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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO TAB SAÚDE, CIÊNCIA & VIDA 31

JORNAL DO BRASIL Vida, Saúde & Ciência A31


DOMINGO, 15 DE JULHO DE 2007

ROBÓTICA I Na ficção, as regras mais famosas são do escritor russo Isaac Asimov, feitas em 1950

Juliana Anselmo da Rocha

A ênfase dada à colaboração e à


Relação entre
interatividade entre humanos e
robôs, bem como a inserção gra-
dual dessas máquinas inteligen-
tes na vida diária, gera a necessi-
dade de normas de segurança.
robôs e homens
Na ficção, as regras mais famo-
sas para a convivência em harmo-
nia de humanos e robôs foram
criadas pelo escritor russo imi-
exige leis

AFP
grado para os EUA Isaac Asimov.
As três leis da robótica expressas
em Eu, robô (1950) – narrativa
adaptada para o cinema em 2004 –
estabelecem que um robô não po-
de machucar um ser humano, seja
reguladoras
ca que as recomendações geram com seres humanos.
por ação ou omissão, deve obede- problemas de interpretação. – As regras atuais são próprias
cer ordens, salvo se entrarem em – Se um médico pede a um ro- para robôs industriais – explicou
conflito com o dever de proteger a bô que aplique determinada inje- Mukai – Não existe nenhuma
vida, e resguardar sua própria ção a um paciente, por exemplo, diretriz para robôs que têm
existência, a não ser que isso co- como a máquina distinguirá se contato físico direto com
loque em risco uma pessoa. está fazendo bem ou mal à pes- seres humanos, como
De acordo com especialistas, soa? Com essa ação, pode tanto é o caso do Ri-Man.
as leis de Asimov não são ade- salvar uma vida como cometer O robô huma-
quadas a todos os contextos. Ja- eutanásia – diz Matsuura. nóide japonês
ckson Matsuura, coordenador da Para Rosário, o ideal é criar mede 1,58
Itandroids, equipe brasileira de dois grupos de regras: um mais
robôs do Instituto Tecnológico geral e outro restrito, aplicado
de Aeronáutica (ITA) e conforme as atividades de-
técnico da seleção sempenhadas pelo robô. metros e pe-
que viajou para – Todas as condições sa 100 quilos.
Atlanta para a Ro- de perigo para o ho- O Ri-Man foi
boCup 2007, expli- mem precisam ser pre- projetado para
vistas – defende. cuidar de ido-
Ubbo Visser, coor- sos. Uma grande parcela
denador da RoboCup da população do Japão está na ter-
2006, que aconteceu em ceira idade e o país tem enfrenta-
Bremen, Alemanha, do problemas com o número de
acredita ainda ser cuidadores disponíveis.
cedo para pensar O Ri-Man é equipado com câ-
em uma legislação meras, sensores táteis e para
especial para ro- cheiro e sistemas de localização,
bôs. Matsuura pon- fala e reconhecimento de co-
dera que, para dotar mandos de voz. Até o momento,
os robôs de capacidade o robô é capaz de carregar volu-
decisória confiável, é mes com até 35 quilos. Os cien-
preciso entender tistas acreditam que, com o
mais sobre o pró- prosseguimento das pesquisas,
prio funcionamen- em cinco anos o robô será capaz
to cognitivo do de levantar um ser humano.
ser humano. – Mas antes de chegar ao mer-
– Hoje, eu cado, os custos de produção preci-
não confiaria sam ser calculados e leis sobre a
em um ro- interação humano-robô têm de
bô-babá ou ser estabelecidas – conta Mukai.
em um para Regras do escritor


cuidar de imigrado para os
doentes – co- Não existe nenhuma EUA Isaac Asimov
menta o pesquisador do estabelecem que
ITA. – Para vigilância ou diretriz para robôs que um robô não pode
limpeza, não vejo pro- têm contato físico direto machucar um ser
blemas. Essas tarefas humano, seja por
simples também não com seres humanos ação ou omissão,
exigem leis especiais Toshiharu Mukai, engenheiro deve obedecer
sobre a interação huma- que desenvolveu o Ri-Man ordens, salvo se
no-robô, já que os homens entrarem em
e as máquinas não travam
um contato tão próximo.
Toshiharu Mukai, um dos
pesquisadores envolvidos no
desenvolvimento do Ri-Man,
sente falta de orientações espe-
cíficas para a construção de ro-
bôs que dividem o ambiente
“ Hoje, eu não
confiaria em um
robô-babá ou em um
para cuidar de doentes
Jackson Matsuura, do Instituto
conflito com o
dever de proteger
a vida, e
resguardar sua
própria existência,
a não ser que isso
coloque em risco
uma pessoa
Tecnológico de Aeronáutica (ITA)

Máquina
AFP

nas tão sofisticadas como as re- na dependem de uma programa-


I tratadas pelos estúdios de cine- ção anterior:
ma estarão disponíveis no mer- – E somos nós, os seres huma-
seria soldado cado dentro de 50 ou 100 anos.
– Competições como a Robo-
nos, que inserimos esses códigos
na máquina – lembra.
em guerras Cup servem para desmistificar o
conceito de robô – conta Simões.
Rosário esclarece que há 20
anos, quando começaram as pes-
– Queremos que as pessoas per- quisas nos campos da robótica e
“Por que robôs não seriam ca- cam o medo e não vejam os robôs da inteligência artifi-
pazes de fazer a guerra, se podem como máquinas mais perigosas cial, os robôs eram
jogar futebol?” Quem faz a per- pensados como subs-
gunta é Alexandre Simões, inte- titutos do homem. Ho-
grante da seleção brasileira em
Agência americana je, a tônica dos estudos
Atlanta para a RoboCup 2007. Si- responsável por neste campo é outra: o
mões informa que a Darpa, agên- objetivo é desenvolver má-
cia americana responsável pelo
novas tecnologias de quinas inteligentes que tra-
desenvolvimento de novas tec- Defesa tem investido balhem em colaboração com os
nologias de Defesa, investe pesa- seres humanos.
do em pesquisas na área da robó-
na área de robótica – Os robôs devem desenvol-
tica. A pretensão da agência é en- ver as tarefas mais árduas ou re-
viar robôs em vez de soldados pa- do que realmente são. petitivas, em cooperação com as
ra as áreas de conflito. João Maurício Rosário, do La- pessoas – pondera Rosário.
Robôs que levantem as ques- boratório de Automação e Robó- É nessa linha que surgem os
tões éticas discutidas por filmes tica da Universidade Estadual de robôs domésticos e de entrete-
como Metrópolis (1927), 2001: Campinas (Unicamp), acredita nimento. Exemplos do grupo
Uma odisséia no espaço (1968), que as histórias ficcionais sobre são o Aibo, cão-robô da Sony,
Blade runner (1982), Matrix disputas entre humanos e robôs não mais fabricado, e o Ri-Man.
(1999) e IA: Inteligência artifi- são factíveis. Mas, de acordo
cial (2001) ainda não são uma com o pesquisador, todas as ta- I Comente a necessidade de leis para

realidade. Para Simões, máqui- refas desenvolvidas pela máqui- Robôs inteligentes, como o Ri-MAn, poderiam colaborar com humanos robôs em www.jb.com.br/24 horas

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