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Recortes do livro: LAKATOS, Eva Maria. Sociologia Geral. Séo Paulo: Editora Atlas S.A. - 1987. 9.5. INSTITUIGOES ECONOMICAS Entre os povos “primitives”, as instituigdes nomicas apresentam-se rodeadas de tabus, governadas por “poderes sobre- naturais”, orientadas por normas e valores € ligadas aos conceitos de status e prestigio. A satisfacdo das necessidades primérias ou biol6gicas — alimentacéo, vestuério, moradia —, bem como o emprego das ferramentas, influem na vida familiar, no tipo e dimensoes da comunidade. A familia, originaria- mente uma unidade econémica, variou no tempo € no espaco, sendo essa variagao determinada, em grande parte, pelo tipo de atividade econémica: a familia nuclear, que impera na sociedade ocidental, industrial ¢ ur- bana, é tipica também das culturas cagadoras, a0 passo que a familia ex- tensa € mais comum nas sociedades agricolas. O desenvolvimento do comér- cio e, depois, das atividades industriais, realizadas em fabricas, influenciou (© aumento das povoagies e da urbanizacio, ‘Apés a Revoluggo Industrial, a famflia perde parte de suas fungoes econémicas. que se transferem para uma variedade de organizacdes espe- cificamente econémicas, no mais controladas pelos costumes, mas sub- metidas a uma legislago prépria e cada vez mais sob controle governa- mental. A interferéncia do Estado na economia é uma caracteristica das so- ciedades modernas. 9.5.1 Divisdo do Trabalho A diviséo do trabalho, entre individuos e grupos, é universal: tem sua origem no inicio da vida humana grupal e pode ser encontrada em todas as sociedades do passado e do presente. ‘Talvez a primeira e a mais universal divisio € a que se refere ao sexo. Na maioria das sociedades do passado, @ atribuigao das tarefas a um ou outro sexo derivava da forca fisica, segundo Murdock; da adequacéo aos diferentes tipos de trabalho, para Thomas. De acordo com Sumner e Keller, as ocupagées que exigem maior habilidade, forca fisica, ou que so mais interessantes, ficam a cargo dos homens, devido, em parte, & posigao dominante que a cultura lhes conce- de nas diferentes sociedades. Desta maneira, a diviséo do trabalho por sexo nfo decorre apenas do fator biolbgico, mas ¢ influenciada também pe- los fatores culturais. Este ponto de vista é mais bem ilustrado com a mo- derna sociedade industrial, onde tarefas tradicionalmente masculinas como ‘@ medicina, a engenharia, a advocacia, a agronomia e outras séo hoje de- sempenhadas pelas mulheres, restando, nessas sociedades. relativamente poucas atividades exclusivas de um determinado sexo, Outro fator que influi na divisio do trabalho € a idade. Bascia-se, evidentemente, em diferengas fisiol6gicas: infincia, juventude, maturidade, velhice ¢ senilidade. Verificamos, 20 longo da histéria dos grupos huma- nos, que este fator — idade — varia no tempo e no espago, de acordo com as diferentes culturas, sendo por elas influenciado. Na totalidade das sociedades, parte da educacao formal e informal da inffincia e juventude onsiste no preparo para as responsabilidades do adulto, incluindo a atua- so econdmica. Mesmo entre 0s povos “primitives”, certas “‘profissSes”, como, por exemplo, as de curandetro, de sacerdote, de ferreito ou de arti- fice em geral, exigem longo ¢ minucioso preparo. A sociedade deve pro- piciar os meios para que os jovens recebam 0 necessério aprendizado, pro- vendo-os de alimentos e satisfazendo suas necessidades através do trabalho de outros elementos. Freqiientemente, as tarefas especializadas sio reali- zadas por determinadas famflias € transmitidas de pai a filho pelo direito de hereditariedade. Em toda a Tdade Média a divisio do trabalho também apresenta influéncia de idade, ao lado do fator habilidade. A casta, na divisio do trabalho, exerce forte influéncia. Dentre todas as sociedades, a de castas € a que apresenta maior rigidez na distribnican hereditéria das profissdes, exercidas exclusivamente no interior das mes- mas. Em relago aos estamentos, 0 monopélio de determinadas atividades econémicas apresenta menor rigidez do que nas castas. Quanto as classes, clas no podem ser desvinculadas da divisio do trabalhc ‘menos influéncia do que os sistemas anteriores na distribuigdo do desem- ppenho econdmico dos componentes de uma sociedade. Segundo Sorokin, ‘uma das varidveis da estratificago, na moderna sociedade, é ainda a pro. fissional. A diviséo do trabalho pode basear-se, também, em habilidades espe- ciais. Esse cri jado a outros, impera no periodo medieval com a rigida estratificagdo em aprendiz, oficial e mestre-artesio. A passagem de ‘uma etapa para outra tem como base a habilidade, critério que se consolida ‘com as corporagses de oficio, devido & imposigao de provas para medir as respectivas aptiddes. Com o inicio da industrializagio, esta hierarquia pro- fissional se rompe: as méquinas rudimentares ¢ de facil manejo nao mais exigem qualificacoes especificas. Por esta razo, encontramos, nas fabri- cas, 0 trabalho de adolescentes © até de criancas de pouca idade. (© desenvolvimento tecnolégico, com a utilizagio de méquinas cada vez mais complexas, leva a exigencia de qualificagao especializagao da jode-obra. Portanto, a divisio do trabalho, na sociedade industrial, re- ousa cada vez mais em habilidades especiais, adquiridas, em muitos ca- 80s, fora da empresa, na escola. Grande parte das fungdes econémicas, este tipo de sociedade, exige a ampliago do tempo de educagio formal, retardando 0 momento de ingresso do jovem no mercado de trabalho. O trabalho da crianga esté afastado, atualmente, das atividades industriais. Segundo Drucker (1970:297 ¢ seg.), hi cerca de trinta anos “os ope- Fedores de méquinas semiqualificados, os homens da linha de montagem, eram 0 centro da mio-de-obra americana. Hoje, 0 centro € 0 empregado com conhecimento, o homem ou mulher que aplica ao trabalho produtivo idgias, conceitos e informagées, e nao habilidade manual ou forga muscular”. Leo Huberman apresenta um resumo das sucessivas fases da organi- 2aggo industrial a partir da Idade Média (1974-125): 1. Sistema familiar ( = membros da familia, para © seu proprio consumo © ndo para venda: © trabalho ndo se efetuava com o objetivo de atender a0 mercado, 2. Sistema de comorages (mslor parte da Idade Média). Producso a cargo de mestres artesdos. Independentes, com poucos, auxiliares {aorendizes, oficiais ou diaristas), para atender a mercado pequeno ‘estével. O trabalhador no vendia seu trabalho, mas 0 produto de ‘atividade: era dono tanto da matérleprima que usava quanto cas Ferramentas de trabalho, 3, Sistema doméstico (entre os séculos XVI e XVIII). A semelhanca ‘doo siotomae de corporag6ee, 2 produc era realizada pelo mestre- ‘artesto © seus ajudantes, em seu laroficina, para um mercado em ‘expansao._A diferenga fundamental 6. perda da independéncia dos mestres. Permaneciam como proprietérios de seus Instrumentos de trabalho, mas om relacao 8 matériaprima e & venda da producdo dopendiam, 8s vezes, de um intermedisrio, 4. Sistema fabril (do século XIX 20s nossos dias). Produgao realizada fore do lar. em estabelecimentos. pertencentes ‘a0 empregador, sob rigorosa supervisso, para mercado cada vez mais amplo e osciiante. (O trabalhador perds totalmente sua independéncia: nfo possul mals ‘a matériapprima nem 6 dono dos instrumentos de trabalho. A habil: ‘dade do. trabalhador, até certo ponto, perde importincia devido a0 {uso da maquina, mas © capital toma-ce cada vez mais importante, Johnson (1974:125) indica as caracteristicas das ocupagdes modernas: © ‘tondem a sor altamente especializada: © tendem a ser funcdes “conquistadas”.muito mais do que “atribuidas' “Univergalistas” endo “particularistas", segundo a concepeao de Pt sons. Esta caracteristica sallenta a importancia, para 0 desempenho fades. do Individuo, em oposicio aos critérios de © 850 rocidas polo contrato: este se caracteriza pela decisio, geralmente livre, das partes contratantes, pelo pagamento relacionado a servigos especificos, pela formalidede e especificidade de seus termos; © 330 realizadas em organizagdes especializades, isto é, em locais de trabalho situadas fore do lar ‘© na maioria dos casos sio executadas por individuos que no possuem ‘Ou ndo edo 08 donos dos instrumentos de trabalho, que pertencem, ‘eraimente, & organizacao: © sio altamente competitivas. Esta competicio revele-se principalmente fem fungdes que apresentam uma série de estigios especificos, impli ‘cando cada graduagao malores salérios, responsabilidade e prestigio. ‘As ocupagées modernas encontram-se desvinculadas de critérios que, nas sociedades do passado, regiam a distribuicdo dos individuos entre as diferentes atividades econémicas. Desta maneira, constituem campo de in- teresse do estudo sociol6gico, na andlise das diferentes sociedades © cultu- ras, 0 aspecto particular da classificagdo das ocupagGes, da correlagao entre ‘© status ocupacional ¢ o social, e 0 estudo das ocupasies influentes e pres- tigiadas, 9.5.5 Empresas ‘A empresa pode ser conceituada como um complexo de atividades econémicas. desenvolvidas sob o controle de uma entidade juridica (pes- soa ou pessoas fisicas, sociedade mercantil ou cooperativa, instituigao pri vada sem fins lucrativos e organizagao piblica). Diferencia-se de estabe- lecimento cujo conceito envolve uma unidade econdmica que se dedica, sob o controle de uma entidade juridica (pessoa ou pessoas fisicas ou pes- soa juridica) de forma preponderante ¢ Gnica a uma classe de atividade econémica em determinada localizagao fisica. ExcegSes encontram-se no setor de construgéo, transporte © comunicacdo principalmente; estas no so consideradas estabelecimentos, mas tém suas unidades identificadas se- gundo a classe de atividades. Em outras palavras, a diferenca principal entre empresa ¢ estabelecimento é que a primeira abrange um complexo de atividades econdmicas desempenhadas sob a supervisio de uma entidade juridica, a0 passo que a segunda restringe-se a uma unidade de produsio homogénea que apresenta localizacio fisica definida. © Conselho Econémico e Social das Nagdes Unidas, em 1968, acolheu 1 qualificagao denominada “Clas de todas as atividades econémicas” (CHIU), que arrola as empresas em: de agriculture, cace, silvicultura e pesca: de exploragso de recursos. minerals; Indstria manufatureira: de eletricidade, gis © gue: de construgéo; cde comércio: dde transporte, armezenagem comunicacdes; financeiras, de seguro, Imobiliéria @ de servicos; de corvigos comunais, social e pessoeis: ‘outras atividades no especificades. Segundo a propriedade, as empresas podem ser: privadas, singulares (um s6 dono); grupais (de tipo limitada — Ltda. — até sete donos); asso- ciadas (varios donos — S.A.) e coletivas (piblicas). Estes ‘ltimas podem apresentar as seguintes modalidades: 9) suburdinacdas diretamente & administrayso central b) organizadas sob forma de autarquia, que se constitul em entidade de personalidade juridies, © que Ihe permite autonomia administrativa © financelra; ©} estabelecendo umis eociedade andnima, onde o Estado € 0 dnico acio nist - Uma empresa pode constituirse em matriz de um conglomerado, de um grupo de empresas associadas que recebem a denominagio de holding ou sede de um grupo que engloba filiais, sucursais e subsidisirias. Nos pat ses capitalistas desenvolvidos, as grandes empresas possuem duplo objeti- vo: atender 0 mercado interno assim como ao internacional. Quando teve inicio a atuacéo das grandes empresas em mais de um pais, sua politica de conquista de mercado consistia na aquisicao de matéria-prima no exterior, onde vendiam 0 produto ja acabado, sendo que 0 processo de transforma- io ocorria no pais-sede; atualmente, hé uma aguda preferéncia na insta- ago das empresas subsididrias nos pafses onde adquirem a matéria-pris e, através da utilizagio de sua propria tecnologia € de mao-de-obra local, vendem ai os produtos industrializados. Portanto, de exportadores de mer- cadorias elas transformaram-se em exportadores de servigos e investidores de capital. Como o grande néimero de empresas espalhadas por diversos paises continuam subordinadas a0 holding, cuja sede se encontra no pais de origem, recebem a denominagio de multinacionais. A imensa soma de ia para a movimentagao das multinacionais no as tem limi- tado, pois 0 seu volume de produgio leva-as a superar 0 produto nacional bruto da grande maioria dos paises. Seu crescimento, de aproximadamen- Para conceituar organizagao formal € necessério que se especitique 0 que se entende por “organizagio”: forma pela qual a conduta humana se correlaciona socialmente, destacando-se as regularidades observadas no com- te 10% 20 ano, superior, portanto, ao da grande maioria dos paises, con- duz a uma estimativa para este ano (1985) de que as trezentas maiores multinacionais terdo a seu cargo mais da metade da produsio do total de mercadorias e servigos do mundo. Sua penetracdo, a partir dos acordos assinados em Moscou, em 1972, por Nixon ¢ Brejnev, nos paises socia- listas, principalmente na URSS, € bastante sificativa. 1. Descreva brevemente as trés formas sociais de divisdo de trabalho (sexo, idade e qualificagao/ especializacdo): 2. Com suas palavras, diferencie empresa de estabelecimento: 3. Descreva o que é um holding e sua relagéo com a denominacao de multinacionais:

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