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DIA DOS PAIS

Meu pai est to velhinho, tem a mo branca e comprida, parecendo a sua vida, longa vida que se esvai. E eu o lembro quando moo de uma atltica altivez. Ah! Tinha fora por trs! Voc se lembra, papai? Menino, ouvia dizer que voc era um gigante. Eu ficava radiante e tambm me agigantava. Porque toda madrugada, eu quentinho do agasalho, ao sair para o trabalho o gigante me beijava. Sua grande mo de ferro parecia leve, leve naquela carcia breve que da memria no sai. Depois um beijo em mame e o meu gigante partia. E a casa toda tremia com os passos de papai. Mas agora o seu retrato muito moo, muito antigo, se parece mais comigo do que mesmo com voc. Voc j lembra vov e, medida que envelhece, papai, voc se parece com mame, no sei por qu. Voc se lembra, papai? Quando mame, de repente, caiu de cama, doente, era o pai quem cozinhava. To grande e desajeitado a varrer Quando eu o via de avental, papai, eu ria; eu ria e mame chorava. Eu quis deixar o ginsio para ganhar ordenado, ajudar meu pai cansado, mas tal no aconteceu. Papai disse estas palavras: Sou um operrio obscuro, mas voc ter futuro, ser melhor do que eu. Eu? Melhor que este velhinho

a quem devo o po e o estudo? Que pobre porque deu tudo Famlia, Ptria, F? Meu pai, com todo o diploma, com toda a universidade, quisera eu ser a metade daquilo que voc . E quero que voc saiba que, entre amigos, conversando, meu assunto vai girando e no seu nome recai. Da sua fora, coragem, bondade eu conto uma histria. Todos veem que a minha glria ser filho de meu pai. Um dia eu fui tomar banho no rio que estava cheio. Quando a correnteza veio, vi a morte aparecer. Papai saltou dentro dgua nadando mais do que um peixe, salvou-me e disse:_ No deixe! No deixe mame saber!. Assim foi meu pai, o forte que respeitava a fraqueza. Nunca humilhou a pobreza, nunca a riqueza o humilhou. Estava bem com os homens e com Deus estava bem. Nunca fez mal a ningum e o que sofreu perdoou. Perdoa ento se lhe falo Daquilo que no se esquece. E a minha voz estremece e h uma lgrima que cai. Hoje sou eu o gigante e voc pequenino. Hoje sou eu que me inclino. Papai a bno, papai.

Giuseppe Artidoro Ghiaroni


Nasceu em Paraba Do Sul, (RJ), no dia 22 de fevereiro de 1919. Jornalista, poeta, redator e tradutor; Depois de ter sido ferreiro, office-boy e caixeiro, passou a redator do Suplemento juvenil iniciandose assim no jornalismo de onde passou para o Rdio distinguindo-se como cronista e novelista. Faleceu em 2008 aos 89 anos.

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