em termos solução poderia advir da mudan-

ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 55 9


ça no arranjo, ou seja, alterar as lhante pode ser alcançada, porém maiores serão os custos de fiscali-
condições sob as quais o bem de a um maior custo de transação. zação e imposição das normas.
propriedade comum é explorado O município aprova uma lei que No Brasil, a água é uma pro-
ou usado. Várias soluções são pos- determina as condições em que priedade pública controlada pelo
síveis. Definir, por meio de lei, os esse pequeno lago pode ser utili- poder executivo do governo. O re-
direitos de propriedade de uso do zado para recreação e pesca. curso hídrico é uma propriedade
bem ou regulamentar seu uso. Como se trata de um pequeno do município, se ele é inteiramente
Comando e controle ou incentivos lago, a imposição da lei ocorrerá localizado no município. Se o lago
econômicos para a conservação a baixo custo. Na verdade, o mer- ou o rio banha pelo menos dois
são duas formas de regular o uso cado no Brasil, por meio dos pes- municípios, ele será uma proprie-
de um bem de propriedade co- que e pague, forneceu solução dade do Estado. Da mesma forma,
mum. A melhor solução institu- para esse tipo de situação. Entre- ele será uma propriedade federal
cional vai depender das circunstân- tanto, em geral os lagos de pes- se banhar dois ou mais Estados. A
cias. Em qualquer caso, queremos que e pague estão localizados em costa marítima e o mar aberto até
uma solução que venha a produ- propriedades rurais ou hotéis-fa- 200 milhas são de propriedade
zir o mais alto valor presente do zenda de propriedade privada, federal. Assim, municípios e Esta-
benefício líquido, a ser gerado pelo aonde as pessoas podem ir por dos têm agências de água que têm
bem de propriedade comum, para todo ano para pesca e lazer. Em cuidado do problema associado à
a sociedade. Observe que o crité- geral há uma taxa de admissão e sua exploração por meio de regu-
rio leva em consideração o fluxo qualquer atividade desenvolvida lamentação. O Governo Federal
futuro de renda ou de serviços ge- dentro da área do lago também tem várias agências para cuidar do
rado pelo bem de propriedade co- está sujeita a uma taxa. Equipa- meio ambiente. O IBAMA - Insti-
mum, como normalmente é feito mento de pesca é fornecido aos tuto Brasileiro do Meio Ambiente e
para qualquer ativo. Vamos traba- pescadores que pagarão por qui- Recursos Naturais Renováveis é o
lhar alguns exemplos simples para lo de peixe pescado, podendo sa- mais proeminente e tem jurisdição
ilustrar como as sociedades estão borear sua pesca no local ou levar em lagos e rios federais. A área
lidando com o problema e como com eles. costeira e o mar aberto estão sob
os custos de transação afetam a Considere agora um enorme a jurisdição da Marinha, mas a
eficiência da solução selecionada. lago, rodeado por várias comuni- pesca é regulada e fiscalizada pelo
Considere um pequeno lago dades, ou um grande e extenso rio Ministério da Pesca e Aquicultura.
em um condomínio privado. Esse que flui através de várias comuni- Anderson e Leal (1993) suge-
pequeno lago é uma propriedade dades. Essa é uma situação seme- rem a privatização dos recursos
comum de um pequeno grupo de lhante à enfrentada por várias co- hídricos de propriedade comum
pessoas e, portanto, os custos de munidades à beira-mar. A dificul- para prevenir o problema da ex-
transação para caracterizar os di- dade a considerar em todos esses ploração em excesso (abuso). Eles
reitos de propriedade para usar o casos é a mesma: como é possível analisaram vários casos de regu-
lago são muito baixos. Uma vez prevenir a exploração desses recur- lamentação da pesca e concluíram
estabelecida uma convenção que sos de propriedade comum até a que enquanto os benefícios eco-
regulamente o uso do lago de exaustão dos peixes ou dos frutos nômicos decorrentes dos direitos
modo a conservá-lo, não haverá do mar? Em geral isso tem sido de propriedade privada sobre a
nenhum abuso na sua exploração feito por meio de regulamentação pesca superarem os custos de de-
ou uso. Suponha que esse peque- das atividades pesqueiras. A auto- finir e garantir esses direitos, a pro-
no lago é propriedade pública. ridade pública impõe licenças para priedade privada de territórios
Nesse caso não haverá nenhum pesca, temporada de pesca e, em e/ou de estoques de peixes é mais
direito de exclusividade, e seu uso alguns casos, um limite no tama- eficiente do que controles impos-
deve envolver um grande número nho do peixe e no total a ser pes- tos pela regulamentação da pes-
de pessoas. Uma solução seme- cado. Quanto maior a área, ca. Eles também consideraram, em

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suas comparações de eficiência, uma vez que o número de países de coletar lixo, de fornecer um sis-
inovações introduzidas na regula- é muito menor do que o número tema de esgoto e de distribuição
mentação da pesca como as ITQ de pessoas que têm acesso e di- de água potável para uso domés-
(quotas individuais transferíveis). reitos ao longo das águas tico e industrial. Via de regra, nas
Direitos de propriedade sobre a territoriais de um país. Se consi- grandes cidades brasileiras esses
pesca são economicamente mais derarmos apenas os países com serviços custam mais do que os re-
eficientes do que a regulamenta- frota pesqueira, limitaríamos em sidentes pagam por eles13. Para a
ção, porque o rendimento produ- muito o número de países e, des- cidade de São Paulo, por exemplo,
zido pela privatização de bens de se modo, seria mais fácil o esta- em 1995 seus residentes paga-
propriedade comum é maior do belecimento de um acordo inter- vam cerca de 80% do custo da
que o obtido sob o arranjo corren- nacional para ordenar os direitos coleta de lixo e da limpeza das
te. Além disso, menos recursos se- em mar aberto. Não é isso que a ruas. Para mais detalhes sobre
rão desperdiçados na arena polí- história nos tem ensinado. Os pro- esse caso, ver Carvalho (1998).
tica na busca de renda econômi- blemas políticos são muito mais • Devido às dificuldades finan-
ca (rent seeking). É também mais difíceis de serem transpostos, e ceiras que os municípios estão en-
eficaz na prevenção do abuso (ex- há muitos grupos econômicos frentando, algumas cidades têm
cesso de exploração) uma vez que fortes agindo na cena política. privatizado alguns desses serviços,
cada agente econômico é respon- Ainda que fosse tecnologicamente ou seja, permitem, por meio de
sável por seus atos. Os autores possível, dada a importância dos um leilão, a uma concessionária
reconhecem, porém, que a pri- arranjos políticos, a solução pela fornecer o serviço sob condições
vatização falhará se o governo não caracterização de direitos de especificadas em um contrato.
conseguir fazer valer o regime de propriedade levaria muito tempo Mesmo se o custo de coleta de
propriedade privada. Reconhecem para ser implementada. lixo fosse inteiramente pago pelos
também que para alguns casos de moradores, há o problema de dis-
pesca não há nenhuma tecnologia DEGRADAÇÃO por desse lixo. Incineradores e ater-
que permita uma definição e pro- ros sanitários podem produzir
teção dos direitos de propriedade A degradação do ambiente re- relevantes impactos sobre o am-
a baixo custo. sulta, em grande parte, do des- biente e, portanto, há custos para
Para “depósitos” de frutos do carte de resíduos nos bens de pro- impedir seus efeitos negativos no
mar (ostras, por exemplo) até três priedade comum. Resíduos são ar ou nos lençóis freáticos. Assim,
milhas da costa a tecnologia dis- qualquer material indesejado, e na cada um de nós não paga o custo
ponível permite privatização. Para nossa terminologia de preço um de descarte dos resíduos que
moluscos oceânicos da família bem indesejado é aquele que pa- geramos ou dos quais desejamos
bivalvia (surf, amêijoas e quahogs gamos para não ter (preço nega- nos livrar. Mesmo que a conces-
oceânicos), cujo habitat se situa a tivo). Mais uma vez, a degrada- sionária possa cobrar o preço ade-
30 km ou mais da costa, não há ção ambiental resulta da nature- quado, os custos de transação
nenhuma tecnologia eficiente para za de propriedade comum dos para implementação do corres-
definir e impor os direitos de pro- bens ambientais. Embora as pes- pondente sistema de preços seriam
priedade. Uma vez que os peixes soas estejam dispostas a pagar proibitivos. Autoridades públicas
são bens móveis, a definição de para não ter resíduos, elas não in- em todos os lugares têm usado ins-
direitos de propriedade nesse correrão em custo adicional por trumentos tais como impostos,
contexto é mais difícil, embora os au- descartarem resíduos no ambien- subsídios, taxas de poluição, as-
tores sugiram a possibilidade cercar te. Isso explica por que o meio am- sim como regulamentação, para
peixes com o auxílio de satélites. biente tem sido degradado. reduzir o impacto negativo de re-
Se considerarmos o mar aberto, Em geral, os governos locais síduos no meio ambiente.
as dificuldades são enormes. Apa- assumem a responsabilidade, es- Nem todos os resíduos são
rentemente deveria ser mais fácil, pecialmente nas zonas urbanas, iguais ou têm o mesmo impacto

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sobre o meio ambiente. Na ver- importante nesses casos é a taxa possam ser construídos, mas con-
dade, o mercado tem encontra- à qual o fluxo de resíduos atinge ta-se nos dedos os sistemas de tra-
do maneiras de transformar, em o ambiente (em geral água ou ter- tamento que efetivamente funcio-
alguns casos, bens descartados ra). Se esta taxa for compatível nam. Hoje a empresa estadual de
em bens com preço positivo. Coi- com capacidade de absorção, águas e esgoto (Cedae) mantém
sas velhas podem ter um preço de pelo ambiente, da matéria orgâ- no bairro uma rede de coleta, uma
mercado positivo se elas são con- nica que esteja fluindo, não haverá estação de tratamento e um emis-
sideradas antiguidades. A reci- nenhum problema de poluição sário submarino;
clagem é outra possibilidade de com o descarte desses resíduos. • de impacto duradouro – re-
transformar resíduos em receitas. Em geral, qualquer eliminação de síduos inorgânicos acumulam-se
Os antiquários têm sido reci- resíduos orgânicos, no início do no ar, solo, água e em organismos
cladores por séculos. Uma coisa processo, tem esta característica. vivos por um longo tempo até que
velha pode não ser uma antigui- O contínuo aumento no fluxo de eles se degradem. Nos casos de
dade, assim como nem todos os resíduos descartados, eventual- alguns metais, vidro, resíduos ra-
resíduos podem ser economica- mente, produzirá poluição por dioativos, plásticos e alguns
mente reciclados. Para entender incapacidade do ambiente em pesticidas, podemos considerar
melhor o que causa a degrada- absorver tal fluxo. Regulamenta- que eles nunca irão degradar, per-
ção ambiental, talvez seja impor- ções que impõem restrições sobre manecendo no ambiente para
tante distinguir o impacto que os a natureza dos descartes ou limi- sempre. Assim, a taxa de descar-
resíduos têm em termos de tem- tem o fluxo do material descarta- ga é ainda mais crucial para resí-
po e em termos da área afetada. do têm sido usadas para gerenciar duos inorgânicos. Este problema
O efeito negativo de resíduos esta fonte de degradação am- pode ser de especial interesse no
no ambiente, ao consideramos o biental. A principal dificuldade que caso de poluição do ar. Em geral
horizonte de tempo, pode ser de temos com esse tipo de poluição os resíduos que fluem para o ar
duração muito curta, temporária reside no fato de que, no Brasil, a são inorgânicos. Dependendo da
ou de longa duração: maioria das cidades não dispõe de geografia local, do clima e das
• de duração muito curta – es- sistema de coleta e tratamento de correntes de vento, a poluição do
tes são casos para os quais as esgoto e o custo de fazer cumprir ar pode demorar muito tempo
externalidades produzidas pela eli- uma regulamentação que controle para se dissipar, transformando o
minação de resíduos (poluição) seu fluxo é muito alto. A Barra da ambiente local em uma área de
representam um incômodo Tijuca, um bairro da cidade do Rio graves riscos à saúde. Como é o
efêmero como, por exemplo, o de Janeiro desenvolvido ao longo caso, por exemplo, de Cubatão
provocado pela queima de folhas dos anos 1970 e 1980, tem sido (SP) e da cidade de São Paulo.
em um quintal. Em geral, nesses objeto de um código de edifi- Nesses casos, se, por um lado, o
casos, prevalece o bom senso que cações que requer, para qualquer impacto negativo da poluição
produzirá uma solução con- condomínio, residencial ou comer- atmosférica por se concentrar na
sensual. Se este não for o caso, cial, um tratamento especial do população local agrava o proble-
ou se o custo de transação for esgoto bruto antes de sua dispo- ma, por outro lado, sua solução
muito alto (várias pessoas envol- sição em canais, rios ou lagoas. torna-se mais fácil, uma vez que a
vidas) o direito civil pode ser usa- O custo de fiscalização ou a pres- poluição não é dissipada de modo
do para contornar a eliminação são política para não se impor a afetar outras comunidades. A
imprudente de resíduos; esta regulamentação, devido ao Comunidade responsável por ge-
• de impacto temporário – re- alto custo operacional de tais es- rar a poluição do ar é aquela que
síduos orgânicos (resíduos huma- tações de tratamento, gerou uma sofre mais e, portanto, vai ter o
no e animal, assim como algumas situação perversa: os condomíni- maior interesse em produzir uma
matérias vegetais) produzirão uma os, todos eles, tem a estação de solução para o problema. Nos
poluição temporária, uma vez que tratamento de esgoto, como exi- casos aonde a poluição do ar se
são biodegradáveis. O aspecto gido pelas normas para que dissipa mais rápido, os efeitos

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A poluição do ar pode demorar muito tempo para se dissipar, transformando o ambiente em área de riscos à saúde, como é o caso de Cubatão.

negativos da mesma serão míni- ou eles podem se associar a uma que contribuem para o chamado
mos para a comunidade respon- ONG local que gerencia um pro- efeito estufa.
sável pela sua produção. Esta é a blema semelhante em um bairro
principal fonte de dificuldade na vizinho. Em ambos os casos, po- LEIS E REGULAMENTAÇÕES
redução da poluição atmosférica: rém, nenhum morador pode ser PARA A CONSERVAÇÃO DO
algumas comunidades obtêm os forçado a participar do empreen- MEIO AMBIENTE
benefícios (redução de custos na dimento. Os moradores de algu-
produção de bens para não con- mas ruas do Rio de Janeiro, no Nossa discussão anterior
trolar a poluição do ar) enquanto contexto de proteção pessoal e enfatiza a natureza de direitos de
outros pagam o custo. patrimonial têm desenvolvido uma propriedade dos problemas
Tendo em conta o impacto dos solução local como esta; ambientais, bem como a impor-
resíduos de acordo com a área • regional – à medida que a tância dos custos de transação
afetada, podemos, também, ter área afetada pelo problema da eli- para uma solução interativa sem
três casos: local, regional e glo- minação de resíduos aumenta, os a coerção do governo. Estudos
bal. Uma vez mais, quanto maior custos de transação para conce- sobre a ação governamental, nes-
a Comunidade, maiores os cus- ber uma solução interna aumen- se particular, têm demonstrado a
tos de transação para obter uma tam. Em geral, as autoridades pú- ineficiência das soluções burocrá-
solução decorrente de respostas blicas impõem regras para contro- ticas, bem como o desperdício de
individuais a incentivos: lar a qualidade e a quantidade dos recursos associado a controles de
• local – enquanto o direito ci- resíduos a serem descartados; agências governamentais. Assim,
vil proteger os interesses de cada • global – como os problemas se quisermos conservar o meio
residente local, qualquer outra in- globais de eliminação de resíduos ambiente e preservar os direitos
tervenção de uma autoridade pú- envolvem países independentes, a humanos fundamentais em uma
blica será desnecessária. Para solução para esses problemas virá maneira econômica, devemos de-
contornar qualquer problema por meio de acordos internacionais senvolver um sistema bem defini-
ambiental local, os residentes po- ou convenções. Já vimos como é do de direitos de propriedade. Dis-
dem organizar um condomínio difícil que acordos como esses se- cutimos as dificuldades de definir
para gerenciar a eliminação de jam firmados e respeitados, como os direitos de propriedade em al-
resíduos sob algum conjunto de bem ilustra a convenção interna- gumas situações. No entanto,
regras consensuais e específicas, cional sobre as emissões de gases também identificamos situações

ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 55 13


para as quais as inovações • réus devem ter direito ao con- de como tal, devemos confiar ba-
tecnológicas, ao reduzirem os cus- traditório; sicamente na auto-regulação. O
tos de caracterização dos direitos • a lentidão dos processos ju- papel da autoridade pública seria
de propriedade, se constituem em diciais não deve ser usada como o de promover acordos locais. Isso
um fator importante para contor- desculpa para a adoção de um está acontecendo no Rio de Janei-
nar graves dificuldades. processo administrativo no julga- ro, onde moradores, por razões de
A sociedade moderna pode mento do réu. segurança, instalam cancelas nas
gerenciar problemas ambientais, Há uma questão, com relação ruas onde residem de modo a con-
como todos os outros problemas à qualquer situação ambiental lo- trolar o acesso de veículos e pes-
semelhantes, por meio de leis. cal, precisa ser respondida antes soas. Apesar de ilegal, residentes,
Nossa melhor opção para resol- que qualquer ação seja im- o público em geral e as autorida-
ver problemas ambientais é a ca- plementada: existe um problema des públicas concordam que se
racterização legal e adequada de trata de um procedimento legítimo
direitos de propriedade. A dinâmi- para enfrentar as circunstâncias.
ca do processo legislativo não “Assim, as comuni- Traci Watson em um artigo
deve ser um impedimento para a intitulado Environmental Groups
dades locais podem
caracterização de direitos de pro- Wielding Power of the Purse, pu-
produzir soluções
priedade gerados pelas inovações blicado no USA Today, (3 de fe-
locais, e este deve
tecnológicas. Além disso, deve-se vereiro de 2000) relata vários ca-
ser o escopo das sos para os quais as organizações
atribuir especial importância aos
lobbies. Interesses bem estabele-
associações locais ambientais estão oferecendo pa-
cidos podem fazer lobby con-
(ou de bairros) que gamentos aos agricultores e
tra a legislação que, pela ca-
têm sido atraídas pecuaristas que concordarem em
racterização dos direitos de
pelo modelo de proteger a terra ou animais
propriedade elimina privilégios ONG. A autoridade ameaçadas de extinção. Essas
e burocracia 14. pública deve facili- organizações ambientais, frus-
A regulamentação tem sido o tar sua organização tradas pelos elevados custos e in-
principal instrumento usado pela enquanto os seus certezas do contencioso, opta-
sociedade para gerenciar proble- objetivos se refe- ram por esta ação.
mas ambientais. Aprendemos com rirem a problemas Assim, as comunidades locais
Stigler (1971) e Posner (1974), locais.” podem produzir soluções locais e
que é sábio ser parcimonioso com este deve ser o escopo das associ-
a regulamentação, e quando não ações locais (ou de bairros) que
há alternativa melhor, alguns prin- ambiental? Ou seja, a comunida- têm sido atraídas pelo o modelo de
cípios básicos devem ser seguidos: de local identifica o evento consi- ONG. A autoridade pública deve
• as regras emanadas da re- derado como um problema? Será facilitar sua organização, enquanto
gulamentação devem ser claras e mais caro não ter poluição? Pode os seus objetivos se referirem a
intensamente divulgadas; um grupo de pessoas, impor a ou- problemas locais, mas também de-
• a aplicação da regulamen- tros seus valores? Por que alguém vem proteger os interesses de ter-
tação deve ser transparente e ter imporia aos índios, por exemplo, ceiros, em especial os direitos dos
um baixo custo de transação; que eles sejam aculturados? A residentes locais de não ingressar
• a agência reguladora não sociedade ocidental fez isso no na associação. Estas associações
pode ter qualquer interesse asso- passado e não estamos orgulho- devem se restringir a atividades lo-
ciado ao assunto regulamentado, sos dos resultados. Valores cul- cais e devem perder seus privilégi-
mas deve ser a autoridade na sua turais da comunidade devem ser os (menos burocracia para sua
imposição; respeitados. criação e funcionamento) se am-
• nenhum poder discricionário Para problemas ambientais lo- plia seu escopo. Isso deve ser
deve ser dado aos reguladores; cais, identificados pela comunida- considerado como uma válvula de

ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 55 14


segurança contra a possibilidade o problema. Dependendo da ca- ou qualquer outra agência regu-
de essas associações se transfor- racterística regional do problema, ladora, tem que levar em conta
marem em ONGs. uma regulamentação poderá advir que em algumas atividades resí-
O modelo de organização do estado local ou do governo fe- duos são inevitáveis.
ONG tem crescido em todo mun- deral. Em qualquer dos casos, os A regulamentação tem um cus-
do. Entretanto, elas vêm assumin- princípios básicos listados acima to muito alto, especialmente quan-
do um papel de novas organiza- devem ser considerados. Para re- do se refere ao ambiente associa-
ções governamentais, uma vez que gulamentação em matéria am- do a um espaço físico grande. Ela
pretendem ter poderes de regula- biental, as autoridades públicas requer agências para impor as res-
mentar e de polícia. Em algumas precisam reconhecer que poluição trições, para auditar, para verifi-
situações elas têm sido bem suce- decorre de incentivos para a dis- car possíveis poluidores e tomar
didas. Seus procedimentos não es- posição de resíduos ao menor ações legais, qualquer que seja o
tão sempre em conformidade com custo possível. Assim, para caso. Depois que uma agência é
a lei e é bastante comum, espe- implementar uma regulamentação organizada será muito difícil
cialmente quando problemas eficaz, compatível com o compor- fechá-la. Agências reguladoras
ambientais estão em jogo, o uso tamento humano (reação a estí- associadas ao ambiente devem ter
de demonstrações públicas que mulos) é indispensável identificar uma existência transitória, uma
implicam em alguns custos para os incentivos existentes para poluir. vez que a qualquer momento uma
a sociedade. Tendo privilégios em Uma vez que isso é conhecido, a solução melhor pode emergir pela
todos os países, especialmente em regulamentação pode ser dire- introdução de uma nova tec-
benefícios fiscais, algumas dessas cionada para atenuar esses incen- nologia. Ao permitir uma definição
organizações têm conseguido tivos ou produzir novos incentivos adequada dos direitos de proprie-
acumular uma grande riqueza para não poluir. dade, a nova tecnologia vai resol-
usada para alavancar seu poder Os reguladores devem estar ver velhos problemas, eliminando
político. Esta é a principal razão cientes do fato de que nem todas a necessidade de regulamenta-
para seu sucesso na promoção de as disposições de resíduos produ- ção. A menos que o órgão
soluções políticas que favorecem zem um impacto negativo sobre o ambiental seja criado com uma
a intervenção governamental. Em meio ambiente. Eles devem enten- cláusula de auto dissolução, a so-
muitos países desenvolveu-se um der que sua função principal é pre- lução provida pela adequada ca-
relacionamento bastardo entre go- venir a poluição e que o resultado racterização dos direitos de pro-
vernos e ONGs, o que vem forta- da sua ação deve ser um aumen- priedade não será implementada.
lecendo e popularizando este mo- to do bem-estar. Com a ocorrên- Assim, na organização de órgãos
delo de organização. Por exemplo, cia de poluição, sua ação deve ser ambientais é necessária uma ins-
em março de 2000, a Green- a de minimizar seus efeitos noci- tituição que imponha, uma vez fi-
peace Internacional alocou um vos, impondo o custo de correção que demonstrada sua obso-
navio de 58 metros no policia- ao poluidor. Eles também não de- lescência, o fechamento da Agên-
mento da região amazônica no vem perder a perspectiva de tem- cia. A criação de órgãos ambien-
Brasil para localizar atividades ile- po ao imporem novas exigências. tais sem esta condição irá produ-
gais de madeireiras. Dependendo do problema, mesmo zir um custo muito alto para os
Problemas ambientais regio- quando existe uma solução técni- cidadãos. Esses custos não são só
nais são os mais susceptíveis à re- ca, é possível que o tempo deter- em termos de impostos para man-
gulamentação sobre a prevenção minado para o ajustamento gere ter uma burocracia cada vez mai-
ou redução de poluição. É possí- um custo de tal magnitude que nin- or, mas vêm principalmente do
vel que em situações específicas guém poderá suportá-lo15. Tam- desperdício de recursos gerado
uma associação regional ou um bém é possível que a solução téc- pela ineficiência da regulamenta-
grupo de associações locais pos- nica existente não seja econômi- ção, em comparação com solu-
sa promover a autorregulamen- ca. Assim para funcionar cor- ção decorrente da caracterização
tação necessária para contornar retamente, a Agência ambiental, dos direitos de propriedade.

ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 55 15


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YA N D L E ( e d s . ) . Ta k i n g t h e NOTAS mente em equipamentos de jardina-
Environment Seriously
Seriously. Lanham gem e produtos similares. Naquele
(MA): Rowman & Littlefield 1
Externalidades, no jargão eco- ano uma empresa que produz
Publishing Inc., 1993. nômico, ocorrem quando a ação esses motores já havia desenvolvido
NELSON, Robert H. How Much por parte de um indivíduo gera da- uma nova tecnologia e, em associ-
is Enough? An Overview of the nos ou benefícios a outrem, sem que ação com grupos ambientalistas, es-
Benefits and Costs of Enviro- o originário da ação pague pelos tava pressionando a EPA para im-
nmental Protection. In Roger E. custos causados ou seja ressarcido por rigorosos parâmetros de emis-
MEINERS e Bruce YANDLE (eds.). pelos benefícios gerados. são, bem como a redução do tem-
Ta k i n g t h e E n v i r o n m e n t S e - 2
North-Thomas (1973) identifi- po de adaptação da indústria a es-
riously.. Lanham (MA): Rowman
riously caram a importância dos direitos de ses novos parâmetros.
& Littlefield Publishing Inc., 1993. propriedade da terra e os corres- 15
Isso é exatamente o que a nota
(1-23). pondentes arranjos institucionais de rodapé anterior dramatiza.

ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 55 16

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