Cabrito ao leite

Por que foi ordenado aos israelitas que no cozinhassem a carne do cabrito no leite de sua me? (x 23:19)

Por Alberto R. Timm Trs vezes aparece no Pentateuco a ordem para os israelitas no cozinharem a carne do cabrito no leite de sua me (x 23:19; 34:26; Dt 14:21). Alguns comentaristas interpretam essa ordem como uma condenao a certos rituais pagos fertilidade praticados tanto no Egito, de onde os israelitas haviam sado, como na terra de Cana, para onde eles se dirigiam. Jamieson, Fausset e Brown, por exemplo, afirmam que os egpcios ferviam, ao trmino das colheitas, um cabrito no leite de sua me, e aspergiam o caldo, como um encantamento mgico, sobre os seus jardins e campos, para que estes os retribussem com mais produtividade na prxima estao (Jamieson, Fausset & Brown, sobre xodo 23:19). Jack Finegan argumenta que os textos ugarticos de Ras Shamra (localizada prximo costa mediterrnea da Sria) prescrevem o ato de ferver um cabrito no leite como parte da tcnica mgica para a produo das primeiras chuvas (Jack Finegan, Light from the Anciente Past, p. 148). A tradio judaica, por sua vez, probe o consumo de qualquer carne cozida no leite (Mishnah, Hullin 8:1-5). O pensador e exegeta judeu Filo (ca. 20 a.C. 50 d.C.) via a ordem de no cozinhar o cabrito no leite de sua me como uma proibio de natureza tica. Matar o animalzinho, segundo ele, implicava em (1) acrescentar me, alm da dor do parto, tambm a dor da separao afetiva de sua prole; (2) causar me o sofrimento de no ter o seu bere esvaziado do leite produzido para amamentar seu filho; (3) usar o prprio leite destinado a nutrir os vivos, para dar sabor e tempero ao animal morto (Filo, Sobre as Virtudes XXV-XXVI [125-144]). O texto bblico no deixa claro se a questo envolvida nessa proibio era primariamente o distanciamento dos rituais pagos fertilidade ou apenas a preservao do relacionamento me e filho (cabra-cabrito). evidente, no entanto, que a ordenana visava a distanciar os israelitas da prtica contempornea de cozinhar o cabrito no leite de sua prpria me, contribuindo assim para que o filhote permanecesse por mais tempo com a sua me.
Fonte: Sinais dos Tempos, abril de 1999, p. 29 (usado com permisso)

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