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* Salvador 19/09/2008
Dilermando Alves do Nascimento
Geólogo pesquisador do (IBGE) especialista em hidrogeologia e meio ambiente
Faço minhas as palavras do Manoel Bomfim, ao afirmar que falta somente vontade política para
encher o nordeste de canais e adutoras partindo dos açudes plurianuais aqueles que atendem às
necessidades por até 2 ou 4 anos consecutivos sem a renovação de suas reservas. São 27
açudes interanuais com capacidade individual acima de 100 milhões m³, que encontram-se
aptos para fornecer e distribuir as águas sem correr risco de secar nos próximos 5 anos mesmo
que atravesse o período de estiagem prolongada sem chover uma só “gota d´água”. Cito como
exemplo os açudes Castanhão no Ceará ( 6,7 bilhões m³) Orós (2,1 bilhões m³), e Banabuiú
( 1,7 bilhões m³) no Rio Grande do Norte a Barragem do Açu (2,4 bilhões m³) e na Paraíba o
complexo Coremas - Mãe D'Água (1,358 bilhões m³).
Os Açudes Eng. Ávidos (255 milhões m³), o Epitácio Pessoa o Boqueirão (418,88 milhões
m³), juntos com o recém inaugurado Açude Acauã (253 milhões m³) completam o sistema de
suprimento d´água para esta região da Paraíba compondo a maior rede de açudagem do Brasil
com potencial hídrico para atender o estado e principalmente a região do município de Campina
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Grande. Antes do Açude Acauã essa região sofria constantemente com a falta de abastecimento
d´água estando hoje com seu sistema plenamente regularizado.
Segundo o relatório Planeta Vivo 2008 do Fundo Mundial para a Natureza o WWF "Worlwide
Fund for Nature" o crédito ambiental do planeta se esgotará em 2030. A publicação bianual da
rede WWF, mostra que, caso o modelo atual de consumo e degradação ambiental não seja
superado, é possível que os recursos naturais entrem em colapso a partir de 2030, quando a
demanda pelos recursos ecológicos será o dobro do que a Terra poderá oferecer.
Dentro deste contexto o "Velho Chico" ainda respirará apesar de seu estágio avançado de
degradação. Por certo, logo fará parte também da próxima lista a ser divulgada pelo relatório da
rede mundial WWF da qual já fazem parte os dez principais rios do mundo ameaçados de
extinção, entre eles os rios Yangtsé, na China; o Ganges, na Índia; o Nilo, no Egito; o Rio
Grande, nos Estados Unidos; o Mekong, o Salween e o Indus, na Ásia; o Danúbio, na Europa; o
Prata, na América do Sul; e o australiano Murray-Darling.
Apesar de dez nações compartilharem a bacia do Nilo, apenas três o Egito, Sudão e Etiópia
predominam na partilha de suas águas sendo o maior percentual utilizado pelo Egito que já se
manifestou em 1991 que está pronto a utilizar a força para proteger seu acesso às águas do Nilo
mesmo que o rio já apresente altos índices de poluição.
O caso do Rio Nilo na África, é o exemplo mais evidente de que o valor da água não é só o
econômico e sim uma questão de sobrevivência total. O governo do Egito já declarou ao
governo da Etiópia, de onde vem mais de 80% da água do Rio Nilo, que se a Etiópia tirar mais
uma gota desse rio, isso seria interpretado como uma declaração de guerra. É o extremo da crise
e dos conflitos pelo uso da água em todo o mundo que exigem cada vez mais a formação dos
pactos federativos para manter a ordem e a paz na disputa pela obtenção do precioso liquido.
O Rio Colorado (EUA) pela sua importância na produção de alimentos vem despertando uma
tenção especial entre Americanos e Mexicanos pelos conflitos na disputa do direito de uso da
água. O rio há mais 30 anos já não chega a sua foz causando graves problemas ambientais
como a salinização dos solos, a extinção do delta e dos pântanos, dizimando o santuário
ecológico de reprodução de milhares de espécies de aves, tudo por conta da superexploração das
inúmeras aduções de água feitas ao longo do rio para irrigação de milhares de hectares nos
estados da California e do Arizona. Hoje corre um minguado filete de água poluída por
agrotóxicos, pesticidas, herbicidas, concentrações de fertilizantes nitrogenados e metais
pesados prejudicando milhares de Mexicanos que habitam aquela região o vale do Rio Colorado
nos estados da Baixa Califórnia e Sonora no México em um trecho distante 120km a montante
de sua foz. O rio São Francisco trilha o mesmo caminho. Logo, se transformará na imagem
refletida do Rio Colorado.
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cientistas do mundo inteiro pela maior catástrofe ecológica ambiental já vista no planeta, a
do Mar D´Aral.
A redução de 25% da superficie original do lago em um espaço muito curto de tempo (últimos
40 anos) teve como causa a superexploração irresponsavel dos rios pela adução indiscriminada,
com a retirada de água muito acima da sua capacidade, deixando hoje as antigas cidades outrora
costeiras do Mar D´Áral se transformarem em verdadeiras cidades fantasmas, distando 50
quilômetros da linha de recuo atual do encolhimento do que foi o quarto maior lago do mundo.
Lembro que as áreas descobertas pelo recuo do Mar D´Aral apresentam-se contaminadas por
sais, agrotoxicos, resíduos de fertilizantes e metais pesados. Em determinadas épocas do ano
elas são submetidas a tempestades gerando uma poeira altamenete toxica que atinge milhares
de pessoas, gerando doenças de pele, aumentando os índices de câncer de garganta e doenças
respiratórias criando uma catástrofe em termos de saúde pública. Além das doenças, o indíce de
mortalidade infantil da região do lago aumentou em 30%, reduziu em 75% as especies de peixes
e caiu para 96% o número de empregos na pesca deixando mais de 350.000 famílias
desamparadas afetando uma população de mais de um milhão de pessoas.
Caso idêntico ao do Rio Colorado aconteceu com o Rio Amarelo da China ( dose dupla), que
além de se transformar em um imenso canal de esgoto contaminado com metais pesados,
agrotóxicos (e outras coisinhas mais) passa até nove meses do ano com um trecho de seu leito
seco cujas águas param a 550 km de sua foz.
O Rio São Francisco trilha o mesmo caminho , ou seja, futuramente não vai chegar a sua foz,
é só ir retirando água acima da sua capacidade que teremos uma repetição idêntica do mesmo
desastre ecológico que ocorreu com os rios acima citados.
A Região do Baixo São Francisco já apresenta evidências marcantes de assoreamento do leito
do rio. Onde antes corria um fluxo de bilhões de metros cúbicos de água este caudal já perdeu
aproximadamente mais de dois terços do seu volume permitindo a formação de inúmeras ilhas
e imensos cordões de areias distribuídos ao longo do leito do rio "hoje verdadeiras dunas
migrantes". O nível de base do rio São Francisco baixou tanto que se pode vislumbrar a
exumação da base do suporte de concreto que sustente a Ponte da BR-101 que liga Própria - SE,
a Porto Real de Colégio - AL distante 60 km da sua foz. Mudanças ecológicas no baixo São
Francisco com a introdução da cunha salina já são sentidas colocando em risco o equilíbrio dos
ecossistemas e dos biomas da foz do rio.
Cabe aqui , inicialmente , conceituar estes termos, visto que existem definições conflitantes para
estimativas das reservas de águas superficiais e de água subterrânea gerando conflito de
números na avaliação desses parâmetros. Até mesmo quando se fala em disponibilidade hídrica
superficial de bacias hidrográficas há conflitos com a estimativa da disponibilidade hídrica
superficial dos reservatórios, não caracterizando nem diferenciando corretamente o significado
de cada uma das situações dos vocábulos.
A disponibilidade de água ou disponibilidade hídrica, de um modo em geral, significa a
quantidade de água disponível em um trecho de um corpo hídrico (açudes, reservatórios
subterrâneos) durante um determinado tempo. Representa a quantidade de água disponível na
natureza para ser utilizada nas atividades humanas.
Já a estimativa da potencialidade hídrica superficial dos mananciais de superfície,
especialmente dos açudes, será tratada convencionalmente aqui como sendo a capacidade que os
reservatórios possuem de armazenar água com poder de regularização, é o volume de água
represado.
A estimativa da disponibilidade hídrica superficial nos reservatórios será considerada neste
artigo como o volume da parcela das potencialidades hídricas que podem ser extraídas dos
reservatórios (Açudes) já descontadas as perdas por infiltrações e evaporação. Medida em
volume ou vazão, é a maior fração do potencial do reservatório que pode ser
disponibilizada para uso.
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Portanto, há diferenças significativas marcantes já que a disponibilidade hídrica superficial de
uma bacia hidrográfica é tradicionalmente avaliada pelas vazões médias de longo período,
vazões mínimas e as de maior ocorrência, não cabendo aqui uma discussão sobre o método a
forma de estimar a disponibilidade hídrica superficial da bacia hidrográfica, mais o que interessa
são os resultados esperados ou seja o volume de água que vai ser represado. Não se avalia
volumes de água em escoamento mas a parte dela que se pode considerar como recurso hídrico
explotável.
Assim sendo, a disponibilidade hídrica superficial de uma bacia hidrográfica uma variável
aleatória comumente caracterizada em termos probabilísticos, deve ser estimada por vazões com
alta permanência no tempo, levando em consideração a seqüência cronológica da mesma
para que sejam também altas as garantias de fornecimento de água.
Doravante serão utilizados os preceitos acima conceituados no mesmo sentido em que foram
aplicados por Nascimento (2007).
Naquela ocasião baseado nos levantamentos do monitoramento das Secretarias Estaduais de
Recursos Hídricos, ficou demonstrado que os açudes públicos pertencentes aos estados CE, RN,
PB e PE possuem um potencial hídrico superficial , ou seja, uma capacidade para armazenar 37
bilhões m³, considerando os anos de chuvas normais ou mesmo os anos de chuvas mais
favoráveis quando os açudes passam a verter.
Devo ressaltar, que não estão sendo computados aqui, as lagoas e os inúmeros açudes
particulares de pequeno a médio portes.
Serão apresentadas nos itens a seguir varias situações com simulações e variantes sobre a
disponibilidade hídrica superficial e subterrânea aproveitável para atender as necessidades de
demanda e oferta da população dos estados e para a irrigação.
Para calcular a disponibilidade hídrica superficial dos reservatório vamos admitir que 80%
29,66 bilhões m³ dos 37 bilhões m³ das águas estejam acumuladas nos açudes plurianuais de
categoria interanuais. As perdas anuais chegam a 70% (20,76 bilhões de m³) sendo 60%
(17,79 12,45 bilhões de m³ ) com perdas por evaporação e 10% (2,96 2,07bilhões de m³)
por infiltrações nos aqüíferos e pontos de fuga dos sistemas barragens. O resultado é um volume
em disponibilidade aproveitável por ano fantástico de 8,90 bilhões de m³ (100% de garantia
explotável) mesmo após subtrair tantas perdas acima relacionadas, (o prof. Daker (2004) calcula
um volume aproveitável anual de 9,25 bilhões de m³).
É incrível como os açudes do Nordeste são utilizados o mínimo durante o ano, na suposição de
que no próximo ano não vá chover. Chega ser contra-senso e uma forma arcaica e conservadora
mas constrangedora de gestão dos recursos hídricos praticada no Nordeste para guardar a água
armazenada nos açudes de um ano para o outro. Os gestores preferem dar de beber ao sol e
ainda contribuir para aumentar a salinização e o assoreamento dos açudes devido às altas
perdas por evaporação e pela decantação do material em suspensão, do que matar a sede de
milhões de sertanejos e ainda irrigar milhares de hectares de terras principalmente para o
cultivo da agricultura familiar.
Mesmo com tanto desperdício de água, cujo maior usuário infelizmente continuará sendo ainda
o sol, e não o homem, resta ainda em disponibilidade só de águas superficiais estocadas nos
açudes para atender a demanda nos diversos usos múltiplos, consumo doméstico, dessedentação
animal e irrigação etc. 8,90 bilhões de m³ (100% de garantia explotável) para uma demanda
de consumo calculada no texto abaixo (população mais irrigação) projetada para o ano 2020 de
2,75 bilhões de m³. Isto representa um superávit hídrico de 6,15 bilhões de m³ só de águas
superficiais equivalente a uma vazão de 195,01 m³/s.
Se o governo tivesse dado continuidade as obras, finalizando o projeto com o compromisso de
dar prioridade para irrigação, tal volume 8,90 bilhões de m³ estaria irrigando hoje uma área de
635.380 hectares (potencial de terras férteis irrigáveis para os quatro estados) a taxa de 7.000
m³/ha.ano (indicador de água derivada para irrigação usado pela CODEVASF) cujo consumo total
chegaria a 4,44 bilhões de m³ 50% do volume em disponibilidade aproveitável.
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4- PORQUE A POTENCIALIDADE E A DISPONBILIDADE HÍDRICA REAL DAS RESERVAS DE
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DOS ESTADOS SÃO SUFICIENTES PARA ATENDER TODA A
DEMANDA ATÉ O ANO 2050
Baseados nos conceitos acima citados e partindo de uma análise criteriosa dos levantamentos
hidrogeológicos efetuados em todo o Nordeste o hidrogeólogo Waldir Duarte Costa (UFPE) em
Costa & Costa, (1997) reuniu informações que permitiram atribuir aos estados do CE, RN, PB e
PE, reservas permanentes de água subterrânea avaliadas em 1,185 trilhões de m³ podendo ser
retirada destas reservas uma parcela de (0,6% ao ano) 7,11 bilhões de m³ correspondendo
a 30% em 50 anos passíveis de explotação sem que haja prejuízo e risco de
superexploração e exaustão dos aqüíferos durante este período.
O cálculo das recargas anuais renováveis dos aqüíferos pode ser aqui estimada pelo método de
simulações desde que serão usados os índices de infiltrações conhecidos para os aqüíferos um
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método aceitável quando não se conhece a porosidade efetiva e a espessura da camada satura do
aqüífero, mais se tem disponível a área de recarga e a media das precipitações pluviométricas
anuais.
Conforme o método vamos admitir que a área dos quatro estados seja de 357.485 km2 e que
70% (250.239 km2) seja coberta por rochas cristalinas (tem autores que só adietem entre 55%
e 60%) com uma precipitação pluviométrica media anual de 700 mm teremos então um
volume previsível precipitado de 175.167.300.000 m³. Usando a taxa de 0,15% praticada no
Nordeste do Brasil para o cálculo da infiltração nos aqüíferos fissurais do cristalino teremos
uma recarga anual renovável para o aqüífero de 262,75 milhões de m³.
Representando 30% da área total dos quatro estados as coberturas sedimentares recobrem uma
faixa de 107.245 km2. Aplicando a precipitação pluviométrica media anual de 700 mm teremos
um volume anual previsível precipitado de 75.071.500.000 m³. Para o calculo da recarga
renovável dos aqüíferos sedimentares usaremos como padrão a mesma taxa genérica de 5,96% (
a taxa pede chegar ao Nordeste até 20% ) que é praticada para o cálculo da infiltração na
bacia sedimentar do Apodi aplicada para o aqüífero Açu. Usando esta taxa como uma media
padrão, resulta uma recarga anual renovável de 4,474 bilhões de m³ compatível para os
aqüíferos sedimentares distribuídos pelas grandes bacias sedimentares periféricas e as pequenas
bacias remanescentes interiores do Nordeste Setentrional.
Conforme o cálculo acima, as recargas anuais dos aqüíferos cristalino e sedimentar para toda a
região que engloba os estados do CE, RN, PB e PE ou seja, o total estimado para a recarga
reguladora renovável chega a 4,737 bilhões de m³ .
As reservas hidrogeológicas totais para os quatro estados somam 1,189 trilhões de m³.
Corresponde a soma das reservas permanentes (1,185 trilhões de m³) , mais as reservas
reguladoras, que constituem aos volumes anualmente renovados (4,737 bilhões de m³).
A disponibilidade potencial dos aqüíferos ou seja as reservas totais explotáveis para os estados
do CE, RN, PB e PE chegam a um número fantástico de 11,847 bilhões de m³ (100% de
garantia) correspondendo à soma das reservas permanentes explotáveis ( 7,11 bilhões de m³ )
mais as recargas renováveis ( 4,737 bilhões de m³ ) que podem ser explotadas. Equivale a uma
vazão potencial de 377,25 m³/s só de água subterrânea que pode ser explotada em 50 anos
(0,6% ao ano) sem que haja prejuízo e risco de superexploração e exaustão dos aqüíferos
durante este período.
Ressalte-se que a ABAS Associação Brasileira de Águas Subterrâneas em seu projeto
para o aproveitamento dos Recursos Hídricos Subterrâneos do Nordeste admite
disponibilizar através de apenas 2.736 poços tubulares para atender uma população de
15.761.055 habitantes para os nove estados do nordeste MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL, SE e
BA uma vazão 364,83 m³/s podendo atingir até 668 m³/s ou seja, podendo disponibilizar
um volume em torno de 21,06 bilhões de m³ anuais.
Juntos o sistema integrado água superficial mais água subterrânea ou seja, a soma total de toda
a água em disponibilidade para os estados do CE,RN,PB e PE,representa o fantástico
volume de 20,726 bilhões de m³ explotáveis (100% de garantia).
Todo este fabuloso potencial hídrico representa um volume equivalente a uma vazão de oferta
potencial de 657,21 m³/s. (100% de garantia) já descontadas as perdas por evaporação e
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pontos de fuga dos sistemas barragens. Ela é suficiente para atender toda a demanda da
população do Nordeste estimada pelo IBGE para o ano 2020 em 26.844.626 habitantes.
Aplicando a taxa 200 l/hab./dia (0,2 m³/hab./dia) prevista pela Organização Mundial de
Saúde esta população deverá consumir 1,96 bilhões de m³ ao ano e ainda dá para irrigar a uma
taxa de 7.000 m³/ha.ano (indicador de água derivada para irrigação usado pela CODEVASF)
635.380 hectares (potencial de terras férteis irrigáveis para os quatro estados) que deverá
consumir 4,47 bilhões de m³ ao ano, totalizando um consumo de 6,43 bilhões de m³ ano
deixando um excedente hídrico para os quatro estados em 2020 de 14,29 bilhões de m³ .
Agora os cálculos serão refeitos para a projeção da área irrigada para o ano 2020 prevista para
atingir apenas 112.974 hectares ( projeção da área irrigada por unidade de planejamento do
Projeto ÁRIDAS correspondentes as áreas irrigáveis das bacias receptoras JAGUARIBE, APODI-
MOSSORÓ, PIRANHAS-AÇU, LESTE POTIGUAR e ORIENTAL PARAÍBA ). Aplicando a taxa de
7.000 m³/ha./ano praticada pela CODEVASF no pólo de irrigação Petrolina - Juazeiro (taxa
bastante alta) chegará a 790,89 milhões m³ ao ano para atender a demanda de consumo para
irrigação, valor bem mais a baixo que o volume calculado anteriormente.
Junte-se a este volume o consumo de 1,96 bilhões de m³ da população projetada para 2020
(26.844.626 habitantes) significa que em 2020 estaremos atendendo a uma demanda de apenas
2,75 bilhões de m³ para uma oferta potencial de 20,726 bilhões de m³ (água subterrânea mais
superficial) gerando um superávit hídrico de 17,975 bilhões de m³.
Pelo exposto, temos uma vazão de oferta potencial de 657,21 m³/s para apenas uma demanda
estimada previsível de 87,2 m³/s. Não vai faltar água até 2020 quiçá até o ano 2050 na Região
Setentrional do Nordeste do Brasil.
Conclui-se que o nordestino não precisa da água do "Velho Chico" sim de políticas publicas
continuas que permitam a distribuição das águas superficiais armazenadas nos mega-açudes e a
captação do potencial hídrico subterrâneo existente para atender satisfatoriamente a demanda
sem que seja necessário transpor uma só gota d´água do "Velho Chico".
O projeto vai entregar a água bruta ao longo de quatro eixos lineares ( leitos dos rios,
Jaguaribe, Piranhas – Açu, Apodi e Rio Paraíba), já perenizados a mais de 25 anos, deixando
de contemplar as áreas de maior escassez hídrica como a Região do Serido, e não atendendo a
população dispersa fora do eixo da transposição.
O rio Jaguaribe, por exemplo, é um rio perene, recebendo as águas da barragem do Açude de
Orós (vazão 12 m³/s) sendo reforçado a sua jusante pelas águas da Barragem do Açude
Castanhão (vazão 57 m³/s) e do rio Banabuiú com oferta de 7,2 m³/s. O rio Piranhas - Açu
também perenizado a partir da barragem dos Açudes Curemas - Mãe D´água (vazão 4 m³/s)
deságua a jusante, na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves ou Barragem do Açu,
regularizando sua vazão em 17 m³/s. até o destino final, o Oceano Atlântico. O rio Apodi torna-
se perene a partir da barragem do Açude Santa Cruz com uma vazão regularizada de 6 m³/s e
por último os açudes Acauã e Boqueirão na Paraíba regularizam a vazão do rio Paraíba em
6,5 m³/s , vai chover no molhado.
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6.1- Existência de excedente hídrico na bacia doadora, em tempo suficientemente longo, de
modo a não provocar prejuízo ao seu potencial de desenvolvimento; ( toda a vazão do rio São
Francisco já está comprometida, 80% da vazão do rio já são utilizada para a geração de
energia pela CHESF que investiu US$ 13 bilhões de dólares no parque energético e os
20% restante para usos múltiplos na irrigação, industrial, consumo humano e animal);
6.2- Bacia receptora com comprovada escassez e sem alternativa interna para abastecimento
humano e dessedentação animal; ( os quatro estados CE, RN, PB e PE juntos dispõe de um
mar de água doce apresentando um excedente hídrico de 17,97 bilhões de m³);
6.3- Os impactos ambientais ocasionados pela transferência de água devem ser mínimos para
ambas as regiões, bacias doadora e receptoras; ( Os estudos sobre os impactos na bacia
doadora e nas bacias receptoras não foram efetuados. A ausência de estudos sobre os
impactos na foz também é questionada);
a) Haver uma relação custo-benefício sustentável para a transposição ser feita e que seja
socioambientalmente aceitável;
b) Bacia doadora tem prioridade para atender todo o seu potencial dos usos múltiplos de
desenvolvimento econômico;
c) Bacia receptora tenha potencial de terras irrigáveis e uso econômico da água mais
vantajoso que na bacia doadora;( a água da transposição vai chegar de 5 a 10 vezes mais
cara do que nas margens do São Francisco).
6.5- Haver um consenso entre os estados envolvidos o pacto federativo; (não houve consenso
pois os governadores interessados Aécio Neves de Minas e Paulo Souto da Bahia, os dois
maiores estados doadores de água ( 70% de Minas e 20% da Bahia ) não foram ouvidos.
As audiências publicas ocorreram em clima hostil como a de Salvador que foi
comprometida por uma série de fatores como o local escolhido para o evento, o Centro de
Convenções da Bahia local distante do centro da cidade e em horário de pico (18h30) além
da proximidade com o Carnaval e a realização da festa da Lavagem de Itapuã no mesmo
dia da audiência, foram fatores determinantes de exclusão de muitos debatedores.
Inúmeros debatedores deixaram de comparecer as audiências porque os convites ou
chegaram em cima da ora ou dias após a audiência ter sido realizada, exemplo a de
Aracaju);
A transposição dos rios Tejo - Segura trouxe mais problemas do que soluções para o
governo Espanhol, tanto assim, é que foi abortado o projeto de transposição do rio Ebro para as
zonas costeiras do sul da Espanha baseado em relatórios do Centro de Recursos e Estudos
Ambientais da Australian National University que apresentou as seguintes justificativas para dar
segurança na decisão do Governo Espanhol de fazer ou não a transposição do Rio Ebro. "Seria
difícil de justificar até mesmo os atuais padrões de utilização agrícola da água e muito menos
esperar maiores usos da água para outros fins. Além disso, o custo estimado de entregar a água
por metro cúbico do rio Ebro para as bacias receptoras é quase 50 por cento mais elevado do
que o atual custo da dessalinização da água do mar ".
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REVOGAÇÃO DA TRANSPOSIÇÃO DAS ÁGUAS DO RIO EBRO, NA ESPANHA
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metade da energia gerada em Sobradinho) que a CHESF terá que repor além do acréscimo do
aumento crescente previsto para o consumo de energia no Nordeste entre 4 a 5% ao ano;
c) A substituição por energia térmica, eólica, solar, atômica, etc., ao custo de US$ 45,00 na
alternativa mais barata, são 2,5 a 3 vezes superior ao custo médio da energia hidrelétrica, (da
ordem de US$ 17,10 o MW/hora), ficando esta diferença por conta do consumidor que deverá
pagar a conta com um subsídio cruzado de 4%).
a) São três os requisitos essenciais para a transposição racional de água de uma bacia
hidrográfica para outra, com finalidade de irrigação;
b) haver uma bacia ou uma área com terras irrigáveis, mas com escassez de água (bacia
receptora); ( a bacia possui disponibilidade hídrica para o potencial de terras irrigáveis de
635.380 hectares e ainda um excedente hídrico anual de 17,975 bilhões de m³.)
c) Haver outra bacia com muita água sobrando e sem terras para irrigação (bacia doadora); (o
rio São Francisco dispõe de cerca de 1.300.000 hectares de terras irrigáveis de classes
1 e 2 (quase sem restrições à irrigação), dos quais 770.000 hectares já projetados,
esperando apenas por água. O potencial de áreas irrigáveis do São Francisco é de
3.000.000 ha. Se considerarmos 7000 m³/ha./ano como um número razoável para fins de
cálculo da irrigação que é praticada atualmente no vale do São Francisco, seriam
necessários 665,9 m³/seg para irrigar aquela área potencial. Ocorre que não temos
esse volume disponível no rio, temos apenas 360 m³/seg para outorga estipulado pelo
Comitê da Bacia do Rio São Francisco dos quais 335 m³/s já foram outorgados (desses,
efetivamente, só estão sendo utilizados 91 m³/s), ou seja, já há o direito adquirido de uso da
maior parte desse volume, restando portanto, um saldo de apenas 25 m³/s . Apesar de
termos uma área potencialmente irrigável de 3.000.000 ha, só é possível irrigar com o
volume de água disponível para outorga 25 m³/s cerca de 112.628 ha.);
d) Haver uma relação custo-benefício aceitável para a transposição ser feita (por gravidade
ou pequena altura de elevação, com transporte a menores distâncias, etc). E que seja
socioambientalmente aceitável; (o m³ de água posto nos estados receptores custará cerca de
R$ 0,11 ( IEA-RIMA.) Esse valor é proibitivo para uso no agro-negócio, principalmente
em atividades irrigacionistas, se considerarmos o custo cobrado pela CODEVASF, aos
seus colonos, de R$ 0,023 o m³ sem custos de bombeamento e distribuição. A população
vai pagar mais caro pela água transposta através de um subsidio cruzado de 4%. na conta
do consumidor);
IMPACTOS RELEVANTES:
● Início ou aceleração dos processos de desertificação durante a operação do sistema;
● Perda de terras potencialmente agricultáveis;
● Interferência e conflitos nas áreas de mineração já com concessão de outorga pelas quais
passarão as águas;
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● Perda e fragmentação de cerca de 430 hectares de áreas com vegetação nativa e de hábitats de
fauna terrestre;
● Diminuição da diversidade de fauna terrestre;
● Aumento da exposição a caça de animais vulneráveis ou ameaçados de extinção regional,
como o tatu-bola, a onça-pintada, o macaco-prego, tatuí, porco-do-mato e o tatu-de-rabo-mole.;
● Modificação da composição das comunidades biológicas aquáticas nativas das bacias
receptoras;
● Comprometimento do conhecimento da história biogeográfica dos grupos biológicos
aquáticos nativos;
● Risco de redução da biodiversidade das comunidades biológicas aquáticas nativas nas bacias
receptoras;
● Risco de introdução de espécies de peixes potencialmente daninhas ao homem nas bacias
receptoras. Há espécies no Rio São Francisco consideradas nocivas, como as piranhas e
pirambebas, que se alimentam de outros peixes e que se reproduzem com facilidade em
ambientes de água parada;
● Interferência sobre a pesca nos açudes receptores;
● Risco de proliferação de vetores da malária, filariose, febre amarela, e da esquistossomose
principalmente ao longo dos canais;
● Ocorrência de acidentes com animais peçonhentos sobretudo cobras;
● Instabilização de encostas marginais dos corpos d’água;
● Início ou aceleração de processos erosivos e carreamento de sedimentos;
● Modificação do regime fluvial das drenagens receptoras;
● Alteração do comportamento hidrossedimentológico dos corpos d’água;
● Risco de eutrofização dos novos reservatórios;
● Modificação no regime fluvial do rio São Francisco;
●Desestabilização do leito e das margens do rio, com erosão, voçoroca e assoreamento;
● Sanilização das águas com introdução de cunha salina na foz do rio São Francisco;
● Salinização de solos principalmente no vale do Baixo e Submédio Rio São Francisco;
● Leito do rio seco ou com escassez de água entre a foz e a Hidrelétrica de Xingó com extinção
de espécies de peixes e da navegação no Baixo e Submédio rio São Francisco já bastante
afetada pelo assoreamento;
CURIOSIDADE:
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quilômetros de comprimento por 8 metros de diâmetro (o túnel Cuncas I, localizado no ramal
norte). Trata-se de uma obra verdadeiramente monumental com perfuração em rocha granítica
de alta dureza.
Do ponto de vista de viabilidade técnico-econômica o que seria mais viável: construir o túnel
com essas dimensões ou transportar a água, por intermédio de uma estação elevatória, vencendo
o relevo existente?
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