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O inverno era um tempo que inspirava medo; significava fome e ociosidade.

Era como uma peste, um castigo por todos os pecados cometidos durante cinco mil anos. Ser que Deus os perdoaria? com o tempo, sim, mesmo que o homem nunca perdoasse. A chuva torrencial que havia cado nos ltimos cinco dias deixara profundas fendas na terra, alm de um rio de lama que s estaria seco na primavera. Em breve chegaria a neve do inverno e a lama se congelaria. Mas finalmente, e talvez por compaixo, os elementos lhes tinham dado um descanso. Os cus haviam se acalmado agora, pois a chuva tinha parado, e a pequena aldeia que ficava ao sul de Odessa dormia. Estavam amontoados em cima de esteiras, como uma ferragem humana, junto ao fogo. Aquilo que eles no encontravam para aquecer os estmagos vazios era substitudo pela proximidade mtua. Destacandose no cu ameaador, enormes colunas de fumaa negra erguiam-se em espiral das chamins. Na aldeia no havia iluminao, com exceo do lampio a querosene, que ardia com luz difusa no interior da casa dos Rabinskys. Essa situao tinha comeado com as chuvas. Chavala, porm, a mais velha de cinco irmos, tinha pouco tempo para se preocupar com o que havia acontecido alm dos limites dos trs cmodos que lhes serviam de casa. Durante os ltimos cinco dias e noites vivera um tormento, observando a me enfrentar as dores do parto. Passava o tempo entre o pequeno quarto e a cozinha, onde o caldeiro de gua fervia sem parar. Enquanto rasgava lenis, proferia vituprios contra os elementos, que tinham feito com que Leah, a parteira, adoecesse, sendo obrigada a ficar acamada, com pleurisia e um resfriado to violento que chegava s vezes a tossir sangue.

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