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oe | I CADERNOS DE ANTROPOLOGIA | 6 En é i MEYER FORTES O CICLO DE DESENVOLVIMENTO DO GRUPO DOMESTICO ! | | | | ez EDITORA UNIVERSIDADE DE BRASILIA - 1974 Traducio, por Aleida Rita Ranos, da Introdugio a the Developmen fal Gyele in Donestic Groups, Organizado por Jack Goody, Canbed Gge Papers in Social Anthropology, 91, Cambridge Univers! ty Press, 1958, pp. I-14, Publicado com a perissio da Canbridge University Press. Responsiveis pela série Cadernos de Antyopologia: Profa. Alcida Rita Ranos © Prof. Julio Cesar Melstel e EDITORA UNIVERSIDADE DE BRASILIA - CONSELO EDITORIAL Presigente: Prof. José Carlos de Alneida Azevedo Menbros: Prog. Djairo Guedes de Figueiredo - Depto. de Matenitica Prof. Glaueio Ary Dillon Soares - depto. de ciancias Sociais Prof. Edson Nery da Fonseca - Pac. de Eat. Sociais Aplicados Prof. Roberto Lyra Filho - Depto, de Direito Prof. Eémar Lisboa Bacha - Depto. de Economia Prof. Wladinir Lobato Paraense - Depto. de Biologia Animal Secretario: Joss Carlos aertelli Fortes, Meyer 0 ciclo de desenvolvimento do grupo donéstico. Trad. de Alcida Rita Ranos. Brasilia, ed. Universidace de Bra £ 374. = sida, (Universidade de Brasflia, cadernos de antrope ‘ 2 losia, ftulo original: Introduction, in The developmental O cov 392.3 Elaborada pela Biblio- teca Central da Univer, sidade de Brasilia. | asa © cicto DE pEszevouviMenn DO GRUPO DoMESTICOX Meyer Fortes | Dentre as recentes pesquisas sobre as estruturas sd cats do soctedades nonogéness, o avenge nals proatesor tem 2d foo esforgo Ge inclex « conceitualisar 0 fator eanpe, Nowe fire goede natdrn aorta qn € geruirente rotladh de “mal gs cultural” on “mudanga Soci". 0 que tambo on mente. io on ne esate fesindo © gual & iSSin de eocieande, a nopien sobre wn eis tony problemas mais dificeis e fundanentais envolvidos social ou una estrutura social, implicam necessarianente una o; tensio através de um perfodo de tempo. Por definigio, un sist wma social ten uma vida. Ele é un sistena social, aquele sister social especifico, apenas enguanto seus elenentos © components foron mantidos e aubstitufdos; e o processo de substituicio & Ponto crucial, pois o tempo de vida do ergantsno hunano € i tado, A manutengdo © substituicio sio fendmencs temporais ¢ que nos interessa quando estudanos © fator tenpo na estruturs social so justanente os processes que garantem a sua efetiva gio. Esses processos tém determinantes biolégicos. Un dg, les @ a duragio da vida de un individuo; o outro é a reposigio * sete trabatno corzesponde & introdugio do Livro The Develop~ Rental Cycle in Domestic Groups, : editade por Jack Goody, ot sce bridge Papers in Social anthropology, NP 1. Fazem parte do voll 7) ne, alés da Introdugio, os seguintes trabainos: "The Family Syg ten of the Zban of Borneo", por J. D. Freemans “The Fission Donestic Groups anong the LoDagaba", por Jack Goody; "Houschol Viability anong the Pastoral Fulani", por Derrick J. stenning} "concerning Trobriand Clans and the Kinship Category Tabu", por BR. Leach. = | =8 | vida, Mas deixanos 3 genética, & fisiologia e & denografia o es tudo destes deterinantes, Basta que nos lenbrenos de que un Sistene social ndo perdurard, se 0 tempo de vida média dos seus ugndabros for demasiado curto para eles teren filhos © os criaren até que estes, por sua vez, aleancen a idade de ter filhos; em termes denogriticos, se 0 equilibrio de nascimentos e mortes nj produzir un indice de reprodugio igual ou superior a un. |o ponto de vista antropolésico, o importante & que o crescimento © lesenvolvinento fisicos do individuo esto incorporados no sistena social, através da educagio na cultura de sua soctedade = p sucesso de geragies, através de sua incorporagio na estry tira social, A continuidade © substituigao fisicas fican, por sos vitais \devem ser mantidos nun nivel adequado, através de ' | tanto, convertidas em processo de reprodugio social. estes princfpios gorais poden ser expressados de ou 226 era torma:para que um sistema social se mantenha, seus dois re =})teprodusio social inclui todos os mecanianos instituciona: | Ce repoigie contfncns Hotes doit usuzeoe suo 6 wet caph Feat humane eo sew capital sorial send gue tivise # gue el corpo total de conhecimentos nos ues @ inetituigdes de una Sociedade © b) das utilidades que estio disponiveis para austen tar a vida dos seus membros através da eplicagio do ecuipanento cultural aos recursos naturais. Em termos gerais, processo de ben como atividades e normas ditadas pelo costune (costundrias) que Servem para manter, cuprir e transnitir o capital social de oe ragdo a gezagio. Naturalmente, generalizagées desse tipo nio sio susce tiveis de observagdo e experinentagio, nen se prestan a discus, des teéricas compensadoras. Flas sio Gteis sonente como un pas so|na tarefa de sb dar conteldo empiric ao estudo do fator ten pojem estrutura social. Elas nos levan a perguntar quais so os mepanisnos institucionais e as atividades costunirias de repro dubGo social numa dada sociedade © como eles operas, 0 mecanig mo tipico & bem conhecido: em todas as sociedades humanas a f& brica, por assim dizer, da reprodugio social é © grupo domésti co. £ este grupo que precisa permanecer en agio por um periode de tempo suficientenente longo, para permitir a criagio de fi thos até 0 estagio de reprodugio fisica e social, para que a so ciedade se mantenha. £ um processo efelico. 0 grupo donietico Passa por um ciclo de desenvolvimento andlogo ao ciclo de cres Cimento de um organisno vivo. 0 grupo, enquanto unidade, retén a mesma forma, porém seus menbros ¢ as atividades que os unem Passan por una seqténcia regular de mudangas durante © ciclo que culmina com a dissolugdo da unidade original e con a sua substituigdo por una ou mais unidades do mesmo tipo Mais adtante oxplicarei porque & til distinguir 0 grupo dondstico da familia, stricto sensu. No monento, estou in teressado numa outra distingdo. Atualnente se considera ponto pacifico, para fins analfticos, a necessidade de se distinguir entre 0 campo doméstico das relagées sociais, instituigses atividades vistas de dentro, como un sistema interno eo campo juridico-politico, considerado como um sistema externo. Una ca racteristica significativa do ciclo de desenvolvinento do grupo dondstico & que ele &, ao mesno tenpo, um proceseo dentro do campo interno e un movimento governado pelas suas relagSes com (© campo externo. Para investigar este processo nuna dada sociedade, de vemos prineiranente estabelecor 0 que representa o grupo donés, tico naquela sociedade. 0 método etnogréfico convencional con Siste em descrigdes generalfzadas, provindas da observagio de exemplos selecionados de modo fortuito e expressos em termes de pessoas e institutes estereotipadas. Isto se assenelha § demo grafia amadora dos viajantes © colonizadores na época anterior A introdugio de métodos rigorosos de levantamentds censitarios. Por exenplo, para se chegar ao tamanho méaio de una familia nu ma comunidade primitiva, remia-se vinte ou trinta mulheres 20 acaso © formulava-se perguntas sobre seus filhos; dividia-se en ‘Ho 0 niinero total de filhos vivos registrados, pelo nimero to “e tal de mulheres ©, assin, se obtinha una "nédia", Dados como os ses sio hoje considerados initeis, devido, nio 6 ao método fa Yho de anostragen, mas, principalmente, por nio levar en conta as difexengas de idade entre as milheres questionadas. Tguainen te, se née desejfinos deterninar de forma fel a estrutura e fron teizas do grupo donéstico nuna dada sociedade, & essenciel usar nos una anostra fidediga e representative de grupos donésticos €) principalnente, levar em conta seus caracteres de idade espe cfficos, isto 8, os estigios do ciclo’ de desenvolvimento. un grupo donéstico composto sonente de duas geragées sucessivas os ti num estigio diferente de un outro conposto de trés geragies, cono tanbén esti um grupo donéstico cuja geragio dos filhos & inteiranente conposta de pré-adolescentes, conparado con outro onde alguns ou todos os filhos estio em idade de casar. 0 fator de desenvolvinento & intrinseco & organizagio doméstica © igno ri-lo @ causar sirias distorcSes na interpretagio de fatos des exitives 0s padrdes de residéncia ilustram isto muito bem, sa benos que eles fornecem un indice basico das fronteiras da es trutura interna dos grupos donésticos. Porém, eles nio sio un fa tor primordial da estrutura social da mesma orden que o paren. tesco, descendincia, casamento e cidadania. Ae escolhas de resi @Encia so determinadas por relagSes econémicas, afetivas e ju ridicas que brotam desses fatores primarios e é falso analisd, las em termos de regras ou tipos ostensivanente discretos, que so efetivados com © casanento. Existem iniineros exenplos na lL teratura descritiva de parentesco, mas um artigo recente de Goodenough & particularnente oportuno e pertinente. Existem, coo nota Goodenough, varias questdes distin tas envolvidas no assunto. Primeiramante, existe a questio da composigo residencial normal do grupo donéetico na sociedade. Ele nos mostra como dois investigadores podem chegar a conclu sdes totalmente discrepantes sobre a incidéncia de diferentes “tipos" de residéncia na mesma comunidade, apesar de usaren 0 que parece ser o mesmo nétodo de levantanento de censo. Na ver, dade, 1 fonte dessas aparentes aiacrepincias & 0 fata ae gue a | bos os investigadores ignoraram a dimenséo do desenvolvimenté do aeepo dondrcice, ce soueores geenning, Fiventn a coody pod riam facilmente ter classificado em tipos os gripos domésticos que encontraran. Ba cada una ddstas comunidades podenos, se aud, dermoe, encenerer virioe ipos'r an tipo Sfanflee nuclaas'y pociiotz) erteneoTe aaein por cata, sncteindo salvar nd” classe ée tipos mistos que aumente a classificagio. Mas quandd fe reconhece que eeser chanades tipor aio, na realidece, fecal do ciclo de desenvolvimento de uma Gnica forma geral, que ocoz re en cada sociedade, enta a confusio desaparece. Os parted =| de residéncia sao, num dado momento, a cristalizaclo do proces to de danenveivinant, betes us, se praia eta, sul consideranos as escolhas de resiéncta do ponte de vista de un: pessoa, en vez de © consideramos do ponto de vista) do grupo ngstico, como una unidade. Neste caso, a andlise genética precil | sa ser suplenentada pelo isolamento estatistico e | conceituai das vartivets estruturais ¢ culturais envolvidas. 0|casanento é| sen divida, un elenento crucial na determinagio da escolha 4 residincla para, ou pela pessoa. Bn termos de desenvolvinento, razio disto que casanento leva a una cisio real ou incipied, te de una ou de atbas as fanflias ou grupos donsticos orisi, nais dos cinjuges e que una cisio no grupo donéstico 6 semprd ‘traduzida en temos go representagio espacial, através dos ar jos residenciais. Em termos enaliticos, este momento no de s€nvolvimento & 0 ponto de partida para uma redistribuicio | do controle sobre os recursos produtivos ¢ reprodutivos associads a wma mdanga de status jurfdico dos cSnjuges. Mantidas as ’ mais condigGes, una mulher residiré com seu marido se ele, I quem quer que tetha autoridade jurfaica sobre ele, tiver dired tos totais sobre seus servigor soxuais © econéaicos, bem cono «2 J bre seus poderes reprodutives; e os filhos residirio com agud des que possuan poderes senelhantes sobre eles e que tenhan 4 Fa com eles as responsabilidades conconitantes. Sobente um: | a andlise estatistica pode mostrar qual serio "grau de Luberda ft" se & que ele existe. | Esse ponto fica claro se comparamos a situagio dos ban com a dos Fulani ou dos LoDagaba. Uma esposa Fulani nao i= opgio. Antes de ter filhos ela esta sob a autoridade jurias a do pai e reside no acampanento deste; quando tex filhos, ela fica inteiramente sob a autoridade do marido e, consequentemen te, passa a residir con ele em regine permanente, Entre of Ib Sihcnoro de opgder & sparentenente saiors Potercteria dizer ge @ residéncie pés-narital & tanto virilocal quanto uxorilocal, a @scolher. Wa realidade, o que ocorre & que o casanento precipi- fa a cisio e divisio econtmica correspendente, no grupo donésti $0 original de um dos cénjuges, o qual se afasta do grupo. Qual jos cOnjuges, & que se afasta, dependers do estagio no ciclo de jesenvolvinento a que chegou o grupo donéstics, por ocasigo do asancato. sp ele for constituldo de pals ¢ dois ou mais fithos, jendo que o gue casou 2 0 mais velo, ele ou ela, independente ente de sexo, sairi da casa dos pals. Porén, seo que casou oF © Gltino filho que permaneceu na fan{lia (pilek) ,depois dos utros haveren casado e se mudado para outro lugar, ele ou ela Hicard om casa na qualidade de herdeiro esperado de seus pais Seu cGnjuge vem morar em sua casa. Para un casal, residir de mo do "virilocal” ou "uxorilocai" no &, portanto, uma opgo arbi trSria, pois depende de quais deles estio se separendo do bilek prise Isto tem correlagio com 0 estgio de desenvolvinento lo bilsk; porém, para se saber porque, & necessirio entender as Forgas que operan na cisfo do bilek. tm Gitina andlise, essas forgas nio passan de principics jurfaicos requisites econéni bos, que dio a0 1a0 conjugal prioridade sobre o 1ago entre 1z ‘Mos na estrutura social e investen o casal de autoridade © po Ger sobre of recursos produtives @ reprodutiyos. Potente estabelecer un modelo que distingue txés est ios principais, ov fases, no ciclo de desenvolvimento do gripe nBstico. Primeiramente, existe una fase de expansio que vai sde 0 casaento de duas pessoas até a completa fomacio de 1 sua familia de procriagio. 0 fator biclégico limitador, nesta fase, 8 a duragio do perfodo férti da esposa (ou esposas). En termos estruturais, ela corresponée ao perfodo durante qual todos os filhos do casal dependen dele econémica, afetivae ju ridicanente, En segundo lugar e, as vézes, superpondo-se no ten po i prineiza fase (daf minha preferéncia pelo termo fase eo in vés de estigio), ven a fase de dispersio ou cisio. Este conega com © casamento do filhe mais velho e continua até todos os fi Ihos se casaren, onde oxiste © costune do filho mais joven per manecer para tomar a seu encargo os negécios da familia, isto marca 0 infeio da fase final. Esta § a fase de cubstituicio,que culnina com a morte dos pais e a reposigio, na estrutura social, Ga sua fanflia pela fan{lia de seus filhos, ou, mais especifica mente, pela fam{lia do fitho que se tornou o herdeire do pai. Voltande ao caso Than, podenos ver que, se 0 filho mate velho e © mais novo de um bilek forem anbos do sexo masculino, 0 casa mento do primeiro marca 0 inicio da fase de dispersio © ele kesidir "uxorilocalnente", enquanto gue © casamento do mais ag vo marca o fim do ciclo e sua esposa residira “virilocalmente". Porém, essas opgdes superficialnente contraditérias representa, a realidade, expresses “eapecificas de fases" que aio alterna tivas dentro do mesno conjunto de fatores estruturais. Mutatis mutandis, este paradigna pode ser aplicado a todos os sistemas socials. 0 nascinento do primeiro filho de un casal, tio froquentenente marcado por observacdes rituais espe chaise que inicia a fase de expansio, e 0 casamento do filho mais velho, que 8 infcig & eventual dissolugio e eubetituicio do grupo donéstico do caval, ef sempre episdios criticos no ciclo de desenvolvinento. Mas, naturalmente, eles nfo sdo os finicos pontos cruciais, A iniciacdo, safda ou morte de un nen bro do grupo pode ser igualmente importante, { Bn resumo, entendo por variaveis culturais e estruty rais envolvidas no ciclo de desenvolvimento todas as forgas ge radas pela estrutura social © todos os costumes @ instituigiee, através dos quais estas forgas sio manifestadas, cono também o os so 08 valores que cssas forgas refleten. Leis biolégicas asse guran que inexoravelnente a crianga cresce, se nfo morrer. 0 exescimento requer un espago de tempo minino de, pelo renos, quinze anos pars ge obter maturidade fisiolégica e, multas ve zes, ainda nais thnpo, para se atingir naturidade social. A ta rota fundanental © conplexa de eriar filhos, que & imposta a0 seupo dongstico, geza forgas orfticas para seu ciclo de desen volvisento. A mais importante dessas forges 2 a oposigio entre ge ragéea sucessivas, focalizada nos tabus de incesto. Isto ado é tuna condigio estitica. A oposigio se intensifica e pode mudar sues formas costundrias de expressio, durante o tempo em que os filhos estéo crescendo. Esse % un fator na separagio parcial os completa dos £ilhos, na época do casanento, pois 0 essencial & © direito que cada gerago deve ter para usar ¢ dispor dos re cursos produtivos © reproduttvos quando alcange a maturidade.in te os Fulani, vé-se claranente cono 0 crescimento de un nenine projetedo na estrutura social, através da intensificacéo de suas habilidades ¢ responsabilidades en relagio & criagio de oa do e i correspondente extensio de seus direitos de posse de oa do, gue culmina, depois ée seu casanento e paternidage, con a expropriagio © expulsio virtual de seu pai da organtzagio produ tiva e reprodutiva do grupo donfstico. En geral, a alocagao de Gireitos sobre propriedade, pessoas cargos, por un lado, e por outro, de direitos sobre a fertilidade feninina, que se é& por meio de presentes, prestagSes de servigos, heranga e sucessio, constitu am dos fatores principais, se ndo o mais importante, no ciclo de desenvolvimento do grupo donéstico. A oposigio entre geragies sucessivas opera, principal mente, dentro da estrutura interna do grupo dongstico, mas legitimada e controlada pela sociedads como un todo, através de expresso costuniria sob formas aprovadas pela soctedade. 0 ca samento, a heranga, a sucessio ete. sio eventos do sistena in temo, ou, mais especificamente, estio no doninio do grupo do nésticor porém, pertencem ao mesmo tenpo a0 donfnio externo, pe -3- | 4 Jo qual o grupo domistico esta integrado dentro da estrutura sq | chal total, por seus aspectos politicos, jurfaicos « rituais.os interesses envolvides sdo pertinentes & sociedade como un todo, assim cono ao grupo donéstico per se, Isto é demonstrado de mui tas formas costunirias jor exemple, ne conjungio de regres él exogamia com regras de incesto, na regulamentagio do casamento,, na participasio obrigatGria dos parentes extrardondsticos « day autoridades polfeicas em cerininias finerdrias en decisdes sg ~ bre hermga e sucesedo, om cerinGnias de iniciegio, ete. fn 0 tras palavres, og interesses do sistena social toval inflve cian 0s Intaresses expect'ticos go dominio dondstico, aos quaia estio en oposisio; Seto ee af através de tnstituigses © cost ses de orden politics, Juridica e ritual que, por sua ver, ed traen sua forge da soctedede en geral. Una grande varledade instituigies © organiaagies, através das quats se oxerce 0 cid dania (como, por exemplo, instituigdes de parentesco “toh % ; toric, coporagdes de doscendéncia unilinear, classes de idade} constituem os clos estruturais entre os dois doninios. Ja pod” suimos um niimero de excelentes estudos mostrando donéstico e 0 grupo de descendéncia unilinear estio| interlis: dos. 0 primeiro & a fonte quo constantenente alinenta o segund: Nao se trata simplesmente de recrutamento fisico. Existe um prg cesso de abastecimento pelo qual a éiferenciagio das pessoas nd dominio donéstico, por geragio, fillagio e descendéncia, @ prd Jetade dentro da estrutura do grupo de descendéncia unilinear) para gerar os modes de colocagio e seguentagio tio caracterist: : off dos sistenas de Linhagen. £ um processo continuo que persid | Ge eoquanto otistiz ima Linnasen. vas ha una caracteristica desse processo que pode f clnente passer despercabida. © verdada que posence encerar etTo no grupo dondetice cane o nodelo e o pont intetal de #0 sentagio da Linhagen, ae estiversos preocipades con 02 pontod | Porém, se observernos os sistemas de linhagem do ponto de vist e seu lugar no dominio donéstico por esse angulo, podenos i es i a de crescimento interno da linhagen, cono un sistena need 5 n10- gue a diferenciagio © cisio no grupo donéstico sio deterninadas Feciprocanente por normas e regras originadas no doninio exter RO. 0 exemplo clissico sdo as regras de descondéncia, © trabalho do Dr. Goody demonstra muito ben o que te Bho em mente. Ele tem nos LoDagaba e nos LoWiili wa situagao pps |S Se Someeresto. Benes dues Lonmtdudes possoen © meno sis i jena apefocia « 0 anno pedrio do ectnenia dendstica, Gets, con fettos ¢ valosns situis « jurféices si0 ce acsmms- A fatea df Tecenge slgnisicativa ne extruture social est nas suas rysres de concendincia. ima, ce dizeites sobre recurtes protuciser feprodutives #80 setidos e tramnitides de acorte com norsee Pa Cetineares; na outra, s aaioria dasses dtzeites eoth sujeita ¢ hormas matriline © autor mostra como essa altemativa cria @igerengas no modo e diregio que toma a cisio dentro do grupo Gonéstico, sendo que o fator critico sio as regras de heranga © alocados mmtre geragées consecutivas. Contrastando con essas duas comuni, jades, entre os Than, que nao possuen concestes de descendéncia nilinear, 6 a prioridade do elo matrimonial sobre os eles de filiagio © irmandade que orientan 0 processo de cisio do bilek, © seu acompanhanento material, que & a divisio des bene do jucessiio, pelas quais os direitos de propriedade eio | om sistanas de parentesco classificatério nie coines den con o2 sistemas de descendéncia inilinear, como denonstean fs dados sobre or Than, surgem nover problemas, quando consida isos a naneisa cono een sezven pars ligne © dante donetice dem 0 pouitsco-juridico. # af que esti o interesse especial da dplicagio que far 0 Dr. Leach do eequena de andlise de desenvod winento, em aua reinterpretagio do sistema de parentenco trp uriand. 0 ponte crucial, me parece, 8 a conexio, postulada por dle, entre a nomenclature de parentesco, as mdangas de forma Ses residenciats e as modificagdes nos status juriéicos dos ho stent ¢ das moltores durante o sea ciclo de vide. Con isso, f jm renolvidos muitor axpectoe cbscuros nos relatos de talinows x sobre os dostunes @ instituigdes ao parentesco frobriand. | me ok A anlise do br. Leach & aplicivel a cutras socieda des onde hé descendéncia matrilinear. De acordo com esea regra, lun menino ten un status juridico, enquanto filho de seu pai, @ outro status, diferente, na qualidade de sobrinho do irmio de sua nie. Este segundo status & distinguido pelo fato de que 36 ele confere direitos de heranga e sucessio com relagio a pre priedade, cargos piblicos e autoridade ritual. Nas ilhas Trobri and, um menino mora con os pais na sua fanflia e grupo donésti- co natais durante sua infincia Juridica. Esta persiste até que sua idade seja julgada adequada para que ele assuna as reivinds cages @ direitos aos quais a descendéncia matrilinear o habili ta: sio inclufdos direitos de heranga © sucesso e de cidadania na sua comunidade clinica. Essa mudanga de status jurfdico tornada lecitima quando ele sai da casa dos paie para reeidér com 0 irmio de sua mie. Naturalmente, ele néo pode exercer @ posse desses bens hereditarios antes da morte do tic, mas suas reivindicagdes sio assim postas em evidéncia para que a socieda de as veja co aprove. Dessa mancira, o meninc passa seus ance de formagio aos cuidados de seu pai e & deste que ele recebe trei- nanento nos offeios, crengas e valores da sociedade. Quando ele esté em condigées de tomar un lugar de responsabilidade nessa sociedade, ele mida, fisica e juridicamente, para a rbita so cial onde seu status de adulto & efetivo. Para as meninas, nd luna mudanga senelhante de status e residéncia quando ela deixa © lar de sua infincia, onde estio os pais e onde ela foi filha © irs, para seguir seu marido, na qualidade de ecposa e future nie de sous fithos. Una vez que a mulher deve morar cono mari do depois do casamento, efa ndo pode partithar da residéncia de seus irmios, pois, pelas regras de exosamia de cli, ela nio pe de casar com um menbro de seu proprio cli. As regras de evita gio entre imios de sexos opostos se ajustan a csse arranjo e, como a comunidade local pode estar dividida emftocalidades cl nicas, ela nio pode, depois de se casar, viver na neama locali dade que seus imndos, mesno que seja a Grea do seu proprio cli. © ciclo de desenvolvimento do grupo donéetico esté, dessa manei re, ligado & organizagio local e clinica, através de una divi m2 so de fungSes relacionada con a transigo da infineia jurfdica 3 idade adulta jurfdica na gerago dos filhos. A classificagio temminolégica de consangtiinecs e afins se encaixa nese esquema, Aparentes anomalias nos dados etnograficos fican resolvidas, se se relaciona a domenclatura de parentesco con os padrées de dis tribuigo local gue resultam do ciclo de desenvolvinento do gru PO dondstico. Poder-se~ia pensar que as bipSteses que iniciaran a anélise do Dr. Leach tanto podem decorrer da nego convencional @ ciclo de vida do individue, como do nosso conceite de ciclo Ge desenvolvimento do grupe deméstico, Eu tenho dividas e tenta rei explicar porque. Voltenos & distinglo entre 0 doninio das relagSes do nésticas © 0 dominio das relagSes politico-jurfdicas. Nas socie @ades primitivas 0 donfnio das relagdes dondeticas esti eral mente organizado em toro de um nicleo fornado por mie e filhos onde as relagdes conjugais @ a patri-filiaglo sie jurfdica e ri tualnente efetivas no estabelecinento do status jurfdico dos 4 hos, © marido~pai passa a ser un elo critico entre a célula ma tema e 0 dominio donéstico como un todo, Neste cago, a fanilia elenentar pode ser considerada cono sendo 0 niicleo: & 0 nficleo reprodutivo do dominio donéstico. Coneiste em duas, e somente duas, geragdes sucessivas ligadas pela dependéncia fundamental que a crianga tem dos pais, para seu sustento e afeto e que os pais tén da crianga, como 0 elo entre eles e 0 cumprimento de sua tarefa reprodutora. Por outro lado, © grupo donéetico in clut geralmente trés geragdes sucessivas, assim como membros li gados 20 nficleo do grupo por colateralidade ou por ovtras for mas. Neste don{nio, entran na constituigio do grupo, parentesco, Gescendéncia e outros lagos jurfdicos e afetivos (por exexplo, Lagos de adogio ou de escravidio), enquanto que o nicleo é for mado sonente por lagos diretos de casamento, filiaclo e izmanda Ge. 0 grupo doméstico & essencialnente uma unidade que possui e mantém a casa e esta organizada para prover os recursos mate riais e culturais necessarios para sustentar e criar seus mem a1 bret. Sets distinglo, coo 38 fol dito, @ anaftiee. x comoed gio real da fan{lia nuclear © do grupo donéstico pode ser 1aéd tiea, como 0 &, geralnente, en nossa prépria sociedade; imas ad fungdes esteitenente reprodutivas, segundo 0 cosceito de reprg dugdo social por nds apresentado, sio distinguiveis das ativida des referontes & produgio de alimentos abrigo e dos mesos nio der-senia dizer que o donfnio dondetico é sistema de relag sociais, através do qual o nicieo reprodutivo & integrado neic-anbiente e & estrutura da sociedade cono un todo. J sateriais que assesuzan continuidade & soctedade ex geral. eee i | ad, Se consideramos o ciclo de vida de una pessoa no cop texto do grupo donéstico ¢ seu desenvolvimento, podenos distin guir quatro fases principais no periodo que vai do nascimento naiorideds Juridica. Prineiranente, ela esti totaliente comp endida dentro da GElula materna; esté virtualnonte nida & miel 4 fio sondo mais do que wn apindice desta, tanto do fe co va ta social ¢ afetivo, cono fiaiqlésico. # sonente através del que a criaiga esti relacionada con a soctedade gleval. Esta fh se poder durar apenas os poucos dias da reclusio que se segue a0 parto, podendo ser terninada ritualnente, ou pode fundir-s¢ de nodo inperceptivel con a segunda fase. Nesta, a crianga & aceita dentro da fen{iia nuclear patricéntrica ¢ seu pai assum & responsabiiidade sobre ela, em xelagio & sociedade © sos pode res espirituais; ou melhor, © maride-pat assume a responsabild dade 7018 unidade nie-filno. Dentro en pouco, nos casos nodelot a cfianga entra na terceira fase, depois da desmana e quando 4} ee pode andar. Muda-se, entZo para o donfnio do grupo dongstic Espacialmente, esta fase est correlacionada com o fato de qui a crianga no est mais confinada aos aposentos da mie, tend Liberdade de agio na casa inteira, Passa agora act cuidados ju xidicos e rituais do cabega do grupo donéstico, que pode ou ni ser un de sous pais. Esta a fase da infincia proprianente 4: ta, que pode durar varios anos. Durante toda esta fase, a cri, ga no ten direitos auténonos de propriedade, ou dg —_recursol Produtivos, nem mesmo sobre os seus préprios talentos, que Go se desenvolvendo; nao tem acesso independente 4 institul = ] er fe mae foes rituais, nem posigdes politicas ou jurfdicas préprias. Fi falmente, a pessoa & adnitiga no doninio polftico-jurféico. Ts fo le contere estonia reel ou potenciel no controle de alse Fecursos produtivos, gue so os elenentos de independincis juz! fica, direitos de acesso a instituiges @ poderes rituais ¢ al jins direitos e deveres de cidadania, cono en casos do guerra pu vendota. Esta fase & commente legitimada por neto de rites fe passagom, tendo gezaimente um correlato espacial, como cor fe com 0s meninos de Trobriend, que passan a residir como tio fatemo. A quarta fase culnina como casamento ea cisio real $4 ineiplente do grupo dondstico nate. - | Quero chanar a atengio neste modelo para a mudanga das rolagées estruturais que constitven o quadro de refergncia fo ciclo de vida de una pessoa. os estigios de naturagio fisio Yésica que acompanhan este desenvolvimento sio de inportincia secundizia; eles so relevantes na medida en que assinalan quan go 0 individyo esté pronto para midar de una fase para cutra. {sto porque bada fase ton suas nommas © atividades apropriadas, ligadas is chpacidades ¢ necessidades psicossoniticas bisicas. ja primeira fase, a crianga 6 totelnente dependente do selo ma Jere para se alinentar e de seus bragos para protegio e anor. ja fase soguinte, ela geralmente cone com a nie, domme en seu jiarto © aprende com ela as habilidades © valores fundanentais de auto-orientagio envolvides na capacidaée de falar, andar, Alimentasio © histone; ¢ considerada semualnente neutra e norel t Hente iresponsavel. Este padrao perdura por toda a segunda fa je.,Na terceira fase, a divisio sexual de papsis e atividades jorna-se efetiva. Os meninos se unem aos pais e as menins Res. 0 menino geralmente cone com seu pai ou com seus ixnlo| Rais velhos, dorne com eles @ aprende com eles as habilidades © Yalores sociais © econdmicos que sio orientados a fins obseti, Vos. De ambos og sexos se exige responsabilidade moral.Eles tén 4e aprender 2 controlar suas atividades afetivas de modo a, se adeptar as normas costunérias de conduta, e, —_principalnente, Giles passam a ficar sujeitos aos tabus de incesto. Na fase se o1s- guinte, meninos @ meninas cone e dormen com seus compankeiros Ge sexo e idade. Espera~se que tomen parte, de maneira responsa vel, nos deveres econémicos, militares, jurdicos e rituais pa rao beneficio da sociedade cono un todo. Bn maior oumencr grau, eles se toram responsiveis por sua ni conduta moral ou jurfai ca e, sobretudo, 34 podem estabelecer relagées que envolven se xualidade adulta, para fins de procriagio, em oposigio & sexua Lidade infantil, com fins de mero prazer. Estio sujeites, nao sonente is regras de incesto, que pertencen a0 dominio donésti co, mas tanbén as regulanentacSes do casanento, que emanen do @oninio politico-juridico. Geralmente, of ritos de passage ser ven para dranatizar este fato. Ainda que estas fases nfo coincidam invariavelnente com 05 estgios de crescimento fisiolégico, em sistenss sociais relativamente honogéneos hd un paralelisno bastante préximo en tre eles. Isto porque, em tais sociedades, as tarefas educacio nais basicas necessirias para se produzir uma pessoa adulta, ca paz de manter e transmitir o capital social, parecem completar se a0 mesno tempo en que se atinge a maturidade fisica © sexual com isso, vem 2 capacidade para substituir a geragio dos pais nas atividades de produgo © reprodugic. Form, 0 que eu quero enfotizar especialmente é que a maturagio do individuoe sua passagem adequada pelo ciclo de vida so do maximo interesse pa ra a sociedade en geral. Isto é evidenciado pela existéncia, bastante difundida, de procedinentos especiais institucionaliza dos, que legitiman cada passo desse ciclo, principalnente o que marca © fim do perfodo de infancia jurféica, quer ele termine na adolescéncia, ou se prolongue até o estagio de maturidade fi siea. As cerinénias de iniciagio, puberdade e nubilidade so os exenplos mais drandticos de tais procedingntos. Nestas cerininias, fica teminada a tarefa de reproducio social do gry po donéstico; depois de haver alimentado, criado e educado a crianga, ele passa o produto acabado A sociedade global. £ a tranagio pela qual se afima a autoridade ga orden politico nis- juriéica, que é 0 arbitro final sobre o capital humano e social. £ una situagio na qual os interesses distintos do grupo donésti. co © os da sociedade total podem se chocar, Como cidadios, os pais desejam que seus filhos sejam adnitidos no dominio jurfat co-polftico qui os direitos de maioridade jurfdica Ihes sejan conferidos. Porém, como pais, eles poden temer e se ressentir de ter que deixar seus filhos sob a tute superior © impessoal féncla dos pats poderd se intensi, ficar por saberem que a iniciagGo & 0 ‘lado afiado da cunha que irl dividir a familia. 0s filhos, por sua vez, por mais maduros gue sejame por mator o valor que atribuan & sua admissio na Adade adulta, podem hesitar em sair do cfreulo protetor do lar. Pode ser diffci) de se renunciar aos lagos de dependéncia mater nna, que remontam 3 primeira fase do ciclo vital. Se howver uma divisio mareada entre 0 dominio dondstico e 0 polftico-juridico, estas resisténcias podem ser institucionalizadas e, portant, da sociedade em geral. A re: mais dificeis de ser superadas. Por isso, a sociedade pode ter Go usar de ritos bruscos e severos para remover 0 novo cidadio ae sua fanflia natal e reivindicar seus direitos de incorpord, 1o cone adulte. 0 novo menbro pode precisar de uma drdstica re, orientagio de valores morais e de papéis socials e econémicos . Taticas de choque podem ser o meio mais eficaz de consegui-lo. Além disso, 0 selo da legitimidade deve ser posto, de maneira piiblica ¢ incontrovertida, sobre os novos direitos e devores gue Ihe so conferidos por cidadania. Dentre esses direitos, es tio notadanente aqueles relativos 3 autonomia jurféicae 3 se. wualidade reprodutiva; dentre os deveres, aqueles que se refe rem 3 defesa da ordem social contra perigos internos, cono cri, mes, © contra perigos extemos, como guerras ¢ vendetas. Wio estou preccupado aqui com a teoria das cerininias de inictagio e maiores discussdes sobre elas estarian fora de lugar. Bu me referi a elas sonente para ilustrar o que quero di zer com movimento ou transagio entre os dois don{nios da eatru tura social que estanos analisando. Existem muitas soctedades onde © movimento ndo 8 legitimade por meio de iniciagio ou qual guer outra ceriménia; pode ser que, analiticanente falando, os

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