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Primeiros registros da
resistência negra são de 1575
No Paço da Cidade, senadores e outras autoridades assistem a D. Isabel assinar a Lei Áurea
Edição comemorativa dos 120 anos da Lei Áurea – Jornal do Senado – 12 a 18 de maio de 2008 – Ano XIV – Nº 2.801/172
2 Jornal do Senado Uma reconstituição histórica Rio de Janeiro, segunda-feira, 14 de maio de 1888
Com poucos efeitos práticos, a Lei Eusébio de Queiroz, a do erceira dita da proposta
da Câmara dos Deputados
Ventre Livre e a dos Sexagenários antecederam a Lei Áurea n. 42, de 1887, aprovando
a pensão de 1$4000 diá
rios aos menores irmãos
E
m 7 de novembro de José Bonifácio de Andrada mo em águas territoriais Para burlar a lei, fazen do 2º sargento do Corpo
1831, a Câmara dos e Silva chamou de “cancro brasileiras, e julgar seus deiros incentivaram o trá Militar da Polícia da Corte
Deputados promul mortal que ameaçava os comandantes. fico interno, tirando es Antonio Nery de Oliveira
gou uma lei que proibia fundamentos da nação”. O governo brasileiro não cravos de áreas em que a Araújo, para que votou-se
o tráfico de escravos afri O ato de 1831 foi um pri resistiu à pressão e o mi agricultura decaía, como dispensa de interstício.
canos. O texto, resultado meiro passo, mas ineficaz. nistro da Justiça de Dom os engenhos de açúcar do
de acordo do Brasil com A turbulência política em Pedro 2º, Eusébio de Quei Nordeste, para as lavouras egunda dita do proje
a Inglaterra, estabelecia várias províncias impediu roz, enviou projeto ao Par de café no Centro-Sul. Mas to do Senado letra S de
que todos os escravos que que o governo central fi lamento que determinava foi aprovado, em 1854, a 1887 determinando que
entrassem no território ou zesse cumprir a lei durante a apreensão de navios que Lei Nabuco de Araújo (mi a disposição do parágrafo
portos do Brasil vindos de as duas décadas seguintes. traficassem escravos. A Lei nistro da Justiça), que pre 1º do artigo 1º do Decreto
fora ficariam livres. Porém, Só com a pressão política nº 581, de 4/9/1850, co via sanções para as autori nº 3.300, de 9 de outubro,
o último desembarque de e militar inglesa o cenário nhecida como Lei Eusébio dades que encobrissem o não é aplicável ao minis
escravos africanos no país se modificou. Em 1845, o de Queiroz, considerava contrabando de escravos. tro do Supremo Tribunal
só ocorreria em 1855, no Parlamento em Londres criminosos o dono do navio, Com o fim do tráfico, pro de Justiça que exercesse já
litoral de Pernambuco. aprovou lei (o Bill Aber o capitão e seus subordina gressivamente os imigran semelhante cargo e tivesse
Os 14 anos entre a in deen) que dava à Marinha dos, além do pessoal em tes europeus começaram a mais de 72 anos de idade.
tenção e a realidade foram inglesa o direito de aprisio terra que participasse do substituir a mão-de-obra
a sobrevida daquilo que nar navios negreiros, mes comércio ilegal. servil.
Expediente
Esta edição especial reproduz os
principais episódios relacionados à
abolição da escravatura no Brasil.
O formato adotado simula o que
poderia ser uma edição do Jornal
do Senado publicada em 14 de
maio de 1888, dia seguinte ao da
assinatura da Lei Áurea. Naquele
período, o Senado não possuía ne
nhuma publicação jornalística. Os
textos foram elaborados com base
nos Anais do Senado e da Câmara
dos Deputados, jornais e revistas da
época e livros de estudiosos do mo
vimento abolicionista.
Ao chegarem ao Brasil, os negros ficavam em depósitos à espera dos leilões e onde eram inspecionados por compradores Créditos das fotos:
Pág. 1: Museu Histórico Nacional;
Rugendas/Fund. Joaquim Nabuco
Lei dos Sexagenários foi Pág. 2: Rugendas/Fund. Joaquim
Nabuco
D
esde a tarde de on- nefanda mácula da escra-
tem, dia 13, está vidão, como já lhe coube
extinto em todo o a de confirmar o decreto
Brasil o trabalho escravo, que não permitiu nascerem
prática das mais cruéis e mais cativos no Império (a
condenáveis que foi per- Lei do Ventre Livre)”.
mitida legalmente no país Falando em seguida, sem
por mais de 300 anos. Me- conter as lágrimas, Dona
nos de três horas depois da Isabel declarou:
aprovação do projeto pelo – Seria o dia de hoje um
Senado do Império, a Prin- dos mais belos de minha
cesa Regente Dona Isabel, vida se não fosse saber es-
com uma pena de ouro tar meu pai enfermo. Deus
ofertada pelo povo, san- permitirá que ele nos volte
cionava em solenidade no para tornar-se, como sem-
Paço da Cidade a já cha- pre, útil à nossa Pátria.
mada Lei Áurea. Participaram da ceri-
É opinião generalizada mônia, na Sala do Trono,
que a Pátria se tornou real- senadores, deputados, mi-
mente livre com o ato que nistros, magistrados, em-
retirou o Brasil da condi- baixadores e outras perso-
ção de única nação do Oci- nalidades, além de gente
dente que ainda explorava Sua Alteza Dona Isabel sancionou em nome de seu augusto pai a lei que acaba com a do povo que, em verdadei-
o elemento servil. Estima- escravidão, prática das mais cruéis que foi permitida no Brasil por mais de 300 anos ro delírio, invadiu o palá-
se que mais de 600 mil cio. Em frente ao edifício,
negros foram beneficiados no Senado se enfrentaram, sob os cuidados de três dos volta das 14 horas, rece- na Praça Dom Pedro 2º,
pela lei. quer defendendo, quer ata- melhores médicos euro- bendo demorados aplausos cerca de 5 mil pessoas se
Poucas vezes nos seus 62 cando o projeto, alguns dos peus. do público. aglomeravam. A multi-
anos de funcionamento a maiores tribunos do país. Confiante em que o Se- Coube a uma comissão dão irrompeu em ruidosas
Assembléia Geral produziu nado aprovaria a propos- de senadores, tendo à fren- aclamações quando o de-
uma lei com extraordinária Sorriso e lágrimas ta nesse domingo, Dona te Sousa Dantas, entregar putado Joaquim Nabuco,
rapidez como a que acaba A fisionomia da Princesa Isabel, que se encontrava à Princesa Regente o autó- de uma sacada do Paço,
de emancipar os escravos. Regente, sempre expres- em Petrópolis, dirigiu-se grafo do projeto, cujo tex- comunicou ao povo que
Foram só seis dias de tra- sando contentamento pelo de trem de ferro logo após to foi transformado numa não havia mais escravos
mitação da mensagem, ato que acabava de assi- o meio-dia para o Rio de verdadeira peça de arte no Brasil. Chamada pelos
não obstante a tentativa nar, às vezes dava ares de Janeiro. Acompanhada de pelo conhecido calígrafo cidadãos que se concen-
dos parlamentares antia- preocupação, em virtude seu esposo, o Conde d’Eu, Leopoldo Heck. Na opor- travam diante do palácio,
bolicionistas de imporem da gravidade do estado de e dos ministros do Império, tunidade, Dantas felicitou Dona Isabel surgiu numa
obstáculos à adoção de saúde de seu augusto pai, Costa Pereira, e da Agri- Dona Isabel “por caber-lhe janela, sendo mais uma
urgência para a matéria. que está em tratamento na cultura, Rodrigo Silva, Sua a glória de assinar a lei que vez aclamada pelos mani-
Nos debates na Câmara e cidade italiana de Milão, Alteza chegou ao Paço por apaga dos nossos códigos a festantes.
A
Princesa Im ter em lei a pro
perial Regente posta do governo,
Isabel enviara acho que é preciso No século 16 já
à Assembléia Geral, na
terça-feira 8 de maio
colocar acima de
tudo a legalidade
havia escravos
de 1888, a proposta dos atos do Parla no Brasil
determinando o fim mento – esbrave
da escravidão no País. jou o representan Há quem diga que os
Dois dias depois, o pro te dos fazendeiros primeiros negros foram
jeto já estava aprovado fluminenses, acu trazidos ao Brasil en
em segundo turno, e sando os abolicio tre os anos de 1516 e
seguia para o Senado. nistas de rasgar o 1526, mas somente com
A aprovação se deu Regimento da Câ o desenvolvimento do
em tempo recorde, mara. cultivo da cana no Nor
graças ao esforço da O Barão de Lu deste cresceu significati
bancada antiescrava cena submeteu à vamente a demanda por
gista – liderada pelo votação o requeri negros escravos. É difícil
pernambucano Joa mento, aprovado avaliar com precisão o
quim Nabuco – e com Na Câmara, 83 deputados votaram a favor da abolição; apenas nove, contra pelo Plenário da volume do tráfico exter
a ajuda do presidente Câmara, por am no para o Brasil duran
da Casa, Henrique Perei do pelas galerias. Joaquim de uma comissão especial e pla maioria. Dispensados te os três séculos e meio
ra de Lucena, o Barão de Nabuco era um dos mais a dispensa de todos os pra diversos prazos e exigên de duração do trabalho
Lucena (PE). O ministro emocionados. zos e interstícios para que a cias regimentais, menos de escravo. A maioria dos
da Agricultura, deputado – A escravidão ocupa o lei pudesse ser votada pela três horas após a leitura do estudiosos estima a vin
Rodrigo Augusto da Silva, nosso território, oprime a Câmara no dia seguinte. projeto a comissão especial da de aproximadamente
que foi o portador da men consciência nacional e é Andrade Figueira, depu criada para analisar o as 3,5 milhões.
sagem, leu o sucinto texto pior do que o estrangeiro tado pelo Rio de Janeiro e sunto já apresentava pare Os escravos trazidos
de apenas dois artigos. pisando no território da líder da bancada antiaboli cer favorável em Plenário. ao Brasil pertenciam a
Pátria. Precisamos apres ção, protestou, sem suces Na quinta-feira, dia 10, dois grupos de língua e
Urgência sar a passagem do projeto, so, contra a tentativa de com 83 votos favoráveis e cultura distintas: o dos
Terminada a leitura, o de modo que a libertação acelerar a tramitação. apenas 9 contrários, o pro sudaneses, encontrados
Plenário irrompeu em rui seja imediata – propôs Na – Qualquer que sejam as jeto recebeu aprovação fi nas regiões mais ao nor
dosas manifestações, segui buco, sugerindo a criação impaciências para conver nal dos deputados. te do litoral africano, e
os bantos, nas áreas ao
sul do Equador.
Rodrigo Silva: Uma pequena, mas crucial, O Gabinete Dantas,
Figueira acusa que esteve no poder de
toda a sociedade emenda de redação 6 de junho 1884 a 5 de
governo de ceder maio de 1885, e levan
a “apopléticos” quer a abolição Graças ao zelo legislativo da extinta a escravidão no tamento realizado em
e à experiência de minis Brasil”, o deputado acres 1887 forneceram dados
O deputado Andrade O portador do projeto de tro do Supremo Tribunal centou “desde a data desta estatísticos sobre a po
Figueira, da Província do lei que acabou com a es de Justiça (STJ) do de lei”. O deputado contestou pulação escrava no Bra
Rio de Janeiro, apontou cravidão no Brasil, depu putado baiano Barão de as acusações de que a alte sil nos últimos anos:
a “intervenção dos pode tado e ministro da Agricul Araújo Góes, o projeto de ração seria “inútil”.
res públicos na solução tura Rodrigo Silva, reagiu lei que acaba com a es – É uma necessidade in 1873:
de um assunto eminente da tribuna às críticas de cravidão pôde entrar em declinável em face da legis 1.541.348 escravos
mente social”, ao acusar o Andrade Figueira à deci vigor imediatamente após lação, porque a lei não pode 1883:
governo imperial de ceder são do governo imperial ser sancionado pela Prin vigorar na Corte senão oito 1.211.946 escravos
às pressões da imprensa e de apresentar a proposta. cesa Isabel. Araújo Góes dias e nas províncias senão
dos “apopléticos” da abo Segundo o ministro, em to conseguiu apoio do Plená três meses depois de pu 1887:
lição ao enviar o projeto das as democracias o poder rio para inserir pequena e blicada. É necessário que 723.419 escravos
de lei. público tem o dever de in crucial emenda de redação o prazo que se exige para
Entre poucos aplausos terferir na solução de pro ao Artigo 1º do texto origi a Corte seja o mesmo para A classificação, por
e seguidos gritos de “não blemas sociais como o do nal. Onde se lia “é declara todo o Império. idade, dos 723.419 es
apoiado”, Andrade Fi elemento servil. cravos matriculados no
gueira reverberou o sen – Não havia um só órgão levantamento de 1887 é
timento da bancada de respeitável, desses que for a seguinte:
proprietários rurais de seu mam o sentimento de um
estado. povo e a opinião de uma Menores de 30 anos:
– Que necessidade tão
urgente é esta quando o
nação, que não estivesse
empenhado nesta cruzada.
Projeto é ameaça à ordem 195.726 escravos
De 30 a 40 anos:
problema tem sua solução Se observamos esta agi
tação pacifista por toda a
pública, diz Alfredo Chaves 336.174 escravos
natural nas leis de 1871
[Ventre Livre] e 1885 parte, poderíamos, aceitan Um dos nove deputados sequer, de proverem a sua De 40 a 50 anos:
[Sexagenários]? Com a do o poder, cruzar os bra que votaram contra a extin subsistência – disse o de 122.097 escravos
sua intervenção, os pode ços e deixar que a revolu ção da escravatura, Alfredo putado escravagista, em re
res públicos não fizeram ção decretasse a libertação Chaves dirigiu seus ataques ferência ao número de 600 De 50 a 55 anos:
mais do que comprometer dos escravos? – questionou ao ministro Rodrigo Silva, mil escravos que ainda exis 40.600 escravos
a marcha do problema, o deputado. que para ele apresentou o tiam no país.
produzindo uma agitação Rodrigo Silva citou a de projeto “sem nenhuma razão Para o deputado, o go De 55 a 60 anos:
estéril, promessas engana fesa da abolição pela Igre de estado”, cedendo a pres verno imperial caiu em 28.822 escravos
doras, pesares dolorosos ja, academias, tribunais e sões e ignorando os direitos contradição ao apresentar
– acusou o deputado, em famílias. Até mesmo, disse, dos proprietários rurais. o projeto apenas três anos
referência à expectativa “os próprios interessados – O projeto é uma amea depois da Lei do Ventre Li bacharel duponchel
de emancipação de escra na manutenção da proprie ça iminente à ordem públi vre, que fixava critérios de lecciona
vos criada pelas leis an dade escrava davam dia ca, porque não se tomaram reparação aos senhores de todas as
materias do curso
teriores. Para Figueira, a riamente exemplos os mais precauções para garantir a escravos, além de estabe preparatorio.
estratégia governamental admiráveis de abnegação, lecer as condições em que Cartas no escriptorio desta re
sociedade contra essa classe
dacção
de emancipação gradual libertando os seus escravos de cidadãos novos que a ela o fim completo do regime RESIDENCIA EM NITHEROY
enganou os proprietários. incondicionalmente”. são atirados, sem os meios, servil se daria no país. 93 RUA NOVA 93
5 Jornal do Senado Uma reconstituição histórica Rio de Janeiro, segunda-feira, 14 de maio de 1888
A
s atenções da Cor e mais veemente aspiração
te se voltaram, no nacional”.
sábado e no do
mingo, 13 de maio, para o Aprovação
Senado do Império, onde No sábado dia 12, du
se processava a discussão rante a segunda discussão,
final do Projeto de Lei nº Cotegipe fez longo pro
1 da Câmara dos Deputa nunciamento contrário à
dos, que baniu de forma proposta, que foi aprovada
imediata e incondicional domingo, dia 13, em sessão
a escravidão no território extraordinária.
brasileiro. A proposta foi Na direção dos traba
aprovada sem dificuldades lhos da Casa, o senador
pela Casa. Apenas dois se Cruz Machado designou
nadores, os conservadores, a comissão que levaria o
João Maurício Wanderley, projeto ao Paço e que foi
o Barão de Cotegipe (BA), composta pelos membros
e Paulino de Sousa (RJ), o da comissão que ofereceu o
Segundo Visconde do Uru parecer e ainda por outros
guai (RJ), se posicionaram nove senadores.
contra a iniciativa. O senador e presidente do
Logo após a leitura da Conselho de Ministros João
proposta na sessão do últi Alfredo (PE) comunicou,
mo dia 11, pelo 1º vice-pre Em frente ao Palácio dos Arcos, populares aguardam aprovação do projeto pelos senadores então, ao Plenário da Casa
sidente do Senado, Antônio que Sua Alteza a Prince
Cândido da Cruz Machado, especial de cinco membros Sousa Dantas, Affonso A comissão apresentou sa Regente receberia às 3
que exercia a Presidência destinada a dar o parecer Celso (pai), o Visconde de imediatamente o parecer, horas da tarde, no Paço
da Casa, o líder do libera sobre o projeto. Ouro Preto (MG), Jerô destacando que a proposta da Cidade, a comissão de
lismo abolicionista, sena A solicitação foi acolhida nimo José Teixeira Júnior continha “providência ur senadores que levaria o de
dor Manuel Pinto de Sousa sem debate e Cruz Macha (RJ), José Antônio Correia gente, por inspirar-se nos creto da Assembléia Geral
Dantas (BA), solicitou que do nomeou para compor da Câmara (RS) e Alfredo mais justos e imperiosos in declarando extinta a escra
fosse nomeada a comissão o colegiado os senadores Escragnolle Taunay (SC). tuitos” e satisfazia “a mais vidão no Brasil.
A
abolição da escravatura ta Joaquim Nabuco, a primeira nhos da mesma causa, entre eles Mas a forte pressão social e mo
foi um processo secular fase do movimento pelo fim da Ruy Barbosa, José do Patrocínio e ral e a redução do interesse eco
resultante de mobilizações escravidão, entre 1879 a 1884, Tobias Barreto. Já falecidos, Luís nômico pelo negro, que com o
sociais – inclusive dos próprios quando “os abolicionistas com Gama e Castro Alves também tempo passou a apresentar custo
negros –, morais, políticas e eco bateram sós, entregues aos seus não podem ser esquecidos nessa maior que a mão-de-obra livre
nômicas. Da assinatura da Lei próprios recursos”. batalha. competitiva, culminaram com a
Eusébio de Queirós, que proibiu Mais tarde, discursos nas tribu Mesmo os republicanos tiveram aceitação dos parlamentares pela
o tráfico negreiro, já se passaram nas, artigos e poemas em jornais maneiras diferentes de pensar a abolição total dos ainda escra
38 anos de intensa campanha brasileiros e estrangeiros e a forte abolição. O Congresso exprimiu vos.
abolicionista que se finda agora pressão sobre o Império fizeram por um bom tempo o pensar dos Um pouco antes da proibição
com a Lei Áurea. ruir de vez a escravidão. paulistas que não adotavam a so do tráfico negreiro, o preço do es
Com exemplos europeus de abo No geral, todos os republicanos lução geral e totalmente liberta cravo já subia no mercado com a
lição da mão-de-obra escrava, mostravam-se abolicionistas, mas dora. previsão de que não seriam mais
por um bom tempo, o processo nem todos os que lutaram pela li A proposta era que o proble trazidos negros para o Brasil.
da crítica abolicionista no Brasil bertação dos escravos preferem ma fosse resolvido gradualmente, Essa alta manteve-se até 1880,
concentrou-se em espaços como a República. Monarquistas como conforme o interesse de cada pro em especial pela forte demanda
clubes, lojas maçônicas, associa André Rebouças e Joaquim Na víncia, aceitando o princípio da da lavoura cafeeira. Agora, quan
ções, cafés e jornais e, aos poucos, buco têm sido incansáveis nessa indenização, reconhecendo o que do se assina a Lei Áurea, boa par
estendeu-se à população. luta pelo fim da escravidão. Mui alguns chamam de “o direito do te da mão-de-obra escrava já foi
Essa foi, segundo o abolicionis tos outros são defensores ferre homem sobre o homem”. substituída.
O
s africanos escravi tavam com o trabalho dos Nas capitanias do Rio
zados no Brasil não capitães-do-mato. Negro e do Grão-Pará, as
demoraram muito As capitanias de Sergipe comunidades negras tam
para dar início aos movi e da Bahia foram tomadas bém recebiam militares de
mentos de fuga e formação por mocambos no início do sertores e índios. Há regis
de acampamentos arma século 17. Na Paraíba, em tros de fugitivos em outras
dos que, além de servirem 1691, se formou o Quilom regiões da Floresta Ama
de moradias, eram princi bo do Cumbe, combatido zônica, assim como nas ca
palmente centros de resis em 1731. pitanias do Espírito Santo
tência e contribuíram para No Rio de Janeiro, os e de Minas Gerais.
o fim do trabalho escravo primeiros registros são de Na segunda metade do
no país. 1625. No século seguin século 18, as denúncias
Ainda no século 16, por te, os mocambos surgiram contra os quilombos sur
volta de 1575, o Império já em Cabo Frio, Campos dos gem no Rio Grande do Sul,
recebia notícias da movi Goitacazes e Saquarema. em Mato Grosso e Goiás.
mentação de escravos fugi O escravo que se insurgisse contra o trabalho servil e a
O século 18 foi de ex Muitos desses grupos fo
tivos na Bahia. repressão era violentamente punido, sem direito a defesa pansão dos grupos negros, ram desenvolvendo ao lon
Inicialmente eles se reu quando a denominação go dos anos relações com
niram no que se chamou mocambo foi substituída as comunidades locais. A
de mocambo, espécie de Em 1588 foi publicado dão no Brasil, houve gran por quilombo. No Mara própria Princesa Isabel, às
acampamento militar e regimento que estabelecia de enfrentamento de tropas nhão, as tropas atacaram vésperas de assinar a Lei
moradia dos negros de lín “punição exemplar” para do governo e perseguições grupos que se reuniam en Áurea, já havia acolhido e
gua bantu da África Cen os fugitivos. Nos quase determinadas pelos senho tre os rios Gurupi e Turiaçu hospedado mais de mil fu
tral e Centro-Ocidental. quatro séculos de escravi res dos escravos, que con no início dos anos 1700. gitivos.
CASA DO ALMEIDA
FAZENDAS, MODAS E ARMARINHO
Grande sortimento de voile de pura lã, metro 600 réis Nos porões dos navios, os negros eram amontoados, comprimidos uns contra os outros
N
as duas últimas dé caram. Um grande desfile barbárie recua e a civiliza populações negras, e que
cadas, a idéia de atravessou a cidade antiga, ção avança”. não foram contempladas
libertação dos es desde a Rua 1º de Março Embora a luta final te com nenhum tipo de com
cravos foi aos poucos se ir até o passeio público. nha se dado na cidade de pensação.
radiando para o interior do Fortaleza, foi no interior Em razão disso, é lícito
Brasil, motivando vários Victor Hugo da província, na pequena prever que a pauta de de
segmentos da sociedade, Em meio às manifesta vila de Aracape, que logo bates do Parlamento, neste
desde simples jangadeiros ções, o presidente da Pro depois se chamaria Reden final do século 19, deverá
e donos de barcaças no víncia, Sátiro de Oliveira ção, que a Sociedade Cea incluir propostas visan
Nordeste, que se recusa Dias, declarou em tom so rense Libertadora liderou a do contemplar, de alguma
vam a participar do trans lene: “Para a glória imor primeira grande campanha forma, os ex-escravos e
porte de cativos, a jorna tal do povo cearense e em pela abolição. seus descendentes. É possí
listas, poetas, escritores e nome e pela vontade desse Os jangadeiros também vel até que essa discussão
políticos que abraçaram mesmo povo, proclamo ao tiveram papel decisivo no não tenha fim na próxima
a causa com entusiasmo. país e ao mundo que a pro processo cearense de abo década e termine se esten
A criação de trabalho para os
Na Província cearense, o víncia do Ceará não possui lição da escravatura. Em libertos é uma preocupação dendo pelo século 20, mas
fim da escravidão foi pro mais escravos”. 27 de janeiro de 1881, ten deve-se ter em vista que a
clamado há quatro anos. O O abolicionista José do do à frente Francisco José reparação que precisa ser
Ceará assumiu, no dia 25 Patrocínio, que se encon do Nascimento, conhecido Não faltaram discursos atribuída aos ex-escravos e
de março de 1884, a res trava em Paris dias antes do como “Dragão do Mar”, de abolicionistas como Joa sua gente não se confunde
ponsabilidade histórica de banimento da escravidão os jangadeiros firmaram quim Nabuco, José do Pa com qualquer tipo de dá
proclamar a extinção do no Ceará, enviou carta ao sua posição: “No porto do trocínio, Luís Gama e Ruy vida, por representar, isto
trabalho escravo em todo escritor Victor Hugo comu Ceará não se embarcam Barbosa defendendo a ne sim, um legítimo direito.
o seu território. A iniciati nicando que uma província mais escravos!”. Com esta cessidade de oferecer opor Ao longo da luta pela abo
va pioneira repercutiu in brasileira estava prestes a atitude, eles conseguiram tunidades para integrar os lição foram discutidas pro
tensamente na Corte e nas ser considerada liberta do de fato abolir o tráfico de ex-escravos à sociedade. A postas nesse sentido, como
províncias, reforçando os cativeiro. Ele pedia ao po escravos na província. grande dívida para com os a criação de colônias agrí
movimentos que já come eta uma palavra de anima Assim como ocorria no escravos libertos deve ser colas para os libertos, a de
çavam a tomar corpo em ção, um conselho, que ser Ceará, a luta pela abolição saldada, para que se possa sapropriação de terras não
outras partes do país, como visse de encorajamento ao agregou não apenas figuras construir uma sociedade exploradas e o desenvol
Amazonas, Bahia e Paraí Imperador Dom Pedro 2°, de expressão nas provín justa e igualitária. vimento da agricultura. É
ba. no sentido de engajar-se na cias e na Corte. Militares Neste momento em que o mister que se estudem ain
A grande festa da abo campanha pela abolição. recusavam-se a perseguir Brasil comemora a assina da outras formas de repara
lição no Ceará reuniu a O grande pensador fran escravos fugidos; mascates tura da Lei Áurea, alguns ção, como oportunidade de
população da capital, na cês, na resposta a Patro ajudavam na distribuição abolicionistas colocam em emprego na cidade e acesso
Praça Castro Carreira. Ca cínio, considerou “grande dos panfletos a favor da foco a preocupação diante à educação, conferindo dig
nhões da Fortaleza de Nos novidade” o gesto dos ce abolição; ferroviários es do quadro ainda nebuloso nidade ao indivíduo.
sa Senhora de Assunção arenses e reforçou que com condiam negros nos trens
reboaram e os sinos repi a iniciativa libertadora “a ajudando-os nas fugas.
Movimento abolicionista se
espalhou pelas províncias
A Sociedade Emancipa lar em 1870.
dora Amazonense, funda Em Goiás, o movimento
da em 1870, cumpriu pa chegou a causar conflitos,
pel decisivo na campanha mas nos meses que antece
libertadora na Província deram a assinatura da Lei
do Amazonas. A 24 de Áurea a escravidão estava
abril de 1884, a Assem quase extinta em toda a
bléia Provincial autorizou província. No Rio de Janei
o governo a despender 300 ro, houve embates violen
contos com alforrias. A 24 tos, em especial em áreas
de maio foi reconhecido onde a lavoura cafeeira
oficialmente que Manaus se expandiu. A mobiliza
não tinha mais escravos. ção cresceu em meados de
Em Pernambuco, a luta 1870. Nesse ano, um grupo
contou com os nomes de de parlamentares lançou
José Mariano, João Ramos, campanha pela abolição
Gomes de Matos e outros da escravatura. No final de
Os negros mantiveram tradições do continente africano, como o jogo da capoeira que criaram o Clube do 1887, já ocorriam alfor
Cupim. O movimento con rias espontâneas em toda a
seguiu minar a força dos província.
escravocratas. As barcaças Em São Paulo, diversas
Mossoró se destaca como cidade pioneira pernambucanas também cidades libertaram seus es
A força do movimento – Mossoró está livre: início deste ano. apoiaram a fuga de escra cravos no ano passado. Em
abolicionista logo atingiu aqui não há mais escra No Piauí, em 1870, o vos. São Carlos, o fim do cati
Mossoró, que abraçou a vos!. jornalista David Moreira Na Província da Bahia, o veiro foi proclamado em
causa com entusiasmo O exemplo dessa cida Caldas iniciou ardorosa movimento ganhou a ade dezembro. No Rio Grande
– especialmente a Loja de passou a ser seguido campanha abolicionista são da imprensa de Salva do Sul, o movimento co
Maçônica 24 de Junho. por comunidades do in pela imprensa, fundando dor, que decidiu não mais memorou a libertação da
A cidade comemorou em terior da Província do Rio o jornal Oitenta e Nove, publicar anúncios de fuga, capital em 1884. Com um
grande evento, no dia 30 Grande do Norte. Açu li que em sua primeira edi compra e venda de escra número menor de escravos,
de setembro de 1883, o bertou seus escravos em ção, de 1º de fevereiro de vos. Pessoas simples, como em relação às demais pro
fim da escravidão. Naque 24 de junho de 1885; de 1873, “profetizou” a pro Manoel Roque, negro e víncias, o Paraná também
la ocasião, o líder da So pois Carnaúba, em 3º de clamação da república operário, e personalidades, se engajou na luta, e antes
ciedade Libertadora Mos março de 1887; e, logo a brasileira no centenário como Castro Alves, deram da lei, cidades como Porto
soroense, Joaquim Bezerra seguir, Triunfo, em 25 de da Revolução Francesa, grande força ao movimen de Cima já estavam livres
da Costa Mendes, fez uma maio de 1887. Natal não no próximo ano, ou seja, to que começou a se articu da escravidão.
declaração histórica. possuía mais escravos no em 1889.