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Medias Digitais e Construção da Identidade Social

Actividades Sociais e Desenvolvimento da Identidade nos Jovens

Porque é que os jovens adoram as redes sociais


Why Youth ♥ Social Network Sites: The Role of Networked Publics in Teenage Social Life
Danah Boyd, 2008
Universidade da Califórnia, Berkeley School of Information.

Durante 2005, as redes sociais e sites como MySpace e Facebook tornaram-se destinos
comuns para os jovens nos Estados Unidos. No país inteiro os jovens ficaram conectados
elaborando criativos perfis, articulando publicamente os seus relacionamentos com outros
jovens e escrevendo comentários sobre o passado e o futuro.
No início de 2006 muitos consideraram as redes sociais como uma participação chave e o My
Space essencial para ser visto na escola. Nem todos os adolescentes são membros das redes
sociais, no entanto, esses sites desenvolveram uma importante ligação cultural entre os
adolescentes americanos num curto período de tempo.
A rápida adopção de sites de redes sociais pelos adolescentes dos Estados Unidos e em outros
países ao redor do mundo levanta algumas importantes questões. Por que é que os
adolescentes voam em bando para esses sites? O que é que estes expressam? Como é que
esses sites se encaixam nas suas vidas? O que eles estão a aprender desta participação? São
essas actividades online como amizades cara a cara ou são diferentes ou complementares?
O foco deste capítulo é dar resposta a estas perguntas e explorar as suas implicações nas
identidades jovens.
A autora começa por observar a forma como os adolescentes estão a modelar a identidade
através de perfis em redes sociais, bem como o modo como eles podem escrever-se na sua
comunidade. A partir desta base, irá investigar como este processo de expressão articulada
apoia a crítica, a sociabilidade baseada no cara a cara, porque ao se permitir que a juventude
circule entre seus amigos e colegas de classe, os sites de redes sociais estão fornecendo aos
adolescentes um espaço para trabalhar suas identidades e status, dando sentido a tópicos
culturais e negociando com a vida pública.

Metodologia e demografia

Os argumentos apresentados neste capítulo são baseados em dados etnográficos recolhidos


durante o estudo que a autora fez ao My Space quando estudou nos Estados Unidos, passando
inúmeras horas analisando os perfis, blogs e comentários dos adolescentes em todo Estados
Unidos. Embora tenha entrevistados mais velhos, a grande maioria das pessoas entrevistadas
e observadas estão na idade do nível secundário vivendo com um dos pais ou tutor. Por esta
razão, chamou-os de adolescentes, encontrando-se estes na faixa etária dos 14 aos 18 anos.
Num estudo realizado no final de 2006, descobriu-se que 55 por cento dos jovens com idades
compreendidas entre doze e dezassete anos criaram perfis de rede social e sites contra 64 por
cento dos adolescentes com idades compreendidas entre os quinze e os dezassete anos.
Embora esses números estejam de certa forma baixos, está muito claro que nem todos os
estudantes que participam em comunidades on-line, exigem criação de conteúdo público tais
como sites de redes sociais.
Qualitativamente, parecem existir dois tipos de não participantes: os desconectados e os que
se recusam conscientemente. Os primeiros consistem naqueles sem acesso a internet, aqueles
cujos pais os proibiram da participação, e os adolescentes online os quais primariamente
acessam a internet através da escola ou outros locais públicos onde os sites de redes sociais
não fazem parte. Os que se recusam conscientemente estão com as mentes politicamente
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contra e desejam protestar contra Murdoch's News Corp (o proprietário do My Space),
adolescentes obedientes os quais respeitam ou concordam com os conceitos morais dos seus
pais, e outros adolescentes marginalizados que dizem os sites sociais são feitos para miúdos
fixes e outros que se sentem que são bons demais para esses sites.
Na essência My Space é a sociedade civil da cultura adolescente: se não és a favor és contra,
todos conhecem o site e têm uma opinião sobre ele.
Raça e classe social também exercem um papel em termos de acesso da população
desconectada anteriormente mencionada. Adolescentes negros urbanos e pobres parecem ser
os que mais querem participar do site, enquanto que adolescentes brancos com maior poder
aquisitivo o que fazem tem muito a ver com seu alto nível de acesso a internet. Aqueles que
acessam suas contas na escola usam-na primariamente como uma ferramenta de comunicação
assíncrona, enquanto que aqueles com acesso contínuo à noite em casa passam mais tempo a
surfar na internet, modificando o seu perfil, coleccionando amigos e falando com estranhos.
Quando chegam aos sites e redes sociais parece haver uma maior participação do que numa
página individual.
O género também parece influenciar na participação dos sites de redes sociais. Rapazes mais
jovens estão mais propensos a participar do que raparigas mais jovens. (46 por cento vs 44 por
cento). Mas raparigas mais velhas estão bem mais inclinadas a participar do que rapazes mais
velhos. (70 por cento vs 57 por cento). Rapazes mais velhos estão duas vezes mais inclinados
a usar os sites para flirtar e levemente mais inclinados a usar os sites para conhecer novas
pessoas do que as raparigas da sua idade. Raparigas mais velhas estão bem mais inclinadas a
usar esses sites para se comunicarem com amigos que elas encontram pessoalmente do que
pessoas jovens ou garotos de sua idade. Embora as diferenças de género e de sexo existam e
não devam ser ignoradas, a grande discussão deste artigo refere-se a prática do que é comum
para rapazes e raparigas.
Fundamentalmente este capítulo é um caso de estudo baseado em dados etnográficos. A
principal meta é simplesmente descobrir algumas das maneiras mais comuns nas quais
adolescentes agora vivenciam a vida social online.

A elaboração de sites de redes sociais.

Lançado em 2002, o Friendster cedo se popularizou entre os indivíduos urbanos entre os vinte
e os trinta anos. Embora alguns usassem o site com propósito pessoal de conhecer parceiros,
outros desenvolveram uma variada gama de actividades. No verão de 2003 algumas bandas
sedeadas em São Francisco aperceberam-se que poderiam utilizar o site para comunicarem
com os seus fãs e promover os seus concertos. O Friendster proibiu esta prática. Quando o
MySpace foi lançado no Outono de 2003, a recepção às bandas online rapidamente atraiu a
atenção de músicos de rock na vizinhança de Silverlake em Los Angeles.
Nos EUA, devido à lei do álcool, os fãs tem que ser maiores de idade, 21anos, para poderem
assistir aos concertos. Quando os adolescentes descobriram que as suas bandas favoritas
possuiam perfis no MySpace, começaram a visitar o site com maior frequência. Um
relacionamento simbiótico entre as bandas e os fãs rapidamente surgiu no sistema.
Enquanto a primeira onda de jovens participantes ouviu falar dos sites devido ao seu interesse
por música e músicos, muitos começaram a participar por causa da disponibilidade social, o
voyeurismo e a oportunidade de esboçar uma representação pessoal numa comunidade online
em ascensão.
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Ao contrário dos utilizadores mais velhos, os adolescentes adoram visualizar o seu mundo
social através de uma colecção de perfis em rede. Enquanto muitos adultos tiram partido da
sociabilização com estranhos, os adolescentes sentem-se mais focados em se sociabilizar com
as novas celebridades que conheceram pessoalmente e que adoram.
Em meados de 2005 o MySpace foi o destino popular para estudantes do secundário nos
Estados Unidos, mas os adolescentes de outros países estavam numa variedade de outras
redes sociais: Friendster, Orkut e Hi5 começaram a atrair a atenção de audiências mais jovens
desses países. Outros surgiram com diferentes públicos jovens em vários países do mundo:
Facebook, Tagworld, Bebo, Piczo, Faceparty, Mixi, Black Planet, Asian Avenue e MiGente.
Em 2005 a Fox Interactive Media (uma divisão da Murdoch's News Corporation) comprou o My
Space por US$580 Milhões. Infelizmente ainda não se sabe muito sobre os efeitos a longo
prazo da participação corporativa em redes sociais.
Existem dezenas de sites de rede social e a participação tende a seguir linhas de linguística e
cultura. As várias comunidades que se estabelecem acabam por não comunicar muito entre si,
apesar das muitas semelhanças estruturais das redes. Fundamentalmente, as redes sociais
são sites de uma categoria da comunidade que tem perfis, amigos e comentários.

Perfis, Amigos e Comentários

Os sites de redes sociais estão baseados em perfis – como que uma home page individual (ou
de grupo) onde se encontra a descrição de cada membro. Neste podemos encontrar imagens,
vídeos, músicas e um sem número de outros aplicativos que melhor definem cada utilizador. O
MySpace permite várias alterações do layout, e a personalização dos perfis de cada utilizador,
transformando este espaço como um adolescente transforma o seu quarto. Permite ainda
definir os acessos, de forma a que, apesar de público, o perfil se torne privado para um grupo
de utilizadores mais restrito (amigos).O Facebook permite ainda dar acesso ao perfil apenas a
pessoas, por exemplo, da mesma escola.
A rede de utilizadores cresce a cada momento em que um novo perfil é ligado a vários
utilizadores, aumentando a rede de contactos de cada um deles.
Os utilizadores ligados podem fazer comentários aos perfis dos seus amigos online e preencher
espaços no perfil de cada um. Estes comentários criam uma enorme reciprocidade e reforçam
laços virtuais entre utilizadores.

Redes Públicas

Redes Públicas referem-se a locais públicos acessíveis a qualquer pessoa, onde se poderá
participar ou simplesmente observar. O termo público também se refere a um conjunto de
pessoas que podem não se conhecer, mas partilham “uma compreensão do mundo, uma
identidade partilhada, uma busca de inclusão, um consenso com vista a um interesse colectivo”
(Livingstone, 2005). Ainda no que diz respeito a público: existem diferentes conjuntos de
pessoas dependendo da situação particular em que se encontram. Falar sobre um público
pressupõe ainda que existam múltiplos públicos separados por contextos sociais. A autora usa
as diferentes terminologias consoante o sentido que lhes atribui.

Os sites de redes sociais permitem que os públicos se reúnam. Simultaneamente ao servir


como um espaço onde o discurso tem lugar, eles próprios tornam-se públicos. Os próprios sites
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distinguem-se também entre público e privado. Público significa que um perfil é visível a
qualquer pessoa e privado significa que é dirigido apenas a amigos (Friends-Only).
O tipo de públicos que se reúnem nos sites de redes sociais e os tipos de públicos que esses
sites comportam são profundamente afectados pela natureza mediada da interacção. Por esta
razão, estes sites distinguem-se entre públicos, não simplesmente público e redes públicas,
não simplesmente públicos.

O estudo da autora centra-se nos espaços e nas audiências que estão ligados por meio de
redes tecnológicas como a Internet ou as redes móveis. As redes públicas são um tipo de
público mediado; a rede medeia as interacções entre membros do público. A autora faz a
distinção entre públicos não mediados e públicos em rede apresentando quatro propriedades
que caracterizam esta última:

1- Persistência – nos públicos não mediados o discurso tem um carácter efémero. Nas
comunicações em rede este é gravado para a posteridade. Isto possibilita a comunicação
assíncrona, estendendo igualmente o período de existência de qualquer acto locutório.
2- Pesquisabilidade – uma vez que as expressões são gravadas e a identidade é estabelecida
através do texto, os motores de busca e pesquisa ajudam as pessoas no rastreio. Nos espaços
não mediados as pessoas não conseguem habitualmente obter as coordenadas geográficas de
alguém. Encontrar um “corpo digital” online é só uma questão de palavras chave correctas.
3- Replicabilidade- o “diz que disse” pode ser passível de má interpretação, mas as
expressões do público em rede podem ser copiadas de um lado para o outro vezes sem conta,
até ser impossível distinguir o original da cópia (Negroponte, 1996, Being Digital).
4- Audiências Invisíveis- Nos espaços não mediados é possível detectar a maioria das
pessoas que ouve o nosso discurso. Nos públicos em rede torna-se virtualmente impossível
determinar todos aqueles que “passam” pelas nossas enunciações. Além disso, qualquer
elocução nossa pode ser ouvida/lida num tempo e espaço diferentes daquele onde foi
originalmente proferida.

Em suma, um público mediado (mais concretamente um público em rede) pode consistir no


conjunto de pessoas num determinado espaço e tempo. Claro que, na realidade, não o será,
mesmo quando uma pessoa deseja obter desesperadamente esta atenção.

Participação

As razões que os jovens apresentam para aderirem ao MySpace são vagas (“porque é onde os
meus amigos estão”, “não sei…ando por lá”, “porque estou aborrecido”…). Uma coisa é certa, a
popularidade do MySpace é grande e a sua função é fundamentalmente apoiar a socialização
entre grupos pré-existentes de amigos. Os adolescentes juntam-se ao MySpace:
− para manter conexão com os seus amigos;
− por diversão;
− por voyerismo social (passam o tempo a observar outros perfis, o que lhes permite
alargar a sua visão geral da própria sociedade).
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Iniciação – Criação do Perfil

Construir um perfil intrincado é um rito de iniciação. Os adolescentes aprendem tipicamente


através dos seus amigos acerca do MySpace. Aderem porque um(a) amigo(a) o(a) convida a
aderir.

Após a criação de uma conta, começam por preencher um formulário básico do site (livros
favoritos, sobre mim, etc). Antes de escreverem algo mais profundo, os jovens tendem a olhar
primeiro para o perfil dos outros, começando pelo amigo que o convidou. Ao ver esse perfil,
são-lhe oferecidas outras ligações a outros amigos do MySpace, podendo ficar horas a surfar
de Amigo em Amigo.Ao observar outros “profiles”, os jovens adquirem /desenvolvem a noção
do que é socialmente apropriado, fornecendo-lhes ideias para constarem no seu próprio perfil.
Na sua forma mais simples, os perfis apresentam fotos e as respostas personalizadas a
perguntas genéricas revelando pistas significativas sobre si próprio.Por outro lado, os perfis
também permitem a manipulação noutro nível de personalização. MySpace possui a
propriedade de se poder personalizar, adicionando códigos (HTML, CSS e Javascript) aos
campos dos formulários, alterando fundos e incluindo multimédia às páginas. Para o fazer, os
jovens valem-se de outros websites que dão instruções e o código para modificações na página
MySpace ou pedem ajuda a amigos.Através do processo copy-paste, os adolescentes colocam
o código na página trazendo inevitavelmente links para a página original de ajuda.Através dos
anos esta manipulação contribuiu para a socialização dos jovens no MySpace, aprendendo
quer os códigos sociais, quer os códigos tecnológicos. Enquanto a informação tecnológica lhes
faculta a habilidade para construir um perfil, a interpretação e avaliação desta performance é
ditada pelos protocolos sociais. É ainda um mecanismo através do qual os adolescentes
conseguem indiciar informações acerca das suas identidades e gostos.

Desempenho da Identidade

Erving Goffman (1956) chama “gestão da impressão” ao longo processo de desempenho,


interpretação e ajuste onde as pessoas procuram definir uma situação através do seu
comportamento.As normas sociais emergem de definições de situação, à medida que as
pessoa aprender a ler pistas do ambiente e se apercebem dos comportamentos
apropriados.Aprender a gerir as impressões é uma competência social que é afinada pela
experiência. Com o tempo aprendemos a interpretar situações, as reacções dos outros e até o
que projectamos sobre nós próprios. Ambientes sociais diversificados ajudam as pessoas a
desenvolver estas capacidades, na medida em que forçam o indivíduo a reavaliar os sinais que
aceitam como certos.Outro aspecto inerente aos ambientes mediados é a promoção da auto-
reflexidade (Giddens). O acto de articulação é diferente do modo como transmitimos informação
por meio dos nossos corpos. Jenny Sundén (2003) defende que a pessoa deve aprender a
“escrever para si mesma”, desenvolvendo a sua própria identidade.Não obstante considerar-se
que existe um maior controlo online, pois pode-se escolher cuidadosamente que informação
disponibilizar, corre-se o risco de se deixarem pistas sobre estes corpos digitais (como mostra
Amy Bruckman) que podem entrar em contradição com aquilo que se pretende transmitir
(Donath, 1999).

Escrever a identidade e comunidade do ser


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Um perfil do MySpace pode ser entendido como uma forma de digital body onde os indivíduos
devem escrever ao ser. Através dos perfis, os adolescentes podem expressar e destacar
aspectos da sua identidade para os outros verem e interpretarem.Estes perfis são construídos
para os seus amigos offline verem. Devido a esta ligação directa entre as entidades offline e
online, os jovens revelam a tendência em apresentar o lado que julgam ser melhor recebido
pelos seus pares.O desejo de ser “fixe” no MySpace é parte do desejo ainda maior de ser
validado pelos pares.Existem determinadas hierarquias sociais que regulam o grau de “ser fixe”
tanto offline, como online. Por exemplo, é fixe ter Amigos, mas tiveres demasiados Amigos, és
visto como a prostituta do MySpace. Estes indicadores (markers) de “fixe” estão enraizados na
cultura social do MySpace, pois têm a ver com a rede de Amigos que está subjacente. Os
Amigos do MySpace adicionam não só os amigos, mas também outras pessoas, porque seria
socialmente grosseiro dizer-lhes não, não só porque os faz parecer fixes, mas porque também
pode ser interessante ler os seus “posts”. Como os Amigos são exibidos no perfil individual, é
igualmente facultada informação significativa sobre essas pessoas. Por outras palavras, “tu és
quem conheces” (Irving, 1996).
Anunciar os amigos, os bons amigos e os melhores amigos, pode causar alguma mágoa nos
utilizadores na medida em que poderá haver quem sinta que a sua amizade não é
correspondida.
Aos escolherem os seus amigos, os adolescentes afirmam-se perante a sociedade. No
Myspace, os indicadores da popularidade e personalidade são condicionados de forma clara
pelos amigos e pares sociais.

Privacidade em Público – Criar o Meu espaço

A privacidade, para além dos limites estruturais, é também a capacidade de limitar o acesso
através das convenções sociais. As redes públicas tornam quase impossível a existência de
fronteiras estruturais. Os adolescentes inventam informações para se poderem proteger.
Enquanto que alguns pais incentivam esta prática como forma de protecção contra
desconhecidos, muitos adolescentes utilizam-na como forma de protecção contra os olhares
mais atentos e censores dos pais.
Embora os dados possam ser inventados e tornem mais difícil encontrar um utilizador, o
Myspace fornece caminhos alternativos para que seja possível encontrar alguém. Em primeiro
lugar, poucos adolescentes mentem acerca da escola que frequentam, m segundo lugar, os
adolescentes não recusam contactos com os amigos do mundo offline, mesmo que isso os
torne mais facilmente localizáveis. Ao obscurecerem a sua identidade para tentarem dificultar o
acesso por parte dos pais, os adolescentes acabam também por se tornarem invisíveis para os
seus pares.
Uma táctica comum consiste em tornar o perfil privado. Desta forma, os adolescentes escolhem
quem querem que aceda ao seu espaço: o acesso apenas é permitido por convite. Outra táctica
é a utilização de “contas espelho”, em que os pais acedem a uma “falsa” conta de utilizador
enquanto os seus filhos desenvolvem uma conta de utilizador paralela.
Os adolescentes, ao contrário dos adultos, encaram o Myspace como um espaço de
adolescentes para adolescentes que deveria estar vedado a adultos e embora seja frequente a
incursão dos adultos neste espaço, quer por considerarem que a rede é pública, quer para
controlo das movimentações dos seus filhos. O acesso dos adolescentes a uma rede pública
serve como uma tentativa de resolução dos seus problemas sociais num espaço mediatizado,
sem estruturas delimitativas das audiências. Um dos problemas que surge com a utilização de
redes sociais por parte dos adolescentes, tem a ver com a dualidade fixe/aceitável em relação
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aos outros adolescentes e aos pais.

A participação dos adolescentes no Myspace deve-se ao facto de a vida dos adolescentes estar
altamente estruturada. É difícil aferir se os adolescentes de hoje dispõem de mais ou menos
tempo livre que os das gerações anteriores, mas o aumento acentuado de famílias
monoparentais e biparentais trabalhadoras implica um maior envolvimento do adolescente em
actividades extracurriculares. Devido ao aumento da cultura do medo e segurança, é normal
que os adolescentes dediquem mais tempo aos programas em que estão inseridos do que a
eles próprios. Em casa, à noite, espera-se que façam os trabalhos de casa ou que passem
tempo com a família. No entanto, esta é uma perspectiva centrada na opinião dos adultos; para
uma grande parte dos adolescentes, a sua casa é um espaço regido por normas estritamente
controladas pelos adultos.
Outro factor tem a ver com a mobilidade: os adolescentes só se podem deslocar até onde e
quando lhes é permitido. Existem regras de recolher obrigatório para menores de idade, idade
mínima obrigatória para tirar a carta de condução, ter um emprego, etc.. A sociedade americana
idolatra e demoniza as crianças e adolescentes – os adultos temem-nos mas ao mesmo tempo
tentam protegê-los. As restrições à vida pública dificultam a inserção do adolescente na
sociedade e são um empecilho ao seu crescimento. Cometer erros e testar os seus limites
fazem parte da maturação da personalidade do indivíduo. Contudo, existe por parte dos adultos
a filosofia de que os adolescentes devem ser protegidos dos seus erros.
Os adolescentes de hoje, não têm o mesmo perfil que os do início do século XX. Até à Grande
Depressão (1929), por volta dos 14 anos, os jovens iniciavam a sua actividade laboral. Dada a
crise vivida nessa altura, os movimentos laborais e os reformistas sociais conseguiram, numa
tentativa de manter os postos de trabalho dos adultos, convencer o congresso dos EUA a criar
a escolaridade obrigatória e as leis de trabalho infantil. Desta forma os jovens foram
segregados da sociedade dos adultos. Surgiram instituições a oferecer actividades e desportos
que mantinham os jovens afastados do mundo dos adultos tanto no trabalho como no lazer. Os
jovens estavam a ser socializados numa sociedade que não incluía adultos.
No período pós II Guerra Mundial as empresas começaram a direccionar o seu mercado para
os jovens, apresentando produtos e marcas baseados na cultura teen. Espaços como
discotecas, pistas de bowling e outros centros de actividade ofereciam aos jovens as
oportunidades de socialização com os seus pares. A maioria destes espaços não existe
actualmente.
Nos finais do Século XX, os centros comerciais assumiram o seu papel como principal espaço
de socialização entre os adolescentes. Actualmente os grupos de adolescentes já não são tão
bem vistos nos centros comerciais, no entanto, embora haja uma reacção hostil sua presença,
uma grande parte dos produtos apresentados destina-se ao mercado juvenil.
Colectivamente, quatro forças principais – sociedade, mercado, lei e arquitectura – construíram
uma cultura teen profundamente consumista mas sem suporte. As contradições aprofundam-se
– vendemos sexo aos adolescentes mas proibimo-los de o fazerem: dizemos-lhe para
crescerem mas barramos-lhe o acesso aos costumes e às liberdades da sociedade dos
adultos.
Os adolescentes vivenciaram estas hipocrisias durante décadas. Actualmente a internet veio
mudar de uma forma radical a arquitectura; descentralizou os públicos, permite que os
adolescentes participem e naveguem em zonas que lhes estão vedadas enquanto permanecem
fisicamente em zonas regulamentadas pelos adultos (escolas, casa). A controvérsia surge
quando os pais tentam regulamentar os comportamentos dos adolescentes neste novo espaço,
e esse controlo leva a que os adolescentes se escondam.
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O que os adolescentes fazem nestas redes sociais é aquilo que poderiam fazer em qualquer
outro tipo de espaço público: estar com os amigos, trabalhar a sua apresentação e correr riscos
que os ajudarão a determinar as fronteiras do mundo social. Fazem-no porque pretendem
aceder e pertencer ao mundo da sociedade adulta.

Conclusão

Os públicos têm um espaço fundamental na criação de regras, no seu ajuste e reforço, e torna-
se necessário, principalmente para os adolescentes, a experimentação, a tentativa-erro e a
validação pública. Tanto para a definição da sua personalidade como para encontrar o seu lugar
na sociedade estabelecida, os jovens necessitam de locais públicos de interacção e teste das
suas capacidades e ideais. O papel dos adultos não deve ser o de restringir o acesso aos
meios públicos, de fiscalizar ou sobre-proteger, mas sim o de apoiar na recuperação de um erro
ou no incentivo que permite a evolução. Os jovens necessitam de entrar na “arena” social e
lutar, ganhando defesas e armas para uma sociedade exigente.
Os adolescentes dos dias de hoje vivem numa sociedade em que o âmbito público está a
mudar rápida e radicalmente.
Torna-se então imperativo que os adultos descubram como educar os adolescentes para
navegarem nas novas estruturas sociais que enfrentam.
Em vez de limitar, devemos procurar conhecer e aprender a utilizar este novo tipo de sociedade
pública online para os conseguirmos ajudar na sua difícil tarefa de construção de identidade e
sociabilização.

Grupo 3
Ana Cristina Marques
João Paulo de Melo Monteiro
Josete Maria Zimmer Jô
Octávio Silva Inácio

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