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Hidrelétrica de Belo Monte: a queda do mito da energia barata

Marcos Vinicius Miranda da Silva


Analista de Sistemas Energéticos
Bolsista Pesquisador CNPq
energiapara@yahoo.com.br

A hidrelétrica de Belo Monte, planejada para ser construída no rio Xingu, estado do
Pará, com potência instalada de 11.233,1 MW, é um empreendimento energético
polêmico não apenas pelos impactos socioambientais que serão causados pela sua
construção. A mais recente controvérsia sobre essa usina envolve o valor do
investimento total do projeto e, consequentemente, o seu custo de geração.

Em 2002, a Eletronorte apresentou um estudo de viabilidade no qual a construção da


hidrelétrica de Belo Monte exigiria um investimento total de R$ 7,51 bilhões, que
corresponde atualmente a cerca de R$ 13,14 bilhões, com correção pelo IPCA-IBGE.
Mais recentemente, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) anunciou que o
investimento total para a construção dessa hidrelétrica ficará em R$ 16 bilhões.
Embora o valor do investimento total para a construção dessa usina apresentado pelas
empresas ligadas ao governo federal tenha aumentado em torno de 22%, a iniciativa
privada afirma que ele ainda está subestimado. Para o mercado, a construção dessa
hidrelétrica exigirá um investimento total entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões.

A determinação do investimento total da hidrelétrica de Belo Monte é fundamental


para o seu estudo de viabilidade econômica, porque ele é um dos elementos que
compõem o cálculo do custo de geração. Com base nas informações fornecidas pela
EPE, calcula-se que o custo de geração dessa hidrelétrica ficará em torno de R$ 66 (US$
35) por MWh. Levando-se em conta os valores do investimento total especulados pelo
mercado, esse custo ficará entre R$ 81 (US$ 43) e R$ 120 (US$ 64) por MWh.

Além da falta de consenso sobre o investimento total necessário para construir a


hidrelétrica de Belo Monte, outro aspecto que chama a atenção é a queda do mito da
energia barata, pois se for acrescentado o custo de transmissão, a energia de Belo
Monte não chegará por menos de R$ 95 (US$ 50) por MWh na região Sudeste.
Portanto, bem acima dos R$ 45 (US$ 24) por MWh apresentados pelo Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) dessa hidrelétrica. Deve-se ressaltar também que a inclusão
de outros custos decorrentes, por exemplo, dos gastos para o pagamento da
compensação financeira pelo uso dos recursos hídricos e para a mitigação e controle
dos impactos socioambientais, elevará ainda mais o custo da energia fornecida por
essa usina.

Os custos de geração calculados para a hidrelétrica de Belo Monte encontram-se


abaixo do custo marginal de expansão de R$ 146 (US$ 77) por MWh, estabelecido pelo
Plano Decenal de Expansão de Energia 2008/2017. Porém, esse não é um bom
parâmetro para avaliar a viabilidade econômica dessa hidrelétrica, pois esse custo
corresponde ao preço da alternativa mais cara que foi alcançado nos leilões realizados
em 2008.

Em função da mudança no valor do investimento total da hidrelétrica de Belo Monte, o


que realmente interessa para a sociedade brasileira é saber se essa usina é a melhor
alternativa de oferta de energia para o país sob o ponto de vista econômico, social e
ambiental global e local quando comparada não apenas com alternativas energéticas
convencionais, mas também com térmicas operando em cogeração a partir do
aproveitamento da biomassa (p. ex. bagaço de cana), com a repotenciação de usinas
antigas, ou com programas de eficiência e uso racional da energia. Também interessa
saber quais serão os custos energético e econômico da retirada mensal de mais de 9
mil MW médios do sistema elétrico entre os meses de agosto e novembro, devido ao
período de estiagem no rio Xingu.

Refém do fatasma do “apagão”, das perspectivas eleitorais, da falta de autonomia da


EPE, da tradição cultural e ideológica hídrica megalomaníaca imperante no sistema
elétrico brasileiro, o planejamento energético dificilmente dará essas respostas à
sociedade. Porém, é possível afirmar que no mundo real, onde não há espaço para
distorções, o mito da energia barata da hidrelétrica de Belo Monte está
definitivamente no chão.

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