Você está na página 1de 2

O soneto A Bahia de Gregrio de Matos foi escrito no final do sculo XVII.

Possui dois
movimentos de sentido oposto: 1 - a simpatia do eu lrico pelo tu, que a personificao da
cidade da Bahia e 2 - a separao do eu lrico e a invocao de um castigo deste para o tu,
castigo esse intervindo de uma terceira pessoa, Deus.

Gregrio abre o soneto com a exclamao "Triste Bahia", sendo que o qualificador do nome
ambguo, denotando tanto "o nome sofrido", ou seja, h um "estado de alma depressivo e
melanclico", mas tambm traz uma conotao de triste "como a criana geniosa e de maus
costumes com quem a me ralha em desabafo: 'Mas triste esse menino!'" (p.95)

Nos quatro primeiros versos h a lamentao do par eu-tu. O segundo quarteto uma
denncia ao "agente responsvel pela destruio comum", a mquina mercante.

A mquina mercante pode ser interpretada tanto como os navios de comrcio (literalmente)
quanto o mercantilismo em si (figuradamente), "como uma metonmia do sistema inteiro". (p.
96)

O verbo trocar d o significado do que a Mquina mercante faz, e tambm denota mudar,
alterar, que o que acontece com o eu e o tu. Da abundncia a Bahia caiu para a pobreza, que
o eu sente tambm sente em si mesmo.

No ltimo terceto h outra transformao: a vtima passa a r. "A triste Bahia deve ser
castigada e canonicamente reduzida a penitente." (p. 97)

A infncia do poeta corresponde a uma poca prspera para a Bahia. O poeta "viu crescerem e
consolidar-se uma pequena nobreza luso-baiana"(p. 98). Mas na segunda metade do sculo
XVII a poltica protecionista declinou e a economia portuguesa comeou a perder sua
independncia para a Inglaterra.

A abertura da barra de Salvador a navios estrangeiros seria a passagem do Antigo Estado
Mquina Mercante. Gregrio viveu os efeitos disso. Sua famlia"perdeu como tantas outras o
sustento oficial irrestrito que a escudara nos primeiros decnios do sculo." (p. 99)

Gregrio era intelectual e cabia-lhe "um quinho no aparelho administrativo". Obteve ttulos
de doutor em Coimbra, foi vigrio geral da S da Bahia e tesoureiro-mor. Porm sua liberdade
e lngua afiada o colocaram em "embaraos e desafetos". (p.100)

Você também pode gostar