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Reforma do Regime dos Recursos em

Processo Civil

(Decreto-Lei n.º 303/2007, de 24 de


Agosto)
Sumário
 Aplicação da lei no tempo e regime dos recursos em
legislação extravagante

 Simplificação do regime de resolução de conflitos

 Os objectivos da reforma dos recursos em processo civil

 Simplificação e celeridade processual


 Racionalização no acesso ao STJ
 Maior uniformização de jurisprudência

 Outras alterações ao regime dos recursos


2
Aplicação da lei no tempo
(arts. 8.º e 11.º do DL 303/2007)

 Entrada em vigor da nova lei: 1 de Janeiro de 2008.

 O DL 303/2007 não é de aplicação imediata.

 O novo regime apenas se aplica aos processos entrados após 1


de Janeiro de 2008.

 Concretizações:

• O novo regime não se aplica aos recursos já pendentes.

3
Aplicação da lei no tempo

Ex. 1: se a parte recorreu para a Relação, o novo valor da alçada dos tribunais
de 1.ª instância (€ 5 000) não é aplicável.

Ex. 2: se a parte pretende recorrer para o STJ, as regras mais restritivas de


acesso ao Supremo (“dupla conforme”) não são aplicáveis.

• O novo regime também não se aplica aos processos que antes de 1


de Janeiro de 2008 já deram entrada nos tribunais de 1.ª instância:

Ex.: se acção já estiver proposta no dia 1 de Jan. de 2008, e se o valor da acção


o permitir, a causa poderá ser sucessivamente reapreciada pela Relação e pelo
STJ, independentemente de a decisão da Relação confirmar ou não a decisão
da 1.ª instância (“dupla conforme”).

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Aplicação da lei no tempo

 Excepção (“aplicação imediata”):

• Os artigos tendentes à concretização da


tramitação electrónica dos processos (“processo
desmaterializado”) identificados no art. 11.º/2 do
DL 303/2007.

• A Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro,


procede à regulamentação de alguns dos artigos
mencionados naquele preceito. Os remanescentes
aplicar-se-ão imediatamente aos processos
pendentes quando forem regulamentados.
5
Regime dos recursos em legislação
extravagante
(art. 4.º do DL 303/2007)

 De forma a prevenir a subsistência do


sistema dualista baseado na dicotomia entre
“recurso de apelação”/“recurso de agravo”, o
art. 4.º do DL 303/2007 procede à unificação
dos recursos em legislação extravagante.

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Regime dos recursos em legislação
extravagante

• As referências ao agravo interposto na primeira


instância entendem-se feitas ao recurso de
apelação;

• As referências ao agravo interposto na 2.ª


instância entendem-se feitas ao recurso de
revista;

• As referências à oposição de terceiro entendem-


se feitas ao recurso de revisão.

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Regime dos recursos em legislação
extravagante

 Sem prejuízo das adaptações necessárias, pretende-


se ainda que o regime da legislação avulsa siga o
disposto no CPC, que constitui direito subsidiário.

Artigo 4.º/2 do DL 303/2007:

“Os recursos previstos nos números anteriores


seguem, em cada caso, o regime instituído pelo
Código de Processo Civil, sem prejuízo das
adaptações necessárias”.

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 Em resumo… (Aplicação da lei no tempo e regime
dos recursos em legislação extravagante)

1 – O DL 303/2007 entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2008;

2 – O diploma não se aplica aos recursos pendentes nem aos processos


já entrados na 1.ª instância antes de 1 de Janeiro de 2008;

3 – Excepção: os artigos relativos à desmaterialização do


processo aplicam-se aos processos pendentes (Portaria n.º
114/2008, de 6 de Fevereiro);

4 – O regime da distribuição nos tribunais superiores mantém-se o


mesmo enquanto os respectivos preceitos não forem
regulamentados;

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 Em resumo… (Aplicação da lei no tempo e regime
dos recursos em legislação extravagante)

5 – Os recursos previstos em legislação extravagante


passam a seguir o disposto no CPC, deixando de
distinguir entre recurso de apelação e recurso de
agravo.

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Simplificação do regime de resolução de conflitos de
jurisdição e de competência

 Pretende-se simplificar a resolução de uma questão previa ao litígio: a


determinação do tribunal competente (arts. 115.º e ss.).

 Alterações fundamentais:

• A resolução do conflito (de jurisdição ou de competência) passa a estar


cometida aos presidentes dos tribunais superiores e não às respectivas
secções, pleno das secções ou ao plenário;

• A existência de conflito pode ser suscitada oficiosamente pelo tribunal (art.


117.º/1);

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Simplificação do regime de resolução de
conflitos

• O processo de resolução de conflitos tem natureza urgente (art.


117.º/2);

• A tramitação é simplificada: i) audição das partes, ii) vista ao


Ministério Público, iii) decisão (arts. 117.º-A e 118.º).

• Competência do presidente do STJ:

i) Para conhecer dos conflitos de jurisdição cuja apreciação


não pertença ao tribunal de conflitos (art. 43.º/3 da LOFTJ);

12
Simplificação do regime de resolução de
conflitos

ii) Para conhecer dos conflitos de competência cuja


apreciação competia anteriormente às secções, ao pleno
das secções ou ao plenário (art. 43.º/3, als. a) a e) da
LOFTJ).

• Competência do presidente da Relação:

- Para conhecer dos conflitos de competência cuja apreciação


competia anteriormente às secções (art. 59.º/2 da LOFTJ).

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• Em resumo… (Simplificação do regime de resolução
de conflitos)

1 – A resolução dos conflitos de jurisdição e de competência passa


a ser competência do presidente dos tribunais superiores;

2 – A existência de um conflito de competência pode ser suscitada


pelo tribunal mesmo quando as partes não o invoquem;

3 – O processo de resolução de conflitos tem natureza


urgente;

4 – A tramitação do processo de resolução de conflitos é


simplificado.

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Objectivos da reforma dos recursos em processo civil
Simplificação e celeridade processual

 O art. 691.º (Recurso de apelação) procede a três alterações


fundamentais:

1) Equiparação, para efeitos recursórios, das decisões que põem termo ao


processo, sejam estas decisões de mérito ou de forma (art. 691.º/1);

2) Adopção de um regime monista de recursos, com supressão do recurso de


agravo e reformulação do recurso de apelação (art. 691.º/ 1 e 2);

3) Introdução da regra de impugnação de decisões interlocutórias com o recurso


que vier a ser interposto da decisão final (art. 691.º/3).

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

1) Equiparação, para efeitos recursórios, das decisões que


põem termo ao processo, sejam estas de mérito ou de
forma:

Artigo 691.º/1

“Da decisão do tribunal de 1.ª instância que ponha termo ao


processo cabe recurso de apelação”.

Ex. 1: Tribunal condena o Réu no pagamento da quantia


peticionada pelo autor.

Ex. 2: Recurso do despacho que confirme o não recebimento da


petição inicial.
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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

• Regime de recorribilidade:

Decisão imediatamente recorrível (“nada há por que esperar” - o


processo terminou).

• Prazo para a interposição de recurso:

30 dias contados a partir da notificação da decisão do tribunal


(art. 685.º/1).

A estes 30 dias poderão acrescer 10 dias se o recurso tiver por


objecto a reapreciação da prova gravada (art. 685.º/7).

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

• Modo de subida:

Expedição do recurso (“subida”) nos próprios autos


(art. 691.º-A/1/a).

• Efeito da interposição do recurso:

Por regra, o recurso não suspende a possibilidade


de o Autor executar a decisão – efeito meramente
devolutivo (art. 692.º/1 e 4).

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

2) Adopção de um regime monista de recursos, com


supressão do recurso de agravo (art. 691.º/ 1 e 2):

Artigo 691.º/2

“Cabe ainda recurso de apelação das seguintes decisões do tribunal de 1.ª instância:

a) Decisão que aprecie o impedimento do juiz;

b) Decisão que aprecie a competência do tribunal;

c) Decisão que aplique multa;

d) Decisão que condene no cumprimento de obrigação pecuniária;

e) Decisão que ordene o cancelamento de qualquer registo;

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

Artigo 691.º/2 (cont.)

f) Decisão que ordene a suspensão da instância;

g) Decisão proferida depois da decisão final;

h) Despacho saneador que, sem pôr termo ao processo, decida do mérito da causa;

i) Despacho de admissão ou rejeição de meios de prova;

j) Despacho que não admita o incidente ou que lhe ponha termo;

l) Despacho que se pronuncie quanto à concessão da providência cautelar, determine o seu


levantamento ou indefira liminarmente o respectivo requerimento;

m) Decisões cuja impugnação com o recurso da decisão final seria absolutamente inútil;

n) Nos demais casos expressamente previstos na lei”.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

• Regime de Recorribilidade:

A decisão é imediatamente recorrível.

• Prazo para a interposição de recurso:

15 dias, salvo no caso previsto na alínea h)


(art. 691.º/5).

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

• Modo de subida:

Por regra, o recurso “sobe” separadamente do


processo, que permanece no tribunal “a quo” (arts.
691.º-A/2 e 691.º-A/1, als. b), c) e d)).

• Efeito da interposição do recurso:

Por regra, efeito meramente devolutivo, salvo nos


casos identificados no art. 692.º/3.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

 Em especial, a alínea d) do n.º 2 do art. 691.º:

• “Decisão que condene no cumprimento de obrigação


pecuniária”.

• O artigo 692.º/3/e) atribui efeito suspensivo ao


recurso interposto das decisões previstas na alínea
d) do art. 692.º, não se incentivando, contudo, o
recurso por parte dos devedores.

• A alínea d) insere-se no n.º 2 do art. 691.º que, por


oposição ao n.º 1, apenas cura de decisões
interlocutórias e não de decisões finais.
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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

Ex: se o tribunal de 1.ª instância, condena o réu, na


sentença, no pagamento de 1000 €, a parte vencida
pode recorrer dessa decisão, mas, como se trata do
recurso de uma decisão final, o efeito do recurso é
meramente devolutivo.

O recurso de uma decisão final (no caso, de mérito)


que condene o réu no pagamento de certo valor
não recai em nenhum dos casos em que
excepcionalmente o recurso tem efeito suspensivo –
art. 692.º, n.º 3.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

3) Impugnação de decisões interlocutórias com o recurso


que vier a ser interposto da decisão final:

Artigo 691.º/3

“As restantes decisões proferidas pelo tribunal de 1.ª instância


podem ser impugnadas no recurso que venha a ser interposto da
decisão final ou do despacho previsto na alínea l) do n.º 2”.

Ex: O despacho que admite o incidente.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

 Regime de recorribilidade:

As decisões previstas no nº 3 do art. 691.º não são


imediatamente recorríveis – o recurso deve esperar
pela decisão final.

 Prazo para a interposição de recurso:

• 30 dias.

• O recurso das decisões interlocutórias previstas


no art. 691.º/3 é realizado conjuntamente com o
recurso das decisões finais.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

• Modo de subida:

O recurso destas decisões acompanha o recurso das


decisões finais, por isso, a subida é nos próprios autos.

• Efeito da interposição do recurso:

Por regra, efeito meramente devolutivo.

(Ou seja, mesmo nos casos em que o recurso da


decisão final tenha efeito suspensivo, esse efeito
parece não se comunicar à decisão interlocutória
impugnada conjuntamente com a decisão final).

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

Não havendo recurso da decisão final:

Artigo 691.º/4

“Se não houver recurso da decisão final, as decisões


interlocutórias que tenham interesse para o apelante
independentemente daquela decisão podem ser impugnadas num
recurso único, a interpor após o trânsito da referida decisão”.

Ex: se a parte ficou satisfeita com a decisão final, mas é prejudicada com
uma decisão interlocutória diversa das previstas no art. 691/2, pode interpor
recurso após o trânsito em julgado da decisão final.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

 Prazo para a interposição de recurso:

• 15 dias após o termo do prazo de 30 dias para interposição de recurso da


decisão final (art. 691.º/4).

• Qualificação: possível recurso extraordinário inominado.

 Modo de subida:

O recurso sobe em separado do processo, que permanece no tribunal “a quo”


(art. 691.º-A/2).

 Efeito da interposição do recurso:

Efeito meramente devolutivo (art. 692.º/1).

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

 Unificação dos actos de interposição de recurso e de


apresentação de alegações (arts. 684.º-B/1 e 2 e 685.º-
C/1 e 3):

 O requerimento de interposição de recurso é


obrigatoriamente acompanhado das alegações.

 Não existe qualquer prazo autónomo para a


apresentação das alegações.

 Desincentivam-se eventuais recursos menos


ponderados.

30
Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

 Deixam de existir dois despachos (o


despacho de admissão de recurso e o
despacho de subida do recurso) passando a
existir um único despacho (art. 685.º-C/1).

 A dicotomia estabelecida entre “efeitos da


interposição do recurso” e “efeitos da subida
do recurso” é menos vincada.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

 Segue-se a solução já estabelecida no Código de


Processo Penal (CPP), no Código de Processo do
Trabalho (CPT) e no Código de Processo nos
Tribunais Administrativos (CPTA):

• Artigo 411.º/3 CPP;

• Artigo 81.º/1 do CPT;

• Artigo 144.º/2 CPTA.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

 Revisão do regime de arguição de vícios e reforma da


sentença (art. 669.º):

 O pedido de aclaração da sentença e o pedido de reforma da


sentença quanto a custa e multas passam a ser realizados nas
alegações de recurso (art. 669.º/1 e 3);

 O pedido de reforma da sentença fundado em manifesto lapso


do juiz (p. ex., fundado no erro na determinação da norma
aplicável) só é admissível quando a causa não admita recurso.
Se o recurso for admissível, o juiz “a quo” não pode reapreciar a
decisão anteriormente proferida (art. 669.º/2).

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Simplificação e celeridade

 Simplificação do regime de vistos aos juízes - adjuntos (art.


707.º):

 Os vistos dos juízes-adjuntos passam a ter lugar após a entrega


do projecto de acórdão, quando já existe uma proposta de
solução (art. 707.º/2);

 As vistas são simultâneas e não sucessivas, através de meios


electrónicos (art. 707.º/2);

 O prazo de vista é reduzido de 15 para 5 dias (art. 707.º/2);

 O processo é inscrito em tabela para ser agendado na próxima


sessão do julgamento decorrido que seja o prazo de 30 dias
para o relator elaborar o acórdão (art. 709.º/1).
34
 Em resumo… (Simplificação e celeridade)

1 – As decisões que põem termo ao processo passam a dispor do


mesmo regime, não se distinguindo entre decisões de mérito e
decisões de forma;

2 – Abandona-se o sistema dualista, suprimindo-se o recurso de agravo,


que é integrado no recurso de apelação (monismo recursório);

3 – As decisões interlocutórias que não recaiam no art. 691.º/2 são


impugnadas conjuntamente com o recurso da decisão final;

4 – Quando não houver recurso da decisão final, as decisões


interlocutórias podem ser impugnadas após o trânsito em julgado da
decisão final.

35
 Em resumo… (Simplificação e celeridade)

5 – O requerimento de interposição de recurso deve ser acompanhado


das respectivas alegações.

6 – Os pedidos de aclaração da sentença e de reforma da sentença


quanto a custas e multas passam a ser feitos nas alegações de
recurso, deixando de ser possível requerer a reforma da sentença por
manifesto lapso do juiz quando a causa admita recurso.

7 – O regime de vistos aos juízes-adjuntos processa-se


simultaneamente e por meios electrónicos.

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Objectivos da reforma dos recursos em processo civil
Racionalização no acesso ao STJ

 Alteração do valor das alçadas (art. 5.º do DL 303/2007):

 Actualização do valor das alçadas dos tribunais da Relação:

• De € 14 963,94 para € 30 000.

• Actualização superior à correcção monetária (€ 20 691, 44) de


forma a reservar o STJ para os casos com expressão económica
mais relevante.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Racionalização no acesso ao STJ

 Actualização do valor das alçadas dos tribunais de 1.ª


instância:

• De € 3 740,98 para € 5 000.

• A fixação da alçada da 1.ª instância num valor


abaixo do que resultaria da inflação (€ 8 276,58)
pretende assegurar o direito de as partes
requererem a reapreciação da decisão da 1.ª
instância (duplo grau de jurisdição).

38
Objectivos da Reforma dos Recursos:
Racionalização no acesso ao STJ

 Fixação do valor da causa pelo juiz (art. 315.º):

 De forma a evitar um aumento injustificado do


valor da causa na PI, frustrando o aumento
do valor das alçadas, a fixação do valor da
causa passa a estar cometida ao juiz.

39
Objectivos da Reforma dos Recursos:
Racionalização no acesso ao STJ

 Sem prejuízo da indicação pela parte na PI, o juiz fixa


obrigatoriamente o valor da causa num dos seguintes
actos processuais:

• No despacho saneador (art. 315.º/2/1.ª parte);

• Na sentença – nos processos identificados no art. 308.º/3 e


naqueles em que não haja lugar a despacho saneador;

• No despacho de admissão do recurso – se antes do valor da


causa ser fixado em algum dos actos anteriores for
interposto recurso.

40
Objectivos da Reforma dos Recursos:
Racionalização no acesso ao STJ

 A “Dupla conforme” e a Revista Excepcional (arts. 721.º e


721.º-A):

 Actualmente a parte pode recorrer até ao STJ (Recurso de Revista)


mesmo no caso de existirem duas decisões convergentes: a decisão do
tribunal de 1.ª instância e a decisão da Relação.

 Nestes casos, justifica-se racionalizar a possibilidade de recurso ao


STJ:

Artigo 721.º/3 (“Dupla conforme”):

“Não é admitida revista do acórdão da Relação que confirme, sem voto


de vencido e ainda que por diferente fundamento, a decisão proferida
na 1.ª instância, salvo nos casos previstos no artigo seguinte”.

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Objectivos da Reforma dos Recursos:
Racionalização no acesso ao STJ

 Excepção: Revista Excepcional (art. 721.º-A/1):

• Quando esteja em causa uma questão cuja apreciação, pela sua


relevância jurídica, seja claramente necessária para uma melhor
aplicação do direito;

• Quando estejam em causa interesses de particular relevância


social;

• Quando o acórdão da Relação esteja em contradição com outro, já


transitado em julgado, proferido por qualquer Relação ou pelo
Supremo Tribunal de Justiça, no domínio da mesma legislação e
sobre a mesma questão fundamental de direito, salvo se tiver sido
proferido acórdão de uniformização de jurisprudência com ele
conforme.

42
Objectivos da Reforma dos Recursos:
Racionalização no acesso ao STJ

 Utilização de conceitos indeterminados, à


semelhança do art. 150.º do CPTA.

 A decisão quanto à existência dos


pressupostos que condicionam a Revista
Excepcional deve ser objecto de apreciação
preliminar sumária, a cargo de três juízes
escolhidos anualmente pelo presidente do
STJ de entre os mais antigos das secções
cíveis.

43
 Em resumo… (Racionalização no acesso ao STJ)

1 – A alçada do tribunal da Relação é actualizado de € 14 963,94 para €


30 000;

2 – A alçada dos tribunais de 1.ª instância é actualizada de € 3 740


para € 5 000;

3 – O valor da causa passa a ser fixado pelo juiz, o que não


prejudica o dever de a parte fazer a sua indicação na petição inicial;

4 – Se a Relação decidir no mesmo sentido que o tribunal de 1.ª


instância não é possível recorrer para o STJ (“dupla conforme”),
excepto em casos particulares (Revista Excepcional).

44
Objectivos da reforma dos recursos em processo civil
Maior uniformização de jurisprudência

 Recurso extraordinário para uniformização de jurisprudência (arts. 763.º e


ss.):

 A função do STJ enquanto órgão de uniformização de jurisprudência


deve ser reforçada, possibilitando-se assim, a prazo, um maior número
de Acórdãos de Uniformização de Jurisprudência (AUJ).

 As partes passam a dispor de um recurso extraordinário, nos casos em


que o Supremo, em secção, proferir acórdão contraditório com outro
anteriormente proferido, no domínio da mesma legislação e sobre a
mesma questão de direito.

45
Objectivos da Reforma dos Recursos:
Maior uniformização da jurisprudência

 O recurso extraordinário não é admitido se o acórdão recorrido


estiver de acordo com jurisprudência uniformizada do STJ.

 Julgamento ampliado de revista (art. 732.º-A):

 Prosseguindo o objectivo de uniformização de jurisprudência,


estabelece-se igualmente o dever de o relator e de os adjuntos
proporem obrigatoriamente o julgamento ampliado de revista
quando se verifique a possibilidade de vencimento de uma
solução jurídica contrária a jurisprudência uniformizada do STJ
(art. 732.º-A/3).

46
 Em resumo… (Maior uniformização da jurisprudência)

1 – Excepcionalmente, as partes podem recorrer das decisões do


STJ quando este proferir acórdão contraditório com outro
anteriormente proferido (recurso extraordinário de revisão);

2 – O julgamento ampliado de revista deverá ser obrigatoriamente


proposto pelo relator e pelos adjuntos quando existir
possibilidade de a decisão do Supremo ser contrária a
jurisprudência uniformizada.

47
Outras alterações ao regime dos recursos

 Impugnação da decisão sobre matéria de facto (art. 685.º-B):

 Quando as partes pretendam impugnar a decisão sobre a matéria de


facto e seja possível a identificação precisa e separada dos
depoimentos nos termos do nº 2 do art. 522.º-C, o recorrente deve
indicar com exactidão as passagens da gravação em que se funda.

 É abandonada a possibilidade de transcrição dos depoimentos por


entidades externas ao tribunal.

48
Outras alterações ao regime dos recursos

 Reforço dos mecanismos de defesa contra demoras abusivas


(art. 720.º):

 Quando a parte suscite incidentes reputados dilatórios, se esses


incidentes visarem impedir o trânsito em julgado da decisão,
procede-se à extracção de traslado, prosseguindo os autos os
seus termos no tribunal recorrido.

 A decisão impugnada através de incidente infundado não obsta


ao trânsito em julgado e a decisão a proferir no traslado só será
decretada depois de, contadas as custas a final, o requerente as
ter pago, bem como todas as multas e indemnizações fixadas
pelo tribunal.

49
Outras alterações ao regime dos recursos

 Clarificação dos pressupostos de admissibilidade do recurso


“per saltum” (art. 725.º):

 Os pressupostos do valor da causa (superior à alçada da


Relação) e da sucumbência (metade da alçada da Relação) são
cumulativos e não alternativos.

 Possibilidade de alegações orais no STJ, se o relator assim o


entender ou a requerimento fundamentado das partes (art.
727º-A).

50
Outras alterações ao regime dos recursos

 Introdução de um novo fundamento para o recurso


extraordinário de revisão (art. 771.º/f)):

 Permitir o recurso quando uma decisão interna transitada em


julgado seja inconciliável com decisão definitiva de uma
instância internacional de recurso vinculativa para o Estado
português, designadamente a Convenção Europeia dos Direitos
do Homem.

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 Em resumo… (Outras alterações ao regime dos recursos)

1 – Aquando da impugnação da decisão sobre a matéria de facto,


o recorrente deve indicar com exactidão as passagens da
gravação em que se funda;

2 – Os mecanismos de defesa contra incidentes dilatórios são


reforçados;

3 – Explicita-se que os pressupostos de admissibilidade do


recurso “per saltum” são cumulativos e não alternativos;

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 Em resumo… (Outras alterações ao regime dos recursos)

4 – Prevê-se a possibilidade de alegações orais no STJ, caso o


relator as entenda necessárias ou as partes o requeiram
fundamentadamente;

5 – É introduzido um novo fundamento para o recurso


extraordinário de revisão quando uma decisão interna
transitada em julgado seja inconciliável com decisão definitiva
de uma instância internacional de recurso vinculativa para o
Estado português.

53
Síntese conclusiva

 O DL 303/2007 apenas se aplica aos processos entrados após 1 de Janeiro de 2008,


pondo termo à distinção entre recurso de apelação e recurso de agravo no CPC e na
legislação extravagante;

 O DL 303/2007 prossegue o objectivo do “processo desmaterializado”, a concretizar


mediante portaria;

 O processo de resolução de conflitos de jurisdição e de competência é simplificado;

 As alterações e inovações apresentadas prosseguem os objectivos de Simplificação


e celeridade processuais, de Racionalização no acesso ao STJ e de Maior
uniformização de jurisprudência.

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