Você está na página 1de 8
COMPARATISMO E ESTUDOS INTERTEXTUAIS Gilda Neves da Silva Bittencourt ‘Universidade Federal do Rio Grande do Sul Resumo: O Comparatismo literdrio, surgido na Franga no século XIX, expandiv-se pela Europa e ‘América, ganhando um interesse crescente através das relagdes interliterdrias e das ligagdes da literatura com outras formas de expressao, Na esteira dessa expansio, criaram-se as Associagdes (Internacional e Nacionais) de Literatura Comparada que contribufram para o alargamento do campo de estudos, através da inclusio de vieses teérico-criticos oriundos de correntes surgidas ao longo do século XX. Uma das contribuigdes importantes foi a nogdo de intertextwalidade, criada por J. Kristeva, com base nas concepgdes de M, Bakhtin. No Brasil, 0 comparatismo criticos, como pritica difusa ¢ espontiinea, antes mesmo imertexiualidade representa um nticleo volumoso dos estudos ‘variadas formas, Sua preferéncia justifica-se por véirios: ‘que identifica uma postura descoloniznda em relagao aos modelos europeus. A Litera ‘ginada oficialmente 1 Franga, nos inicios do séeulo XIX, fo wura Comparada, origi fradativamente ganhando espago através de cursos em Universidades, ainda no. mesmo século, 0 carter institucional, com a criagiio de citedras © de mon fees Universidades da Franga © de outros. pafses europous, mas também dos Eaados Unidos ( Universidades de Columbia, Harvard e no Darthmouth College ). Ao lado disso, tos veins ene do século XX, surgiram publicagdes especializadas no literirio, onde oe ng de Linérature Camparce (1921), criada por Fernand Baldensperger e Paul Hazard, pee ties nas de cont, ene ores = obras, peep MASE Van Tieghen - La Littérature Comparée ~ (1931) que concen: deveriam nortear as para, dei vad races A Lier, Sos ee inicial de seu desenvolvimento, teve grande aceitagio no a Tada como subsidifiria da Historiografia Literiria. de “Antes da mtade do aéeulo, XX, a Literatura Comparada bavia opt ala, pal Pesguisa © “jd se tnostrava bastame enriquecida pelo estado das trocas liens ee Pesquisa das fonies ¢ das influéncias (individuais ou gerais) pelo estudo dos tems 6 Mp omo da historia da literatura ocidental, de suas grandes épocas © Je 1 ————— 14-115: “ARAGAO, Maria Tack A Limam Compara nico opp. Revs Tamp Resa! 19162, julidez, 1993, p, 51. © desenvolvimento dos estudos comparatistas em nivel mundial pode ser medido também jos temas dominantes nos grandes Congressos Internacionais de Literatura das primeiras décadas Bessa eabas eure ndeaae plac Celacbed Imei ioeitae © mesmo pelas ligagdes da Literatura com outras formas de expressiio. h ‘A expansio das investigagbes de cunho comparatista ¢ a solidificagio da disciplina de Literatura Comparada nos meios académicos motivaram a criagio da Associagao Imernacional de Literatura 0 {AILC), em 1954, tendo, ja'no ano seguinte, se realizado 0 seu primeiro Congresso na cidade de Veneza. A jovem associagio que nascia tinha também a tarefa de incentivar a criagio de associagbes nacionais, 0 que aconteceu, ide fato, nas décadlas seguintes, com a multiplicagio de AssocingSes por paises da Europa, América do Norte e do Sul, Asia, Austrilin ¢ Africa. No Brasil, a Associagio Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) foi criada em 1986, durante a realizagio do | Seminério Latino- Americano de Literatura Comparada, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, tendo como presidente a Profa. Tania Franco Carvalhal, que atualmente dirige a AILC, © 0 seu primeiro Congreso aconteceu ma ‘mesma cidade em 1988, centrada no tema “Intertextualidade e Interdisciplinaridade”, 0 que haquele momento, uma questio polémica de grande repercussio nos estuddos comparatistas. Desde entio, a ABRALIC jé realizou mais nove Congressos de imbito internacional, em diferentes cidades do pais, que contaram com um nimero de participantes cada vez maior, chegando a 2300 pessoas no diltimo encontro realizado no Rio de Janciro, no periodo de 31 de julho a 04 de agosto do corrente apo, Com isso, consolida-se-a sua condigio de maior férum de discussdes literirias do Brasil e da América Latina. 0 desenvolvimento da AILC nos iltimos 30 anos também pode ser medido pela ampliagio dos horizontes da Grea de conhecimento da Literatura Comparada, restrito, de inicio, & perspectiva historiogrifica, as pesquisas de fontes e influéncias, e is relagdes binirias entre autores, obras, géner0s, temas, etc. Esta tradi¢ao comparatista de tradicio francesa foi rompida j4 no segundo Congresso da Associagao, realizado nos Estudos Unidos, na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, 1958, onde René Wellek, originado do grupo dos Estruturalistas Tehecos, fez uma conferéncia com 0 titulo de um fendmeno mais geral, evidenciava apenas que um excritor havia lide au conhecera outro esctitor.2 Para’ a incluso de novos vieses teérico-criticos no totegleaianes Literério, contbuam ialmente us correntes voltndas ao estudo do texto em si ~ Formalism, New Criticism, Fenomenologla =, mais adiante, a Estética da Recep0 © os estudos de Mikhail Baklnin teres see sua tradutora na Franga, Julia Kristeva, no inicio dos anos ave ae ees crinda e difundida pela autora, trazendo Tepercussdes que alteraram conceitos contaratsias padicionas, * Cf. NITRINI, Sandra M. Literatura Comparada: Histiria, teoriae ertica. SP: EDUSP, 1997, pw. 194 A introdugiio da intertextualidade trouxe modificagSes. visiveis na. pritica comparatista, sobretudo nios modos de apropriagies, de absorgBes ¢ de transformagdes textuas, alterando as nogdes tradicionais de “fontes’ ¢ ‘influéncias’; até entio, estas se detinham nas relagdes causais deterministas, priorizando 0 fator biogrifico, ou seja, 0 que prevalecia eram os aspectos externos do texto, Por outro lado, a0 contririo da investigagiio das fontes (externas ao texto), a idéia de intertextualidade prevé elementos intra-textuais, percebidos como internos a obra. Julia Kristeva, responsdivel pela introdugio do ‘conceito nos meios académicos franceses, apoiou-se nas reflexdes ¢ proposigdes de Mikhail Bakhtin, ‘Considerado um *pés-formalista’, Bakhtin efetuou uma critica ao carter a-histérico do Formalismo em 0 Método Formal , publicado em 1928, tendo como autor Pavel Medvedev, um. dos do circulo de estudos de Bakhtin. Em A Poética de Dostoievski , escrito originalmente em 1929, 0 autor ‘russo resgata a dimensao histérica do texto ao estabelecer que o texto literirio constitu um “cruzamento. de superficies textuais, um diillogo entre diversas escrituras: a do escritor, do destinatirio( ou do personagem) , do contexto atual ou anterior, O texto, portanto, situa-se na histériae na sociedade”. * Este ardter dialégico de seus textos caracteriza a potifonia de seu discurso, onde se entrecruzam as vozes Jo hherdis/personagens, os discursos da sociedade e os prdprios niveis estruturais do texto. Baseada nas idéias de Bakhtin, Kristeva chega & nogio de intertextualidade, para designar 0 Processo de produtividade do texto litenirio, para cla, “todo 0 texto se consiréi como um mosaico de citagdes, todo texto & absorgdo ¢ twansformagio de um outro texto, Em lugar da nogiio de imersubjetividade, instala-se a de intertextualidade a linguagem postica Ié-Se, pelo menos, como dupla”, Além da contribuigio de Bakhtin © Kristeva, o Pés-Estruturalismo © os Estudos Pés- Coloniais que tiveram um papel importante no desenvolvimento de um ramo que tem se mostrado muito com fiteraturas cujas caracteristicas diferenciadas apontam “para Para a eee ‘uma andlise ¢ Haslet astegtiomos te dominada por um ‘curocentrisma, projetado com freqiéncia a partir io ; A Critica Literiria no Brasil, sobretudo aquela praticada no Ambito universitario, mn feconhecendo cada vez mais, na atuaidade, que © comparatismo é algo inerene aos propos estudos dy Literatura Brasileira, ov, mais especificamente, das investigagdes desenvolvidas esse campo desde o i im, mull instituir entre nés a nogio de Literatura Sasa cae oe ten, historiadores ¢ ertcos da Jiteratura brasileira, ainda hse século XIX, jd a praticavam espontaneamente, Este é 0 caso de Tobias Bareto, um apaixoneee pol i ¢ a cultura alemis que, além de abrir um curso de literatura em fe Publicou em jomais vérios ensaios eriticas, os quais tencionava reunir num livro imttulado Tragos Literatura Comparada do Século XIX, que infelizmente niio chegou 2 efetivar. A fonte dos estudos Tobias, como no poderia deixar de ser no século XIX, vinha da Europa, do eritico dinamarqués Georg, Brandes, que o pensador brasileiro leu na sua tradugio alem’, Brandes, seguindo a mesma linha dos ‘comparatistas europeus da época, considerava somente as grandes obras como objetos de anilises comparatistas. Com base nessa idéia de Brandes, Tobias considerava que a “Literatura Comparada s6 podia existir nas nagdes cultas, pois somente clas tinham obras capazes de resistir ao confronto severo dos intercdmbios culturais.” ° Por isso, elegeu a literatura alemi como o centro de suas operagies comparatistas, demonstrando a sua superioridade sobre as demais, revelando, nesse juufzo valorativo que pressupde uma forte dependéncia cultural, as mesmas distorgdes encontradas nos comparatistas europeus do século XIX. Se em Tobias Barreto hi uma intengio manifesta de fazer comparatismo, em outros criticos brasileiros do séeulo passado isto ficava implicito na metodologia de andilise adotada, que ert invariavelmente a de fazer referencias a obras ¢ utores estrangeiros, conforme assinala Antonio Candido, “como se a capacidade do brasileito ficasse justificada pela afinidade tranguilizadora, com Os autores europeus, purticipantes de literaturas antigas ¢ ilustres, que, além de influfrem na nossa, vinham deste modo dar-the um sentimento confortame de parentesco.”” ‘A busca de uma filiagio segura, capaz de confirmar 0 status literdrio dos nossos autores era igualmente uma manifestagio de uma ética dependemte que buscava sempre o referencial europeu como pariimetro de avaliagao, Esta visio, segundo os professores Encida Maria de Souza e Wander Mello ‘Miranda, dois estudiosos do Comparmismo Literirio no Brasil, ¢ decorrente de uma concepgao histérica evolucionista ¢ de uma racionalidade de cariter universalista, fazendo com que a eritiea tastreada nesses pressupostos, “se pautasse pelo modelo bindrio que se restringia a comparaio exclusiva entre duas culturas, duas literaturas ou dois autores"’, mantendo, com isso, a hierarquizagiio entre os termos "Nos inicios do século XX, os estudos comparatistas dispersos. nas obras. de crticos brasileiros adquirem uma feigdo ligeiramente diferencinda, no que tange as ‘ochisiteh da chamada “Escola Francesa’, O nome de Jotio Ribeiro & cronologicamiente o primeiro a deslocar essa perspectiva tradicional , n0-encarar a iteratura comparada como uma atividade de "citca histGrica” e a0 pensat @ pprodugio cultural nas suas relagoes entre o estrato “culto” (a literatura crudita) e-o estrato @ © FARIA, Gentil de. Tobias Barreto ¢ a Literatura Comparada. In: Anais, UEMG, 1991, p27. do Mi Congreso ABRALIC. Belo Horizonte: SOUZA, Eneida Maria dee MIRANDA, Wander Mello, Perspectivas da Literatura Comy ‘B: CARVALHAL, Tania, org. Literatura Comparada no Mundo, Quest parade no Brasil In: LAPMIVITAEJAILC, 1997, p. 40. fre Métodos, Porto Alegre: Iiteratura popular), sobretudo no ensaio “Literatura Comparada'", incluido em Paginas de Esiética (1905), cvidenciando uma postura precursora das teses defendidas anos mais tarde por René Wellek © Austin Warren em sua Teoria da Literatura (1949). Mais adiante, criticos como Otto Maria Carpewux, Eugénio Gomes ¢ Augusto Meyer desenvolveram trabalhos onde © comparatismo ressalta como uma pratica quase inevitivel, como se os proprios textos os conduzissem a isto. O primeiro caracterizou-se sempre pela postura comparatista, onde ‘comparacio, tanto a0 escrever a conhecida Histéria da Literatura Ocidental, como em virios ensaios cmicos de sua extensa obra, preocupando-se sobremodo pela investigusiio das fontes e pelo eonfronto esilistico das obras. Eugenio Gomes rastreou as fontes da obra de Machado de Assis, em busca de suas hee inglesas. Nesse trabalho, identifica tanto os = aahtel ET ais ingleses, mas aponta também as modificagées e adaptagdes introduzidas pelo autor assim as acusagées de mera imitugio is obras de Swift e Sterne, eitas obra de Machado, sobretudo pelo cttico¢ historlador Stivio Romero, Augusto Meyer dedicou-se & pesquisa das fontes, sob a inspiragio 4 trabalho realizado por Emst Robert Curtius em Literatura Européia e Made Média Latina (1948), ae tradugio foi editada pelo Instituto Nacional do Livro por iniciativa de Meyer, na pace. se0 Cont ‘ico gaiicho, porém, relativizn a importancia de tal metodologia, pois para ele o mils are a mostrar a fillaglo passiva, ov a colneidéncia com um determinado modelo, mas sobreludh ESS Givergénciaa, as ultrapassagens criaivas, através de uma profunda andlise esilstien das Ob TS fessalta na visio critica de Meyer é sobretudo "a justeza da desconfianga Ea ane Pesquisas de influéncias e, principalmente, como se retrai diante dos paralelismos inerpretaivo num sensivel avango em relagio ao tipo de abordagem utlizada no MN ry @ ‘© que se v2, portanto, na histéria do comparatismo no Brasil, € vine spontinea a percorrer 0s ensaios eriticos muito antes do surgimento Ba os fixado com principios te6ricos ‘ionalizagiio como disciplina académica. é i ‘yertente académica No quadro da Literatura Comparada brasileira, consideranilo Ji 8 901 utoe da tem como a prtica eritiea, merece destaque o nome de Antonio Candido dé discipiina na Universidade de Sio Paulo ¢ o eriador do setor de Teorit © Comparada, na Faculdade de Filosofia, Ciencias ¢ Letras, em 1962, tendo Por outro lado, em sua orientado dissertagbes de mestrado c teses de doutorlo em Literals CaM manifesta deste atividade erfticn ¢ ensaistica, Candido também revela wma forte inclinagaio ned trabalho 5 seus primeiros escritos, mas explicitada quando da realizagllo de seu CO” “CL CARVALHAL, Tania Franco, Literamra Comparada, Sto Paulo: Arica, 1986, 23. Idem, ibidem, p, 27. literiria, em Formacdo da Literatura Brasileira - Momentos Decisivos - (1957), 10 definit 0 conceite de influéncia, que considera o instrumento "mais delicado, falivel ¢ perigoso de todo critica, pela dificuldade ‘em distinguir coincidéncia, influéncia ¢ pligio""”. O problema atinge proporgdes mais significativas, segundo Candido, quando a influéncia assume sentidos varidveis, exigindo um tratamento também diiverso, j4 que ela pode aparecer “como transposigio direta, mal assimilada, permanecendo na obra 20 modo de uma corpo estranho de interesse critico secundirio"'' , mas pode igualmente adquirir um significado orginico, perdendo o cariter de empréstimo, ji que € assimilada como elemento préprio, constituinte de um novo conjunto integro. © que preocupa o critico Antonio Candido sio sobretudo os modos de absorgio, de transformagiio ¢ de afastamento dos modelos curopeus e isso se faz presente em indmeros trabalhos disseminados cm sua extensa obra, caracterizando assim "uma atitude imtimamente ligada com o Brasil e que encanira, por isso, uma maneira peculiar € massa de examinar a Scu conhecimento profundo da literatura brasileira e sua intengio de explicar 0 sew funcionamento como sistema articulado, levou-o a formular a “dialética do localisma e do cosmopolitismo", espécie de “lei de evolugio" da nossa vida espiriwual. Tal dialética se manifesta, segundo Candido, de modos diversos: "ora a afirmagiio premeditada ¢ por vezes violenta do nacionalismo Titeririo, com veleidades de criar até uma lingua diversa; ora 0 declarado conformismo, a imitagio consciemte dos padrdes curopeus""”, Nesse processo, em que se integram experiéncia literdria e espiritual, manifesta-se uma tensio permanente entre o dado local ( a substincia da expresso) € os modelos herdados da tradigio européia ( a forma da expresso). Assim, tanto anos produgio literdria com a atividade critica manifestaram sistema ticamente essa postura dialética de apreensio do real. Tal atitude, identificada ¢ definida por Antonio Candido, tem orientado boa parte dos trabalhos comparatistas desenvolvidos no Brasil, Desse modo, segundo as palavras de Tania Carvalhal, “sua obra ilustra exemplarmente uma forma legitima de comparatismo no Brasil; a do esforgo empenhado na andlise dos processos de transformagio da colaborago curopéia, examinando como o individual se cruza com a coletive, para que sé possa CANDIDO, Antonio. Formagia da Literatura Brasileira (Momentos Decisives) i ‘S30 Paulo: EDUSP,1975, Vol. 1, p.37. i teh ka fete: ae CARN ALINE tiie Frame, Amen ‘Conyperad so Sell tects, CARVALHAL, . Candido es Literatura {{BRALEC. Porto Alege: UFRGS, 198, vp. ee ate ee CANDIDO, Antonio. Literatura ¢: 1900 9 1945, Im: __. Literarwra. Sociedade. Editora Nacional, 1976, p. 109. : a 198 perceber 0 que ¢ peculiar & literatura aqui produzida, na expresstio de seu vinculo. ppt eonra erpingeriontealonnat yg an Assim, © seu discurso critico pode se constituir num importante ponto de partida para a busca de um modelo comparatista descolonizado, justamente por se propor a analisar os através do quais urna literatura responde criativamente aos impactos recebidos de fora. Esse modelo pode ser verificado, em parte, através do perfil dos estudos de Literatura ‘Comparada no Brasil, que aparecem particularmente nos Anais dos Congressos da ABRALIC, verdadeira amostragem do que se produz dentro dessa drea de conhecimento. A preferéncia pelas priticas comparatistas que privilegiam a deformagdo, a ruptura e a diferenca sinaliza um discurso critico descolonizado que adapta a sua fala A natureza de nossa literatura; por outro lado, mesmo as abordagens tradicionais, como o estudo das "fontes", si0 "deformadas” em seu sentido original, ao incorporarem perspectivas inovadoras ¢ ao introduzirem elementos criticos antes desvalorizados, Nesse sentido, a intertextualidade tem representado um volumeso nticleo de estudos compa- natistas, comprovando, assim, a ampla aceitagio do conceito introduzido por Julia Kristeva ¢ sua adequaciia as moderas investigagdes de Literatura Comparada, Considerada genericamente um entio tipo de texto ( ‘uma forma literdria, por exemplo). re tee Cae eae I costuma se fazer em diferentes niveis ¢ sob diversas formas, havendo uma intengo explicita de mostrar © “didlogo" ou a "polifonia® do corpus traballado, fandamemando teoricamente a anilise, ou a andlise se faz através de urea leitara critico-interpretatlva que conceitos especificas. Em outros casos, o estudioso toma uma determinada obra como base de leitura ¢ Aponta, no seu interior, ressondncias de textos de tradigdes anteriores, ou entilo desiaca o seu didlogo com éneros ou formas literirias da poesia ou da narrativa, Dentro exemplos de trabalhos que ressaltam 0 earéter limftrofe ou hifbrido das obras, sea porae tranitam sre Bénerbs distintos, seja porque se situam no limiar do iterério, a0 confundir a fiegao com o ‘ou D texto hstdrieornecse caso, a estratggia de investigagdo se torna igualmente iaterdisciplinat. Te arcuate eldenea da lua Itertextual ene os estudos de Ltratra Compare o Brasil pode ser justificada por algumas razBes que cabe Tembrar aqui; welts ‘um método permite confronto de textos em plano de igualdade, sem os rangos historicsns poner ig ies Comparaismo tradicional; além disso, a intertextwalidade mostrs-te jente a igagio - Titers a anccamas (ineluindo af a brasileira), cuja natureza hbridn & proto ‘amalgama Oia na are tuentrog"; em terceiro lugar, parece er W estraégia que melbes : uma postura descolonizada, capaz de revelar as "resposts crates" usando a expressiio Pizarro, * CARVALHAL, Tana, Amon Candido Leratra Comparada na Del iden 16. 'NITRINI, Sandra. Op. cit. pat. ee as transformagies ¢ as “aclimatagées" que os nossos escritores © poctas operaram em face das literaturas eestrangeiras; por dltimo, a intertextualidade autoriza teoricamente a leitura comparatista com base em um 86 texto, transformado no “intertexto", de Roland Barthes © Laurent Jenny, ou no "hipertexto", de Genette, espaco polifénico em que se opera a absorgio ou a transformacio de um ou de virios outros textos. Com isso, o comparatismo literirio se enriquece com novas possibilidades de andlise, permitindo 0 allargamento da propria definigio de Literatura Comparada estabelecida por certos autores, em que cabem Somente 0s estixdos supranacionais, ou os de Fiteraturas diferentes. Desta forma, a Literatura Comparada pouco a pouco solidifica a sua posigdo ¢ o seu estatuto, ccriando modos peculiares de pensar as relagbes intertextuais, interliterdrias ¢ interdisciplinares no Brasil e fazendo do comparatismo um método que, niio s6 identifica a disciplina em si, mas que também permeia ‘05 estudos de literatura em geral. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ARAGAO, Maria Lucia, A Literatura Comparada: historico © perspectivas. Revista Tempo Brasileiro, 114-115, jul-dez 1993, p. 51. CANDIDO, Antonio, Palwwras do homenageado. In: Anais do 1" Congreso da ABRALIC. Pono Alegre,UFRGS, 1988, — - Formagao da Literatura Brasileira (Momentos Decisivos). 5.ed. Belo Horizonte: Natiain; Sio Paulo: EDUSP, 1975, vol 1. —— ~ Literatura e Cultura de 1900 a 1945. In: Literanura ¢ Sociedade. 5.ed, Si Paulo: Editor Nacional, 1976. CARVALHAL, Tania F, Literatura Comparada, $i0 Paulo: Atica, 1986, —- Antonio Candido ¢ a Literatura Comparada no Brasil, Anais do 1° Congreso da ABRALIC. Ponto Alegre, UFRGS, 1988, vol 1. ce FARIA, Gentil de. Tobias Barreto ¢ a Literatura Cc In: Anais do 2° Ce IC. os ar ‘omparada. In: Anais ‘ongresso cla ABRALK NITRINI, Sandra M. Literatura Comparada, Histéria, teoria e critica. Silo Paulo: EDUSP, 1997, SOUZA, Eneida Maria e MIRANDA, Wander Mello, Perspectivas da Literatura ‘Comparada no Brasil. In: CARVALHAL, Tinia, org. Literatura Comparada no Mundo. cs fétodos, Porno ‘Alegre:L&PM/VITAE/AILC, 1997, ae

Você também pode gostar