Giz

Calçada vazia. Ponta de giz. Começo a desenhar, bochechas, nariz. Desenho um sorriso,
um sorriso feliz. Desenho tudo que minha mente me diz. Desenho cabelos e com
cuidado, os olhos com zelo. Esses olhos, ah, eu queria tê-los. Desenho feições,
diferentes partes. Não uso mentiras, só uso verdades. E verdade seja dita, abuso de
vaidade.
Desenho esse rosto em montanhas. Desenho esse rosto no vácuo. Desenho paisagens
estranhas, paisagens estranhas eu sempre faço. Preenche meu tempo vazio, preenche da
minha mente, as valas. Preencho todos os desenhos expressivos, com vários balões de
fala.
Descrevo perfumes, descrevo momentos. Apenas desenhando, descrevo sons, gestos,
seu jeito. Desenho os contornos de um humor insaciável e esqueço das lágrimas.
Desenho comédia, minha única ideia válida.
Faço dos traços, climas. Faço dos contrastes, matérias-primas. Sua face, vida. Faço o
desenho de histórias repetidas.
Desenho sua boca cantando. Desenho músicas pulando. Desenho pulos, desenhando.
Calçada vazia. Giz de cera. Começo a desenhar, uva, maçã, pêra. Desenho outras coisas,
outros gostos, roseiras. Mas acabo desenhando seu rosto e o resto é bobeira.
Tento desenhar fontes, água, chafariz. Mas me pego voltando a desenhar olhos,
bochechas, nariz. Dias e noites, minha mente diz: "desenhe o sorriso, o sorriso feliz".
Tento então, esculpir estátuas, figuras pós modernas, arte abstrata. Mas minha
criatividade está em criar para você, os inúmeros balões de fala.
Desenho, desenho, desenho. Obsessão compulsiva. Transtorno letal. Já consigo até fazer
no desenho, leitura labial.
Parece que não importa o sol que arde, a noite que esfria ou a chuva da tarde. Estarei eu
sempre lá, noites e dias, cedo ou em horas tardias, na calçada que já não é mais vazia.

Thiago Reinas – milcartasaovento.blogspot.com