Brecht Bertolt Estudos Sobre Teatro PDF

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BERTOLT BRECHT ESTUDOS SOBRE TEATRO “Tradugio de FIAMA PAIS BRANDAO, hey i> Suthep Va 0164 Fan uM Ani. 8 Lae Sam stig Feb mata Bert Boh cade por Sie Use nae "he ne Rn Pon PODERA 0 MUNDO DE HOJE SER REPRODUZIDO PELO TEATRO? Foi com interesse que tome conhecimento de que Friedrich Darrenmattformulow, uma pasta sobre teatro, a seguine per. sgunt: “Poders o mundo de hoje se, apesar de tu, reproduzido pelo teatro?” ‘Quanto a mim, esta €justamente daguelas quertes que, 20 serem levantada, desde logo impem. Vai longe o tempo em ‘quedo teatro se exgia apenas uma reproducio do mundo suscep. tivel de se vvda, Hoje em dia, pare que esta reprodugtosetrne, ‘de fat, uma vvénca,exge-e que esteja em diapasto com a rida Muitosafrmam que a possibldade de vivenca em teatro se toma cada vee mais reduzida e, todavia, sho poucor of que re ‘conhecem que a reproducto do mundo atval tem aumentado Drogressivamente de dificudade. Foi pecisamente a consléncia deste fato que fevou alguns de nbs, dramaturgos e encenadores, & Br mos obra em busca de novos proceso, Suponho que todos ji conheeam, pois parto do principo de ‘ue estou dirigindorme a entendides, a8 nio poucas experincias ‘que conclu para conduvir ao campo de visio do teatro mundo tual eo homem contemporineo, No momento em que eserev, estou uma centena de metros de um grande teatro. equipado com bons ators © com toda necesiria aparelhagem, onde tenho posibilidade de reali ex: Perigncas, trabalhando com mumerosos colaboradores. na Sut ‘airiajovens: A minha volt, sobre mest dlbuns de modelos com mithates de fotogafias das dossas epresentagdese maltiplas anotacOes, mais ou menos detathadas, dos vaiados problemas © das suas solugées provsiias, Desfrto, portant, de todas #4 {aciidades. Contudo, nko posoafirmar que as artes draméticas— ‘ue, em virtude de certs motives, designo por ndo-arstotleas — ‘ou Sequer a sua representacdoépiea, seam 4 slugio por encelén cia, Ua cosa fies, poke, desde, fra de dvd 6 poderemos| tdeserever 9 mundo sual para ohamem aval. na medida em ave o ‘qe o desrevermos como um mundo passvel de modifiasio. ara o homem atual.o valor das perguntas reside nas respos ts O homem de hoje interessa-se por situagbes e por oeorréncas| ‘que possaenfenta atiamente Vi, hi anos, num Joral, uma fotografia em que, para fins publics, se exbia Toquio destraida por um tremor de te 'A maior parte das casas estva derrubada, mas restavam ainda inchumes, alguns edifices moderns. Alegenda dia: “Stee! stoud" — 0 ago mio cedeu, Comparem esta descrgio com ada srupgt do Etna, de Plinio, 0 Velho, feta em moldes elsscos ‘encontratho neste autor um tipo de deserqao que o dramaturgo do rosea séeulo deverd super. "Numa época em que a cincia consegue de tal forma, mo- siticar a Natureza, que © mundo ja nos parece quasehabitivel 0 homem io pode cantinuar a set apesentado ao homem como uma vita, como objeto passivo de um ambiente desconhecida Jmutivel.Asleis do movimento s30, do posto de vista de uma bola ‘quate inconcebives Eé preciamente porque a natureza da sociedade humana — ‘em contraposicdo com a Natureza em geal — tem permanecdo, Bt hoje, abscura, que nos encontramos, como nos asseguram os ‘fentstas, perplexos perante a posibldade de wm aniqulamento| total do nosso planeta, que ainda mal conseguimos tornar habi ave [io fear, deserto,surpreendidos, 20 ouirem-me afimar ‘que 4 questio da vabilidade de uma reprodugio do mundo & de ‘ordem social. J4 Ha muitos anos que venko mantendo esta opinido, fe moro atualmente num pats onde esth se efetivando um esorco gantesco para modifiers socedade. Podem condenar os meiose fs process — espero, alls, que os conheyam de Tato, e 980 eaves dos jomais —. podem reeitar este idea especitico de um ‘mundo novo — espero também que © comhecam —, no hi. porém, de pir em divida que, no pais onde vivo, se trabalha para Imotificagto do mundo, para a modfieagto do convo des ho mens. E tae concordem comigo em que. mundo de hoje precisa de oma transformasio, [Nada mais ser preciso acrescenar a estas brevesnotas (ume contribuigto amigivel para sua contrvéria), sendo o meu parecet sabre problema em causa: creo que © mundo de hoje pode set "eproduzido, mesmo no teatro, mas somente se for conesbido como tum mundo susctivel de modiicagdo 1 : NOTAS SOBRE PECAS E REPRESENTACOES NOTAS SOBRE A OPERA GRANDEZA E DECADENCIA DA CIDADE DE MAHAGONNY OPERA, SIM, MAS COM INOVACOES! 44 hi algum tempo se vem ambicionando a reforma da pera No que diz respeito 20 contigo, a pera deve ser atuaizada; 09 ‘que se refere forma, sua elaboragio deve passar a obedecer a uma, técnica apropriada: sto sem que o carter de “iguaria, que a pera ver tendoaté hoe. sofra qualquer alteragdo. Como motivo por quea dperaagrada ao pico justamente atraso em que se tencontra, nada mals havia a desejar do que oafluxo de novos es Iwatos de cientelaportadores de novos apettes tl descj € hoje tum fato, Tem-se querido democrtizar, sem que veham, eviden femente, a verlicarse quaisguer alteragdes no carster da de smocracia, cadter este que consste numa concesio de notes dietos a0 "povo, que no, contudo,acompanhada de qualquer possbilidade de usufrutodesses direitos. Ao gargom €, no undo, indiferente que sea fulano ou sicrano o individuo a quem serve sabe, apenas, que tem de serie! Deparase-nos, asm, da parle dos mals progessistas, «apologia de inovagbes que levam A reor= ‘ma da Opera, mas alo vemos ninguém exigi, nem tampouco preconizar, que os principios fundamentais da Sper (a sua fun ‘10! Sam postosem discuss. Se os vanguardistas se most asim parcimoniosos nas suas esigncias, € porgueestdo condiconados por fators econdmicos ‘que hes sho, em parte, desconhecidor, Asvartasengrenagens, tit como a épera, 0 teatro, a imprensa etc. impem as suas concep ‘bes, a bem dizer, incognitamente. Ji hi muito que. para abas- fecimento das suas instiuies piles. estas engrenagens tram Parldo do trabalho mental (a musics, a porsi artis, et) de Intclectais que ainda partiipam dos lures — seletaas, por somegninte, que, de um ponto de ists econdmico, partcipam tetenca, enguanto, de um ponto de vista sci tender j4 para 0 Droetariado. Sto as engrenagens que valorizam o trabalho dos felectusis, «seu modo, the imprimem uma diet exclusiva; nto obstante, estes perisem no loro de que nada mais se pretende do ‘que a valrizagho do seu trabalho, de que se tata apenas de um fendmeno secundario que nio tem qualguerinflancia sobre 0 seu trabalho e que, muito pelo contri, he confere a possibiidade de exercer uma influncia.O fato de ot misioe, os escitres oF stitcos no estarem esclareidos mo que toca A sua situagio acarreta conseqdéncias tremendas + que até agora se tem con ‘edidoimportancia minima. Pos, na convicgdo deestarem de po se de uma engrenagem que, na realdade, os possi, eles delendem Algo sobre que j8 nso tém qualquer controle. que jf nao & (como «dem, ainda) um meio ao servigo dos produtores, mis se tormou, 4 fato, um meio contra os produtores. Defendem,pgrianto, uma ‘engrenagem que & um mo contra sus prépriaproduga (uma ver ‘ue esta segue determinadas tendénciss proprias, Inovadoras, que ‘fo slo adequadas & engrenagem ou que se Ihe optem). A pro ‘dugio dos intlectusis dete ao nivel de produto fabricado, © Surge lum conceto de valor que se fondamenta no grau de eprovetamen: to. De tal circunstancia deriva ohibito generalizado dese analisar 4 obra de arte lu da sua adequagto & engrenagem, muito em bora jamais se examine «engrenagem aur da possibildade dese servircom ela i obra de arte. Quando se diz que esta ou aquela ‘obra éboa, subentende-se, mas nunca sedi, que € bos para en srenagem. Esta, por sua ver &condicionada pela sociedade exis fente, du qual aceite apenas aquilo que a mantém. Todas as imovaebes que mio ameagam a fungdo social da engrenagem, oF Sj a fungao de diversde noturna, poderiam ser posts por ela mn slscusio, Mas a que toram iminente uma aleracio dessa fur slo. que atribuem a engrenagem uma porgto diferente na so. siedade, que pretendem aproximé-la. em cert medida, dos ex labelecimentos de ensno ou dos grandes rgios de Informecdo- es 3 cla as pe fora de causa. A soiedade absorve, por incrmédio «du engrenagem. apenas o de que necesita para se reproduce, Sb poderi ser. porianto,vivel uma “inoacio™ que eye Telorma,€ ‘no a tansformagio da socedade existent — quer esta forme de sciedade x consider bow ou ma ‘os vanguardistas nem ocore @ idfia de modifcar a en arenagem. pois eréem tla na mao. a service do seu poder inven 2 tiv, que se exerce sem qualquer condiionamento; crfem que es se modifica por si, de acordo com os seus pensamentos. Mas, em bora o cream, mio € livre de qualquer condeionamento que ees inventam. A engrenagem & que desempena, com ov sem eles, a ss fanedo; os teatro representam todas as notes, ob jornaisraem temas tants vezes ao da, e uns eoutosabsorvem o de que neces stam, ou sea, uma certa porglo de material, pura e simples Poder-se-ia supor que a descoberia desta citcunstincls (8 Inevitivel dopendéncia dos eriadores de arte em relagio A en- prenanem), j4 que tal fata € ho puaicamente mantido em sig, quivers & sua condenagdo! Porém, a restrgdo da. aiidade ‘radora incondicionada do individ em principio, uma medida progresssta. O individuo & cada ver mais fortemente impeiido a omprometer-se nos grandes sucessos que tansformam o mundo, Deixa de the ser possivel “exprimirse” apenas. E solctado a solucionar os problemas comuns e posto em condigtes deo faze. O ero reside, to-somente nas engrenagens no serem ands, hoje em dia. da comunidade, nos meio de producio nio pertencerem 0s produtores em se atribui a0 trabalho um cardter mercant sujsitando-o as Fis gras da mereadoria, A arte €, pois, uma met adoria: sem meio de producto (engrenagem) ndo seria posivel produ ta! Uma dpera 8 pode ser feta para a Opera. Nios pode onceber uma pera como um animal marinho de BOcKlin, que, pis a tomada do poder, seria exposto num aquirio; mais ideal, finda, seria querer introdusilo, 4 socapa, nos nosos velhos at ‘ins zooogices! Mesmn que quisésemos prem disussio a pera ‘ome tal fungi cla Sper), sero forges fazer uma pers OPERA, SIM, 1 6pera que nos 6 ado destrutaratualmente€ uma iguatia, 44 muito antes de se haver tornado uma mercadoria, era um ins ‘tnumento de prazer. E, quer sliite, quer proporcione cultura, pers esté ao servco do prazer, poi soicta proporsiona, simul: tancamente, uma educagio do gosto, Ao abordar os temas, filo numa atitade de fuigo. E alo s "vive o sou tema, come tam ‘bém suscita uma "wivéncia™. Por qe rardo & Mahagony uma ‘pera? O cariter fandamental dessa obra € 9 mesmo que 0 da ‘pera, ou seja, um carter de iguaria. Seré que na épera Meh sonny otema é abordado numa atitude de fruigho? E de fato. Sera, Ponenturs, Mahagonny uma vivéncia? Com efeito,& ua vivéa- sia, Coneluimes, pois. que Mahagonny €uma autéatica diverse, A épera Mahagony ver fazer, conscientemente, justia wo sabuurdo, nese ramo da arte que € a pera, © absurdo, em Sper ‘consist em haver uma utiizaggo de elementos raionas uma ss Piragao de expresividade ede realism que so, simultancamente anulados pela misica. Um homem moribund é real. Mas. se esse Jhomem se puser a cantar atinge-se esfera do absurdo, (Cosa ue no suceeria se 0 ouvine cantasse também, ao olh-to,) Quanto mais imprecisa, mais ireal se tornar a realidade, através da misica — € uma terccza dimensio que surge, algo muito com plex algo que €, por sua ver, plenamente real ede yu se podem ‘xtrair efeitos plenamente reais, no obsante se encontrar ja muito distante do sew objeto. ou sea, da realidade utizada —, tanto mais esimulane se tornado fendmeno global: 0 grau de prevet ‘depend diretamente do grau de reaidade Este coneito de dpera que veaho referindo — concsitoem que ‘ao se deveria sequer tocar — condeiona todos or demas aspectos pera Mahagony. Esse qué de absurdo, de ireale de nie sétio, coloead no plano devo, deveri, assim, anularse si ‘proprio por um duplo sentido, O absurdo que agui se depara & apenas adequado ao leal onde sures ssa attude € de pur frst, mac a oe nn he ie © contetido da dpera Mahagonny € 0 prazer. O cariter de ‘iversto jf apontado,revela-se, portato, nlo sna forma, como, também, no tema, Deveria ¢ tornar © prazer objeto de uma. ndlise, jk que se tnha de tomar a anise um objeto de prazer. prazet surge, aqui, na sua forma afvale hstrica: como merce Seria Tal conteido deve, sem dvia, roduzir, antes de mais nada, tum eleito provocante. Vejamos um exemplo: quando, na décima terceira parte de Mehagonny 0 "Come-Tudo” s enche de comida 6 ir desta para melhor, filo porque a fome € le. Embora em ‘ada tenhamossugerido que, enquanto ele devors, hi outros que fstlo eslomeadas oeleito nto deixou de Ser provocante. Meso ‘que nem todos os que tim com que encher a barriga morram de comer, sdo muitos os que morzem de fome, e precissment porque ht quem morra de fartura. Um praze asim & provocant, elas vastasimplieagbes que encrra?. A Opera de hoje em dia atva em ‘ireunstiniaridénticas, como um instrumento de prazer, de modo feral provocane. Mas tl efeitondo se faz. evidentemente, sent Junto esse punhado deespectadores que aca assistern. Em tadoo aque denota um cuno provocante encontramos uma econstiuigso a reaidade ‘rar parE ums prec mot ues afer ard cada sconces Sheree ‘Onn ts de mri seitn: dee rir se cues enamel: ite conte'8 ea tp A mur she ‘Shandon nose ame. Aiea sets So Sen een pes es ‘mind dace dale come sn suit Pl a cade 1s [A 6pera Mahagonny nto ser, taver, muito apettot,e& posivel (que (por ado ters conscincia trangia) toda a sus ambigho se ante justamente em nto posuit al qualidade; contudo,&, incon testavelmente, uma iguaria. ‘Mahagonny nada mais € sento uma pera, 1-MASCOM INOVACOES! Era necesirioelevar aera ao nivel tkenico do teatro moder- no, Por teatro moderno entendemos eat pico, O esquema que segue indica as principals modifiagbes que ocorrem, as pasar mos ‘de um teatro dramdtico para um tetra pico! are dramtcn de Par én de Ace jogos" om mane sume eek se he le mundo sea @ rans pare devo Fc ne doc cosine mmpeeneem seieraoe. hah meter onment one te eum once ‘wegmertaay Buses. steric sttestedenos deren iSorew en ewe mene “ BERET SE ree ‘acces emt oh as det eum mato pre some 16 ‘incursto dos métodos do teatro épico no dominio da opera ‘onduz,principalmente, auma separaedo radical dos elementor. possvel por termo a consabida uta pela primazia entre a pal A misica ea representago (lutaem que Sempre se peo problema 4 qual deveré serve de preterto a outra — a misicapreterto para ‘espeticulo ctico, ou oespeticul cco pretext para a misica 1c.) por uma separasio radical dos elementos. Enquanto a ex: presso “obra de arte global” signficar um conjunto que é uma rmixirdia pura e simples, enguanto as arte verem, asim, de set “comefundidas”, todos os varados elementos fcaro identcamen- te degradador de per se, na medida em que apenas thes & posse! servir de dita uns aos outros. Tal process de fusBo abarca tn ‘bém o espectader,igualmente fundido no todo ¢representanda 4 parte passiva (pacente) da "obra de arte global”. HA que con hater esta forma de magia. E necessri renunciat a tudo 0 que represente uma tentativa de hipnose, que provogue fxtases com endveis, que produza efit de obnubilacte FOI PRECISO DAR A MUSICA, A PALAVRA, E A IMAGEM MAIOR INDEPENDENCIA, A Misica Na misica verificaramse as sepuines modificasdes essen Mose uc impo ee secpremnteotet> page [A misca&a mais valiosacontibuigio pars otemal 1 ai qd rie ema psn ee ” WO Tex Para que, no divertimento, se fosse alm de um mero absur- do, hava que eatrair da diversi algo dito, direto. Surg, as- fim, a descrigho de costumes, Sio as personageas em agi0 que ‘arram os costumes. O terto io finha de ser sentimental sem Imoral, mas, sim, de revelar sentimentalidade ou moralidade. A palavra escrita Yformot-se (noe stulos) Wo importante come & palava falada a leitsra dos titulo, sobretudo, que possibilita 20 Diblico uma aide mais vontade em relagio&abra A Imagem ‘A inclusto de imagens sutBnomas na realizago teatral é um {ato inédito, Ax projeybes de Neher assumem uma posicio em relagdo aor acontecimentos em cena: 0 "Come-Tudo™ rel surge sentado defronte do "Come-Tudo" em imagem. A cena repete por S:fimente, 0 ques depara na imagem, dando Ihe continuidade AAs proces de Neher Sto uma pare inegrante da Opera, tho futénoma como masca de Weill e como texto. Constituem © material plastic. Estas inovagdes_pressupdem, evidentemente, uma nova attude da parte do piblicefequemtador dos eatos de pera AS CONSEQUENCIAS DAS INOVAGOES: ‘A OPERA SOFREU ALGUM PREIUIZ0? DDeterminadas slicitages do plico, que evelha pera satis: fazia cabalment, nio serto evadas em conta pela nova Sper ‘Max qual a atitude do piblico perante a dpera? Sera posivel modifica? Homens adultos. experimentados na luta pela existénca, inexorives, desemibocem, em avalanches, do metropolitan, © 18 preciptam-se pata as camarotes dos tatos, numa dnsia dese tor: ‘harem como que cera nas mice de mages. Juntamente com 0 chapeu, deixam, no vestiiria, um comportamento habitual, ui posi "na vida, e. a0 saiem do vestiio,& com porte de ris ‘que ecupam 0s seus lugares. Sera este um procedimento conde nivel? Uma atitude como estas poderia parecer rdicula a quem ‘no prefernse uma atte de rei de um comersiante de quer, ‘Mas 0 procedimento desas pessoas, na Opera, € indigno dela. Seti possvel que ventam ainda a modifid-o? Poder-se-4 indus. las acenderem os es charutos? O fato deo “conteido", de um pont de vista téeico, se ter tomado — pela remincia& iusio em favor de uma virwalidade polémica — uma parte integrante autbnoma, em funedo da qual 6 texto, a misiea ea imagem assumem determinados "comports mention €0fato deo espectador, em vez de gorar da possbilidade de experimentar um viene, tr a bem dizer, de se sntonzar fem ver de se imiscur na agio, ter de descobr solugdes, deram Inicio a uma transformagio que excede, de loge. ma mira ques ‘Wo formal. Princpiase,sobretado, a conceber a fungdo propia do teatro, afuneio soca 'Avetha pera recusaseterminantemente a qualquer discus sto sobre o conteddo. Se oespectador, ao asin representagao de quaisquer situacdes, tomasse uma posi em relagho alas, 2 Yetha Spera teria perdi a sua batalh 0 espectador tern "com: preendigo”. Sem divide que essa Opera comporta também ele ‘mentos que no denotam um carder puro de guari: € necessiio| fistingoir ene 0 periodo da sua ascensio ¢ 0 seu declinio. A Flauts Mégia. O Figaro, 0 Fidéio continhaty elementos filo saticos,dinimicos. Porém, tudo.0 que nelas hava de filesdfco, tudo que porvntura era ousado, de tl forma se encontava sem pre condicionado pelo carter de iguaria que a0 rgnfiad so hreinha. por assim der. uma ata, evdenciandovse em seu lugar. a preoeupacao de provocar praze- Como 0 sentido, ma acepcio prpria da para we atrofiara, no restava k pera send lum sentido de outa ordem, 0 de ser uma dpera. O conte. na pera, deiara de constitu preocupagto. Os atuas wagnerianos| contentamse com a reeotdagao de que sus confades primitives feriam comprovado que @ pera tem um sentido © ae. por con » seguinte, teriam captado ese sentido, Os compositres que esto sob a égide de Wagner mantém mesmo, ainda, ume afitude obs tinada de mundividentes. Mundividénsia que para mais nada ser ve. contudo, senio para ser malbaratada como simples meio de prazer (Electra, Jonny Comeca Tovar). Conserva-se ada tod ‘uma técnica, prodigamente desenvlvia, através da qual esta atitude medrou. E, pos. como mundividente, que bom burgus peteore 0 seu dia-adia e se sens, por ele. slicitado & contem lag. S6a partir desta realdade, a partir de um sentido sijelo a lu processo de atrfia este sentido estava, sem dvi, em com dices de se trfiar. sera possivel entender a5 continuas inovasbes «que atibulam a pera que so tentativas desesperadss de em presar extemporaneamente. a esta arte, um significado, um “now” sentido, Nesastentatvas, ao dominio musical que acaba Por ser atribuido esse novo sentido, Nelas, a evalugze das formas Musicals adguie sentido como evoluct; determinadas relate, modificagbes, et. pawaram, afortunadamente. de umm meio um fim. Progress, porim, que nio tim conseqinias © que mio so conseqiéneia de nada, que alo provém de novas necessidades, mat apenas satslazem, como novos alrativs, velhas necesidades, © aque tém, assim, uma missio puramente conservadora, Introd ems novos elementos materais, que ainda no havism sido ‘tilizdos“"naquele local” pela simples eardo de no terem ainda Sido wilieados em outros. (Locomotives. pavlhdes com miguinas Ses, salas de bao, ele, servemnos de distragho, Mas {quem vit mas longe © neque o conteido em geal eo exponha em Iatim, ou. pir ainda, osuprima.) Tas proressos apenas eevlam um araso. Realizamse sem que se alter a fungte doenjunto, 08 melhor, realizam-se apenas para que esta nao se altee Ea misica para consumo? Precisamente no momento em que, no domfnio da misica, se ‘hegara arte concetante ou se. & mais pura are pela arte — como reaeo ao pendor emocional ds mista impressionists — suru. bem dizer do mada, um concito de misiea em que esta fra considerada simples produto para consumo, Tal misc fi, 4 hem dizet. uso do lego, ailirvaro do mesmo modo que & utlizada™ ume mulher. Exam inovagdes sobre inowagdes, © 0 ‘ouvinte, js saterudo, eadguira prazer da sudigio, Dalat co 0 tra a preuica de ouvir passou-se diretamente & lita pelo ouvinte diligent e, mais tarde, a lita pelo mic digente. O tolonclsta fd orquestra(chefe de familia, com oma vasta prole) dena de tocar por uma mundivinnciae passa a tocar por praze. Estava enfim salvo tal cariter de iguaria!" Perguntamos a nis prprios qual arazto deste marcar pass, esta persererangatenaz em tudo o que suscita frig, no értase Por que esta falta de interesse peas questes que transcendem © Ambito pessoal? Porque ruzionio se discute? a respota € que nada hia esperar de uma discussie. Qual: quer dscussto sobre a forma da sociedade atual, mesmo que fpenas Se pusessem em causa os seus slementos de menor inpor ‘cla, Se tansformatia, als, imediata irefeanslmente, numa ppoderesa ameaga contra esta forma de wociedade 1 vimos que « Spera & posta & venda como entretenimento rnotueno,cecunstinea que fz com que toda equalguertentativa de mosifci-la yenha a esbarrar em limites perfeitamente del rides. Uma divesao desta naturers tem, pois, de ser uma versio selene econsagrada 20 mundo da uses. E por qu? ‘Nama sociedade como a atu mio é porsel conceber & Ineiséncia de um tipo de dpera como 0 que vimos condensnd As iluses que ele comporta tm uma importante fuga soil. © ‘xtase imprescindivel, nada opode subtitue!, Se nem sequer na serena envi eines aca, Sense eto um proves © aust progr torpor mas. pei © ast ec desopontmestn poles ie Pass pra. ne pelea a” {pers o homem tem, assim, oportunidade de permanecerhomem, fem parte alguma a tem. Todas as suas fungoesinelectivis hi Iuito que estdo reduzidas a uma desconfanga angustada, 20 logro do présimo, ao callie ets [A velha pera no subsste por si, mas porque o estado de coisas servigo do qual se enconta é,ainda'e sempre, 0 de ou tora. De outtor, sim, mas mio totalmente — eis, cm suma, as perspeetivas que a ova pera gue por af se apreseta nos oferee ‘Mas hoje em dia hk que pergunta sea Gpera no se enconteaj& ‘num estado em que mais inovagdes nto levem & sua renovagto, mas, sim, sua destrugao! Por mais que Mahagonny continue ater um carter deiguaria = ¢ tem-no precsamente tanto quanto convém a uma épera — a tem, também, a fungi de modificar a sriedade: Mahagon fy pe justamente em causa oreferdo caitere atta 8 sacedade por esta necesitar de tis dperas. A bem dizer, esté ainda roles telada no velho trono da velha Opera; mas, pelo menos (por dis tragio o por eine de consi) 0 ai tinanda com earn Ss Tniferiannseinvagis, mas tae se deo de canta ‘As inovagbes teas atacas mal pela rai ‘Simmaie qurs wianm ete atte de spelen eos om ‘Scns te doen! ptr dpa guar ca Se eo A Steps marr en tr net a sn sda pic" rede Dat Unb tne Rar (0 Mal arma “sn 374 caine wince 2 PELAS INOVACOES — CONTRA A RENOVAGAO ‘A pera Mahagony fo esrita em 1928-1929, Nas obras sub- seqentes, eftuaram-se entativas para acentuar cadaver mais um ‘pendor dditico, em detrimento do 6 relerid carder de iguaria. Procurou-setranslormar os fatores de prazer em fatores de eh esformar determinadasinstuigtes de extaacias de rereo em érgios de instrugto, a NOTAS SOBRE A OPERA DE TRES VINTENS* LEITURA DE DRAMAS © motto da Beggar's Opera, de John Gay, & também ade aquado & Opera de Trés Vinténs: "Nos hace novimus esse nihil Esta versio da pera de Gay nos dé pouco mats do que otvr0 de onto de uma pega que faga parte do repertirioteatral: diriges 0 entendido, em ver dese digit a quem procura simplesmente braver Devemon, pois, esforgar-nos para que o maior nimero poe sivel de expectadores ou de letores se transforme em entender, Iransformayao que est, lis, em curs, ‘A idologiaburguesa surge-nos na Opera de Tris Vintén nfo apenas como tema, mas também no modo como o tema €apresen tado. E uma expécie de relatério, um relatério de todos o& acon tecimentos da vida real que © espectador deseja encontrar no teatro. Como, porém, simultaneament, oespectador v# cosas que ‘io desea ver, como v8 os seus desejosndo apenas saciado, stiticados (€-e nto na qualidade de sueito, mas nade objeto), fem principio, capaz de atribui ao teatro uma nova funy, To avi, como 0 teatro opoe resistencia a esta mudanga de funcio, onvém que o espectador lia, por si pecas dramaticas eujo ob: Jetivodnico no seja a subd 4 cena ma sim, modifier. também, © teatro. E deve fazélo, justamente, por falta de sonfianga m0 teatro. Verificamos, hoje em dit, umm primado absolto do teal sobrea literatura dramatica. Um primad da engrenagem taal sto, dos meios de produto. A engrenagem tata este & au ‘quer transformagie que tenhaem vista outros ins que nao o seus ‘Ao contciar com o drama, é ela que lopra modifi, asimilan- {o-o — exceto os casos em que 0 drama a si prépriose aniquila. O| fato de ser possivel ao teatro representa tudo, fato de ¢ teatro "eatrlizar™ tudo, torna menos premente a necesidade dese dar devida execugto cdnica A nova arte dramitice, neessidade, po rém, que ereveste de maior importinca para o teatro do que para 4 propria arte dramatiea, Este primado da engrenagern teatal ‘deve se evidentemente. « motivo econdmicos. OS TITULOSE AS TELAS As elas sobre as quas se projtarto os tituos das cena, slo um impuls nical de confer ao teatro uma fia terra. A ‘te impulso de transformagio do teatro (no sentido de torso ‘mais literério) de um modo geal de transformagio de todos os selores da vida plies, deverd se dar oméximo increment ‘Aribuir uma feiga literiria ao teatro sigifica impor a f sguragio dos acontecimentor através da sua formulagie. Tal process possbilits ao teatro aproximarse das outras institutes 4 atiidade intelectual. Esta transformagdo permaneceri, con tudo, unilateral, enguantoo pabico mela ndo compartcipr e en (quanto nao ascender, através dela, um nivel superior. Em desabono dos titulos, « com fundamento na arte da: imitica clissica, tease afirmado que o dramaturgo deve inlur na gio tudo o que haja para dizer e que a poesia deve extn de i propria tudo que tivr a exprimi. Tal eigencia ests em rlagdo tireta com determined atiude caracterstien doespectador.e que conssteem nao pensar sobre uma coisa, mas, sim a partir dessa coisa, Esta tendncia,porém, de tudo submeter ima id, esta ‘mania de compelir 0 espectador @ um dinamismo linear — onde rio pode voltarse nem para a dreta, nem paras exquerda, nem para ima, nm para balyo — deve ser rejeitada luz de uma nove fart dramitica, Também aa arte dramdtica hi que introducir as ‘otas de rodapé-ea consulta de confront Temos que nos everctar para um ato visual complexo. Nas sircunstineas que preconizamos, refer sobre o decurso da ago ¢ ‘quase mais "mpsstante do que reltr adenira do decuro da ago ‘Além do mais, 3s teas exigem e possibitam ao ator 4 aguisio {eum novo estilo. Este novo etilogoetlo pico, Durante et 1a dis projegbes,attude do espectador éx de uma pesioa que ce 1 fumando eobservande algo ao mesmo tempo, Obriga, astm, 0 % ator a uma representasio melhor e mais autntica, pois vai querer levar um espectador que esteja fomando, um homem, por con- sequinte jf Dastanteocupado consign proprio, adeixarse absorver pela pees, Dentro em breve teriamos, deste modo, um teatochelo ‘e pico expesializado, tal como acontce jé nos pavihoes des. portivos, que s enchem de um pablic conhecedor. & impossivet ‘be os atores se atrevessem, ainda, asenir a um piblico entendido fSses deznis de mimica miserivel que preparam. hoje em uns quantosensais, sem a minima ponderagio! A mercadoria ‘ae formecem nunca seria aceita mum estado de tl forma p= mitiv, de tal forma em bruto. O alo teria de ve servi de um process completamente diverse para tormar sensaionas s acon {eciments jf revelados pels titulo, por conseguinte, despojados jf de qualquer sensacionalidade, do ponto de vista do conteido Mas é inflizmente. de recear que os titulos ea permissto de fumar nio bastem para se lear 0 piblico «uma utlizario mais profcua do teatro DA MANEIRA DE CANTAR AS CANCOES {Ao cantar. o ator efetua uma mudanca de funcdo. Nada mais: sbominivel que um ator que simula nto notar que abandonou © Plano do dissurso pronsicoe est cantando. O discurso prosaic, © {santo e-0 discursa eevado constituem ts estates distntos, que Sempre devem permanectr dstints entre si. Em caso algum se ‘dveri entender por dscuro elevado um grau superior do discuso prosaico e, pelo camo, um grau superior do discurs elewado. Em ‘iso algum deverdaparecero canto onde quer que falhe a palavra por enceswo de sentimento. O ator mio sb precisa canta. como também mostrar a0 publco que esti cantando. Dever’ procurar fo tanto enerorizar 0 conteido sentimental da sua cance — ‘er listo ofereer outrem uma comida que i foi pornos mas- tienda? —, como exibiegesto,gestos queso, abem dizer, os usos ‘cos costumes do corpo-Pondocem pritica ese principio, uli, a0 tensair, de prlorénea is palates do texto, Joeuxbes Kiomsticas| Corrente, profanas, que exprimam algo semelhant na linguagem inreverente do di-a dit. Quanto a metdis, 0 ator mio deve segui » 1a fietmente; falar sem ser ao sabor da misica € um processo que pode surtir grande efeito, por ser de uma sobriedade constante, Independente da misia edo ritmo. Quando o ator se conjuga com 4 melodia, tal ocorrncia tem de consituir um verdadero aconte ‘imento; para realé-la, o ator poderd demunciarabertamente sua propria frugho da melodia. Convém que of misicosextejam Wi fSveis durante o desempenho do ator que este prsa faze, Avista Ge todos, os necessiies preparatives(pée, por exemplo, uma ‘adeira no lugar devdo, ou se maguila ete) Imperta, especial mente, que, a0 canta, o ator mottre que esd mastrando ago. POR QUE RAZAO £ MACHEATH CAPTURADO DUAS VEZES, ENAO UMA APENAS? A primeira cena da prisio ¢ considerada, 2 luz do pseudo ctassciamo alemo, um redeio , do nosso ponto de vista, um txemplo de forma épics elementat. A arte dramitica puramente “insmics, 20 dar primazia iti, fax oespectador desejar um ob- Jetivo cada ver mais dfinido (aqui, a morte do hee), provoca omo que uma procuracresente da oferta, , pela simples razio de posibilitar uma intense partcipagao emocional do especiador — os sentimentos 56 ousam manifestar-se em tereno absol mente seguro, nfo toleram qualquer desspontamento —, neces ‘Stise que # ag30 decors, cbrigatoriamente, em linha rela. F 0 teste prisma que a cena relerida surge com um rodeo. A arte Uramitica épice, de orentaao materialist, poacointeressada 1 investimenta emosional do especador, nfo coahece finalidade al tzuma propramente dita, mas um fim, apenas: a obrgatoriedade a {que se submete de outro tipo e permite uma evolugto no s6 em Iinha reta, como também em curvas. ou mesmo em saltos.A arte Gramética dinimice de orientacio idealist, yltada para o in ivdo, quando iniiou, com os elisabetanos, a sua carrera, era, fem todos os seus pontosessenclais, mals radical do que duzentos anos mals tarde, com o pseudoelasscsmo alemao; este confundi 4 dinmica da interpretagdo com a dindmica do que esti sendo in ‘erpretado e“estuturou” oindividuo. (Os atuas descendentes dos 2% escendentes se extnguiram: &dinimica da interpreta trans: formow-se, entetanto, numa hibil disposigte — adguriéa em- piticamente — de vata quantidade de Feito, © o individu, em plena desntegraco, continua a ser reconstitido em funglo des prdprio com o nico objetivo de se trmar um “papel”. O roman: ‘2 burgués deeadente, por seu lado, aperlegoou, ao menor, a picologia, para poder — assim 0 ct — analisar o individu (Como se individuo jé nto estvese, hi muito, purse simples: mente, dstito!) Mas essa grande are dramdtice fo menos radical na eliminacto dt matéria. Nelo, «construgdo nto pde depart, na sua evolurdorellinea, os desvios que os indviduossofrem e que Ho eausadox "pela vida” (nela vemor, ainda, entrarem feqden temente em jogo relacdes que se exercem de dentro para fora, ara com questes “no ocorentes; o campo explrado é muito exten 50), antes emprega tas desvios como geradores de inamismo. Es irieio do indvidvo com o exterior introduz-se nele, descend 6 ao Amago mais profndo: &nesse mago que oembate € ren. to. Todo o impeto desta arte dramétiea provém de uma con Jugacdo de resisténcias. A extruturagio da materia ndo & ainda ‘eterminada pelo desej de uma Formula ideal stisfatiria. Surge: os aqui 0 Seu qué de materiaismo baconianor o individvo & de ‘carne ossoe resisted redugdo uma lormula. Onde quer que haji mnaterialismo, porém, & forma épics que desponta, a arte Aramitica: desponta, sobretudo e mais frequentemente, noc mio, em que sempre nos depara uma aitade materiaista © chi, Hoje em dia, tem que se conceber ose humane como" cojuato se todas as condiges Soca, a a forma épica poder abarcst todos os acontecimentos em process, on guts pia a arte dr ‘nitia constitem os elementos de wma ampla imagem do mundo Também 0 homer, ou melhor, o homem “de came e ots", x8 pode Ser concebid agora em fungio ds acontesimento em qu s¢ fenguadra e que odeterminam. A nova ate dramitia fom que in ‘oir metodologicamente, na sua forma, a experiencia. Tem que pdr sereirse de conextes extabeleidss em todos os sentios necesita de estatismo e possu.além dso, uma tensio que € nota dlominante entre todas as partes dstints de que se compe « que as "earrega reciprocamente. Esta forma €, assim, tudo, menos 'um conjunto de fatossimplesmenteainhado em sequénci POR QUE MOTIVO 0 MENSAGEIRO ‘A CAVALO TEM DE CAVALGAR? A Opera de Trés Vinge dno wa descrigto da soiedade argues fc ne apenas de escra do proletarago) A socedade In eo eng Breen do my na thundhisgnca castrate, sem sa no pode sbi mi {nude outs cosa, O sparcemeno do menage real a aval. Iacono gus a burguea ne repreventado seu mundo, €inespen suv So exatment nts on aeien do Sr Peachum gua {hse aproveitafinanceamente das comsséncasingusts. a SSeistde. Quem far ter, gue eta, se-quser, em como & “fete omit o cavalo do msmsagio, tal somo ines ome yor quae fos or encenadores modernists desta por. Na fe Prin ua ennai nse plo Mallsia que reveainclpabiidade do ssassnado teria, se "ns, ura emp 9 papel do fata na nse br fies de enter na salad tobueal pasa por wm ene. Na ompieenden soto. a que pont € wma fla de ato desene mfr pi vo del roe conte ‘Rigarmos para o domino ds hilardadeoaparesmenta dem ‘Seo calor Sem oaparesiment,fowe lade que manera fs {um mensagsvo a cavalo literatura burgesa descera Uma Snes deseo de stung. Ene mesaper a avalo ascent Son frig srdaderamente trang, mesmo de tages que Sao, em a nsstentve,eportantos congo sine qua ron de Ua iteraiura cay condiiosine gaa nou nconseqienia. ‘Otero final deve ser, eldetemente,representado com efit seredadec absolute dgniade. NOTAS SOBRE A PECA A MAE! A Mae, eserita no estilo das pecas didticas, mas exigindo ators, € uma pega de concepgdo dramatica antimetafisia, ma lerialista,ndo-aritovlice. Esta arte dramdtica nto explora. 20 decidamente como a ate dramétia aristtéica,«tendéncia que hi no espectador para uma emparia por abandono, revel, alm disso, uma atitude essenciatmente divers, em relagio a eter sminados efeitos psicolégcos, tl como, por exemplo, acatarse, As sim como no pretendeentregar ox seus herbis 20 mundo, mundo teste que surge como destine inevitvel, também mio €intulto seu fentregaro especador a uma experénciadramitica por sugesta, Esta arte dramatica, empenhada em ensinar a0 espectador um eterncnado comporiamento pitien. com vista & modifieagto do ‘mundo, deve suscitar nel uma atitude fundamentalmente deren te daquela a que esta habituado. Seguense algumas medidas adotadas quando da representaguo de A Mae em Berlim (1932) ¢ fm Nova York 1938), 0 EFEITO MEDIATO DA CENA EPICA Da princiea vee que fol ropreseniada A Mae, 0 enirio (le Gaspar Neher) nao pretends inulie qualqae loctidade real 3¢ sumia. antes. a bem dizer, uma posigdo em rela aos aconte ‘imentos, itava, conta. preparavaeapelav part a memia, Os pares indiciy de mebiliaco (portas. et.) que comportay I mitaramse @ objetos que também represenavam, isto, objets sem os qua ago nio decorreria, ou decorreria de outro modo, Um sistema fino de tubos de fero, que quae no ultrapastavam a a altura de um homem, montades vrtcalmente no pale, dst as diversas, e nos quais se podiam enganchar outros tubos ho- firontais, com teas temoviveis — havendo, portanto, a pos bilidade de se acrecenterem indiferentemente —, permitiy uma ‘ipida mutagao de cena noespeticul de Beri, Por entre of tubes. estavam suspense, em armapies, ports ‘de madeira com fechadura, Em Nova York, o cenano (de Max GGorelik era semelhante;contudo, menos movel. Numa grande tela relator reproduca a aitude do motorists ou «do atropedo, ov 8 de ambos, de al forma que os crcustantes tena posibllidade Ae formar um juzo erie bre o scien, Este exemplo de um teatro épico na sua forma primitva parece ser em si, fcilmenteaceitivel. No entant, pelo que Sa o bvemos por experigncia propria, tal exemplo revestese, para 0 ‘ouvinte ou para oletor, de uma espantosa dficuldade, desde que ‘048 um ou a outro se exja que compreenda, em todo 0 seu akan ‘ce, o propésit aque obedecea a nossa escola consideraro exem plo da esguina de rua base de um grande teatro, um teatro de ‘uma época cientifica. O que com isto se pretend dizer 6, por um ido, gu ota fi pode os Sr em fon por Tudo, mas que no necesita incur, fundarentalmene, near elemento que vi além desta exemplifieagio da esquina de ua, pars poder ser um grande teatro e, por outro lado, nBo se poder ‘Shama teatro pico se faltaste gum dos elementos essenciais do fexemplo que refer. Sé depois de se compreender sto se poderd, na realidade, compreender 0 que we segue. SO depois dese compreen- der o que hi de novidade, de ousadis, de desfioaberto 8 ertica nesta afirmagio de que uma cena como a da esquina de rua é sfisente como exquema de um grande testo, se poder realmente fomipreendero gue Segue. preciso ter em conta que o acntecimento em questio no corresponde evidentemente, de modo algum. ao que costsmamos Gdesignar por um acontecimento de ardem esttca. O autor da texemplificacdo nao necesita ser artist. Para alcancar seu objetivo bnatathe saber 0 que, pratcamente, todos nbs sabemes. Supo- ‘nhamos que n80 era capaz de executar oma movimentaglo Wo Fipia como 1 do acidentado que est Imitando: Bastard, nesse ‘aso, que diga, como explicagdo: — Os morimentos dee eram tes ‘eves mais ripidos do que os meus. — A exemplifiagto no sri por iso, prejudieada na sua estneia, nem desvrtuads. Mult pelo ontrrio, marcar-se-é assim um limite & sua perfegio. Se sa Capacidade de metamorlosechamasse a atengio dos crcunstantes lal efeto perturbaria a exbigdo.Terd, pls. de comportarse de forma a eviter que alguém possa exclamar: "Com que veracidade cle far © papel dem choler!™ Nao tem de “arrastar"™ninguém ‘consign, Nig deve (rasportarainguém. servindo-se do seu poder de sedugdo, da exfera do quotidiano para outra "mais elevada”. ‘necesita dispor de aptides especialmente supestvas. E mito significative o fato de ima das caractersticas fundamentals dsse teatro que por a se faz habitualmente.e que consste em apresen os ‘ur ao pblico uma iusto, nlo se manifestar na cena de rua. A representagio do individue que dewreve a ocorréncia na rua tem ‘um cariter repetitivo. © acontecimento realizou-se« es que se realiza agora a repetico. Desde que a cena ter cia, neste pono, a cena de ru, o teatro deisatd de ocaltar que é teatro am ‘bém a desrigto na esquina da rua nao oculta que € uma descricio (nem tem pretenses de ser um acontecimento auténtico). Tudo 0 ‘que na representagdo & fruto de ens liar, por completo, em evidfncin — desde a memorizagio do texto a toda « engrenagem mobilizaa e a toda a prepara subjacente, Sera essim pense uma vvéncia? E a realidaderepresentads, sei ela, ainda, suscep veld ser vivid? ‘Ncona da rua determina qual a indole da vvénca a suc to espectaor. O indiniduo qu fa a deserigho na rua experimen ‘ow indubitavelmente uma vivéncia de natureza emocional. mas no intenta fazer que a sua dsergao result em vvencia para oes Dectador. E mesmo avivéncia do motorist do acidentado sto por fe transmitidas apenas pare yum pretende que flay venham a translormar-se para oespectador numa vvéncia © ‘numa fonte de prazer. por maior que seja a veracidade que em reste sua desrico. Esta no ted menor valor seni repro 8 pico que o acidente provocou: teria menor valor se © repre vss O objetivo da sua descrigao io € car emoydes pus Un teatro que se proponha seguir o exemplo que preconiel realira, desde logo. como & bvio, uma alteraco da sua fungi. Oviro clement essencial da cene de rv, também aecessirio 1 cena tearal — se pretendermos apresenta teatro pico ¢a sircunstinca de a desrigo tr uma projeyto no dominio pric, ‘no dominio social. Quer o individu que deste 0 que oorreu ha ‘ua ura, apenas. mostrar que ese ov aquelecomportamento de lum transeunte ou do motorist determing ineitaveimente um acilente (que um comportamento diverse poderia preven), quer 0 sew intuito soja esclarecer a quem cabe a culpa 4 desergio obe *lecea uma fnaidade rites, hi sn compromise social Eo objetivo da decrgdo que determina qual 0 rau de cexatiude a conferie & imitagdo, O nosso narrador ago precisa imitarinegralmente a atitade das suas personagens stare qua imiteem parte, em tanto quanto for necesirio para nos dar uma Imagem da ocorréncia. A mesma cena apresentada no teatro dé ros: de uma forma gral, imagens muito mais completas, imagens ‘gv estdo de acordo com aesfera de interesses do teatro, que é mais ‘asta, Como estabelecer entdo, neste poato, uma afnidade entre a ‘cna da rua ea do teatro? A vor do acidentado, para exemplifcar om um detalhe, pode, em primeio lugar, nio ter desempenhaco papel algutn no acidente, Mas uma divergéacia de opaices urgida| entre as pessoas que assstizam ao acidentee que dscutem se aex ‘lamagio ouvida ("Cuidado") veio do aidentado ou de qualquer ‘outro transeunte poderé evar nosso interpreta imitar «yor que a proferi. E possvel solucionar uma questo como esta desereven 3, muito simplemente, se se tratava da vor de um veho ou de tuma muiher, ou se era apenas de tonalidade alta ou baixa. Con- tudo, a solugto pode também depender do fato de a vor sera dum Ihomem cult, ob 4 dum homem inculto. Pode darse 0 caso de a tonalidage alta ou baixa desempenhar ur papel importante, pos. conforme a circunstinela, assim caberi ao motorsta uma culpa ‘maior ou menor. Hé, ainds, uma série de particulariades da vitima que necessiam ser representadas. Esavia distraido? AL. sguma cosa 0 distaiu? Qual teria sido, provavelmente, 0 motivo? ‘Que € ue, o seu comportamento, reve que trd sido essa cir onstincia a distal, e nfo outs? Ee. ete Como vm. atrela ‘ave nos langamos, de desrever um acontecimento passado mi ‘Sauina de uma rus, permite-noselaborar uma reproduc bas fante rica e polilacctada do homem. Nio devemos, porém. es fquecer que Um teatro como 0 que advogames, que nos Seu cle tents esenciis no pretende wltrapassar a representac feta ths via pili, tem de reconhecer detrminados limites 3 sua Jmitaguo. € em funeio do objetivo a que se propse que deve jus tilfear o seu dispéndio de clementos.! stem wai som craton a nent 0 romero a Sm 70 [A descrigto pode, por exemplo, er como ponto ulminante a questo da indenzagio, ete. O motrista rears que o despecam, ie Ihe trem a carters, que o prendam; eo aidentado, por sa vez. receari uma enorme despesa de fretamento médico, perder © fempreg. fcar desfiguredo para sempre, os, porventra, inca: pacitado para o trabalho. E dento deste campo de posibidades ue 0 individ que fac a deserigho molda as suas personagens. O| scidentado estala, postivelmente, acompanhado « a0 lado. do ‘motors iia sentada a respectiva namorada, A perspectiva socal fzanhari. assim, maior eidéncia. Os caractees poderio ser mais ‘scamentedelineados ‘Um outro aspect essenclal da cena de mi consiste em o natrador deduze os earacteres que aprewentaintsiramente a pat las ages. Lmita a8 agdes.permitind, assim, ques espeito dels Se tre uma conctusto. Um teatro gue também neste ponta sige 0 cexemplo da ena de ua afastar-se-4 de um hibito caracterstice do teatro usual e que consiste em fundamentar as ages nos caracteres ‘© subtraflas a uma ertca, apresentando-as coma proving ir Stniro sgn, Anas conden or toe scr xc ma a rsa nt gs ma opener inviin dee de ats ndpeaclentender catalan qe eh tsa ena naa pea ou mela. te ur én eae “nr onsen pce an. Plena tere de epitope” So preinete dpe remedivelmente, por determinismo natural, dos caracteres a que ‘tho dando eletivagio, Para quem faz a descrcdo do que aconte- ‘ou navi pUblica,ocaréter do individue que sth sendodeseito& ome uma espécie de dimensto fsica da qual nto tem de dar uma ‘efnigao completa. Dentro de determinades limites pode se, in- Aiferentemeate, ou assim ou assado. A quem deserve tanto inte: resam as partculridades do vsadosusceptveis de provocarem o dents, como af que eram susceptivels de enti. Mas pode, farmbém, dar-seo caso dea refeida cena em teateo, nos mostrar Indviduoe que apresentem menor variedade de matizs. Ela devers ser, ent eapar de assinalar oindviduo como caso especificoe de indicar oimbito no qual realizam os efeitos purticularmente ig rifieatives, mima perspectva socal. As posibilicades dscritvas {do nosto relator que atu na va pablica esto condicionadas por tstreitos limites (excolhems este exomplojustamente para termos| ‘ox mais esteitos limits poses). Se pretendermos que a cena em teatro nio ullraasse, nos seus elementos esenciais, a cena que ecorrena rua, hi que ter sempre em conta que o fato de aquela possuir maior riquera jamais deverd significa seao um enr ‘quecimento, Tomae, pois, necessirio abordar a questio dos cease limite. [Escolhamos um detalhe. Ser lito que oindividuo que faz 8 escrigdo reproduza, num tom exctado, a afirmacio do motors ta, de que se encontrava cansado por estar em serio havia muito tempo? (Em si, tal comportamento seria to inadmissivel quanto 0 ‘deur emiesrio que, ao vollar de uma entrevista com o ri, in Urodursse 0 stu relato da segunte forma: "Vio el barbado!”) Sem divida, para que possafazélo, ov antes, para que ten de flaé-lo, haveria que imaginar uma situapio, dentro da cena ‘ocorrida na exquina da rua, em que o estado de exitagdo (us tamente motirado por este aspecto do acontecimento} desempe hase um papel especial. (No exemplo anterior, verificar sein luma situagHo desse tipo, no eas deo re ter, por exemplo, jurado ‘einar crease a barba até que. ete.) HA que descobrir uma pers: or de apotnn gus tev orto ot le tnd Psete Frowc n pectva que permita ao narrador submeter seu estado de excitagao ‘ums atitude eitiea. $6 ser etoa este nosso amigo imitar o tom, fexcitado da vtima quando adotar uma perpectira bem dete. tinads, isto €, quando aacar es motorists, por exemplo, porque ‘io fazem nada para encurtaro seu horiie de trabalho, (Ele em Sequet €sindicalizado, mas quando acontece alguma desgraga per {ego cala, edi: "Fico dez oras ao valantel") Para chegar ata, ou se, para poder apoatar ao stor yma ‘perspectiva hem determinads, o teatro tem de adotar uma série de ‘medidas. Se ampliar este pequeno excerp de um espeticuo, que & ena de rua € mostrar 9 motoristanoutrassituagbes alm desta do acdente, de modo algum excedera, por isso, 0 exemplo-padrio. Criard. apenas, mais uma situacio de caréter-padrio. E possvel imaginarmos ua cena, no nos afastando do caster evidenciado pela cena de rua, em que s asita a uma deseriao,suficiente- ‘mente fundamentada, do surto de emogbes tas como ado motors 1a, 04, entao, em que seam apresentadosconfronos de enoactes. ara nao exceder a cena-padrao,otentrotera apenas de desenvl- ser, segundo as cicunstincas, uma Wénica que permitasubmeter as emogées a una aitude critica da parte do expecta dor. Com sto, no se pretende,naturalmente,airmar que oespectador dea sr, fem principio, impedido de partihar_determinadas emogdes apresentadas em cena. Todavia, a reeepea0 de emordes seré apenas, para 0 espectador, um determinado esthdio a efticn {uma fase ou uma conseqnéacia).O narrador, no teat sto &, @ ator. tera deempregar uma tenia que Ie pssibilitereproduzit a fetoagio da personagem por si descrita com uma determinads reser, com cera distineia (de modo que 0 espectador posse Gir: “Esti exctado — em vio, tarde demais, fnalmente™ ete) [Em suma, ator nio deve jamais abandonar a atitude de narrador: tem de nos apresentar a pessoa que ester descrevendo como al igudm que the & esranho! no seu desempento ndo deverd nonce Falae a sugesti de uma tereira pessoa: "Ele fr ito, ele die to." Nio deve ansformar-se completamente na personagom des- ‘Um dos elementos essencinis da cena de rua consiste nt atitue natural de duplicidade que o nareador adota: ams, per Imanentemente a duassituagSes. Procede de modo natural como n narrador € confere ao objeto da sua naracdo um procedimento também natural, Nbo se esquece jamais, e nem tampovco permite que ninguém se esqueea, de que quem esthem cena nla a pessoa escrita, mas, sim, a que faz a descriqdo. Ou sea, o que o publica ‘é alo é ume fasto entre quem descreve e quem est sendo des ‘tito, nto ¢ um terceito,auténomo e ndo contraditério, com con ‘orns dluids do primeiro(o que faz desrito) e do segundo (e aque & desrito), tal como é costume deparar-se-nosno teatro que Por aise faz habitualmente:" As opnides eos sentiments doin Aividuo que descreve e do que€deseit nto esto sintonizades CChegamos, asim, a um dos elementos mais earactristicos do teatro Epic, 0 chamado eeito de distanciamento. Tal eeto de pende de uma tenica especial, pela qual se confere aos aconte ‘ments reprsentados (acontecimentos que se desenvolam ene (5 homens nas suas relagtes recfpocas) um cunho de sensiio falismo; os acontecimentos pastam s exigir ume explcagto, deixam de ser evidentes, naturals. O abjtivo do elite de dist lament € possibiitar ao espectador uma erties Feeunda, dentro 4 uma perspetva socal. Serd este efelto também importante pra individuo que faz a descrgdo na via publica? E fécilimaginarmos oque aconteceria se le nto o produzise. ‘Suponhamos, por exemplo, uma situagho do génera da que asso Sescrevers — Um espectador dra: "Seo acidentado, como voce tos exth mostrando, ps primeio opé direltona ra, entde.." 0 rartadoe poderia intercompé-lo dizer: “O que eu mostrel fol que le is primero op esquerdo.” Uma dsputa come era, sobre se ‘© pe ue o-narrador asentou eletiamente primeiro na rua. a0 fazer 8 sua descriho, foo dreito ou o exquerdo, , sobretudo, sobre qual foi o procedimento do acidentado, pode modifica a escrica de tl forma que sujao efit de dstanciamento. Desde ‘© momento que © narrader passe a reparar eserupulesamente na sua movimentacdo ea eletuclacuidedosa everossimilmente rts. fad, obterd o efit de distanciamento, ou sj, dstanciard esse ‘equeno acontecimento parcial realgando-he a importnci. tor ‘ando-o notdro. O eeito de cistanciamento do teatro Epica revel se pois também til para individeo que faz a descr em plena ” rua, ou, por outras palavas, manifesta-se também nesta breve ena (que pouco tem a ver com arte) de um teatro natal, nama fesquina de rua. A transericao direta da represenagio 30 comen- rio, que carcteriza 0 teatro épico, € o elemento que logo & primeira vista encontramos numa descrigdo levada a efeito ne via bia, seja ela qual for. O individuo qu efetua a deserigdo na via pili interompe com explicagies, tanta vere the paroyam co ‘enientes, «sua imitagao. Os cores eas projeqdes do teatro Epo, (os atoresdirigindose diretamente ao espectador, tudo ito 6, 20 fundo,exatamente o mesmo ‘Como se poderé comprovar — espero que tal no suceda sem ssombro —. no apontei dente os viros elementos, aqucles que fenguadram a cena da vie piblica e, simultaneament, o teatro Epic, um plano propriamente artistic, O nosso amigo que fac a Aeseigdo em plena rua € capaz de fara, com faite, srvindose lapenas de capacidades que "praicamente todos of homens pos- ‘Sem. Mas quanjo a0 valor artstcn do teat épico, que haverh a diver? (0 teatro épico situa 0 seu exemplo-padrio numa esquina de fa, sto & remonta a um teatro simplicssimo, “natura”, a uma realizgao de natueza social cos motives, meios © objetivo sto pric, terenes. O exemplo-padrio jusifia-sea si proprio, no ecssita do aualio de certs jusiieasbescorentes no teatro ais como “lnstinto de expressio", “apropragao do destino alk", caperinci expritual”,“instintaludiea","prazer de fabulacio", ce, Serf ict conclur que o teatro épico mio estar, por conse. fine, interes pela arte? Em primero logar. seria convenient formula « pergunta de smaneita diferente st €, comegar por inguitise se podem uliear ‘apacidades arstieas para realizar os objetivos da cena de ra Responder afrmativamente 4 esta pergunta é fil. Também na eseicdo & esquina de rua se encontram elementos artisticos. Em todos os homens existe uma percentagem minima de aptidees a Ustics. E comveniente que nos embremos disso quando estivermos perante uma obra de arte. AS aptidbes que designamos por arti ties: podem. sem divida. ser sempre enquadradas nos limites determinados pelo exemplo-padrio — a cena de rua. Operario ‘como aptides artistas, mesmo sem transporem este limite (mes. 8 smo que, por exemplo, nfo deva ocrrer uma metamorfose intgeal fo individvo que descreve naguele que & descrio). O teatro épio tem, com efeito, um carter profundamente etticoe dificimente se pode concebéto sem artistas e sem qualidade estes, sem fan- tasia, humor esimpatia. Sem tudo isto, e ainda muito mais, n20| ser possivelrealiear teatro épio, Ese teatro que preconizamos ‘em, simultaneamente, de divertir ede ensinar. Como sera, eto, posstel desemolver arte nos elementos contidos na cena de ra sem omisio ou aeréscimo de qualquer elemento? Com & qu. sia cena, resularh tate, ia cena come fabula sents ‘stores experintes,linguagem clevads, caractrizacioe, ainda, um trabalho conjugado de vris tare? Necesitaremos, acts, de al um complement para adicionar aos elementos j6 conecidos, a0 passarmos da deserigdo natural” desrig “arifcial”? Tudo o que acrescentams ao exemple-padrio, para chogae: ‘mos a‘um rear épico, no seri, ao fim e ao eabo, de naturera diversa? Desde ji, se nos detivermos numa breve anilise, pode remos demonsirar que nao. Vejames, por exemple, a fab, Acidente na rua nB0 foi wma invengao. Ors bem: 0 teatro vulgar também no tata, exclsivament, temas inventados, como 36 verifiea se pensarmos nas pegashistérces, Mas também ae ‘qina de uma rua € possielrepresentar uma fabula. O individ «que faz a desriao na rua pode dizer certs altura: "A culpa do ‘motorsta. pois tudo acomteceu como dexcrevi. Mas el no seria cupado se acidente tnesseocorido da forma que passo a des crever". Poder ento, invent um acontecimento diver det srevé-le, Quanto & questto de, no testo, 0 texto ser ensaado, também o individuo que faz a deserigho na tua pode, se esver| perante uns tribunal, como testemunha, aprender decor eenstiar © teorexato das falas das personagens que val representa e ue, possvelmente, snotou de antemao. Apresetari assim, também, tm texto enssiado, E quanto a have uma representa ens ‘cargo de virias pssous, a verdad € que nem todas ax descr ese tipo seefetvam com vista aum objetivo artisticos endo, len bremos procediment da Policia francesa, que leva ox principals implicados de um caso de crime a petit perante 3 Policia, as situagies que possam ser mais eselarecedors. Veja. agora, as Imdscaras. Ligeiras ateraghes no axpesto das personagens (com % por exempl, dar aos cabelos um aspect desgrenhado) so tam: Ibm sempre ponsiels numa descrigao de cariter mlo-artstice Mesmo a carssterizagho nto €ullzads, apenas, para ins tetas: ( bigode do motorists. na cena de rua. pode ter um significado pecial, E possvel que tena influenciado o testemnho da sia hipotétics scompanhante. 0 individvo que far a descrigio poe dar uma representacio conereta essa circunstincia, fazendo @ motorists collato big fctiio na altora em que leva sua aco ppanhane a prestar detarages. Ser-the-d, assim. pesivelredult Ifandemente 0 valor do testemunho desta, Todava,spassagem de lm bigode ictco a um bigode autéaic, no teatro, oferese cera Aificuldade dficuldade essa que surge também no que respeita 0 dlsfarce. O indvidve que far 4 deserigio na rua pode. em deter ‘minadas circunstincas, pro bone do motorista: por cxemplo. se ‘Quiner mostrar que este se enconttura, provavelmente, ébrio (Goloca-o de banda). Massé deve fad-lo em determinadascircuns- tncits,e nunca sem que para tal huis justfcagio (vet as ind ages precedentes acerca do casolimite). Comtudo. a0 efetwarmos tama deveriao por intermidio de varias pessous, do gener day anteriormente refers, podemos adotar um disfare, para que ‘ja pomvel diningur, ums as outs, as pessoas desea, Mas. também neste caso, badtamos um difarce dentro de certs limites. Nio se deve susitarailusio de que as pessoas que esto deserevendo @ acontecimento so, a reaidade, os proprios Protagonist. (0 tato Epco pode laver gor tal usto por meio fe disarees partcularmeate exayerados ou de vestimentas com determinadis caracerisieas, que tenham cariter espetacular) Mas poxemios propor, ainds, outro exemplo-padrao. que, neste onto, sativa o da esquina de russ tratase da exibigao fet, também na nia, pelos vendedores umbulantes. Para venderem a sway rava.este divs figuram peranteo ranseunte tanto tn heme mal vestido, como un leat: com us quanto ace Seis eum minino de ests, reprewentany Brees cet alunnay nos qua se imp mo un, prion, ox mesmo Hines ques nossa cena do acklente impoe ae natrador (propane ‘ds chap, a Bengal das las avon, ma sua represent. toma ausiva contrafagdo de um gal. note revlam muito mai profundamente da qi extras. Vriicamo, também. a par te dos vendedores ambulantes, a utilzagto do verso coma parte de lum conterto iéntico ao indicado pelo nosso exemplo-padrio Quer se trate de um vendedor de mais, quer de um vendedor de suspensrios, ambos utlizam rtmos irepulares, mas certo, ‘As conseragées que temos feito comprovam que 0 sso ‘modelo-padrio nto € insuficiene. Nio existe qualgue ierenca e base entre o teatro épco eo teatro pico atstico, O teatro que se desenrola numa esquina ée rua € primitive seus motivo, ob {jtivos e meios de realizado nio Ihe conferem qualquer valor pecia. Contudo, é, incomtestavelmente, um acontecimeato si nificatvo, com uma aida fungd0 Social, 4 qual estao subor rnados todos 0 seus elementos. Na repreentagao da rua hau ‘eterminado incdente que serve de pretexto © que pode ser analsado de diversas formas e reprodurido deste ou daguela ‘maneira:tratase de um caso "ainda por resolver” © que, muito pelo conraro,vri ater conseqaéncias, sendo portato importa te que sobre ele se forme um juio, O objetivo da representagho & possbltar uma apreiagao cities da acorénci, Os melon de que se sere correspondem a este objetivo. O teatro épico # um teatro altamente artistic. denota um eonteida complexe e, alm disso, profunda preocupacio social. Insttuindo a cena de tua exemplo- ppadrio do teatro épico. atrbuimos a este uma nltida posto secial. Estabelecemos asim determinados prineipios pra teatro pio. tur dos quai €porsiel waliar se que nee se desenrola& ‘um acontceimento sigificativo ou nao. Oexemplo-padrio tem im portincia prtiea. Di aos diretores de ensaio © aor ators que preparam uma representa nests meldes, em que surgem ques "Wes de pormenor freqientemente complexase problemas utsticos soca. a possibile de controarem sea funglo socal de tol, "aengrenagem se mantém sempre perfetament ntact ANOVA TECNICA DA ARTE DE REPRESENTAR BREVE DESCRICAO DE UMA NOVA ‘TECNICA DA ARTE DE [REPRESENTAR, CONSEGUIDA MEDIANTE ‘UM EFEITO DE DISTANCIAMENTO ‘Tentarei, a seguir, deserever uma Unica de representagao utlizade em alguns teatros para ditanciar os acontecimentos spresentados do expectador.O objetivo desta tecnica do efito de ‘istanciamento era confers ao espectador uma aitudeanaitca€ critica perante 0 desentolar dos. acontecimentos. O5 meios em progadon para tal eam de natureza artista Para a utlizacho deste efito, segundo o objetivo jé mencio nado, €condigio necessiria que no palco e na sala de espetcules| no se produra qualquer atmosfera magica e que no surja tam: bbém nenhiom "campo de hipnose". Naose intentaa, assim, erat tem cena a atmesfera de um determinad tipo de espago um quarto hoitinba, uma rua no outoae) nem tampouco produzi. através ‘deur ritmo adequado da fla determinado estado de alma", Nao se preendia “inflamar 0 pablico dando-se rédea solta ao tem> peramento, nem “arrebat-lo™ com uma repreventarlo feita de ‘uiseuloscontaldos. Nao se asprava. em suma. pro piblico em ttunse e dare a ilusto de estar asistind «um aconecimento ature ndo enssiado, Como se vers, 2 seguir 4 propensao do pblica para se entregar a uma tl us deve ser neutraliads por condigio necessiria para se produvir 0 eleto de dstan- clamento que, em tudo o que oor most ao public. sea aldo ‘esto de mostrar. A nogdo de uma quarta parede que separa fc- tciamente 0 palo do publica e da qual prorém a iusto de o paleo custr, na realidade, sem o piblic, tem de ser naturalmente riitada, o. que, em principio, permite aos atores votaremse Alsetamente para opablico, (O contato entre 0 pibico © o palo fica, habitualmente, na ‘empatia. Os esforgos do ator conventional concentamse to com Pletamente na produgio deste fendmeno psiguico que s© poders Sizer que nele, somente,descortina sfinalidade principal da sua arte. AS minhas palavas iniias, ao tatar desta questo, desde logo revelam que a técnica que causa oefeito de distanciamento & Giametralmente oposta & que visa a criggdo da empatia, A teenia ‘e distanciamento impede oator de produze feito da empatia, No entanto, 0 ator, a0 esforcar-se para reproduzir determi nadas personagens para revelar o seu comportamento, io precisa renunciar completamente ao recurso dt empatia, Serr: 8 deste recurso na medida em que qualquer pessoa sem dots nem pretenses teatraiso ulizaria para represeniar outra pesto, ou sia, para mostrar o seu comportamento. Todos os dias, em inimeras oeasibes, se véem pessoas « mostrar o comportamente de ‘uteas (a testemunhas de um acidente demoustram aos que vio chegando 0 comportamento do acdentado; este ou aqucle brim «allo imite, wocist,o andar inst de um ago, ef) se que sas pessoas tentem induzir os expectadors a qualquer copie de Iusto. Contudo, tanto as testemunhas do acidente como 0 bin: calhic, por exemplo, é por empatia para com as suas personagens ‘ques apropriam das particularidades desta. 0 ator utilizar, portano, como fico dito, exte ato paiauice Deveri consumo, portm — ao invés do que éhabito ao teatro, fem que tal ao €constmade durante a pripriarepresentagloe com ‘objetivo de evar oespectadoraum ato denice —, apenas numa fase prévia. em qualquer momento da preparagao do seu papel Para evtar que a configuracto dos acontecimentos ¢ das per sonagens sea demasiado “impulsiva”, simplista ¢ desprovida do ‘minima aspectocrtieo, poder realizar-se maior numero de en stios “mesa de estado” do que habitvalmente se faz. O ator deve ‘ejeitar qualquer impulso peematuro de empatiaetrabalhar o mais demoradamente possivel, come leitor que para sl proprio ( nto para os outros). A memorizardo das primeiras impresses € muito Inportante ‘O ator tek que lero su papel assumindo um atitude de sur pres e simultaneamente, de contestagdo. Deve pesar prbs con tras © apreender, na sua singularidade, nio 36 4 motivagdo dos acontecimentos sobre que versa a su leiturs, mas também o com portamento da personagem que correspoade ao sev papel edo qual Yai tomando conhecimento, NBo deveri consderar este como preestabelecido, como "algo para que no hava, deforma algun ‘ute alternativa". "que sera de experar num canter como o desta pessoa". Antes de decorar as palavas, ert de devorar qual arario| 4a sua Surpresa ecm que momento contestou, Deverhincluir na

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